Pokémon através das gerações - La belle Kalos #1
Hoje retomamos a série "Pokémon através das gerações". Eu queria falar sobre Pokémon X e Pokémon Y no mesmo texto, mas exagerei um bocadinho e o Sapo Blogs literalmente não me deixou publicar aquela monstruosidade. Assim, a análise a estes jogos virá em duas partes. Esta é a primeira, a próxima vem amanhã.
Depois de ter falhado a quarta e a quinta gerações dos jogos Pokémon, desta feita pude acompanhar o lançamento da sexta geração, desde os primeiros anúncios revelando os starters e os Lendários-mascote. Não cheguei a jogá-los eu mesma até alguns meses depois do lançamento de Omega Ruby e Alpha Sapphire, mas ia vendo “Let’s play”'s no YouTube. Não é de todo a mesma coisa que jogar nós mesmos, mas sempre dá para ficar com uma ideia
A sexta geração foi a primeira a ser hospedada pela Nintendo 3DS. Como tal, veio com uma impressionante melhoria estética. O tema da geração, aliás, é precisamente “beleza”.
Eu gosto em particular dos gráficos em 3D. Era algo que eu desejava para os jogos principais havia cerca de uma década – desde que combatera contra um amigo meu no seu jogo de Pokémon Colosseum, usando a minha equipa da FireRed. Os Pokémon tornam-se completamente diferentes quando ganham três dimensões. Os criadores deram-se ao trabalho de dar animações únicas a cada um dos setecentos e vinte e um Pokémon – fazendo com que ganhassem uma camada extra de personalidade.
Por exemplo, já referi aqui no blogue que os gestos elegantes da Gardevoir fizeram-me gostar ainda mais dela. Adoro, também, a maneira como o Torchic corre de volta para o seu lugar, depois de um ataque.
Por outro lado, adiantando-me um pouco à sexta geração, o efeito estende-se a Pokémon Go, já que o jogo reutiliza as animações destes jogos. Alguns exemplos de que me lembro agora são a Roselia – que, de vez em quando, faz gestos de menina de claque – o Hitmontop – que parece estar a dançar – e o Snorunt – que se tornou irresistível ao aparecer a tremer de frio.
Adiantando-me ainda mais, quando saiu o vídeo que apresentava os segundos estágios dos starters de Sun/Moon, acho que não teria achado tanta graça ao Dartrix e, sobretudo, à Brionne (que tem um desenho um pouco deslavado) se não fossem as animações de combate e do Pokémon Refresh.
O que nos leva a uma das funcionalidades introduzidas nesta geração: o Pokémon Amie. Esta é parecida com o Nintendo Dogs – essencialmente fazemos festinhas aos Pokémon e alimentamo-los com queques (que ganhamos jogando mini-jogos). Se o fizermos vezes suficientes, os níveis de afeição aumentam, trazendo vários benefícios.
Não surpreende que tenham criado esta funcionalidade. Afinal de contas, a larga maioria dos Pokémon são criaturas engraçadas, equivalentes a animais de estimação (embora mais inteligentes, pelo menos no meu headcannon). Dito isto, uma coisa é fazer festinhas a um Eevee, um Pikachu, mesmo a um Absol ou a um Charizard. Quando começamos a fazer festinhas a um Pokémon como um Jynx, ou a um Lendário como o Mewtwo, torna-se esquisito – embora o Pokétuber TrueGreen7 tenha uns vídeos irresistíveis sobre isso, como podem ver acima.
Tirando essa parte, na minha opinião, o Pokémon Amie é uma funcionalidade muito bem vinda. Não só por nos dar mais maneiras de interagirmos com os nossos Pokémon, mas também pelos benefícios em combate. Um Pokémon com afeição elevada provoca alterações no diálogo do combate, faz mais critical hits, pode desviar-se de ataques ou, então, evitar ser derrotado por 1 HP – tudo por amor a nós.
Uma das primeiras vezes que isto aconteceu comigo e com a minha irmã foi da primeira vez que jogámos (mais ou menos a meias) Alpha Sapphire. A certa altura, andei a brincar com o Blaziken dela no Pokémon Amie. Mais tarde, quando ela estava a combater contra o Steven, já no último Pokémon, o Blaziken aguentou um ataque ficando apenas com 1 HP. Pôde, portanto, dar o golpe final para a vitória depois dessa.
Um aparte rápido só para referir que comprámos Alpha Sapphire na mesma altura em que adótamos a Jane, a nossa cadela. Eu ainda estava na fase de adaptação e sentia-me culpada por andar com mais vontade de fazer festinhas a criaturas virtuais e não à minha cadela, de carne, osso e muito pêlo.
Hoje, obviamente, já não tenho esse problema. Hoje em dia, uma coisa que faço é usar o Amie e o Refresh para provocar ciúmes à Jane. Ponho-me a dizer coisas como “Ah que menino bonito! Queres festinhas?”, ela pensa que estou a falar com outro cão e ladra.
Fechando o aparte, estes benefícios do Amie podem ser considerados facilitismo, não sem razão. Ainda assim, pelo menos nesta geração, usar o Amie dá algum trabalho, torna-se moroso e entediante – sempre compensa o colinho que o jogo dá.
Além disso, é bom para a parte sentimental. Olhemos para a situação de que falei neste texto, que fez com que o Vaporeon se tornasse o meu Pokémon preferido. Alguns de nós, se calhar, imaginavam que estas coisas ocorriam porque os Pokémon em questão gostavam mesmo de nós. Na minha opinião, foi uma boa jogada transformarem isso numa funcionalidade dos jogos.
Havemos de voltar a falar de facilitismo mais à frente. Conforme disse antes, a sexta geração foi a primeira em que experimentei a parte online dos jogos. Não fiquei desiludida. Muitos dizem mal do GTS, não sem razão – eu fico impressionada pela lata das pessoas que oferecem um Magikarp em troca de um Mewtwo. No entanto, se propusermos trocas decentes – isto é, oferecermos Pokémon de valor/raridade equivalente ao que queremos – a coisa funciona bem.
Uma novidade nesta geração é o Wonder Trade, em que as trocas são feitas ao calhas, é uma lotaria completa. Eu acho super divertido, chega a tornar-se viciante. É certo que, na maior parte das vezes, só obtemos Pidgeys ou equivalentes, mas de vez em quando apanham-se coisas interessantes, como Pokémon com bons IVs ou Egg Moves.
Eu, por exemplo, afeiçoei-me a uma Lopunny que recebi, com o Fire Puch, o Ice Punch e o Thunder Punch. Também já me calharam um par de shinies, o que é sempre fixe, um Volcarona em troca de um Baltoy de nível 1 (numa altura em que este ainda não tinha sido lançado oficialmente) e um Slakoth chamado… Lay-Z (melhor alcunha de sempre!).
Outra funcionalidade de que gosto muito é do Pokémon Bank – que me permitiu, pela primeira vez em imenso tempo (se não for desde sempre), reunir Pokémon de várias gerações no mesmo sítio. Neste momento, tenho Pokémon da quinta à sétima geração – e só não tenho da primeira e da segunda porque ainda não completámos os jogos da Virtual Console.
Sei que, tecnicamente, isto tem sido possível ir passando Pokémon de uma geração em diante desde a terceira. Há fãs que ainda têm os Pokémon que usaram em Ruby&Sapphire. Eu, no entanto, só pude fazê-lo com o Bank e, pura e simplesmente, adoro-o. Ter Pokémon que usei em jogos diferentes, com quem vivi histórias diferentes, todos juntos, disfrutando do paraíso do Mohr no Pokémon Pélago. E quero tentar guardá-los enquanto puder.
Outra das novidades destes jogos diz respeito à Mega Evolução: uma evolução temporária, que requer um objeto especial e que só ativada em combate, depois de se formar um laço entre treinador e Pokémon.
Aqui entre nós, o possível plágio de Digimon não me incomoda. Pelo contrário, se era para copiar alguma coisa de Digimon, copiaram um dos meus aspetos preferidos da franquia. A cena em que o jogador ativa o Mega Ring traz inclusivamente um bocadinho da euforia e epicidade das digievoluções.
Só uma mão-cheia de Pokémon é que obteve Mega Evoluções. Não surpreende que a larga maioria deles sejam dos mais populares entre os fãs. Os starters de Kanto (o Charizard teve direito a duas Mega Evoluções, porque… Charizard) e de Hoenn (com os remakes era inevitável), o Mewtwo (também com direito a duas, porque o Mewtwo ainda não era suficientemente OP), o Lucario, a Gardevoir e o Gallade, o Gengar, o Salamence… mas não o pobre Flygon, consta que por bloqueio criativo de Ken Sugimori (a sério?!?).
Conforme referi na resposta a um comentário no último texto desta rubrica, nunca pensei assim muito muito nas minhas Mega Evoluções preferidas. Se tivesse de escolher neste momento, escolheria a Mega Lopunny – em parte por aquela de que falei acima e também porque me faz lembrar a protagonista de Millian Dollar Baby (apesar de nunca ter visto esse filme) – e o Mega Rayquaza – que ganhou um visual muito mais intimidante e feroz.
Na verdade, na minha opinião, quase todas as Megas Evoluções foram bem sacadas, deram uma versão mais impressionante aos Pokémon em questão. As únicas exceções são o Mega Sableye (pouco imaginativo) e o Mega Slowbro (até dá pena…).
Mas chega de falar das funcionalidades, passemos aos jogos em si. Conforme referi antes, vi várias pessoas jogando X&Y desde que os jogos saíram – sobretudo Pokétubers, mas também a minha irmã. No entanto, só a joguei eu mesma em junho de 2016.
Um bocadinho de contexto. Numa altura em que já andava a fazer planos para esta série de textos, sobre as várias gerações de Pokémon, a minha ideia inicial era jogar X depois do Euro 2016. Conforme referi antes, sabia que ia andar em baixo quando a Seleção Portuguesa, inevitavelmente, fosse expulsa do Europeu. O jogo seria uma boa distração.
A minha irmã, no entanto, disse-me que também queria jogar X em julho, quando entraria de férias. Ela acabaria por mudar de ideias e nem sequer jogar, mas eu aceitei começar o meu jogo um mês antes do previsto – na véspera do início do Europeu.
Isso acabou por me dar a ideia de seguir um tema nas alcunhas dos meus Pokémon, em X. Todos receberam nomes de jogadores da Seleção Nacional.
Eu sei. Isto é mesmo o cúmulo da Sofia.
Sem problemas com isso, porque acabou por ser uma das melhores ideias que tive. Tornou ainda mais especial a minha aventura por Kalos – que, por sinal, foi inspirada em França, mas só me apercebi da coincidência uns dias depois. Eu e a minha mini-Seleção à conquista de França à nossa maneira, tal como a Seleção de carne e osso.
O facto de, no fim, Portugal ter ganho o Europeu tornou tudo ainda melhor (o emblema que nós recebemos após vencermos a Liga é, aliás, muito parecido com o logótipo do Euro 2016). Aquela equipa tornou-se ainda mais especial por ter sido a que usei durante o primeiro campeonato de seleções que ganhámos – um dos períodos mais felizes da minha vida. Por serem uma espécie de avatares dos jogadores que nos deram o nosso primeiro título.
Foi um jogo divertido ir adicionando Pokémon à minha equipa e tentando descobrir, de entre os 23 Convocados, quem melhor se encaixava. Começando pelo meu starter, o Chespin: um Pokémon muito defensivo, que ganha o tipo Luta quando evolui.
Ora, tendo em conta que o Bruno Alves era defesa e fizera isto na semana anterior, não foi difícil decidir a alcunha.
O segundo membro da minha equipa foi um Fletchling, que evoluiria para Tallonflame. Chamei-lhe Renato Sanches, por vários motivos. Primeiro, porque é vermelho e baseado numa ave de rapina – embora se pareça mais com um falcão do que com a águia, que serve de mascote ao Benfica, onde Renato se formou. Segundo, durante a sexta geração, o Tallonflame era um dos Pokémon mais populares no modo competitivo – ao mesmo tempo, nos meses anteriores ao Europeu, surgiu um hype como nunca tinha visto em torno do Renato. Foi uma coisa parva – eu mesma acabei por me deixar levar, porque o miúdo até correspondeu durante o Euro 2016.
Curiosamente, a popularidade do Renato e do Tallonflame começou a decair mais ou menos na mesma altura: alguns meses após o Europeu. O Tallonflame, porque a habilidade Gale Wings foi nerfada (este termo irrita-me um bocado) na sétima geração. O Renato, porque foi aquecer bancos para o Bayern de Munique e nunca mais conseguiu voltar ao nível de antes.
Ao usar um Tallonflame, acabei por me aperceber de outras semelhanças com o Renato. Os dois melhores stats do Tallonflame são o Attack e, sobretudo, o Speed. Caracteriza-se assim por ataques rápidos e letais – tais como famosas arrancadas do Renato, uma das quais dando-nos na vitória perante a Croácia.
Ao mesmo tempo, o grande problema do Tallonflame é a sua defesa – ou melhor, a falta dela. O Tallonflame tem mesmo de se valer dos seus ataques rápidos e letais, porque não consegue aguentar mais do que dois ou três golpes. De maneira similar, o Renato ainda cometia vários erros defensivos comprometedores – por falta de experiência, sobretudo.
Não consigo mesmo pensar num Pokémon que melhor represente o Renato.
Também usei um Dedenne. Chamei-lhe Raphael Guerreiro, porque ambos têm ar inofensivo. O Dedenne é literalmente um ratinho fofinho (podiam era ter-lhe dado umas cores diferentes, para que não parecesse tanto um Raichu em miniatura). O Raphael é baixinho e tem cara de miúdo. Mas ambos são bem mais fortes do que parecem. O meu Dedenne é, pelo menos. E o Raphael tem um talento incrível, conquistou-me logo nos seus primeiros jogos pela Seleção.
Para os restantes membros da minha equipa, as comparações são um tudo nada mais forçadas. O Nani, por exemplo, não tem muitas semelhanças com um Vaporeon, tirando o facto de ambos estarem entre os meus favoritos há muitos anos.
Da mesma maneira, só chamei Quaresma à minha Meowstic porque uma das alcunhas de Ricardo Quaresma é Harry Potter. E como o tipo Psíquico sempre foi o mais associado a magia, sobretudo antes de introduzirem o tipo Fada… Como era uma fêmea, usei só o apelido do jogador.
Por fim, chamei Rui Patrício ao meu Absol. Afinal de contas, tal como este Pokémon aparece sempre antes de acontecer uma coisa má, quando um guarda-redes aparece muito em jogo, é mau sinal. Além disso, em ambos os casos, quando as desgraças acontecem, eles acabam por arcar com a culpa, muitas vezes. É mesmo possível que sejam mais recordados pelas tragédias que não conseguiram evitar, do que por aquelas que conseguiram.
Isso, felizmente, não acontece com Rui Patrício. Pelo contrário, ele possui literalmente uma das suas defesas imortalizada em estátua.
De qualquer forma, tal como expliquei antes, prefiro pensar no Absol como um guardião do que com um profeta de desgraças. E, acho que todos concordam, Rui Patrício encaixa-se bem nesse papel. (Pena é ninguém ter feito o mesmo por ele na semana passada...)
Existem uns quantos outros Pokémon, que estiveram perto de ser titulares na minha equipa, que também receberam nomes de jogadores da Seleção. Dos starters de Kanto, escolhi o Squirtle, mas só o mantive na minha equipa até evoluir para Wartortle. Não precisava de outro Pokémon fisicamente defensivo com o Chespin na equipa. Tal como o meu starter, o Squirtle também recebeu o nome de um central. Entre Pepe e José Fonte escolhi o segundo, por motivos óbvios.
Também apanhei um Honedge, a quem chamei William Carvalho. Por fim, tive um Ducklett a quem chamei… Éder.
Sim, isto aconteceu antes da final do Europeu. Usei esse nome precisamente porque Éder era o patinho feio da Seleção, mas eu tinha esperanças de que se transformasse num cisne durante o Euro – ele pelo menos dizia, meio a brincar meio a sério, que podia tornar-se o melhor marcador da prova.
Infelizmente, Fernando Santos deixou-o no banco durante a maior parte do Europeu. Eu fiz o mesmo com o “meu” Éder: deixei-o no PC, preferi usar um Vaporeon.
O Éder de carne e osso, no entanto, arranjou outra maneira de se transformar num cisne – e nenhum de nós alguma vez esquecerá essa transformação.
Depois da final, fiquei com pena de não ter dado titularidade ao meu Ducklett, confesso. No entanto, para compensar, treinei-lhe os E.V.s (tarefa bastante facilitada nesta geração) para poder, pelo menos, usá-lo na Battle Maison e afins.
Mas chega do meu sentimentalismo – por agora, pelo menos. Falemos dos jogos X&Y em si. Depois de uma quinta geração bastante arrojada e inovadora em termos de conteúdo e enredo, os jogos X&Y recuperam fórmulas antigas: rivais, oitos ginásios, equipa vilanesca com administradores e líderes, Elite 4, Campeão (ou melhor, Campeã), sem desvios.
Bem, quase.
Uma das poucas variações da fórmula, na verdade, diz respeito ao facto de termos um total de quatro rivais. A perspetiva de explorar uma região integrada num grupo de amigos até é agradável, não o nego – sobretudo durante a parte de defrontar a equipa vilanesca. No entanto, nenhum destes quatro é particularmente interessante.
A única de de gosto é de Shauna, que parece nutrir um fraquinho pelo protagonista, independentemente do género. Destaque para a famosa cena na varanda do Parfum Palace, com os fogos-de-artifício, em que no fim o mordomo nos oferece o TM para… o Protect.
É sempre giro ver a Game Freak piscando o olho aos fãs mais velhos.
No geral, prefiro que os criadores se limitem a um ou dois rivais, minimamente desenvolvidos e interessantes. Felizmente, tem sido essa a regra após X&Y.
O tema desta geração é “Beleza” e os jogos X&Y exploram bem esse conceito – começando pelas melhorias gráficas e pela capacidade, até esta altura inédita, de personalizarmos os nossos avatares. “Kalos”, o próprio nome da região, aliás, significa “beleza” em grego.
É de facto uma região lindíssima – pudera, é baseada em França. Estive lá de férias no ano passado e posso confirmar que os criadores capturaram bem o ambiente e o estilo arquitetónico. O Parfum Palace é provavelmente o maior exemplo. Apesar de ter sido baseado no Palácio de Versailles, que eu não cheguei a visitar, encontrei muitas semelhanças entre ele e os castelos que visitei: como o Chatêau de Chambord, o de Villandry (cujos jardins são muito parecidos aos do Parfum Palace) e o de Chinon.
Há quem acuse os produtores de se terem baseado apenas na perspetiva turística de França (outros dizem o mesmo sobre Alola, da sétima geração). Talvez seja por isso que os jogos possuem tantas referências à Idade Média, à nobreza e realeza, com várias personagens usando títulos nobiliárquicos e com a arrogância associada a sangue azul…
…isto apesar de a França ter sido dos primeiros países da Europa a implementar a República. Enfim.
X&Y aborda também o lado negro deste conceito, não apenas a parte glamourosa. Isto da beleza é tudo muito bonito, literalmente, mas é efémero: flores murcham, a chuva dá lugar ao sol, as pessoas envelhecem e morrem. Não surpreende, assim, que, numa sociedade tão centrada na beleza, surjam extremistas como Lysandre. Pessoas tão revoltadas com a efemeridade da beleza que fazem de tudo para preservá-la eternamente… ou para destruir todos aqueles que se considerem “feios”.
Consta que Lysandre, o líder dos Team Flare, a equipa vilanesca destes jogos, não foi sempre assim. Até costumava ser boa pessoa e ajudar os mais necessitados. No entanto, acabou por se cansar dos vícios da Humanidade e assim se tornou no misantrópico que conhecemos em X&Y.
É uma motivação como qualquer outra, mas existe por aí muito boa gente misantrópica que não se põe a destruir o mundo. Além disso, Lysandre chega a ser hipócrita, pois está disposto a sacrificar Pokémon inocentes, alegando que eles, de qualquer forma, estavam destinados a ser escravizados pelos humanos.
Deve ser, deve.
As motivações de Lysandre acabam por ser parecidas com as de Cyrus, na quarta geração, mas, a meu ver, fazem mais sentido no conceito de X&Y. Além disso, os paralelismos com Hitler e os nazis são um bocadinho óbvios – como se o termo “Holo Caster” nos deixasse duvidar...
Lysandre distingue-se de outros líderes vilanescos porque encontra-se bem integrado na sociedade de Kalos. Conforme vimos em Generations, ele é essencialmente o Steve Jobs da região, bom amigo de Diantha, a Campeã, e Sycamore, o Professor. Durante uma boa parte do jogo, Lysandre fala dos seus planos para “criar um mundo lindo”, tenta recrutar o protagonista para os seus planos, sem que uma sobrancelha se erga. Mas é um choque para o elenco (não necessariamente para a audiência) quando Lysandre anuncia as suas intenções via Holo Caster.
Agora que penso nisso, não sei se esse anúncio terá sido a decisão mais inteligente – é como se estivesse a pedir para ser travado. Ou o Steve Jobs lá do sítio não é assim tão inteligente ou temos uma falha no enredo (aposto mais na segunda).
Conforme referi quando escrevi sobre Generations a ascensão se Lysandre mostra o lado negro e corrupto da sociedade de Kalos. Eu gostava de ter visto mais reações a esta revelação – uma maior reflexão por parte de Sycamore, Diantha e outros membros da sociedade sobre os motivos pelos quais Lysandre ganhou tanto poder. Porque é que ninguém se apercebeu das suas verdadeiras intenções. Talvez chegassem à conclusão de que este é o lado negro de toda uma cultura centrada em algo tão efémero e relativo como beleza.
Este é um dos motivos pelos quais estes jogos precisavam de uma sequela. Ou, pelo menos, de uma versão melhorada.
Havemos de regressar a esta ideia... amanhã. Vamos também falar, entre outras coisas, das melhores personagens e histórias destes jogos, sobre coisas que não resultaram tão bem e, claro, sobre a música. Não percam!