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Álbum de Testamentos

"Como é possível alguém ter tanta palavra?" – Ivo dos Hybrid Theory PT

Músicas Não Tão Ao Calhas - Hard Times

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Em janeiro de 2013, estreava aqui no blogue a rubrica Músicas Não Tão Ao Calhas. Nela, escrevo sobre músicas inéditas que os meus artistas preferidos vão lançando – na maior parte das vezes singles antes de álbuns, mas não só. A minha primeira entrada de Músicas Não Tão Ao Calhas foi sobre Now, o primeiro single do quarto álbum dos Paramore – aquele que ficou conhecido por The Self-Titled. Hoje, mais de quatro anos depois, volto a escrever sobre o primeiro single de um álbum dos Paramore – é um ciclo que se fecha.

 

Infelizmente, este ciclo nem sempre foi fácil para a banda. O início até nem foi mau. O Self-Titled é um álbum excelente, mudou por completo a maneira como encaro a vida. Graças a Deus, teve o devido reconhecimento em termos comerciais: foi platina e teve dois singles de sucesso: Still into You e Ain’t it Fun. A segunda ganhou um merecidíssimo Grammy. O ciclo desse álbum durou até meados de 2015, terminando com a digressão Writing the Future.

 

No entanto, em finais de 2015, a banda anunciou a partida do baixista Jeremy Davis. Desde essa altura, os Paramore têm passado por… bem, tempos difíceis.

 

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Ainda não tive oportunidade para escrever sobre a desistência de Jeremy. Custou-me, para ser sincera, ainda me custa. Nos primeiros tempos, ainda pensei/esperei que tivesse sido uma “rescisão” amigável, que ele tivesse partido porque tem uma filha e não pode andar em digressão.

 

Essa ilusão não durou muito. Meses depois surgiram notícias de que Jeremy e a banda estavam envolvidos numa disputa judicial, alegadamente devido a honorários da música e dos concertos. Como o processo ainda está em decurso, ainda não foi divulgada oficialmente a razão da partida de Jeremy. A ideia com que fico – e posso estar errada – é que, no centro disto tudo, está aquele três vezes maldito contrato celebrado, algures em 2005, entre a Atlantic Records e Hayley Williams, excluindo os restantes membros da banda. O mesmo contrato que já tinha sido um dos motivos para a partida dos irmãos Farro, em finais de 2010.

 

Toda esta história dá-me vontade de bater com a cabeça numa parede. Aquando do Self-Titled, a ideia que os Paramore davam era de que a banda tinha resolvido os seus problemas, aprendido com os erros cometidos. O trio estava mais forte, mais unido do que nunca, capaz de sobreviver a tudo. Eu acreditei nisso. Talvez os próprios membros da banda acreditassem nisso.

 

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Mas a verdade é que não devia ter ficado surpreendida. A banda nunca teve estabilidade – desde a ausência de Jeremy das gravações de All We Know Is Falling, passando pela saída dos irmãos Farro, e agora isto. A verdade é que Hayley tem sido a única constante em Paramore (ainda que Taylor só não se tenha juntado oficialmente à banda até depois do lançamento de Riot! porque os seus pais não deixaram). Por um lado, toda a gente sabe que Hayley podia, desde o início, optado por uma carreira a solo. Se não o fez até agora é porque, obviamente, não o quer. Por outro lado, para os membros estarem sempre a entrar e a sair, alguma coisa não está bem.

 

Não quero pensar que Hayley seja o problema. Ela parece ser uma miúda simpática, com valores parecidos com os meus – aliás, é atualmente uma das minhas pessoas preferidas no mundo da música. Mas como não a conheço pessoalmente, não dá para ter a certeza.

 

Nestas alturas, a música Pressure, do primeiro álbum, faz mais sentido do que nunca.

 

 

Em defesa deles, os membros da banda parecem tão frustrados com esta história toda como eu. Ainda mais, já que esta é a vida deles. Hayley tem referido várias vezes que pensou em desistir. Disse que os Paramore parecem mais uma novela do que uma banda, que estava farta de perder amigos e de se questionar sobre o que estava a fazer de errado. Considerou várias alternativas: dedicar-se à sua linha de tintas para o cabelo, ter uma família (ela casou-se no ano passado), compôr para outras pessoas, começar um projeto diferente com Taylor.

 

Terá sido este último a salvar os Paramore, segundo Hayley. Taylor disse-lhe que a apoiaria independentemente da decisão que ela tomasse relativamente à banda. Isso aliviou a pressão sobre Hayley – que, no meio desta história toda, chegou a debater-se com depressão e ansiedade. Assim, os dois foram compondo música a pouco e pouco.

 

Entretanto, Taylor chamou Zac, o mais novo dos irmãos Farro, para tocar bateria no álbum novo. Inicialmente, veio apenas como músico contratado. Ao fim de algum tempo, Taylor convidou Zac para regressar oficialmente à banda. Ele disse que sim.

 

Toda a gente ficou feliz, como seria de esperar. Em primeiro lugar, Zac é um ótimo baterista e sentiu-se a falta dele em certos momentos do Self-Titled. A música dos Paramore fica a ganhar. Além disso, eu mesma referi, há pouco mais de dois anos, que tinha esperanças de que, um dia, os irmãos Farro regressassem. Cinquenta por cento desse desejo já se realizou.

 

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Mas fica um amargo de boca por Jeremy já lá não estar.

 

Os membros da banda chegaram mesmo a dizer que já não sabem muito bem por que os Paramore continuam a ser uma banda. Nesta altura, deve ser só por nós, os fãs – porque eles sabem que a música deles é uma das coisas que nos ajuda a sobreviver. Eu, apesar de tudo, fico grata por isso. E, agora, teremos um álbum novinho em folha daqui a menos de duas semanas.

 

Suponho que haja uma qualquer metáfora para a vida no meio desta história toda. Talvez seja assim que as coisas funcionem: uma batalha sem fim, com perdas e ganhos, cometendo os mesmos erros, sempre a desfazermo-nos e a reconstruirmo-nos outra vez, sempre a aprendermos. Uma pessoa vai continuando, às vezes só por causa daqueles que ama, às vezes só porque… qual é a alternativa?

 

 

Gonna make you wonder why you even try

 

Com isto tudo, vamos quase em mil palavras e ainda nem sequer falámos de Hard Times. Mas eu tinha de escrever sobre as aventuras e desventuras dos Paramore nestes últimos anos porque, na minha opinião, a letra da música fala sobre elas. As estâncias falam claramente sobre depressão, com referências a um buraco onde nos enfiar até os nossos problemas terem desaparecido e a uma nuvem negra que nos segue para todo o lado. No refrão, questiona-se mesmo como é que se consegue aguentar tudo isto e continuar.

 

Na verdade, a letra de Hard Times não me impressiona por aí além. Não me interpretem mal, não a acho má. É, aliás, melhor que muito do que se ouve por aí. No entanto, cai muito nos clichés habituais de Paramore. Por exemplo, o primeiro verso (“All that I want is to wake up fine”) remete para Last Hope – “Every night I try my best to dream tomorrow makes it better”. “Tell me that I’m alright” recorda-me Tell Me It’s Okay. Os versos “And I’m gonna get to rock bottom!” e “We’ll kick it when I hit the ground” fazem lembrar Turn It Off: “I’m better off when I hit the bottom”. Eu podia continuar. Não há nada na letra de Hard Times que não tenhamos ouvido antes, o que é uma pena.

 

Isso, de resto, é a única falha que tenho a apontar a Hard Times – e nem sequer a acho grave no primeiro single de um álbum novo. A letra pode não trazer nada de novo, mas o mesmo não se passa com o acompanhamento musical. Depois de músicas como Grow Up, Still into You e Ain’t it Fun, Hard Times parece lógica como o passo seguinte. À semelhança de Ain’t it Fun, Hard Times começa com notas de xilofone, que são rapidamente substituídas por notas de guitarra – são estas as responsáveis pelo ritmo dançante da música. Ouvem-se também algo que se assemelha a tambores africanos, algo que se mantém durante toda a faixa. A bateria de Zac dá personalidade à música (sobretudo numa altura em que este instrumento está em vias de extinção). No refrão, noto elementos de Daft Punk - sensação que se reforça no fim da música, com os vocais distorcidos.

 

Não sei se o mesmo aconteceu com vocês, mas eu demorei algum tempo a decifrar esses vocais. Se não estou em erro, dizem “Makes you wonder why you even try” e “Still don’t know how I even survive”. Em suma, em termos musicais, à semelhança das melhores músicas do Self-Titled, Hard Times conjuga vários elementos de forma primorosa, podendo-se ouvir a contribuição de cada membro da banda. Eu gosto. Não estou propriamente caída de quatro, mas também não estava por Now quando esta foi lançada e, com o tempo, a música foi ganhando novos significados. Estou certa de que o mesmo acontecerá com Hard Times. Sobretudo quando puder ouvi-la no contexto do álbum. Para já, espero que não demore muito a chegar às rádios portuguesas.

 

 

O quinto álbum dos Paramore chama-se, então, After Laughter, e sai dia 12 de maio. Sim, daqui a menos de duas semanas. Confesso que fiquei estonteada com esse anúncio, ainda estou. Um dia, tínhamos a vaga ideia de que os Paramore estariam a trabalhar num álbum, algumas pistas como músicas registadas no site da ASCAP. No dia seguinte, temos nome, capa, tracklist, data de lançamento, primeiro single com videoclipe e pessoas que já ouviram o álbum (inveja!). Tendo em conta que os álbuns da Avril Lavigne têm sempre um parto longo e complicado (e o sexto álbum não está a ser exceção), esta é uma alternativa atordoante, mas muito mais agradável.

 

Segundo Hayley, o título After Laughter (a melhor tradução que me ocorre é “Pós-riso”) refere-se àquele momento após uma gargalhada em que regressamos à realidade. Dá para ver, assim, que este álbum vai ser animado… só que não. Quem já ouviu o álbum dá a entender que o resto será semelhante a Hard Times. Ou seja, os Paramore vão fazer o que fazem desde o início da sua carreira: queixar-se da vida. A diferença é que, enquanto antes, Paramore depressivo equivalia a guitarras pesadas e estética emo, agora equivale a música rítmica, falsamente alegre (o nome de uma das faixas novas é Fake Happy, por sinal), e tons pastel.

 

Gostava de chamar a atenção para o símbolo no centro da capa: as barras de néon que criam uma ilusão de ótica, de modo que não sabemos se são duas ou três. É obviamente uma variante do símbolo que a banda adotou em 2011, uma provável alusão à recente troca de membros. Eu, de qualquer forma, gosto imenso deste símbolo. Já encomendei, até, um dos conjuntos de merchandising da banda que inclui uma t-shirt preta com este símbolo, para além do álbum em CD (uma encomenda que, admito, foi para aí quarenta por cento impulso).

 

Havemos de falar mais sobre os Paramore quando analisar o resto de After Laughter. Ainda não decidi se analiso faixa por faixa, por ordem crescente de preferência, ou se analiso em texto corrido. Mas vou tentar publicá-la não muito depois do lançamento do álbum. Entretanto, vou ganhar vergonha na cara e ver se acabo e publico de vez a análise ao quarto filme de Digimon Adventure Tri.

Não sejam idiotas. Vacinem as vossas crianças!

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Por estes dias, existem duas coisas que me irritam mais do que qualquer outra no Mundo. Uma delas é Donald Trump e tudo o que ele representa. Outra é a moda de não vacinar as crianças. Esta última é um dos assuntos da moda, tendo em conta o recente surto de sarampo que provocou a morte de uma adolescente não-vacinada. Sendo algo relacionado com a minha área - Ciências Farmacêuticas - achei por bem escrever sobre o assunto.

 

Começo por admitir um viés: eu tendo a ser pró-Medicina Tradicional e pró-Indústria Farmacêutica. Para além de ser de Ciências Farmacêuticas e ter tirado um curso em Ensaios Clínicos, tenho pais médicos. É uma questão de educação, em suma. Fui sempre uma mulher de Ciência. Não desvalorizo as medicinas alternativas, mas confio menos nelas que na Medicina Tradicional.

 

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Não quero com isto dizer que a Medicina e a Indústria Farmacêutica sejam isentas de corrupção - nada o é neste mundo. No entanto, o público em geral não parece ter noção de quanta fiscalização e controlo existe na Indústria Farmacêutica. Na minha primeira aula de Farmacologia, o meu professor - julgo que foi o professor Hélder Mota-Filipe, que chegou a ser presidente do Infarmed - afirmou mesmo que o setor farmacêutico é um dos mais regulados, a par do setor da aviação civil. Nenhum medicamento ou dispositivo médico é lançado no mercado sem ser sujeito a uma infinidade de controlos e avaliações (aquando do fabrico, dos ensaios clínicos, etc). Ou seja, dificilmente lançam produtos sem eficácia e/ou com níveis de toxicidade inaceitáveis. Mesmo depois de o medicamento ter entrado no mercado, continua a haver monitorização constante de possíveis efeitos secundários.

 

E este sistema, bem como a Medicina em geral, por muitos defeitos que tenha, permitiram aumentar imenso a nossa esperança média de vida, qualidade de vida em geral e reduzir a nossa mortalidade infantil. Cá em Portugal, aliás, temos mais sorte que uma boa parte do Mundo, com o nosso Sistema Nacional de Saúde tendencialmente gratuito. Este pode já ter visto melhores dias, mas ainda permite, entre outros benefícios, cem por cento de comparticipação nos medicamentos para o HIV. Tendo em conta que foram estes medicamentos que permitiram transformar a SIDA numa doença crónica, que não mata, sim, isto é um enorme benefício.

 

Como tal, irrita-me solenemente quando as pessoas não dão o devido valor à Medicina. Ainda mais quando desdenham abertamente dela. A moda de não vacinar as criancinhas é o expoente máximo dessa filosofia.

 

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Antes de mais nada, uma breve explicação sobre como funcionam as vacinas - acho que, no meio da polémica toda, ainda ninguém o explicou como deve ser. Quando o nosso organismo é infetado por um determinado agente patogénico (um vírus, uma bactéria, etc) pela primeira vez, a resposta do sistema imunitário - resposta primária - é relativamente lenta e pouco intensa. Aquando desse primeiro contacto e “combate” com o agente patogénico, são criadas células de memória. Estas guardam a informação específica sobre esse agente patogénico durante vários anos, às vezes mesmo durante a vida toda. Assim, quando ocorre uma segunda infeção pelo mesmo agente patogénico, uma vez que o sistema imunitário já o “conhece” e sabe tudo sobre ele, graças às tais células de memória, a resposta - resposta secundária - é muito mais rápida e intensa. Podemos nem sequer desenvolver sintomas da doença em questão.

 

Ora, o que as vacinas fazem é explorar as potencialidades dessas células de memória. As vacinas contém, ou o agente patogénico que queremos combater numa versão atenuada, ou partículas desse agente. O objetivo é que estas provoquem uma resposta primária por parte do sistema imunitário. Como usamos uma versão bem mais suave do agente patogénico em questão, ou partes dele, não ficamos doentes (embora certas vacinas, como a do tétano, possam provocar alguma reação). No entanto, se tudo funcionar como deve ser, a resposta do sistema imunitário será o suficiente para criar células de memória.

 

Depois disso, quando ocorrer uma infeção a sério por parte desse agente, o sistema imunitário pensará que é uma segunda infeção e partirá de imediato para a resposta secundária. Assim, desenvolvemos menos sintomas da doença em questão - ou não a desenvolvemos de todo.

 

Tem-se também falado, por estes dias, da imunidade de grupo. Passo também a explicar esse conceito.

 

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Existem pessoas que não podem ser vacinadas, por motivos de saúde: pessoas imunossuprimidas, que sofrem de cancro ou que desenvolvem reações alérgicas a um qualquer componente da vacina. Consta que a bebé de treze meses que terá começado o surto e a jovem de dezassete anos que morreu não foram vacinadas por motivos de saúde.  

 

Nesses casos, é importante que as pessoas em redor desses indivíduos estejam vacinadas. Porquê? Porque, como o sistema imunitário delas combate rapidamente o agente patogénico em questão, é menos provável que contagiem uma pessoa não-vacinada.

 

Como podem ver, a decisão de vacinarem ou não os vossos filhos afeta-nos a todos. As vacinas são uma das principais razões pelas quais temos a longevidade e a qualidade de vida que temos hoje, tal como referi acima. Ajudam a prevenir doenças devastadoras como, lá está, o sarampo (cujas complicações incluem cegueira, pneumonia e encefalite - as duas últimas são, frequentemente, fatais), a tuberculose, a tosse convulsa, a difteria, a febre-amarela, a poliomielite (que pode provocar paralisia), a papeira e a rubéola (que, se contraída durante a gravidez, pode provocar malformações, abortos espontâneos e nados-mortos). Os programas de vacinação em países subdesenvolvidos têm tido resultados fantásticos - na Guiné-Bissau, por exemplo, ajudaram a reduzir a mortalidade infantil de cinquenta para sete por cento. Aliás, a UNICEF acaba de revelar que a vacinação reduziu em oitenta e cinco por cento a morte de crianças com menos de cinco anos.

 

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Eu não gosto de tecer juízos de valor sobre as capacidades parentais de ninguém quando nem sequer sou mãe. Mas que pai ou mãe nega este tipo de proteção aos seus filhos? Quem é que permite que os seus filhos corram o risco de contrair doenças como estas?

 

Claro que existem riscos na vacinação, como existem em qualquer medicamento ou dispositivo médico. Um princípio que aprendemos outra e outra vez no curso de Ciências Farmacêuticas reza que tudo é um veneno, depende apenas da dose. Mesmo assim, tirando reações alérgicas graves (como, segundo consta, seria o caso da jovem que morreu) ou caso estejam imunossuprimidos, não vejo que malefícios suplantam o risco de contrair poliomielite ou tosse convulsa. Mesmo que as vacinas causassem autismo, como se chegou a alegar - e já foi mais que provado que esse estudo foi a mãe de todas as fraudes - arrisco-me a dizer que prefiro ter um filho autista do que um filho morto.

 

Ainda não conheci pessoalmente nenhum anti-vacinas confesso e militante, mas, se vier a conhecer, não devo conseguir evitar dizer-lhes umas quantas verdades. Com o devido respeito, estas pessoas julgam-se melhor informadas que médicos, enfermeiros, farmacêuticos, cientistas? Pessoas que estudam durante anos, investigam durante anos? Cujas descobertas têm se ser revistas por outros investigadores antes de serem publicadas? Um estudo aldrabado e uns quantos blogues manhosos valem mais que séculos de Medicina?

 

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A verdade é que estamos a entrar em tempos perigosos, dos chamados “factos alternativos”, em que confundimos verdade com opinião. Não foi por acaso que, no fim de semana passado, se realizou uma marcha pela Ciência em diversos pontos do Mundo, Portugal incluído. A ignorância e a arrogância unidas são catastróficas. Eu tenho medo de viver num mundo assim.

 

Mas regressemos às vacinas. Se a decisão de não vacinar afetasse exclusivamente o decisor, ninguém se ralava. Infelizmente, a decisão afeta crianças - não apenas os filhos dos decisores, os filhos de muitos outros também. Seriam capazes de viver com a vossa consciência se o vosso filho morresse só porque vocês não querem vaciná-lo? Querem mesmo correr esse risco?

 

Não sejam idiotas. Oiçam os médicos, enfermeiros e farmacêuticos. Vacinem as vossas crianças!

 

Alguns dos artigos que consultei, só para verem que não estou a inventar nada.

 

 

15 Conselhos sobre Escrita (para blogues e não só!) #3

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Estes são os últimos cinco dos meus quinze conselhos sobre escrita, que começaram aqui. Seguimos, então, para o décimo-primeiro...

 

11) A Internet está cheia de dicas para escritores...

 

Muitos dos conselhos que tenho deixado aqui foram obtidos da Internet. E nem sequer é preciso procurar muito. Se forem ao Google e pesquisarem “Conselhos de Escrita” ou “Writing Advice”, encontram logo uma série de citações de autores prestigiados sobre escrita (com um bocadinho de sorte, estas publicações hão de aparecer algures entre os resultados). Encontrarão, com relativa facilidade, conselhos generalistas, como aqueles que tenho listado aqui, e outros mais específicos e complexos. Qualquer dúvida que tenham, poderá ser esclarecida.

 

Também encontrarão os tais bancos de ideias e exercícios de escrita, que referi aquando do meu primeiro conselho.

 

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Uma das minhas fontes preferidas de conselhos de escrita é o blogue de Rachel Aaron. Já referi os livros dela algumas vezes, nas minhas respostas a tags sobre livros, mas não foi através deles que a descobri. Foi através de um texto viral que ela escreveu há uns anos, sobre como foi capaz de atingir a marca das dez mil palavras por dia. Desde mais ou menos essa altura, tenho seguido o blogue dela e aprendido imenso sobre escrita, desde planear livros, desenvolver personagens, escrever diálogos, editar livros, entre muitas outras coisas.

 

O reverso da medalha é que tenho vindo a descobrir que fiz quase tudo mal com o meu primeiro livro.

 

Em todo o caso, recomendo fortemente o blogue dela a todos aqueles que escrevam, sobretudo ficção, ou que aspiram a isso.

 

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Outra fonte que já sigo há anos é a conta de Twitter Advice to Writers. Esta conta está constantemente a partilhar citações/conselhos de escritores publicados – foi assim que encontrei as citações de J.K.Rowling, Nora Roberts e Geoff Dyer que referi antes. Partilha, também, entrevistas a escritores, perguntando-lhes sempre como começaram a escrever, as suas influências e, lá está, conselhos para combater o bloqueio de escritor.

 

Deem uma espreitadela, mas tenham em conta o conselho seguinte.

 

 

12)As dicas para escritores são diretrizes, não regras.

 

 

 ...incluindo as minhas. Cada escritor é diferente, cada texto ou livro é diferente. Como tal, certos conselhos de escrita são isso mesmo: conselhos, diretrizes. Não são regras ou ordens. Vocês estão à vontade para não os seguirem.

 

Um exemplo é a minha preferência por escrever à mão primeiro em vez de diretamente no computador. Sei de vários escritores que não conseguem trabalhar assim. Do mesmo modo, existem escritores, como Stephen King, que não planeiam livros, sentam-se pura e simplesmente a escrever, e outros, como J.K.Rowling, que os planeiam minuciosamente (podem ver o plano de Rowling para Harry Potter e a Ordem da Fénix abaixo). Sei também que muitos escritores não seriam capazes de escrever em cafés ou em bancos do jardim enquanto passeiam a cadela, como eu.

 

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Encarem qualquer conselho de escrita, meu incluído, com espírito crítico. Neste texto, estou só a referir métodos que funcionam comigo – não é obrigatório que funcione para toda a gente. Na minha opinião, vale sempre a pena saber como é que outros escritores trabalham e, de vez em quando, experimentar um truque novo. Não têm nada a perder. Se não resultar, não faz mal – tal como disse Thomas Edison, descobriram uma maneira que não funciona.

 

13) Talento (se é que existe) é sobrevalorizado.

 

Este vem em linha com o meu quarto conselho. Pelo menos no que toca à escrita, não acredito em talento – talento no sentido de uma capacidade inata. Nem eu nem ninguém nasce com jeito para a escrita. Quando andava na escola, em vários anos escolares, Português era (tirando Educação Física) a disciplina em que tirava piores notas – e, com uma única exceção, não tive maus professores, bem pelo contrário. Se nasci com alguma coisa, foi com boa imaginação, tendência para sonhar acordada, gosto por histórias e ficção em geral e paixão pelo acto de escrever.

 

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Foi essa paixão que me fez começar a escrever quando tinha sete ou oito anos. Era – ainda é – algo que fazia por prazer, algo que fazia quando devia estar a prestar atenção às aulas ou a fazer os trabalhos de casa. E, sem dar conta, fui colocando o conselho número quatro em prática. Só se aprende a escrever escrevendo – não há volta a dar.

 

Não acreditem, por isso, que só uma mão-cheia de indivíduos, abençoados por Deus Nosso Senhor, génios de nascença, é que podem ser escritores. Podem existir uns quantos com maior facilidade em aprender, maior gosto pela escrita, mas qualquer um pode ser escritor. Desde que esteja disposto a trabalhar nisso, a escrever e a aprender – o que nem sempre é fácil.

 

14) Só serão fracassos se desistirem de escrever.

 

Conforme acabei de referir, ninguém nasce sabendo escrever obras-primas/best-selleres. Ser escritor dá trabalho. E podem... não, vão existir alturas em que ser escritor dá demasiado trabalho, é demasiado difícil. Alturas em que não escrevemos durante dias, semanas, meses ou anos, por um motivo ou por outro. Manuscritos rejeitados por editoras ou blogues que não recebem visitas. É muito fácil deixarmo-nos abater por coisas como estas, sentirmo-nos uns falhados.

 

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No entanto, tal como Rachel Aaron, mais uma vez, me ensinou, na escrita, só falhamos quando desistimos por completo de escrever. Conforme tenho repetido inúmeras vezes ao longo deste texto, uma pessoa aprende a escrever escrevendo. Enquanto continuarmos a escrever, continuaremos a crescer como escritores – não que a escrita se torne mais fácil. Desde que regressem sempre, mesmo após uma longa ausência, não falharão.

 

15) Quando quiserem desistir, lembrem-se porque começaram.

 

Confesso que, de uma maneira geral, a parte de nunca parar de escrever é fácil para mim. Conforme já referi amiudadas vezes aqui no blogue, escrever é-me quase uma necessidade fisiológica. Tenho alturas em que a escrita é a única que me dá um propósito. Dito isto, também é verdade que, às vezes, quando ando em baixo, escrevo menos material publicável.

 

No entanto, já tive um momento em que me apeteceu desistir. Certa noite há uns anos, li uma notícia sobre uma escritora de vinte e um anos de idade, que seria “a próxima J.K.Rowling”. Hoje desconfiaria de rótulos como esse – até porque a previsão claramente não se confirmou – mas, na altura, acreditei. Comecei a comparar-me com a tal autora e afundei-me em autocomiseração.

 

Felizmente não fiquei nesse buraco por muito tempo. Comecei a pensar nas minhas primeiras histórias em miúda – aquelas que escrevia à socapa nas aulas, cujos rascunhos escondia no meio dos livros ou do dossier – nos meus diários, nas tardes gastas passando essas histórias para o computador enquanto ouvia música, a tal fan fiction que me fez apaixonar pela escrita de ficção em geral (não sei se cheguei mesmo a relê-la nessa noite). E a neura passou-me.

 

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Isto é um daqueles conselhos que, de vez em quando, aparece no Facebook mas, como podem ver, funciona: quando vos apetecer desistir, lembrem-se porque começaram. Lembrem-se do que vos motiva a escrever. Talvez tenham coisas a dizer, histórias para contar. Talvez a escrita seja, como a arte em geral, a vossa maneira de decifrarem o mundo e a vida, de desabafarem, de se ligarem a outras pessoas.

 

Se o vosso desejo, por outro lado, é ganhar fama e fortuna à custa da escrita… bem, com livros, esqueçam, existem maneiras mais fáceis de enriquecer. Com blogues, talvez seja possível, mas não sou a melhor pessoa para vos dizer como. A blogosfera está cheia de conselhos sobre isso.

 

Seja ela qual for, a vossa motivação tem de estar sempre presente nas vossas cabeças. Será ela que vos ajudará a suportar as partes mais difíceis da escrita, fazendo com que nunca desistam dela. Não definitivamente, pelo menos. Continuem a escrever e pode ser que, um dia, consigam aquilo que desejam.

 

 

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E são estes os meus conselhos. Ironicamente, muitos dos problemas para os quais dei soluções manifestaram-se enquanto escrevi este texto. No meu primeiro rascunho, saltei muitos parágrafos e tive de escrevê-los mais tarde. Houve uns quantos outros que tive de cortar do rascunho inicial, outros que tive de reescrever. Pelo meio, pratiquei muita, mas mesmo muita rotação de culturas.

 

Só prova que tudo o que referi neste texto é verdade: escrever dá trabalho.

 

Apesar de já escrever há quase vinte anos, estou longe de ser uma escritora exemplar. Ainda estou a tentar corrigir muitos dos meus vícios: frases demasiado compridas, parágrafos demasiado compridos, linguagem demasiado complexa, por vezes, abuso de advérbios e de outras palavras de estimação. Também isto faz parte do processo: como em tudo na vida, estamos sempre a aprender.

 

Espero que estes meus conselhos vos ajudem na vossa escrita, seja ela qual for. Se vocês tiverem alguma dica a acrescentar, partilhem-na nos comentários. Continuem desse lado, se quiserem ver o resultado destes conselhos aplicados à prática.

  

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15 Conselhos sobre Escrita (para blogues e não só!) #2

Hoje, continuamos a dar dicas para contornar o bloqueio de escritor. Podem ler as anteriores aqui.

 

6) Experimentem escrever em sítios diferentes.

 

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Hoje em dia, é muito raro eu escrever em casa. Passo rascunhos para o meu computador, sim, mas geralmente existem demasiadas distrações para escrever mesmo. Como referi antes, os cafés são dos meus sítios preferidos. Julgo que também referi noutra ocasião que outros dos meus locais preferidos são bancos de jardim. Hoje em dia, como tenho uma cadela, ela acompanha-me nessas ocasiões. Os nossos passeios chegam a incluir diversas paragens, primeiro numa esplanada, depois em diversos bancos. Para um cão, ela até fica bastante sossegada enquanto escrevo. É claro que não posso ficar parada durante muito tempo, mas, tendo em conta o que referi no ponto anterior, isso até resulta bem comigo.

 

Como é do conhecimento geral, a escrita é uma atividade solitária.  Isso pode tornar-se um fardo. Por norma, a solidão não me incomoda particularmente, mas não gosto de ficar em casa o dia todo. Assim, ir mudando de local de trabalho pode tornar a escrita muito mais agradável.

 

 

7) Facilitem o começo ou o recomeço.

 

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Na escrita, o mais difícil é começar. Por muito que planeie os meus textos, conforme referi antes, continua a assaltar-me o medo da página em branco, às vezes. No entanto, por norma, basta-me começar a escrever, mesmo que sejam duas ou três frases mal amanhadas, para entrar no ritmo e as palavras começarem a fluir levemente da minha caneta.

 

Porque acham que começo quase todos os textos do meu outro blogue da mesma forma? (“No próximo dia X, a Seleção Portuguesa de Futebol recebe a sua congénere Y, no estádio Z...”) Porque o facto de ter uma estrutura mais ou menos fixa para o primeiro parágrafo me ajuda a começar a escrever esses textos.

 

Quando isso acontece, quando se consegue fazer com que a escrita flua, o ideal seria continuar a escrever, a escrever, sem nunca parar – algo que, naturalmente, não é possível. Ou temos de parar, por um motivo ou por outro, ou o ritmo, pura e simplesmente, arrefece ao fim de algum tempo. E existe sempre o risco de voltarmos a ter um arranque difícil da próxima vez que formos escrever.

 

Para evitar esses arranques difíceis, aquilo que procuro fazer quando páro de escrever é certificar-me de que saberei como começar da próxima vez. Uma maneira de fazer isso é deixar dois ou três tópicos, sintetizando o que vou escrever nos parágrafos seguintes (faço muito isso em ficção). Outro truque é deixar uma frase a meio. Um que tenho usado ultimamente é escrever a primeira frase do parágrafo seguinte – sobretudo quando este vai falar sobre um assunto diferente.

 

Aconselho-vos, então, a experimentarem estes meus truques ou a inventarem os vossos. O que quer que vos ajude a escrever o mais possível.

 

8) Alternem entre projetos e/ou tirem dias de folga

 

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Em agricultura, quando se pratica o cultivo intensivo da mesma espécie vegetal no mesmo terreno, a longo prazo, os nutrientes e minerais essenciais a essa espécie começam a esgotar-se e a produtividade diminui. Uma solução para esse problema é a prática da rotação de culturas: as espécies vegetais cultivadas no mesmo terreno vão mudando de um ano para o outro. Por exemplo, no primeiro ano, um determinado terreno produz uma espécie leguminosa, no segundo, uma espécie não-leguminosa (que, segundo este artigo, exige um aporte mineral diferente). No segundo ano, o terreno teria tempo para repôr os minerais necessários para a espécie leguminosa. Assim, quando o terreno voltar a produzir a espécie leguminosa no terceiro ano, os minerais necessários estarão lá.

 

Na escrita, também é benéfico praticar a rotação de culturas. Se andam há muito tempo a trabalhar no mesmo projeto e, a certa altura, bloqueiam, uma solução pode ser escreverem outra coisa. Um solo tem tempo de se remineralizar enquanto produz uma espécie com necessidades nutritivas diferentes. Da mesma forma, enquanto se focam noutro projeto, o vosso subconsciente tem tempo para se curar do desgaste provocado pelo projeto antigo. Pode mesmo ganhar novas ideias para esse projeto. Assim, quando regressarem a ele, a escrita tornar-se-á mais fácil.

 

Também podem fazer rotação de culturas dentro do mesmo trabalho. Não é obrigatório começarmos em “Era uma vez…” e terminarmos em “...e viveram felizes para sempre”. Se estão bloqueados (e isto é válido tanto para ficção como para não-ficção), nada vos impede de saltarem para o fim ou para uma qualquer outra parte que esteja mais clara na vossa cabeça. Desvendarem o destino primeiro pode, até, ajudar-vos a encontrarem o caminho por entre o bloqueio. Desde que, no fim, se certifiquem que o texto ou livro tem coerência.

 

Por outro lado, se existem partes do vosso texto que vos aborrecem ao ponto de quererem saltar à frente, talvez elas não devam estar lá – mais sobre isso adiante.

 

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Dentro da rotação de culturas, existe a possibilidade de deixar o terreno em pousio – ou seja, sem produzir nada. Podem fazer o mesmo na escrita – isto é, não escreverem de todo, tirarem uns dias de folga. Eu, por norma, não faço isso a menos que seja obrigada. Prefiro estar sempre a trabalhar em qualquer coisa, mesmo que não sirva para nada, só mesmo pela minha sanidade mental. Mas nem todos são maluquinhos como eu. E, de resto, podem à mesma ganhar ideias novas, perspetivas novas, para a vossa escrita – sobretudo se, lá está, estiverem em contacto com as vossas fontes de inspiração, sejam elas livros, filmes, música ou a vida em geral.

 

O senão deste conselho é o risco de cairmos em exageros. Eu sou culpada disso. Conforme já dei a entender, nas últimas semanas tenho praticado demasiada rotação de culturas na minha escrita. Em certas alturas, estive a trabalhar em três ou quatro textos ao mesmo tempo, sem concluir nenhum. Assim, se não têm cuidado, podem arrastar projetos durante demasiado tempo. Continuo a achar que é sempre melhor escrever do que não escrever mas, quando exagerada, a rotação de culturas não passa de falta de disciplina. É preciso atenção. (*olha, com ar culpado, para o primeiro rascunho, ainda por terminar, da sua análise ao último filme de Digimon Adventure Tri*)

 

9) “Consigo corrigir uma página má, não consigo corrigir uma página em branco”

 

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Esta é uma tradução livre da citação de Nora Roberts, acima, que me tem ajudado muito, sobretudo no passado recente. Uma das maiores causas do bloqueio de escritor é o desejo de escrever tudo certinho à primeira. A escrita não funciona assim, infelizmente. Eu, aliás, nos últimos tempos, tenho tido ocasiões de “falta de inspiração”, em que o texto me custa a sair como deve ser. Não sei se isso acontece por me ter tornado mais exigente ou mais ansiosa relativamente à escrita.

 

Qualquer escritor vos dirá que o primeiro rascunho de qualquer texto é uma porcaria – eu não vou a esse extremo, mas sim, é suposto um primeiro rascunho ficar aquém das expectativas. Todos os textos precisam de, pelo menos, uma correção antes de estarem prontos para consumo. É muito mais fácil corrigir um texto já no papel do que corrigi-lo na nossa cabeça – é assim que uma pessoa se bloqueia!

 

Como eu escrevo os primeiros rascunhos sempre à mão, quando os passo a computador (em muitos casos, algum tempo após escrevê-los), aproveito para corrigir o texto conforme achar necessário. Faz parte do processo. Mesmo que o primeiro rascunho esteja uma porcaria – e, acreditem, às vezes está – mesmo que tenha de reescrever algumas partes ou o texto todo, preciso sempre de algo no papel com que possa trabalhar.

 

O meu conselho é, assim, que, mesmo que não estejam satisfeitos com o que vos está a sair da caneta ou do teclado, façam por continuar a escrever, por acabar esse texto, seja ele qual for. Não têm de mostrar esse primeiro rascunho de má qualidade a ninguém. Depois de o terminarem, podem corrigi-lo até ficar ao vosso gosto.  Como diz Rachel Aaron (mais sobre ela adiante) a escrita não é uma arte de palco – não é obrigatório sair bem à primeira.

 

10) Não é suposto ser assim tão difícil

 

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Isto acaba por contrariar um pouco o meu conselho anterior, mas às vezes não dá para continuar a escrever, por muito que insistamos. Muitos não deverão sabê-lo, mas o bloqueio de escritor pode ser sintoma de um problema com o vosso trabalho. No caso da ficção, talvez não saibam o que acontece a seguir na vossa história, talvez esta esteja a ir na direção errada. No caso da não-ficção, talvez não estejam a abordar o assunto da maneira correta. Algo está a correr mal, o vosso subconsciente sabe-o e escrever torna-se difícil, mesmo impossível.

 

Quando é assim, há que parar, tentar descobrir qual é o problema e procurar resolvê-lo. No caso da ficção, podem descobrir, por exemplo, que as vossas personagens estão a agir contra o seu carácter (ou, como se diz em inglês, “out of character”), que essa parte da vossa história é aborrecida (se vocês, os autores, se aborrecem com o vosso próprio livro, os leitores também se vão aborrecer, acreditem!), que o final que planearam para a vossa história não é o mais adequado.

 

No caso dos vossos blogues, ou de não-ficção em geral, podem descobrir, por exemplo, que estão a fugir ao assunto do vosso texto, a divagar, a andar em círculos, que precisam de pesquisar melhor sobre o assunto do texto. Talvez o plano que traçaram para esse texto, como expliquei no meu primeiro conselho, não seja o mais adequado – esta será uma boa altura para voltar a olhar para ele e considerar novos caminhos.

 

Ou então, podem descobrir que o vosso projeto não tem salvação possível.

 

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Aconteceu comigo há pouco tempo. Quem acompanha o meu outro blogue, saberá que, no final de cada ano, costumo fazer um apanhado de tudo o que aconteceu com a Seleção nos doze meses anteriores. No entanto, o texto relativo a 2016 estava a custar-me imenso. Arrastei-o durante semanas, desde princípios de dezembro até bem depois do início de 2017 (quando, nos anos anteriores, conseguia publicar sempre antes do Ano Novo, quando não publicava antes do Natal). O facto de ter menos tempo do que o costume para escrever não ajudava. Tinha vários outros projetos que me entusiasmavam muito mais (este texto, por exemplo), mas decidi que só trabalharia neles quando concluísse a revisão de 2016. Estávamos já em meados de Janeiro, o texto ainda nem ia a meio, eu ia pondo a hipótese de publicar o texto em data já passada.

 

Foi aí que pensei: “Que estou a fazer?”. Aquele texto andava a consumir-me o reduzido tempo de escrita de que dispunha há semanas e para quê? Era pouco provável que alguém o lesse, ainda por cima se fosse publicá-lo em data já passada.

 

O facto de ter pouca audiência nunca me foi fator impeditivo em nenhum dos blogues. Se fosse, já teria desistido há muito tempo – quando, na verdade, já ultrapassei a barreira das duzentas publicações em ambos. Sou demasiado egoísta para não ocupar espaço online escrevendo sobre aquilo que me dá na veneta. No entanto, se a escrita não está a dar-me prazer, não vale a pena – não quando tenho outros textos para escrever que não me custam tanto.

 

Não me foi fácil tomar esta decisão. Acho que nunca tinha desistido desta maneira de um texto para um blogue. Talvez pudesse ter evitado este desfecho se tivesse planeado melhor as coisas. Tirando isso, não me arrependo de ter abandonado este.

 

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Não quero com isto aconselhar-vos a desistir à primeira dificuldade, nada disso. Apenas quero dizer que, se notam alguma resistência a sentarem-se e a escrever, façam uma pausa para pensarem se existe algum problema com o vosso trabalho. Se existir, procurem resolvê-lo. No entanto, se não encontrarem forma de resolvê-lo, ou se não encontram nenhum problema visível com o projeto mas, mesmo assim, não conseguem continuar a escrever, deixem-no de lado e trabalhem noutra coisa.

 

Pode ser que o projeto fique para sempre inacabado e acabem por reciclar alguns elementos dele noutro trabalho. Pode ser que a lógica da rotação de culturas, de que falámos antes, entre em ação e, daí a dois dias, uma semana, um mês ou um ano, descubram uma solução para o vosso bloqueio. Faz parte do processo. Existem coisas que não valem mesmo o esforço.

 

E com este pensamento animador, encerramos por agora. Podem ler os últimos conselhos aqui.

15 Conselhos sobre Escrita (para blogues e não só!) #1

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Não me orgulho disso, mas uma das coisas que me irritam na blogosfera são publicações em que os bloggers se queixam de falta de inspiração, de não saberem sobre que escrever. Todos nós já estivemos nessa situação, a que chamamos bloqueio de escritor. No entanto,  queixarmo-nos e/ou termos pena de nós próprios não ajuda. O tempo que perderam a escrever esse texto teria sido muito melhor empregue procurando resolver o bloqueio.

 

Hoje, no entanto, não quero ser desagradável em relação a isso, quero ser construtiva.

 

O bloqueio de escritor (ou bloqueio criativo para a arte em geral) tem muitas causas possíveis: falta de ideias, falta de tempo, ansiedade a mais, problemas noutras áreas da nossa vida, problemas com o que estamos a escrever, entre outras. Este texto, contudo, não se focará tanto nas causas do problema, mais em soluções.

 

Admito que não sou propriamente uma escritora best-seller ou uma blogger de sucesso. Estou longe de ser uma autoridade na matéria. Dito isto, escrevo com regularidade desde os meus sete ou oito anos, tenho um livro publicado, criei o meu primeiro blogue há quase nove anos e o meu segundo – este – há quase cinco. Basta darem uma olhadela rápida pelos dois blogues para verem que as minhas publicações estão longe de serem telegramas. Como podem calcular, são muitas palavras escritas só entre o meu livro e os meus blogues – e nesta equação nem sequer entram coisas que ainda não publiquei ou que não tenciono publicar. Bem acima da média da população geral. Não se consegue escrever tanto sem uma dose razoável de trabalho e disciplina. Sem falsas modéstias, acho que tenho algo a ensinar.

 

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Além disso, esta é a ducentésima publicação deste blogue (publicação número duzentos para os amigos). Tendo em conta que criei este blogue para poder escrever sobre o que me apetecesse, parece-me adequado falar sobre escrita em geral para assinalar a marca. Vou, assim, deixar-vos quinze conselhos de escrita, divididos em três publicações. A maior parte deles serão formas de contornar o bloqueio criativo, mas também falarei sobre outros aspetos da escrita.

 

Um alerta rápido: nenhum destes conselhos é completamente original, longe disso. A maior parte destes conselhos foi-me dada, direta ou indiretamente, por outros escritores. Vou apenas referir aqueles que funcionam melhor comigo.

 

Assim, sem mais delongas…

 

1) Não comecem com uma página em branco.

 

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Na minha opinião, começar o processo de escrita com uma página em branco é erro de amador. Não digo que seja impossível ou mesmo que nunca tenha, pura e simplesmente, pegado em papel e caneta e começado a escrever. No entanto, para a maioria das pessoas, uma página em branco é algo intimidante, assustador – e o medo é o maior inimigo da criatividade. Além disso, nove em cada dez vezes, pensar naquilo que se quer escrever e escrever ao mesmo tempo é muito difícil. Quando consigo fazê-lo – e é cada vez mais raro – são textos que, antes, andavam a ruminar na minha cabeça durante muito tempo.

 

A verdade é que existe toda uma preparação antes de se começar a escrita propriamente dita. Antes de mais nada, é necessário ter uma ideia (ou várias) para aquilo que queremos escrever. Seja um conto, um livro, uma série de livros, um texto para um blogue. Se vocês querem ser escritores é porque têm algo a dizer, algo sobre que escrever – uma opinião, uma história, um acontecimento, etc.

 

Se, por acaso, não têm ideias, o vosso primeiro passo terá de ser arranjá-las. Ao contrário do que muitos pensam, a inspiração não é algo por que se espera, é algo que se procura ativamente. Cada um tem o seu próprio método para arranjar assunto sobre que escrever, as suas próprias fontes de inspiração. Em linha com isso, aconselho-vos a virarem-se para essas fontes (sejam elas livros, música, jornais, revistas, o Pinterest, o Instagram, o YouTube) e procurarem algo sobre o qual queiram escrever.

 

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Se isso não resultar, existem fontes de ideias mais diretas na Internet. Há uns tempos encontrei uma publicação intitulada “100 ideias para posts”. Penso que já a passei a uma ou duas pessoas aqui no Sapo Blogs. Existem, também, em diferentes locais online, fontes de writing prompts – pequenos exercícios de escrita criativa. Do género, sublinharem dez palavras ao calhas na página de um livro e escreverem um texto que as inclua todas. Outros exercícios dão ideias mais específicas, do género: “Imagina a tua refeição perfeita. Qual seria a entrada? O prato principal? A sobremesa? Quem se sentaria à mesa contigo? Quem a cozinharia?”

 

Pessoalmente, nunca precisei de recorrer a esses bancos de ideias. Mas gosto de tê-los à mão, só para o caso.

 

De qualquer forma, depois de ter essa ideia, o segundo passo deverá ser planear o que vamos escrever. Quando é para ficção, faço uma lista e/ou esquema do que acontece na cena do livro em que estou a trabalhar. Quando é para os blogues, faço uma lista e/ou esquema dos tópicos principais do texto.

 

Como exemplo, mostro-vos o plano que fiz para este texto (um dos poucos planos que está apresentável):

 

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A forma como se planeia um texto é muito pessoal, naturalmente, e está sempre a mudar – pelo menos no meu caso. Nem sempre sigo rigorosamente os planos que faço – posso inverter a ordem de alguns pontos, cortá-los ou, mesmo, ocorrerem-me ideias completamente novas em plena escrita. Seja como for, é importante passar este brainstorming inicial para o papel, organizar os nossos pensamentos, antes de começar o texto propriamente dito – sobretudo se este for longo. Assim, se por acaso se bloquearem, essas notas dizem-vos o que escrever a seguir.

 

Em suma, começar com uma folha em branco é como visitar uma cidade completamente nova sem um mapa, um guia turístico, um itinerário ou placas com direções. Existem pessoas capazes de se desenrascar nessas circunstâncias, claro, que até preferem explorar cidades assim. No entanto, regra geral, os mapas ajudam-nos a descobrir a maneira mais rápida de chegarmos ao nosso destino, sem nos perdermos pelo caminho ou acabarmos em becos sem saída – o que, no caso da escrita, equivale a terminar o texto.

 

 

2) Escrevam sobre aquilo que vos apaixona/entusiasma.

 

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Este conselho pode parecer muito óbvio, mas é importante. Escrever nem sempre é fácil. Fica ainda mais difícil se o tema da escrita não vos interessa o suficiente para suportar as dificuldades.

 

Conforme já referi algumas vezes aqui no blogue, foi escrevendo fan fiction (a partir dos meus quinze, dezasseis anos) que me apaixonei a sério pela escrita de ficção em geral. Escrevia essas histórias pura e simplesmente porque queria, para me satisfazer a mim mesma. A partir de certa altura, contudo, quis escrever algo inédito. Tive umas quantas ideias que tentei executar, mas, tirando um ou outro conto, nunca acabei esses projetos. Acabava sempre por regressar à minha fan fiction, mesmo sabendo que esta não daria em nada publicável (na altura, não sabia que era possível publicar fan fiction na Internet).

 

Finalmente, descobri porque aquelas ideias não resultavam: porque não me cativavam o suficiente. Não sonhava acordada com essas personagens e as suas adventuras e desventuras da maneira como sonhava com a minha fan fiction. Se eu não me entusiasmava com as minhas próprias histórias, como podia esperar que outros que se entusiasmassem?

 

Tive, assim, de arranjar personagens e histórias que me apaixonassem tanto como as da minha fan fiction. Demorou algum tempo, mas, assim que as consegui, tornou-se tudo mais fácil. E assim comecei a série cujo primeiro título é “O Sobrevivente”.

 

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O motivo pelo qual, ao contrário da maior parte dos bloggers, não escrevo sobre a minha vida pessoal é semelhante. Por uma questão de privacidade, por um lado, mas sobretudo porque… a minha vida pessoal não é assim tão interessante quanto isso.

 

De igual modo, também não embarco em muitos assuntos da atualidade, ou naquelas “polémicas de Facebook” que, de vez em quando, atacam e fazem correr muita tinta digital. Porque não me interessam e/ou não tenho nada a dizer que outras pessoas não tenham dito, ou que justifique uma publicação no blogue. Nestas alturas faz-se muito barulho, dizem-se muitas barbaridades. Para quê contribuir para isso se não tenho nada a acrescentar ao debate?

 

Prefiro, assim, ir escrevendo sobre a Seleção, música, Pokémon, Digimon, entre outras coisas. Assuntos “nicho”, que dificilmente me dão destaques no Sapo Blogs, mas sobre os quais tenho muito a dizer.

 

Em suma, o que vos aconselho é que se certifiquem de que estão realmente interessados naquilo que estão a escrever. Tenham a certeza de que não estão a escrever apenas porque esse género literário é o que está na moda, nesse momento, ou porque os outros bloggers estão a escrever sobre isso. Acreditem, os leitores notam quando os escritores não estão completamente investidos no que escrevem.

 

 

3) Cafeína e água podem ajudar.

 

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Comecei a beber café aos dezasseis anos – mais ou menos. Nessa altura, bebia apenas garotos, de longe a longe. Só me viciei muito depois. Um dos motivos foi por ter descoberto que a cafeína me ajuda imenso, não apenas a manter-me acordada, mas também a escrever – tem um efeito estimulante, anti-depressivo, aumenta a concentração, a motivação. Eu sinto mesmo que o meu cérebro funciona mais depressa. E esta minha dependência de cafeína é um dos motivos pelos quais os cafés são um dos meus locais preferidos de escrita.

 

Se vocês não bebem café (seja por não gostarem, seja por motivos de saúde), não vou, obviamente, aconselhar-vos a fazê-lo. No entanto, se já bebem café habitualmente (ou outra bebida cafeínada, como certos chás, Coca-Cola ou… Red Bull), aconselho-vos a tentarem escrever logo depois de beberem-no – vão ver a diferença!

 

Por outro lado, uma coisa em que tenho vindo a reparar é que o meu cérebro funciona melhor se beber água com regularidade. Não sei se é por hábito, se é efeito placebo. Em todo o caso, mantermo-nos hidratados é sempre benéfico, independentemente das circunstâncias. Este é, portanto, um conselho que dou a todos, ao contrário do anterior, sobre a cafeína. Aliás, se seguirem o meu conselho do café, mais urgente se torna que sigam, igualmente, o conselho da água. Como a cafeína é diurética, um dos seus possíveis efeitos secundários é a desidratação. Assim, não apenas pela vossa escrita, também pela vossa saúde, bebam água.

 

4) Escrevam o mais que puderem.

 

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Um dos meus conselhos preferidos de escrita é de Geoff Dyer e reza assim: “Façam-no todos os dias. Habituem-se a traduzir as vossas observações para palavras e, gradualmente, isso tornar-se-á instintivo. Esta é a regra mais importante e, naturalmente, não a sigo.” Tirando a última frase, isso é algo que tenho feito toda a vida. Ajudou-me, particularmente, ter escrito diários entre os doze e os dezassete anos. Não escrevia tooodos os dias (ainda hoje não consigo fazer isso, embora tente), mas escrevia com regularidade. O hábito de escrever sobre a minha vida desinteressante ensinou-me a lidar com palavras. A partir de certa altura, comecei, de facto, a escrever mentalmente, a fazer um primeiro rascunho na minha cabeça daquilo que pretendia escrever no meu diário, mais tarde.

 

Todos os escritores dir-vos-ão o mesmo: uma pessoa só aprende a escrever escrevendo. Como diz J.K.Rowling, terão de desperdiçar muitas árvores antes de escreverem algo como deve ser. Eu, felizmente, comecei cedo, mas ainda estou a aprender. Aconselho-vos, portanto, a escreverem o mais que puderem, todos os dias ou quase. Só escrevendo é que se tornarão escritores, é tão simples quanto isso.

 

5) Façam pausas enquanto escrevem.

 

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Tenho alturas em que consigo escrever várias páginas de seguida, até ficar com a mão dorida. Quando isso acontece, por norma, procuro não interromper o fluxo da escrita – se o perco, pode ser muito difícil fazer o motor pegar novamente. No entanto, existem alturas em que estou a debater-me com uma frase ou ideia e não adianta continuar a escrever a todo o custo.

 

Nesses casos, muitas vezes basta-me levantar-me e dar dois passos para aclarar as ideias.

 

O meu conselho é, então, saberem quando precisam de parar. Se estão a ter dificuldade com aquilo que estão a escrever, o simples ato de irem beber um copo de água pode resolver esse imbróglio. Desde que, evidentemente, não se distraiam e se esqueçam completamente do que estavam a escrever.

 

Estes foram os primeiros cinco conselhos. Podem ler os próximos aqui.

 

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