Odaiba Memorial Day: Digimon Adventure #9 - A princesinha
Mimi nunca esteve entre as minhas personagens preferidas sobretudo por um motivo: a voz que lhe atribuíram na dobragem portuguesa da primeira temporada. Infelizmente, existem muitos exemplos de dobragens mal conseguidas em Portugal e Digimon nem sequer é o pior exemplo (sim, Navegantes da Lua, estou a falar de vocês e das vossas vozinhas infernais!), mas a voz da Mimi era pura e simplesmente atroz.
Mimi é a princesinha mimada do grupo. É a primeira a queixar-se de fome, de cansaço, de não poder tomar banho, etc. Não é difícil de imaginar o género. Não é o tipo de criança com que simpatizemos, mas, para sermos sinceros, todos nós já tivemos reações estilo Mimi quando éramos miúdos, às tantas por coisas bem menores que ir parar a um mundo desconhecido cheio de criaturas tentanto matar-nos. Todos gostaríamos de pensar que, no lugar e com a idade das Crianças Escolhidas, olharíamos o perigo de frente, como Tai, Matt ou Sora, mas provavelmente a maioria de nós reagiria como a Mimi.
Talvez seja por isso que nunca nos tenhamos tornado Crianças Escolhidas.
Apesar de mimada e, por vezes, egoísta, Mimi tem o coração no sítio certo e uma sensibilidade que falta à maioria das outras Crianças, destacando-se Tai. O seu momento redentor ocorre na quarta parte da narrativa, quando se sente farta de lutar, quer fazer o luto pelos Digimon amigos que haviam perdido e Tai não deixa. Mais tarde, na mesma altura em que Matt se separa do grupo, Mimi decide igualmente seguir o seu próprio caminho, procurar uma maneira de salvar o Mundo Digital que não implique o sacrifício de Digimon bons. Eventualmente descobre que a luta é inevitável e começa a reunir um exército a partir de antigos aliados das Crianças Escolhidas. Sempre dá uma ajudinha na derrota de Piedmon, mas contribui sobretudo para me fazer respeitar Mimi: no início da temporada, a jovem nunca se separaria volutariamente do grupo. E não é fácil questionar abertamente Tai, que para além de teimoso, no xadrez da luta contra a Escuridão, é uma das peças mais importantes.
As traduções da virtude de Mimi são contraditórias. Na minha opinião, a mais adequada é Inocência - ou Pureza - o que faz sentido por muito do seu desenvolvimento passar pelo conflito entre as suas tendências egoístas e mimadas o seu coração puro.
Mimi é uma das personagens menos populares, não sem motivo, mas, na minha opinião, merecia receber um bocadinho mais amor por ser uma das personagens com maior evolução na primeira temporada. É a única personagem feminina com uma evolução digna desse nome, na verdade... Podem ler mais reclamações feministas no que diz respeito a esta série aqui.