Odaiba Memorial Day: Digimon Aventures 01 #5 - Um líder imperfeito
Tai, à primeira vista, obedece ao estereótipo do protagonista masculino numa série infantil: alegre, extrovertido, entusiasta, impaciente. É sempre o primeiro a atingir as digievoluções, precisamente por ser o primeiro a agir, a puxar o grupo para a ação.
Naturalmente, o reverso da medalha é agir sem pensar, cair na arrogância, na imprudência, na insensibilidade, falhas essas que resultam em erros graves. Erros como quase matar a irmã, forçar uma digievolução, permitir o rapto de Sora, contribuir para a divisão do grupo na quarta parte da narrativa.
Tal como expliquei antes, está é uma altura em que as Crianças começam a sentir sequelas da luta pelo Mundo Digimon. Cansados, enlutados pelos amigos que perderam, alguns dos miúdos precisam de tempo, questionam a maneira como estão a conduzir a luta, querem pensar em alternativas. Tai não compreende nada disso, quer continuar a lutar da mesma forma - e não está totalmente errado pois, depois de salvo o Mundo Digital, os Digimons que morreram nascerão de novo. No entanto, também Jesus chorou por Lázaro antes de o ressuscitar...
Na verdade, Tai só compreende o que os amigos sentem quando a sua irmã, Kari, adoece sem que ele perceba até a coisa se agravar a sério. A doença de Kari fá-lo recordar-se da última vez que ela esteve doente com gravidade, quando a sua imprudência quase a matou. Será por essa altura que o rapazinho se apercebe das consequências das suas atitudes (mesmo que tenham sido para salvar o Mundo Digital) nos amigos, quer humanos quer Digimon, dos motivos pelos quais o grupo se dividiu. Aquando das últimas grandes batalhas, a abordagem de Tai é completamente diferente, menos impulsiva e mais estratégica, com vista a derrotar os inimigos mas sem perder mais aliados.
O Cartão atribuído a Tai é o da Coragem, o que faz sentido pois, em linha com o que acabei de explicar, todo o arco de personagem de Tai serve para lhe ensinar o verdadeiro significado de coragem - não que Tai alguma vez tenha sido cobarde, mas, lá está, ele era imprudente, ele saltava para o perigo sem pensar nas consequências. Coragem não é isso, coragem é ter perfeita noção dos riscos e, mesmo assim, seguir em frente, sobretudo quando "valores mais altos se alevantam".
Uma das críticas apontadas a esta temporada de Digimon, com que concordo, diz respeito ao facto de Tai gozar de demasiado tempo de antena, quando outras Crianças Escolhidas (sobretudo as raparigas - mais sobre isso adiante) precisavam de um bocadinho mais. Isto é mais evidente na tal segunda parte, tão impopular, em que chegamos a ter três episódios seguidos dedicados a Tai. É verdade que muito do desenvolvimento de Tai ocorre nesta altura, com o rapazinho cometendo alguns dos erros referidos anteriormente. Mas nem tudo é bem executado - o episódio com Piximon tinha uma premissa interessante, mas revelou-se uma oportunidade desperdiçada - e podiam perfeitamente ter aproveitado para mostrar as outras Crianças cometendo erros, igualmente.
Continuem ligados, na próxima entrada falamos de Matt.