Odaiba Memorial Day: Digimon Adventure #4 - Personagens
Na minha opinião, o verdadeiro ponto forte de Digimon diz respeito às suas Personagens. Na série, o desenvolvimento e evolução das Crianças Escolhidas está diretamente ligado à progressão do enredo. Isto é particularmente óbvio no que concerne às evoluções para o nível Super Campeão. Para que os Digimons atinjam esse nível, as Crianças precisam de ativar os seus Cartões. Cada Cartão representa um determinado valor e os Cartões só são ativados se as Crianças agirem de acordo com o valor que lhes foi atribuído. As execuções desta ideia variam, mas geralmente são momentos de adrenalina, de pico de emotividade, culminando nas respetivas evoluções (mais sobre isso adiante). Por outras palavras, os Digimons só evoluem, só salvam o dia, puxando a história para a frente, se os humanos evoluírem.
Devo dizer que considero este conceito dos Cartões um dos pontos fortes da primeira temporada de Digimon, ainda que as execuções variem em qualidade. As virtudes em si são, de uma maneira geral, aquelas que qualquer protagonista numa típica narrativa de luta-contra-o-mal possui ou passa a possuir no decurso da história. Em Digimon, estes valores desempenham um papel mais direto, mais literal, na progressão do enredo. Para além de isto "obrigar" a personagens minimamente modeladas, que se desenvolvam com a narrativa, é uma boa maneira de ensinar estes valores à audiência infantil - é como se a história dissesse "Se fores corajoso, leal para os teus amigos, etc, serás mais forte". É uma boa alternativa aos discursos moralistas e lamechas que tantas vezes apanhamos em desenhos animados.
Para além dos Cartões, o próprio enredo força o desenvolvimento das personalidades dos miúdos. Desde o primeiro momento, o elenco está sujeito a uma pressão invulgar em crianças daquela idade - eu sei que isto é uma série infantil mas, na vida real, tal como já referi noutra ocasião, ninguém no seu juízo perfeito colocaria o destino de um Mundo inteiro em crianças. Muitos dos dilemas com que o elenco se depara, em particular na quarta parte da narrativa, são dilemas de gente grande, dilemas que eu hoje vejo em obras para uma audiência mais velha. Outro dos pontos fortes de Digimon.
No entanto, nem tudo são rosas no que toca às personagens. Recordo que começamos com sete Crianças Escolhidas e acabamos com oito. A narrativa tenta dar atenção individual a cada uma delas e, de qualquer forma, pelo menos os sete miúdos com que a temporada começa são pessoas diferentes por altura do fim da temporada. No entanto, o tempo de antena que cada uma recebe é muito heterogéneo. Um problema que poderia ter sido resolvido com um elenco menor.
Já que falo nisso, o excesso de personagens é um problema que a minha escrita tem em comum com Digimon. Já nas histórias que eu escrevia aos dez/onze anos de idade me diziam que eu usava demasiadas personagens, uma falha que não corrigi a tempo dos meus livros. Estou convencida que apanhei essa mania precisamente com a primeira temporada de Digimon. Só para vermos como podemos ser influenciados tanto pelas forças como pelas fraquezas de uma obra.
Na próxima entrada, começarei a analisar individualmente cada uma das Crianças Escolhidas. Sendo elas oito, como podem ver, ainda a procissão vai no adro no que toca a esta análise...