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Álbum de Testamentos

"Como é possível alguém ter tanta palavra?" – Ivo dos Hybrid Theory PT

Digimon Frontier #4 – Capitães de Abril, trindade pouco santa e o sexo dos anjos

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Um dos aspetos mais interessantes de Fronteira diz respeito à História do Mundo Digital: mais desenvolvida e rica que qualquer outra até agora. Com a exceção dos Cavaleiros Reais, todos os vilões em Fronteira foram figuras importantes em termos políticos no passado do Mundo Digital. Power Players, como dizem os anglo-saxónicos (não existe uma boa tradução para este termo). Mesmo os Power Players que consideramos bons da fita tomam algumas decisões questionáveis. 

 

Não é possível falar dos vilões de Fronteira sem falarmos do passado do Mundo Digital e não é possível falarmos do passado do Mundo Digital sem falarmos dos vilões.

 

Assim, no início, existiam duas facções em guerra no Mundo Digital. De um lado tínhamos Digimon de tipo Humano, com características mais humanóides. Do outro, tínhamos Digimon de tipo Animal, com características mais animalescas e/ou monstruosas. Não falo apenas de características físicas – é dado a entender que os Digimon de tipo Humano são mais “civilizados”. De tal maneira que, quando os miúdos desbloqueiam as formas Animais, quase todos têm dificuldades em controlar os instintos mais violentos destas formas. 

 

A tradução literal do termo devia ser Digimon tipo Besta. No entanto, como esta palavra é usada como um insulto em português, não admira que tenham preferido dizer Animal. 

 

Consta que este era um conceito planeado para 02, mais especificamente para as Armodigievoluções. Por exemplo, o Flamedramon seria a forma Humana do Veemon, o Raidramon seria a forma Animal e o Sagittarimon seria a forma Híbrida. A ideia, no entanto, foi rejeitada – tendo sido usada dois anos mais tarde, em Fronteira.

 

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Durante os eventos de Frontier, no entanto, não vemos nenhum vestígio desta rivalidade. A única exeção é o filme Revival of the Ancient Digimon (Ressurreição do Digimon Antigo?). É possível que as tensões se tenham desvanecido com o tempo – só as vemos no filme porque este se passa numa ilha isolada do resto do Mundo Digital. 

 

Não é realista, infelizmente. Como todos sabemos, na vida real este tipo de preconceitos têm a mania de permanecer mais tempo do que deviam.

 

Por um lado, tenho pena que o tema não tenha sido explorado mais a fundo. Por outro, admito que, a menos que fosse escrito com muito cuidado, poderíamos entrar em territórios… “problemáticos”, como se diz hoje. É o que por vezes acontece com outros casos de racismo fantástico, quando se começam a tecer comparações com a vida real. 

 

No meio desta guerra civil, surgiu Lucemon, que pôs termo ao conflito e assumiu o governo do Mundo Digital. Este no entanto acabou por descambar para a tirania. Nisto surgiram os Dez Guerreiros Lendários, quais Capitães de Abril, que derrubaram a ditadora e a prenderam na zona da Escuridão. 

 

A política dos Guerreiros Lendários é fascinante. A narrativa dos Guerreiros Lendários não o refere explicitamente, mas assumo que cada um deles tem uma forma Humana e uma forma Animal (e, no caso de Agnimon e Wolfmon, uma forma Híbrida) precisamente para agradarem a ambas as facções. 

 

Da mesma forma, calculo que cada Guerreiro representa, não apenas um elemento, mas também uma determinada zona do Mundo Digital. O Agnimon representa a zona do Fogo, a Ranamon representa a zona da Água e por aí fora. Mais ou menos como nós elegemos deputados representantes de cada distrito. 

 

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Após a queda de Lucemon, três grandes anjos assumiram o poder: Seraphimon, Ophanimon e Cherubimon. Seraphimon fica encarregue da lei e ordem, Ophanimon da vida e do amor e Cherubimon do conhecimento e da verdade. Pelo meio, Cherubimon ficou com os Espíritos da Terra, da Água, da Madeira, do Metal e da Escuridão – e mais tarde ressuscitá-los-ia como vilões. Mas não nos adiantemos. 

 

Nesta santíssima trindade (quase literal, pois são três anjos) governativa, temos dois Digimon de tipo Humano e apenas um de tipo Animal. Mesmo nas melhores circunstâncias, dificilmente resultaria – e custa a acreditar que ninguém se tenha apercebido disso, dentro do universo. 

 

Além disso, tanto as linhas do Ophanimon como do Seraphimon têm formas Extremas de tipo Animal: a Holydramon e o Goddramon. Elas não podiam ter sido usadas para equilibrar um pouco o sistema?

 

Cherubimon, como Digimon de tipo Animal, não se revê nos valores Humanos defendidos pelos outros dois. Talvez Cherubimon devesse ter tido uma mente mais aberta aos pontos de vista dos outros, mas estes dois também não lidam com o problema da melhor maneira. Ophanimon diz que ela e Seraphimon conversavam a sós para tentarem compreender a perspetiva de Cherubimon. Não acredito nela. Se queriam compreendê-lo, não deviam, sei lá, falar com Cherubimon diretamente, ouvir as opiniões dele? 

 

Não surpreende que, a partir de certa altura, Cherubimon tenha começado a desconfiar dos companheiros. Eu simpatizei com a solidão e isolamento dele (Alexa, toca Conspiracy, dos Paramore) – a posição ideal para ser corrompido por Lucemon. Nada nos garante que Cherubimon seja cem por cento inocente nesta história: acredito que uma parte de si quisesse vingança. Aquando dos eventos de Frontier, já estava perdido. O seu único aspeto redentor é o facto de ter evitado ao máximo matar tanto Seraphimon como Ophanimon. 

 

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Ao mesmo tempo, uma vez mais, a resposta de Ophanimon ao problema – enviar um apelo a crianças no Mundo dos Humanos, que ainda não foi influenciado por Cherubimon – é questionável. Seraphimon não concorda, como é revelado no episódio 13. Para começar, entregar o destino de um mundo inteiro a crianças é daquelas coisas que nunca aconteceriam na vida real – mas, lá está, isto é uma história para crianças, elas têm de ser as protagonistas. 

 

Ophanimon diz que só crianças com “coração puro” é que responderiam ao apelo – mas, como descobrimos mais à frente na temporada, os antigos bullies de Tomoki também vieram para o Mundo Digital. Mesmo as motivações iniciais dos nossos protagonistas não são propriamente nobres, como veremos na próxima parte da análise. 

 

Além disso, independentemente das intenções deles… o grupo que incluiu os bullies de Tomoki não recebeu nenhum espírito, andaram pura e simplesmente a passar pelo Mundo Digital, obrigando um Angemon a fazer de guarda-costas/ama-seca. Quem nos garante que não houveram outras crianças para além destes – crianças que, se calhar, não tiveram a proteção? Ou que ainda estavam no Mundo Digital quando os Cavaleiros Reais o destruíram por completo? Podem não ter conseguido regressar ao Mundo dos Humanos a tempo. Podem ter acontecido tragédias.

 

Por fim, não foi bonito Ophanimon tentando apelar ao lado bom de Cherubimon… apenas para recuperar os dispositivos e os espíritos digitais que este roubara. Foi necessário, admito, e talvez ela até estive a ser sincera quando pediu desculpa ao antigo amigo. Mas vendo-a apunhalando Cherubimon pelas costas, ainda suspeito mais que não terá sido a primeira vez que o faz. Ophanimon pode ser um anjo, mas está longe de ser uma santinha. 

 

Recuemos um pouco na cronologia e falemos sobre os Guerreiros Lendários corrompidos pelo Cherubimon. Este até é um grupo relativamente interessante de vilões. Para começar, estes chegam a roubar os dispositivos e/ou os espíritos digitais aos protagonistas, impedindo-os de digievoluírem. É estranho que isto só se tenha tornado prática na quarta temporada de Digimon enquanto anime. Antes disto só o Apocalymon – e mesmo assim, os Escolhidos de Adventure contornaram o problema com relativa facilidade. 

 

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Falando individualmente, o Grottemon não é dos mais interessantes. O Arbormon passa a vida a debitar provérbios e lições para as criancinhas da audiência – o que, OK, é uma cena, suponho eu. 

 

A Ranamon é essencialmente a femme fatale para Izumi, a menina boazinha. Ela até mostra alguma astúcia ao usar o seu sex appeal para convencer os seus minions a fazerem o seu trabalho sujo. No entanto, toda a gente, incluindo ela própria, só se interessa pela sua beleza – ou falta dela, quando está sob a forma de Calamaramon. Na mesma linha, Ranamon fixa-se em Izumi apenas porque acha que esta é mais bonita do que ela. Ao ponto de, a certa altura, lhe dar literalmente uma maçã envenenada. 

 

Pontos para a subtileza.

 

O Mercuremon é dos mais competentes do grupo, ainda que com uma queda para o dramático. Afinal de contas, ele é a mão por detrás de um dos arcos mais psicológicos em Fronteira. Além disso, devo admitir que achei o episódio em que ele se transforma em BlackSeraphimon bastante assustador, da primeira vez que o vi. Nada como um órgão e uma igreja sinistra para causar arrepios. Por fim, mesmo depois de perder o espírito humano do metal, os miúdos são obrigados a pensar fora da caixa – e Takuya é obrigado a usar as suas capacidades de liderança – para derrotá-lo sob a forma de Sephirotmon. 

 

Sobra o Duskmon… mas sobre ele falamos noutra ocasião.

 

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Passando aos Cavaleiros Reais, não tenho muito a dizer sobre o Dynasmon, mas o LordKnightmon é um caso… curioso. Ele é aquilo a que os anglo-saxónicos chamam um “queer-coded villain” – um vilão com características estereotipicamente não cis/hetero. Este vídeo – e os outros, citados no fim – explica melhor o conceito, as suas origens, a forma como, a partir de certa altura, teve o efeito oposto ao desejado inicialmente, entre outros aspetos.

 

LordKnightmon encaixa-se no perfil. Um Digimon cor-de-rosa, que de vez em quando aparece com uma rosa na mão, basicamente o arquétipo de um homossexual. Não sei se em 2002 isso corrompeu a inocência de muitas criancinhas, mas a mim não me aqueceu nem arrefeceu. Eu na verdade nem falaria muito sobre ele se não tivesse sabido que, na dobragem americana, ele aparece como fêmea. Não lhe chamam LordKnightmon, claro, chamam-lhe Crusadermon. Infelizmente não fico surpreendida. 

 

Para sermos justos, falar de sexos e géneros em Digimon daria azo a um texto por si só – e eu não seria a melhor pessoa para escrevê-lo. Oficialmente, os Digimon não têm sexo pois não se reproduzem de forma sexuada – o género é uma história diferente. Como a língua japonesa tem termos de género neutro, os digiguionistas não precisam de atribuir género a todos os Digimon. No entanto, na hora de traduzir para línguas como o português, em que usamos o “o” e o “a” para tudo, a coisa complica-se. E aparecem casos como a Renamon, com uma voz claramente masculina na dobragem alemã. Ou a Tailmon, que, nas dobragens portuguesas, ora é referida como “ele”, ora é referida como “ela”, tanto quanto me recordo. 

 

Tudo isto para dizer que, por princípio, estas alterações no género não terão necessariamente intenções duvidosas. Mesmo o próprio LordKnightmon aparece como macho nas versões originais de Fronteira e, segundo o que vi na Internet, em Savers/Data Squad, mas em Cyber Sleuth/Hackers Memory aparece como fêmea. Mas falando deste LordKnightmon em específico, acho que isto foi um ato de censura da parte dos dobradores americanos. Claro que foi. Eles ainda hoje têm horror a falar de homossexualidade às crianças. 

 

Não que nós estejamos muito melhor nesse aspeto. Vejam os papás que não deixam os filhinhos inocentes frequentar as aulas de Cidadania e Desenvolvimento.

 

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Pode-se debater se, em termos de expressões de género e sexualidade não cis/hetero, é preferível representação vilanesca ou nenhuma representação. Não faço parte da comunidade LGBTQ+, logo, a minha opinião vale o que vale, estão à vontade para discordar. No entanto, tendo em conta que, como dizem no vídeo que referi acima, vários queer-coded villains, sobretudo dos filmes da Disney dos anos 90, são hoje personagens muito populares – quer por pessoas da comunidade LGBTQ+, quer por pessoas cis/hetero – a escolha é óbvia. Vilões ou não, as pessoas da comunidade LGBTQ+, como quaisquer outras, têm o direito a existir, a serem elas mesmas, a verem pessoas como elas no ecrã!

 

Havemos de regressar a este tema. Para já, à parte o que acabámos de discutir, os Cavaleiros Reais não são particularmente memoráveis – tirando o facto de estarem associados ao pior arco da temporada. No entanto, têm alguns aspetos curiosos. 

 

Para começar, são bons lutadores e estrategas – pudera. À primeira vista são meros paus mandados da Lucemon, que lhes prometeu uma viagem até ao Mundo dos Humanos. Quando Lucemon regressa à vida, no entanto, esta dá a entender que não pretende cumprir a sua parte do acordo. A lealdade deles vacila e isso leva a que sejam derrotados por Takuya e Kouji – que, ainda por cima, estavam em crescendo. Um twist interessante. 

 

Eu digo que Takuya e Kouji os derrotam, mas, na verdade, Lucemon mete-se à última hora para dar o golpe final e absorver os dados dos dois Cavaleiros Reais. É com esses dados que digievolui para Lucemon Falldown Mode. 

 

Hão de reparar que tenho usado o género feminino para me referir a Lucemon. Isto deve-se ao facto de, na dobragem portuguesa, Lucemon aparecer como fêmea. Daquilo que consegui averiguar, na maior parte das dobragens isso não acontece. Geralmente é uma mulher quem lhe dá a voz quando está na forma normal, com a aparência de uma criança, mas depois de digievoluir passa a ter dobrada por um homem. E é sempre referida como “ele”. A nossa dobragem (e possivelmente a espanhola, na qual a nossa se baseia?) é a exceção, com uma mulher – Patrícia Andrade, segundo esta wiki – dobrando ambas as formas (possivelmente por falta de orçamento) e referindo-se a Lucemon como “ela”.

 

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Sinto-me hipócrita, admito. Critico a dobragem americana por ter mudado o género a LordKnightmon, mas gostei de ver (e ouvir) Lucemon como fêmea na dobragem portuguesa. Sobretudo porque Patrícia Andrade fez um excelente trabalho com a voz de Lucemon – uma voz de bruxa, que funciona surpreendentemente bem. 

 

Reforço que vocês estão à vontade para discordar do que digo. Mas acho que estes dois casos são diferentes. É certo que, em Cyber Sleuth, existe uma LordKnightmon fêmea mas, na dobragem japonesa, este tem uma voz masculina. Além disso, tem “Lord” no nome, que significa “senhor” e é usado como título nobre masculino. Tudo isto me dá a entender que, pelo menos em Fronteira, a intenção original era que este fosse um Digimon macho. 

 

No que toca a Lucemon, no entanto, existe mais ambiguidade . O “Luce” em Lucemon vem muito provavelmente de Lúcifer, um anjo caído que eventualmente se tornou no Diabo. Canonicamente anjos não têm sexo – é daí que vem a expressão “discutir o sexo dos anjos” – mas pelo menos os anjos mais conhecidos parecem ser do género masculino: Miguel, Gabriel, Lúcifer… No modo normal, Lucemon parece uma criança pré-pubescente, sem características sexuais secundárias. Pode ser um menino, pode ser uma menina. Não é preto no branco. Funcionaria bem com qualquer género, mesmo género não binário. 

 

Mas lá está, talvez eu esteja errada – tanto em relação a Lucemon como a LordKnightmon. Talvez não existam respostas cem por cento certas nem cem por cento erradas aqui. Isto é, tirando aquelas que negam direitos a pessoas com base na sua orientação sexual e expressão de género, claro. Em todo o caso, acho importante irmos continuando a falar sobre esta questão. 

 

Tirando isto tudo de que falei, como principal vilã da temporada… Lucemon não é nada de extraordinário. Não tem grande profundidade. Não tenho muito a dizer sobre ela.

 

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Como puderam ver ao longo deste texto, Fronteira até tem vilões interessantes. No entanto, na prática, na realidade micro de cada episódio, todos os confrontos são típicos conflitos “bons contra os maus” – como qualquer desenho animado do Canal Panda. Descobrir o passado do Cherubimon não altera nada na narrativa. Os miúdos queriam derrotá-lo antes de ouvirem a história dele. Depois de a ouvirem, continuam a querer derrotá-lo – e assim fazem. A única exceção é o que acontece com o Duskmon – mas sobre ele falamos noutra altura.

 

Esta é uma das minhas maiores frustrações com Fronteira. Na próxima parte da análise vamos começar a falar de outro aspeto que gera frustrações: o elenco de heróis. 



 

Esta foi a tricentésima publicação deste blogue. Talvez devesse ter feito algo de especial, mas não deu. Não me importo que o número redondo tenha sido atingido com este texto, que me deu um bocadinho mais gozo a escrever do que o costume. Guardo a celebração para o décimo aniversário deste blogue, em julho.

 

Para já, deixo um agradecimento pelas vossas visitas. Continuem por aí.

Digimon Frontier #3 – Os problemas aparecem já aqui...

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Nas minhas análises às temporadas de Digimon, esta é a parte em que olho para a lista de episódios e tento dividir o enredo em partes e/ou arcos. Quando me sentei para fazê-lo com Fronteira, no entanto, senti algumas dificuldades. 

 

Por um lado, porque a temporada tem vários fillers. Por estes dias já aprendi a gostar de fillers, mas a verdade é que estes baralham estas contas. Por outro lado, nalgumas alturas da temporada temos várias linhas narrativas em simultâneo, alternando no tempo de antena. Isso acontece porque Kouji, volta e meia, resolve separar-se do grupo e lidar sozinho com os seus próprios problemas. Mas também temos os Guerreiros Lendários, que algumas vezes agem em conjunto, algumas vezes agem individualmente. Podemos ver um exemplo destes dois aspetos nos episódios em Kouji está a lidar com o Duskmon enquanto os amigos tentam derrotar o Sephirotmon. 

 

Assim, acabei por dividir Fronteira em três grandes partes e, depois, cada uma em partes mais pequenas, sobretudo a segunda (vou chamar-lhes “arcos” só por uma questão de distinção). Poder-se-á argumentar que a minha divisão segue a típica estrutura em três atos/arcos, mas este é um conceito mais ocidental – e aplicável mais a filmes do que a séries de múltiplos episódios.

 

A primeira parte vai desde o primeiro episódio ao décimo-nono. Esta, por sua vez, divide-se em três arcos. O primeiro – chamemos-lhe 1.1 – vai do primeiro episódio ao sexto. Aqui, os miúdos escolhem responder ao chamamento da Ophanimon, que esta fez a uma data de gente, e apanham os Trailmon para o Mundo Digital. Depois de chegarem, descobrem acerca dos Espíritos Humanos e recebem instruções para irem ter ao castelo do Digimon Sagrado. 

 

É algo que acontece muito em Fronteira: os Escolhidos andam de um lado para o outro a mando da Ophanimon. Mas isso é conversa para outra parte da análise.

 

O episódio 6 marca um ponto de viragem. Para começar, somos apresentados ao primeiro vilão recorrente, o Grottemon. Aprendemos que alguns dos Guerreiros Lendários renascidos estão do lado dos “maus” e que existem Espíritos Animais. Kouji, que até esta altura agira sobretudo por conta própria, junta-se oficialmente ao grupo. Os Escolhidos sofrem a sua primeira derrota.

 

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Este é outro aspeto característico da temporada: os heróis perdem muitas vezes. Não é muito comum em Digimon, da minha experiência. Havemos de regressar a esta ideia.

 

O segundo arco – ou parte 1.2 – vai desde o episódio 7 ao episódio 13. Esta parte inclui alguns fillers, mas nela Takuya e Kouji ganham os seus Espíritos Animais. 

 

Eu se calhar devia ter esticado o 1.2 até ao episódio 19, mas eu tive de colocar uma quebra no episódio 13. Já percebi que em Digimon os episódios 13 são quase sempre marcantes. Até Ghost Game seguiu essa tradição. 

 

No caso de Fronteira, neste episódio os miúdos chegam ao castelo do Seraphimon. Este acorda daquela espécie de coma em que estava mergulhado, explica parte da história do Mundo Digital… apenas para ser derrotado pelo Mercuremon dez minutos depois, revertendo à forma de DigiOvo.

 

Muito sofre a família digievolutiva do Patamon. 

 

O último arco da terceira parte – 1.3 – vai do episódio 14 ao episódio 19. Mais alguns fillers e os outros três Escolhidos ganhando os seus Espíritos Animais. 

 

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O episódio 20 é outro ponto de viragem na narrativa – ainda mais significativo que o do episódio 6 – daí tê-lo escolhido como o início da segunda parte. A partir daqui, o tom torna-se menos descontraído e um pouco mais sombrio. Em parte literalmente, pois é quando entramos no Continente da Escuridão, que discutimos no texto anterior. É também quando conhecemos o Duskmon, o adversário mais difícil e implacável até ao momento e um dos mais importantes da temporada, como discutiremos nesta análise. 

 

O arco 2.1 vai, assim, do episódio 20 ao 23, quando os miúdos enfrentam o Duskmon pela primeira vez. É aqui que ocorre o meu twist preferido em Fronteira. Takuya e Kouji discordam em relação à melhor maneira de enfrentar o Duskmon. O primeiro deseja um ataque direto, baseando-se na vantagem numérica e nos méritos conjuntos do grupo. O segundo sabe que o Duskmon está longe do alcance deles e deseja evitá-lo. No fim, Kouji diz que, por ele, Takuya pode morrer enfrentando o Duskmon, se é isso que ele quer, desde que deixe Kouji e os outros de fora das consequências.

 

Mais tarde, quando executam o plano de Takuya, este dá para o torto. No entanto, no momento em que Agnimon fica à mercê de Duskmon, Garummon não aguenta e atira-se para a frente do ataque de Duskmon, provavelmente salvando a vida a Takuya. O Duskmon tem uma reação estranha quando Garummon “desdigivolui” para Kouji e lança trevas em seu redor. Abalado pelo que aconteceu e pelos seus erros, Takuya apanha um Dark Trailmon para regressar ao Mundo dos Humanos. 

 

Havemos de falar melhor sobre este twist mais adiante na análise. Para já, importa referir apenas que Takuya passa apenas um episódio no Mundo dos Humanos – este é o equivalente ao célebre episódio 21 de Adventure. No episódio seguinte, Takuya regressa ao Mundo Digital e reencontra os amigos. 

 

Se pudesse dar um título ao arco seguinte, 2.2, chamar-lhe ia “introdução de Letterbom”, a música dos Green Day: “Nobody likes you, everyone left you, they’re all out without you, having fun”. Os miúdos vão parar às diferentes zonas do Sephirotmon, separados do resto do grupo, com vários adversários que procuram usar as tendências anti-sociais dos Escolhidos contra eles mesmos.

 

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Devo dizer que esta temporada é a única em que os vilões podem jogar essa cartada. Noutro universo, a resposta dos miúdos seria:

 

– Ninguém gosta de mim? Uma ova! Tenho o meu companheiro Digimon!

 

Por outro lado, acaba por ser semelhante ao que o PicoDevimon fez ao elenco de Adventure, ainda que… menos eficaz.

 

Esta parte é das poucas, se não a única, que explora a psicologia do seu elenco – o que, para mim, sempre foi o grande ponto forte de Digimon enquanto anime. É uma evolução algo estranha de episódio para episódio. Passamos de questões relativamente leves, como dificuldade em fazer amigos, para algo tão complexo como o passado de Kouji – apenas a ponta do icebergue nesta altura, mas já de si uma mudança vertiginosa. 

 

Mas isso é assunto para outra parte da análise. Para já, referir que, por alturas do episódio 29, Takuya e Kouji já desbloquearam os respetivos espíritos híbridos via DigiOvo do Patamon Ex Machina. Sephirotmon é finalmente derrotado. 

 

Do episódio 30 ao 33 lidamos com o drama entre Kouji e Kouichi. Do episódio 34 ao 37 lidamos com o Cherubimon. De notar que cada um destes dois arcos – 2.3 e 2.4 – inclui um filler estranho. No 2.3 é o tal do Trailmon moribundo, no 2.4 é um lidando com um IceDevimon que fora prisioneiro do Cherubimon. 

 

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Este último aceita-se melhor pois sempre dá uma oportunidade aos miúdos que não Takuya e Kouji para fazerem alguma coisa. Nesta altura, Izumi, Tomoki, Junpei e Kouichi já tinham abdicado das suas digievoluções para que Takuya e Kouji conseguissem desbloquear os seus níveis Extremos. Havemos de falar melhor sobre isso, claro.

 

Com a derrota do Cherubimon no episódio 37 – até agora o principal vilão da temporada – encerramos a segunda parte. A terceira parte começa no episódio 38 quando descobrimos que, surpresa surpresa, o verdadeiro vilão é Lucemon. Os Cavaleiros Reais – o Dynasmon e o LordKnightmon – vão a mando dela recolher DigiCódigo para que ela o use para regressar à vida. 

 

Só divido a terceira parte em dois arcos: 3.1 e 3.2. O primeiro destes é o infame arco dos Cavaleiros Reais – até eu tinha ouvido uma coisa ou outra sobre este antes de conhecer Fronteira. Um dos grandes motivos da menor popularidade da temporada. Basicamente, neste arco os heróis perdem todos os combates contra os Cavaleiros Reais. Estes literalmente roubam o Mundo Digital debaixo dos pés do elenco, desalojando – e eventualmente matando – inúmeros Digimon no processo. 

 

Eu talvez tolerasse melhor estas derrotas se Fronteira aproveitasse a oportunidade para desenvolver as personagens. Afinal de contas, como referi acima, isto não acontece muitas vezes em Digimon. No entanto, Fronteira nem sequer faz isso. Pelo contrário, os Escolhidos não reconhecem a gravidade de praticamente nenhuma destas derrotas. Cada episódio termina num tom otimista e infantil: o que conta é a intenção, da próxima vez ganhamos. Isto enquanto o Mundo Digital se vai desfazendo em pó. 

 

Nesta altura, até o Ted Lasso lhes diria para terem noção. 

 

Como se isso não bastasse, nesta fase, com muito poucas exceções, só Takuya e Kouji é que combatem. 

 

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Nas temporadas anteriores, os últimos arcos eram os melhores. Em Fronteira, tirando, vá lá, os três últimos episódios (o arco 3.2, de que falaremos já a seguir), acontece o oposto. E tendo em conta que esta é a reta final da temporada, a última impressão, não admira que muitos não gostem de Fronteira. 

 

As únicas coisas que posso dizer a favor do arco dos Cavaleiros Reais é que, ao menos, os heróis vão aprendendo qualquer coisa com cada derrota. Takuya e Kouji vão aguentando mais tempo em combate de cada vez, até finalmente vencerem (se bem que o mérito não é todo deles… mas não nos adiantemos). Além disso, ao contrário do que aconteceu com o arco do BlackWarGreymon e as Pedras Sagradas em 02 (outro em que os heróis perdem muitas vezes), os eventos deste arco eram necessários para a narrativa. Lucemon tinha obter o DigiCódigo para que os Escolhidos lutassem com ela no fim. 

 

Ainda assim, tudo isto podia ter sido alcançado com muito menos episódios e com um tom mais adequado. 

 

Finalmente, o último arco, o 3.2, compreende os três últimos episódios, em que se enfrenta a Lucemon e esta é finalmente derrotada. O Mundo Digital é reconstruído, os Digimon renascem, os miúdos regressam a casa e todos vivem felizes para sempre. Frontier, aliás, tem um final mais feliz que as suas antecessoras. Não é necessariamente uma coisa boa… mas estou a adiantar-me.

 

E era isto o que queria dizer sobre o enredo de Fronteira. Como podem ver, as falhas da temporada aparecem já aqui. Depois desta, vou mudar um pouco a fórmula habitual destas análises e falar sobre as origens do Mundo Digital e os vilões desta temporada. Vai ser giro. Continuem por aí… 

 

Digimon Frontier #2 – Salvando o Mundo Digital, literalmente

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Antes de falarmos sobre a versão de Fronteira do Mundo Digital, queria assinalar algo. Esta é a primeira temporada de Digimon a passar pouquíssimo tempo no Mundo dos Humanos (vou tentar usar este termo em vez de “Mundo Real”). Parte do primeiro episódio, o notável episódio 21 e os últimos. 

 

Isto não é necessariamente um defeito, mas existem possibilidades que se perdem. Não conhecemos as famílias nem os amigos dos Escolhidos tirando em flashbacks – algo a que havemos de regressar mais tarde – e não temos aqueles elementos de slice of life de que gostava tanto em 02 (sobretudo em miúda) e Tamers. A única altura em que o Mundo dos Humanos se torna relevante é mesmo no fim, quando os vilões já tinham destruído o Mundo Digital. Literalmente.

 

Um aspeto curioso desta versão do Mundo Digital é o Digicódigo. Essencialmente o material genético dos Digimon, dos lugares em si, do próprio corpo dos Escolhidos – sublinhe-se “corpo”. É um caso de simplicidade que funciona, de menos que é mais. Pode-se argumentar que, a partir de certa altura, o Mundo Digital de Adventure se tornou demasiado complexo – uma consequência natural de múltiplas sequelas. Cada história nova nesse universo tinha de introduzir novas regras, que levassem a novos conflitos… mas isso daria azo a um texto por si só. 

 

Os Escolhidos passam grande parte de Fronteira a capturar o Digicódigo de antagonistas e a purificá-lo. E os vilões – em particular os Cavaleiros Reais nos últimos episódios – procuram roubar esse Digicódigo para alimentar Lucemon na sua tentativa de regresso à vida. Salvar o Mundo Digital ganha um sentido literal – as ações dos vilões fazem com que a terra literalmente se desintegre debaixo dos pés do elenco. 

 

Em Fronteira, aliás, o Mundo Digital chega a ser completamente obliterado. Literalmente desaparece, todos os Digimon morrem, o que infelizmente não é tratado com a devida seriedade. É certo que, depois de derrotados os maus da fita e recuperados os dados, reconstrói-se tudo de novo, mas mesmo assim. Só temos um momento relativamente breve de desespero no último episódio… mas isso é assunto para outra parte da análise.

 

Além disso, sim, o Mundo Digital é reconstruído, todos os Digimon renascem mas… eles renascem como Bebés. Ou quanto muito no nível Infantil. Ainda levará algum tempo até as coisas regressarem à normalidade – ou talvez se estabeleça um novo normal. 

 

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Outro elemento característico de Fronteira diz respeito aos Trailmon, cujas linhas percorrem todo o Mundo Digital. Sempre gostei de comboios e os Trailmon são engraçados. Acho fixe que a porta de entrada para o Mundo Digital seja numa estação de comboios. Gostei daquele episódio filler dedicado a uma corrida entre Trailmon – era inevitável. 

 

Não gostei tanto do outro filler que envolve um Trailmon. Para começar, surge numa altura em que o foco está no drama entre Kouji e Kouichi, em pleno Continente da Escuridão (mais sobre isso já a seguir). Se tínhamos de ter um filler nesta altura, teria de ser uma coisa leve, algo que aliviasse de uma das partes mais sombrias da temporada. 

 

O que é que os digiguionistas de Fronteira escolheram, de todos os enredos possíveis? Puseram metade do elenco a prestar cuidados paliativos a um Trailmon. Para além de deprimente, não vai a lado nenhum pois o raio do Trailmon nem sequer morre!

 

Fronteira às vezes é bizarro.

 

Em teoria, o mundo Digital de Fronteira tem zonas diferentes para cada elemento – uma zona para o fogo, a água, o vento, etc. Na prática, a ideia não tem grande expressão. Nas poucas zonas elementares que visitamos, o elemento que representam é um mero aspeto estético – se é mais do que isso, a narrativa não se foca nele. Os cenários são cenários como quaisquer outros, no geral. 

 

A única zona explorada mais a fundo é o Continente da Escuridão, mas aí temos o problema oposto: passamos demasiado tempo lá. Quase vinte episódios, sempre sob céu noturno, literalmente na sombra. Já tinha sido cansativo em Bokura No Mirai, aqui é ainda pior. 

 

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À parte isto tudo, gostei de algumas localizações por onde a história passa, o ligeiro worldbuilding, mesmo que contribua pouco para o enredo. A escola com a professora Togemon e os bebés todos. O mercado de Akita, com cameos de múltiplos Digimon de temporadas anteriores. Os castelos de Ophanimon (incluindo a biblioteca) e Seraphimon. As luas. Este Mundo Digital tem três luas e nós visitamo-las!

 

Além de que o episódio em que eles estão presos na lua e experimentando diferentes formas de regressar à “Terra” é hilariante. Por outro lado, a pobre Della Duck demorou mais de dez anos a escapar da lua, quem ri por última aqui…?


Por falar de episódios, no próximo texto iremos analisar o enredo de Fronteira. Como o costume, obrigada pela vossa visita. Até à próxima!

Saltando a Fronteira, vinte anos depois #1

Digimon.Frontier.full.1460676.jpg

 

Hoje completam-se vinte anos desde a estreia do primeiro episódio de Digimon Frontier – ou Digimon Fronteira, como é conhecido em terras portuguesas – no Japão. Vou aproveitar a ocasião para, finalmente, analisar esta temporada. 

 

Quem conheça o nosso grupo do Digimon PT/Odaiba Memorial Day PT saberá que o facto de ninguém gostar de Fronteira já é um meme entre nós. Não que não compreendesse, pelo menos em parte. Praticamente a única coisa que sabia sobre Fronteira antes era que o elenco não incluía companheiros Digimon. Havemos de falar sobre isso, claro, mas esta é uma queixa legítima. Até agora (assumo eu, que ainda não vi Savers, nem Xros Wars, nem Appmon), as parcerias entre humanos e Digimon eram a imagem de marca do anime. Sobretudo em Tamers, a temporada imediatamente anterior. Cortar com isso foi uma decisão arrojada que nunca iria agradar a toda a gente.

 

Ainda assim, quando me sentei para ver Fronteira pela primeira vez há quase dois anos, fi-lo com a mente aberta. Tentei dar uma hipótese a esta temporada para provar que merece sentar-se sem vergonha entre Adventure, 02 e Tamers. 

 

No entanto… bem, é melhor mostrá-lo em vez de explicá-lo.

 

A minha primeira maratona de Fronteira – a versão original – às cegas, foi relativamente rápida. Cerca de um mês e meio, encaixada confortavelmente na pausa do reboot de Adventure. A minha segunda maratona – dobrada em português, já tomando notas para a análise – só começou mais de um ano mais tarde, sobretudo porque precisei de tempo para digerir Kizuna. Comecei durante o verão de 2021, mas só terminei em fevereiro deste ano, mais de seis meses depois. Cheguei a estar dois meses sem progredir nessa maratona.

 

Por comparação, quando foi com Tamers, a minha segunda maratona demorou muito menos. Cerca de um mês, mais coisa menos coisa. O que é que isto vos diz?

 

04.png

 

Pois é, tenho de concordar com a opinião popular, pelo menos na minha tribo. Não gosto muito de Fronteira. Pelo menos não tanto como de Adventure, Tamers, mesmo Tri e 02. No que toca ao reboot de Adventure, ainda não tenho opinião formada.

 

Dito isto, tal não significa que Fronteira seja completamente má. Pelo contrário, tem vários aspetos que a redimem. Nos próximos tempos aqui no blogue iremos, então, discutir o que resultou e o que não resultou nesta temporada. 

 

Esta análise irá estender-se por várias partes, seguindo uma estrutura semelhante ao que fiz com as temporadas anteriores. Não deverá ser tão longa como a de Tamers – Fronteira não tem material para tanto. Irei usar os nomes japoneses e, como deverá ser óbvio, spoilers em todo o lado. A primeira parte da análise virá ainda hoje. No entanto, ainda estou a trabalhar nas partes seguintes. Para ter tempo de terminá-las, vou publicar apenas uma por semana. 

 

Como o costume, obrigada pela vossa visita. Fãs de Fronteira, tenham um feliz vigésimo aniversário. Se gostarem do que escrevo, podem pagar-me um café na minha conta do Ko-fi, se quiserem.Continuem desse lado. 

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