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Álbum de Testamentos

"Como é possível alguém ter tanta palavra?" – Ivo dos Hybrid Theory PT

Digimon Frontier #3 – Os problemas aparecem já aqui...

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Nas minhas análises às temporadas de Digimon, esta é a parte em que olho para a lista de episódios e tento dividir o enredo em partes e/ou arcos. Quando me sentei para fazê-lo com Fronteira, no entanto, senti algumas dificuldades. 

 

Por um lado, porque a temporada tem vários fillers. Por estes dias já aprendi a gostar de fillers, mas a verdade é que estes baralham estas contas. Por outro lado, nalgumas alturas da temporada temos várias linhas narrativas em simultâneo, alternando no tempo de antena. Isso acontece porque Kouji, volta e meia, resolve separar-se do grupo e lidar sozinho com os seus próprios problemas. Mas também temos os Guerreiros Lendários, que algumas vezes agem em conjunto, algumas vezes agem individualmente. Podemos ver um exemplo destes dois aspetos nos episódios em Kouji está a lidar com o Duskmon enquanto os amigos tentam derrotar o Sephirotmon. 

 

Assim, acabei por dividir Fronteira em três grandes partes e, depois, cada uma em partes mais pequenas, sobretudo a segunda (vou chamar-lhes “arcos” só por uma questão de distinção). Poder-se-á argumentar que a minha divisão segue a típica estrutura em três atos/arcos, mas este é um conceito mais ocidental – e aplicável mais a filmes do que a séries de múltiplos episódios.

 

A primeira parte vai desde o primeiro episódio ao décimo-nono. Esta, por sua vez, divide-se em três arcos. O primeiro – chamemos-lhe 1.1 – vai do primeiro episódio ao sexto. Aqui, os miúdos escolhem responder ao chamamento da Ophanimon, que esta fez a uma data de gente, e apanham os Trailmon para o Mundo Digital. Depois de chegarem, descobrem acerca dos Espíritos Humanos e recebem instruções para irem ter ao castelo do Digimon Sagrado. 

 

É algo que acontece muito em Fronteira: os Escolhidos andam de um lado para o outro a mando da Ophanimon. Mas isso é conversa para outra parte da análise.

 

O episódio 6 marca um ponto de viragem. Para começar, somos apresentados ao primeiro vilão recorrente, o Grottemon. Aprendemos que alguns dos Guerreiros Lendários renascidos estão do lado dos “maus” e que existem Espíritos Animais. Kouji, que até esta altura agira sobretudo por conta própria, junta-se oficialmente ao grupo. Os Escolhidos sofrem a sua primeira derrota.

 

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Este é outro aspeto característico da temporada: os heróis perdem muitas vezes. Não é muito comum em Digimon, da minha experiência. Havemos de regressar a esta ideia.

 

O segundo arco – ou parte 1.2 – vai desde o episódio 7 ao episódio 13. Esta parte inclui alguns fillers, mas nela Takuya e Kouji ganham os seus Espíritos Animais. 

 

Eu se calhar devia ter esticado o 1.2 até ao episódio 19, mas eu tive de colocar uma quebra no episódio 13. Já percebi que em Digimon os episódios 13 são quase sempre marcantes. Até Ghost Game seguiu essa tradição. 

 

No caso de Fronteira, neste episódio os miúdos chegam ao castelo do Seraphimon. Este acorda daquela espécie de coma em que estava mergulhado, explica parte da história do Mundo Digital… apenas para ser derrotado pelo Mercuremon dez minutos depois, revertendo à forma de DigiOvo.

 

Muito sofre a família digievolutiva do Patamon. 

 

O último arco da terceira parte – 1.3 – vai do episódio 14 ao episódio 19. Mais alguns fillers e os outros três Escolhidos ganhando os seus Espíritos Animais. 

 

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O episódio 20 é outro ponto de viragem na narrativa – ainda mais significativo que o do episódio 6 – daí tê-lo escolhido como o início da segunda parte. A partir daqui, o tom torna-se menos descontraído e um pouco mais sombrio. Em parte literalmente, pois é quando entramos no Continente da Escuridão, que discutimos no texto anterior. É também quando conhecemos o Duskmon, o adversário mais difícil e implacável até ao momento e um dos mais importantes da temporada, como discutiremos nesta análise. 

 

O arco 2.1 vai, assim, do episódio 20 ao 23, quando os miúdos enfrentam o Duskmon pela primeira vez. É aqui que ocorre o meu twist preferido em Fronteira. Takuya e Kouji discordam em relação à melhor maneira de enfrentar o Duskmon. O primeiro deseja um ataque direto, baseando-se na vantagem numérica e nos méritos conjuntos do grupo. O segundo sabe que o Duskmon está longe do alcance deles e deseja evitá-lo. No fim, Kouji diz que, por ele, Takuya pode morrer enfrentando o Duskmon, se é isso que ele quer, desde que deixe Kouji e os outros de fora das consequências.

 

Mais tarde, quando executam o plano de Takuya, este dá para o torto. No entanto, no momento em que Agnimon fica à mercê de Duskmon, Garummon não aguenta e atira-se para a frente do ataque de Duskmon, provavelmente salvando a vida a Takuya. O Duskmon tem uma reação estranha quando Garummon “desdigivolui” para Kouji e lança trevas em seu redor. Abalado pelo que aconteceu e pelos seus erros, Takuya apanha um Dark Trailmon para regressar ao Mundo dos Humanos. 

 

Havemos de falar melhor sobre este twist mais adiante na análise. Para já, importa referir apenas que Takuya passa apenas um episódio no Mundo dos Humanos – este é o equivalente ao célebre episódio 21 de Adventure. No episódio seguinte, Takuya regressa ao Mundo Digital e reencontra os amigos. 

 

Se pudesse dar um título ao arco seguinte, 2.2, chamar-lhe ia “introdução de Letterbom”, a música dos Green Day: “Nobody likes you, everyone left you, they’re all out without you, having fun”. Os miúdos vão parar às diferentes zonas do Sephirotmon, separados do resto do grupo, com vários adversários que procuram usar as tendências anti-sociais dos Escolhidos contra eles mesmos.

 

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Devo dizer que esta temporada é a única em que os vilões podem jogar essa cartada. Noutro universo, a resposta dos miúdos seria:

 

– Ninguém gosta de mim? Uma ova! Tenho o meu companheiro Digimon!

 

Por outro lado, acaba por ser semelhante ao que o PicoDevimon fez ao elenco de Adventure, ainda que… menos eficaz.

 

Esta parte é das poucas, se não a única, que explora a psicologia do seu elenco – o que, para mim, sempre foi o grande ponto forte de Digimon enquanto anime. É uma evolução algo estranha de episódio para episódio. Passamos de questões relativamente leves, como dificuldade em fazer amigos, para algo tão complexo como o passado de Kouji – apenas a ponta do icebergue nesta altura, mas já de si uma mudança vertiginosa. 

 

Mas isso é assunto para outra parte da análise. Para já, referir que, por alturas do episódio 29, Takuya e Kouji já desbloquearam os respetivos espíritos híbridos via DigiOvo do Patamon Ex Machina. Sephirotmon é finalmente derrotado. 

 

Do episódio 30 ao 33 lidamos com o drama entre Kouji e Kouichi. Do episódio 34 ao 37 lidamos com o Cherubimon. De notar que cada um destes dois arcos – 2.3 e 2.4 – inclui um filler estranho. No 2.3 é o tal do Trailmon moribundo, no 2.4 é um lidando com um IceDevimon que fora prisioneiro do Cherubimon. 

 

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Este último aceita-se melhor pois sempre dá uma oportunidade aos miúdos que não Takuya e Kouji para fazerem alguma coisa. Nesta altura, Izumi, Tomoki, Junpei e Kouichi já tinham abdicado das suas digievoluções para que Takuya e Kouji conseguissem desbloquear os seus níveis Extremos. Havemos de falar melhor sobre isso, claro.

 

Com a derrota do Cherubimon no episódio 37 – até agora o principal vilão da temporada – encerramos a segunda parte. A terceira parte começa no episódio 38 quando descobrimos que, surpresa surpresa, o verdadeiro vilão é Lucemon. Os Cavaleiros Reais – o Dynasmon e o LordKnightmon – vão a mando dela recolher DigiCódigo para que ela o use para regressar à vida. 

 

Só divido a terceira parte em dois arcos: 3.1 e 3.2. O primeiro destes é o infame arco dos Cavaleiros Reais – até eu tinha ouvido uma coisa ou outra sobre este antes de conhecer Fronteira. Um dos grandes motivos da menor popularidade da temporada. Basicamente, neste arco os heróis perdem todos os combates contra os Cavaleiros Reais. Estes literalmente roubam o Mundo Digital debaixo dos pés do elenco, desalojando – e eventualmente matando – inúmeros Digimon no processo. 

 

Eu talvez tolerasse melhor estas derrotas se Fronteira aproveitasse a oportunidade para desenvolver as personagens. Afinal de contas, como referi acima, isto não acontece muitas vezes em Digimon. No entanto, Fronteira nem sequer faz isso. Pelo contrário, os Escolhidos não reconhecem a gravidade de praticamente nenhuma destas derrotas. Cada episódio termina num tom otimista e infantil: o que conta é a intenção, da próxima vez ganhamos. Isto enquanto o Mundo Digital se vai desfazendo em pó. 

 

Nesta altura, até o Ted Lasso lhes diria para terem noção. 

 

Como se isso não bastasse, nesta fase, com muito poucas exceções, só Takuya e Kouji é que combatem. 

 

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Nas temporadas anteriores, os últimos arcos eram os melhores. Em Fronteira, tirando, vá lá, os três últimos episódios (o arco 3.2, de que falaremos já a seguir), acontece o oposto. E tendo em conta que esta é a reta final da temporada, a última impressão, não admira que muitos não gostem de Fronteira. 

 

As únicas coisas que posso dizer a favor do arco dos Cavaleiros Reais é que, ao menos, os heróis vão aprendendo qualquer coisa com cada derrota. Takuya e Kouji vão aguentando mais tempo em combate de cada vez, até finalmente vencerem (se bem que o mérito não é todo deles… mas não nos adiantemos). Além disso, ao contrário do que aconteceu com o arco do BlackWarGreymon e as Pedras Sagradas em 02 (outro em que os heróis perdem muitas vezes), os eventos deste arco eram necessários para a narrativa. Lucemon tinha obter o DigiCódigo para que os Escolhidos lutassem com ela no fim. 

 

Ainda assim, tudo isto podia ter sido alcançado com muito menos episódios e com um tom mais adequado. 

 

Finalmente, o último arco, o 3.2, compreende os três últimos episódios, em que se enfrenta a Lucemon e esta é finalmente derrotada. O Mundo Digital é reconstruído, os Digimon renascem, os miúdos regressam a casa e todos vivem felizes para sempre. Frontier, aliás, tem um final mais feliz que as suas antecessoras. Não é necessariamente uma coisa boa… mas estou a adiantar-me.

 

E era isto o que queria dizer sobre o enredo de Fronteira. Como podem ver, as falhas da temporada aparecem já aqui. Depois desta, vou mudar um pouco a fórmula habitual destas análises e falar sobre as origens do Mundo Digital e os vilões desta temporada. Vai ser giro. Continuem por aí… 

 

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