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Álbum de Testamentos

"Como é possível alguém ter tanta palavra?" – Ivo dos Hybrid Theory PT

Sobre a época natalícia

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Uma das coisas boas de me ter juntado à plataforma SAPO é ter ficado com uma maior noção dos assuntos discutidos na blogosfera, o que me fornece inspiração para abordar assuntos diferentes do habitual, impedindo-me de ficar demasiado refém do costumeiro.

 

Um dos temas populares do momento é o Natal. Aqui as opiniões costumam ser bastante polarizadas - há quem adore e quem odeie, com a maioria a associar-se ao primeiro caso. Eu não me identifico com nenhuma destas posições. O Natal tem coisas de que gosto e coisas de que não gosto mas, na maior parte do tempo, é-me bastante indiferente.

 

Já gostei mais do Natal. Muitas boas recordações de infância encontram-se, naturalmente, ligadas a esta quadra, à espera do Pai Natal. Nunca ninguém se vestiu de Pai Natal para mim ou para os meus irmãos, mas lembro-me de um ano em que passámos a Consoada em casa dos nossos tios. Perto da hora, mandaram-nos, convenientemente, à arrecadação - já não me lembro do motivo - que ficava nos pisos subterrâneos e, quando estávamos a subir as escadas no regresso, o meu pai soltou um perfeito "Ho ho ho!" que nos fez correr pela escadas acima, atrás das prendas. Alguns anos mais tarde, foi a minha vez de me divertir contando histórias do Pai Natal à minha irmã mais nova.  

 

Outra tradição de Natal da minha infância diz respeito às festas escolares. Para os meus pais eram uma seca descomunhal - com a agravante de, muitas vezes, serem obrigados a arranjar as fatiotas que a professora pedia - e mesmo eu, que participei em muitas, não acho que as minhas atuaçõezinhas tenham tido assim tanta piada. No entanto, gostei de ver o meu irmão fazendo de Charlot, uma vez, e de ver a minha irmã fazendo de costureira desonesta n'O Rei Vai Nu. Por outro lado, guardo boas recordações da festa do meu sétimo ano. Desta feita, os papás não foram convidados e as atuações consistiam apenas em canções de Natal, geralmente em inglês ou francês. A festa estava algo morna até chegar a vez da minha turma cantar. Nós interpretámos Le petit renne au nez rouge - a canção do Rudolfo, a rena. Como poderão ouvir no vídeo abaixo, é uma canção muito gira e nós cantámo-la com entusiasmo. Fomos de longe os mais aplaudidos da festa.

 

 

À medida que os anos foram passando, o interesse pelo Natal foi arrefecendo. A publicidade excessiva começou a irritar-me. Ganhei um ódio à Popopa - embora, nestes últimos dois anos, se tenha tornado tolerável. Houve um ano em particular, quando eu lia bastante Harry Potter e dava os meus primeiros na ficção, em que um anúncio de uma cadeia de hipermercados qualquer invocava valores como alegria, coragem, amizade, sonhos, o que me enojou profundamente - como se o consumismo tivesse alguma coisa a ver com amizade ou coragem. No entanto, nunca ganhei verdadeiro ódio ao Natal em si, por vários motivos - um dois quais, porque dá demasiado trabalho ser-se abertamente anti o que quer que seja. 

 

Aquilo de que gosto mais em relação ao Natal é servir de desculpa para reunir a família, ver parentes com quem, muitas vezes, só consigo estar algumas vezes por ano. A melhor parte do Natal é o jantar de anos da minha avó materna, no dia 23 de dezembro. Reúne a família toda do lado dela, o que inclui seis netos e três bisnetos. À parte isso, e as recordações de infância, gosto de algumas canções de Natal (incluídas nos vídeos desta entrada), das árvores de Natal enfeitadas pela minha mãe, do seu bacalhau com natas (que ela começou a confecionar em protesto contra o bacalhau cozido com todos, de que não gostava), de ver as luzes na Baixa, disto e pouco mais. 

 

 

A questão dos presentes não é um aspeto que me diga muito. Não vou dizer que seja cem por cento não materialista mas, exceto quando era pequena e mesmo assim, nunca fui pessoa de pedir muitos presentes. Segundo os meus pais, o meu problema não era pedir muitas coisas, era pedir coisas difíceis de encontrar. Também reconheço que cresci desafogadamente e, quando queria algo, quer fosse Natal ou não, raramente mo era negado - daí que hoje não dê tanto valor a presentes. E ainda que tenha usado muito várias coisas, sobretudo livros e filmes, tive muitos brinquedos que apenas usei uma ou duas vezes. Em suma, recebi coisas a mais, coisas de que, mais de metade das vezes, não me fariam falta.

 

Hoje em dia, não gosto de receber presentes só por receber, tal como não gosto de comprar coisas só por comprar - é pouco provável que me vicie em compras. Nas raras ocasiões em que há algo que queira mesmo - um CD, um livro, uma peça de roupa - compro-a eu mesmo ou, se estiver com os meus pais na loja em questão, peço-lhes para comprar. No entanto, uma maneira de acertar sempre comigo é oferecendo-me cadernos bonitinhos, que são sempre apreciados e... muito utilizados. De qualquer forma, a imagem seguinte descreve de forma excelente o que tenho vindo a sentir:

 

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Por outro lado, visto que ainda não trabalho, não tenho a obrigação de comprar presentes para muita gente. Só os compro para os meus pais ou para os meus irmãos - e mesmo assim nem sempre - ou para os meus primos pequenos. É fácil com os meus familiares próximos pois conheço-os bem, sei do que gostam. No caso dos meus primos, também é fácil pois são crianças. Não é difícil agradar a miúdos, a menos que os presentes sejam roupa - e mesmo nesses casos, pelo menos os pais ficam satisfeitos. Mais stressante será comprar coisas para pessoas que conhecemos mal. Afinal de contas, os presentes revelam o quanto (não) conhecemos sobre os visados. Uma das poucas vantagens da crise é tornar aceitável não oferecer paresentes a essas pessoas.

 

 

Em relação à vertente religiosa, também não tenho muito a dizer. Como muitos portugueses, incluo-me naquele estatuto de quem é batizado e frequentou a catequese, mas agora não costuma ir à missa nem costuma rezar - exceto quando se encontra numa situação aflitiva e mesmo assim. O nascimento de Cristo não me diz muito, acho até que criou mais problemas do que aqueles que resolveu - mas não quero entrar por aí, que esse assunto daria azo a outra longa entrada. 

 

 

Sobre o chamado "espírito natalício", não necessariamente ligado à parte religiosa, também não me revejo nele. Nem sequer sei o que é, ao certo. Em que consiste o espírito natalício? Paz? Solidariedade? Bondade? Compaixão? Não deveríamos cultivar tais valores o ano todo? Ou é aceitável voltarmos a ser cínicos, desagradáveis e egoístas a partir do dia 26 de dezembro? Tem o seu quê de hipocrisia. No entanto, compreendo a necessidade de termos uma altura para pensarmos nestas coisas, tal como temos o mês de maio para pensarmos na saúde do coração, ou o dia 1 de dezembro para pensarmos na SIDA, ou o dia 8 de março para pensarmos no direito das mulheres.

 

Em suma, para mim o Natal é uma desculpa para estar com a família, para fazer as crianças felizes e pouco mais. Tal como disse antes, não sou anti-Natal, não tenho a paciência nem a convicção, mas não anseio particularmente por esta quadra. Tal como digo várias vezes nos meus blogues, o Natal está para as pessoas "normais" como acontecimentos como concertos, lançamentos de singles ou álbuns (de artistas de que gosto, evidentemente), Campeonatos Europeus ou Mundiais de futebol estão para mim. Vejo muito mais magia na primeira vez que oiço um álbum, quando vejo os meus heróis em palco ou em campo, ou num grande jogo da Seleção. São ocorrências raras, em contraste com o Natal, que vem todos os anos. Mas isto sou só eu.

 

Termino este texto com a fotografia da praxe da árvore de Natal. Na verdade, é apenas uma delas pois a minha mãe fez duas, esta é a convencional. Mais tarde, publico a outra.

 

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