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Álbum de Testamentos

"Como é possível alguém ter tanta palavra?" – Ivo dos Hybrid Theory PT

Simple Plan - Get Your Heart On! (2011)

 

A banda canadiana Simple Plan comemorou recentemente o décimo aniversário do lançamento do seu primeiro álbum “No Pads, No Helmets… Just Balls”. Já conheço a banda há alguns anos. Ainda me lembro de ouvir Welcome To My Life pela primeira vez em 2005 ou 2006, num anúncio de um automóvel cuja marca não recordo (alguém se lembra desse anúncio?). Músicas como essa, When I’m Gone, Crazy (nunca me esquecerei de quando o meu pai disse que esta música podia ser o hino do Partido Comunista…), Grow Up, já fazem parte da minha playlist há alguns anos. Finalmente, há alguns meses, ouvi a discografia da banda, excetuando o último álbum.
 
A sonoridade da banda é um pop punk rock que se tem mantido mais ou menos homogéneo ao longo da carreira deles. Na verdade, assemelha-se bastante ao som de Avril Lavigne (a minha cantora preferida. Um dia destes escreverei uma entrada só sobre ela). No outro dia, quando estávamos a ouvir o Get Your Heart On no carro, o meu pai perguntou-me se a Avril Lavigne tinha andado a tomar esteroides porque estava a cantar com voz de homem… Achei graça pois eu própria considero os Simple Plan como uma versão masculina da Avril, pelo menos nalguns aspetos: são canadianos, surgiram mais ou menos ao mesmo tempo (acho que chegaram a abrir alguns concertos para ela), têm sonoridade semelhante e abordam temas parecidos.
 
É precisamente sobre a temática das músicas dos Simple Plan que quero falar agora. Os primeiros dois álbuns são muito adolescentes. Há quem fale de Let Go - o primeiro álbum de Avril Lavigne - como um álbum adolescente, mas o No Pads, No Helmets… Just Balls e o Still Not Getting Any vão ainda mais longe no que toca a situações com que praticamente toda a gente lida nesta fase da vida: dúvidas existenciais, fases tipo ninguém-gosta-de-mim ou ninguém-me-compreende, vontade de fugir aos problemas, à rotina, solidão, desentendimentos com os pais, rebeldia, limitações à individualidade e, claro, amor: paixões, saudade, desgostos.
 
O terceiro álbum dos Simple Plan, lançado quando eles já eram mais velhos, não é tão adolescente mas as temáticas acabam por ser as mesmas, tirando apenas uns pozinhos aqui e ali. E o mais recente álbum deles, Get Your Heart On!, lançado em Junho do ano passado, acaba por ser mais do mesmo, nesse aspeto. Anywhere Else But Here recicla o conceito de músicas como Jump e Welcome To My Life. Músicas como You Suck At Love e Freaking Me Out recordam músicas como Addicted e Your Love is A Lie. Can’t Get My Hands Off You relembra I’d Do Anything e Promise. Last One Standing lembra Me Against The World. 
 
O pior é que, quando eles procuram inovar, a coisa não resulta. Falo de Summer Paradise, a faixa em que eles fazem um dueto com o K’naan.  Algo mais para o folk, mas que não tem muito a ver com os Simple Plan, na minha opinião. Ou então, sou eu que, pura e simplesmente, não gosto da música…

 

 

No entanto, este álbum não deixa de ter músicas interessantes. Começarei por Jet Lag, segundo singe, que foi a que conheci primeiro. Esta faixa foi gravada em dueto com Natasha Bedingfield. Também existe uma versão francesa com Marie-Mai. Jet Lag é capaz de ser a faixa mais contagiante que ouvi nos últimos tempos, muito animada, com uma melodia super cativante e letra engraçada, sobre quando o nosso amor se encontra noutro fuso horário. Adoro o verso “Tryin’ to figure out the time zone is making me crazy!”, antes do início do refrão: “You say Good Morning when it’s midnight…”.

 

 

O terceiro single é Astronaut, uma balada rock sobre solidão, que recorda I’m With You, de Avril Lavigne, mas que se torna única graças ao conceito do astronauta e das viagens espaciais (embora eu seja suspeita nessa matéria…).
 
Uma nota rápida só para dizer que Loser Of The Year, de letra e som clássicos dos Simple Plan, faz-me lembrar, no que toca ao seu conceito, dois temas de Bryan Adams: The Only Thing That Looks Good On Me Is You e All I Want Is You.

 

 

Outro destaque do álbum é a faixa Gone Too Soon. Esta é uma balada de luto, muito semelhante a Slipped Away - mais uma vez, de Avril Lavigne - no sentido em que também fala da morte de um ente querido que foi tão rápida, tão inesperada, que não houve tempo para despedidas. Só que, enquanto Slipped Away tem uma letra bastante simples, bastante crua, Gone Too Soon é bastante poética. Gosto imenso da imagem da estrela cadente e da estrela orientadora. Uma faixa linda e comovente.
 

 

Deixei para o fim aquela que, para mim, é a melhor faixa de Get Your Heart On, se não for a melhor de toda a discografia dos Simple Plan. Chama-se This Song Saved My Life e é uma autêntica carta de amor de um fã de música dirigida ao seu artista ou banda preferida. Fala da capacidade que a música, em geral, tem de servir de escape, de consolo, de fonte de força, em suma, fala de tudo o que a música tem de melhor. Para mim, recorda-me o efeito que a Avril Lavigne e a sua música têm tido na minha vida. Bem, não apenas ela, mas sobretudo ela. Para outra pessoa, pode recordar a música dos próprios Simple Plan, do Eminem, da Lady Gaga, do Justin Bieber… Dá-me a ideia que os Simple Plan copiaram frases de cartas que receberam dos fãs. Dá para destrinçar referências a músicas antigas deles : Perfect, Welcome To My Life, Shut Up… Talvez a ideia deles fosse homenagearem os seus fãs mas, no fim, conseguiram criar uma música única, linda, tocante, de mensagem universal. Recomendo-a vivamente.
 
Eu gostei deste álbum. Apesar de os Simple Plan terem repetido fórmulas, fizeram um bom álbum, com conteúdo, em vez de apenas um conjunto de faixas radiofónicas. É sempre de louvar o facto de não terem cedido ao sucesso fácil. Com Get Your Heart On, os Simple Plan fazem o que sempre têm feito ao longo desta última década: animam, dão voz à nossa raiva e rebeldia, comovem.  Em suma, consolidaram-se como uma das minhas bandas preferidas e não me arrependo de ter comprado o CD (que, por sinal, foi caríssimo…).

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