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Álbum de Testamentos

"Como é possível alguém ter tanta palavra?" – Ivo dos Hybrid Theory PT

Avril Lavigne - Under My Skin (2004)

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Completam-se hoje onze anos desde a edição de Under My Skin, o segundo álbum de estúdio de Avril Lavigne, lançado dois anos depois do grande sucesso que foi Let Go. Não sendo um dos álbuns mais aclamados pela crítica, é um dos mais populares entre a comunidade de fãs, sobretudo os mais antigos. Não é o meu caso, apesar de ter sido o primeiro álbum que eu ouvi da Avril. Vou arriscar-me, aliás, a irritar muitos fãs, pois tenho uma série de defeitos a apontar a este CD. Fica, desde já, o aviso.

 

Under My Skin é o disco mais sombrio de toda a carreira de Avril até ao momento, em contraste com o seu antecessor e ainda mais com o seu sucessor. Depois de não ter tido tanta liberdade criativa como desejava com Let Go - já foi difícil deixarem-na de todo compor - em Under My Skin, ela teve muito mais controlo, escolhendo ela mesma os co-compositores e os produtores com quem queria trabalhar. Ela chegou a dar a entender que, por sua vontade, Let Go seria muito parecido com aquilo que Under My Skin se tornou. Este é um álbum muito guiado por guitarras eléctricas pesadas e piano - um instrumento ausente em Let Go. Avril explora o seu lado mais sombrio - que pelos vistos consiste muito em break up songs. Numa altura em que os Evanescence eram uma das autoridades do rock, a cantora chegou a ser comparada a Amy Lee - até mesmo pela imagem algo gótica que adotou, bem como pela estética do álbum.

 

 

 

Tal como na crítica a The Best Damn Thing, vou começar pelas minhas faixas preferidas. Com Under My Skin, estas têm mudado com o tempo, mas aquela que se tem mantido sempre no top é Freak Out. Não há mais nenhuma canção como esta em toda discografia da Avril. É um hino de rebeldia, de viver a vida ao máximo, caracterizando bem a imagem roqueira de Avril nos seus dois primeiros álbuns. É verdade que existem outras faixas da cantora com a mesma mensagem, sobretudo nos álbuns mais recentes, mas são temas bem mais pop, sem a personalidade de Freak Out. Composta durante a digressão de Let Go, Freak Out, tem algumas das melhores guitarras e bateria de toda a carreira da Avril (o seu antigo baterista, Matt Brann, aparece inclusivamente nos créditos da composição), dando vontade de abanar o capacete. O único defeito de Freak Out é, nalguns momentos, assemelhar-se demasiado a Don't Tell Me.

 

Fall to Pieces é outra que se tem destacado neste álbum, sobretudo nos primeiros anos. Na altura em que ouvi Under My Skin pela primeira vez, a ideia que eu tinha da Avril era a imagem da menina durona, desiludida com o amor, que eu via nos videoclipes recentes. Fall to Pieces foi a primeira canção de amor, preto no branco, que eu conheci da Avril e, numa altura em que eu andava apaixonada (ou assim julgava), isso significou muito. A letra é confusa (um problema recorrente neste álbum, como procurarei demonstrar), penso que reflete o momento em que a narradora decide deixar cair as barreiras e entregar-se ao amor. É difícil ter a certeza. No entanto, a emoção está toda lá, o que faz com que, mesmo depois destes anos todos e de uma série de canções de amor melhor conseguidas, continue a apreciar Fall to Pieces.  Esta faixa esteve quase para ser lançada como single, com direito a videoclipe, no entanto, mudaram de ideias à última hora e Fall to Pieces limitou-se a ser apenas single radiofónico em alguns países, incluindo os Estados Unidos. É pena, acho que teria sido uma boa adição à galeria de singles e eu, na altura, adorá-lo-ia.

 

Take Me Away é uma música que eu, no início, não gostava particularmente, mas que aprendi a apreciar depois de começar a ouvir música mais pesada, como Linkin Park. Não sei se Ben Moody colaborou nesta música, mas a mim recorda-me muito Bring Me to Life, dos Evanescence. Outra comparação é o tema de Tru Calling, Somebody Help Me. Take Me Away começa com um arpejo de guitarra interessantes, que se torna a imagem de marca da música. A meio das estrofe, esse arpejo transforma-se em acordes fortes, que dominam o refrão. Também gosto da orquestra, mais evidente na terceira estância, que empresta um caráter gótico à música. Por fim, adoro, absolutamente adoro, o final da canção, com bateria e as guitarras enlouquecidas - é um dos melhores de toda a discografia da Avril. A letra não é brilhante, mas é um tudo nada mais sólida que a média do álbum, descrevendo um momento de confusão, desespero, em que se procura ajuda. Reflete bem várias situações em que, muitas vezes, as minhas personagens se veem, daí que seja uma das minhas canções de escrita favoritas. Tal como com Freak Out, gostaria que a Avril regressasse um dia a este estilo. 

 

 

Who Knows contrasta com o tom sombrio da maioria do álbum. Assemelhando-se, em termos de sonoridade, a uma Complicated mais roqueira, com uma letra que, mesmo assim, deixa algo a desejar. Who Knows transmite uma mensagem de otimismo, de atitude positiva perante a vida, ao mesmo tempo que descreve o início de um relacionamento em que parece ainda existir alguma hesitação da outra parte. Quando penso em Who Knows, penso na extraordinária atuação na cerimónia de encerramento dos Jogos Olímpicos de Inverno de 2006, que mostro acima.

 

How Does it Feel assemelha-se em muitos aspetos a uma continuação de I'm With You: é uma balada rock, tocada em tom grave, com uma instrumentação semelhante à grande balada de Let Go, com a adição de uma orquestra. A minha parte preferida é a que se segue ao segundo refrão, em que os violinos sobem de tom e, por altura da terceira estância, soam batidas épicas de bateria. A letra é simples, mais uma vez, mas desta feita isso funciona bem pois tem uma estrutura. Também aqui se notam as semelhanças com I'm With You, pois a letra fala de solidão, isolamento, procura de consolo, desenhando até uma imagem semelhante ao videoclipe do single de Let Go. É o género de letra com que toda a gente que tenha passado por um momento de desânimo se identifica. How Does it Feel é uma canção triste, mas não incorre nos exageros de outras canções deste álbum. Na verdade, agora que a analiso, reconheço que tenho andado a subestimá-la nos últimos anos.

 

Slipped Away vai na mesma linha que How Does it Feel: triste, sem ser demasiado dramática. Ou talvez ajude sabermos exatamente sobre quem é esta canção - o avô de Avril, falecido enquanto ela estivera em digressão. A letra faz lembrar Goodbye na sua crueza e simplicidade (excessiva simplicidade, diga-se. Ela não se lembrou de algo melhor que "Oh, it's so sad"?) mas, mais uma vez, Avril consegue transmitir exatamente o que sente na sua voz. O arranjo musical assemelha-se ao de outras baladas deste álbum: piano, guitarras elétricas (se me recordo corretamente dos créditos, Avril tocou guitarra nesta música, sendo esta a primeira vez que grava instrumentos para os seus álbuns), orquestra.

 

 

 

Os dois primeiros singles de Under My Skin contribuíram para o meu desejo de adquirir o CD (ou melhor, de pedi-lo para o Natal). Conforme já havia dito aqui, Don't Tell Me foi um dos primeiros videoclipes da Avril que conheci. A canção terá sido composta ainda antes do lançamento de Let Go. Arrisco-me a especular se terá sido gravada na mesma altura, pois nesta o timbre da voz dela está mais parecido com o do primeiro álbum. Não sendo uma das minhas preferidas da Avril, Don't Tell Me sempre me causou respeito pela sua mensagem de poder feminino, de amor-próprio, estimulando as jovens a não se rebaixarem perante os companheiros, em termos sexuais e não só. Uma mensagem cada vez mais relevante, sobretudo agora que a igualdade de género é um assunto, felizmente, cada vez mais debatido.

 

My Happy Ending foi outra das primeiras que conheci da Avril. Não só via o seu videoclipe na televisão com frequência ao longo de 2004, como ouvia-a uma série de vezes na rádio (saudades...). É mais uma break up song, com uma letra que também deixa a desejar (não começam a notar uma tendência aqui?), mas com uma interpretação vocal extremamente emotiva e cativante. Durante os primeiros anos como fã de Avril, My Happy Ending foi uma das minhas músicas preferidas. Ainda que não tenha envelhecido muito bem, com tanta break up song que a Avril lança em todos os álbuns, My Happy Ending mantém-se como um grande clássico da carreira da cantora.

 

Já falei sobre Nobody's Home aqui. Continuo a achar que foi uma oportunidade desperdiçada por causa - mais uma vez - da letra. Esta é também o calcanhar de Aquiles do outro single de Under my Skin, He Wasn't. Esta é uma faixa que se destaca do resto do álbum pelo seu tom acelerado, relativamente descontraído, ainda que não tão alegre como, por exemplo, Sk8er Boi. He Wasn't foi daquelas que, de início, não me cativou muito, mas passei a gostar, sobretudo depois da edição de The Best Damn Thing. He Wasn't tem uma série de momentos rock 'n' roll de abanar o capacete, como os "hey! hey! hey!", sendo a terceira estância a minha parte preferida. Com o tempo, tornar-se-ia um dos pontos altos dos concertos da Avrl, por ser uma faixa que envolve o público no espetáculo com facilidade. Agora que penso nisso, He Wasn't representa precisamente aquilo que Avril pretendia fazer com o álbum The Best Damn Thing: uma canção sem grande significado, mas que põe toda a gente a saltar durante um concerto.

 

 

 

 

Muitos críticos argumentaram, aquando da edição de Under My Skin, que He Wasn't representava verdadeiramente a Avril, não tanto o resto do álbum. O tempo deu-lhes razão pois a própria Avril revelou que se cansou relativamente depressa do estilo sombrio de Under My Skin - segundo entrevistas, um ano depois de lançar o seu segundo disco (ou talvez ainda antes), já não se revia em músicas como Together e Forgotten. Mais um ano passaria e ela começaria a gravar The Best Damn Thing.

 

O que me leva às músicas que faltam analisar: Together e Forgotten. Ambas são break up songs, conduzidas por piano, acompanhadas por guitarra elétrica nos refrões, cantadas num tom dramático. Em defesa da Avril, conforme tenho vindo a dizer, ela consegue transmitir muito bem as emoções que quer na maneira que canta: dor, amargura, raiva. As letras vagas é que minam a credibilidade das canções. Together fala, amargamente, de um relacionamento que não está a resultar. Forgotten também fala de uma separação, alternando entre dor e raiva quase psicótica (quando oiço a parte "I won't be forgotten. Never again!", imagino-a dando um tiro ao desgraçado que a magoou). Na altura em que The Best Damn Thing foi editado, eu dizia que músicas como Girlfriend tinham pouco a ver comigo. No entanto, se fosse sincera comigo mesma, teria de admitir que também Together e Forgotten pouco me diziam.

 

O problema de Under My Skin é semelhante ao de The Best Damn Thing: ir ao extremo. Conforme referi na respetiva crítica, TBDT exagera na futilidade. Under My Skin exagera no dramatismo. Ao contrário da futilidade, o dramatismo nem sequer é coerente com a personalidade da Avril. Se isso já é suficiente para se questionar a credibilidade deste estilo musical, as letras vagas e, muitas vezes, mal amanhadas não ajudam. Considero, aliás, que em termos de letras este é o pior álbum da Avril. Compreendo que este dramatismo possa ter sido catártico para os fãs, sobretudo durante os anos difíceis da adolescência e que esta era - em que a Avril era quase cem por cento rock, em contraste gritante com o cor-de-rosa The Best Damn Thing - seja particularmente acarinhada. A situação recorda-me, até, a primeira geração do Pokémon: a nostalgia tolda os factos. Não que isso seja uma coisa má, porque não o é - se virem outras entradas do meu blogue, eu não sou cem por cento factual nas minhas análises - mas pelo menos para mim não é suficiente para esquecer as falhas e os aspetos que não resistiram muito bem ao teste do tempo. 

 

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Dito isto, eu não me importava de ter um novo álbum neste género, mais rock do que pop, desde que as letras sejam melhores. Posso ter tecido várias críticas ao álbum Avril Lavigne, mas este tem como grande força ter representado um salto qualitativo em termos de letra muito necessário, deixando boas indicações para trabalhos futuros. 

 

A verdade é que, nesta altura da minha vida, preciso de álbuns um tom diferente de Under My Skin, álbuns com maior equilíbrio entre luz e escuridão, em vez de melodramáticos. Álbuns como Goodbye Lullaby, Paramore, Out of Ashes, que falam de crescimento, esperança, sobrevivência. O primeiro é o meu segundo preferido da Avril precisamente por, apesar de ser triste nalguns momentos, essa tristeza é colocada em perspetiva, procura-se aprender com ela, saber que ela não nos vai vencer, sair-se mais forte. E essa, mais do que o dramatismo excessivo de Under My Skin, é uma mensagem importante, sobretudo para a comunidade adolescente.

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