O cantautor canadiano Bryan Adams lançou recentemente o primeiro single, que é também a única faixa inédita, do seu álbum de covers, Tracks of My Years. Lançou é como quem diz... a música foi estreada numa entrevista à rádio inglesa BBC mas ainda não a encontrei nem no iTunes, nem no YouTube nem em nenhum site minimamente oficial (o vídeo abaixo foi adicionado posteriormente à publicação desta entrada). Em todo o caso, o single chama-se She Knows Me e foi composto em parceria com Jim Vallance, parceiro de longa data de Bryan Adams - ajudou a lançar a sua carreira e esteve por detrás da conceção de muitos dos maiores êxitos do cantautor canadiano, em particular com o álbum Reckless, embora tenham estado zangados durante muitos anos.
"All I know without her in my life I'd be nowhere"
Para alguém minimamente familiarizado com o trabalho de Bryan, She Knows Me não traz grandes surpresas. É uma canção de amor, guiada por guitarra acústica, acompanhada por guitarras elétricas. Este arranjo particular traz-me ecos do último álbum de estúdio do cantautor canadiano, 11, sobretudo as canções I thought I'd seen everything, She's Got a Way e Miss America. Por outro lado, She Knows Me não tem aquilo que tem sido praticamente uma constante em músicas de Bryan Adams: um solo de guitarra. Contam-se pelos dedos de uma mão as músicas de que me consigo recordar em que não aparece a guitarra de Keith Scott, nem que se limitem a algumas notas - excepto aquelas que não têm versão de estúdio lançada, apenas versões ao vivo de concertos Bare Bones. Por outro lado, gosto muito da guitarra introdutória de She Knows Me.
A letra, por sua vez, possui semelhanças ainda mais gritantes com She's Got a Way, na medida em que se refere à amada, na terceira pessoa, como alguém que o conhece "melhor do que ele se conhece a si mesmo" - um tema que não é assim tão original, de resto. Não se limita a isso, felizmente, é apenas um aspeto de um relacionamento amadurecido, que tem resistido ao tempo, às dificuldades, mesmo aos momentos de separação - e é dado a entender que é mais por causa da amada do que por causa do sujeito narrativo. E apesar de toda a filosofia 18 'Til I Die do cantor, é o tipo de canção que se esperaria de alguém da idade dele.
Em suma, não sendo uma canção extraordinária, nem mesmo uma das minhas preferidas de Bryan (gostei mais de I thought I'd seen everything, por exemplo, quando esta foi lançada), ele não desilude em She Knows Me. Sinto-me um bocadinho hipócrita pois, se fosse outro cantor ou banda, criticaria mais duramente a gritante falta de originalidade e as semelhanças com outras faixas - e já cheguei a fazê-lo. Ando a usar vários pesos e várias medidas mas, tal como já disse antes, ainda não consegui definir critérios claros para estes aspetos. Com Bryan sou mais complacente pois ele tem uma carreira feita, recheada de sucessos, não tem nada a provar, pode dar-se ao luxo de fazer o que bem entender. Visto que, pelo menos no caso de She Knows Me, o fez bem, não se pode exigir mais nada.
De resto, o restante conteúdo do álbum, ou seja os covers, já devem fornecer novidade suficiente para compensar a falta dela em She Knows Me. A tracklist já saiu e inclui temas dos anos 50, 60 e 70, ou seja, que terão marcado a juventude do cantautor canadiano. Eu não conhecia nenhum dos temas, tirando Lay Lady Lay, de Bob Dylan, que estudei nas aulas de guitarra. Já tive tempo para ouvir algumas das músicas e, até agora, gostei de todas - são clássicos. Suponho que Bryan tenha tentado adaptá-las para o seu estilo soft rock. Ainda não sei muito bem como vou fazer a crítica a este álbum - talvez faça uma comparação entre cada cover e a respetiva versão original. O que dará trabalho, sobretudo porque, mais uma vez, deverá sair numa altura complicada para mim. Ainda não há data definida. O site da Amazon indica o dia 30 de setembro mas, ao que consta, o lançamento do CD físico deverá ser em datas diferentes consoante a localização. Mais uma vez, não prometo publicar a crítica logo no dia da edição, mas procurarei publicá-la assim que me for possível.
Entretanto, encontro-me já a trabalhar noutro texto, mais longo, que tentarei publicar ao longo da próxima semana.
Na entrevista em que apresentou She Knows Me, quando foi confrontado com tudo o que já tinha feito na sua carreira, Bryan confessou que, mesmo assim, não consegue parar. Quero assumir, então, que ele não tenciona reformar-se tão cedo, que continuará a lançar álbuns e a dar concertos durante mais alguns anos. Agora, com o lançamento de She Knows Me, começou um novo ciclo na sua carreira. E eu mal posso esperar pelo que vem a seguir, com destaque para o CD inédito.
Última parte da crítica a The Hunting Party, dos Linkin Park. Podem ler as três primeiras partes aqui, aqui e aqui.
"We are not satisfied
We are hungry
Hungry for the visceral
Cathartic
Inspired
Defiant
We are not heroes
Or anti-heroes
We carry only the flag
That is our own
Now is not the time
To look back and see
If anyone is following
Now is the time to
charge forward
Into the unknown"
The Hunting Party é, definitivamente, um dos álbuns mais pesados e roqueiros da banda, se não for o mais pesado. As guitarras e, sobretudo, a bateria são senhoras e rainhas pela primeira vez em muito tempo na discografia da banda, a primeira, em particular, enlouquece com frequência ao longo do álbum. Já aqui tinha referido que eles estão a tentar resgatar o rock, mas Mike, em declarações posteriores, afirmou mesmo que a mensagem de The Hunting Party vai além disso. Os Linkin Park não se limitam a ser agressivos na sonoridade, eles afirmam-se agressivos na atitude, no modo de vida, pro-ativos, carnívoros, caçadores, eles vão atrás daquilo que querem, em oposição a uma certa cultura de passividade predominante na sociedade atual. Daí o titulo The Hunting Party.
Não tenho gostado, por outro lado, da direção que algumas das declarações de Mike tomaram. Segundo ele, a banda queria fazer uma espécie de regresso à adolescência, à altura em que rejeitavam teimosamente qualquer sonoridade que passasse num anúncio publicitário ou de que os seus pais gostassem, no fundo, que fosse "mainstream". Admito que muito boa gente possa identificar-se com essa filosofia, eu no entanto acho que é infantil e mesmo, sendo eles uma banda de sucesso, hipócrita. Vou supor, por isso, que eles tenham falado disso apenas do ponto de vista de nostalgia.
Todo o conceito de resgatar o rock, mesmo dos carnívoros e caçadores, é interessante mas acaba por não se refletir diretamente nas letras das músicas, tirando o rap de Guilty All the Same, e mesmo assim. Uma incoerência sem grande importância, mas real. As temáticas são praticamente todas Linkin Park, com o tema da guerra e tudo o que com ela se relaciona a predominar - o que confere consistência ao álbum em termos de conceito. Por outro lado, The Hunting Party não repete o erro de alguns dos seus antecessores ao não incluir faixas demasiado parecidas umas com as outras, pelo menos não ao ponto de se confundirem.
Considero The Hunting Party um bom álbum, sólido, não por ser mais parecido com The Hybrid Theory e Meteora que com A Thousand Suns ou Living Things, como a maior parte dos fãs, mas sim porque, dentro do seu estilo, está bem feito. Ao contrário de muito boa gente, não acho que os três álbuns da banda tenham sido um erro, muito menos Living Things.
Devo confessar, aliás, que gosto mais de Living Things do que de The Hunting Party. Não por achar que LT é melhor, porque não é (tem, também, as suas imperfeições), é uma questão de preferência pessoal. Living Things tem um equilíbrio perfeito entre o rock e o eletrónico, entre a emoção e a agressividade, tem mais diversidade que The Hunting Party. No entanto, tudo isto não é defeito, é feitio. Os Linkin Park não queriam fazer um Living Things 2.0, queriam fazer um disco mais rock que eletrónico, agressivo, macho. E como o fizeram bem, não se pode criticar.
Por outro lado, eu fico sempre algo desconfortável quando um artista ou banda adota um estilo num trabalho novo que rompe com o estilo de discos anteriores. Dá a sensação - sobretudo em conjunto com algumas declarações aquando do lançamento dos álbuns em questão - de que estão a renegar os trabalhos anteriores. Mesmo depois de testemunhar mudanças do género em... bem, praticamente todos os cantores ou bandas que acompanho, de falar várias vezes neste assunto aqui no blogue, frequentemente contrariando-me a mim própria, ainda não decidi em que circunstâncias gosto que os artistas mantenham o estilo que os caracteriza ou se prefiro que eles procurem evoluir.
Pelo menos em relação a The Hunting Part e aos Linkin Park , não tenho nada de negativo a assinalar, tirando um pormenor ou outro. A banda fez um bom álbum, ao seu nível, não desiludiu. Não se podia exigir mais.
Não posso deixar de falar do concerto do Rock in Rio, a que assisti ao vivo e... na primeira fila. Não exatamente à frente do palco, mais à direita, um local que as câmaras não captavam mas, de qualquer forma, bem melhor do que me atrevia a sonhar - até porque só conseguimos arranjá-lo não muito antes do início da atuação dos Linkin Park. (Não vou dizer como é que conseguimos este lugar, pois tenciono voltar a usar este truque quando surgir a oportunidade) Se tivesse sabido antes, teria levado qualquer coisa, um cartaz, uma bandeira, um cachecol, qualquer coisa que pudesse oferecer-lhes atirando para o palco. Fiz questão de ficar mesmo junto à grade, pedi à minha irmã e aos amigos dela, com quem fui ao concerto, para se juntarem a mim, mas eles quiseram ficar mais atrás, alegando que se via melhor. Mais tarde arrepender-se-iam.
Quanto ao concerto em si, devo dizer que fiquei algo desiludida em alguns aspetos, começando pela setlist. Achei interessantes as misturas de músicas e as longas introduções instrumentais - um elemento que, mais tarde, predominaria no álbum novo - mas as faixas incompletas (algumas das quais das minhas preferidas) irritaram-e. De Crawling, por exemplo, só tivemos direito ao refrão.
Por outro lado, gostei da inclusão na música original do refrão de Numb/Encore.
Outro aspeto que desiludiu foi a falta de contacto com o público, em comparação com as atuações anteriores no Rock in Rio. Sobretudo agora em que eu estava na fila da frente e tudo. Depois de nas duas edições anteriores Mike ter ido ao público em In the End e daquele cachecol do F.C. Porto do concerto de 2012, o concerto deste ando foi definitivamente um desapontamento. Nesse aspeto, o concerto de há dois anos foi melhor, até porque a setlist incluia mais das faixas favoritas dos fãs.
No entanto, por muitas críticas que lhe façamos, nenhum concerto é mau quando é com um cantor ou banda de que realmente gostamos. E eu fiz por aproveitar aquele concerto ao máximo. Portei-me como uma autêntica metaleira, dando headbangs como nunca na minha vida, saltando, batendo palmas, cantando em altos berros. Fiquei de bangover durante dois ou três dias. Eles chegaram a cantar mesmo à minha frente, o Mike uma vez, o Chester três vezes (de uma das vezes meteu piada ver o Chester com um pé em cima de um caixote do lixo e um segurança segurando esse mesmo caixote...). Julgo que chegaram a olhar para mim. Na altura, fiz gestos pedindo que viessem para ao pé do público. Hoje vejo que teria sido melhor ter-lhes soprado beijos ou feito vénias. Mas quando estas coisas acontecem, não há muito tempo para pensar.
O melhor foi mesmo no final, nas despedidas, quando o Chester saltou do palco para contactar com o público do meu lado. Chegou a ir abraçar-se a uma miúda em lágrimas, mesmo na ponta da fila. Passou rapidamente pela zona onde eu estava, dando-me tempo para lhe agarrar a mão durante dois segundos, se tanto. As pulseiras dele arranharam-me os dedos. Meio minuto depois, em completo modo fangirl, gabava-me:
- Eu toquei na mão do Chester!
A minha irmã, naturalmente, ficou com vontade de me matar mas, em minha defesa, eu bem insisti que ela viesse para ao pé de mim.
Coisas de fangirl à parte, já aqui tinha falado de como tenho vindo a admirar muito Chester Bennington ao longo dos últimos anos, sobretudo tendo em conta o seu passado complicado. Hoje sinto-me grata por ele ter sobrevivido a todas essas dificuldades, tendo sido capaz de me proporcionar, juntamente com os companheiros de banda, mais uma noite inesquecível, bem como os álbuns dos Linkin Park e Dead By Sunrise.
Entretanto, Bryan Adams anunciou que se prepara para lançar ao longo dos próximos meses nada mais nada menos que três álbuns. Um de covers e uma única música inédita, intitulado Tracks of My Years, com edição prevista para o próximo mês, cuja capa é apresentada em cima (por favor, ignorem o cabelo...). O segundo álbum será uma reedição de Reckless, para comemorar os trinta anos de lançamento, com músicas extra - suponho que saia em novembro, à volta do dia 5, a data do lançamento do álbum original. Por fim, algures em 2015, lançará um disco de originais.
Não deixarei de falar desses trabalhos à medida que forem sendo editados - tenho aliás uma série de notas sobre Reckless, redigidas ainda antes de saber da edição especial, que pensava utilizar para escrever uma entrada a propósito do aniversário deste álbum. Anseio sobretudo pelo álbum de originais, o primeiro desde 11 em 2008. Durante algum tempo pensei que Bryan não tornaria a lançar um CD de músicas inéditas. Ele não precisa, não tem nada a provar, e agora dá demasiado trabalho em termos de marketing e promoção lançar álbuns de originais - e ele nunca foi adepto de entrevistas. Ele podia perfeitamente continuar em modo de celebração de carreira, lançando faixas inéditas aqui e ali, dando concertos Bare Bones ou de banda completa, e, pelo menos ao longo dos próximos anos, continuaria a arrastar multidões atrás de si sem grandes dificuldades. Mas se Bryan quer lançar um décimo-segundo álbum, eu não me queixo, até aprecio. Entre outras coisas porque, em princípio, associado a esse álbum virá um concerto em território português - mas sobre isso falarei melhor em caso de confirmação.
Estas foram as primeiras entradas após uma ausência prolongada. Queria ver se, nos próximos tempos, conseguia escrever alguns textos que ando a adiar há semanas, ou mesmo meses, mas a minha vida anda complicada, às vezes falta-me a vontade de escrever. Talvez as publicações voltem a ter alguma regularidade quando as coisas melhorarem, mas não estou em condições de prometer nada. Vou fazer por insistir na escrita, que às vezes é a única coisa que faz sentido na minha vida. Foi sempre assim. Até lá...
Continuamos a analisar o álbum dos Linkin Park, The Hunting Party. Partes anteriores aqui e aqui.
9) Mark the Graves
"There's a fragile game we play
With the ghosts of yesterday"
Esta é uma faixa que mistura bateria e guitarras pesadas com elementos menos agressivos; alterna longos instrumentais com vocais suaves, dramáticos, de Chester (e Mike?), mais uma vez quase em tom de canção de embalar, e outros mais vibrantes, em que não faltam os icónicos gritos de Chester. A melancolia é, aliás, uma característica comum às últimas canções do álbum. A letra, curta, traça um cenário pós-batalha, com ecos de I'll Be Gone e Powerless, em que predomina a destruição, o vazio, os remorsos. Mark the Graves não é das minhas preferidas de The Hunting Party, mas acho que está bem feita. Pelo menos, não tenho defeitos a apontar.
10) Drawbar
Este é outro interlúdio instrumental, mais comprido que The Summoning e, na minha opinião, melhor conseguido. Muitos têm considerado um desperdício o facto de a participação de Tom Morello, guitarrista da banda Rise Against the Machine (com cujo trabalho não estou familiarizada), ter resultado apenas num mísero interlúdio e eu compreendo esse ponto de vista. No entanto, independentemente desse aspeto, na minha opinão Drawbar é uma bela peça musical, suave, melancólica, com as notas de guitarra (de Morello?), o piano, a bateria. Na conclusão, já só com o piano, adivinham-se algumas notas de Final Masquerade. Tudo isto faz de Drawbar uma bela ponte entre Mark the Graves e o mais recente single de The Hunting Party, apesar da participação desperdiçada de Tom Morello.
11) Final Masquerade
"Shadows floating over Scars begin to fade"
Esta é a faixa de The Hunting Party que me cativou mais facilmente. Não é difícil perceber porquê: é a mais melódica de todo o álbum, sendo a melodia agradável, fluida, mesmo a pedir para ser cantada. Final Masquerade é uma balada rock, com um tema e um sentimento semelhante a Until It's Gone, mas menos eletrónica e com uma letra bem superior, mesmo não sendo nada de extraordinário. O tratamento musical é relativamente simples, mas desempenha muito bem o seu papel. Gosto particularmente do solo de guitarra desacompanhado antes do último refrão, que realça a emotividade da faixa.
Final Masquerade não traz nada de muito novo, tem até claros ecos de músicas como Powerless e I'll Be Gone, bem como das baladas de Minutes to Midnight e mesmo do side-project de Chester, Dead By Sunrise. No entanto, está tão bem feita que essa fraqueza é quase esquecida - e é uma pena que Until It's Gone não se possa gabar do mesmo. Final Masquerade dá, aliás, mais convicção à crença de que Until It's Gone devia ter sido excluída da tracklist ou, pelo menos, ter uma letra melhorzinha.
Esta faixa foi recentemente lançada como single, o que não surpreende pois a música é das mais radiofónicas do CD. Seria uma boa faixa-conclusão a The Hunting Party... se não fosse A Line in the Sand.
12) A Line int the Sand
"And when they
They told us to go
We paid them no mind
Like every other time
But little did we know..."
A Line in the Sand é a faixa mais longa de The Hunting Party. Possui um princípio, meio e fim razoavelmente bem definidos. Começa suave, com os vocais misteriosos de Mike, antes de arrancar com a bateria, as guitarras, com caros ecos de Guilty All the Same. Esta faixa tem várias semelhanças com Mark the Graves, na medida em que alterna momentos mais agressivos com momentos mais suaves, vocais variados por parte de Chester e Mike com longos instrumentais.. Gosto do rap nesta canção, em que Mike diz uma frase de cada vez, com pausas pelo meio, uma variação ao esquema habitual. Por outro lado, não gosto dos versos "Pay for what you've done" e "Give me back what's mine", cantados por Chester em screamo - parecem-me pouco originais.
Outra semelhança com Mark the Graves reside na letra, que faz uma continuação da mensagem de MTG: voltamos a cenários pós-batalha, pós-Apocalipse, falamos de consequências da guerra, da perda das ilusões, da inocência, da arrogância. A música lembra-me um pouco o terceiro livro dos Jogos da Fome na medida em que parece, também, falar da sensação de se ter sido usado, como peças num jogo de estratégia. De resto, com um bocadinho de imaginação, podemos discernir pontuais referências a outras músicas de The Hunting Party na letra de A Line in the Sand, tendo em conta sobretudo que a maioria dela fala das várias vertentes da guerra, daí que esta música seja um epílogo perfeito para este álbum.
A música acaba da mesma maneira como começou, com mágoa e mistério, encerrando The Hunting Party da forma adequada.
Estão analisadas as faixas de The Hunting Party. Alegações finais e, ainda, apontamentos sobre o concerto do Rock in Rio na última parte.
Segunda parte da crítica a The Hunting Party. Primeira parte AQUI.
5) War
"Victory decides who's wrong or right"
War é provavelmente a música mais pesada de The Hunting Party. Cantada totalmente em screamo por parte de Chester, com um ritmo alucinante proporcionado pela bateria de Rob Bourdon (não admira que este tenha tido problemas nas costas durante as gravações deste álbum...) e uma letra muito pró-bélica, é unidimensionalmente um grito de guerra sob a forma de música, com todas as vantagens e desvantagens associadas a esse carácter.
6) Wastelands
"They talk like a shotgun But how many got bred with integrity? Not one"
Aquela que se tornou o terceiro single de The Hunting Party tem um significado especial para mim, pois a primeira vez que a ouvi na íntegra foi na fila da frente do Rock in Rio. Ainda durante o concerto dos Queen of Stone Age, Joe Hahn, o DJ dos Linkin Park, andou a distribuir CDs com o single pelo público, precisamente na zona onde me encontrava. Mais tarde, como podem ver no vídeo acima, Mike atiraria uma mão-cheia de CDs para a audiência antes da primeira apresentação da música. Não consegui nenhum CD, infelizmente, mas cheguei a ver um deles e a explicar a um dos felizes contemplados que receberam um que era o novo single. Tal como seria de esperar, o single apareceu no YouTube na manhã seguinte; no entanto, gostava de ter ficado com um dos CDs por motivos sentimentais - até porque suspeito que o tipo com quem falei não valorizaria o CD tanto como eu.
De qualquer forma, já foi bom ver o Joe Hahn a passar mesmo à minha frente.
Falarei melhor sobre o Rock in Rio mais à frente, para já continuemos a análise ao álbum. Se as circunstâncias em que Wastelands foi lançada como single foram especiais, a música em si, infelizmente, não é nada de especial. Em termos de letra está bem colocada no álbum a seguir a War, na medida em que pega onde a faixa anterior parou e segue até a um cenário pós-apocalíptico. Tem a estrutura-tipo das música dos Linkin Park, com o rap de Mike e o refrão de Chester, mas poucos elementos que lhe deem carácter para além disso. O refrão, aliás, soa-me demasiado similar ao de Guilty All the Same e nem sequer tem a mesma força. No entanto, gosto do último refrão, em que a música abranda e os vocais de Chester soam mais melodiosos. Pontos também para a transição para Until It's Gone. No entanto, na minha opinião, é das menos conseguidas de The Hunting Party.
7) Until It's Gone
"'Cause finding what you got sometimes Means finding it alone"
Já tinha falado sobre o segundo single de The Hunting Party aqui. Pouco após publicar essa entrada, confesso que me senti algo hipócrita por ter criticado tão duramente a letra da música. Afinal, não se pode dizer que os Linkin Park sejam grandes poetas, se formos a ver, muitas das faixas deles têm letras fracas. No entanto, mantenho a minha opinião, pois várias das letras deles, ainda que longe de perfeitas, são suficientes para ser possível contar uma história a partir delas, ou pelo menos definir um cenário ou um sentimento. Por outro lado, em Bleed It Out estamos demasiado distraídos com a energia frenética, quase doentia, da música para nos preocuparmos com a letra.
Infelizmente, o excelente tratamento musical de Until It's Gone não chega para esquecer a letra repetitiva e cheia de clichés. Continuo a achar que bastava não repetirem até à exaustão a irritante frase-feita para Until It's Gone ser uma das melhores dos Linkin Park. Assim, mantém-se apenas mediana, o que é uma pena.
8) Rebellion
"And far away, they burn their buildings Right in the face of the damage done" Nesta faixa, participa Daron Malakian, da banda System of a Down, na guitarra. Muitos têm assinalado que Rebellion se assemelha, de facto, a uma canção dos SOAD - como não estou familiarizada com o trabalho da banda, não me posso pronunciar sobre esse aspeto. Apenas posso dizer que é uma das melhores de The Hunting Party.
De início, os vocais graves de Mike sobre este tipo de acompanhamento, causaram-se confusão. Cheguei mesmo a pensar que não era ele a cantar. No entanto, consegui entranhar. Reconheço que a banda arriscou com este tratamento, em vez de se contentar com a habitual estrutura Mike-no-rap-Chester-no-refrão e acho que esta experiência não saiu má de too. As vozes dos dois, Chester e Mike, casam bem, sobretudo no segundo e terceiro refrões. Também gosto das guitarras nesta música, pelo que a participação de Malakian não terá sido desperdiçada. Destaque para a sequência que se segue ao segundo refrão, antes dos gritos de Chester, com o crescendo de "We fall apart... we fall apart". A letra de Rebellion é, na minha opinião, uma das melhores deste álbum, se não for a melhor. Com traços inesperadamente políticos e atuais, Rebellion fala sobre a opressão, a miséria, a guerra, a revolta dos povos, a partir do ponto de vista de países do primeiro mundo, que não têm de lidar com esses problemas, ou lidam em menor escala. Numa altura em que o mundo lida com tantos conflitos na Ucrânia, na faixa de Gaza, entre outros locais, este é um tema muito atual.
Como podem ver, Rebellion é um ponto forte de The Hunting Party. Muitos esperam que se torne single, mas é difícil de prever.
A banda californiana Linkin Park lançou no dia 17 de junho o seu sexto álbum de estúdio, intitulado The Hunting Party. Neste trabalho, a banda adota uma das suas sonoridades mais pesadas até à data, se não for a mais pesada. Tal como já mencionei aqui no blogue, o objetivo da banda com este disco é resgatar o rock, o metal, estilos musicais que quase desapareceram, numa época muito dominada pelo eletrónico.
Como podem calcular, estou a publicar esta crítica com um atraso enorme. Em primeiro lugar, este álbum saiu numa altura muito complicada para mim, com o meu estágio e o Mundial. Mesmo estas últimas semanas têm sido complicadas para mim por vários motivos, e admito que tenho tido preguiça... As minhas desculpas se alguém esteve à espera desta análise.
Ainda não tenho uma ordem definida de preferência, pelo que, em vez de ordenar as faixas dessa maneira, vou respeitar a ordem da tracklist. Como o costume, a crítica estará dividida em quatro partes, esta é a primeira.
1) Keys to the Kingdom
"Careful what you shoot because you might hit what you aim for"
The Hunting Party começa logo a matar, com os gritos de Chester abrindo Keys to the Kingdom por cima de uma guitarra que me recorda Waiting for the End (deve ser interessante ter esta música como despertador...). A primeira faixa deste disco assemelha-se gritantemente (até pelos gritos de Chester...) a uma Victimized mais crua, menos eletrónica. As semelhanças são evidentes. Para além de o refrão ser parecido, a estrutura é praticamente a mesma; em ambas, a primeira estância é interpretada por Mike, assemelhando-se a uma canção de embalar, com efeitos de coro e tudo, e a segunda é um rap. Por vezes, quase espero que Chester comece a gritar "Victimized! Victimized! Never again!". O rap em Keys to the Kingdom, no entanto, é particularmente poderoso, sobretudo por causa da bateria, que a certa altura parece acentuar cada palavra de Mike. Gosto também no longo instrumental (um denominador comum a quase todas as canções de The Hunting Party) que se segue ao terceiro refrão, com os vocais de Mike e/ou Chester (não consigo destrinçar as vozes). Keys to the Kingdom define, deste modo, aquilo que nos espera no resto do álbum.
2) All For Nothing
"And no I'm not your soldier, I'm not taking any orders I'm a five star general infantry controller" A segunda faixa de The Hunting Party conta com a colaboração de Page Hamilton, da banda Helmet, nos vocais. All for Nothing adota um ritmo midtempo, começando com um rap de Mike que se encaixa bem e é extremamente cativante, como nas melhores músicas dos Linkin Park. Dá vontade de gesticular, como se fôssemos estrelas de hip-hop. Os "one, two, three, four" podem ser um pouco clichés, mas funcionam bem. Nisto, Page Hamilton canta o refrão com naturalidade, como se sempre tivesse feito parte dos Linkin Park. Os "you say", cantados por Chester no fim de cada verso do refrão, estão também muito bem sacados - logo na primeira audição eu gesticulava ao som destas palavras. Por fim, o solo de guitarra - elemento que faltou nos primeiros álbuns dos Linkin Park - é outro ponto forte da música. Tudo isto faz de All Fot Nothing um dos destaques de The Hunting Party. É, também, uma das poucas colaborações, entre as várias deste álbum, que realmente se justificam.
3) Guilty All The Same
"To me you're all the same, you're guilty"
Já falei de Guilty All The Same nesta entrada, pouco após o seu lançamento, não tenho muito mais a acrescentar. Apenas que, apesar de no início não ter gostado muito da participação de Rakim, tenho vindo a apreciar a letra do rap e reconheço que Mike não escreveria nada como aquilo. Mesmo no contexto do álbum, Guilty All the Same é uma canção muito sólida e não foi mal escolhida para primeiro single.
4) The Summoning
Esta faixa é um interlúdio de cerca de um minuto de duração, que mistura ruídos de estática com uns ameaços de guitarra elétrica. Suponho que a ideia fosse fazer uma ponte entre Guilty All the Same e War mas, para ser sincera, The Summoning pouco ou nada traz ao álbum. Se fosse cortada do alinhamento do álbum, provavelmente não se sentiria diferença.