Era Uma Vez/Once Upon a Time - Quarta temporada, primeira parte
Conforme prometi antes, eis-me aqui analisando a primeira metade da temporada da série Era Uma Vez/Once Upon a Time. Esta meia temporada teve como linha narrativa principal a integração do universo do filme Frozen na série.
Sendo este um filme recente (em contraste com a natureza mais clássica dos contos que, por norma, OUaT revisita), em vez de recontar a história de Frozen, esta linha narrativa funcionou mais como uma sequela aos acontecimentos do filme, com as personagems a sofrerem poucas ou nenhumas alterações relativamente às versões animadas. Os guinistas tomaram, também, a liberdade de não só preencher alguns buracos na história do filme, mas também de pegar no conto de Hans Christian Andersen (em que Frozen foi vagamente inspirado), tornando a sua personagem principal, a Rainha da Neve, a vilã desta meia temporada.
Muitos tinham as suas reservas relativamente à maneira como OUaT abordaria a integração de Frozen na história, eu incluída. Na minha opinião, a série acertou em praticamente todos os aspetos. Começando pelo elenco, que fez uma encarnação quase perfeita das personagens, não apenas das irmãs Elsa e Anna (esta última é absolutamente adorável em OUaT), mas também de figuras secundárias, como o homenzinho do spa e o duque de Weaselton, perdão Weselton. Gostei igualmente da interação entre as personagens de Frozen e as recorrentes de Once. A cumplicidade entre Emma e Elsa é o exemplo óbvio, mas também me deu gozo ver Anna trocando as voltas a Rumplestilskin.
Desde cedo ficou claro que os guionistas olharam para Elsa e acharam que podiam criar um arco narrativo semelhante com Emma. Não estavam errados, mas o paralelismo que estabeleceram foi algo forçado. Se o descontrolo súbito de Emma sobre os seus poderes é mais ou menos credível, o igualmente súbito medo e hostilidade (ainda que momentâneos) que os seus pais desenvolvem não o são. Do mesmo modo, Emma deixa-se manipular demasiado facilmente por Ingrid (a Rainha da Neve, vilã desta meia temporada) quando esta a faz duvidar do amor da família - infelizmente, não é a primeira vez que os guionistas lidam mal com o relacionamento entre Emma e os pais.
De qualquer forma, esse arco narrativo é concluído em Smash the Mirror com uma mensagem bonitinha, de aceitação pessoal. Por um lado, termina aquilo que Frozen começou, ou seja, Elsa ganha aceitação e controlo sobre os seus poderes. Por outro lado, Emma dá mais um passo na sua integração na família e em Storybrooke.
Também gostei de Ingrid, a Rainha da Neve, a vilã da meia temporada. A escolha de Elizabeth Mitchell foi acertada para este papel - embora eu não exclua a hipótese de terem criado esta personagem com esta atriz específica em mente, ou mesmo baseando-se em Juliet, personagem de Lost (série a que Once pisca muitas vezes os olhos). Por mero acaso, ao longo dos últimos meses estive a rever Lost, a propósito do seu décimo aniversário, e a apresentação de Ingrid coincidiu com a altura em que revia a terceira temporada. As comparações são inevitáveis: tanto Ingrid como Juliet foram separadas de uma ou mais irmãs, ambas possuem a capacidade de assumir posturas frias... bem, como o gelo, embora também saibam transparecer perfeitamente as suas emoções, quando assim tem de ser. Ingrid combica com isso, inclusivamente, uma calma e paciência infinitas, sendo raros ou mesmo inexistentes os momentos em que se exalta.
No fim, não pude evitar sentir compaixão por ela, sobretudo tendo e conta o seu historial com Emma. Ela merecia ter feito as pazes com a Salvadora e ter-se juntado à família. De qualquer forma, de uma maneira retorcida, Ingrid acabou por obter o seu final feliz ao reunir-se com as irmãs.
O episódio em que isso acontece, Shattered Sight, é o meu preferido desta meia temporada. Ingrid lança a Maldição da Visão Estilhaçada, que faz com que as vítimaas vejam apenas o lado negro de todos o que os rodeiam. Eu esperava que esta Maldição fosse algo que reabrisse cicatrizes e deixasse sequelas. Não foi isso que aconteceu, pelo contrário, a Maldição acabou por ter um carácter mais cómico do que de ameaça, tornando este num dos episódios mais hilariantes de todas as quatro temporadas e meia de Once. Também ajudou o facto de Shattered Sight ter contribuído para a humanização da vilã da meia temporada. É claro que, em Once Upon a Time, há sempre uma série de inconsistências temporais e outros deus ex-machinas, e este episódio não foi exceção - como a maneira como Anna descobre a carta da mãe e chega à caverna de Ingrid a tempo de salvar o dia. A partir de certa altura, uma pessoa tem de ignorar estas incoerências para poder apreciar a série - mas é algo que não me agrada.
Alguns fãs queixaram-se de que o arco narrativo de Frozen desviou a atenção do elenco principal. Eu concordo, mas não acho que tenha sido uma coisa completamente má - nalguns casos passou-se o contrário. O exemplo mais óbvio disso foi o casal Snow e Charming. Nesta meia temporada tornou a acontecer o que afirmei na crítica ao terceio ano: isoladamente como casal são uma seca, só ganham interesse na interação com outras personagens, nomeadamente como pais de Emma. Dizem que, quando a série for retomada, o casal ganhará um papel de destaque - tal não me entusiasma.
Outro assunto deixado no gelo, literalmente, nestas semanas, foi o triângulo Regina-Robin-Marian. Tal commo disse antes, este foi o verdadeiro teste à redenção de Regina e não sería credível vê-la entrar em modo cem por cento Evil Queen de novo. Penso que passou no teste. Começou por considerar a hipótese de eliminar a sua rival (o que me pareceu realista), mas muda de ideias, felizmente, tendo mesmo sido obrigada a tentar salvar a vida de Marian. No fim do primeiro episódio, muda a sua estratégia habitual decidindo procurar o autor do mítico livro de Henry - o suposto responsável pelos destinos das personagens dos contos de fadas - de modo a obrigá-lo a escrever-lhe o final feliz que teima em fugir-lhe. Henry e, no fim, Emma apoiam-na na chamada Operação Mongoose e o arco não se desenvolve muito mais do que isto, tirando a partida de Robin, no último episódio.
Nota-se que este arco foi "interrompido" pela história de Frozen (que não fazia parte do plano inicial), pois as vilãs da próxima meia temporada, aparentemente, também não estão satisfeitas com o estatuto de vilãs. O que parece vir em sequência lógica com o conflito de Regina. Mas já falamos sobre as Rainhas da Escuridão.
Outro arco por desenvolver foi o respeitante a Will, o Valete de Copas, que parece ter caído de pára-quedas em Storybrooke - isto apesar de, segundo o que li, ele ter tido o seu final feliz na série onde "nasceu", Once Upon a Time in Wonderland. OUaT ainda não teve a delicadeza de nos explicar o que pretende de Will, mas espera-se que isso seja revelado em breve.
Uma das coisas de que não gostei mesmo nesta meia temporada foi Rumplestilskin. Depois de um arco de redenção muito bem conseguido há um ano, neste ele reverteu completamente a cem por cento vilão. Os guionistas justificam-no com o desejo de se libertar da influência da adaga, de modo a evitar o que se passou com Zelena na temporada anterior. Eu poderia aceitar isso, que não quisesse dar a adaga verdadeira a Belle. Também poderia aceitar que ele manipulasse Hook (afinal de contas, o ressentimento deles dura há muitos anos, não é facilmente ultrapassável). Eu mesma tinha dio que um Rumple totalmente bonzinho não teria piada. No entanto, a maneira como o fizeram desafia a credibilidade. No início da temporada, Rumpe promete, junto à campa do filho, ser melhor. Episódios mais tarde, está disposto a sacrificar a amada do filho e mãe do seu neto para se libertar da adaqua? Não me convence.
Felizmente, depois de meia temporada a dormir na forma no que tocava ao marido, no último episódio Belle descobre a verdade. Numa cena muito bem representada pelos respetivos autores, Belle expulsa-o de Storybrooke, privando-o dos seu poderes. Rumple regressa ao que era antes de se tornar o Dark One: um homenzinho coxo, cobarde, patético.
Depois disto, não sei como Rumple poderá voltar a ser perdoado. Duvido que o seja tão cedo. No entanto, estou curiosa ao que o futuro reserva para o eterno Dark One.
Por outro lado, depois de ter sido chantageado por Zelena na terceira temporada, Hook torna a ser a marioneta do vilão. Começa a tornar-se cansativo, mesmo patético. Por outro lado, foi refrescante ver Emma deixar, finalmente, as inseguranças de lado e envolver-se numa relação saudável com o pirata - isto é, dentro do possível, com Rumple puxando-lhe os cordelinhos nos últimos episódios. Houve quem se queixasse de não ter existido conflito entre ele e Emma, depois de Rumple ter sido desmascarado. Eu não concordo com as queixas. Depois da terceira temporada, seria redundante Emma tornar a erguer barreiras entre ela e Hook - já tivemos disso que chegue, obrigado. Se houver algum conflito entre o pirata e a Salvadora, que esse ocorra fora de câmaras e que seja resolvido rapidamente - deixem a moça ser feliz, por favor!
O trio de vilãs que vem aí na segunda metade da temporada não me entusiasma particularmente. Para além de ser Disney a mais, conforme já me tinha queixado antes (trouxeram a Cruella? A sério?), conheço mal os filmes de onde forma adaptadas. Acho que nunca vi nem a Pequena Sereia, nem a Bela Adormecida (o filme com a Angelina Jolie conta?). Quanto aos 101 Dálmatas, vi mais frequentemente a versão "em carne e osso", com a Glenn Close, mas nunca foi dos meus filmes preferidos. No entanto, a falta de familiaridade não me impediu de apreciar arcos narrativos como o do Feiticeiro de Oz, na terceira temporada. Daí que esteja disposta a dar o benefício da dúvida.
De qualquer forma, o facto de termos três vilãs novas, em vez de apenas um(a), poderá evitar o desgaste daquela que tem sido a fórmula da última temporada e meia: novo mau da fita com ligação a pelo menos uma personagem do elenco principal, estragos causados pelo dito mau da fita, apresentada a história do mau da fita, mau da fita não assim tão mau no fundo, descobre-se plano maléfico do mau da fita, execução, derrota do mau da fita, fim da temporada. Há que já esteja cansado dessa fórmula. Eu ainda não pois, até agora, cada vilão tem sido único, provocando graus diferentes de compaixão (por exemplo, elevados em Ingrid, inexistentes com Peter Pan). As três Rainhas da Escuridão, provavelmente cúmplices de Rumplestilskin, deverão dar uma nova dinâmica à série - sobretudo se cada uma delas tiver as suas próprias motivações e estas entrarem em conflito com as motivações das outras.
Mesmo com algumas reservas, não estou demasiado preocupada com a próxima meia temporada. OUaT pode ter as suas incoerências, e estas podem tornar-se exasperantes. No entanto, das séries de acompanho atualmente, Once é a única que tem conseguido manter a consistência - Arrow e The Good Wife estão a tornar rumos estranhos este ano. Acredito que o nível se manterá na segunda metade da temporada.
Quanto a nós, aqui no Álbum, é possível que o deixe em stand-by por uns tempos, sobretudo porque... já esgotei as ideias que andei a acumular ao longo dos últimos meses. Tenho uma ou outra ideia para entredas futuras, por isso, a pausa não será demasiado longa. De qualquer forma, quero também aproveitar para me voltar para a minha escrita de ficção, que não tem tido grande progresso desde... antes do Mundial 2014.
Termino esta entrada com uma montagem de vídeos que fiz recentemente com cenas de OUaT. A música que usei já dispensa apresentações aqui no blogue: