Encontro-me, neste momento, a trabalhar na análise à segunda parte da quarta temporada de Once Upon a Time (podem ler a análise à primeira aqui). Em jeito de amostra, deixo aqui as minhas respostas à tag sobre a série.
1) Como descobriste a série?
Descobri Once Upon a Time há cerca de três anos, quando estava a fazer zapping e, no AXN (ou seria o AXN White?) estava a passar o episódio The Thing You Love Most - o segundo da primeira temporada.
2) Quem é a tua personagem preferida?
Definitivamente Regina, que tem sido a personagem a evoluir mais ao longo de toda a série. Apesar de, tecnicamente, estar agora do lado dos bons, manteve a língua afiada e uma dose saudável de malícia que toda a gente adora.
Em segundo lugar, está Emma, apesar de nem sempre gostar do que escrevem para a personagem.
3) Se fosses uma personagem de contos de fadas, quem serias?
Não faço a mínima ideia, sinceramente. Sempre gostei de ler histórias tradicionais, sobretudo quando era pequena, mas nunca me identifiquei com nenhuma personagem em especial.
4) Charming ou Hook?
Nunca achei muita piada ao Charming, mas o Hook é uma das minhas personagens preferidas. Adoro a química entre ele e Emma.
5) Qual é o teu episódio preferido até ao momento?
Já falei de muitos episódios marcantes na série em críticas anteriores. Entre aqueles que considero os melhores encontram-se Snow Falls, The Heart is a Lonely Hunter, Desperate Souls, A Land Without Magic, Lady of the Lake, Tallahasee, Manhattan, Quite a Common Fairy, Going Home, Snow Drifts/No Place Like Home, Shattered Sight, Operation Mongoose. No entanto, o meu preferido provavelmente será sempre o episódio-piloto. Para além de cumprir bem o seu papel de definir as premissas e de seduzir-nos para OUaT, é um dos melhores escritos de toda a série, com imensas deixas memoráveis - as declarações de Mary Margaret sobre a importância dos contos de fadas, as trocas de picardias entre Henry e Emma e até mesmo o discurso cheio de ameaças de Regina quando Emma dá a entender que quer estabelecer uma relação com o filho biológico.
6) Se pudesses ser uma personagem da série, quem serias?
Sendo eu reservada, um pouco tímida e cheia de inseguranças, eu provavelmente seria Elsa ou, então, Ingrid enquanto jovem - até porque também tenho uma irmã mais nova, que adoro.
7) Se pudesses namorar uma personagem da série, quem seria?
Hook. Tal como disse antes, é um dos meus preferidos e... é extremamente sexy!
8) Qual foi a tua primeira impressão sobre a série? Mudou?
Na sua essência, aquilo que sempre me atraiu em Once Upon a Time mantém-se até ao momento: o facto de ser uma série com personalidade própria, diferente de tudo o resto, uma espécie de Harry Potter com personagens mais velhas em televisão.
De início, a primeira temporada, muito focada nas personagens, impacientava-me por o enredo andar a passo de caracol. Daí que a primeira impressão da segunda temporada, com um ritmo mais elevado, tenha sido positiva. No entanto, esta temporada empalidece na comparação com a terceira e a quarta, sendo muitos os aspetos mal conseguidos: a frequente irrelevância de Emma exceto como deus ex-machina, a débil tentativa de redenção de Regina, uma cansativa disputa de custódia por Henry, a morte prematura de Cora, a história da Dark Snow (que não teve conclusão satisfatória), Greg e Tamara (a dupla de vilões que tenho procurado esquecer). O modelo atual de duas temporadas numa funciona - permite que o enredo avance a um ritmo razoável, dando igualmente tempo para o desenvolvimento das personagens.
Hei de falar melhor sobre isso na análise à segunda parte da quarta temporada, mas posso desde já assegurar que Once continua a ser a minha série preferida. Pode ter as suas falhas, pode ser cada vez mais Disney que contos de fadas propriamente ditos, mas as conclusões das histórias satisfazem.
Mais sobre Once Upon a Time em breve. Continuem por aí...
Conforme prometi antes, eis-me aqui analisando a primeira metade da temporada da série Era Uma Vez/Once Upon a Time. Esta meia temporada teve como linha narrativa principal a integração do universo do filme Frozen na série.
Alerta Spoiler: Este texto contém revelações sobre o enredo, pelo que, até para a própria compreensão do mesmo, não é aconselhável que este seja lido a menos que tenham visto a primeira parte da quarta temporada de Era Uma Vez /Once Upon a Time.
Sendo este um filme recente (em contraste com a natureza mais clássica dos contos que, por norma, OUaT revisita), em vez de recontar a história de Frozen, esta linha narrativa funcionou mais como uma sequela aos acontecimentos do filme, com as personagems a sofrerem poucas ou nenhumas alterações relativamente às versões animadas. Os guinistas tomaram, também, a liberdade de não só preencher alguns buracos na história do filme, mas também de pegar no conto de Hans Christian Andersen (em que Frozen foi vagamente inspirado), tornando a sua personagem principal, a Rainha da Neve, a vilã desta meia temporada.
Muitos tinham as suas reservas relativamente à maneira como OUaT abordaria a integração de Frozen na história, eu incluída. Na minha opinião, a série acertou em praticamente todos os aspetos. Começando pelo elenco, que fez uma encarnação quase perfeita das personagens, não apenas das irmãs Elsa e Anna (esta última é absolutamente adorável em OUaT), mas também de figuras secundárias, como o homenzinho do spa e o duque de Weaselton, perdão Weselton. Gostei igualmente da interação entre as personagens de Frozen e as recorrentes de Once. A cumplicidade entre Emma e Elsa é o exemplo óbvio, mas também me deu gozo ver Anna trocando as voltas a Rumplestilskin.
Desde cedo ficou claro que os guionistas olharam para Elsa e acharam que podiam criar um arco narrativo semelhante com Emma. Não estavam errados, mas o paralelismo que estabeleceram foi algo forçado. Se o descontrolo súbito de Emma sobre os seus poderes é mais ou menos credível, o igualmente súbito medo e hostilidade (ainda que momentâneos) que os seus pais desenvolvem não o são. Do mesmo modo, Emma deixa-se manipular demasiado facilmente por Ingrid (a Rainha da Neve, vilã desta meia temporada) quando esta a faz duvidar do amor da família - infelizmente, não é a primeira vez que os guionistas lidam mal com o relacionamento entre Emma e os pais.
De qualquer forma, esse arco narrativo é concluído em Smash the Mirror com uma mensagem bonitinha, de aceitação pessoal. Por um lado, termina aquilo que Frozen começou, ou seja, Elsa ganha aceitação e controlo sobre os seus poderes. Por outro lado, Emma dá mais um passo na sua integração na família e em Storybrooke.
Também gostei de Ingrid, a Rainha da Neve, a vilã da meia temporada. A escolha de Elizabeth Mitchell foi acertada para este papel - embora eu não exclua a hipótese de terem criado esta personagem com esta atriz específica em mente, ou mesmo baseando-se em Juliet, personagem de Lost (série a que Once pisca muitas vezes os olhos). Por mero acaso, ao longo dos últimos meses estive a rever Lost, a propósito do seu décimo aniversário, e a apresentação de Ingrid coincidiu com a altura em que revia a terceira temporada. As comparações são inevitáveis: tanto Ingrid como Juliet foram separadas de uma ou mais irmãs, ambas possuem a capacidade de assumir posturas frias... bem, como o gelo, embora também saibam transparecer perfeitamente as suas emoções, quando assim tem de ser. Ingrid combica com isso, inclusivamente, uma calma e paciência infinitas, sendo raros ou mesmo inexistentes os momentos em que se exalta.
No fim, não pude evitar sentir compaixão por ela, sobretudo tendo e conta o seu historial com Emma. Ela merecia ter feito as pazes com a Salvadora e ter-se juntado à família. De qualquer forma, de uma maneira retorcida, Ingrid acabou por obter o seu final feliz ao reunir-se com as irmãs.
O episódio em que isso acontece, Shattered Sight, é o meu preferido desta meia temporada. Ingrid lança a Maldição da Visão Estilhaçada, que faz com que as vítimaas vejam apenas o lado negro de todos o que os rodeiam. Eu esperava que esta Maldição fosse algo que reabrisse cicatrizes e deixasse sequelas. Não foi isso que aconteceu, pelo contrário, a Maldição acabou por ter um carácter mais cómico do que de ameaça, tornando este num dos episódios mais hilariantes de todas as quatro temporadas e meia de Once. Também ajudou o facto de Shattered Sight ter contribuído para a humanização da vilã da meia temporada. É claro que, em Once Upon a Time, há sempre uma série de inconsistências temporais e outros deus ex-machinas, e este episódio não foi exceção - como a maneira como Anna descobre a carta da mãe e chega à caverna de Ingrid a tempo de salvar o dia. A partir de certa altura, uma pessoa tem de ignorar estas incoerências para poder apreciar a série - mas é algo que não me agrada.
Alguns fãs queixaram-se de que o arco narrativo de Frozen desviou a atenção do elenco principal. Eu concordo, mas não acho que tenha sido uma coisa completamente má - nalguns casos passou-se o contrário. O exemplo mais óbvio disso foi o casal Snow e Charming. Nesta meia temporada tornou a acontecer o que afirmei na crítica ao terceio ano: isoladamente como casal são uma seca, só ganham interesse na interação com outras personagens, nomeadamente como pais de Emma. Dizem que, quando a série for retomada, o casal ganhará um papel de destaque - tal não me entusiasma.
Outro assunto deixado no gelo, literalmente, nestas semanas, foi o triângulo Regina-Robin-Marian. Tal commo disse antes, este foi o verdadeiro teste à redenção de Regina e não sería credível vê-la entrar em modo cem por cento Evil Queen de novo. Penso que passou no teste. Começou por considerar a hipótese de eliminar a sua rival (o que me pareceu realista), mas muda de ideias, felizmente, tendo mesmo sido obrigada a tentar salvar a vida de Marian. No fim do primeiro episódio, muda a sua estratégia habitual decidindo procurar o autor do mítico livro de Henry - o suposto responsável pelos destinos das personagens dos contos de fadas - de modo a obrigá-lo a escrever-lhe o final feliz que teima em fugir-lhe. Henry e, no fim, Emma apoiam-na na chamada Operação Mongoose e o arco não se desenvolve muito mais do que isto, tirando a partida de Robin, no último episódio.
Nota-se que este arco foi "interrompido" pela história de Frozen (que não fazia parte do plano inicial), pois as vilãs da próxima meia temporada, aparentemente, também não estão satisfeitas com o estatuto de vilãs. O que parece vir em sequência lógica com o conflito de Regina. Mas já falamos sobre as Rainhas da Escuridão.
Outro arco por desenvolver foi o respeitante a Will, o Valete de Copas, que parece ter caído de pára-quedas em Storybrooke - isto apesar de, segundo o que li, ele ter tido o seu final feliz na série onde "nasceu", Once Upon a Time in Wonderland. OUaT ainda não teve a delicadeza de nos explicar o que pretende de Will, mas espera-se que isso seja revelado em breve.
Uma das coisas de que não gostei mesmo nesta meia temporada foi Rumplestilskin. Depois de um arco de redenção muito bem conseguido há um ano, neste ele reverteu completamente a cem por cento vilão. Os guionistas justificam-no com o desejo de se libertar da influência da adaga, de modo a evitar o que se passou com Zelena na temporada anterior. Eu poderia aceitar isso, que não quisesse dar a adaga verdadeira a Belle. Também poderia aceitar que ele manipulasse Hook (afinal de contas, o ressentimento deles dura há muitos anos, não é facilmente ultrapassável). Eu mesma tinha dio que um Rumple totalmente bonzinho não teria piada. No entanto, a maneira como o fizeram desafia a credibilidade. No início da temporada, Rumpe promete, junto à campa do filho, ser melhor. Episódios mais tarde, está disposto a sacrificar a amada do filho e mãe do seu neto para se libertar da adaqua? Não me convence.
Felizmente, depois de meia temporada a dormir na forma no que tocava ao marido, no último episódio Belle descobre a verdade. Numa cena muito bem representada pelos respetivos autores, Belle expulsa-o de Storybrooke, privando-o dos seu poderes. Rumple regressa ao que era antes de se tornar o Dark One: um homenzinho coxo, cobarde, patético.
Depois disto, não sei como Rumple poderá voltar a ser perdoado. Duvido que o seja tão cedo. No entanto, estou curiosa ao que o futuro reserva para o eterno Dark One.
Por outro lado, depois de ter sido chantageado por Zelena na terceira temporada, Hook torna a ser a marioneta do vilão. Começa a tornar-se cansativo, mesmo patético. Por outro lado, foi refrescante ver Emma deixar, finalmente, as inseguranças de lado e envolver-se numa relação saudável com o pirata - isto é, dentro do possível, com Rumple puxando-lhe os cordelinhos nos últimos episódios. Houve quem se queixasse de não ter existido conflito entre ele e Emma, depois de Rumple ter sido desmascarado. Eu não concordo com as queixas. Depois da terceira temporada, seria redundante Emma tornar a erguer barreiras entre ela e Hook - já tivemos disso que chegue, obrigado. Se houver algum conflito entre o pirata e a Salvadora, que esse ocorra fora de câmaras e que seja resolvido rapidamente - deixem a moça ser feliz, por favor!
O trio de vilãs que vem aí na segunda metade da temporada não me entusiasma particularmente. Para além de ser Disney a mais, conforme já me tinha queixado antes (trouxeram a Cruella? A sério?), conheço mal os filmes de onde forma adaptadas. Acho que nunca vi nem a Pequena Sereia, nem a Bela Adormecida (o filme com a Angelina Jolie conta?). Quanto aos 101 Dálmatas, vi mais frequentemente a versão "em carne e osso", com a Glenn Close, mas nunca foi dos meus filmes preferidos. No entanto, a falta de familiaridade não me impediu de apreciar arcos narrativos como o do Feiticeiro de Oz, na terceira temporada. Daí que esteja disposta a dar o benefício da dúvida.
De qualquer forma, o facto de termos três vilãs novas, em vez de apenas um(a), poderá evitar o desgaste daquela que tem sido a fórmula da última temporada e meia: novo mau da fita com ligação a pelo menos uma personagem do elenco principal, estragos causados pelo dito mau da fita, apresentada a história do mau da fita, mau da fita não assim tão mau no fundo, descobre-se plano maléfico do mau da fita, execução, derrota do mau da fita, fim da temporada. Há que já esteja cansado dessa fórmula. Eu ainda não pois, até agora, cada vilão tem sido único, provocando graus diferentes de compaixão (por exemplo, elevados em Ingrid, inexistentes com Peter Pan). As três Rainhas da Escuridão, provavelmente cúmplices de Rumplestilskin, deverão dar uma nova dinâmica à série - sobretudo se cada uma delas tiver as suas próprias motivações e estas entrarem em conflito com as motivações das outras.
Mesmo com algumas reservas, não estou demasiado preocupada com a próxima meia temporada. OUaT pode ter as suas incoerências, e estas podem tornar-se exasperantes. No entanto, das séries de acompanho atualmente, Once é a única que tem conseguido manter a consistência - Arrow e The Good Wife estão a tornar rumos estranhos este ano. Acredito que o nível se manterá na segunda metade da temporada.
Quanto a nós, aqui no Álbum, é possível que o deixe em stand-by por uns tempos, sobretudo porque... já esgotei as ideias que andei a acumular ao longo dos últimos meses. Tenho uma ou outra ideia para entredas futuras, por isso, a pausa não será demasiado longa. De qualquer forma, quero também aproveitar para me voltar para a minha escrita de ficção, que não tem tido grande progresso desde... antes do Mundial 2014.
Termino esta entrada com uma montagem de vídeos que fiz recentemente com cenas de OUaT. A música que usei já dispensa apresentações aqui no blogue:
Alerta Spoiler: Este texto contém revelações sobre o enredo, pelo que, até para a própria compreensão do mesmo, não é aconselhável que este seja lido a menos que tenham visto a terceira temporada de Era Uma Vez /Once Upon a Time.
Depois de o segundo ano de Once Upon a Time ter sido acelerado em termos de ação mas penosamente inconsistente, cheio de incoerências, o terceiro ano foi melhor feito. Esta estrutura de duas histórias principais, de duas temporadas numa, funcionou bem, na minha opinião. Impediu a narrativa de se enrolar demasiado, como na primeira temporada, ou que se emaranhasse, como na segunda.
A primeira parte desta temporada decorreu na Terra do Nunca, com o elenco central tentando salvar Henry, que fora raptado no final da temporada anterior, ficando prisioneiro de Peter Pan. Para muitos, a história esteve afastada de Storybrooke durate demasiado tempo, eu mesma reconheço que a narrativa se arrastou um pouco, com alguns arcos narrativos menos bem trabalhados. No entanto, tudo isso foi necessário com vista ao desenvolvimento das personagens, bem como das relações entre elas.
Penso que nesta série o próprio conceito de Terra do Nunca, a ilha onde o tempo não passa, simboliza a incapacidade de largar o passado, de o processar, de ultrapassar as más experiências, de seguir em frente, de crescer. O próprio Peter Pan, o vilão da primeira meia temporada, é como se fosse um psicólogo ao contrário, tem um gosto perverso em brincar com os traumas das outras personagens, em particular os de abandono - o que o torna particularmente retorcido, pois ele mesmo abandonou o filho, Rumplestilskin, sendo esta a maior surpresa desta temporada. Gostei dos diálogos entre ele e os seus antagonistas. No entanto, os vários jogos que ia tecendo em redor deles, na sua maioria pelo menos, acabaram por ter um impacto praticamente nulo na trama principal. Durante algum tempo pensei que ele tencionava usar as vulnerabilidades dos seus inimigos contra eles, mas não chegou a fazê-lo, pelo menos não de uma maneira significativa. Estes jogos ajudavam a revelar a evolução das personagens, sim, mas arrastavam a ação e conferiam à série um tom sombrio de que, segundo o que li, alguns seguidores não gostaram muito.
Conforme disse acima, a primeira meia temporada caracterizou-se pelo desenvolvimento das personagens. Este, no entanto, ocorreu em graus diferentes. No casal Snow e Charming, para começar, foi praticamente inexistente. Apesar de, na teoria, ser um dos casais principais da série, para mim sempre foi dos menos interessantes. Talvez por ser o mais expectável, o mais convencional - mesmo tendo em conta o facto de Branca de Neve ter sido bandida e de o Príncipe Encantado ter sido criado por pastores). Com os desenvolvimentos da segunda meia temporada, ao que parece, existirão alterações na dinâmica entre ambos mas, mesmo assim, duvido que mude radicalmente. De resto, é só como casal e individualmente que não entusiasmam (Snow é demasiado ingénua e David é um pãozinho sem sal); na maneira como se relacionam com as outras personagens ganham mais interesse, em particular como pais de Emma.
À semelhança do que acontece com Snow e Charming, aliás, OUaT esforça-se por nos convencer que Emma é importante para a história, mas falha pois a personagem acaba por se revelar pouco determinante no desenvolvimento do enredo. Peter Pan andou por ali a brincar com os seus problemas de abandono, mas julgo que a série abordou mal a questão - tal é comprovado pelo falso excerto de guião apresentado em cima. Os jogos de Peter Pan com Emma, de resto, acabaram por não ter consequências de maior. Outra questão diz respeito aos poderes mágicos de Emma e já vem da segunda temporada: estes só surgem quando é conveniente, bem como a sua característica capacidade de detetar mentiras. Por outro lado, fiquei satisfeita por não terem insistido demasiado no triângulo Neal-Emma-Hook.
Sobre Neal falarei mais à frente, quando chegarmos à segunda meia temporada. Por sua vez, Hook foi das personagens que mais evoluiu este ano, cimentando-se como um dos "bons" sem perder os seus modos galantes e algo narcisistas. Se antes só era leal a si mesmo, este ano não hesita em tomar decisões sem ter em conta o seu próprio benefício, tomando-as antes por lealdade a Emma e à sua família. Referir, igualmente, as suas interações com David, que se torna o seu "mate", ainda que David saiba que o pirata cobiça a sua filha, para seu desagrado.
A primeira metade da temporada foi particularmente marcante para Rumplestilskin, tendo em conta a profecia de que Henry seria a sua destruição e o facto de Peter Pan ser, na verdade, o seu pai, sendo que o seu abandono esteve na origem das inseguranças que marcaram as decisões fulcrais da sua vida. No final, tomou a decisão correta - mas já lá vamos.
Regina foi a estrela da temporada, embora se tenha destacado mais na segunda metade. Depois de tantas inconsistências no ano anterior, neste teve finalmente direito a um arco de redenção bem conseguido. Nesta primeira metade destacam-se dois episódios: o protagonizado por ela e por Tinker Bell/Sininho (a história desta personagem fez-me lembrar a fada Oriana de Sophia de Mello Breyner) e o centrado na adoção de Henry. Neste último, acho que se perdeu uma oportunidade de esclarecer uma dúvida antiga - a de como Mr. Gold, de entre tantos bebés, foi encontrar logo o filho da Salvadora - mas serviu para destrinçar o relacionamento de Regina com Henry, algo que foi importante de várias maneiras para o desenvolvimento do enredo desta temporada.
Por sua vez, a estadia de Henry na Terra do nunca contribuiu para um muito necessário amadurecimento do jovem protagonista. Depois de não ter tido a melhor atitude para com Regina na segunda temporada (embora, em defesa do miúdo, ninguém percebia para que lado estava Regina nessa altura), Henry chega mesmo a mostrar-se arrependido de ter trazido Emma para Storybrooke, para que quebrasse a Maldição.
Tal reconhecimento acontece no último episódio da primeira parte da terceira temporada, "Going Home", um dos melhores deste ano, na minha opinião. Teve muito mais carácter de final de temporada que o último do segundo ano (e foi muito superior em qualidade), talvez mesmo que o último desta temporada, embora este tenha tido uma estrutura diferente. Em "Going Home" regressamos às raízes da série, cujo tema principal sempre foi, sobretudo no seu início, esperança. Os flashbacks ajudam a definir o tom do episódio e a demonstrar a evolução de várias das personagens com o tempo. O próprio enredo convida à emotividade, sobretudo por dois motivos. O primeiro: pela maneira como Rumple consegue a sua redenção, sacrificando a sua própria vida para salvar aqueles que ama, sem magia, contrariando o seu eterno rótulo de covarde. O segundo: pelo facto de, para travar a maldição de Pan, Regina ver-se obrigada a reverter a maldição que deu o mote para a série, que levará todo o elenco de regresso à Floresta Encantada e deixará Emma e Henry para trás. Arrisco-me a dizer que foi um dos melhores episódios de toda a série e, se retirássemos os minutos finais, funcionaria bem como um final de OUaT.
Mas a série não terminou aí pois não tardou a surgir um novo vilão... ou melhor, uma vilã: nada menos que a Bruxa Malvada do Oeste, do Feiticeiro de Oz, que lançou uma maldição que trouxe o elenco de regresso a Storybrooke... ou assim parece. Esta segunda meia temporada ficou algo melhor feita que a primeira. O regresso - que se presume definitivo - a Storybrooke foi do agrado geral. A narrativa da maldição trouxe alguns ecos da primeira temporada, embora sem os arcos narrativos circulares, com a história a evoluir a um ritmo razoável.
Cedo se descobre que a vilã da meia temporada, Zelena, é meia-irmã da Regina, adensando ainda mais a já complicada árvore geneológica de Henry. Toda a história por detrás do nascimento de Zelena está algo rebuscada (embora explique a animosidade de Cora para com Eva, a mãe de Snow). À parte isso, considero que deu uma boa vilã. Apesar de um dos dogmas da série ser o evil-is-not-born-it-is-made, uma dose saudável de vícios inatos nunca fizeram mal a ninguém, como a irresponsabilidade de Peter Pan e os traços de menina mimada de Zelena.
Emma, como Salvadora, é chamada a intervir e ela responde com relutância. Se anteriormente a protagonista nunca parecera muito à vontade naquele mundo, agora, que já experimentara uma vida feliz fora de Storybrooke, estava constantemente com um pé de fora - o que chegava a irritar. E, apesar de mais uma vez a série tentar convencer-nos da importância dela, Emma torna a revelar-se irrelevante para a resolução do enredo, sendo ensombrada por Regina de novo. Felizmente, ela tem uma oportunidade de se redimir aos nossos olhos no final da série... mas já lá vamos.
Aproveito para falar de Neal, que nesta temporada "regressa" à vida para morrer "a sério" a meio da segunda parte, desmascarando Zelena. Este episódio coincidiu com uma altura em que morreram várias personagens importantes em séries que acompanho e eu, pelo menos, não estava à espera. No entanto, no contexto de OUaT em si, depois da sua falsa morte no final da segunda temporada, este "segundo" falecimento revelou-se algo anticlimático. De qualquer forma, serviu para resolver o triângulo amoroso entre ele, Emma e Hook, de uma maneira mais definitiva do que esperava - eu já calculava que Emma escolheria o pirata, mesmo que temporariamente. De início, irritava-me que, enquanto Neal estava "morto", ela dizia que o amava e chorava por ele. No entanto, quando ele estava vivo, passava a vida a afastá-lo. Hoje compreendo que, ainda que ela pudesse perdoar-lhe o que acontecera no passado entre ambos, Emma dificilmente confiaria nele. E de resto notava-se que havia maior química entre ela e Hook.
A morte de Neal, o preço a pagar pela ressurreição do pai, é um rude golpe para Rumplestilskin, que passara a série quase toda tentando encontrar o filho e fazer as pazes com ele. Em teoria, teria sido melhor "mantê-lo" morto, já redimido - o seu regresso causou mais problemas que aqueles que resolveu, já que o Dark One acabou escravizado por Zelena. Na prática, Rumple é uma das melhores personagens de OUaT e a série ressentir-se-ia da sua exclusão permanente. A dinâmica entre Rumple e Zelena é interessante, até: como portadora da adaga, ela tem controlo sobre o Dark One, assume uma posição de domínio. Isso, no entanto, é contrariado pelos sentimentos que a Bruxa nutre por Rumple; dá para ver a sua dor quando Zelena é rejeitada.
Para alguém tão sinistro, o nosso Dark One consegue quebrar uma quantidade significativa de corações. Bem se diz que elas preferem os maus rapazes...
Rumple é libertado aquando da derrota de Zelena. Já livre, confia a sua adaga ao seu amor, Belle, em jeito de pedido de casamento. No entanto, depressa se descobre que a adaga é falsa e Rumple usa a verdadeira para matar Zelena, em desforra da morte de Neal e da escravidão. Embora o casamento entre Belle e Rumple fosse aguardado há muito, este assenta numa mentira e é óbvio que esta será descoberta mais cedo ou mais tarde. Calculo que Rumple nunca se tornará cem por cento "bom" e, de resto, provavelmente a personagem perderia interesse se assim fosse.
Tal como já disse antes, Regina foi a grande estrela desta temporada, sobretudo nesta parte. Por esta altura, a ex-Evil Queen pertence definitivamente ao lado dos "bons", embora não tenha perdido os seus modos altivos e sarcásticos. Nesta meia temporada, Regina teve direito a uma segunda oportunidade no amor com Robin Hood/Robin dos Bosques, também ele um viúvo. Para muitos o relacionamento evoluiu depressa demais - para mim, foi pior ter-se desenvolvido enquanto Regina estava sem coração, contrariando um dos maiores dogmas da série. De resto, é o amor por Robin e Henry que lhe confere a capacidade de usar magia branca, fulcral para quebrar a maldição e derrotar Zelena - comprovando uma vez mais a inutilidade de Emma. Pena é o balde de água fria que apanha no final da temporada, quando parece finalmente ter conquistado o seu final feliz - mas já lá vamos.
À semelhança do que aconteceu com a primeira meia temporada, o episódio final eleva-se sobre todos os outros, na minha opinião. Se tivesse de escolher entre "Going Home" e "Snow Drifts/No Place Like Home", escolheria o primeiro mas a verdade é que os dois finais têm uma estrutura e um tom diferentes, logo, é difícil comparar. O episódio duplo, tal como os guionistas explicaram, funcionou como uma espécie de filme, com um arco narrativo próprio, com princípio, meio e fim. O conceito não é o mais original de todos, a própria série quase admite que colheu inspiração no filme Regresso Ao Futuro. A força reside na forma como o conceito foi desenvolvido: mesmo sem termos reparado nisso, imagino que todos nós desejávamos ver Emma como princesa, integrada no mundo dos contos de fadas. E, tal como num bom filme, neste final, houve tempo para momentos de ação, romance, humor (divertiu-me imenso ver Emma seduzindo o Hook do passado), bem como momentos mais tocantes. O melhor foi mesmo ter dado uma oportunidade para o desenvolvimento de Emma. Ao fim de três temporadas, compreendíamos finalmente a sua falta de à-vontade, o seu constante pé de fora e víamos o que foi necessário para ela, de uma vez por todas, assumir o papel que o Destino lhe reservara - eu, pelo menos, quero acreditar que, a partir de agora, Emma vai passar a ser verdadeiramente a Salvadora.
No entanto, o mergulho de Emma e Hook no passado trouxe consigo algumas consequências infelizes. A mais significativa foi terem trazido consigo Marian, a esposa de Robin, que arruinou o final feliz de Regina e deixou os fãs da ex-Evil Queen de coração partido. Muitos criticaram a decisão de Emma, mas a verdade é que iria contra o seu carácter deixar Marian para trás, podendo ela salvar-lhe a vida. Acredito mesmo que, ainda que Emma soubesse logo quem era a sua companheira de cela, a sua atitude seria a mesma. Quanto a Regina, este será o verdadeiro teste à sua redenção: afinal de contas, é fácil ser-se bonzinho quando tudo corre a nosso favor. Difícil é sê-lo quando as circunstâncias não nos são favoráveis - as inconsistências de Regina. no ano anterior. eram uma boa parte devidas às manipulações da sua mãe, às ações de Snow e à insensibilidade de Henry. Muitos esperam que Regina entre de novo em modo Evil Queen, mas eu acho que isso contrariaria a evolução da personagem, sobretudo nesta temporada. De qualquer forma, este será um nó difícil de desatar.
Outra consequência da viagem no tempo foi um novo vilão - ou assim parece - para a nova temporada. Antes de avançarmos para essa parte, queria só assinalar que, com todas as voltas que foram dadas à forma como Snow e Charming se conheceram e apaixonaram, duvido fortemente que não hajam mais repercussões. Algo que, de resto, os guionistas já mais ou menos confirmaram.
Conforme foi dado a entender nos minutos finais do último episódio, a próxima vilã de OUaT será Elsa, a protagonista do filme Frozen: O Reino do Gelo. É o filme da moda, já se andava a dizer que os guionistas gostariam de trazê-lo para o universo da série. Eu é que não esperava que o fizessem tão cedo.
Eu vi o filme há algumas semanas. Não desgostei, está bem feito, acima da média no que toca a filmes de animação. A história tem, de facto, alguns paralelismos com as histórias de OUaT daí não me surpreender o interesse dos guionistas. E visto que tenho uma irmã mais nova, que é a minha pessoa preferida do mundo inteiro, identifiquei-me bastante com a relação entre Anna e Elsa. No entanto, na minha opinião, o filme anda a ser um bocadinho sobrevalorizado. É um bom filme, mas não acho que seja um dos melhores filmes de animação de todos os tempos, como alguns o têm pintado. Não é nenhum Rei Leão ou Spirit, nem acho que seja melhor que o Shrek ou mesmo Mulan. Além disso, tenho de confessar que já não tenho a mínima pachorra para a cantoria toda. Compreendo que agrade à criançada, eu mesma gostava quando era pequena, mas agora acho-a cansativa. Fiquei, até, com a ideia de que este filme tinha mais momentos musicais que a maioria dos filmes da Disney. Gostei de Do You Want to Build a Snowman e, claro, Let it Go (apesar de parecer ter sido composta de propósito para transmitir uma imagem politicamente correta de reforço da auto-estima), mas o resto era dispensável.
Para ser sincera, um dos aspetos que mais me desagrada na série é a sua Disneyficação. É certo que, ao longo das últimas décadas, a Disney foi o principal veículo de divulgação dos contos de fadas. No entanto, parece-me demasiado copiarem nomes de personagens, adereços exclusivos dos filmes. É uma opinião muito pessoal: a verdade é que, apesar de não ter problemas em reconhecer o peso que teve na minha infância, não tenho a veneração pela Disney que muitos dos envolvidos na série têm - ou fingem ter. Irrita-me um pouco, aliás, o seu comercialismo.
De resto, todo o conceito de reinvenção dos contos de fadas, da reunião das suas personagens, não é assim tão original como os criadores da série parecem acreditar. É, aliás, um conceito que tem estado na moda no cinema, ao longo dos últimos anos, com versões mais sombrias de contos como a Branca de Neve, o Capuchinho Vermelho, Alice no País das Maravilhas, entre outros. No entanto, Once Upon a Time tem feito essas reinvenções com maior mestria.
No entanto, ao contrário da maioria dos seguidores da série, não é por causa de tais reinvenções que eu vejo OUaT, embora goste desse aspeto. Vejo a série porque gosto de histórias sobre crescimento, esperança, redenção. Como escritora, identifico-me com o conceito da ficção como maneira de descodificar a vida e o mundo - e, afinal de contas, os contos de fadas são o exemplo mais básico desse conceito.
A série recomeça dia 28 de setembro. Já que, ao que tudo indica, manter-se-à o esquema de duas mini-temporadas numa, este ano talvez escreva uma análise à primeira parte da temporada durante a pausa de inverno - esta entrada ficou comprida demais.
Já foi avançado que o tema deste ano será não desistir das pessoas amadas. As referências mais óbvias são o caso de Regina e Robin, bem como o recém-casados Mr. e Mrs. Gold, mas suponho que estes não sejam os únicos casais da série a verem o seu amor testado nesta temporada.
De qualquer forma, espero que a série continue a explorar bem esses e outros conceitos e que, já agora, forneça respostas a dúvidas antigas, entre as quais a história de Aurora, Phillip e Mulan, bem como a adoção de Henry. Por outro lado, um dos meus receios é uma eventual falta de ideias caso a série se prolongue demasiado. Com um bocado de sorte, eles saberão quando parar. O que eu desejo, no fundo, é que Once Upon a Time nunca perca a sua magia característica.
Entretanto, tenciono falar sobre outras séries que tenho acompanhado, se bem que menos exaustivamente. Mantenham-se ligados.
Alerta Spoiler: este texto contém revelações sobre o enredo, pelo que só é aconselhável lê-lo caso tenha visto todos os episódios da segunda temporada de Era Uma Vez/Once Upon a Time, até para a própria compreensão desta entrada.
A segunda temporada da série de fantasia Era Uma Vez/Once Upon a Time terminou recentemente na televisão americana. Conforme já tinha afirmado quando falei da primeira temporada, comecei por ver os episódios à medida que iam sendo exibidos no AXN. No entanto, estes tornaram-se tão viciantes que comecei a acompanhá-los à medida que eram exibidos na emissão norte-americana.
Esse é, de resto, um dos maiores pontos fortes em relação à primeira temporada. Já não precisamos de episódios circulares para conhecer cada uma das personagens, com comprometimento do avanço da ação. Nesta temporada acontecem coisas em praticamente todos os episódios, a tensão é constante, uma pessoa deseja desesperadamente saber o que acontece a seguir.
Esta segunda temporada começa com a quebra da maldição e a vinda da magia para o Mundo Real, um mundo que não está preparado para tê-la. E visto que "toda a magia vem com um preço", isto terá consequências, entre as quais novos vilões - mas estes só entram em ação perto do fim da temporada. Antes, no primeiro episódio, Emma e Mary Margaret/Snow White/Branca de Neve, vão parar à Terra dos Contos de Fadas e, assim, a primeira metade da temporada é dedicada às tentativas de elas regressarem a Storybrooke. Elas regressam, mas trazem com elas novos vilões, com os seus próprios objetivos, que estavam à espera do fim da maldição para colocá-los em prática.
Começarei pelos pontos fracos da temporada. Durante a primeira parte, Emma e a mãe vivem na Terra dos Contos de Fadas, em circunstâncias medievais e, ainda por cima, ao ar livre, mas nunca aparecem sujas ou despenteadas e as roupas estão sempre em bom estado. Seems legit. Mais à frente na temporada, Regina surge disposta a sacrificar Emma e Mary Margaret para evitar que a mãe, Cora, venha para Storybrooke, mas, daí a um ou dois episódios, aparece a chorar no ombro da mãe... O que me faz ainda maior confusão é o facto de ela teimar em não perdoar Snow por, em criança, ter sido manobrada por Cora de modo a revelar o segredo sobre Daniel, o apaixonado de Regina, mas perdoa a mãe que, fria e deliberadamente, assassinou Daniel à frente da filha, em nome do seu desejo de poder.
Outros defeitos foram os arcos narrativos deixados a meio e/ou mal executados: aquela espécie de fantasma que recebe a designação de Qui-Shen mas que, essencialmente, é um Dementor, aparece no primeiro episódio, faz imensos estragos e depois desaparece inexplicavelmente; o ressentimento do rei George para com David é esquecido após o episódio em que este destrói o pó de fada; os sonhos das vítimas da Maldição do Sono também nunca mais são referidos após a primeira metade da temporada; toda aquela história da Dark Snow podia ter sido um bocadinho melhor aproveitada; a história do Robin dos Bosques, muito publicitada antes de "Lacey", no episódio em si é insignificante. Por fim - isto não é tanto um defeito, é apenas uma opinião pessoal - tive pena de termos visto muito pouco August/Pinóquio nesta temporada e de, pelos vistos, não podermos ver muito mais, já que foi transformado, de novo, numa criança. Ele era uma das minhas personagens preferidas no primeiro ano e gostava de tê-lo visto lutando ao lado de Emma e companhia.
Posto isto, falemos dos pontos fortes. Um dos temas desta temporada foi redenção. Daí que os vilões - que, em teoria, teriam mais de que se redimir - se tenham destacado nesta temporada. Em boa verdade, os vilões em Era Uma Vez estão tão bem construídos que destacar-se-iam de qualquer maneira.
Comecemos por Rumplestilskin, uma das mais icónicas personagens de Era Uma Vez. Sempre viveu sob o estigma de filho de um cobarde, dominado pelo medo. O seu envolvimento com a magia acaba por ser uma maneira de se vingar de um Mundo que pouca piedade demonstrara para com ele. Começando pela esposa, Milah, que considero fria e egoísta. Contudo, apesar de o poder o disfarçar, Rumple nunca consegue libertar-se do medo, tornando-se incapaz de viver sem os seus poderes, o que afasta daqueles que ama - refiro-me tanto ao filho Baelfire, também conhecido por Neal, como a Belle, a primeira pessoa a ser gentil para com ele, despertando-lhe o seu lado bom mas que, mesmo assim, não consegue levá-lo a abdicar completamente do seu poder. Gosto muito da maneira como a história de Rumplestilskin se cruza com várias das histórias clássicas reinventadas em Era Uma Vez: a original, protagonizada por Cora, Cinderela, a Bela e o Monstro, Peter Pan - ainda que apenas a parte referente ao Capitão Gancho e ao crocodilo que lhe arranca a mão. Pela maneira como Rumple é capaz de nos divertir com os seus icónicos maneirismos, de nos aterrorizar com a sua implacabilidade, de nos despertar compaixão quando se mostra mais vulnerável, é uma das personagens mais interessantes de Era Uma Vez, sem a qual a série não seria a mesma.
Passemos a Regina, a responsável pela maldição que desencadeou a história da série. Durante a primeira temporada vimo-la quase só como a encantadora Rainha Má, a presidente algo tirana de Storybrooke e a rígida mãe adotiva de Henry. Na segunda temporada, esta surge muito mais vulnerável, tentando recuperar o filho, ser a pessoa que ele quer que ela seja. No fundo, tudo o que Regina é amar e ser amada, como qualquer outra pessoa, mas não sabe como fazê-lo e, muitas vezes, recorre aos meios errados. revela bastante ingenuidade na maneira como não compreende a diferença entre o certo e o errado.
Por outro lado, Henry também não tem o comportamento ideal com Regina, surgindo, por vezes, algo frio e egoísta para coma mãe adotiva. Só parece lembrar-se de Regina quando usa a afeição dela para a dissuadir de matar Emma e os pais e, depois, vira-lhe costas sem sequer se despedir dela.
A personalidade algo disfuncional (não sei se este é o termo mais adequado...) de Regina pode ser explicada pela relação com a mãe, Cora. Esta, a primeira grande vilã da segunda temporada, acaba por ter um percurso semelhante ao de Rumplestiskin: é para se vingar de uma vida de humilhações que ela se junta ao "Lado Negro". Contudo, não cometer o "erro" que Rumple e Regina cometeram, percebe logo que, se quiser poder, terá de abdicar de amor e vice-versa. Loso, arranca o seu coração como maneira de garantir que nenhum ente querido alguma vez interfirá com as suas ambições - achei graça quando Rumple diz, certa vez, que, se Cora era perigosa por não ter coração, Regina é pior por tê-lo. É nesta condição que se casa por interesse e usa a filha como marioneta para os seus planos.
Achei, na altura, que a sua morte foi algo precoce pois, ao desaparecer a grande vilã, desaparecia o grande motor da história. Acabou por não ser tão prejudicial quanto isso pois esta foi rapidamente substituída, ainda que este processo não tenha sido perfeito - mais sobre isso adiante.
Temos ainda Killian Jones, o Capitão Gancho, mais conhecido por, simplesmente Hook. Tenho uma certa dificuldade em classificá-lo como vilão - ele segue as suas próprias regras no que toca a lealdades e mesmo no que toca ao que está certo e ao que está errado. Devo dizer que gosto muito do seu estilo, encantador, galante e adoro a maneira como interage com Emma - pena só termos visto isso em apenas um episódio e pouco mais. Por fim, no final da temporada, a ligação a Baelfire, o filho de Milah, a sua amada morta, tocou muita gente.
Em comparação com os vilões acima descritos, os mais recentes, Greg e Tamara, parecem extremamente monodimensionais, pouco desenvolvidos. Conhecemos as motivações de Greg mas a personagem é pouco interessante e, pelo menos no meu caso, não desperta grande empatia. Tamara, então, precisa definitivamente de maior desenvolvimento pois não se percebe o que a move. Toda essa história da organização que quer erradicar a magia do Mundo Real está, de resto, muito mal explicada. Para piorar, de um momento para o outro, o casal decide raptar Henry, levá-lo para a Terra do Nunca até Peter Pan que, afinal, é o líder deles... ou não? Defendem que a magia não pertence ao Mundo Real mas trabalham para uma criatura mágica, que recorre à magia para raptar crianças do Mundo Real? Não parece fazer sentido mas também não me admirava que Greg e Tamara estivessem a ser usados como marionetas por causa do seu ódio à magia.
Devo dizer também que a maneira como, em Era Uma Vez, Peter Pan foi transformado num raptor e a Terra do Nunca numa prisão de crianças que, à noite, choram pelos pais deu-me cabo de parte da infância. Só um bocadinho, felizmente, que o Peter Pan não era dos meus heróis preferidos, mas mesmo assim... Se me vierem dizer que o Pikachu, afinal, é mau, aí sim, fico traumatizada para o resto da vida.
Mas fechemos esse aparte e, já que o mencionámos, falemos do episódio que encerra a temporada. Todo o arco do diamante-botão-de-auto-destruição foi um pouco anticlimático, ou nem por isso, pois não acho que tenha havido um único espectador a achar que Regina morreria. A maneira como, aliás, Emma arranja um plano de salvação, é traída por alguém que considerava aliado, ficando obrigada a recorrer aos seus próprios poderes para salvar o dia faz lembrar o encerramento da primeira temporada.
Outro aparte só para referir que gosto do conceito da Salvadora, que nasceu do verdadeiro amor, o que a torna invulgarmente poderosa e tive pena que tenhamos visto muito pouco desses poderes nesta segunda temporada. A personagem em si tinha muito mais graça na primeira temporada, com a sua atitude cínica e durona. espero que Emma se torne mais interessante de novo quando a série recomeçar.
Outra personagem de quem espero mais é Snowhite/Mary Margaret. Tanto antes como depois da quebra da maldição, esta em Storybrook torna-se demasiado insonsa. O seu verdadeiro potencial só é revelado quando se encontra na Terra Encantada, de arco na mão e aljava nas costas - o meu momento Snow preferido desta temporada é este "Back away from my daughter!" em "Lady of the Lake". Agora que tem de salvar o neto, estou com esperanças de ver mais desta Snow na terceira temporada.
Acho, também, que ninguém percebeu como é que Henry, num momento, estava a sufocar num grande abraço de família e, no minuto seguinte, foi levado por Greg e Tamara sem que mais ninguém notassem, sem que o miúdo, que até caminhava pelo seu próprio pé, embora guiado pelos raptores, oferecesse resistência, soltasse um grito que fosse.
Em todo o caso, é este rapto que obriga os vilões acima descritos a trabalhar juntos, mais a família biológica de Henry. Eu soube logo, no momento em que Greg e Tamara se revelaram como os novos maus da fita, que estes seriam o inimigo comum que uniria Regina e Rumplestilskin aos Charmings - cheguei a comentá-lo várias vezes na página do Facebook de fãs da série - mas não estava à espera que Hook estivesse incluído. Este, tal como Rumple, fá-lo por respeito à memória de Neal/Baelfire (que todos julgam morto, erradamente. Outra grande surpresa ou nem por isso...) e Regina fá-lo por Henry, pelos motivos já mencionados. Não estou à espera, contudo, que os três, de um dia para o outro, comecem a dar-se como Deus e os anjos. Não com o passado de ódio que os três partilham uns com os outros. E, se os vilões deixassem de ser os maus da fita assim, perderiam uma boa parte da sua piada.
Entretanto, Belle, que recupera a sua personalidade no episódio final - também não gostei deste arco, encerrado à pressa; teria sido muito mais interessante ver Rumple conquistando-a enquanto Lacey com o seu lado negro e ver a maldição sendo quebrada quando se beijassem pela primeira vez - é deixada para trás por Rumple, que receia não regressar da sua viagem de resgate, para que esta possa proteger Storybrooke de eventuais cúmplices de Greg e Tamara. Julgo que esta será uma oportunidade para novas personagens assumirem o papel de heróis, ganhando tempo de antena. Espero que esses novos heróis sejam personagens que ainda não pudemos conhecer bem, em vez dos suspeitos do costume.
A segunda temporada encerra assim respondendo a várias perguntas mas originando uma mão-cheia de novos pontos de interrogação. Começando pela razão pela qual Peter Pan deseja tanto Henry. Que terá a criança de tão especial para despertar o interesse de Peter muito antes de os pais do miúdo se terem sequer conhecido, para ser referido numa profecia sobre o seu avô? E de que maneira representará Henry a "desgraça" de Rumple? Na página do Facebook já mencionada, é colocada a hipótese de essa "desgraça" ser Rumple perdendo os seus poderes. Pode ser qualquer coisa, na minha opinião, as possibilidades são infinitas, por isso, não me arrisco a fazer um prognóstico.
Foi, além disso, referido que não é possível abandonar a Terra do Nunca - como é que Neal/Bae o fizeram, então? Conseguirá o grupo de resgate alguma vez sair? Também importa saber quem são verdadeiramente Peter Pan, Tamara e a organização para quem ela trabalha. E a história das sombras que é possível arrancar às pessoas - será um conceito parecido aos dos corações? Ou algo completamente diferente? Existe ainda o arco de Neal/Bae na Terra Encantada, com Mulan, Aurora e Phillip - como é que este regressou à vida, a propósito? Por fim, as histórias de algumas personagens permanecem uma incógnita, como por exemplo Robin dos Bosques - estará ele e a amada, Miriam, que ainda por cima estava grávida quando a conhecemos, entre os amaldiçoados? Se não estavam, porquê? Terão sobrevivido à chacina dos que escaparam à maldição perpetrada por Cora? - e Dr. Whale/Frankeinstein - que não é referido no livro de Henry.
Aquilo que referi na análise da primeira temporada como os grandes pontos fortes de Era Uma Vez mantém-se: o facto de ser diferente de todas as outras séries atuais, numa altura em que tenho cada vez menos disposição para a maior parte delas. Sabe bem ter uma série diferente, que, tal como um dos atores referiu certa vez (Jennifer Morrison?), equivale a "ver o Harry Potter todas as semanas", que desperta tantas perguntas e enigmas, fazendo-nos ansiar pelo episódio seguinte. Este é o meu género de histórias preferido, o género de histórias que escrevo atualmente, daí que Era Uma Vez funcione como fonte de inspiração. O pior é que correu o risco de ser cancelada este ano. Não posso dizer que esteja admirada, já percebi que as grandes cadeias preferem apostar em lucros fáceis (dramas clínicos, séries policiais, comédias) do que em enredos completos como os de Era Uma Vez que, parecem eles pensar, estão muito para lá da capacidade do espectador comum. Acho até que foi por esse motivo que Tru Calling foi cancelada tão precocemente.
Em todo o caso, mais um ano está para já garantido, bem como o spin-off Once Upon a Time in Wonderland - suponho que, se passar na televisão portuguesa, se intitulará Era Uma Vez no País das Maravilhas ou, pura e simplesmente, País das Maravilhas - cujo trailer é promissor. Espero, assim, que Era Uma Vez mantenha todos os pontos fortes acima mencionados nesta nova temporada e que, daqui a um ano, quando estiver de novo a escrevinhar furiosamente sobre a série, esteja a contar com uma quarta temporada.
As histórias clássicas conhecem uma reviravolta surpreendente em "Era Uma Vez", explorando um lado nunca antes visto. Os guionistas Edward Kitsis e Adam Horowitz ("Perdidos") convidam o espectador a conhecer de perto um conto de fadas moderno com reviravoltas emocionantes e traços de obscuridade, pleno de assombro e da magia própria das histórias mais queridas da nossa infância.
Comecei a ver esta série no início da temporada televisiva, por curiosidade e, até agora, estou a gostar. O AXN passou a primeira temporada ao longo do outono e agora, há poucas semanas, começou a passar a segunda temporada.
Aquilo que me mais me atraiu em Era Uma Vez quando comecei a vê-la foi o facto de ser diferente do tipo de séries a que estou habituada. Não é uma série infanto-juvenil mas tem aquele espírito muito típico dos contos de fadas, magia, fantasia, romance, mistério. Constituiu uma lufada de ar fresco numa altura em que começo a ficar saturada das outras séries.
Como já foi mencionado acima, os guionistas de Era Uma Vez são os mesmos de Lost. As semelhanças entre as duas séries são evidentes. Em Lost, tínhamos pessoas perdidas numa ilha, à procura de uma maneira de regressar a casa. Em Era Uma Vez temos habitantes da terra dos contos de fadas perdidos em Storybrook, no mundo real - este conceito dos mundos/dimensões paralelas, mais os respetivos portais, recorda o Digimon - também desejando regressar ao seu mundo. Temos de novo uma mecânica de flashbacks, de alternância entre o "antes" e o "depois", de modo a conhecermos as personagens, o que as move. O facto de, na primeira temporada, as personagens de Era Uma Vez não se recordarem das vidas passadas traz ecos da última temporada de Lost. Por fim, em ambas as séries é o amor que faz com que as personagens se recordem de quem são - se bem que este processo seja bem mais emocionante no lendário final de Lost.
A história de Era Uma Vez demora bastante tempo a arrancar. A primeira temporada tem vários episódios circulares, que servem apenas para apresentar as personagens, pouco ou nada avançando na história. Demora algum tempo a ganhar fôlego mas, quando ganha, torna-se viciante. A partir do meio da primeira temporada, a tensão vai crescendo a cada episódio atingindo o clímax no último. Achei este capítulo final da primeira temporada bastante emocionante embora previsível.
Nesta altura, já vi os três primeiros episódios da segunda temporada de Era Uma Vez. A dinâmica de narrativas alternadas, estilo Lost, mantém-se. A maior diferença, contudo, reside na tensão: incomparavelmente maior, fazendo-nos ansiar pelo episódio seguinte.
É nessa situação que me encontro agora, viciada em Era Uma Vez, curiosíssima relativamente ao que acontecerá com as várias personagens. Sabe bem ter algo por que ansiar, sobretudo agora que Homeland já acabou (publicarei a crítica à segunda temporada depois da exibição do último episódio na televisão portuguesa, para evitar spoilers desnecessários). Do mesmo modo, quando a segunda temporada de Era Uma Vez terminar, falarei disso aqui no blogue. Até lá...