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Álbum de Testamentos

"Como é possível alguém ter tanta palavra?" – Ivo dos Hybrid Theory PT

Sobre a época natalícia

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Uma das coisas boas de me ter juntado à plataforma SAPO é ter ficado com uma maior noção dos assuntos discutidos na blogosfera, o que me fornece inspiração para abordar assuntos diferentes do habitual, impedindo-me de ficar demasiado refém do costumeiro.

 

Um dos temas populares do momento é o Natal. Aqui as opiniões costumam ser bastante polarizadas - há quem adore e quem odeie, com a maioria a associar-se ao primeiro caso. Eu não me identifico com nenhuma destas posições. O Natal tem coisas de que gosto e coisas de que não gosto mas, na maior parte do tempo, é-me bastante indiferente.

 

Já gostei mais do Natal. Muitas boas recordações de infância encontram-se, naturalmente, ligadas a esta quadra, à espera do Pai Natal. Nunca ninguém se vestiu de Pai Natal para mim ou para os meus irmãos, mas lembro-me de um ano em que passámos a Consoada em casa dos nossos tios. Perto da hora, mandaram-nos, convenientemente, à arrecadação - já não me lembro do motivo - que ficava nos pisos subterrâneos e, quando estávamos a subir as escadas no regresso, o meu pai soltou um perfeito "Ho ho ho!" que nos fez correr pela escadas acima, atrás das prendas. Alguns anos mais tarde, foi a minha vez de me divertir contando histórias do Pai Natal à minha irmã mais nova.  

 

Outra tradição de Natal da minha infância diz respeito às festas escolares. Para os meus pais eram uma seca descomunhal - com a agravante de, muitas vezes, serem obrigados a arranjar as fatiotas que a professora pedia - e mesmo eu, que participei em muitas, não acho que as minhas atuaçõezinhas tenham tido assim tanta piada. No entanto, gostei de ver o meu irmão fazendo de Charlot, uma vez, e de ver a minha irmã fazendo de costureira desonesta n'O Rei Vai Nu. Por outro lado, guardo boas recordações da festa do meu sétimo ano. Desta feita, os papás não foram convidados e as atuações consistiam apenas em canções de Natal, geralmente em inglês ou francês. A festa estava algo morna até chegar a vez da minha turma cantar. Nós interpretámos Le petit renne au nez rouge - a canção do Rudolfo, a rena. Como poderão ouvir no vídeo abaixo, é uma canção muito gira e nós cantámo-la com entusiasmo. Fomos de longe os mais aplaudidos da festa.

 

 

À medida que os anos foram passando, o interesse pelo Natal foi arrefecendo. A publicidade excessiva começou a irritar-me. Ganhei um ódio à Popopa - embora, nestes últimos dois anos, se tenha tornado tolerável. Houve um ano em particular, quando eu lia bastante Harry Potter e dava os meus primeiros na ficção, em que um anúncio de uma cadeia de hipermercados qualquer invocava valores como alegria, coragem, amizade, sonhos, o que me enojou profundamente - como se o consumismo tivesse alguma coisa a ver com amizade ou coragem. No entanto, nunca ganhei verdadeiro ódio ao Natal em si, por vários motivos - um dois quais, porque dá demasiado trabalho ser-se abertamente anti o que quer que seja. 

 

Aquilo de que gosto mais em relação ao Natal é servir de desculpa para reunir a família, ver parentes com quem, muitas vezes, só consigo estar algumas vezes por ano. A melhor parte do Natal é o jantar de anos da minha avó materna, no dia 23 de dezembro. Reúne a família toda do lado dela, o que inclui seis netos e três bisnetos. À parte isso, e as recordações de infância, gosto de algumas canções de Natal (incluídas nos vídeos desta entrada), das árvores de Natal enfeitadas pela minha mãe, do seu bacalhau com natas (que ela começou a confecionar em protesto contra o bacalhau cozido com todos, de que não gostava), de ver as luzes na Baixa, disto e pouco mais. 

 

 

A questão dos presentes não é um aspeto que me diga muito. Não vou dizer que seja cem por cento não materialista mas, exceto quando era pequena e mesmo assim, nunca fui pessoa de pedir muitos presentes. Segundo os meus pais, o meu problema não era pedir muitas coisas, era pedir coisas difíceis de encontrar. Também reconheço que cresci desafogadamente e, quando queria algo, quer fosse Natal ou não, raramente mo era negado - daí que hoje não dê tanto valor a presentes. E ainda que tenha usado muito várias coisas, sobretudo livros e filmes, tive muitos brinquedos que apenas usei uma ou duas vezes. Em suma, recebi coisas a mais, coisas de que, mais de metade das vezes, não me fariam falta.

 

Hoje em dia, não gosto de receber presentes só por receber, tal como não gosto de comprar coisas só por comprar - é pouco provável que me vicie em compras. Nas raras ocasiões em que há algo que queira mesmo - um CD, um livro, uma peça de roupa - compro-a eu mesmo ou, se estiver com os meus pais na loja em questão, peço-lhes para comprar. No entanto, uma maneira de acertar sempre comigo é oferecendo-me cadernos bonitinhos, que são sempre apreciados e... muito utilizados. De qualquer forma, a imagem seguinte descreve de forma excelente o que tenho vindo a sentir:

 

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Por outro lado, visto que ainda não trabalho, não tenho a obrigação de comprar presentes para muita gente. Só os compro para os meus pais ou para os meus irmãos - e mesmo assim nem sempre - ou para os meus primos pequenos. É fácil com os meus familiares próximos pois conheço-os bem, sei do que gostam. No caso dos meus primos, também é fácil pois são crianças. Não é difícil agradar a miúdos, a menos que os presentes sejam roupa - e mesmo nesses casos, pelo menos os pais ficam satisfeitos. Mais stressante será comprar coisas para pessoas que conhecemos mal. Afinal de contas, os presentes revelam o quanto (não) conhecemos sobre os visados. Uma das poucas vantagens da crise é tornar aceitável não oferecer paresentes a essas pessoas.

 

 

Em relação à vertente religiosa, também não tenho muito a dizer. Como muitos portugueses, incluo-me naquele estatuto de quem é batizado e frequentou a catequese, mas agora não costuma ir à missa nem costuma rezar - exceto quando se encontra numa situação aflitiva e mesmo assim. O nascimento de Cristo não me diz muito, acho até que criou mais problemas do que aqueles que resolveu - mas não quero entrar por aí, que esse assunto daria azo a outra longa entrada. 

 

 

Sobre o chamado "espírito natalício", não necessariamente ligado à parte religiosa, também não me revejo nele. Nem sequer sei o que é, ao certo. Em que consiste o espírito natalício? Paz? Solidariedade? Bondade? Compaixão? Não deveríamos cultivar tais valores o ano todo? Ou é aceitável voltarmos a ser cínicos, desagradáveis e egoístas a partir do dia 26 de dezembro? Tem o seu quê de hipocrisia. No entanto, compreendo a necessidade de termos uma altura para pensarmos nestas coisas, tal como temos o mês de maio para pensarmos na saúde do coração, ou o dia 1 de dezembro para pensarmos na SIDA, ou o dia 8 de março para pensarmos no direito das mulheres.

 

Em suma, para mim o Natal é uma desculpa para estar com a família, para fazer as crianças felizes e pouco mais. Tal como disse antes, não sou anti-Natal, não tenho a paciência nem a convicção, mas não anseio particularmente por esta quadra. Tal como digo várias vezes nos meus blogues, o Natal está para as pessoas "normais" como acontecimentos como concertos, lançamentos de singles ou álbuns (de artistas de que gosto, evidentemente), Campeonatos Europeus ou Mundiais de futebol estão para mim. Vejo muito mais magia na primeira vez que oiço um álbum, quando vejo os meus heróis em palco ou em campo, ou num grande jogo da Seleção. São ocorrências raras, em contraste com o Natal, que vem todos os anos. Mas isto sou só eu.

 

Termino este texto com a fotografia da praxe da árvore de Natal. Na verdade, é apenas uma delas pois a minha mãe fez duas, esta é a convencional. Mais tarde, publico a outra.

 

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Bryan Adams - 30 anos de Reckless (2014) #5

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Quinta e última parte da análise a Reckless (partes anteriores aqui, aqui, aqui e aqui). Eis as conclusões.

 

Apesar de, como demonstrei aqui, este álbum trazer consigo alguns dos meus temas preferidos de Bryan Adams, Reckless não se encontra entre os meus álbuns preferidos dele. A verdade, contudo, é que sempre vi este disco de forma enviesada: só o ouvi pela primeira vez em 2010 (ano em que a discografia de Bryan foi publicada em fascículos, a dez euros cada CD). Nesta altura, eu já conhecia todos os singles de Reckless (neles incluo Kids Wanna Rock). Se forem a ler de novo a minha análise, verão que, tirando os singles, só considero relevante She's Only Happy When She's Dancin'. Daí que considere que para pessoas que, como eu, já conhecessem os singles ou dos CD's de Greatest Hits, ou dos concertos de Bryan (quase todos têm lugar cativo na setlist) e quisessem adquirir os álbuns originais, não haveria grande vantagem em comprar Reckless.

 

É óbvio que, tendo em conta a altura em que foi editado pela primeira vez - quando a rádo ainda era a principal fonte de música e o público ainda não sabia quais faixas seriam lançadas como singles - não é de surpreender que seja considerado um dos melhores álbuns de rock clássico de todos os tempos. De qualquer forma, a adição de faixas não editadas veio resolver o problema de que falei.

 

Uma das coisas que caracteriza este álbum - tanto as músicas originais como as extra da edição Deluxe - é a já referida fórmula na sonoridade. Esta fórmula não é propriamente um defeito pois, quando bem executada, os acordes e solos de guitarra são os pontos fortes das músicas (exemplos: Somebody, It's Only Love, Run to You...). De resto, ao analisar as músicas deste álbum, sobretudo as faixas extra, apercebi-me de que esta é a típica sonoridade de muitos clássicos do rock 'n roll dos anos oitenta, não apenas de Bryan. Realmente, não percebo de que se queixava ele em Kids Wanna Rock...

 

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Corre-se sempre um risco ao publicar faixas excluídas, como nesta edição espcial de trigésimo aniversário. Tirando casos de músicas que não se encaixam no conceito de um álbum, geralmente as músicas são deixadas de fora por algum motivo. É claro que o julgamento dos produtores dos discos pode nem sempre ser o melhor - recordemos que Run to You, Heaven e Summer of '69 estiveram perto de ser excluídas da tracklist.

 

Neste caso, considero que estas faixas extra são mais um presente para os fãs mais hardcore do que outra coisa qualquer, até porque a maior parte destas faixas não são propriamente inéditas. Fãs que, se calhar, foram ouvindo as regravações ao longo destes anos, desejando ouvir as versões na voz de Bryan - da mesma maneira como eu e outros desejámos ouvir Breakaway na voz de Avril Lavigne, felizmente durante menos tempo. Algumas delas mereciam fazer parte da tracklist original - sobretudo Teacher Teacher, Let Me Down Easy e Reckless - mais do que Ain't Gonna Cry. Também mereciam ter sido gravadas com mais qualidade. De qualquer forma, foi melhor saírem agora do que ficarem para sempre esquecidas em cassetes velhas numa gaveta qualquer.

 

Enfim, o álbum de covers já está, a reedição de Reckless também. Fica a faltar o álbum de originais. Nada tem sido dito em relação a esse álbum, o que me leva a suspeitar que ainda deverá levar algum tempo a ser editado. Espero que não demore demasiado tempo.

 

Quanto a nós, aqui no blogue, tenho uma série de entradas em fase de planeamento - uma já rascunhada - que tenciono escrever e publicar ao longo das próximas semanas. Continuem desse lado.

Bryan Adams - 30 anos de Reckless (2014) #4

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Quarta parte da análise da Reckless. Partes anteriores aqui, aqui e aqui. Nesta, acabamos a análise às músicas. 

 

14) Draw the Line

 

 

"If trouble's what you're looking for, well it's what you've found"

 

Esta é outra das break-up songs típicas entre as faixas extra, conforme já expliquei anteriormente. Tal como muita das faixas extra de Reckless, esta foi regravada por outros artistas. Neste caso, Ted Nugent gravou-a em 1984 para o seu álbum Penetrator (a sua versão difere da de Bryan e gosto das alterações). Alguns anos mais tarde, Paul Dean gravou-a para o seu álbum Hard Core, de 1989 - esta não difere tanto da versão original.

 

Para mim, Draw the Line é uma música mediana, que não desperta muito interessante. Daí que não discorde da decisão de excluí-la da edição original. Passemos à frente.

 

15) Play to Win

 

 

"Well now here's a twist, you better hit it babe"

 

Play to Win era uma faixa que, no início, não me dizia muito mas de que fui aprendendo a gostar. Tem um início interessante e também gosto da guitarra nesta música. Só não gosto mais de Play to Win porque se nota muito que é uma demo - os vocais de Bryan soam demasiado ásperos. Uma gravação com maior qualidade beneficiaria imenso a música. No entanto, visto que Bryan e Vallance não gostaram da música, é natural que não quisessem perder tempo gravando-a como deve ser.

 

Play to Win também foi regravada por outras pessoas. Deta feita, a banda Niles Dresden and the Pieces interpretou-a no filme Scenes from the Goldmine, de 1987. Segundo as (escassas) informações que encontrei na Internet sobre o filme, este centra-se numa jovem tecladista que se junta a uma banda de rock e se envolve com o vocalista até descobrir que este lhe rouba músicas. A letra de Play to Win parece condizer com o enredo. E eu até não desgosto da versão de Niles Dresden. É algo de que não nos podemos queixar: de uma maneira geral as re-interpretações destas músicas têm-lhes feito justiça.

 

16) Too Hot to Handle

 

 

"What she wants your money can't buy

She's just wants to be satisfied"

 

Justamente com Let Me Down Easy, esta é a única das faixas extra de Reckless que não foi regravada por nenhum outro artista. Vallance julga que ela foi composta para Tina Turner. O que faz sentido, tendo em conta a letra. Esta fala de uma mulher fora do vulgar, que não é materialista, não tem os sonhos frívolos de muitas mulheres. Uma mulher que está num nível diferente. Não vou dizer que a Tina Turner seja um exemplo, mas não me choca se a letra foi escrita a pensar nela. Tirando esse aspeto, Too Hot to Handle não se destaca grandemente.

 

17) Reckless 

 

 

"There's three sides to every story

Ya, there's your side, there's my side and then there's the truth"

 

A música que tem o mesmo nome que este álbum é a minha preferida das faixas extra. Não tanto pela letra - temos, mais uma vez, uma break up song em que a má da fita é a mulher - mais pela sonoridade. Esta não é particularmente única - fez-me lembrar um pouco o clássico dos Bon Jovi, U Give Love a Bad Name - mas parece-me melhor conseguida que a maior parte das faixas extra de Reckless. Pelo menos, é aquela de que mais gosto, com destaque para a guitarra rítmica.

 

Gosto particularmente do refrão: os três acordes por detrás da palavra "Reckless", seguidos do silenciamento das guitarras, só se ouvindo a bateria. Também gosto do crescendo em "Guess I'm a lot like you". Há que dizer, igualmente, que o pré-refrão ajuda, preparando o terreno.

 

Reckless também teve direito a uma regravação por artistas alheios. Desta feita, a honra coube à banda Loverboy que, no entanto, substituiu a palavra "Reckless" por "Dangerous". Disso não gostei muito pois, para além de Reckless ser o nome do álbum, tendo por isso um significado diferente, acho que "dangerous" não se encaixa da mesma forma na melodia, "reckless" sai mais espontâneamente. Tirando isso, nada tenho a apontar à versão dos Loverboy.

 

 

Reparo agora que esta é a minha centésima publicação neste blogue. Não dá muito jeito ser uma entrada de um conjunto de cinco dedicadas a um álbum. Se ao menos fosse a primeira ou a última da série... Em todo o caso, um agradecimento rápido a todos os que têm visitado o meu blogue. A mais cem entradas!

 

A próxima virá em breve, com as alegações finais sobre este álbum. Continuem por aí.

 

Bryan Adams - 30 anos de Reckless (2014) #3

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Terceira parte da análise à reedição de Reckless. Aqui, já entramos nas músicas extra.

 

9) Long Gone

 

 

"He says you get the house and the car

And I get the clothes I got on"

 

Esta faixa obedece àquela que acaba por ser a fórmula de Reckless em termos de sonoridade, já explicada anteriormente. Ao contrário de músicas como Somebody e It's Only Love, nem a sequência de acordes nem o solo de guitarra são particularmente memoráveis. A letra até tem a sua graça - fala de um divórcio em que a esposa ficou com tudo e o marido, o narrador, ficou "com as roupas que traz vestidas" - mas, tirando isso, a música não é nada de especial, sobretudo em comparação com os singles.

 

10) Ain't Gonna Cry

 

 

"I got reckless baby

Put you in your place

Next time maybe re-arrange your face"

 

Ain't Gonna Cry é provavelmente a faixa mais rápida, pesada e barulhenta de Reckless. Segundo Vallance, foi conmposta exclusivamente com esse intuito e realmente, com a sua letra superficial, a faixa não tenta ser mais do que isso. Tendo em conta essas declarações e as várias boas faixas que ficaram de fora, só agora publicadas, eu interrogo-me porque desperdiçaram um lugar na tracklist com uma música assim. 

 

Com isto terminamos as músicas da edição original de Reckless. Passemos às músicas extra da edição Deluxe, que eu desconhecia antes.

 

11) Let Me Down Easy

 

 

"All those years and you've got nothing to say

You turn around and walk away"

 

Segundo do booklet desta reedição de Reckless, esta música foi composta com a cantora Stevie Nicks em mente. Jim Vallance, contudo, alega que Let Me Down Easy esteve na fila para a tracklist final de Reckless. Se olharmos para os créditos, isso nota-se pois, ao contrário das outras faixas extra, que são apenas demos, os instrumentistas foram escolhidos com vista à edição desta música, não se limitaram a ser Bryan, Vallance e Keith. E eu tenho pena de que Let Me Down Easy não tenha conseguido lugar na edição original, pois gosto bastante dela. Julgo notar alguns ecos de músicas como Cuts Like a Knife e This Time. Suponho que esta seja a sonoridade típica do rock da altura.

 

Se olharmos para a letra destas músicas extra, repararemos que muitas são das chamadas break up songs. O que é curioso é que em todas essas, a mulher é a culpada. Porque o trai, porque é egoísta, porque é manipuladora, porque não liga ao pobre narrador. Para ser sincera, parece-me uma visão algo enviesada, devíamos ouvir o ponto de vista da mulher. Em todo o caso, Let Me Down Easy podia perfeitamente ter ocupado o lugar de Ain't Gonna Cry... mas já se fala melhor sobre isso. 

 

12) Teacher Teacher

 

 

"The joke's on those who believe the system's fair"

 

Segundo o site de Jim Vallance, Teacher Teacher foi composta para a comédia Teachers. Consta que o produtor gostou da demo que Vallance e Bryan gravaram - e que foi editada da versão Deluxe de Reckless - mas quis que fossem outras pessoas a interpretar a versão final. Acabou por ser a banda 38 Special. 

 

A música terá sido inspirada em Bad Case of Lovin' you, sobretudo pelos Doctor Doctor (bem me parecia que havia algo de familiar em Teacher Teacher). Tem também alguns ecos de Tonight e This Time, na minha opinião. A letra é inspirada, obviamente, em professores e no ensino, mas fico com a ideia de que tem mais significado do que parece. Pelo menos, deixou-me algo intrigada.

 

A versão dos 38 Special até é boa, mas esta é outra das músicas que podia perfeitamente ter sido lançada na edição original de Reckless. Também lamento não termos uma versão com mais qualidade na voz de Bryan. É certo que não foi culpa dele que o produtor de Teachers tenha querido outra banda para interpretar a canção, mas a versão dos 38 Special, devidamente gravada, tem algo que falta à demo. O que é uma pena.

 

13) The Boys Night Out

 

 

 "Well, i looked at Keith and Keith looked at me

And we stole that machine"

 

Esta é capaz de ser a música extra de que menos gosto. The Boys Night Out até tem um começo interessante, com o riff de abertura e os acordes nas estâncias. O meu problema é o refrão: demasiado gritado para o meu gosto, na minha opinião não se encaixa na música. Tal como se pode deduzir a partir do título, fala de uma noite de rambóia entre homens.

 

Bryan acabou por dar esta música à banda suíça Krokus, que a remodelou completamente, só ficando o refrão inalterado. Esta decisão na altura terá provocado polémica entre os colaboradores de Bryan. Vallance e o agente de Bryan, Bruce Allen, queriam que o cantautor canadiano ficasse com a música para si. Vallance chega mesmo a referir uma gritaria via telefone entre Bryan, Allen e o produtor dos Krokus, enquanto tentavam decidir quem ficaria com The Boys Night Out. Vallance continua a achar que Bryan devia ter ficado com a música mas eu discordo, pelos motivos que referi acima. O refrão soa muito melhor na versão da banda suíça. Não se perdeu muito. 

 

Mantenham-se ligados, faltam apenas quatro canções. Próxima parte em breve...

 

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Bryan Adams - 30 anos de Reckless (2014) #2

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Segunda parte da análise a Reckless (primeira parte aqui). Falemos agora de...

 

5) Somebody

 

 

 

"But when the silence leads to sorrow

We do it all again. All again!"

 

Somebody é um exemplo entre muitos de um conceito recorrente na discografia de Bryan: rock clássico sobre o amor. A letra não é, por isso, nada de especial, muito genérica, até inclui uma quadra sobre guerra que parece vinda do nada - segundo Vallance, era apenas ele e Bryan divertindo-se.

 

O grande ponto forte de Somebody é a sonoridade: o padrão de acordes F e G que caracteriza a música e que dá gozo de tocar na guitarra; o solo de Keith Scott, a melodia forte, cativante, a bateria. Um dos melhores momentos da música acaba por ser, precisamente, a sequência que se segue ao segundo refrão. Inicialmente, só se ouve a bateria e o baixo; mais tarde, juntam-se as guitarras elétricas. Pode não ter a letra mais memorável mas, pela sonoridade, Somebody é daquelas talhadas para concertos ao vivo.

 

6) Summer of '69

 

 

"Oh when I look back now

That summer seemed to last forever..."

 

Summer of '69 é, a par de (Everything I Do) I Do it For You, a primeira música que vem à mente da maioria quando se fala de Bryan Adams. Na verdade, pessoalmente considero que Summer of '69 está para Bryan como Sk8er Boi está para Avril Lavigne. Por vários motivos. Para começar ambas são músicas icónicas do pop rock, com riffs e solos de guitarra que as identificam. Ambas contam uma história em que um dos protagonistas é guitarrista de rock. E ambas apresentam algumas semelhanças na estrutura.

 

No caso de Summer of '69, a letra recorda um romance de versão passado. Muitos debatem se 69 se refere ao ano ou à posição sexual. Pelo que escreveu no seu site, deduz-se que Vallance, o co-compositor, se refere ao ano. Bryan, contudo, diz que é sobre a posição sexual (demorei vários abençoados anos a perceber ao certo do que falavam...) ou, de uma maneira mais politicamente correta, "sobre fazer amor durante o verão". Em todo o caso, a minha mãe não precisa de saber sobre a interpretação de Bryan, ela que continue a pensar no ano de 1969. 

 

 

Em tinha incluído Summer of '69 nas músicas que estiveram perto de ser excluídas do álbum Reckless. No caso desta, tal deveu-se ao facto de a equipa achar que não estava a conseguir acertar no arranjo musical (uma das primeiras versões, por exemplo, começa com o riff característico da música). Consta que regravaram a música mais umas três ou quatro vezes antes de, finalmente, se decidirem por esta, mesmo continuando com reticências. Tanto Vallance como Bryan, contudo, hoje admitem que não percebem que reservas eram essas pois, obviamente, a música é espetacular. Gosto particularmente da sequência entre "I guess nothing can last forever. Forever. No" e "And now the times are changin'", em que há um chamado breakdown, em que só se ouve o riff (tocado numa guitarra de doze cordas), com a bateria e os acordes marcando o início de cada compasso; no fim, a bateria dá um pequeno solo antes de introduzir a estrofe seguinte.

 

Em suma, apesar de não ser das minhas preferidas de Bryan, Summer of '69 é daquelas músicas absolutamente clássicas, sacrossantas, que estão num patamar diferente, acima de toda a crítica. 

 

7) Kids Wanna Rock

 

 

"Musta turned the dial for a couple of miles

But I couldn't find no rock 'n roll"

 

Ainda não percebi se Kids Wanna Rock foi lançado como single ou não mas, na minha mente, como já o conhecia antes de ouvir Reckless pela primeira vez, considero-o um dos singles e, deste grupo, é provavelmente o menos pop, o mais barulhento, o mais rebelde. A letra é uma crítica à subvalorização do rock em detrimento de sons mais disco ou, como diz a letra, "computerized crap". O mais irónico é que esta música foi lançada nos anos 80, que disfrutaram de bandas de rock fantásticas (Bon Jovi, U2, Aerosmith, Queen...) - Bryan queixava-se de barriga cheia. Agora, trinta anos depois, é que, como diz a letra, percorremos toda a frequência FM e, em vez de rock, é mais provável encontrarmos sons eletrónicos (apesar de já ter gostado menos deste estilo musical). Já não me parece que "os miúdos queiram rock". Isto é... talvez queiram, a indústria musical é que não.

 

Azias roqueiras à parte, Kids Wanna Rock, contudo, rezava que "de tempos em tempos as pessoas mudam de ideias, mas a música veio para ficar" ("from time to time people change their minds, but music is here to stay"). E hoje, trinta anos depois, tal confirma-se. Pode não ser exatamente da maneira que desejaríamos mas a música em si tão cedo não irá a lado nenhum.

 

8) It's Only Love

 

  

"When you're world has been shattered

Ain't nothin' else matters

It ain't over - it's only love

And that's all"

 

It's Only Love é um fogoso dueto entre Bryan e Tina Turner. Ou melhor, muitos consideram esta faixa um dueto entre Bryan e Tina, eu considero esta um trabalho a três, sendo o guitarrista Keith Scott o terceiro elemento - ou melhor a sua guitarra. Tal como muitas músicas deste álbum, It's Only Love tem o seu padrão de guitarra que guia quase toda a sua música, definindo o seu carácter e tornando-a absolutamente irresistível. A letra de It's Only love não é nada de especial - passa despercebida por entre a grandiosidade de tudo o resto. It's Only Love alterna entre vocais, ora de Bryan ora de Tina, e a guitarra de Keith, a terceira voz. Como toda a gente sabe, Tina tem uma voz poderosa, ardente, e desempenha bem o seu papel em It's Only Love. Ela e Bryan apresentam uma química flamejante, conforme se pode ver no vídeo acima.

 

 

Apesar de serem poucas as vezes em que Tina se junta a Bryan em palco, It's Only Love não deixa de ser um ponto alto em concertos - muito porque representa uma oportunidade para Keith exibir os seus dotes como guitarrista e... enlouquecer um bocadinho, como podem ver no vídeo acima. Este concerto ocorreu em 2005, faz parte do DVD Live in Lisbon, mas quando eu fui ao concerto de 2011, se é possível acreditar, ele estava ainda mais amalucado, com autênticos bichos carpinteiros. Para mim, Keith é um dos melhores guitarristas do Mundo (melhor, só talvez Carlos Santana) e, na minha opinião a carreira de Bryan não teria sido a mesma se ele não tivesse enriquecido as músicas dele com solos fantásticos. It's Only Love é, talvez, o melhor exemplo disso.

 

Também ajuda o facto de ele oferecer momentos como este.

 

 

Muito bem, por agora chega, terceira parte em breve.

 

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