Alerta Spoiler: Este texto pode conter revelações do enredo das séries abordadas. Logo, se estiverem a pensar ver uma delas, ou se ainda não têm os episódios em dia, sintam-se à vontade para saltar a respetiva análise.
Já vinha acompanhando esta série de há alguns anos a esta parte antes de esta a acabar, este ano. À semelhança de muito boa gente, fiquei extremamente desiludida com o final de How I Met Your Mother. Já houve muita gente pela Internet fora falando sobre o assunto, eu não vou dizer nada de inédito, apenas relatarei a minha experiência.
Comecei a ver How I Met You Mother pois, além de trazer ecos de Friends, o conceito de história contada oralmente, com as naturais incoerências, avanços e recuos no tempo, inverossimilhança de algumas partes era original e engraçado. Isto para não falar das frases-feitas, sobretudo da autoria de Barney, que se tornaram icónicas, em parte muito graças ao advento das redes sociais e dos chamados memes ("challenge accepted", "true story", "legend...wait for it... dary", entre outras). As primeiras duas temporadas foram muito boas mas, com o tempo, a qualidade foi-se desvanecendo. À volta da sétima temporada, já deixara de ter piada, passara a ser pura e simplesmente imbecil. Estive muitas vezes perto de deixar de segui-la completamente. Só não o fiz porque, que diabo, queria conhecer a Mãe! Assim, ia assistindo só a um ou outro episódio, só mesmo para não perder o fio à meada no que tocava à principal (?) trama da série.
Se, na altura, soubesse que a Mãe teria direito a pouquíssimo tempo de antena, que acabaríamos por saber menos sobre ela que sobre outras namoradas do Ted, como Victoria (uma das minhas preferidas, no primeiro ano, bem entendido), Stella e a inútil Zoey, que morreria no final, que toda a esta história era apenas Ted pedindo aos filhos permissão para namorar com Robin, teria desistido da série há muito tempo. Suponho que devíamos ter desconfiado disto mais cedo. Já se suspeitava há algum tempo que a Mãe morreria no final. Sabia-se que a cena final da série tinha sido filmada durante o segundo ano, mais coisa menos coisa, mas a atriz que faz de Mãe só foi escolhida no ano passado. Mesmo assim, acho que ninguém previu esta malfadada reviravolta.
Eu até poderia aceitar este desfecho no fim da terceira, quarta, quinta, mesmo sexta temporada, altura em que havia boa química entre os atores, em que ainda não haviam enrolado a história deles até ao enjoo e ainda não haviam imbecilizado completamente o tom da série. Mesmo agora, podiam perfeitamente ter excluído a anteriormente filmada cena final, mesmo mantendo a morte da Mãe. Podia ter acontecido o mesmo que aconteceu a House: mesmo que a qualidade tivesse decrescido nos últimos anos, o final encerrou a série devidamente, permitindo-nos recordá-la pelos bons momentos. Ainda que as comparações não sejam assim tão legítimas (afinal, a premissa de HIMYM era mais complicada que o habitual), com How I Met Your Mother, em vez disso, fica a sensação de que os guionistas andaram a gozar com a nossa cara desde o primeiro momento.
Em suma, só tenho uma coisa a dizer: How I Met Your Mother, my ass!
Esta é outra série que venho seguindo há uns anos. Já falei dela aqui no blogue em duas ocasiões (aqui e aqui). Este último ano foi, na minha opinião, o pior de Bones, com a série a revelar um claro desgaste. Não se poderia esperar muito mais no nono ano da série mas, mesmo assim, houve coisas que poderiam ter sido melhoradas. A morte de Peleant veio demasiado tarde (um problema herdado da temporada anterior), a história da serial killer foi mal explorada, o caso da corrupção do FBI até era interessante, devia era ter sido um dos principais arcos narrativos da temporada, em vez de se confinar, praticamente, ao último episódio. Isto tudo intercalado com episódios aborrecidos, vários deles gritantemente formulaicos (sou capaz de apostar que os guionistas tinham um modelo pré-fabricado, em que, para além do caso da semana, inseriam um novo problema para o casal Brennan-Booth, facilmente resolvido, e um arco irrelevante envolvendo um dos estágiários para cada novo episódio), em que se contam os bons momentos pelos dedos de uma mão.
Um dos poucos pontos fortes desta temporada é a clara evolução do carácter de Temperance, muito mais aberta ao seu lado menos racional (ainda que com algumas incoerências). O casamento e tudo o que o antecede é um exemplo óbvio, mas existem outros. O ataque de histeria nos momentos finais do último episódio seria inconcebível para a personagem há alguns anos; ao mesmo tempo, adequa-se a alguém que ainda não está habituada a lidar com emoções fortes.
A verdade é que Bones devia ter terminado com o muito aguardado casamento entre Brennan e Booth (um dos melhores episódios desta temporada), pois não parece ter ideias para muito mais. Como tal, não me vou dar ao trabalho de acompanhar a décima temporada da série. Provavelmente só verei um ou outro episódio, e mesmo assim. Na minha opinião, Bones já deu o que tinha a dar - o que, mesmo assim, não foi pouco.
24 foi uma das primeiras séries que acompanhei, se bem que apenas a partir da quarta ou quinta temporada - nunca vi os primeiros anos da série. O seu conceito único, com a edição das imagens muito característica. o relógio, o protagonista Jack Bauer (um dos meus heróis de ação preferidos) e a parceira Chloe O' Brien, com o seu constante beicinho, algumas das deixas típicas tornaram a série num ícone para mim e uma das minhas maiores fontes de inspiração nos anos em que eu dava os meus primeiros passos na escrita de ficção. Só me apercebi das saudades que tinha dela quando, quatro anos depois, 24 regressou para uma meia temporada nova, sediada em Londres.
Tirando um aspeto ou outro (por exemplo, as premissas iniciais trouxeram ecos de Homeland), esta temporada extra de 24 não desapontou. Achei a primeira vilã brilhantemente retorcida. Gostei do Presidente "desta temporada". Fiquei de coração partido com a morte de uma personagem importante. E deu-me um gozo imenso ver Jack Bauer de novo em ação, depois de todos estes anos.
Parece que 24 (ainda) não fica por aqui. Ouve-se falar, de novo, num filme que ate as pontas que ficaram soltas no final de Live Another Day. Eu preferia uma nova temporada da série: o filme, para mim, só resultaria se mantivessem o relógio e a edição de imagem, o que não sei se será possível. De qualquer forma, um dia destes vou ver a série do princípio ao fim a ver se, entre outras coisas, esta me dá inspiração para o meu quarto livro.
Eu sei que, anteriormente, tinha falado de Homeland e Anatomia de Grey. Em relação à última, eu já tinha dado a entender que ia deixar de segui-la e foi o que aconteceu. Desta última temporada, só vi três ou quatro episódios, e isto em alturas em que não tinha melhor para fazer. Homeland, por sua vez, sofreu uma queda vertiginosa em termos de qualidade, pelo que desisti ainda a temporada não devia ir a meio (e visto que esta era apenas de doze episódios, fartei-me relativamente depressa) e não é provável que a retome.
Foi assim a última temporada de séries, pela parte que me toca. A nova já começou e ainda bem - andava com mais saudades de ter episódios novos todas as semanas do que estava à espera. Estou aqui em pulgas para ver o novo de The Good Wife. Não sei se começarei a ver alguma série nova este ano, mas é pouco provável pois não gosto de acompanhar muitas séries ao mesmo tempo. Em todo o caso, espero que este novo ano que agora começa nos traga coisas positivas nas séries que vejo, com destaque para Once Upon a Time, Arrow e The Good Wife.
Depois de ter falado mais exaustivamente sobre Once Upon a Time, queria agora falar rapidamente sobre as séries que vi ao longo do último ano. Isto numa altura em que já não falta muito para estas recomeçarem - se já não tiverem recomeçado à altura da publicação deste texto. Para evitar outra entrada demasiado grande, vou dividir este texto em duas partes. Publico a segunda entrada assim que puder.
Alerta Spoiler: Este texto pode conter revelações do enredo das séries abordadas. Logo, se estiverem a pensar ver uma delas, ou se ainda não têm os episódios em dia, sintam-se à vontade para saltar a respetiva análise.
Visto que tinha falado dela quando falei do segundo ano de OUaT, achei por bem tornar a falar deste spin-off agora. Eu tinha grandes expectativas para esta Once Upon a Time in Wonderland, mas a série acabou por se revelar um desapontamento logo nos primeiros episódios. A história de amor que guia a narrativa pareceu-me demasiado lamechas para o meu gosto. Os elementos típicos do País das Maravilhas, tal como o conhecemos há gerações, eram quase inexistentes. A Rainha Vermelha era uma imitação barata da inagualável Evil Queen de OUaT, uma mera menina mimada com uma permanente duckface. Desisti da série quando, a dez minutos do terceiro episódio, me deu o sono, parei para dormir uma sesta e nunca mais peguei naquilo - até porque tal ocorreu na altura em que saiu o CD da Avril Lavigne e eu tinha um exame na semana seguinte, logo, tinha mais em que pensar.
Não fiquei surpreendida quando a série não foi renovada para uma segunda temporada. Os administradores do canal que a transmitia mostraram-se arrependidos de não terem seguido o plano inicial, que era um modelo de meia temporada para preencher o hiato de OUaT. Contudo, julgo que nem mesmo assim a história me cativaria. Parece, também, que uma das personagens, o Valete de Copas, vai integrar o elenco da série-mãe. Em todo o caso, este spin-off foi uma aposta falhada. Acontece.
Esta é uma série que descobri há cerca de um ano, enquanto fazia zapping e dei com um dos primeiros episódios no AXN. Julgo que é uma das séries da moda pois ambos os meus irmãos começaram a vê-la igualmente este ano, em momentos diferentes, sem serem influenciados por mim. Nunca fui particularmente fã de super-heróis, não sou capaz de identificar muitas das referências que a série faz a essa mitologia. No entanto, um dos pontos fortes de Arrow é, precisamente, a capacidade de apelar a pessoas como eu, o facto de não precisarmos de saber muito sobre super-heróis para apreciarmos a série. No meu caso particular, gosto de Arrow por, para além de ser diferente daquilo que estou habituada em séries, ter um tema e um tom parecido com o dos meus livros - embora, por vezes tenha a sensação de que Arrow se perde em lugares-comuns.
A série tem algumas incoerências: a primeira temporada foi mais consistente que a segunda, talvez por ter um enredo mais linear: Oliver tinha uma lista deixada pelo pai de alvos a abater e bastou ir seguindo essa lista para chegar ao vilão principal. No segundo ano, o rumo não estava tão bem definido e, embora até tenha tido um bom começo, a série ressentiu-se disso. Há personagens melhor construídas do que outras (Lauren, por exemplo, é demasiado Lois Lane para o meu gosto e Thea tem demasiados momentos de menina mimada. Por sua vez, Felicity é deliciosa, não é por acaso que é a favorita dos fãs). Tais falhas não impedem que Arrow, para mim, se eleve acima da média.
Este ano estreia-se um spin-off de Arroe, centrado em Flash, que já fizera uma aparição na segunda temporada. Não estou com grande vontade de vê-la, vou ler primeiro algumas críticas, pedir opiniões sobre o piloto antes de decidir que a vejo ou não. Por outro lado, as pistas que têm saído sobre a terceira temporada de Arrow têm-me agradado. A ver se a série consegue manter a qualidade e, de preferência, se conseguirá recuperar o nível do primeiro ano.
Esta é uma série que já sigo há alguns anos mas nunca calhou falar sobre ela aqui. Durante algum tempo, ia assistindo à emissão da FOX Life, que se encontrava um ano atrasada relativamente à emissão americana. Este ano - que foi particularmente marcante, por sinal - finalmente apanhei o ritmo. The Good Wife sempre me atraiu pelas personagens interessantes e bem construídas, bem como pelas interpretações sublimes. A protagonista destaca-se, tanto pela evolução (passa de dona de casa submissa e humilhada pelo marido a uma mulher forte, bem mais cínica, líder de uma firma de advogados, afastando de vez o rótulo de "coitadinha"), como pelo desempenho da atriz que lhe dá vida, Julianna Margulies, que de resto já ganhou pelo menos dois prémios Emmy graças a Alicia.
Gostei muito dos primeiros dois anos da série, do terceiro e do quarto nem tanto. O relacionamento entre Alicia e Will é um dos pilares da série mas a mim confunde-me. Durante a terceira temporada, segundo o que eu percebi, a ligação é mostrada com algo meramente causal, sem grande componente emotiva, mas depois disso todos agem como se tivesse sido uma grande história de amor. Esse é, provavelmente, o aspeto de que menos gosto na série. Por sua vez, conforme já disse acima, o quinto ano foi particularmente intenso, com Alicia criando a sua própria firma de advogados e a morte (algo rebuscada) de Will. O sexto ano começa amanhã e, pelos trailers, promete ser interessante. Espero que cumpra tais promessas e que mantenha o nível que, até agora, não tem sido nada mau.
Uma coisa devo confessar, contudo: por muito que goste da série, esta fez com que me apercebesse que não gostaria nada de seguir uma carreira na área do Direito ou da Política. Não tenho perfil para alinhar em jogos como aqueles, lidar com tantas áreas cinzentas. E se o sistema americano é um pouco melhor que o português, eu vejo o Jon Stewart e, para ser sincera, acho que os políticos americanos são ainda piores que os nossos, o que é dizer alguma coisa. Prefiro mil vezes ser farmacêutica e escritora (não necessariamente por essa ordem) que me parecem profissões mais honestas.
Alerta Spoiler: Este texto contém revelações sobre o enredo, pelo que, até para a própria compreensão do mesmo, não é aconselhável que este seja lido a menos que tenham visto a terceira temporada de Era Uma Vez /Once Upon a Time.
Depois de o segundo ano de Once Upon a Time ter sido acelerado em termos de ação mas penosamente inconsistente, cheio de incoerências, o terceiro ano foi melhor feito. Esta estrutura de duas histórias principais, de duas temporadas numa, funcionou bem, na minha opinião. Impediu a narrativa de se enrolar demasiado, como na primeira temporada, ou que se emaranhasse, como na segunda.
A primeira parte desta temporada decorreu na Terra do Nunca, com o elenco central tentando salvar Henry, que fora raptado no final da temporada anterior, ficando prisioneiro de Peter Pan. Para muitos, a história esteve afastada de Storybrooke durate demasiado tempo, eu mesma reconheço que a narrativa se arrastou um pouco, com alguns arcos narrativos menos bem trabalhados. No entanto, tudo isso foi necessário com vista ao desenvolvimento das personagens, bem como das relações entre elas.
Penso que nesta série o próprio conceito de Terra do Nunca, a ilha onde o tempo não passa, simboliza a incapacidade de largar o passado, de o processar, de ultrapassar as más experiências, de seguir em frente, de crescer. O próprio Peter Pan, o vilão da primeira meia temporada, é como se fosse um psicólogo ao contrário, tem um gosto perverso em brincar com os traumas das outras personagens, em particular os de abandono - o que o torna particularmente retorcido, pois ele mesmo abandonou o filho, Rumplestilskin, sendo esta a maior surpresa desta temporada. Gostei dos diálogos entre ele e os seus antagonistas. No entanto, os vários jogos que ia tecendo em redor deles, na sua maioria pelo menos, acabaram por ter um impacto praticamente nulo na trama principal. Durante algum tempo pensei que ele tencionava usar as vulnerabilidades dos seus inimigos contra eles, mas não chegou a fazê-lo, pelo menos não de uma maneira significativa. Estes jogos ajudavam a revelar a evolução das personagens, sim, mas arrastavam a ação e conferiam à série um tom sombrio de que, segundo o que li, alguns seguidores não gostaram muito.
Conforme disse acima, a primeira meia temporada caracterizou-se pelo desenvolvimento das personagens. Este, no entanto, ocorreu em graus diferentes. No casal Snow e Charming, para começar, foi praticamente inexistente. Apesar de, na teoria, ser um dos casais principais da série, para mim sempre foi dos menos interessantes. Talvez por ser o mais expectável, o mais convencional - mesmo tendo em conta o facto de Branca de Neve ter sido bandida e de o Príncipe Encantado ter sido criado por pastores). Com os desenvolvimentos da segunda meia temporada, ao que parece, existirão alterações na dinâmica entre ambos mas, mesmo assim, duvido que mude radicalmente. De resto, é só como casal e individualmente que não entusiasmam (Snow é demasiado ingénua e David é um pãozinho sem sal); na maneira como se relacionam com as outras personagens ganham mais interesse, em particular como pais de Emma.
À semelhança do que acontece com Snow e Charming, aliás, OUaT esforça-se por nos convencer que Emma é importante para a história, mas falha pois a personagem acaba por se revelar pouco determinante no desenvolvimento do enredo. Peter Pan andou por ali a brincar com os seus problemas de abandono, mas julgo que a série abordou mal a questão - tal é comprovado pelo falso excerto de guião apresentado em cima. Os jogos de Peter Pan com Emma, de resto, acabaram por não ter consequências de maior. Outra questão diz respeito aos poderes mágicos de Emma e já vem da segunda temporada: estes só surgem quando é conveniente, bem como a sua característica capacidade de detetar mentiras. Por outro lado, fiquei satisfeita por não terem insistido demasiado no triângulo Neal-Emma-Hook.
Sobre Neal falarei mais à frente, quando chegarmos à segunda meia temporada. Por sua vez, Hook foi das personagens que mais evoluiu este ano, cimentando-se como um dos "bons" sem perder os seus modos galantes e algo narcisistas. Se antes só era leal a si mesmo, este ano não hesita em tomar decisões sem ter em conta o seu próprio benefício, tomando-as antes por lealdade a Emma e à sua família. Referir, igualmente, as suas interações com David, que se torna o seu "mate", ainda que David saiba que o pirata cobiça a sua filha, para seu desagrado.
A primeira metade da temporada foi particularmente marcante para Rumplestilskin, tendo em conta a profecia de que Henry seria a sua destruição e o facto de Peter Pan ser, na verdade, o seu pai, sendo que o seu abandono esteve na origem das inseguranças que marcaram as decisões fulcrais da sua vida. No final, tomou a decisão correta - mas já lá vamos.
Regina foi a estrela da temporada, embora se tenha destacado mais na segunda metade. Depois de tantas inconsistências no ano anterior, neste teve finalmente direito a um arco de redenção bem conseguido. Nesta primeira metade destacam-se dois episódios: o protagonizado por ela e por Tinker Bell/Sininho (a história desta personagem fez-me lembrar a fada Oriana de Sophia de Mello Breyner) e o centrado na adoção de Henry. Neste último, acho que se perdeu uma oportunidade de esclarecer uma dúvida antiga - a de como Mr. Gold, de entre tantos bebés, foi encontrar logo o filho da Salvadora - mas serviu para destrinçar o relacionamento de Regina com Henry, algo que foi importante de várias maneiras para o desenvolvimento do enredo desta temporada.
Por sua vez, a estadia de Henry na Terra do nunca contribuiu para um muito necessário amadurecimento do jovem protagonista. Depois de não ter tido a melhor atitude para com Regina na segunda temporada (embora, em defesa do miúdo, ninguém percebia para que lado estava Regina nessa altura), Henry chega mesmo a mostrar-se arrependido de ter trazido Emma para Storybrooke, para que quebrasse a Maldição.
Tal reconhecimento acontece no último episódio da primeira parte da terceira temporada, "Going Home", um dos melhores deste ano, na minha opinião. Teve muito mais carácter de final de temporada que o último do segundo ano (e foi muito superior em qualidade), talvez mesmo que o último desta temporada, embora este tenha tido uma estrutura diferente. Em "Going Home" regressamos às raízes da série, cujo tema principal sempre foi, sobretudo no seu início, esperança. Os flashbacks ajudam a definir o tom do episódio e a demonstrar a evolução de várias das personagens com o tempo. O próprio enredo convida à emotividade, sobretudo por dois motivos. O primeiro: pela maneira como Rumple consegue a sua redenção, sacrificando a sua própria vida para salvar aqueles que ama, sem magia, contrariando o seu eterno rótulo de covarde. O segundo: pelo facto de, para travar a maldição de Pan, Regina ver-se obrigada a reverter a maldição que deu o mote para a série, que levará todo o elenco de regresso à Floresta Encantada e deixará Emma e Henry para trás. Arrisco-me a dizer que foi um dos melhores episódios de toda a série e, se retirássemos os minutos finais, funcionaria bem como um final de OUaT.
Mas a série não terminou aí pois não tardou a surgir um novo vilão... ou melhor, uma vilã: nada menos que a Bruxa Malvada do Oeste, do Feiticeiro de Oz, que lançou uma maldição que trouxe o elenco de regresso a Storybrooke... ou assim parece. Esta segunda meia temporada ficou algo melhor feita que a primeira. O regresso - que se presume definitivo - a Storybrooke foi do agrado geral. A narrativa da maldição trouxe alguns ecos da primeira temporada, embora sem os arcos narrativos circulares, com a história a evoluir a um ritmo razoável.
Cedo se descobre que a vilã da meia temporada, Zelena, é meia-irmã da Regina, adensando ainda mais a já complicada árvore geneológica de Henry. Toda a história por detrás do nascimento de Zelena está algo rebuscada (embora explique a animosidade de Cora para com Eva, a mãe de Snow). À parte isso, considero que deu uma boa vilã. Apesar de um dos dogmas da série ser o evil-is-not-born-it-is-made, uma dose saudável de vícios inatos nunca fizeram mal a ninguém, como a irresponsabilidade de Peter Pan e os traços de menina mimada de Zelena.
Emma, como Salvadora, é chamada a intervir e ela responde com relutância. Se anteriormente a protagonista nunca parecera muito à vontade naquele mundo, agora, que já experimentara uma vida feliz fora de Storybrooke, estava constantemente com um pé de fora - o que chegava a irritar. E, apesar de mais uma vez a série tentar convencer-nos da importância dela, Emma torna a revelar-se irrelevante para a resolução do enredo, sendo ensombrada por Regina de novo. Felizmente, ela tem uma oportunidade de se redimir aos nossos olhos no final da série... mas já lá vamos.
Aproveito para falar de Neal, que nesta temporada "regressa" à vida para morrer "a sério" a meio da segunda parte, desmascarando Zelena. Este episódio coincidiu com uma altura em que morreram várias personagens importantes em séries que acompanho e eu, pelo menos, não estava à espera. No entanto, no contexto de OUaT em si, depois da sua falsa morte no final da segunda temporada, este "segundo" falecimento revelou-se algo anticlimático. De qualquer forma, serviu para resolver o triângulo amoroso entre ele, Emma e Hook, de uma maneira mais definitiva do que esperava - eu já calculava que Emma escolheria o pirata, mesmo que temporariamente. De início, irritava-me que, enquanto Neal estava "morto", ela dizia que o amava e chorava por ele. No entanto, quando ele estava vivo, passava a vida a afastá-lo. Hoje compreendo que, ainda que ela pudesse perdoar-lhe o que acontecera no passado entre ambos, Emma dificilmente confiaria nele. E de resto notava-se que havia maior química entre ela e Hook.
A morte de Neal, o preço a pagar pela ressurreição do pai, é um rude golpe para Rumplestilskin, que passara a série quase toda tentando encontrar o filho e fazer as pazes com ele. Em teoria, teria sido melhor "mantê-lo" morto, já redimido - o seu regresso causou mais problemas que aqueles que resolveu, já que o Dark One acabou escravizado por Zelena. Na prática, Rumple é uma das melhores personagens de OUaT e a série ressentir-se-ia da sua exclusão permanente. A dinâmica entre Rumple e Zelena é interessante, até: como portadora da adaga, ela tem controlo sobre o Dark One, assume uma posição de domínio. Isso, no entanto, é contrariado pelos sentimentos que a Bruxa nutre por Rumple; dá para ver a sua dor quando Zelena é rejeitada.
Para alguém tão sinistro, o nosso Dark One consegue quebrar uma quantidade significativa de corações. Bem se diz que elas preferem os maus rapazes...
Rumple é libertado aquando da derrota de Zelena. Já livre, confia a sua adaga ao seu amor, Belle, em jeito de pedido de casamento. No entanto, depressa se descobre que a adaga é falsa e Rumple usa a verdadeira para matar Zelena, em desforra da morte de Neal e da escravidão. Embora o casamento entre Belle e Rumple fosse aguardado há muito, este assenta numa mentira e é óbvio que esta será descoberta mais cedo ou mais tarde. Calculo que Rumple nunca se tornará cem por cento "bom" e, de resto, provavelmente a personagem perderia interesse se assim fosse.
Tal como já disse antes, Regina foi a grande estrela desta temporada, sobretudo nesta parte. Por esta altura, a ex-Evil Queen pertence definitivamente ao lado dos "bons", embora não tenha perdido os seus modos altivos e sarcásticos. Nesta meia temporada, Regina teve direito a uma segunda oportunidade no amor com Robin Hood/Robin dos Bosques, também ele um viúvo. Para muitos o relacionamento evoluiu depressa demais - para mim, foi pior ter-se desenvolvido enquanto Regina estava sem coração, contrariando um dos maiores dogmas da série. De resto, é o amor por Robin e Henry que lhe confere a capacidade de usar magia branca, fulcral para quebrar a maldição e derrotar Zelena - comprovando uma vez mais a inutilidade de Emma. Pena é o balde de água fria que apanha no final da temporada, quando parece finalmente ter conquistado o seu final feliz - mas já lá vamos.
À semelhança do que aconteceu com a primeira meia temporada, o episódio final eleva-se sobre todos os outros, na minha opinião. Se tivesse de escolher entre "Going Home" e "Snow Drifts/No Place Like Home", escolheria o primeiro mas a verdade é que os dois finais têm uma estrutura e um tom diferentes, logo, é difícil comparar. O episódio duplo, tal como os guionistas explicaram, funcionou como uma espécie de filme, com um arco narrativo próprio, com princípio, meio e fim. O conceito não é o mais original de todos, a própria série quase admite que colheu inspiração no filme Regresso Ao Futuro. A força reside na forma como o conceito foi desenvolvido: mesmo sem termos reparado nisso, imagino que todos nós desejávamos ver Emma como princesa, integrada no mundo dos contos de fadas. E, tal como num bom filme, neste final, houve tempo para momentos de ação, romance, humor (divertiu-me imenso ver Emma seduzindo o Hook do passado), bem como momentos mais tocantes. O melhor foi mesmo ter dado uma oportunidade para o desenvolvimento de Emma. Ao fim de três temporadas, compreendíamos finalmente a sua falta de à-vontade, o seu constante pé de fora e víamos o que foi necessário para ela, de uma vez por todas, assumir o papel que o Destino lhe reservara - eu, pelo menos, quero acreditar que, a partir de agora, Emma vai passar a ser verdadeiramente a Salvadora.
No entanto, o mergulho de Emma e Hook no passado trouxe consigo algumas consequências infelizes. A mais significativa foi terem trazido consigo Marian, a esposa de Robin, que arruinou o final feliz de Regina e deixou os fãs da ex-Evil Queen de coração partido. Muitos criticaram a decisão de Emma, mas a verdade é que iria contra o seu carácter deixar Marian para trás, podendo ela salvar-lhe a vida. Acredito mesmo que, ainda que Emma soubesse logo quem era a sua companheira de cela, a sua atitude seria a mesma. Quanto a Regina, este será o verdadeiro teste à sua redenção: afinal de contas, é fácil ser-se bonzinho quando tudo corre a nosso favor. Difícil é sê-lo quando as circunstâncias não nos são favoráveis - as inconsistências de Regina. no ano anterior. eram uma boa parte devidas às manipulações da sua mãe, às ações de Snow e à insensibilidade de Henry. Muitos esperam que Regina entre de novo em modo Evil Queen, mas eu acho que isso contrariaria a evolução da personagem, sobretudo nesta temporada. De qualquer forma, este será um nó difícil de desatar.
Outra consequência da viagem no tempo foi um novo vilão - ou assim parece - para a nova temporada. Antes de avançarmos para essa parte, queria só assinalar que, com todas as voltas que foram dadas à forma como Snow e Charming se conheceram e apaixonaram, duvido fortemente que não hajam mais repercussões. Algo que, de resto, os guionistas já mais ou menos confirmaram.
Conforme foi dado a entender nos minutos finais do último episódio, a próxima vilã de OUaT será Elsa, a protagonista do filme Frozen: O Reino do Gelo. É o filme da moda, já se andava a dizer que os guionistas gostariam de trazê-lo para o universo da série. Eu é que não esperava que o fizessem tão cedo.
Eu vi o filme há algumas semanas. Não desgostei, está bem feito, acima da média no que toca a filmes de animação. A história tem, de facto, alguns paralelismos com as histórias de OUaT daí não me surpreender o interesse dos guionistas. E visto que tenho uma irmã mais nova, que é a minha pessoa preferida do mundo inteiro, identifiquei-me bastante com a relação entre Anna e Elsa. No entanto, na minha opinião, o filme anda a ser um bocadinho sobrevalorizado. É um bom filme, mas não acho que seja um dos melhores filmes de animação de todos os tempos, como alguns o têm pintado. Não é nenhum Rei Leão ou Spirit, nem acho que seja melhor que o Shrek ou mesmo Mulan. Além disso, tenho de confessar que já não tenho a mínima pachorra para a cantoria toda. Compreendo que agrade à criançada, eu mesma gostava quando era pequena, mas agora acho-a cansativa. Fiquei, até, com a ideia de que este filme tinha mais momentos musicais que a maioria dos filmes da Disney. Gostei de Do You Want to Build a Snowman e, claro, Let it Go (apesar de parecer ter sido composta de propósito para transmitir uma imagem politicamente correta de reforço da auto-estima), mas o resto era dispensável.
Para ser sincera, um dos aspetos que mais me desagrada na série é a sua Disneyficação. É certo que, ao longo das últimas décadas, a Disney foi o principal veículo de divulgação dos contos de fadas. No entanto, parece-me demasiado copiarem nomes de personagens, adereços exclusivos dos filmes. É uma opinião muito pessoal: a verdade é que, apesar de não ter problemas em reconhecer o peso que teve na minha infância, não tenho a veneração pela Disney que muitos dos envolvidos na série têm - ou fingem ter. Irrita-me um pouco, aliás, o seu comercialismo.
De resto, todo o conceito de reinvenção dos contos de fadas, da reunião das suas personagens, não é assim tão original como os criadores da série parecem acreditar. É, aliás, um conceito que tem estado na moda no cinema, ao longo dos últimos anos, com versões mais sombrias de contos como a Branca de Neve, o Capuchinho Vermelho, Alice no País das Maravilhas, entre outros. No entanto, Once Upon a Time tem feito essas reinvenções com maior mestria.
No entanto, ao contrário da maioria dos seguidores da série, não é por causa de tais reinvenções que eu vejo OUaT, embora goste desse aspeto. Vejo a série porque gosto de histórias sobre crescimento, esperança, redenção. Como escritora, identifico-me com o conceito da ficção como maneira de descodificar a vida e o mundo - e, afinal de contas, os contos de fadas são o exemplo mais básico desse conceito.
A série recomeça dia 28 de setembro. Já que, ao que tudo indica, manter-se-à o esquema de duas mini-temporadas numa, este ano talvez escreva uma análise à primeira parte da temporada durante a pausa de inverno - esta entrada ficou comprida demais.
Já foi avançado que o tema deste ano será não desistir das pessoas amadas. As referências mais óbvias são o caso de Regina e Robin, bem como o recém-casados Mr. e Mrs. Gold, mas suponho que estes não sejam os únicos casais da série a verem o seu amor testado nesta temporada.
De qualquer forma, espero que a série continue a explorar bem esses e outros conceitos e que, já agora, forneça respostas a dúvidas antigas, entre as quais a história de Aurora, Phillip e Mulan, bem como a adoção de Henry. Por outro lado, um dos meus receios é uma eventual falta de ideias caso a série se prolongue demasiado. Com um bocado de sorte, eles saberão quando parar. O que eu desejo, no fundo, é que Once Upon a Time nunca perca a sua magia característica.
Entretanto, tenciono falar sobre outras séries que tenho acompanhado, se bem que menos exaustivamente. Mantenham-se ligados.