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Álbum de Testamentos

"Como é possível alguém ter tanta palavra?" – Ivo dos Hybrid Theory PT

Música 2023 #1: Feels, concertos e a banda de tributo responsável pela maior parte deles

Primeira publicação de 2024! Um ano muito feliz, caros leitores. 

 

Nos últimos tempos, tem estado na moda nas internetes descrever diferentes fases das nossas vidas como eras – inspirando-nos, pelo menos em parte, em Taylor Swift. É uma coisa recente nas redes sociais, mas a verdade é que é algo que faço há já muitos anos, de certa forma. Penso em diferentes períodos da minha vida, recordo-me de filmes e séries que via na altura, da música que ouvia, em que ciclos de álbuns estavam os meus artistas e bandas preferidos. 

 

Daí este meu hábito de fazer um balanço musical no fim de cada ano aqui no blogue. É uma maneira de escrever a minha própria história, de criar um cânone pessoal, romantizar a minha própria vida. É pura auto-indulgência, provavelmente só eu é que quero saber, mas também noventa por cento deste blogue é auto-indulgência. 

 

2023 foi um ano longo e intenso, de altos e baixos. Tenho-lhe chamado o ano dos feels, um ano em que pensei demasiado, senti demasiado. Muitas emoções contraditórias ao mesmo tempo – não é a primeira vez que falo disso. Muitas delas boas, sim, e vou falar da maior parte neste texto, mas também emoções más, ansiedade. Tive alguns motivos para isso (situações pessoais, no trabalho, etc.), mas em muitos casos não há motivo, é só a minha cabeça, sou eu a fazê-lo a mim mesma. Muitas letras dos Linkin Park fazendo sentido. 

 

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Hei de regressar a essa questão na segunda parte deste balanço. De qualquer forma, grande parte das emoções boas deste ano estiveram ligadas aos concertos – 2023 foi o ano deles. Em termos musicais, o ano valeu mais por eles e menos pela música que ouvi – que, aliás, acabou por ser uma continuação de 2022, com algumas exceções. Havemos de falar sobre isso, mas antes queria dedicar a primeira parte deste balanço aos concertos a que fui. Cinco no total, cada um deles marcante à sua maneira. 

 

Não vamos seguir uma ordem cronológica, no entanto. Vamos começar pelo segundo: o de Avril Lavigne, pelo qual esperei mais de metade da minha vida.

 

Não queria que tivesse sido em Zurique, na Suíça, queria que tivesse sido por cá. Mas como aquela mulher nunca mais regressou a Portugal, eu e muitos outros fãs portugueses cansámo-nos de esperar. Em finais de 2019, comprámos bilhetes para concertos em diferentes cidades europeias. No meu caso, os bilhetes foram prenda de Natal do meu irmão nesse ano – bilhetes para mim, para ele e para a sua namorada. 

 

Ainda assim, como se já não tivessem bastado todos aqueles anos à espera, rebentou a pandemia e a digressão europeia foi adiada nada menos que três vezes – e, na minha opinião, a última vez foi desnecessária. Foi toda uma odisseia só para ver aquela mulher ao vivo.

 

E, aqui entre nós, a verdade é que, na altura do concerto, já nem estava muito muito para aí virada. Tinha outras coisas na mente… e no coração. Estava já a tratar da análise a Meteora20, o concerto dos Hybrid Theory no Altice Arena fora menos de uma semana antes e andava cheia de feels à pala disso (mais sobre isso a seguir… como já devem ter percebido pelo título). 

 

Ao mesmo tempo, quem acompanhe o meu blogue já saberá que, apesar de ainda a considerar a minha cantora preferida, a minha mãe musical, o meu entusiasmo em relação a Avril arrefeceu nos últimos anos, depois dos seus últimos dois álbuns. Sentia-me quase com síndrome de impostora, pensando que o meu eu de dez, quinze anos antes, é que merecia estar ali. 

 

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No entanto, quando Avril finalmente subiu ao palco no The Hall, quando a vi pela primeira vez na minha vida com os meus próprios olhos, em vez de através de um ecrã, juro, vieram-me as lágrimas aos olhos. Toda a gente à minha volta a cantar Bite Me e eu ali especada, rezando para que o meu irmão não reparasse. Este meme ilustra-o na perfeição. 

 

Quanto ao concerto em si, já vi melhores, mas não foi nada mau. Há anos que sei que Avril não é excelente em palco e, sobretudo após uma Doença de Lyme e já a caminho dos quarenta, não se podia exigir muito. Daí, por exemplo, o concerto ter tido tantas pausas (pena ela não ter pelo menos trocado de vestimenta). 

 

Uma coisa de que gostei foi de Avril ter convidado os músicos de abertura para regressarem ao palco e cantarem All The Small Things com ela (podia ter sido uma música dela mas pronto). Não é algo que se veja muitos artistas a fazerem. 

 

De qualquer forma, quando são músicas que adoro tanto quanto estas e o músico é simpático, faz um mínimo de esforço, para mim é suficiente. Até o meu irmão disse que se divertiu – lembrava-se da maior parte das músicas depois de eu as ter imposto lá em casa durante praticamente toda a minha adolescência e mais além. 

 

Tivemos direito a Wish You Were Here, alegadamente a pedido dos fãs, o que foi simpático. Mas claro que eu estava lá sobretudo pelos clássicos. Filmei Complicated e parte de I'm With You (e What the Hell). Ainda não estou cem por cento habituada à minha voz, mas ralo-me cada vez menos. No que toca a este concerto então, foram pelo menos dezoito anos à espera da oportunidade para cantá-las assim. Em I'm With You, então, não poupei as cordas vocais. 

 

No dia seguinte, acordei com uma enorme constipação. Foram dois concertos emotivos, bem vividos, em menos de uma semana, em dois países com climas distintos – na segunda-feira anterior fora a banhos na Costa da Caparica, três dias depois estava em Berna, com temperaturas de inverno português. Está visto que não tenho queda para estrela de rock, que faz digressões por vários países. 

 

 

Mas valeu a pena. Os anos de espera, os adiamentos pela pandemia, o frio, a constipação. Tudo. 

 

Ainda não desisti de vê-la por cá, na companhia dos restantes sobreviventes do Fórum Avril Portugal. Houve uma possibilidade há umas semanas, quando foi anunciada a presença dela em vários festivais de música na vizinhança. No entanto, não foi anunciado nada para cá até agora – cheguei a pensar que que ela viria ao NOS Alive – é pouco provável que seja.

 

Um dia.

 

No que toca a música em si, não posso dizer que tenha ouvido muita de Avril este ano, com algumas exceções. I’m a Mess continuou a subir na minha consideração. É de caras a minha preferida da era Love Sux, mesmo não primando pela originalidade, nem sequer dentro da própria discografia de Avril. 

 

Na Primavera, lançou Eyes Wide Shut, uma colaboração com Illenium e Travis Barker. Gosto muito, é uma música fixe, talvez uma das melhores letras de Avril dos últimos anos. Esta, infelizmente, confirma as minhas suspeitas em relação à atitude de Avril no que toca a romance.

 

Por outro lado, Fake As Hell, a colaboração com os All Time Low, é péssima. Acho que nem sequer cheguei a ouvir segunda vez.

 

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Quando não esteve em digressão – ou a tirar fotos com Hayley Williams, aquecendo o coração a muitos millennials como eu – Avril terá passado a maior parte do ano em estúdio. Os álbuns dela têm sempre um parto difícil, é raro termos certezas em relação a lançamentos. Desta feita, no entanto, como já temos concertos marcados, podemos assumir com alguma certeza que teremos, no mínimo, um single até ao início do verão. 

 

Depois de Head Above Water e Love Sux, não tenho expectativas para o próximo álbum. Se seguir o padrão, será um disco menos animado, mais introspetivo – mas não estou muito para aí virada. Neste momento, preferia algo intermédio, variado, semelhante ao quinto álbum.

 

Vamos agora saltar mais de seis meses, até ao concerto de João Pedro Pais. Conforme escrevi no ano passado, ele é um dos meus músicos nacionais preferidos e, sedenta de concertos como tenho andado, quando soube deste, agarrei a oportunidade. Convidei a minha tia – os bilhetes serviram de prenda de anos para ela.

 

O concerto assinalava os vinte e cinco anos de carreira de João Pedro – esse e outro, um mês antes, no Porto. O Coliseu dos Recreios esgotou para a festa. Eram lugares sentados – nada contra por princípio, mas houveram várias ocasiões em que quis dançar, pôr os braços no ar. Em Louco Por Ti, então, até queria dar headbangs (este som são certos fãs dos Hybrid Theory a rir). 

 

O concerto em si teve emoções fortes, várias surpresas – pelo menos para mim. O início foi morno, na minha opinião, até ao momento em que entrou uma figura encapuzada em palco. Fiquei a olhar sem perceber, até aquela espécie de monge templário começar a cantar Ao Passar Um Navio com a voz do Miguel Ângelo.

 

Só dias mais tarde é que percebi o significado, todo o lore que eu não conhecia. Era uma uma referência à fatiota que o João Pedro usara na final do Chuva de Estrelas (ele parece ter dezasseis anos aqui...) – fatiota essa que, por sua vez, era uma referência a Ser Maior, dos Delfins. Diz que no concerto do Porto, um mês antes, o Miguel Ângelo já tinha feito esta gracinha, apanhando o próprio João Pedro de surpresa. Estes dois concertos foram as primeiras vezes desde a tal final do Chuva de Estrelas em que os dois partilharam o palco.

 

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Antes disto, esquecia-me demasiadas vezes do quão boa é a voz do Miguel Ângelo. Fez muito bem em aparecer lá no Coliseu para nos recordar – mais sobre isso já a seguir.

 

Quem também veio dizer olá foi o André Sardet. Para um dueto em Foi Feitiço e para oferecer flores ao João Pedro – algo de que o último não estava à espera, conforme repetiu várias vezes.

 

Houveram vários outros momentos emotivos: Salvador, o filho de João Pedro, subindo ao palco para tocar Paciência com o pai; a música dedicada à mãe de João Pedro; o abraço a Manuela Eanes. Descobri também que a música És do Mundo é dedicada ao Zé Pedro, dos Xutos e Pontapés. Houve um momento, perto do fim, em que o João Pedro se pôs a percorrer os corredores no meio da audiência. Passou junto a mim, mas infelizmente não me deu um high-five.

 

Fica para a próxima.

 

O concerto ainda durou quase três horas. É certo que não me pareceu muito muito exigente em termos físicos, mas mesmo assim… respeito! Justificou bem o preço dos bilhetes. Tanto eu como a minha tia gostámos muito, eu pessoalmente repetia. Será difícil tornar a apanhar um concerto como este, de quase três horas. 

 

Por outro lado, espero que o próximo seja de pé. 

 

 

Fizeram um par de reportagems sobre estes concertos – podem vê-las aqui e aqui – e a RTP transmitiu há pouco tempo o concerto do Porto. Ainda não consegui acabar de vê-lo, por acaso, mas parece ter sido semelhante ao de Lisboa.

 

Ainda assim, aqui entre nós, acho que o nosso foi melhor.

 

Naturalmente, este concerto fez-me gostar ainda mais da música do João Pedro. Continuo a adorar Louco Por Ti, continuo a adorar Uma Questão de Fé. Ultimamente tenho ouvido muito Fazes-me Falta, uma música a que pouco tinha ligado antes mas que é linda. Aquela terceira parte! 

 

Um dia destes ganho vergonha na cara e começo a ouvir os álbuns mesmo, em vez de só ligar aos singles.

 

Com isto tudo, passei o bichinho à minha tia. Poucos dias depois daquela noite, comprámos bilhetes para o concerto de quarenta anos dos Delfins, no Altice Arena – foram a minha prenda de Natal. A participação do Miguel Ângelo no concerto do João Pedro foi um bom investimento, rendeu-lhe um par de bilhetes.

 

Além disso, terá um gosto especial pois, se bem me recordo, foi em casa dela que ouvi o CD Saber A Mar pela primeira vez – eu devia ter sete ou oito anos – e convenci-a e ao meu tio (quando ainda eram casados) a oferecer-nos um exemplar. 

 

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Tenho estado a rever a matéria para esse concerto nas últimas semanas, sobretudo precisamente o álbum Saber A Mar. Já não ouvia algumas destas músicas há vinte anos, talvez mais. São melhores do que me recordava – a Sofia de oito anos já tinha bom gosto. 

 

Calculo, assim, que a música dos Delfins terá papel de destaque no balanço musical de 2024. Estou ansiosa pelo concerto – e aviso desde já que não respondo por mim quando eles tocarem 1 Lugar Ao Sol

 

Agora e durante o resto desta parte vamos falar dos três concertos que restam. Foram todos da mesma banda, mas cada um teve um impacto diferente. 

 

Já mal me lembro de quem eu era na manhã do dia 15 de abril. Releio o meu balanço musical de 2022 e mal reconheço a pessoa que o escreveu.  Antes de os Hybrid Theory, a banda portuguesa de tributo aos Linkin Park, terem entrado na minha vida – através do concerto que eles deram no Altice Arena. Eles publicaram a transmissão desse concerto no YouTube no mês passado e ainda bem que o fizeram. Já me tinha esquecido de grande parte dele. Foi tão, mas tão bom!

 

E a verdade é que a noite de 15 de abril deu início a todo um arco de personagem, toda uma jornada que durou o resto do ano, que ainda continua. Já escrevi sobre esse concerto, como poderão ler aqui. A versão ultracondensada é que adorei, mas essa noite, juntamente com Meteora20, reabriu feridas relacionadas com a perda de Chester Bennington e andei triste por uns tempos por causa disso. 

 

Além disso, precisei de algum tempo – não muito – para perceber ao certo o que sentia em relação aos Hybrid Theory. Em parte porque foi a primeira banda de tributo, ponto, que conheci, não sabia como era ser fã de uma. Em parte por todas as emoções relacionadas com a morte de Chester e o hiato dos Linkin Park.

 

 

Correndo o risco de soar defensiva… os Hybrid Theory fazem um excelente trabalho recriando o espetáculo de uma banda em pausa. São muito parecidos com os membros “originais” desta banda. O vocalista, Ivo Massana, em particular, tem a voz idêntica à do vocalista “original”, falecido demasiado novo e de quem sentimos tanta falta. Acho que não fui a primeira nem fui a última pessoa sem saber o que sentir. 

 

E de qualquer forma as ambiguidades não duraram muito. Descobrir mais sobre eles, ler os artigos, ouvir as entrevistas, ajudou a desatar os nós. Sentir o respeito deles pelo legado dos Linkin Park, ouvir o Ivo dizer que não gosta de ver vídeos comparando-o com Chester. E ajudou escrever sobre o concerto no Altice Arena e sobre eles.

 

A infame terceira parte da análise a Meteora, que referi há pouco… Sabem o medo que eu tinha de publicá-la? Para começar, foi escrita com o coração na ponta da caneta como nunca tinha escrito antes. Depois, tinha medo que os membros dos Hybrid Theory dessem com essa terceira parte e não adorassem o facto de falar sobre eles e depois passar o resto do texto a chorar por Chester. Tinha medo que sentissem que estava a culpá-los pela minha tristeza. 

 

Pois bem, não precisava de me ter preocupado pois a reação a este texto foi fantástica. Incluindo da parte dos próprios Hybrid Theory. O DJ Dani Pimenta partilhou-o no Facebook dele e o Ivo fez uma story no Instagram, como poderão ver abaixo (aquela era uma foto que eu publicara na página deste blogue uma semana ou duas antes). Quando vi esta última, então, estava sozinha mas acho que corei. E pode ou não ter havido uma lágrima ou outra. 

 

Depois desta fiquei tipo “Bolas, agora tenho de retribuir”. E o concerto seguinte mais perto de mim seria no festival Lendas do Rock, na Quinta da Marialva em Corroios, no dia 20 de julho (de todas as datas possíveis…). 

 

Demorei semanas a decidir-me. Mesmo depois de comprar bilhete, só quase no próprio dia é que tive cem por cento de certeza de que ia. Para começar, era num sítio que eu não conhecia (em junho, fiz questão de tirar uma tarde de sábado para visitar a Quinta da Marialva, mesmo para saber o que esperar). O concerto era num dia de semana, os HT atuariam tardíssimo – podia pedir para entrar mais tarde no trabalho, no dia seguinte, mas tinha algum medo de conduzir à uma ou duas da manhã. Por fim… estava com medo de abrir a ferida outra vez. 

 

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Por outro lado… eu tinha de voltar a vê-los, tinha de lhes agradecer pessoalmente se conseguisse – nesta altura, já sabia que os membros dos Hybrid Theory costumavam receber os fãs depois dos concertos. 

 

Além disso, era no fucking dia 20 de julho, o sexto aniversário da morte de Chester – que, ainda por cima, calhou a uma quinta-feira, o mesmo dia da semana que em 2017. Seria sempre um dia difícil para mim, sobretudo depois da recaída de meses antes. 

 

Era como no final da primeira temporada de Ted Lasso. Das duas uma: ou ficava triste em casa, ou ficava triste num festival de música, entre outros fãs de Chester e Linkin Park, também eles com saudades. 

 

E talvez nem estivesse triste. Corria o risco de me divertir, de curtir a música que Chester nos deixou, homenageando-o da melhor forma possível. De criar recordações felizes para este dia, para as funcionalidades de memórias dos Facebooks desta vida. 

 

Bem, tecnicamente, o concerto começava depois da meia-noite, já dia 21. Também servia, eram os anos do Ivo – outra coisa para reduzir a tristeza da efeméride. 

 

Escolhi não ficar sozinha.

 

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Assim, fui às Lendas do Rock no dia 20 e correu tudo bem. Mais do que bem. Era um festival de bandas de tributo e os Hybrid Theory eram cabeças de cartaz naquela noite. Fiquei na fila da frente, onde conheci pessoalmente outros membros do grupo de fãs dos HT. Não muitos, infelizmente – mais ou menos de esperar, era noite de semana.

 

As primeiras bandas deram para entreter e até para me divertir. Os de que mais gostei foram dos Black Metallica – pena não terem tocado Whiskey in a Jar. Ainda os HT não tinham subido ao palco e eu já estava de pescoço dorido. 

 

Mas os Hybrid Theory são outro nível, não se compara. Como disse acima, houveram partes do concerto do Altice Arena de que eu já me tinha esquecido e soube bem recordá-las assim. Ao mesmo tempo, apesar do que passara nos meses anteriores, apesar de ser dia 20 de julho, não houve tristeza nenhuma (só durante One More Light e mesmo assim). Pelo contrário, não me lembrava da última vez que me sentira tão feliz. 

 

Ainda assim, ainda não estava habituada à voz do Ivo, às semelhanças nalguns gestos e expressões. Ainda não estou, na verdade.

 

E não sei se me quero habituar.

 

Destaque para o momento em que cantámos rapidamente os Parabéns ao Ivo no início de One More Light. Mas para mim o ponto alto do concerto foi durante In the End. Calhou estar a filmar e… bem, vou deixar as imagens falarem por si.

 

 

Como se não bastasse, apareço numa fotografia profissional do momento. Um luxo!

 

Mas os momentos marcantes não ficaram por aqui. Depois do concerto, continuava a querer falar pelo menos com o Ivo… mas estava cheia de vergonha. Teve de ser a Sandra Sousa, do grupo de fãs, a chamar-mo (super grata!), quando estavam a arrumar as coisas em palco. Eram os anos dele, aquele era o primeiro de três concertos em três dias em quase literalmente três cantos do país (Corroios, Faro e Funchal). Foram só cinco minutos, eu nem quis tirar foto mas não levava a mal se o Ivo dissesse que não. 

 

Mas não disse e eu fico muito grata. 

 

Lá lhe agradeci pela partilha do texto do blogue – provavelmente gaguejei, já não me recordo. Eu tinha ensaiado aquela conversa na minha cabeça algumas vezes nas semanas anteriores. Nunca imaginei a resposta dele. 

 

–  Como é possível alguém ter tanta palavra?

 

Eu ri-me.

 

– História da minha vida – disse-lhe eu, e é verdade. É algo que podia ter sido dito por alguém da minha família, por amigos meus, gente que me conheça há anos. De onde acham que vem o nome do blogue? Naturalmente, passou a ser o novo slogan cá do estaminé.

 

Depois desta, despedimo-nos, desejei-lhe um dia feliz e o meu coração nunca mais arrefeceu.

 

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(fonte)

 

Eis uma coisa (entre muitas, na verdade) que não estava no meu bingo para 2023: a noite do aniversário da morte do Chester foi das mais felizes do ano. Gostava que passasse a ser um ritual anual. Claro que nem sempre irá dar, mas este ano o dia 20 calha a um sábado. Se derem um concerto nesse dia (estou a contar com isso porque 20 de julho) e for em Portugal Continental, talvez seja possível.

 

Penso que foi depois das Lendas do Rock, mais ou menos, que comecei a ficar mais ativa no grupo de fãs. Estávamos no verão, os HT andavam em digressão por todo o país, haviam inúmeras fotos e vídeos para partilhar. Começámos a conversar no Messenger, primeiro sobre a banda, claro, depois sobre outras coisas: fotos do que comíamos, como no início do Instagram, disparates variados. Quando dei por mim, estava a falar online todos os dias com uma mão cheia deles, a ir a convívios com eles, a fazer amizades! Algo que continua até agora. 

 

Ao mesmo tempo, depois de Corroios, só queria mais e mais Hybrid Theory. A oportunidade seguinte seria a Semana Académica de Lisboa… até a cancelarem. Foi uma situação horrível, um balde de água fria coroando um mês de setembro que não me correu bem. Nem quero falar muito sobre isso, leiam mais pormenores aqui (ainda estamos à espera do reembolso). 

 

Entretanto, ainda antes deste cancelamento, foi anunciado um concerto no Pavilhão Multiusos de Gondomar para o dia 2 de dezembro. Comprei bilhete quase de imediato, para o Golden Circle. Sim, foi em Gondomar, a mais de trezentos quilómetros de casa, mas este seria o mais parecido que teríamos a uma repetição do Altice. Além disso, o cancelamento do SAL só aumentou ainda mais os desejos de vitamina HT. 

 

Agora que penso nisso, esta não foi a primeira vez que fiz uma visita-relâmpago à zona do Porto para ter uma das noites mais felizes da minha vida. Curiosamente, nessa ocasião também acabei num almoço nos arredores de Coimbra, no dia seguinte. 

 

Os mais de dois meses de espera foram longos e difíceis, mas ao menos serviram para ir cimentando as amizades novas com o pessoal do grupo de fãs. De tal forma que a festa não foi só a noite de sábado, foi o fim de semana inteiro. Já conhecia pessoalmente alguns dos fãs de outros convívios, outros foi a primeira vez, mas gostei de estar com todos. Pude finalmente conhecer o JLee, o fundador do grupo de fãs e um amor de pessoa. Já pude voltar a ver alguns deles depois de Gondomar, mas não deixo de ter saudades desse fim de semana.

 

Mas falemos sobre o espetáculo em si. Como referi antes, fiquei no Golden Circle, tal como a larga maioria do grupo, na fila da frente. Vimos o tributo aos Korn. A música não me diz muito, mas eles não foram maus, deram para aquecer. 

 

 

Mas, claro, tal como em Corroios, eu estava lá para os Hybrid Theory e eles não desiludiram quando, finalmente, subiram ao palco. Houve pirotecnia (também tinha havido no Altice Arena, mas aí fiquei bem mais longe do palco) e, na fila da frente, começámos a ser assados logo com Burn it Down.

 

Se bem que, nos dias frios que temos tido, os lança-chamas até têm feito falta.

 

O alinhamento não foi radicalmente diferente do costume – diz que eles criam um por ano – e mesmo assim teve algumas novidades. Regressaram Don’t Stay e Shadow of the Day – desta vez sem Virgul porque, pela minha sondagem, só mesmo eu e a minha irmã é que gostámos. Tocaram Figure.09, o que me agradou. Na verdade, alguns de nós tivemos spoiler disso umas horas antes. Conseguimos ouvi-los do lado de fora do Multiusos, tocando-a durante o soundcheck.

 

Por outro lado, tive pena que tivessem cortado Crawling e Leave Out All The Rest. Talvez não quisessem abrandar demasiado o ritmo – até porque One More Light arrancaria lágrimas suficientes. Também não tocaram From the Inside nem Somewhere I Belong, mas com essas importo-me menos.

 

Momento engraçado quando o Ivo se trocou todo com Lost, como poderão ver no vídeo acima/abaixo: repetiu a primeira estância em vez de cantar a segunda. 

 

Enfim, não foi grave (acho que uma boa parte do público nem percebeu, sorte ter sido uma música mais “recente”), teve piada. Por algum motivo está o YouTube cheio de compilações de bloopers em concertos – dos Linkin Park e não só. Como se costuma dizer, só acontece a quem faz – e no que toca a Lost ao vivo, praticamente ninguém faz. Não a este nível.

 

 

Mesmo assim, não resisti a ser má, mais tarde. Já explico. 

 

Uma das minhas preferidas neste concerto foi Faint, por dois motivos. Primeiro, pelo Miguel Martins, que veio tocar para junto de nós. Ele apareceu no meu vídeo, este mostra outra parte. 

 

Foi também pelo Dani. De toda a banda, ele será o que menos se comporta como o seu homólogo, Joe Hahn (corrijam-me se estiver enganada), mas eu prefiro assim. O homem dá cá um espetáculo! Podia passar o concerto todo a vê-lo dançar e a abanar o capacete.

 

E falando de abanar o capacete… aparentemente surpreendi quase toda a gente do grupo de fãs quando deixei sair o meu lado mais metaleiro. Até compreendo a confusão. Na maior parte do tempo sou uma betinha: calminha, introvertida, de poucas palavras. Acho que, com os anos, me deixei influenciar por músicos como Hayley Williams, famosa pelos seus headbangs. Ou então, pura e simplesmente, adoro concertos, adoro música, ponto – o que não surpreende quem dê uma vista de olhos a este blogue. Gosto de senti-la, de vivê-la com o meu corpo. E essa paixão só tem aumentado com o tempo – ou então sou eu que me vou sentindo cada vez mais confortável na minha própria pele. Também suspeito que parte disso será vingança pelos cancelamentos durante a pandemia.

 

Aliás, acho que não é a primeira vez que o refiro, esta paixão começou no Rock in Rio de 2008, com os Linkin Park. É também por isso que me afeiçoei tanto aos Hybrid Theory: porque permitem-me prestar homenagem a isso.

 

Em Gondomar, então, dei-lhe tão forte que, depois do concerto, fiquei com a cabeça pesada, a andar à roda. Tanto headbang deve ter sido demais para o meu ouvido interno. 

 

Zero arrependimentos.

 

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Foi nessa altura que os membros da banda nos receberam. Pude dar um beijo ou abraço a cada um deles, outra coisa que me aqueceu o coração de uma maneira parva – sobretudo depois de tudo o que aconteceu desde o concerto no Altice Arena. Isso e as duas fotos que tirei, sobretudo a segunda, com a banda e praticamente todo o grupo de fãs – a família toda. 

 

Pelo meio, ainda me virei para o Ivo, mostrei-lhe a página do Genius e perguntei-lhe:

 

– Queres que te mande o link?

 

Acabámos os dois a rir. Mais tarde senti-me um bocadinho culpada pelo roast, de tal forma que, quando fiz publicações nas redes sociais, fui menos má. 

 

Ainda assim, a Ana Luísa do grupo de fãs brasileiros foi ainda pior do que eu. Vale a pena ler os nossos comentários neste reel – até porque o próprio Ivo se juntou à festa. 

 

O que me leva a outra das minhas partes preferidas do ritual de um concerto HT: as publicações nas redes sociais nos dias seguintes. Até porque os rapazes fartam-se de partilhar as nossas stories do Instagram. É bom, recordamos momentos felizes em conjunto com quem esteve lá, partilhamos parte da experiência com quem não pôde estar, adiamos o início da depressão pós-concerto.

 

Em suma, um fim-de-semana inesquecível. A maneira perfeita de encerrar o ano.

 

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Nesta fase, há muito que desisti de racionalizar a questão dos Hybrid Theory. Não os confundo com os Linkin Park, são uma banda diferente – são literalmente uma banda tributo. Tirando isso, não preciso de justificar mais nada. Compreendo que nem toda a gente goste mas, respeitosamente, quem não gosta come menos. Eu cá adoro-os, eles têm sido simpáticos comigo (mais até), deram-me três concertos fantásticos e encontrei uma família entre os seus fãs. Direta e indiretamente, têm-me feito dar passos para fora da minha zona de conforto, revelado novas facetas minhas, despertado tantas emoções – das boas – em mim. 

 

Aliás, se me permitem, esta está a ser uma história lindíssima, quase poética, chega a ser caricata. Há pouco menos de um ano estava a comprar bilhetes para o Altice Arena às cegas, sem pensar bem no que estava a fazer, sem saber o que esperar. “Há de ser giro, dizem que eles são bons.” Imaginava lá eu tudo o que esta simples decisão desencadeou. 

 

Nem sempre foi fácil, sobretudo aquelas semanas de recaída nas saudades de Chester, em que até In the End me deixava com um nó na garganta. Continuo a achar que foi um exagero da minha parte. Dito isto, passaria por tudo outra vez, não me arrependo de uma lágrima que seja. Tudo isso me levou até aqui. Os Hybrid Theory foram a melhor coisa que me aconteceu em 2023.

 

E, lá está, já não é só pela própria banda – é também pelas pessoas que conheci graças a eles. Chamo-lhe a família HT. Sou mais próxima de alguns deles do que outros, não vivemos assim tão perto uns dos outros, não nos vemos assim tantas vezes – mas temo-nos uns aos outros.

 

Não é muito diferente do que acontece com a minha família biológica, na verdade.

 

Por essa parte temos de agradecer ao JLee. Já o fiz pessoalmente, mas nunca é demais repeti-lo. Graças ao JLee, os Hybrid Theory são mais do que uma banda: são uma família. Falando por mim, já não é só pelos próprios rapazes e pela experiência Linkin Park que vou continuar a ir aos concertos, dentro das minhas possibilidades. Será também para estar com estas pessoas.

 

 

Claro que fica sempre aquela mágoa por os próprios Linkin Park não estarem no ativo, por o Chester não estar cá para ver a sua música ainda unindo pessoas, ainda conquistando fãs, incluindo de palmo e meio. Ninguém queria que tivesse de ser assim, todos temos saudades. Dito isto, a par da maior sensibilidade para questões de saúde mental, isto está a ser a melhor coisa a nascer da tragédia. E eu não conheço melhor forma de homenagear Chester, de, hashtag, deixá-lo orgulhoso.

 

E a história vai continuar daqui a menos de duas semanas, em Amiais de Baixo. E noutros concertos depois desse, ainda por marcar. Não sei o que o futuro reserva para os Hybrid Theory (ou para os Linkin Park), mas, enquanto eles continuarem, eu continuo.

 

Com tudo isto, em termos de música em si, Linkin Park foi uma das bandas que mais ouvi em 2023. Em parte por causa de Meteora20, mas também por causa dos Hybrid Theory. Músicas que não andava a ouvi tanto nos anos anteriores que reentraram na minha cabeça. Músicas que ganharam facetas novas depois de ver e/ou ouvir o que os HT fazem com elas. 

 

Sharp Edges, que eles têm usado para encerrar os concertos, será porventura o exemplo mais óbvio. Por outro lado, antes de 2023, não contava ouvir One More Light ao vivo nem o desejava particularmente. Mas é sempre um ponto alto nos concertos dos Hybrid Theory. Descobri, aliás, que o grito de “I do!” no meio é super catártico. 

 

Por outro lado, passei uma boa parte do ano obcecada pelo cover que os rapazes fizeram de Iridiscent. A música original não está entre as minhas preferidas, mas esta versão ficou linda. 

 

Espero que eles criem mais versões destas no futuro.

 

 

Por fim, nós, na família HT, somos todos fãs de Linkin Park, claro. E, naturalmente, de vez em quando falamos sobre as nossas músicas preferidas.

 

De Linkin Park e não só, na verdade. Hei de falar sobre isso na segunda parte deste balanço, mas tenho-me deixado influenciar pelas sugestões do pessoal do grupo. E vice-versa, na verdade. É uma das maneiras mais bonitas de descobrir música nova. 

 

Lost foi a minha música número um, tanto no Spotify Wrapped como no meu Last.fm – até mesmo no YouTube Music. Faz todo o sentido. Foi a música que deu o pontapé de saída para a era Meteora20 e marcou a minha história com os HT – porque, ao contrário da maioria dos fãs de Linkin Park, já tive o privilégio de ouvi-la tocada ao vivo. Três vezes.

 

Pode-se discutir se é das melhores dos Linkin Park (acho que sim, pelo menos top 20) ou mesmo se é a melhor do baú de Meteora (acho que sim, mas há quem discorde). Para mim vale, não só pelos méritos próprios, mas também pelo que representa, pelas emoções que despertou em tanta gente. É a minha música preferida de 2023. 

 

E por hoje fico por aqui. A segunda parte deste balanço também falará de feels e concertos (neste caso, concertos futuros), mas será mais convencional, mais focada em música propriamente dita. Ainda deverá demorar um bocadinho, claro, mas não é grave. Desde que não ultrapasse o recorde do ano passado, em que só consegui terminar o balanço de 2022 em finais de fevereiro.

 

Uma vez mais, obrigada Hybrid Theory, banda e família. Obrigada também a vocês, caros leitores. Continuem por aí. 

Música 2022 #2: Justiça para as B-sides de Let Go (e para as outras também)

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Primeira publicação de 2023! Bom ano, minha gente!

 

Como já terão concluído por vocês mesmos, estes textos vêm com um longo atraso, ainda maior do que previ. Estou numa altura da minha vida em que está a acontecer muita coisa, tenho imenso que gerir. Primeiro foi o Mundial 2022, depois foram as festas. Mesmo agora tenho assuntos pessoais e de trabalho que me roubam tempo de escrita.

 

De escrita e não só. Ainda não acabei Pokémon Scarlet, apesar de ter comprado o jogo no dia em que saiu, há dois meses.

 

Mas pronto, já consegui publicar esta parte. Por acaso, estou bastante entusiasmada por escrever este balanço. 2022 foi um ano bastante rico, musicalmente e não só. Se só conseguir terminá-los em meados fevereiro… quem se rala?

 

Adiante. Nesta parte do balanço musical de 2022, vamos falar sobre Avril Lavigne. Alguns de vocês poderão ter estranhado não ter dedicado um texto inteiro a Love Sux. Não cheguei a escrever esse texto porque, bem, Love Sux quase literalmente entrou a cem e saiu a duzentas. É até agora o álbum de Avril que menos gosto. Não o odeio, apenas me é indiferente – o que pode ser pior que de facto odiar. É esquecível, não tem uma única música que eu adore a sério – ao contrário de todos os outros trabalhos de Avril. Estive meses e meses sem ouvi-lo, só voltei a fazê-lo há pouco tempo – e apenas em preparação para este texto.

 

Como já se sabia que iria acontecer – e como foi referido neste texto – em Love Sux, Avril abraçou a fundo o estilo pop punk. Infelizmente, o resultado final tem várias das falhas que têm sido apontadas a todos estes músicos apadrinhados por Travis Barker. Nomeadamente o facto de o som ser pouco original, quase um copy-paste do estilo típico dos Blink-182. 

 

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Love Sux em particular é demasiado homogéneo, com músicas que se confundem umas com as outras. Como sempre gostei da diversidade dos álbuns da Avril anteriores a este, isto para mim é um problema. As faixas são demasiado curtas – só três delas têm mais de três minutos – sem pausas instrumentais, em ritmo acelerado (tirando Dare to Love Me e Avalanche). Todos os intervalos são preenchidos com “Whoa!” ou “Na na na” ou monossílabos do género – daqueles incluídos para tentar cativar o público num concerto. Quando o álbum saiu, um outro sobrevivente do Fórum Avril Portugal comentou comigo que não sabia como é que Avril ia cantar estas músicas em palco. Ela sempre foi inconsistente em palco e, agora, este é um álbum acelerado que quase não lhe dá um momento para respirar.

 

A verdade é que já lá vai quase um ano e uma data de concertos. Não sei se ela tem incluído muitas músicas do Love Sux nas setlists. Não quero ir ao Google para evitar spoilers para o concerto de Zurique.

 

O pior são as letras. Love Sux é basicamente uma extensão de I Can Do Better com letras mais elaboradas – na forma, não no conteúdo. Uma série de break up songs imaturas, movidas a mesquinhez e espírito vingativo (e nem sequer com a piada de C’est Comme Ça). “Ex”s que lhe dão vontade de vomitar, insultos, ameaças de atropelamento, entre outras coisas super dignificantes. 

 

Isto era uma coisa aquando de The Best Damn Thing, quando eu tinha dezassete anos e Avril vinte e dois (e mesmo assim cansei-me relativamente depressa de I Can Do Better). Outra coisa é agora, que estamos ambas na casa dos trinta – e Avril está próximo dos quarenta. Nenhuma de nós é adolescente há muito tempo – e eu pelo menos não quero voltar a sê-lo. Porque se porta Avril como uma? Quem acha piada a isso?

 

Já que falo disso, permitam que me estique, que faça especulações e tece juízos de valor sobre a vida amorosa alheia. Uma coisa que me tem incomodado nos últimos anos é que, pelo menos no que toca ao seu cânone musical, Avril nunca admite culpas pelas suas relações falhadas – a única exceção é I Will Be, que de resto é uma B-side. Avril já teve vários parceiros, já foi casada duas vezes, mas aparentemente nunca lhe ocorreu que ela poderá ser pelo menos parte do problema. Até Taylor Swift, de todas as pessoas, admite culpas desde pelo menos Reputation. Às tantas não é o amor que não presta, é ela. Avril precisa de olhar para si mesma e perceber o que está errado ou continuará a ter azar no amor.

 

 

Mas, lá está, isto é apenas especulação à mistura com psicologia barata. Nada me garante que as letras de Love Sux sejam um reflexo fidedigno dos valores de Avril – pode ser apenas uma imagem que ela projeta. Ela neste momento está noiva de Mod Sun, que me parece um bom rapaz q.b. Pode ser que eu esteja enganada e que o casamento resulte. Eu pelo menos não desejo outra coisa. 

 

Regressamos a Love Sux. Olhemos mais de perto. Já escrevi sobre Bite Me antes e, na minha opinião, é das melhores. Ainda pensei que isso fosse por a ter ouvido antes de todas as outras – aliás, pelo menos algumas faixas em Love Sux funcionam melhor fora do contexto do álbum. No entanto, Love it When You Hate Me também foi lançada antes e dessa não gosto. A melodia na primeira estância até é agradável ao ouvido mas esse é o único ponto a favor da música. Meu Deus, que letra mais vazia!

 

Cannonball é das poucas neste álbum de que gosto. É possível que seja por ser a primeira do alinhamento – ainda não dá tempo para me fartar do estilo. Por outro lado, na minha opinião, Cannonball tem elementos que a elevam acima das demais: aquela introdução explosiva com uns vocais impressionantes, aquela espécie de rap que combina bem com o ritmo acelerado. Também gosto dos “Whoa! Whoa!” na terceira parte, mas acho que deviam ter sido repetidos pelo menos uma vez. 

 

É o problema das músicas demasiado curtas. Quando estamos a gostar, sabem a pouco. 

 

Outra de que até não desgosto é All I Wanted, o dueto com Mark Hoppus. Sempre foge à fórmula do resto do álbum e as vozes dos dois casam bem. A letra aborda velhos tropos do pop punk – nostalgia, desejo de fugir à terra natal – mas sempre tem mais substância que noventa por cento de Love Sux. 

 

Queria agora falar sobre as duas músicas que fogem um pouco à fórmula: Avalanche e Dare to Love Me. A sonoridade da primeira até é interessante, o híbrido de balada rock com o pop punk do resto do álbum mas… outra vez… A letra é tão. Má. Vaga, cheia de clichés, é tão frustrante. 

 

 

Sim mulher, estás com problemas, a vida é difícil, mas explica porquê, caramba! Dá-nos pormenores!

 

Da mesma maneira, antes da edição de Love Sux, estava curiosa em relação a Dare to Love Me. Esta até tinha potencial. Acho que nunca cheguei a escrevê-lo em nenhum lado, mas há anos que desejava que Avril voltasse a incorporar guitarras elétricas nas baladas. Ela fazia-o nos seus primeiros álbuns – em músicas como I’m With You, Naked, My Happy Ending, Fall to Pieces, Slipped Away – mas, a partir de The Best Damn Thing deixou de fazê-lo. 

 

Uma vez mais, o instrumental de Dare to Love Me não é mau, o problema é a letra. Uma vez mais, Avril perde-se em lugares-comuns, não verte o seu carácter na música. Medo de ser abrir ao amor é assunto de inúmeras canções e quase todas – incluindo duas de que falarei mais à frente neste balanço – exploram melhor o tema. 

 

Love Sux teve uma edição Deluxe, lançada agora no fim de 2022. Acho que não ouvi Pity Party nem Mercury in Retrograde segunda vez, mas I’m a Mess é um caso à parte. Este dueto com Yungblud não se encaixa super bem no álbum. Começa guiada pela guitarra acústica, à qual se junta o piano até evoluir para uma grandiosa balada pop rock. A letra fala sobre saudade – é a terceira música, não, o terceiro single de Avril sobre este tema.

 

Ou seja, é mais uma canção que não traz nada de novo, quer em termos de letra, quer em termos de sonoridade. No entanto, na minha opinião, sempre tem um bocadinho mais de carácter e emoção que o resto de Love Sux. Gosto da imagem inicial da letra, das ruas vazias de Londres (suspeito que essa parte da letra tenha vindo de Yungblud, infelizmente). Nesta altura da carreira de Avril, eu aceito. 

 

O pior é que, na divulgação do single, Yungblud cortou o cabelo de Avril. Fica-lhe agora pouco acima dos ombros. Pela primeira vez na minha vida tenho o cabelo mais comprido do que Avril e… não gosto! O cabelo comprido era a imagem de marca dela!

 

 

No fundo, muitos dos problemas de Love Sux são uma continuação dos de Head Above Water: falta de profundidade, de originalidade, até mesmo os refrões circulares. Misturem isso com imaturidade, um som demasiado homogéneo e temos Love Sux. Este é o primeiro álbum em que nem uma única música me agarrou pelo coração – nem sequer posso dizer que gosto da maioria. Admito dar alguma rotação a Cannonball, Bite Me, All I Wanted no futuro, mas não vou incluir nenhuma música da edição-padrão de Love Sux na minha habitual playlist do ano. Não seria honesto. 

 

Eu compreendo o que alguns de vocês quererão dizer. Nunca estou satisfeita com nada. Aquando de Head Above Water disse que preferia que Avril não tentasse ser séria ou profunda e agora, que não está a fazê-lo, continuo a queixar-me. Talvez tenham razão. Talvez Avril já não me consiga agradar. A expressão que me ocorre não tem boa tradução em português: “I’ve outgrown her”.

 

Basicamente, tornei-me naquilo que nunca pensaria ser há uma década: um daqueles fãs que só gostam dos primeiros álbuns de Avril e das B-sides.

 

E por falar nisso…

 

Em 2022 assinalaram-se vinte anos desde a edição de Let Go, o primeiro álbum de Avril e ainda hoje o meu preferido dela. A propósito disso, o álbum foi re-editado e eu por acaso gostei muito do que fizeram nessa edição especial – ainda que com alguns asteriscos. Foi uma tarde de folga engraçada, a de 3 de junho – dia em que saiu a re-edição – tentando ouvir o álbum no carro, na versão gratuita do Spotify, enquanto andava de um lado para o outro fazendo recados.

 

Esta re-edição conseguiu captar o melhor de dois mundos. As músicas não foram regravadas, como fizeram Taylor Swift e Bryan Adams. São os mesmos vocais deliciosos do tempo de Let Go: mais graves, menos polidos, mais frágeis, com mais nuances. Avril nunca conseguiria recriá-los hoje em dia.

 

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Ao mesmo tempo, à semelhança das regravações, estas novas versões têm pormenores novos em número suficiente para dar uma nova vida às músicas. Os instrumentais e os vocais têm melhor qualidade, para começar. Além disso, incluíram elementos de algumas versões demo, o que é um bónus simpático para fãs mais hardcore como eu. Mobile e Tomorrow são os exemplos mais óbvios.

 

Infelizmente, não fizeram o mesmo com Naked, o que é uma pena. Teria adorado se o instrumental fosse mais parecido com o da versão demo

 

A re-edição também inclui conteúdo extra… mas não em quantidade suficiente, na minha opinião. 

 

Let Go tem uma data de B-sides que estão disponíveis na Internet há muitos anos – ainda que não nas plataformas oficiais. Segundo consta – as fontes não são super fidedignas – elas terão sido editadas num álbum promocional que terá sido enviado para as rádios no final de 2001. Esta edição de vigésimo aniversário teria sido a oportunidade ideal para lançar estas faixas oficialmente e em boa qualidade… e eles desperdiçaram-na.  

 

Tirando Make Up, cada uma das faixas-extra já tinha sido lançada oficialmente de uma forma ou de outra. I Don’t Give foi incluída nalgumas versões do single de Complicated (lembram-se de quando os singles incluíam faixas-extra?), teve apresentação ao vivo no DVD My World e faz parte da banda sonora do segundo filme do American Pie. Why (com uma roupagem diferente da edição de aniversário) também foi lançada com Complicated na Austrália e na Europa, em algumas versões de Let Go e no EP que acompanhou o DVD My World. Get Over It sai nalgumas versões do single de Sk8er Boi. Falling Down faz parte da banda sonora do filme Sweet Home Alabama. Finalmente, como será do conhecimento geral, Breakaway foi gravada e lançada por Kelly Clarkson.

 

 

Mas aproveito para falar sobre essas músicas. Como já escrevi antes, gosto da versão oficial de I Don’t Give, mas prefiro a versão ao vivo – a tal incluída no DVD My World. A faixa editada oficialmente é “limpa”, mas a que foi incluída no CD B-sides inclui o termo “shit” e era assim que Avril a cantava. A ideia que eu tenho é que I Don’t Give esteve quase quase a ser incluída na edição padrão de Let Go. Não chegou a sê-lo porque a mãe de Avril a terá vetado. Numa entrevista de 2006 que agora não consigo encontrar agora, lembro-me de ler Avril dizendo que a mãe não a deixara lançar uma música com os termos “damn” e “shit” em Let Go. Mas agora já não era adolescente e o seu próximo álbum – The Best Damn Thing – seria mais explícito. 

 

Avril não refere nenhum título, mas tenho quase a certeza que estava a falar de I Don’t Give.

 

Eu diria que a dona Judy não se devia ter metido. Por outro lado, se era para incluir I Don’t Give, teria de ser a versão mais pop punk – não sei se os produtores deixariam. 

 

Falling Down e Get Over It são OK. Gosto mais da primeira, um número acústico charmoso. A segunda tem uma letra demasiado estranha para o meu gosto. Também esta tem uma versão explícita, mas não da maneira convencional. Apenas trocaram “don’t turn around, ‘cause you’ll get punched in the face” por “don’t turn around, I’m sick and I’m tired of your face” – a primeira, se calhar, era demasiado violenta para as sensibilidades dos produtores.

 

Make Up também é OK. Não percebo porque, de todas as B-sides, escolheram esta para editar. Nada contra, claro, apenas gostava de saber o motivo.

 

Talvez seja pela ironia. Uma música sobre não usar maquilhagem quando o smokey eye se tornou rapidamente a sua imagem de marca, quando a própria Avril confessou ser viciada no eyeliner preto. Claro que Make Up é sobre maquilhagem metafórica. No início da sua carreira, um dos lemas de Avril era ser ela mesma, ser honesta com a sua música. Algo que ela perdeu pelo caminho, como assinalámos antes.

 

 

Uma palavra para Breakaway – a única que Avril gravou recentemente para esta reedição. Já tinha escrito sobre a música em 2014, quando apareceu na Internet uma demo na voz de Avril, gravada aquando dos trabalhos para Let Go.

 

Depois disso, Avril pareceu querer recuperar Breakaway – em 2019 cantou-a na digressão de Head Above Water. Na altura isso não me agradou muito: é uma versão muito mais leve de reclamar um filho que se deu para adoção. No entanto, Kelly Clarkson entrevistou Avril no seu programa e ambas fartaram-se de trocar elogios em relação a Breakaway – vale a pena ver, é bonito.

 

Se Kelly não se importa que Avril a cante, eu não tenho o direito de me importar. E fico à espera do dueto.

 

Quanto à versão de 2022 da Avril, não tenho muito a dizer. O instrumental tem um toque rock agradável e o desempenho vocal de Avril é irrepreensível. Gosto em particular dos backvocals no último refrão. 

 

No entanto, mantenho o que escrevi em 2014: Breakaway soa melhor na voz de uma menina de quinze ou dezasseis anos dando os primeiros passos no mundo da música. Definitivamente não na voz de uma mulher celebrando vinte anos de carreira. Continuo a preferir a versão demo. 

 

Por fim, temos Why. Esta em si não é inédita, mas esta versão é. Foi a grande surpresa desta edição de aniversário. Depois de anos e anos com uma versão só com guitarra em voz, temos Why com instrumentação completa.

 

 

Esta nova roupagem de Why teve um significado especial para mim pois tenho um histórico curioso com a música. Não sei se já o referi cá no blogue, mas adquiri o DVD My World antes de ter o Let Go. Recebi-o juntamente com o Under My Skin no Natal de 2004 – pensava que o My World era o primeiro álbum de Avril. Como ainda não tínhamos leitor de DVD na altura, dei mais atenção ao CD que o acompanhava, onde estava Why. Algures em fevereiro de 2005, andei brevemente obcecada com a música. Eu tinha quinze anos – a mesma idade que Avril tinha quando a compôs. 

 

Só anos mais tarde é que descobri a história por detrás de Why. Foi uma das primeiras compostas para Let Go, em parceria com Peter Zizzo, o produtor que a descobriu e a trouxe para Nova Iorque. No ano passado, em entrevista, Avril revelou que escreveu a letra de Why baseando-se em desentendimentos com a sua mãe. Zizzo tê-la-á persuadido a adaptar a letra a uma relação amorosa. 

 

Pena termos demorado vinte anos a obter esta informação mas, olhando para a letra, faz sentido. Why é claramente sobre falhas de comunicação.

 

Why foi também a música que Avril cantou para LA Reid na sua apresentação. Conseguiu-lhe o contrato com a Arista, mas também tê-la-á levado a assumir que ela tomaria um rumo mais folk.

 

A música resultaria bem com um arranjo nesse estilo, não tenho dúvidas. Mas aplicando-lhe o filtro Let Go, como nesta nova versão, ficou perfeita. Estou surpreendida por se ter mantido inédita durante vinte anos quando, lá está, inúmeros outras B-sides e demos vieram parar às internetes. E se tinham esta versão completa na gaveta, porque incluíram a versão só acústica no DVD My World, nos singles, etc? É que nem sequer se limitaram a pegar na versão só acústica e a acrescentar instrumentos. A nova versão tem uma gravação vocal diferente e é provável que tenha sido feita mais tarde, já com este instrumental na ideia. 

 

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É possível que esta versão tenha ficado inacabada por um motivo qualquer durante estes anos todos – e só a concluíram para o vigésimo aniversário. Talvez tenham achado preferível, antes, lançar uma versão só acústica em vez de uma com o instrumental incompleto nos singles e afins. É a única explicação que me ocorre. 

 

Em todo o caso, esta nova versão de Why reacendeu a minha obsessão pela música, mais de dezassete anos depois. Ficou em quinto lugar no meu top da Last FM e em décimo-terceiro no meu top do Spotify. É uma das minhas preferidas de 2022.

 

Eu queria mais disto na reedição de Let Go. Queria mais B-sides remasterizadas. Os fãs mais casuais de Avril mereciam ouvi-las nas plataformas oficiais.

 

Não porque essas B-sides sejam músicas excelentes, nada disso. As músicas da edição-padrão são melhores que a maioria destas B-sides – são pouquíssimas as que editaria em Let Go. As letras são inconsistentes, algumas não fazem sentido e/ou entram em territórios esquisitos. Mas essa bizarria tem o seu charme. Representa uma faceta diferente de Let Go, uma faceta que eu queria que mais fãs conhecessem – tal como eu fiz com a re-edição de Hybrid Theory e as faixas do baú das regravações de Taylor Swift. Além de que algumas destas canções mostram diferentes facetas de Avril, facetas que ela exploraria em trabalhos futuros. O lado mais romântico (Stay (Be the One), Once and For Real), o lado mais sábio (Move Your Little Self On), o lado mais brincalhão (Headset, Take Me Away).

 

Já que nem Avril nem a sua equipa fizeram justiça pelas B-sides de Let Go, fá-la-ei eu mesma. 

 

 

Até porque estas B-sides têm valor nostálgico para mim. Os primeiros vídeos que vi no YouTube, algures nos finais de 2006, foram de algumas destas canções – numa altura em que andava sedenta de música nova de Avril. Acho que na altura ainda usava uma ligação por telefone e vídeos de três minutos levavam eternidades a carregar. Ia ouvindo as canções um segundo ou dois de cada vez. Lembro-me de Headset, que tem uma introdução instrumental de quase trinta segundos, ser particularmente penosa.

 

Os jovens de hoje não aguentariam.

 

Claro que, entretanto, obtivemos uma ligação melhor. Fiquei a conhecer todas estas músicas entre 2006 e 2008, 2009. Foi uma alegria quando, finalmente, aprendi a sacá-las. A partir de certa altura comecei a montar vídeos para algumas delas, no Windows Movie Maker – claro que envelheceram pessimamente, mas hoje têm valor sentimental para mim.

 

Dito isto… modéstia à parte, a que fiz para Let Go continua boa.

 

Mas falemos sobre as músicas em si. All You Will Never Know é um tema agradável cuja letra parece uma precursora de Stop Standing There. A narradora está à espera que a pessoa de quem gosta retribua os seus sentimentos, tome a iniciativa, antes que ela perca o interesse. Ao mesmo tempo, Move Your Little Self On tem uma letra menos consistente, mas tem partes que parecem antecipar as mensagens de Everybody Hurts e Darlin’ (embora esta última, tecnicamente, tenha sido composta antes de Avril ter sido descoberta). 

 

Uma das que mais gosto é de Tomorrow You Didn’t, mais pelo instrumental, embora a letra até seja interessante. O padrão dos acordes de guitarra faz-me recordar Hot. Por outro lado, Take Me Away (sabiam que Avril tem duas músicas com este título? Alguns fãs chamam a esta Pick Me Up para distinguir.) é algo estranha: as estâncias têm uma sonoridade pop, estilo Complicated, o refrão e a terceira parte têm uma sonoridade mais agressiva, estilo Losing Grip. 

 

 

Pessoalmente gosto, mas não me choca se for demasiado bizarra para alguns ouvintes. De qualquer forma, o solo de guitarra é muito fixe.

 

A letra tem o seu quê de WTF – as estâncias encorajando o ouvinte a cometer atos que eu acho que são crimes – mas essencialmente Take Me Away transmite uma mensagem de carpe diem, um tema que Avril tornaria a abordar em músicas posteriores.

 

You Never Satisfy Meé uma que só comecei a apreciar há pouco tempo. A letra e o desempenho vocal são bons, nada a assinalar, mas este instrumental é mais interessante do que o da maioria das outras B-sides. Começando pelos teclados (ou sintetizadores?) na introdução, o órgão semelhante ao de Unwanted no refrão, o piano no penúltimo refrão e, sobretudo, o solo de guitarra acústica – quase parece guitarra espanhola. Nenhuma outra música de Avril tem algo assim. 

 

Falling into History é um caso curioso. É diferente de todas as outras em Let Go, B-sides ou não – a que mais se aproxima é Tomorrow e mesmo assim. É uma balada acústica cuja letra fala sobre “desapaixonar-se” (essa palavra existe?). 

 

Quando tinha dezanove anos passei por uma fase de obsessão com esta música. Quando lhe montei um vídeo (abaixo), o ritmo lento inspirou-me a experimentar outras funcionalidades do Windows Movie Maker – câmaras lentas, transições, fade ins, fade outs – o que me serviu de aprendizagem para vídeos futuros. E a verdade é que não conheceu outra música que aborde este tema – o fim de uma paixão – desta maneira.

 

Ainda gosto da canção, mas hoje reconheço que é um tudo nada lenta demais e a letra é demasiado madura para uma cantora e um álbum adolescente. A narradora de Falling into History parece uma mulher pós-divórcio, não uma menina de dezasseis ou dezassete anos lidando com as primeiras relações amorosas. 

 

 

Assim, não posso dizer que tenha sido uma surpresa descobrir, em pesquisas para este texto, que Avril não a compôs. Não existe muita informação fidedigna sobre os créditos destas B-sides, mas Falling into History é uma exceção – por motivos que explicarei já de seguida. Calculo que Falling into History tenha sido uma das canções, compostas por outros (um dos compositores é, uma vez mais, Peter Zizzo), que tentaram impôr a Avril quando queriam que ela seguisse um rumo mais folk.

 

Só acho estranho ter sido incluída no tal álbum de B-sides, entre outras músicas bem mais adequadas ao perfil de Avril. Suponho que quisessem mostrar que a jovem também conseguiria agradar a uma audiência mais adulta (como, de resto, I’m With you provaria, ainda que de uma forma mais genuína). 

 

Falling into History seria regravada uns anos mais tarde por Brie Larson. Sim, a atriz de Room e Capitã Marvel. Ela tentou aventurar-se no mundo da música em adolescente com o álbum Finally Out of P.E., que infelizmente foi um fracasso comercial. 

 

Consta que Brie passou por dificuldades semelhantes às de Avril. Teve de lutar contra a editora para ter liberdade criativa, para ser menos convencionalmente feminina – "Eu queria compôr todas as minhas canções, eles tinham medo disso. Eu queria calçar ténis e tocar guitarra – eles queriam saltos altos e cabelo esvoaçante."

 

Seria de esperar que a indústria tivesse aprendido com Avril e Let Go. 

 

Até gosto desta versão de Falling Into History. Está um bocadinho melhor produzida, com elementos discretos de pop rock. Mas Brie tinha quinze ou dezasseis anos quando gravou isto: continua a ser uma canção demasiado séria para uma adolescente. 

 

 

Mas regressemos a Avril. A última B-side sobre a qual quero escrever é a minha preferida (ainda que a nova versão de Why ameace esse título): Let Go, uma música com o mesmo título que o álbum.

 

A letra é OK, talvez um bocadinho estranha e específica demais nalguns momentos. A musicalidade é o que mais me atrai na canção. O instrumental tem os mesmos teclados (?) que aparecem em Naked. Mas o melhor mesmo são as melodias e a interpretação de Avril – Let Go é uma das melhores músicas para ouvir as forças do timbre de Avril nesta era. 

 

A minha parte preferida é o final, os backvocals nos últimos refrões e, sobretudo, no outro. Soa algo confuso, como se Avril tivesse decidido improvisar durante a gravação, mas ficou perfeita. 

 

Regressando à retrospetiva de 2022, tenho de falar de outras B-sides de Avril. De tanto em tanto tempo aparecem faixas rejeitadas de diferentes trabalhos dela – já escrevi sobre algumas aqui no blogue. Posso estar enganada, mas fiquei com a impressão de que apareceram mais do que o costume este ano – talvez por Avril ter lançado um álbum (bem… tecnicamente dois). 

 

Nem todas são grande coisa. Várias delas foram bem excluídas. Mas existem umas quantas que me agradaram particularmente.

 

Várias das B-sides que apareceram na net são dos trabalhos de Love Sux (saquem-nas aqui). Como disse antes, algumas delas poderão beneficiar de estarem fora do contexto do álbum. Um exemplo é Too Fast to Live. Outras, no entanto, acho mesmo que são um bocadinho melhores que as canções da edição padrão.

 

 

Uma das que mais gosto é Eternally. No que toca a canções de amor neste estilo, prefiro esta a Kiss Me Like the World is Ending. Avril canta esta última da mesma forma que canta todas as break-up songs no álbum – no contexto de Love Sux, se uma pessoa não estiver a prestar muita atenção, nem repara que Avril mudou o chip. Em Eternally, ao menos ela canta num tom diferente, mais semelhante a Dare to Love Me do que a Dejá Vu.

 

Outra de que gosto é Californyeah!. Antes de a ouvir, não tinha grandes expectativas porque o título é um bocadinho “cringe”. Surpreendeu-me pela positiva. 

 

Californyeah! é um dueto de Avril com Mod Sun. Tem uma sonoridade um bocadinho diferente do resto do cânone de Love Sux e a letra não é má. Fala sobre o início de um romance em, lá está, Califórnia. Eles deram-se ao trabalho de descrever cenários, mesmo não sendo super originais: ambos no carro (um cliché na discografia de Avril) pela Pacific Coast Highway à beira-mar, passeando na praia e enchendo a cama de areia (não sou muito obcecada por limpezas, mas isso faz-me imensa confusão). 

 

Esta definitivamente devia ter sido incluída na edição-padrão de Love Sux. É um dueto com o noivo dela, provavelmente sobre o início da relação deles! Porque é que a deixou de fora?

 

Teenage Nightmare também devia ter sido incluída em Love Sux – ou mesmo na re-edição de Let Go, por motivos que explicarei já de seguida. A sonoridade obedece à fórmula do álbum. A letra, no entanto, é a mais autobiográfica desta era: é literalmente uma autobiografia de Avril, um relato da sua chegada ao mundo da música. A sua jornada de adolescente rebelde a super-estrela.

 

Uma pessoa pergunta-se porque é que Avril não lançou oficialmente esta música, em ano de vigésimo aniversário da sua carreira – parece uma decisão óbvia. Pensando melhor, no entanto, talvez seja esse o problema: é demasiado óbvio, rasa a gabarolice. Compreende-se.

 

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Deixemos o cânone de Love Sux e entremos em territórios menos definidos. Fall into the Sky é um caso estranho dentro destas B-sides. O título já circulava na Internet há uns bons anos e, finalmente, no verão passado, tivemos acesso a ela. O pessoal do avrilmidia garante a pés juntos que esta é uma B-side de Let Go, mas eu não acredito neles. Este é claramente o timbre da era Under My Skin. Menos frágil, mais consistente que o de Let Go, mas ainda mais grave do que em álbuns posteriores. 

 

Em defesa deste pequeno desacordo, Fall into the Sky não se encaixa perfeitamente em nenhum álbum de Avril. A canção é conduzida por acordes rápidos de guitarra acústica, acompanhada por notas de guitarra elétrica e uma batida algo dançante. Lembra-me um pouco Tonight, dos Reamonn. Tem também um solo de guitarra muito fixe. 

 

Porque é que ninguém se lembrou de incluir solos de guitarra em Love Sux?

 

Em termos de letra, Fall into the Sky é uma precursora de Hot: sobre um parceiro que satisfaz a narradora. É erótica, mas de uma forma muito discreta, muito adolescente – Avril usa a expressão “when we’re making out”, “quando estamos a curtir”. Pode-se dizer a ouvintes mais puritanos que estamos apenas a falar de beijos, mas o resto de nós sabe que é mais do que isso.

 

De notar que já nesta altura Avril espera que o parceiro lhe dê prazer. Isto vários anos antes de ser considerado fixe, numa altura em que a comunicação social a pintava como mais púdica que as Britney Spears desta vida. Daquelas coisas dos anos 2000 que não deixaram saudades.

 

Esta não levo a mal não ter sido editada oficialmente. Como disse antes, parece ter sido composta e gravada durante os trabalhos de Under My Skin, mas não se encaixaria de todo neste álbum – é demasiado leve, demasiado pop. Mesmo não sendo demasiado sexy,  continua a ser demais para Let Go. Em relação a álbuns posteriores, é demasiado adolescente. 

 

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Além disso, se tivesse sido editada antes do The Best Damn Thing, teria estragado o impacto de Hot – que continua a ser a melhor canção. 

 

Ainda assim, podia ter sido cedida a outro cantor. Só para não desperdiçar. 

 

Queria agora referir duas B-sides de Head Above Water. Lights Out é uma balada agradável, ao estilo de Warrior ou da própria Head Above Water. Gosto mas, lá está, é demasiado parecida com essas duas músicas, ainda que a letra seja um bocadinho menos cliché. Continuo a preferir Bright

 

E, de qualquer forma, mantenho o que escrevi antes: preferia que a redundância temática de Head Above Water fosse com músicas como esta.

 

Por sua vez, Lucky Ones é uma balada acústica razoavelmente interessante em termos de letra. É uma break up song, possivelmente sobre o seu divórcio de Chad Kroeger, o seu segundo marido. Uma vez mais, a letra não é super original, mas tem algum carácter. Pintam-se cenários de solidão, para começar – “Now it’s just me getting take out for one”. Além disso, se for um reflexo honesto dos sentimentos de Avril, sempre revela a sua perspetiva sobre o amor: não dura para sempre, mas ela pensava que aquilo seria a exceção. 

 

E isto é mais interessante que a totalidade de Love Sux.

 

 

Agora vamos inverter a coisa e passar de uma música que poderá ser sobre o fim do casamento Chavril, para uma sobre o início do casamento Chavril. Durante a era do álbum homónimo, altura em que se casaram, tanto Avril como Chad falaram dela nalgumas entrevistas: If I Said I Loved You, uma canção que compuseram depois de terem começado a namorar. Ou se calhar depois do noivado, que, recordemo-nos, ocorreu ao fim de um mês de relação. Acabou por ser a música do casamento deles. 

 

Na altura, Avril disse que planeava lançar oficialmente If I Said I Loved You no futuro. No entanto, o casamento terminou antes que houvesse oportunidade para isso. E agora, mais ou menos uma década depois de ter sido gravada, apareceu nas internetes. 

 

If I Said I Loved You é mais ou menos o que eu esperava. É uma música bonita, uma balada com discretos traços de rock que encaixa bem no cânone de ambos. Nem a musicalidade nem a letra desafiam convenções, mas têm emoção e personalidade q.b. Sabem como sou, não resisto a uma canção de amor com um bocadinho de sentimento e honestidade.

 

Mas fico triste por só a termos conhecido agora, dez anos depois, quando eles se divorciaram há muito e ela está noiva de outro homem.

 

E, apesar de tudo, não diria que If I Said I Loved You é melhor que Let Me Go – o dueto entre Avril e Chad que foi de facto publicado. A primeira está um degrau acima em termos de letra, mas a segunda é mais interessante em termos de sonoridade. Representou um território diferente para Avril na altura.

 

As duas estão mais ou menos ao mesmo nível.

 

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E era sobre isto que queria falar no que toca a Avril Lavigne em 2022. É um bocadinho triste ter falado mais sobre B-sides num balanço anual, mas é o que temos. Apesar de tudo, mesmo que Avril já não seja a minha número um, não conheço mais nenhuma carreira tão a fundo como a dela. 

 

E provavelmente nunca conhecerei. Já não tenho a disponibilidade que tinha há dez ou quinze anos para procurar cada música inédita, ver cada vídeo de má qualidade no YouTube, consultar arquivos de entrevistas antigas, de outro artista ou banda. Mesmo as B-sides de Avril que vazaram este ano vieram de contas de redes sociais que já sigo – não foram músicas que eu tenha procurado ativamente. Mas que já acumulei todo este conhecimento secreto, mais vale partilhá-lo. 

 

Por estes dias, Avril tem falado em lançar um novo álbum em 2023. Conhecendo-a como conheço, acho mais sensato contarmos com ele lá para 2024, com sorte – e já seria mais rápido do que o costume com ela. Para ser sincera, depois de dois álbuns que não me entusiasmaram, Love Sux em particular, não tenho pressa.

 

Claro que, como minha mãe musical, irei sempre dar-lhe o benefício da dúvida. É a única obrigação de qualquer fã. 

 

Tenho ainda o concerto dela em Zurique, parte da digressão europeia. Este é o quarto balanço anual seguido em que o refiro. A incapacidade de nós, fãs portugueses, vermos um concerto desta mulher vai muito além de caricata. 

 

Este último adiamento foi desnecessário, na minha opinião. Eu tinha acabado de ver Bryan Adams, usara máscara, e correra tudo bem. Podia-se perfeitamente ter feito o mesmo com os concertos da Avril. Para quê adiar outra vez?

 

Em princípio deverá ser desta, que já vivemos em quase normalidade. Quando virmos Avril subindo ao palco com os nossos próprios olhos até acharemos que é mentira. Mas há de valer a pena – nem que seja apenas para cantar os velhos êxitos em coro com milhares de outras pessoas.

 

E foi esta a segunda parte deste balanço musical. A próxima parte será mais curta e será também um desvio ligeiro à fórmula habitual. A boa notícia é que já terminei o primeiro rascunho, será só passá-la a computador, o que não deverá demorar muito. Obrigada pela vossa paciência. Continuem por aí. 

Músicas Não Tão Ao Calhas – Bite Me

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Aqui no estaminé, Avril Lavigne dispensa apresentações. É uma personagem recorrente desde os primeiros tempos deste blogue – gosto de chamar-lhe a minha mãe musical – tendo inspirado múltiplos textos. Este é mais um deles, a propósito de Bite Me, o primeiro single do seu sétimo álbum. 

 

Avril já anda a lançar pistas sobre este álbum há um ano, na verdade – embora, segundo entrevistas mais recentes, nessa altura ainda estava a começar. Típico dela, fazendo anúncios e promessas antes de tempo, deixando os fãs baralhados. Mas ao menos já temos o primeiro single.

 

Este álbum, ainda sem nome, representa o regresso de Avril ao pop punk. A cantora sempre esteve associada a este género musical. Se perguntarem por aí, dir-vos-ão que Let Go foi a sua era mais pop punk, mas o álbum que mais explora este estilo é na verdade o The Best Damn Thing. Antes do seu terceiro álbum, Avril só contava duas músicas lançadas oficialmente influenciadas por este estilo: Sk8er Boi, em Let Go, e He Wasn’t, em Under My Skin

 

Temos ainda I Always Get What I Want, dos trabalhos do segundo álbum, que faz parte da banda sonora do segundo filme d’O Diário da Princesa. Este é um tema que tem tido muita rotação nos concertos de Avril: está no top 10 das músicas mais tocadas segundo o Setlist.fm, mais do que alguns singles. Tenho quase a certeza que Avril se arrepende de não ter incluído a música na edição-padrão de um álbum. 

 

Na minha opinião, devia ter sido guardada para o The Best Damn Thing. Encaixa-se que nem uma luva ao lado de I Can Do Better e a faixa-título.

 

Penso que a b-side Take It, também the Under My Skin, poderá ser igualmente considerada pop punk. Por outro lado, temos um caso estranho com I Don’t Give, dos trabalhos de Let Go. A música foi lançada como b-side do single Complicated e soa semelhante à larga maioria de Let Go. No entanto, durante a digressão Try to Shut Me Up (ela antigamente era mais imaginativa com os nomes das digressões), Avril tocava uma versão diferente de I Don’t Give: mais pesada, mais rápida, pode-se dizer mesmo mais pop punk. 

 

 

Eu adoro esta versão. Há mais de metade da minha vida que lamento que não haja uma versão pop punk de I Don’t Give gravada em estúdio. Seria uma surpresa agradável se isso acontecesse com uma potencial edição comemorativa dos vinte anos de Let Go. Pouco provável, mas uma pessoa pode sonhar…

 

Por outro lado, faz-me pensar em quantas músicas no primeiro álbum teriam um arranjo parecido com este, se Avril tivesse tido mais controlo sobre o processo. 

 

Isto tudo para dizer que, nos primeiros dois álbuns de Avril, apenas cinco músicas, no máximo, podem ser consideradas pop punk. E destas, só duas fazem parte das edições-padrão. Foi precisamente para colmatar esta falha que Avril criou o The Best Damn Thing – em que pelo menos metade das músicas, mais uma b-side, têm influências pop punk. Por isso, quando a comunicação social diz que Avril está a recuperar o estilo de Let Go com Bite Me, não fizeram o trabalho de casa. 

 

O regresso de Avril a este estilo acontece na mesma altura que o pop punk tem estado de novo na moda. Não é uma coincidência: ela é um dos muitos artistas apadrinhados por Travis Barker, o baterista dos Blink 182, o grande catalisador deste movimento. Outros artistas com quem Travis tem colaborado são Mod Sun, Machine Gun Kelly, Willow Smith, Yungblood. 

 

Não surpreende. Há quem diga que a nostalgia cumpre ciclos de vinte anos. Nos anos 2000 tínhamos saudades dos anos 80, na década de 2010 tínhamos saudades dos anos 90, agora temos saudades dos anos 2000. Suponho que tenha a ver com a geração que está na casa dos vinte e/ou dos trinta durante determinado período, que recorda a sua infância e/ou adolescência. 

 

Um aspeto engraçado em que tenho vindo a reparar é que, na altura, os críticos desprezavam muita da cultura que nós, da minha geração, consumimos. Sobretudo nós, meninas adolescentes. Mas agora que somos adultos, temos a palavra e podemos fazer justiça àquilo que nos definiu. 

 

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Travis Barker está, no fundo, a capitalizar esse ciclo de nostalgia. Pode-se debater que percentagem disso é oportunismo e que percentagem é genuína paixão por este estilo musical. Eu pelo menos acho que não havia necessidade de o homem se colar a todos estes artistas, como o “feat Travis Barker” no título de cada música. 

 

Há quem acuse este movimento de alguma falta de carácter, alguma falta de originalidade. Mesmo sem acompanhar essa onda de muito perto, tenho um par de exemplos desse problema. Olivia Rodrigo, para começar, não é uma das artistas patrocinadas por Travis Barker, mas também ela trouxe o pop punk de volta ao mainstream com a música good 4 u. Desde o início, as pessoas assinalaram as semelhanças com Misery Business, o êxito dos Paramore. Até que, há poucos meses, Olivia acabou por incluir Hayley Williams e Josh Farro nos créditos da música, o que deu polémica.

 

Pessoalmente, não acho good 4 you assim tão parecida com Misery Business. Um bocadinho no refrão, talvez, mas combina com elementos mais modernos, parecidos à música contemporânea. Para acusações de plágio já vi exemplos piores. 

 

Depois, temos grow de Willow – esta sim, um dos artistas apadrinhados por Travis Barker. Avril canta uma parte da música. O tema até é agradável ao ouvido, mas é uma mistura estranha de All the Small Things com música das estrelinhas do Disney Channel, nos anos 2000.

 

Não se pode ser demasiado duro com Olivia e Willow pela falta de originalidade. São miúdas novinhas, que ainda estarão a desenvolver o seu estilo pessoal, a descobrir a sua identidade. 

 

 

Depois, temos Machine Gun Kelly. Já falámos dele antes, de passagem – quando participou no concerto de homenagem a Chester Bennington e quando colaborou com Mike Shinoda em Lift Off. Nessa altura, ele era rapper, mas há um par de anos desistiu do rap/hip-hop e decidiu aventurar-se no pop punk, com o álbum Tickets to my Downfall. Ora, eu não teria problemas com isso… só que o tipo parece ser um estafermo. 

 

Segundo consta, o motivo pelo qual MGK trocou de géneros musicais foi por ter entrado em rota de colisão com Eminem. Mas aparentemente não aprendeu nada, pois quando veio para o pop punk arranjou logo picardias. A mais recente foi com Corey Taylor, dos Slipknot. As pessoas já começaram a virar-se contra ele – há um par de meses, MGK foi assobiado durante um festival qualquer. Não contente com isso, o tipo chegou a vias de facto com pessoas da audiência. 

 

Avril referiu MGK como uma das pessoas com quem ela colaborou no seu sétimo álbum, o que não me agrada. Não pelas suas qualidades musicais, mas pela personalidade dele. Preferia que Avril não se associasse a um tipo como este. O que vale é que ela tem juízo suficiente para não se envolver nas encrencas de MGK. 

 

Por outro lado, Avril está a namorar com Mod Sun, com quem colaborou no seu álbum – e no álbum dele, Internet killed the rockstar. Este também tem um passado como rapper, mas parece-me ser um tipo decente, mais decente que MGK. Parece gostar genuinamente de Avril – e tem um Husky muito giro. 

 

No início do ano lançaram um dueto, Flames – que tem vindo a subir na minha consideração, ligeiramente. O instrumental é diferente, é giro – alternando momentos mais calmos, ao piano, com momentos mais intensos e pesados. Só acho o refrão algo repetitivo. 

 

Além disso, eles perderam uma oportunidade ao não terem tentado fazer uma ligação com Bridgerton na promoção da música.

 

 

A minha opinião sobre a participação de Avril neste movimento tem oscilado entre contra e a favor. Existe uma parte que parece um bocadinho forçada: a transição da era Head Above Water para esta nova foi muito repentina. Mesmo aspetos como aquele Tik Tok com Sk8er Boi me parecem exploração descarada da nostalgia – algo que ela já tinha feito com Here’s to Never Growing Up (como assim já lá vão mais de oito anos?!). E pergunto-me se a sua associação com Travis Barker e companhia não será uma extensão disso. 

 

Talvez seja um bocadinho. Por outro lado, Avril está longe de ser a única artista musical, sobretudo feminina, em constante reinvenção. Taylor Swift comentou há uns tempos que ela e as suas contemporâneas são obrigadas a fazê-lo, mais do que os seus homólogos masculinos. Para manterem o público interessado nelas. 

 

Não que seja uma coisa má, na minha opinião. Aposto que muitos artistas, de qualquer género, não gostam de estar sempre a fazer o mesmo, gostam de mostrar diferentes facetas. Como Fernando Pessoa e os seus heterónimos. Avril por exemplo é conhecida mais pelo pop rock, mas já brincou com vários estilos musicais.

 

Ela ia regressar a este estilo, mais cedo ou mais tarde. O seu modus operandi tem sido sempre alternar álbuns mais leves e alegres com álbuns mais sérios e pausados. Já em 2019, em plena era Head Above Water, Avril dizia que o sucessor teria mais guitarra e bateria. E assim o fez, oportunismo ou não. Penso que não corremos o risco de o material novo dela ser demasiado derivativo – ela está há mais de vinte anos nisto, não terá dificuldades em dar carácter próprio à música.

 

O que nos leva a Bite Me. É mais ou menos o que se esperava – penso que todos concordamos com isto. Um tema pop punk que, não sendo particularmente original, não é nada que esteja demasiado batido. Mesmo dentro do microcosmos da discografia de Avil, é suficientemente distinto do que ela fez antes. 

 

 

Gosto imenso do instrumental nas estâncias e no pré-refrão. Também gosto da mudança da velocidade a meio do refrão. E a voz de Avril soa impecável, como sempre. 

 

A letra é Avril sendo Avril, os tropos do costume: um ex-namorado que se arrepende de a ter deixado, mas ela agora manda-o passear. Uma vez mais, não é nada por aí além, mas ela tem letras piores.

 

Em suma, gosto de Bite Me. Talvez estivesse com a fasquia demasiado baixa, depois das desilusões que apanhei com os trabalhos mais recentes da Avril. Mas, ao contrário da maioria de Head Above Water, Bite Me sabe exatamente quem é, o que vem fazer e fá-lo com eficácia. 

 

Ao que parece, o resto do álbum deverá ser neste estilo. Avril chegou a dizer que não haveria uma única balada no disco – o que seria inédito na discografia dela. Mas entretanto mudou de ideias e incluiu uma. 

 

Eu fico contente. 

 

Em termos de temáticas, Avril disse que, no início dos trabalhos, estava numa fase de desgaste em relação ao amor. Não surpreende: mesmo sem estar a par dos mexericos dos últimos anos, estamos a falar de uma mulher com dois divórcios. Ninguém poderá censurá-la pelo cinismo. Uma das primeiras músicas compostas para este álbum chama-se mesmo Love Sux. 

 

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No entanto, quando Mod Sun colaborou com ela, Avril apaixonou-se e começou uma relação com ele. Ou seja, a sua atitude em relação ao amor mudou – o que se deverá refletir no álbum. Outro título avançado por Avril é Kiss Me Like the World is Ending (o que faz sentido em tempos de pandemia). A balada do álbum – aposto que será a faixa de encerramento – chama-se Dare to Love Me, precisamente sobre abrir-se de novo ao amor. 

 

Tudo isto me parece bem. Está longe de ser um tema inédito – veja-se Petals For Armor, de Hayley Williams. Duvido que Avril faça melhor. Mas ao menos sempre dará alguma profundidade a um álbum que, Avril já o confirmou, será bastante descontraído – com The Best Damn Thing nem se preocupou com isso, tirando as baladas e pouco mais. 

 

Nesta fase, não estou à espera que Avril se ponha a re-inventar a roda ou a ser particularmente introspetiva. Nem sequer quero – quando tentou fazê-lo com Head Above Water não resultou, perdeu-se em clichés. Nestas circunstâncias, mais vale manter-se na sua zona de conforto. Além disso, como tenho vindo a referir, nesta altura não quero música demasiado triste.

 

Estou assim cuidadosamente otimista em relação a este novo álbum. Não deverá ser nada que mude as nossas vidas, mas sei que vou gostar de pelo menos uma mão-cheia de canções. E aposto que haverá pelo menos uma que me tocará de maneira especial. 

 

Ainda não sabemos o nome do álbum, nem a tracklist, nem a data de lançamento. Há poucos dias ela anunciou datas no Canadá sob o nome “Bite Me Tour”. Será esse o nome do trabalho? Espero que não, é pouco imaginativo. Avril disse que lançará um segundo single em janeiro. Talvez divulgue o resto dos pormenores nessa altura. O álbum em si deverá sair “no início do ano”, o que quer que isso signifique (com o histórico dela, lá para abril ou maio, isto se tivermos sorte!). 

 

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Entretanto, a digressão europeia foi remarcada, pela segunda vez, para a primavera do próximo ano. A tal que devia ter decorrido em 2020. Como já escrevi antes, tenho bilhetes para o concerto de Zurique. 

 

A ver se é desta. É mais de metade da minha vida à espera. 

 

E pronto, para já é tudo. Acabei por falar muito pouco de Bite Me em si, mas não faz mal. Estes textos de Músicas Não Tão Ao Calhas sobre primeiros singles têm funcionado mais como prequelas às análises dos respectivos álbuns. E pareceu-me importante refletir sobre o histórico de Avril com este género musical antes de me debruçar sobre a música em si. 

 

Como sempre, obrigada pela vossa visita. Continuem desse lado que o próximo texto não deverá demorar muito.

Músicas Ao Calhas – I Want What I Want e Break It So Good

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Hoje trago de volta uma personagem recorrente no cânone deste blogue e mesmo das Músicas Ao Calhas. Nem sequer é a primeira vez que escrevo sobre B-sides do álbum mais recente de Avril Lavigne. Ao contrário de Bright, que saiu mais de um ano depois de Head Above Water – na altura certa, como escrevi na altura – as músicas sobre as quais vou escrever neste texto surgiram na Internet no mesmo dia em que o álbum foi editado oficialmente. Não foram as únicas mas, como já tinha referido antes, foram as únicas de que gostei. Falo de I Want What I Want, um cover de Lauren Christy, e Break it So Good. 

 

Lauren é, aliás, o denominador comum a estas duas músicas: foi ela que cantou o original da primeira e contribui com vocais para a segunda. Qualquer fã razoavelmente bem informado de Avril saberá que Lauren fazia parte do The Matrix – a equipa por detrás da co-composição de uma grande parte do Let Go, nomeadamente o triunvirato Complicated, Sk8er Boi e I’m With You. Anos mais tarde, Lauren tornaria a colaborar com Avril durante os trabalhos de Head Above Water. 

 

Antes de fazer parte do The Matrix, no entanto, Lauren teve uma relativamente curta carreira a solo. I Want What I Want faz parte de Breed, o seu segundo álbum – e o último antes de desistir da carreira a solo e formar o The Matrix. 

 

A versão original tem aquele som pop rock dos anos 90, início dos anos 2000 que eu sempre adorei. Sinto mesmo que é o meu género musical primordial, sobretudo quando cantado no feminino. Além disso, as semelhanças com as músicas de Let Go são evidentes.

 

Desse modo, ouvir Avril cantando I Want What I Want bate certo. A versão da canadiana tem uma roupagem mais moderna, melhor que a original, na minha opinião. Eu ainda assim gostava que fosse menos eletrónica – mas lá está, é apenas uma demo. Se fosse para ser lançada oficialmente, a qualidade seria melhor.

 

 

Também gosto mais da interpretação de Avril – e nem sequer falo apenas da interpretação vocal. Gosto mais das vozes de apoio na versão de Avril, em particular os “and I want, and I want, and I want” no refrão. Para além disso, Avril alterou a terceira parte da música – para melhor, na minha opinião.

 

Entretanto, enquanto escrevia este texto, descobri uma outra versão de I Want What I Want, cantada por Tata Young, uma cantora tailandesa. Esta é mais parecida com o original – é como se tivessem aplicado um filtro pop na versão de Lauren. Continuo a gostar mais da versão de Avril, mas esta não é má. Tata tem uma voz bonita.

 

Ora, Break it So Good é uma música bastante diferente. Esta também é uma demo, ainda menos polida que I Want What I Want. Tem um instrumental minimalista e algo sombrio, apenas piano (?), batida e sintetizadores. É como se fosse uma Give You What You Like mais eletrónica. 

 

Um pormenor estranho é o facto de Avril só cantar o refrão. Lauren canta as estâncias, com algum auto-tune (para a sua voz soar mais parecida com a de Avril?). É possível que esta canção tenha sido composta e gravada numa fase má da Doença de Lyme. Avril poderá ter conseguido gravar o refrão, mas depois pode não se ter sentido suficientemente bem para cantar as estâncias, logo, Lauren tomou o lugar dela. Se quisessem incluí-la em Head Above Water, gravariam uma nova versão, cantada a solo por Avril. 

 

De qualquer forma, a verdade é que, na minha opinião, esta produção minimalista, imperfeita, resulta. Break it So Good ficou com um tom intimista, sombrio e estranhamente sexy. Para lançarem oficialmente esta música teriam de manter o instrumental mais ou menos assim. 

 

 

Por outro lado, o carácter também vem da letra, uma das partes mais interessantes de Break it So Good. Esta aborda uma relação que já se percebeu que não vai durar. No entanto, a narradora está disposta a aceitar o antigo amante (assumindo que se trata de um homem), não porque acredite na relação, mas porque se quer vingar dele (“Imma break your heart but I’ll break it so good/(...)/Do to you what you do to me”). 

 

É bem possível que estejamos a falar da mesma relação abordada em I Fell In Love with the Devil e sobretudo Tell Me It’s Over. Compare-se os versos desta última – “you come and you leave” – com os de Break it So Good – “maybe I’ll come and go, a taste of your own medicine”. Um amante que brinca com os sentimentos dela, que lhe vira as costas, mas que volta e meia diz que quer regressar para ela (“Come and whisper you miss me”, “you say you still adore me, you’re still kind of a mess”). Ao contrário de Devil e Tell Me It’s Over, a narradora não se limita ao papel de vítima, quer derrotar o amante no jogo dele. 

 

Segundo a minha teoria, Avril não incluiu Break it So Good em Head Above Water porque esta canção não se encaixa na narrativa de I Fell In Love With the Devil e Tell Me It’s Over. Sobretudo na altura em que andava a promover a primeira, Avril tentou vender-se como a vítima de uma relação tóxica, tendo tido de ganhar forças para sair dela (ainda que nenhuma dessas músicas sustentem bem esta última parte. Só esticando muito.)

 

Break it So Good, por seu lado, é uma resposta menos politicamente correta, mesmo menos moralmente correta, a uma relação tóxica. Uma resposta de que Avril talvez não se orgulhe, que talvez lhe tenha saído pela culatra se de facto a tentou. Mas não deixaria de ser uma resposta humana, uma perspetiva mais única, provando que Avril também não fora propriamente uma santinha na relação. 

 

Acaba por ser este o meu problema com Avril nos últimos anos. A partir de certa altura deixou de parecer genuína, esconde-se atrás de clichés e superficialidades. Em retrospetiva, uma parte de mim acha que ela se aproveitou da “moda” do feminismo e das relações tóxicas para promover I Fell In Love With the Devil, Tell Me It’s Over e Dumb Blonde. Da mesma forma, nos últimos meses parece estar a aproveitar-se da nostalgia pelo pop punk dos anos 2000 – juntamente com Mod Sun, Machine Gun Kelly e Travis Barker – para se tornar relevante de novo, preparando o lançamento do seu sétimo álbum.

 

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Quando é que eu me tornei tão cínica em relação à minha cantora preferida?

 

Já que falamos nisso… sim, Avril terá um álbum pronto a ser editado, radicalmente diferente de Head Above Water e mesmo das músicas de que falámos aqui. Mesmo à moda dela, a mulher anda a acenar-nos com este lançamento desde finais do ano passado e, até agora, nada. 

 

Para ser sincera, as minhas expectativas estão em mínimos históricos para este álbum. Não tenho pressa em ouvi-lo. Preocupa-me mais a digressão europeia, adiada desde o início da pandemia. A equipa de Avril se calhar está à espera deste novo ciclo de álbum antes de confirmar as datas. 

 

A ser verdade, é melhor esperarmos sentados.

 

Numa nota menos cética… não deixará de ser um álbum da Avril. Terá quase de certeza pelo menos uma mão-cheia de músicas de que gostarei, mesmo que não adore todas. 

 

Para já, por estes dias já só penso em ouvir Solar Power, o álbum novo de Lorde. Sai já esta sexta-feira. A sua análise deverá ser o próximo texto deste blogue. Noutras notícias musicais do meu nicho, Bryan Adams deverá lançar um single em outubro – na altura decido se escrevo sobre ele. 

 

Entretanto, já comecei a rever e a anotar Digimon Frontier, desta feita dobrado em português. Neste momento vou para o episódio 14. Dentro de algumas semanas já devo estar pronta para escrever sobre essa temporada.


É mais ou menos este o plano para os próximos tempos. Obrigada pela vossa visita, como o costume. Visitem a página de Facebook deste blogue.

Petals For Armor: Self-Serenades e Música 2020

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No passado dia 18 de dezembro, Hayley Williams lançou o EP Petals For Armor: Self-Serenades. Segundo declarações da própria, este EP reflete, pelo menos em parte, os largos meses que Hayley passou em casa, com apenas a sua guitarra por companhia – bem, a sua guitarra e o seu cãozinho, Alf. O EP consiste em versões acústicas de Simmer e Why We Ever – originalmente lançadas no álbum Petals For Armor – e uma única faixa inédita, Find Me Here…

 

...e, aqui entre nós, soube-me a pouco. 

 

Find Me Here é uma faixa com menos de dois minutos de duração, que mais parece um interlúdio (semelhante aos do Self-Titled) do que uma canção a sério. Admito que eu estava com expectativas muito altas. O EP foi anunciado há cerca de dois meses e, desde então, criei um hype exagerado em torno de Find Me Here – ainda que apenas para mim mesma. Andava há semanas a planear a minha escrita já a contar com a análise a essa canção. 

 

Assim, quando ouvi a música pela primeira vez, a minha primeira reação foi:

 

– …só isto?

 

Mesmo deixando de lado as minhas expectativas defraudadas, continuo a achar a canção curta demais. Sobretudo porque o minuto e cinquenta segundos, mais coisa menos coisa, de Find Me Here é lindo! Eu queria mais! 

 

 

Find Me Here é um pequeno número acústico, só mesmo guitarra e voz. Não é difícil imaginar Hayley tocando isto sentada no seu jardim com a sua guitarra. Gosto dos vocais – não percebo se são um efeito qualquer que fizeram à voz de Hayley, ou se temos duas faixas de vocal, uma mais grave do que a outra. Em todo o caso, ficou bem.

 

A música e, por conseguinte, a letra são curtas mas passam a mensagem de forma eficaz. Quando uma pessoa passa por um mau bocado, ou lida com uma crise, regra geral, é importante ter um ente querido por perto, por motivos óbvios. No entanto, existem certos problemas, certas crises, que uma pessoa tem de resolver sozinha. Pessoas amadas não podem ajudar, podem até ser prejudiciais ao processo.

 

É sobre isso que Find Me Here fala. A narradora vai dar espaço ao ser amado para resolver o que tiver a resolver, mas vai deixar uma porta aberta para quando o ente querido voltar. Se quiser.

 

É demasiado curta, podia ter tido uma segunda estância, mas é uma canção bonita. Ficaria bem como encerramento de um álbum. Estará a encerrar a era Petals For Armor? Ou apenas 2020? 

 

Umas palavras para as versões acústicas de Simmer e Why We Ever. Nenhuma delas está ao nível das versões do álbum, a meu ver – a força das canções parte muito da instrumentação e, no caso de Simmer, daquela hipnótica interpretação vocal.

 

Ainda assim, gosto da Simmer acústica, ainda que não tanto como da versão original. Este arranjo dá um carácter completamente diferente à música. O refrão fala sobre o dilema entre raiva e piedade – a versão acústica parece adotar a piedade, enquanto a versão do álbum se inclina mais para a ira. 

 

 

A versão acústica de Why We Ever, no entanto, não me diz muito. Não foi só a instrumentação a mudar, a melodia também sofreu alterações, ficando irreconhecível. Não gosto muito do resultado final.

 

Na verdade, noutras circunstâncias, nem teria escrito sobre este EP. No entanto, como o final do ano se aproxima a passos largos, quero aproveitar a boleia e fazer a minha costumeira retrospetiva musical.

 

2020 não foi um mau ano em termos de música, mas a pandemia mudou muita coisa. Antes os artistas e bandas lançavam álbuns depois de semanas de singles e hype – ou então lançavam-nos de surpresa, de um dia para o outro. Depois do lançamento, continuavam a lançar singles, atuavam nas televisões e, ao fim de algum tempo, partiam em digressão. 

 

Com o Coronavírus, no entanto, parece que os ciclos terminam abruptamente com o lançamento do álbum. Não é possível dar concertos e mesmo videoclipes e apresentações das músicas são arriscadas. Aconteceu com Petals For Armor, aconteceu com o aniversário de Hybrid Theory – várias entrevistas nas semanas anteriores, grande excitação, grande antecipação. Mas depois de o álbum sair, parou tudo. No caso de Petals For Armor, só agora há pouco tempo – talvez por causa do Self Serenades – é que tivemos coisas como a sessão do Tiny Desk. 

 

Tem sido frustrante, sim. Mas continuamos a ter o que mais importa: a música em si.

 

Nesse aspeto, 2020 para mim pertenceu a Hayley Williams. O ano musical começou e terminou com ela. Abriu com o lançamento de Simmer, em janeiro, encerrou-se agora com o Self Serenades. 

 

 

Custa a acreditar que foi ainda este ano que ouvimos Simmer pela primeira vez, que saiu a primeira parte de Petals For Armor. Adorei escrever o texto sobre Simmer e Leave it Alone, bem como a análise ao álbum completo, mais tarde. Quer a solo quer com os Paramore, a música que Hayley compôs tem esta capacidade, praticamente única, de me levar à introspeção – o que é excelente para a escrita. Nos primeiros meses da pandemia, com o confinamento e o cancelamento de quase tudo o que dava alegria às nossas vidas, o lançamento pouco convencional da segunda parte de Petals For Armor foi um excelente consolo. 

 

Para o melhor e para o pior, este álbum ficará para sempre associado ao Coronavírus – não sei se teria conseguido manter a sanidade sem ele, sobretudo nos primeiros meses. Talvez tivesse sido sempre esse o desígnio. Em todo o caso,  com tanta música extraordinária – Simmer, Cinnamon, Sudden Desire, Dead Horse, Over Yet, Roses/Violet/Lotus/Iris, Pure Love, Sugar on the Rim, Crystal Clear… – deu para provar que Hayley é excelente, quer numa banda, quer em nome próprio.

 

2020 também ficou marcado pelos Linkin Park – pela análise a One More Light em maio, mas sobretudo pelo vigésimo aniversário de Hybrid Theory. Esse foi outro texto que me entreteve durante meses, com pesquisas e rascunhos que me levaram aos primórdios dos Linkin Park enquanto banda. Serviu para fazer uma renovação de votos, para cimentá-los como a minha banda preferida, a par dos Paramore – mesmo que o futuro deles continue incerto.

 

O nome mais surpreendente no meu ano musical é Taylor Swift. Surpreendente é como quem diz… como escrevi antes, era apenas uma questão de tempo. 

 

Ainda assim, Taylor foi um pouco mais prevalente nas minhas audições este ano. Tive fases de obsessão com diferentes músicas dela. Perto do início do ano era Red – por ter um bocadinho a ver com um texto que escrevi no meu outro blogue. Durante um par de semanas em julho foi All Too Well, quando escrevi sobre ela. Na semana seguinte foi Cornelia Street. Na semana seguinte foi Call it What You Want. Entre outras. 

 

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Pelo meio, Taylor lançou folklore. Concordo com a opinião popular – este álbum é uma obra-prima. Eu ainda estava – ainda estou – a digeri-lo quando saiu evermore.

 

Se esta pandemia trouxe alguma coisa de bom às nossas vidas foram estes dois álbuns. Acho que ninguém discorda.

 

Ainda não processei estes álbuns por completo, sobretudo o evermore. Taylor continuará, por isso, a ser relevante para mim em 2021. Não tenciono analisar álbuns inteiros aqui no blogue, pelo menos não por enquanto. Sou ainda uma fã demasiado casual – existe muita gente por aí melhor habilitada do que eu para criar conteúdo sobre Taylor. 

 

Mas posso escrever mais textos de Músicas Ao Calhas, se me apetecer. Já tenho uma segunda canção de Taylor que tenciono analisar, mais cedo ou mais tarde.

 

Tenho também ouvido Billie Eilish, tal como já fizera no ano anterior. A minha irmã também gosta da música dela, o que é sempre fixe. Gosto imenso de Ocean Eyes, mas se tivesse de escolher neste momento, diria que a minha preferida é Everything I Wanted – é a sua Leave Out All the Rest. Uma vez mais, ainda sou uma fã muito casual – por agora. 

 

 

 

Deixo aqui a playlist com as músicas que mais ouvi no Spotify. Se bem que o tenha usado menos que o costume este ano – só nos primeiros dois ou três meses do ano e agora, nas últimas semanas, aproveitando a promoção de três meses pelo preço de um. E aparentemente o mês de dezembro não entra para estas contas. Não é a primeira vez que digo que o Spotify não é a minha única fonte de música – oiço CDs no meu carro e ficheiros mp3 no meu telemóvel.

 

A verdade é que nem todas as músicas que me ajudaram a sobreviver a 2020 estão no Spotify. Bright não está, o cover de Crawling, dos Bad Wolves, não está e, tal como me queixo há anos, a música de Digimon não está. 

 

Mesmo não tendo escrito sobre Digimon aqui no blogue este ano, mesmo não tendo havido encontro no Odaiba Memorial Day, a música de Digimon volta a ocupar um lugar de destaque na minha retrospetiva musical, sobretudo durante o verão. Vi Frontier pela primeira – e até agora única – vez e acrescentei vários temas às minhas listas (em 2021 irei ver a dobragem portuguesa, já tomando notas para analisá-la no blogue). No que toca a Adventure 2020, até agora, só este tema foi digno de se juntar à lista. 

 

Na verdade, nas últimas semanas deixei de ter vontade de ouvir música de Digimon. Um dia destes explico.

 

E foi isto 2020 em termos de música para mim. Foi um ano da desgraça em muitos aspetos, mas, como acabámos de ver, não foi assim tão mau em termos musicais. Tirando a parte dos concertos cancelados.

 

Aliás, tive a sorte de ir a um concerto há pouco tempo – o concerto acústico do Rui Veloso no Campo Pequeno. Não foi exatamente a experiência completa de um concerto, tal como gosto. Nunca fui que andar ao moche, mas confesso que sempre gostei da parte mais “suja” de música ao vivo: de suar por todos os poros, de estar rodeada de gente a suar por todos os poros, de ter de me sentar no chão, de ficar com a garganta crua de tanto cantar e gritar, de ficar com dores por todo o lado durante dias, de precisar de tomar um duche ao chegar a casa. 

 

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Em comparação, o concerto do Rui Veloso foi muito certinho, muito sossegado. Estávamos todos sentados, todos de máscara. Não podia ser de outra maneira, claro. O mais radical que aconteceu foi as nossas máscaras terem ficado inutilizadas depois de termos cantado o Anel de Rubi em coro.

 

Soube-me bem à mesma. Serviu para matar o bichinho, para estar de novo em sintonia com uma multidão, passados estes meses todos (que mais parecem anos).

 

Já que falo sobre isso, o concerto de Avril Lavigne em Zurique tinha sido remarcado para fevereiro de 2021, mas vai ser adiado outra vez – bem como o resto da digressão. Triste, mas já se calculava. Há quem diga que só se realizarão em 2022.

 

Se algum dia conseguir ver a mulher ao vivo até vou achar que é mentira.

 

Entretanto, Avril tem passado as últimas semanas em estúdio. Anunciou música nova para janeiro de 2021, até andei algo entusiasmada por uns dias – dez anos depois de What the Hell no dia de Ano Novo e toda a espera por Goodbye Lullaby… Depois de um ano como 2020 saberia bem.

 

Mas não, será um dueto com Mod Sun (não sei quem é…) para o álbum dele. Bem, era bom demais. Não sei ainda se escrevo sobre Flames (o nome da música) quando sair – logo decido. 

 

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Em todo o caso, é possível que Avril esteja já a preparar o seu próximo álbum. Pode ser que saia já em 2021 mas, conhecendo eu os ritmos dela, o mais certo é só sair daqui a dois anos. Cepticismo à parte, talvez ela queira esperar até ao fim da pandemia, para poder ir em digressão depois de editar o álbum.

 

Eu pelo menos não estou com grande pressa. Em primeiro porque Head Above Water só saiu há dois anos (embora pareça mais). Em segundo porque, depois desse álbum, estou com menos entusiasmo do que o costume. 

 

Talvez não seja má ideia ter as expectativas baixas.

 

No que toca a Lorde, no entanto, ninguém tem expectativas baixas. O terceiro álbum da neozelandesa tem estado no formo há algum tempo e quer-me parecer que será em 2021 que este será, finalmente, editado. Há cerca de um mês, Ella escreveu um texto sobre uma viagem que fez à Antártica em inícios de 2019, que alegadamente inspirou-a para voltar ao estúdio depois de Melodrama.

 

A viagem ocorreu há quase dois anos e agora é que Lorde fala dela? Não deve ser coincidência. Aposto que será uma questão de meses.

 

Não gostava de estar no lugar de Ella, para ser sincera. Ter de compôr um álbum digno de suceder a Pure Heroine e Melodrama? Eu entrava em parafuso. 

 

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Talvez devêssemos todos baixar um bocadinho as expectativas, não sermos demasiado duros se este terceiro álbum não conseguir chegar ao nível dos antecessores. Parecendo que não, Lorde é humana. 

 

Dito isto… não se admirem se Ella conseguir arrebatar-nos de novo com o seu terceiro álbum. Se existe artista capaz de um hat-trick, essa é Lorde.

 

Não me parece que hajam mais artistas do meu nicho preparando-se para lançar música em 2021, pelo menos que eu saiba. Ainda assim, da maneira como as coisas estão, tudo pode acontecer. Logo se vê.

 

E era isto que tinha para dizer. Que as vacinas funcionem e que possamos voltar em breve a jantaradas com amigos e família, a viajar sem restrições, a concertos com moche, a jogos de futebol, a Raids presenciais, a encontros no Odaiba Memorial Day. Boas entradas num ano melhor do que este. Vemo-nos em 2021!

 

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