Odaiba Memorial Day: Digimon Aventure #2 - Cenários e pais negligentes
Nesta entrada, vamos analisar os Cenários onde decorre a narrativa. A história da primeira temporada de Digimon Aventures decorre, maioritariamente, no Mundo Digital. Este, também conhecido por Mundo Digimon, é uma dimensão paralela ao chamado "mundo real", tendo sido criado a partir de dados informáticos à mistura com pensamentos, emoções, sonhos e crenças humanas - o que explica o facto de vários Digimon e lugares do Mundo Digital tenham características de mitos e culturas humanas. Tendo em conta que, na altura em que via Digimon pela primeira vez, a Internet e mesmo os telemóveis eram ainda coisas muito recentes, a ideia de um Mundo Digital fascinava-me - em particular, a de um mundo digital acessível através de um computador (na segunda temporada). E, claro, este conceito de dimensões alternativas, mundos paralelos, serviu de inspiração para o meu livro.
Por outro lado, o arco narrativo mais interessante da temporada acaba por se passar no Mundo Real, quando o elenco regressa temporariamente às cidades natais e estas são atacadas por Digimons hostis. Para além de podermos ver as Crianças Escolhidas relacionando-se com as respetivas famílias (mais sobre isso quando falarmos sobre as Personagens), quando era mais nova, a ideia de Digimons atacando a comunidade, com as crianças sendo as únicas a saber o que está a acontecer e porquê e as únicas capazes de salvar o dia, fascinava-me. Cheguei a imaginar que isso acontecia na minha localidade, inclusivamente na minha escola. Os meus colegas, os professores e os outros funcionários abrigar-se-iam no pavilhão desportivo e eu ficava cá fora, com o meu Birdramon, defendendo-os dos ataques dos Digimons maus - ao mesmo tempo que comunicava à distância com as outras Crianças Escolhidas, que combatiam noutras frentes.
Que cara é essa? Como é que acham que eu me tornei escritora, meus amigos?
Já que falo do assunto, referir que um dos aspetos da segunda temporada de que gostava mais era do facto de o elenco frequentar as aulas, ir para casa ao fim do dia, fazendo o trabalho de Crianças Escolhidas quase como uma atividade extracurricular - reunindo-se numa sala de computadores, como a que havia na minha escola. Eu identificava-me com isso. Lembro-me, inclusivamente, de ler numa revista há uns anos que era comum miúdos à volta dos doze anos se identificarem com esse género de narrativa: em que os protagonistas levam a vida normal de um pré-adolescente, mas também fazem o trabalho de heróis em segredo. Este artigo vinha a propósito de uma banda desenhada qualquer, que estava na moda na altura (Witch? O clube Winx?), mas fez-me pensar em Digimon.
Um aparte só para assinalar que, na realidade, dificilmente crianças de onze anos, ou menos, conseguiriam escapar ao controlo dos adultos durante tempo suficiente para salvar o Mundo Digital. Eu não conseguiria quando tinha essa idade, mas eu era a excepção, não a regra. No entanto, pela norma dos dias de hoje - em que os pais podem ser acusados de negligência se deixam os filhos ir sozinhos para a escola - seria impossível. Para que pudesse haver história, foram necessários adultos responsáveis mais liberais, talvez irrealisticamente liberais. Num dos episódios, Izzy tem de travar um Digimon hostil a meio da noite, por isso, tranca-se no quarto e foge pela janela. Os pais apercebem-se da porta trancada, mas não fazem nada - na vida real, qualquer pai, mais permissivo ou não, se um filho se trancasse no quarto e deixasse de responder, entraria em pânico ou, no mínimo, faria tudo para abrir a porta.
Outro exemplo são os país de Tai e Kari que, por duas vezes, deixam a filha doente sozinha em duas ocasiões. Uma vez aos quatro, cinco anos, outra vez aos seis/sete - já no decurso da história. Isto sempre me fez confusão, mesmo quando era mais nova: já é suficiente mau deixar uma criança de sete anos saudável sozinha em casa, quanto mais doente. Até porque a primeira vez teve consequências graves, seria de esperar que os país de Kari tivessem aprendido a lição. Ou melhor, nem por isso, pois deitaram a culpa ao filho mais velho que, na altura, tinha... nove anos, no máximo. Na realidade, os pais teriam, no mínimo, sido abordados por uma assistente social.
E com este comentário sobre negligência parental, encerro está entrada. Na próxima, analisarmos o enredo desta primeira temporada de Digimon.