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Álbum de Testamentos

"Como é possível alguém ter tanta palavra?" – Ivo dos Hybrid Theory PT

Top 10 música portuguesa #2

Segunda parte do meu top 10 de música portuguesa. Podem ler a primeira parte aqui.

 

Chegámos ao pódio da tabela. O bronze foi para...

 

3) João Pedro Pais – Louco Por Ti

 

Acho que nunca ouvi um álbum dele do princípio ao fim, só os singles, mas João Pedro Pais sempre foi um dos meus cantores portugues preferidos. As minhas primeiras recordações dele são de vê-lo cantando na televisão, no final dos anos 90. Depois disso, João foi sempre uma presença assídua nas rádios, nas bandas sonoras de telenovelas, nas compilações que ia comprando.

 

 

Um aspeto curioso em relação a João é a sua ligação a Bryan Adams (que, como vocês saberão, é o meu cantor preferido). Bryan convidou-o para abrir os seus concertos na Península Ibérica na digressão de 2003. Um gesto simpático… mas João teve de pagar as viagens do seu próprio bolso (que forreta, senhor Bryan!). Em todo o caso, João acabou por fazer amizades na banda dele. Mais tarde, voltou a abrir para Bryan em 2005 (e chegou a dar um saltinho à entrevista à RFM, incluída no DVD Live in Lisbon) e, ainda melhor, o próprio Keith Scott tocou nalguns álbuns de João. Ambos ficaram bons amigos

 

Pode-se argumentar que João e Bryan têm algumas semelhanças – ambos são cantores masculinos que tocam pop rock e cantam sobre amor. Eu definitivamente tenho preferência por este estilo.

 

A minha música preferida de João Pedro Pais é Louco por Ti, do seu álbum de estreia, Segredos. Em termos puramente musicais, gosto do crescendo no início – começa com um acompanhamento e uma melodia relativamente graves, apenas sintetizadores, bateria e o baixo. A certa altura soa um acorde de guitarra elétrica, a melodia sobe de tom e culmina no excelente refrão. 

 

Outro pormenor de que gosto é do facto de, ao contrário do costume, o solo de guitarra soar depois do terceiro refrão e não antes.

 

Esta canção foi reeditada no álbum 20 anos, que João lançou em 2017 para celebrar duas décadas de carreira. Neste álbum, ele regravou os seus êxitos e eu definitivamente prefiro esta versão de Louco Por Ti.

 

 

Também gosto muito da letra. Um dos motivos pelos quais me afeiçoei à música foi por se aplicar bem à uma história que escrevi quando era adolescente. Da maneira como a interpreto, Louco por Ti fala sobre o início de uma relação (vamos assumir que é um casal heterossexual). Ambas as partes estão interessadas, mas ela é mais atrevida, mais "prá frentex" (ainda se usa essa expressão?), enquanto ele – o narrador – é mais retraído, em parte por causa de pressões de terceiros. No fundo é um conflito entre o desejo e a timidez. 

 

Não digo que Louco Por Ti esteja objectivamente entre as melhores canções portuguesas, mas é uma das minhas preferidas. Agora espero voltar a ter uma oportunidade de ver João Pedro Pais ao vivo, tocando esta e muitas outras. 

 

2) António Variações – Canção do Engate

 

Nem toda a gente concordará com algumas das minhas escolhas nesta lista de melhores canções portuguesas, mas acho que esta será bastante consensual. Não preciso de apresentar António Variações, toda a gente sabe quem foi. Uma das grandes injustiças deste mundo é ele ter tido uma carreira tão curta. O VIH é uma grande besta.

 

Há quem acredite no “live fast, die young” no que toca a músicos. Há quem romantize artistas como estes, que desaparecem enquanto estão em alta, sem nunca produzirem trabalhos de menor qualidade que os seus antecessores, sem nunca perderem a juventude, a beleza, a energia. E, nos tempos que correm, sem nunca serem “cancelados”.

 

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Eu não alinho nisso. Já tive as minhas perdas e cheguei à conclusão que quero vidas longas para os “meus” músicos. Mesmo que os trabalhos vão perdendo qualidade, mesmo que deixem de fazer música. Ao menos estarão cá para cantarem os velhos êxitos nos concertos ou, na pior das hipóteses, continuarem a ouvir os elogios e as homenagens.

 

Tenho pena, assim, de não ter vivido ao mesmo tempo que António Variações. Uma coisa que me surpreendeu no filme Variações – corroborada mais tarde, quando pesquisei sobre o assunto – foi o lado mais tradicional de António. A sua paixão pela música tradicional portuguesa, por Amália Rodrigues (com quem fez amizade), e em simultâneo um artista à frente do seu tempo, com um visual arrojado e influências modernas.

 

Se me permitem o parêntesis, há uns tempos encontrei uma entrevista de Júlio Isidro à dona Deolinda de Jesus, mãe de António Variações, e ao irmão dele, uns anos após a sua morte. Aparentemente foi retirada do YouTube pois agora já não a encontro. O que é uma pena. Gostava que ouvissem a ternura com que D. Deolinda falava sobre o filho. Daquilo que me recordo da entrevista (e posso estar a recordar mal), a música preferida dela era “É P’ra Amanhã” e ia repetindo que o António “era muito amigo da sua mãe”.

 

Não tenho experiência própria do Portugal dos anos 70 e 80, mas imagino que não tenha sido fácil para D. Deolinda apoiar o filho. Era a obrigação dela como mãe, claro, mas vivia numa aldeia do interior, num Portugal ainda a recuperar da ditadura, e tinha um filho homossexual e exuberante. Imagino o que ela terá ouvido. 

 

Mas encerremos este aparte. A minha música preferida de António Variações é a Canção do Engate, uma das mais conhecidas dele. 

 

O título foi uma das últimas coisas que descobri acerca da música. Não me recordo exatamente como descobri, mas lembro-me de ter ficado surpreendida. “Canção do Engate”? A sério? Um título tão prosaico, quase brejeiro, para uma música tão bonita?

 

 

A verdade é que esse paradoxo define bem a canção. É uma maneira bonita de tentar seduzir alguém para um caso de uma noite de só, de… bem, engatar alguém. A música procura romantizar algo que não é propriamente romântico, pelo menos não da maneira tradicional. A letra fala de duas pessoas que pretendem usar-se uma à outra para combater a solidão. Uma dela ainda tem esperanças numa ligação romântica, outra – o narrador – tem uma perspetiva mais cínica, quer sexo e mais nada.

 

Agora que penso nisso, faz-me lembrar Give You What You Like, de Avril Lavigne – é como se fosse a perspetiva da outra pessoa. I’ve got a brand new cure for lonely (“brand new” é como quem diz… Deve ser das curas mais antigas da humanidade). A narradora sente-se sozinha, aceita envolver-se com a outra pessoa desde que esta finja que a ama, nem que seja só por uma noite. 

 

Por outro lado, não podemos ignorar que a letra terá quase de certeza sido inspirada pelas experiências de Variações como um homem homossexual nos anos 70 e 80, conforme referido neste artigo. Não me vou alongar muito pois não faço parte da comunidade, não tenho direito a isso.

 

Toda a música, aliás, tem um tom algo melancólico, fruto tanto da letra como do acompanhamento musical e da interpretação de Variações. Não é óbvio à primeira audição, mas quando reparamos nele não dá para ignorar. Uma vez mais, esta melancolia, esta solidão, é uma coisa muito portuguesa. 

 

Como seria de esperar uma música extraordinária como esta, existem várias versões por outros artistas. Não gosto muito da versão do filme Variações – Sérgio Prata não canta a melodia como deve ser – mas gosto do instrumental e Sérgio tem uma voz fantástica.

 

 

Há coisa de uma década, Tiago Bettencourt gravou a sua própria versão – acústica, acompanhada por uma orquestra. Andei obcecada por esta em 2014, altura em que a apanhava muitas vezes na rádio. É uma versão lindíssima: a orquestra dá um tom grandioso à canção.

 

Essa obsessão arrefeceu, mas ainda gosto muito desse cover. Por estes dias, tenho andado fixada na versão dos Delfins. Já falámos deles na publicação anterior, a propósito de 1 Lugar ao Sol. Por sinal, essa música tem algumas semelhanças com a versão deles de Canção do Engate. É também um tema pop rock cuja produção confere um carácter atmosférico à música. Atentem à secção instrumental depois da segunda estância. 

 

Outra diferença em relação ao original é o ritmo mais rápido. Isso por um lado é bom: praticamente a única falha da versão do Variações é esta por vezes arrastar-se. Por outro lado… a música original era mais lenta por um motivo. Pode-se argumentar que a versão dos Delfins é um tudo nada demasiado alegre. Mas é uma falha menor, na minha opinião.

 

António Variações teve uma carreira mais curta do que merecia, mas ainda conseguimos sentir o impacto do seu trabalho nos dias de hoje. Ainda agora Marisa Liz interpretou um inédito de Variações, intitulado Guerra Nuclear. Gosto imenso da música – terá sido composta há coisa de quarenta anos mas é assustadoramente relevante nos dias de hoje. 

 

Quer-me parecer que a música de António Variações continuará no imaginário colectivo durante muitos anos ainda. Gosto de pensar que estou a contribuir para isso com este texto. Fica aqui. 

 

1) GNR – Sangue Oculto

 

 

Chegámos ao topo da lista. Sangue Oculto é uma canção que descobri quando tinha nove ou dez anos. Se a memória não me falha, foi quando me ofereceram o meu primeiro Discman (quem não saiba o que é, que vá ao Google), juntamente com a compilação Anos 90 Bem Medidos. Esta era a faixa que abria o segundo CD – por causa disso, ainda hoje, de vez em quando, gosto de ouvir Mundo de Aventuras depois de Sangue Oculto. Fiquei muito rapidamente obcecada pelo tema dos GNR e de Javier Andreu. Lembro-me de imaginar os três protagonistas de Sonic Underground (na altura passava no Batatoon) tocando esta música.

 

Infelizmente, acabei por perder o segundo CD e estive vários anos sem ouvir Sangue Oculto, tirando uma vez ou outra. Por sinal, uma das vezes foi numa das minhas primeiras visitas ao Alvaláxia, no primeiro ano de vida do Estádio Alvalade XXI. Alguns meses mais tarde, no dia em que ia ver o Portugal x Espanha do Euro 2004 – o meu primeiro jogo de futebol – lembrei-me da ocasião e andei a cantarolar a canção para mim mesma. Na altura não me ocorreu o quão adequado era cantar um dueto luso-espanhol no dia de um duelo ibérico. Pouco mais de um ano mais tarde, no dia do meu segundo jogo da Seleção – se não me engano, um jogo com o Luxemburgo, no Estádio do Algarve – apanhei a música na rádio.

 

Todas estas coincidências fizeram com que começasse a associar a música à Seleção. Anos mais tarde, adicionei-a à respetiva playlist. Adequa-se particularmente a jogos entre Portugal e Espanha, como disse acima. Durante o Mundial 2018, a RTP3 fez uma pequena montagem com imagens do nosso empate com nuestros hermanos e eu adorei. 

 

Não me posso esquecer de fazer uma story ou algo similar quando jogarmos com eles, na próxima semana.

 

Recuando um pouco, em finais de 2007, descobri que era possível comprar ficheiros de mp3 no site da RFM. Eu já usava leitores de mp3 há algum tempo, mas apenas com músicas “ripadas” de CDs (a única exceção era a discografia dos Linkin Park, conforme escrevi aqui). Tinha boas intenções, queria continuar a adquirir música legalmente (a maior parte das vezes, pelo menos), logo, usei esse site e a primeira música que comprei foi precisamente Sangue Oculto. 

 

 

Acabei por apanhar um balde de água fria pois o meu leitor de mp3 não conseguia ler o ficheiro que eu comprara (acho que estava bloqueado ou assim). Conseguia ouvi-lo no computador, mas não em mais lado nenhum. 

 

Algumas semanas depois saquei a música por meios… menos legais. Aliás, toda esta experiência dissuadiu-me de comprar música online durante vários anos. Ainda assim, no meu cânone pessoal, Sangue Oculto destaca-se por ter sido a primeira música que saquei da Internet eu mesma.

 

Mas está na altura de falarmos sobre a música em si. Começando pela letra. Sangue Oculto foi tema de um dos primeiros episódios do Responder à Letra de Gilmário Vemba. Aliás, foi esse episódio, ficado na minha canção portuguesa preferida, que me inspirou a escrever este texto. 

 

Não vou defender os GNR nesta. Concordo com o Gilmário, a letra não faz sentido nenhum. Nunca fez, embora eu nunca tenha pensado a fundo nela até ouvir o Gilmário. Isto na verdade é um problema recorrente com os GNR (que, apesar de tudo, são das bandas portuguesas que mais gosto). Como disseram num episódio mais recente de Responder à Letra, muitas vezes não se percebe se é suposto as canções terem algum sentido ou se são apenas frases ao calhas. E se o Gilmário se puser, um dia, a ouvir Ana Lee, até se passa. 

 

Mal posso esperar. 

 

 

Regressando a Sangue Oculto, esta letra nem sequer é daquelas suficientemente vagas para projetarmos os significados que queremos: está mais além disso. Ninguém pode refutar as nossas interpretações porque a letra não é suficientemente coerente para alguém discordar. 

 

Por exemplo, no meu caso, eu associo-a à Seleção, ainda que sobretudo por motivos alheios à letra em si. Por outro lado, encontro algumas semelhanças com a letra de Heat of The Night, de Bryan Adams – também ela confusa, com referências vagas a fogo e/ou calor e luta nas ruas. Por outro lado, consta que Sangue Oculto fez parte da banda sonora de Lua Vermelha, uma série vampiresca da SIC que tentava explorar a febre Twilight… o que acho hilariante. 

 

A propósito, parece que a SIC se prepara para estrear uma novela chamada Sangue Oculto. Terá mesmo sido inspirada por esta canção, já que soa durante o genérico. Ironicamente, as premissas parecem ser exatamente aquelas que o Pôr-do-Sol caricatura (ainda só vi os primeiros episódios). Ninguém na SIC percebeu a mensagem…

 

Por fim, a propósito do Responder à Letra sobre Sangue Oculto, o António do Odaiba Memorial Day PT disse-me que a música lhe fazia pensar em Digimon Fronteira. Entre as referências fogosas e a barreira/barragem de fogo que pelos vistos é uma fronteira, faz algum sentido.

 

Na verdade, aquilo que mais gosto na música é o instrumental. Do princípio ao fim. Quase todos os instrumentos brilham em Sangue Oculto. O baixo tem um padrão interessante; adoro as notas de piano pontuando o refrão; a bateria vai fazendo o que quer. Quando saquei Sangue Oculto, passado todo aquele tempo, o meu eu de dezassete anos adorou o facto de esta música ter, não só um solo de guitarra mas também um solo de piano. Nem sequer sabia que era possível. 

 

 

Há uns anos, os GNR fizeram um concerto em conjunto com a banda sinfónica da GNR (a Guarda Nacional Republicana, não o Grupo Novo Rock). Gosto imenso do que fizeram com Sangue Oculto – os metais soam fantásticos.

 

Por fim, gosto da interpretação de Javier Andreu, mas ainda mais da de Rui Reininho – ele tem uma das vozes mais bonitas de Portugal. Aliás, adoro o facto de isto ser um dueto bilíngue. De as duas partes do refrão serem traduções uma das outras, ainda que imperfeitas (barreira? barragem?), de Reininho e Andreu irem cantando à vez e, depois, ao mesmo tempo. É super giro, é algo que nunca ouvi em mais nenhuma música. 

 

Objetivamente, talvez Sangue Oculto não mereça estar no topo desta tabela. Temas como Canção do Engate, Mariana, Chamar a Música, Porto Côvo ou mesmo Louco Por Ti serão melhores canções. Mas, lá está, Sangue Oculto é uma das minhas preferidas de todos os tempos. Adoro-a há mais de vinte anos. Mesmo merecendo menos do que outras, eu tinha de colocá-la em primeiro lugar. De outra forma, não estaria a ser honesta comigo mesma. 

 

Agora tenho mesmo de ir a um concerto dos GNR, mesmo que Javier Andreu não esteja lá para cantar Sangue Oculto. Mas espero que esteja!

 

E pronto, são estas dez das minhas músicas preferidas em português de Portugal. Foi divertido redescobrir estas canções tão especiais para mim.

 

Quanto aqui ao estaminé, este não deverá ficar parado durante muito tempo. Os Paramore estão finalmente a sair da toca e vão lançar um single – This is Why – no dia 28 de setembro. Naturalmente, esse single será assunto do próximo texto cá do blogue. Não vou começar a escrevê-lo logo logo – This is Why sai no dia a seguir ao jogo com a Espanha, ou seja, ainda estarei ocupada com o meu outro estaminé. Mas não será mau tirar uns dias para refletir sobre a música – e possivelmente ler e/ou ouvir eventuais declarações da banda sobre This is Why e o álbum que se avizinha.

 

Uma vez mais, obrigada pela vossa visita. Continuem por aí.

Top 10 música portuguesa #1

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Uma falha aqui do estaminé é não falarmos o suficiente sobre música portuguesa. Para além de não dar o devido apoio à produção nacional, uma grande fatia da música que oiço é de artistas ou bandas do nosso retângulo à beira-mar plantado. Já estava na altura de isso se refletir aqui no blogue.

 

Antes dos meus doze anos, a maior parte da música que ouvia era portuguesa. Não sei se o meu caso é único e/ou se isso ainda acontece hoje mas, a partir de certa altura, a mensagem que me chegava era que o que era “fixe” era ouvir música em inglês. Estava também numa altura em que já sabia inglês suficiente para compreender as letras, pelo menos em parte.

 

Ainda assim, a música portuguesa esteve sempre presente, mesmo que apenas através da rádio. Quando comecei a usar o Spotify aqui há uns anos – que facilita imenso o acesso a música – passei a  ouvir artistas e bandas portuguesas muito mais ativamente. Aliás, por norma faço um esforço por ter todos os dias um Daily Mix todo em português de Portugal (o que às vezes é difícil, o algoritmo é teimoso...). A minha lógica é que, como estes músicos têm uma audiência bem menor que os músicos anglo-saxónicos, precisam mais das minhas reproduções.

 

Assim, hoje vou deixar-vos o meu top 10 de música portuguesa. Bem, mais ou menos. Não é um top 10 rigoroso por dois motivos. Para tornar o texto mais interessante, não vou repetir artistas ou bandas e não vou incluir músicas que já abordei aqui no blogue. Porto Côvo, por exemplo, ocuparia um dos lugares cimeiros, mas, como já teve direito ao seu próprio texto, incluí-la neste seria redundante. Desse modo, pensem nisto não como um top 10 e sim em dez músicas portuguesas que estão entre as minhas preferidas.

 

E talvez um dia escreva uma segunda parte, com outras dez músicas. 

 

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Olhando para esta lista, uma coisa que se destaca é que… estas músicas são antigas. A mais recente tem vinte anos. 

 

Isto tem duas explicações. Em primeiro lugar, como verão já de seguida, quase todas estas canções têm uma história pessoal associada e/ou descobri quando era miúda. Em segundo lugar, muitas destas músicas têm sobrevivido ao teste do tempo, ainda hoje passam nas rádios. Ainda por cima, a rádio que mais oiço neste momento é a m80. 

 

Não significa que não haja música portuguesa após o início dos anos 2000 de que eu goste. Eu aliás ando a gostar de ouvir a Bárbara Tinoco e também as músicas Talvez de Carolina de Deus e Mais ou Menos de Rita Rocha. Se sempre escrever uma sequela a este texto, hei de incluir músicas mais recentes.

 

Como o costume, tinha muito sobre que escrever. Assim, este top 10 virá em duas partes. Deixo o pódio para amanhã ou depois.

 

Assim, sem mais delongas, começamos por…

 

10) Anjos – As Long As You Love Me

 

No início dos anos 2000, tive uma fase em que gostava muito dos Anjos. Não durou muito, mas ainda hoje gosto de músicas como Ficarei, Quero Voltar e Perdoa. São um par simpático. 

 

 

Penso que foi no Natal de 2000 que me ofereceram o CD Anjos ao vivo, lançado no mesmo ano. Apesar de ser um álbum ao vivo, a primeira faixa foi gravada em estúdio. É o tema Quando Fores Grande, que os Anjos lançaram a propósito de uma campanha conjunta com a Swatch – também me ofereceram o relógio, se não me engano em conjunto com o CD. Era uma campanha para a construção de uma escola em Timor-Leste, que estava a libertar-se da ocupação indonésia.

 

Saudades desses tempos antes do 11 de setembro, em que parecia que o mundo estava a evoluir para melhor. Sublinhe-se o “parecia”.

 

O videoclipe de Quando Fores Grande dá-me vontade de rir, um bocadinho. É tão… final dos anos 90, início dos anos 2000. Aquela coreografia, as dançarinas com o estômago à mostra…

 

Mas não é de Quando Fores Grande que quero falar, é sobre outra música de Anjos Ao Vivo. A versão que a dupla cantou em palco do grande êxito dos Backstreet Boys, As Long As You Love Me. 

 

Eu fiquei obcecada por este cover. Lembro-me de dançar ao som desta música na minha sala, quando tinha onze ou doze anos. Mesmo anos mais tarde, já depois de me ter cansado das outras músicas dos Anjos, fui mantendo esta música no meu leitor de mp3 (“ripada” do CD). Tive uma fase em que a troquei pela versão original, mas acabei por regressar à versão dos Anjos.

 

 

Uma grande parte da qualidade vem da versão original, claro, com a sua letra romântica e melodia açucarada. Ainda assim, acho que a versão dos Anjos tem um instrumental mais… orgânico, menos produzido, com uma emotividade diferente – nem que seja só por ter sido gravada ao vivo.

 

Ou talvez seja apenas a nostalgia a falar.

 

A música está apenas em décimo lugar precisamente porque está cá quase só por motivos sentimentais. Além disso, não é uma música original, é uma versão de uma música estrangeira – quase nem conta como música portuguesa. Mas eu tinha de incluí-la aqui, porque foi mesmo muito marcante. 

 

9) Rádio Macau – Amanhã é Sempre Longe Demais

 

Esta é uma obsessão recente. Não é propriamente uma canção que adore há muito tempo ou que tenha um grande valor sentimental, como a maior parte dos itens desta lista. Nem sequer tenho muito a dizer sobre ela. Mas gosto imenso de Amanhã é Sempre Longe Demais. 

 

 

A letra não é má. Dois amantes que se despedem depois de uma noite passada juntos e já sentem saudades um do outro. A minha parte preferida da canção é o instrumental. Não percebo como conseguiram aquele efeito “metálico” no acompanhamento (teclado? sintetizadores?), mas eu adoro. 

 

Também adoro a interpretação em tom grave de Xana, a vocalista dos Rádio Macau. Outras versões desta música, como a dos Resistência, acrescentam vocais mais agudos ao refrão e, a meu ver, não ficam tão bem. Nem todas as canções precisam de refrões bombásticos. Outro pormenor na versão original que resultou muito bem são os coros masculinos nos últimos refrões. 

 

Como disse acima, de todas as músicas nesta lista, Amanhã É Sempre Longe Demais será a canção de menor valor sentimental para mim. Se tivesse escrito este texto há dois anos (ou se o escrevesse daqui a dois anos), talvez esta música não estivesse incluída. Ainda assim, Amanhã É Sempre Longe Demais é uma música muito bonita por si mesma, merece todos os elogios. Mesmo que a minha obsessão arrefeça daqui a uns tempos, não me vou arrepender de ter escrito sobre ela. 

 

8) Xutos & Pontapés – À Minha Maneira

 

Tive algumas dificuldades em escolher uma música dos Xutos & Pontapés para esta lista. Gosto de várias músicas deles, mas daí a escolher uma favorita… Estive quase para não incluir nenhuma canção deles nesta lista, mas… são os Xutos!

 

Acabei por escolher À Minha Maneira, da minha playlist da Seleção (mais sobre isso adiante). Não diria que é a minha preferida dos Xutos, mas andará lá perto. 

 

 

Para mim, a música vale sobretudo pela letra – ainda que seja uma mensagem simples, que se explica a si mesma. A minha parte preferida é o refrão, sobretudo os versos "E as forças que me empurram, e os murros que me esmurram, só me farão lutar…" – a forma como se destacam do resto da música, tomando um carácter vagamente atmosférico, mesmo místico, para depois mudar para um tom mais eufórico em "À minha maneira (à minha maneira), à minha maneira!“. 

 

Em 2009, Cristiano Ronaldo usou esta música na sua apresentação no Real Madrid. Há coisa de dez anos, li uma entrevista ao Tim (no jornal Record?) em que este dizia que aprovava a escolha. Mais: Tim achava que a canção condizia bem com a personalidade e a história de vida de Ronaldo. 

 

Como alguém que acompanha a carreira do madeirense desde os seus tempos no Sporting, eu concordo. A determinação em ser o melhor, a sua teimosia, uma certa mesquinhez ao usar as críticas como motivação – há quem lhe atribua a frase “Your love makes me strong, your hate makes me unstoppable”.

 

Isso resultou bem durante a larga maioria dos vinte anos de Ronaldo como profissional. Infelizmente, neste verão vimos o reverso da medalha. Ele queria sair do Manchester United mas, numa altura em que ele está em fim de carreira e ninguém quer montar uma equipa em torno dele (outras pessoas na Internet podem explicar melhor a questão), a sua teimosia e orgulho jogaram contra ele e Ronaldo ficou muito mal na fotografia. 

 

Em todo o caso, é por causa disto que À Minha Maneira tem feito parte da minha playlist da Seleção Portuguesa. Mesmo que a maneira de Ronaldo esteja a voltar-se contra ele mesmo, a mim recorda-me – e perdoem-me por estar a falar disto outra vez a final do Euro 2016. Penso que já o referi algures nas internetes, mas na minha opinião uma das coisas que fez com que ganhássemos foi o facto de toda a equipa ter adotado a maneira de Ronaldo. Depois de um campeonato inteiro lidando com críticas (algumas justas, outras não), quase todo o mundo futebolístico contra nós, culminando com a lesão de Ronaldo, a resposta dos portugueses foi unirem-se contra tudo e contra todos. O resto é História. 

 

 

Esta não é a única canção neste texto que pertence à minha playlist da Seleção. Quando adiciono músicas a essa lista, às vezes estas ganham um lugar especial no meu coração. E como é da Seleção Portuguesa que estamos a falar, tendo a favorecer músicas cantadas em português.

 

Mais exemplos disso já a seguir. 

 

7) Pedro Abrunhosa – Eu Não Sei Quem te Perdeu

 

Neste momento, Eu Não Sei Quem te Perdeu é a minha canção preferida de Pedro Abrunhosa. Possui um tom intimista, só com piano e uma voz enrouquecida. Na minha opinião, a voz de Abrunhosa adequa-se a este género de baladas suaves, como Tudo o Que Eu te Dou e Se Eu Fosse Um Dia o Teu Olhar. Não acho que resulte tão bem quando ele eleva a voz – embora até goste de algumas dessas músicas, como Vamos Fazer o Que Ainda Não Foi Feito. 

 

A letra não é má, mas não é nada por aí além. Ao menos não entra nos mesmos territórios bizarros de músicas como Momento ou Se Eu Fosse Um Dia o Teu Olhar. Em todo o caso, condiz com a “vibe”, explora o lado romântico do tom intimista do instrumental. 

 

Aliás, gosto mais dessa “vibe”, do “mood” de Eu Não Sei Quem te Perdeu do que da letra em si. Tudo por causa do último filme de Digimon Adventure Tri.

 

Eu sei, eu sei. Passo a explicar. 

 

 

Isto ocorreu há pouco mais de quatro anos, durante o verão de 2018. Lembro-me perfeitamente: estava de férias no Algarve e estava a escrever a análise a Bokura No Mirai. Numa das tardes estava na varanda do meu apartamento de férias, passando o rascunho a computador e ouvindo música no Spotify. Quando estava na parte referente à cena em que o Yamato chora nos braços do Gabumon, calhou tocar Eu Não Sei Quem te Perdeu. 

 

Logo aí achei que a música se adequava àquele momento. Lá está, não pela letra. Aquela não é uma cena romântica, mas é uma cena de vulnerabilidade, de ternura, algo que Eu Não Sei Quem te Perdeu ilustra muito bem com o seu instrumental e o seu tom intimista.

 

Não me interpretem mal, esta é uma canção lindíssima por si só. Merece todos os elogios. No entanto, para mim tem este significado extra de estar associada a um dos melhores momentos de Tri. Sempre que oiço Eu Não Sei Quem te Perdeu, lembro-me do Yamato e do Gabumon… e tento não pensar no que acontece em Kizuna

 

Já que falo nesse filme, lembrete rápido que Digimon Adventure A Última Evolução Kizuna encontra-se neste momento em exibição nos cinemas, dobrado em português de Portugal. Não percam!

 

6) Diva – Mariana 

 

Esta é uma canção que eu estou genuinamente surpreendida por não ser mais popular hoje em dia. No que toca aos Diva, a canção Amor Errante tem mais rotação. É uma música bonita, não me interpretem mal, mas… Mariana é muito melhor! Sou a única a achá-lo? 

 

 

 

Mariana é uma música caída do céu. O instrumental contribui muito para esse efeito, com a percussão, os sintetizadores, a linda harmónica, o baixo e as notas de guitarra elétrica. E, claro, a linda interpretação da vocalista Natália Casanova, absolutamente angelical, uns agudos impressionantes. Eu bem tento atingir essas notas e não consigo… 

 

Por outro lado, os últimos "la la la la" são uma das partes que mais gosto da canção. 

 

A letra é simples mas bonita, falando sobre saudade – um tema muito português. Aliás, servia para fado. Não há por aí ninguém que queira fazer esse cover? 

 

Não preciso de dizer mais nada. Oiçam Mariana e deixem-na falar por si. 

 

5) Sara Tavares – Chamar a Música

 

De todas as canções nesta lista, Chamar a Música será a primeira que conheci. As minhas primeiras recordações dela serão de quando tinha quatro ou cinco anos – acho que na altura estava em todo o lado. Ao pesquisar para este texto, descobri que foi a candidata portuguesa para a edição de 1994 do Festival da Canção – a cronologia bate certo com as minhas recordações.

 

Eu, aliás, só agora é que descobri que a música original é da Sara Tavares. Nos últimos anos andava a ouvir a versão que está disponível no Spotify, cantada por Teresa Radamanto. Eu pensava que era a versão original – não é muito diferente da de Sara Tavares, condizia com as minhas recordações, nunca tinha pensado muito nisso. Daquilo que consegui pesquisar (que não é muito), esta é uma versão gravada em 2009, a propósito do programa da RTP “A Melhor Canção de Sempre”. O objetivo era escolher a melhor candidata portuguesa ao Festival da Canção até à data.

 

 

A versão de Teresa Radamanto é bonita, mas eu gosto mais da versão da Sara Tavares. Estou zangada por não estar disponível no Spotify. Ainda assim, a interpretação de Sara não é o único ponto forte da canção. A letra, da autoria de Rosa Lobato Faria, é provavelmente a melhor de todas as canções desta lista – é um poema, mais do que qualquer outra. Também gosto do acompanhamento musical – é típico das power ballads dos anos 90, não é?

 

Na altura, a música atingiu um respeitável oitavo lugar no Festival da Canção. Está nesta lista por sentimentalismo, mas Chamar a Música é genuinamente uma canção linda. Outra que merecia mais atenção nos dias de hoje. 



4) Delfins – 1 Lugar ao Sol

 

Os Delfins são uma banda que sempre apreciei, de forma intermitente. Quando tinha oito anos, mais coisa menos coisa, andei obcecada com o álbum Saber Amar, lançado um par de anos antes. Os meus tios tinham o CD e eu, com a falta de noção típica de uma menina de oito anos, convenci-os a oferecerem um exemplar ao meu pai no seu aniversário.

 

Ao fim de algum tempo fartei-me, mas o álbum foi marcante. Aqui entre nós, o azul é hoje a minha cor preferida pelo menos em parte por causa da canção A Cor Azul. Mesmo hoje, passados estes anos todos, ando a ouvir algumas das músicas e ainda gosto delas. Temas como Não Vou Ficar, Num Sonho Teu e o tema-título Saber Amar. 

 

Esta última é uma canção super alegre mas que, inesperadamente, encerra algumas verdades. “Contra as armas do ciúme, tão mortais, a submissão às vezes é um abrigo”, “Todas as formas de se controlar alguém só trazem um amor vazio”. O Miguel Ângelo não quer fazer um workshop?

 

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Ora, a música de que vamos falar não pertence ao álbum Saber Amar. 1 Lugar Ao Sol é daquelas músicas que sempre estiveram lá, que ia ouvindo de vez em quando na rádio sem lhe dar muita atenção. No verão de 2019, no entanto, a música cativou-me e tenho andado obcecada com ela nessa altura. 

 

A letra não é nada de especial – basicamente sobre lutar por sonhos. É daquelas letras que são suficientemente sólidas para dar alguma mensagem à música e, ao mesmo tempo, suficientemente vagas para o ouvinte fazer as suas próprias interpretações.

 

Naturalmente, acrescentei-a à minha playlist da Seleção Nacional. 

 

1 Lugar ao Sol, na verdade, tem sido a minha música preferida nessa playlist nos últimos anos. Ainda há relativamente pouco tempo usei-a numa story. Antes disso, durante os play-offs do Mundial 2022, ia cantando a terceira parte de 1 Lugar Ao Sol para mim mesma, como se fosse uma oração.

 

Hão de reparar que, na story, usei a versão ao vivo da música. O que me leva a algo que me tem feito alguma confusão: as inúmeras versões que existem de 1 Lugar Ao Sol.

 

Aparentemente, a primeira foi lançada no álbum U Outro Lado Existe, de 1988. Só fiquei a conhecê-la há pouco tempo, está no Spotify. Não é má, mas nota-se muito que é um produto dos anos 80, não necessariamente no bom sentido.

 

 

Talvez por isso, os Delfins regravaram a música no mesmo ano, juntamente com outros dois temas –  Sombra de uma Flor e 1 Só Céu – num EP que também se chamou 1 Lugar Ao Sol. Esta versão da música foi lançada como single e, segundo a Wikipédia, passou várias semanas nos lugares cimeiros das tabelas musicais. Ainda hoje tem bastante rotação nas rádios – na m80, pelo menos. Mais tarde, foi incluída no álbum Best Of: O Caminho da Felicidade, editado em 1995.

 

Existe uma outra versão de estúdio de 1 Lugar Ao Sol. Esta foi gravada para o segundo volume d’O Caminho da Felicidade, editado em 2013. Pouco menos de uma década depois, foi usada no genérico de Dancin’ Days, uma novela de 2013, fruto de uma parceria entre a SIC e a Globo.

 

Eu diria que esta é a versão mais “pesada” de 1 Lugar Ao Sol, no sentido em se guia mais pelas guitarras, quando comparada com outras versões. Não deixa de ser um tema pop rock, claro.

 

Existem ainda outras versões de 1 Lugar Ao Sol e iremos falar sobre elas. A versão em que me quero focar, a que figura neste top, é a do EP de 1988 e que foi lançada como single. Na minha opinião, tem o arranjo mais intemporal e mais adequado à letra sonhadora. É um tema pop rock à mesma mas mais despojado, com mais sintetizadores, vocais um pouco mais suaves, um carácter mais atmosférico. 

 

 

Em todas as versões de 1 Lugar Ao Sol, a terceira parte da música é a minha preferida. Nesta, no entanto, está num nível absolutamente estratosférico. Tudo por causa do solo de baixo de Rui Fadigas. Esta sequência é pura perfeição musical. 

 

Para grande frustração minha, esta versão de 1 Lugar Ao Sol foi retirada do Spotify algures entre 2020 e 2011. (É por estas e por outras que me recuso a aderir ao Premium, tirando durante promoções e outros eventos especiais). Tenho-a substituído pela versão dos Resistência e pela versão ao vivo. A primeira é uma versão acústica – foi a minha mais tocada no Spotify no ano passado

 

A segunda pertence ao álbum “25 Anos, 25 Êxitos… 1 Abraço” (adoro o título). Gosto da maneira como começa, só com notas de guitarra, para depois explodir com mais guitarras, o baixo, o piano, a bateria. 

 

Ainda assim, continuo a preferir a versão do EP. Fico à espera que um dia regresse ao Spotify. Tenho uma relação relativamente curta com 1 Lugar Ao Sol quando comparada com outras canções nesta lista, mas para mim é uma das melhores da música portuguesa.

 

 

E por hoje ficamos por aqui. Deixo as três líderes de tabela para a segunda parte. Como sempre, obrigada pela vossa visita.

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