O cantautor canadiano Bryan Adams editou no inicio de outubro o seu álbum de covers, Tracks Of My Years. Da tracklist fazem parte vários temas clássicos dos anos 60 e 70, ou seja, lançados aquando da juventude de Bryan. Segundo o cantautor, estes temas, não sendo os favoritos dele na altura (ele era fã de hard rock, o seu visual na capa do álbum demonstra-o bem), eram aqueles que dominavam a rádio no período em que decidira que o seu futuro residia na música.
Pelas músicas escolhidas para as regravações e pela maneira como foram abordadas, Tracks Of My Years acaba por não diferir muito, quer em termos de temática quer em termos de sonoridade (com algumas exceções), de um típico álbum Bryan Adams, com músicas mais alegres alternando com baladas e o Amor como tema dominante.
Visto que, excetuando um caso (ou dois na versão Deluxe do CD), são versões de músicas alheias, não faz sentido analisar a letra e sonoridade música a música, como faria com outros álbuns. Ainda por cima, são temas clássicos do pop rock que, com uma única exceção, só conheci com este álbum. Não me sinto, portanto, com autoridade para analisar os originais nem determinar se as interpretações de Bryan lhes fazem justiça. Apenas posso dizer que, de uma maneira geral, tirando uma exceção ou outra, as músicas de Tracks of My Years são boas. Se o mérito parte das versões originais ou da produção para este álbum fica aberto a discussão.
Nas entrevistas de promoção a este álbum, Bryan revelou que, para gravar os covers, ia tocando as músicas em questão de maneiras diversas até considerá-las suficientemente diferentes das versões originais. Dá para perceber que, em várias faixas, não lhe foi demasiado difícil chegar a esse ponto. Em músicas como Anytime At All, Rock And Roll Music e C'mon Everybody, basta serem interpretadas à maneira contemporânea para ficarem já a "saber a novo". Anytime At All dos Beatles, por exemplo, até conserva, quase nota por nota, o solo de guitarra da versão original mas acaba por se assemelhar a Back to You (o próprio Bryan reconhece-o). Rock And Roll Music (original de Chuck Berry) e C'mon Everybody (original de Eddie Cochran) também recebem uma produção "moderna" mas conservam aquele não sei quê de... bem, rock 'n' roll dos anos 60 e 70. Por outro lado, visto que Down on the Corner, na versão original, tem aquilo que penso que é um coro de gospel (enfim, é parecido com o de Ain't it Fun), bastou a Bryan cantar normalmente para personalizar a música. Na mesma linha, a principal diferença entre a Lay Lady Lay de Bod Dylan e a "de" Bryan Adams é a última ser cantada uma oitava acima do tom original (segundo Bryan, se cantasse no tom "certo", soaria demasiado parecido com Dylan - e, para mim, seria difícil cantá-la.)
Aproveito para dizer que Lay Lady Lay é a minha preferida deste álbum. É possível que isso se deva ao facto de ser a única versão original que eu conhecia antes deste álbum. Mesmo assim, acho que acertaram na produção, Bryan foi capaz de conservar a vulnerabilidade e doçura da versão original. Mas, lá está, este registo é um território que Bryan conhece como ninguém.
Um território que ele talvez não conheça tão bem mas que não deixa de explorar neste álbum é o território dos blues. Em músicas como I Can't Stop Loving You e Kiss And Say Goodbye, Bryan não se distancia muito das versões originais, mas dá-lhes um twist algo roqueiro, com as notas de guitarra elétrica. Devo dizer que a sua icónica voz rouca é perfeitamente compatível com este género de música.
A voz de Bryan é, de resto, como o vinho do Porto: o tempo melhora-a. Este álbum é prova disso.
Julgo que o cover mais diferente do respetivo original é God Only Knows, dos Beach Boys. Recordo que esta é considerada uma das melhores músicas pop de todos os tempos, foi até recentemente homenageada pelas estrelas pop do momento. Ora, neste álbum, Bryan transformou aquilo que era uma triunfante e grandiosa música pop numa balada só com piano e ocasionais violinos. Esta sonoridade pode ser surpreendente, mas não deixa de ser compatível com a letra e melodia, revelando um lado diferente da música, mais vulnerável e misterioso. God Only Knows é outro ponto forte de Tracks of My Years e uma boa faixa de encerramento do álbum.
Na versão Deluxe, no entanto, o álbum não acaba aqui. Uma das cinco músicas extra não é um cover, é You've Been a Friend to Me, uma faixa que Bryan compôs para o filme Old Dogs/Duas Amas de Gravata, tendo sido lançada em finais de 2009.
Apesar de já passarem quase cinco anos desde o seu lançamento, a versão de You've Been a Friend to Me nunca tinha sido lançada em CD antes - tínhamos apenas a versão Bare Bones no respetivo álbum. Se a memória não me falha, segundo o que li na altura, a ideia inicial era incluírem Summer of '69 na banda sonora do filme - foi de Bryan que partiu a ideia de contribuir com uma música inédita. Aquando do lançamento, o cantautor admitiu que a composição fora influenciada por quase dois anos de concertos Bare Bones (embora, na altura, ainda não os designasse assim). Desse modo, You've Been a Friend to Me é uma faixa dominada pela guitarra acústica, com a bateria, o piano e a guitarra elétrica assumindo papéis secundários. A letra é simples, sobre amizade como seria de esperar. Lembra-me o tema da série Friends, I'll Be There For You - partilha, até, algumas características em termos de sonoridade. A versão editada em Tracks Of My Years tem algumas diferenças em relação à lançada em 2009 (a do vídeo acima). A maior (e que mais me desagrada) foi terem retirado os backvocals a seguir ao solo de guitarra.
Tirando esta música e Help Me Make it Throught the Night, a versão Deluxe na minha opinião não tem muito a acrescentar. Não gosto muito de Many Rivers to Cross, arrasta-se demasiado. Inicialmente não achava muita piada a C'mon Everybody - já gosto mais, mas continuo a achá-la redundante depois de Rock And Roll Music. E o cover de You Shook Me, de Led Zeppelin, não foi bem conseguido na minha opinião. Bryan afirmou ter sido fã de hard rock enquanto jovem, deu a entender ter vontade de fazer mais covers dentro deste estilo mas, se You Shook Me foi uma amostra, ainda bem que não o fez. Não me parece que seja a praia dele. Isso ou eu, pura e simplesmente, não gosto da música.
Tracks of My Years vale sobretudo pela nostalgia, pela homenagem aos clássicos. Não faz mais do que isso nem a isso aspira. O efeito nostálgico não funciona tanto em mim, já que as músicas não são do meu tempo - o próprio Bryan lamentou que alguns dos seus fãs mais jovens não reconhecessem as músicas, quando ele lhes colocou o CD a tocar - mas este álbum representa uma boa maneira de ficar a conhecer estes clássicos da música pop rock. Quem gosta deste CD são os meus pais (é raro eles gostarem da "minha" música). Quando ouviram o álbum pela primeira vez, o meu pai não demorou muito tempo a começar a cantarolar. Até parafraseou involuntariamente Bryan ao dizer que aquelas eram as músicas da sua juventude. Só isto faz com que este álbum tenha valido a pena.
Entretanto, já saiu a reedição de Reckless, com sete músicas novas. Para esse álbum farei uma crítica mais pormenorizada, em várias partes. Eu, aliás, já tenho em rascunho as análises às músicas que conhecia antes. Ainda não ouvi as músicas novas, tirando Play to Win e Reckless, que apareceram antes na Internet (só comprei o CD ontem). Para ser sincera, estou mais ansiosa pelo álbum de originais que Bryan tem vindo a prometer para o próximo ano. Pergunto-me, inclusivamente, se a produção de Tracks of My Years terá influência nesse disco - com os Within Temptation, pelo menos, a influência dos covers que lançaram em 2012 é notória em Hydra.
No fundo estes dois álbuns (Trakcs of My Years e a reedição de Reckless) representam uma visita ao passado, provavelmente abrindo caminho, preparando terreno para o álbum inédito que, em princípio, sairá em 2015. E eu fico satisfeita por Bryan estar de novo debaixo dos holofotes (até pela exposição de fotografia que inaugurou em Cascais, no mês passado). Por, numa altura em que o sucesso dos artistas musicais parece tão efémero, as pessoas continuarem a reconhecer o valor de Bryan - incluindo jovens como eu, nascidos ao mesmo tempo sensivelmente que (Everything I Do) I Do It For You, ou mesmo depois.
Mantenham-se ligados pois, como disse acima, em breve publicarei a crítica a Reckless. Não posso prometer uma data, mas vou tentar não me demorar.
O cantautor canadiano Bryan Adams lançou recentemente o primeiro single, que é também a única faixa inédita, do seu álbum de covers, Tracks of My Years. Lançou é como quem diz... a música foi estreada numa entrevista à rádio inglesa BBC mas ainda não a encontrei nem no iTunes, nem no YouTube nem em nenhum site minimamente oficial (o vídeo abaixo foi adicionado posteriormente à publicação desta entrada). Em todo o caso, o single chama-se She Knows Me e foi composto em parceria com Jim Vallance, parceiro de longa data de Bryan Adams - ajudou a lançar a sua carreira e esteve por detrás da conceção de muitos dos maiores êxitos do cantautor canadiano, em particular com o álbum Reckless, embora tenham estado zangados durante muitos anos.
"All I know without her in my life I'd be nowhere"
Para alguém minimamente familiarizado com o trabalho de Bryan, She Knows Me não traz grandes surpresas. É uma canção de amor, guiada por guitarra acústica, acompanhada por guitarras elétricas. Este arranjo particular traz-me ecos do último álbum de estúdio do cantautor canadiano, 11, sobretudo as canções I thought I'd seen everything, She's Got a Way e Miss America. Por outro lado, She Knows Me não tem aquilo que tem sido praticamente uma constante em músicas de Bryan Adams: um solo de guitarra. Contam-se pelos dedos de uma mão as músicas de que me consigo recordar em que não aparece a guitarra de Keith Scott, nem que se limitem a algumas notas - excepto aquelas que não têm versão de estúdio lançada, apenas versões ao vivo de concertos Bare Bones. Por outro lado, gosto muito da guitarra introdutória de She Knows Me.
A letra, por sua vez, possui semelhanças ainda mais gritantes com She's Got a Way, na medida em que se refere à amada, na terceira pessoa, como alguém que o conhece "melhor do que ele se conhece a si mesmo" - um tema que não é assim tão original, de resto. Não se limita a isso, felizmente, é apenas um aspeto de um relacionamento amadurecido, que tem resistido ao tempo, às dificuldades, mesmo aos momentos de separação - e é dado a entender que é mais por causa da amada do que por causa do sujeito narrativo. E apesar de toda a filosofia 18 'Til I Die do cantor, é o tipo de canção que se esperaria de alguém da idade dele.
Em suma, não sendo uma canção extraordinária, nem mesmo uma das minhas preferidas de Bryan (gostei mais de I thought I'd seen everything, por exemplo, quando esta foi lançada), ele não desilude em She Knows Me. Sinto-me um bocadinho hipócrita pois, se fosse outro cantor ou banda, criticaria mais duramente a gritante falta de originalidade e as semelhanças com outras faixas - e já cheguei a fazê-lo. Ando a usar vários pesos e várias medidas mas, tal como já disse antes, ainda não consegui definir critérios claros para estes aspetos. Com Bryan sou mais complacente pois ele tem uma carreira feita, recheada de sucessos, não tem nada a provar, pode dar-se ao luxo de fazer o que bem entender. Visto que, pelo menos no caso de She Knows Me, o fez bem, não se pode exigir mais nada.
De resto, o restante conteúdo do álbum, ou seja os covers, já devem fornecer novidade suficiente para compensar a falta dela em She Knows Me. A tracklist já saiu e inclui temas dos anos 50, 60 e 70, ou seja, que terão marcado a juventude do cantautor canadiano. Eu não conhecia nenhum dos temas, tirando Lay Lady Lay, de Bob Dylan, que estudei nas aulas de guitarra. Já tive tempo para ouvir algumas das músicas e, até agora, gostei de todas - são clássicos. Suponho que Bryan tenha tentado adaptá-las para o seu estilo soft rock. Ainda não sei muito bem como vou fazer a crítica a este álbum - talvez faça uma comparação entre cada cover e a respetiva versão original. O que dará trabalho, sobretudo porque, mais uma vez, deverá sair numa altura complicada para mim. Ainda não há data definida. O site da Amazon indica o dia 30 de setembro mas, ao que consta, o lançamento do CD físico deverá ser em datas diferentes consoante a localização. Mais uma vez, não prometo publicar a crítica logo no dia da edição, mas procurarei publicá-la assim que me for possível.
Entretanto, encontro-me já a trabalhar noutro texto, mais longo, que tentarei publicar ao longo da próxima semana.
Na entrevista em que apresentou She Knows Me, quando foi confrontado com tudo o que já tinha feito na sua carreira, Bryan confessou que, mesmo assim, não consegue parar. Quero assumir, então, que ele não tenciona reformar-se tão cedo, que continuará a lançar álbuns e a dar concertos durante mais alguns anos. Agora, com o lançamento de She Knows Me, começou um novo ciclo na sua carreira. E eu mal posso esperar pelo que vem a seguir, com destaque para o CD inédito.
Na semana passada, a banda californiana Linkin Park lançou, algo inesperadamente, o primeiro single do seu sexto álbum de estúdio, ainda sem título, de edição prevista para junho. A música chama-se Guilty All the Same e conta com a participação do rapper Rakim.
"You want to point your finger
But there's no one else to blame"
O que se destaca mais em Guilty All the Same (por algum motivo, ando a dizer na minha cabeça Guilty All the Way... enfim) é a sua sonoridade. Depois de dois álbuns com uma forte componente eletrónica, e em diametral oposição ao forte dubstep de A Light that Never Comes, o novo single dos Linkin Park tem um som rock muito pesado, cru, visceral, metaleiro - o mais parecido com isto que conheço são certas músicas dos Sum 41, em particular do seu último álbum. Guilty All the Same possui longas sequências instrumentais, incluindo uma introdução de minuto e meio. É dominada por guitarras elétricas, com destaque para a sequência de abertura e encerramento, que se torna a imagem de marca da música, e um riff que mimetiza a melodia. Possui, ainda, uma bateria que não se contenta com o papel hoje em dia reservado aos sintetizadores, que repetem o mesmo padrão de batida do princípio ao fim, com poucas variações. Ainda se ouve piano, primeiramente na já referida introdução de minuto e meio, imitando a sequência de marca da musica; é ouvido, depois disso, no apoio às estâncias.
Nesta música tão pesada, a melodia revela-se surpreendentemente cativante, em particular nas estâncias. Nada a apontar à interpretação de Chester Bennington, embora ele pudesse ter complementado a música com um dos seus icónicos gritos. Talvez receassem que a música ficasse demasiado pesada. No entanto, não me custa imaginar o Chester apimentando a interpretação ao vivo de Guilty All the Same dessa forma muito sua.
Sobre a letra, não há muito a dizer. Aborda um tema tipicamente Linkin Park, com críticas a pessoas que julgam que sabem tudo, que têm sempre razão, que encontram defeitos em tudo exceptuando elas mesmas. Não é particularmente original nem memorável, mas não é má. É definitivamente melhor que A Light that Never Comes. Eu até gosto da estrutura das estâncias.
A terceira parte da música, com o rap, é a de que gosto menos. Na minha opinião, falta energia à interpretação de Rakim, esta não condiz com o carácter da música. Bastava, pura e simplesmente, o tom subir uma oitava. Não sou capaz de compreender esta participação especial, tirando o facto de Mike Shinoda - o habitual rapper dos Linkin Park - ter afirmado ser grande fã de Rakim, mas eu penso que Mike faria melhor trabalho. A letra do rap traça críticas ao capitalismo, à indústria musical, mas, mais uma vez, nada de particularmente memorável ou fora do vulgar.
Segundo declarações de Chester e Mike, a sonoridade do álbum novo estará dentro deste estilo, que penso ser o mais pesado de sempre da banda, mais pesado ainda que os primeiros álbuns. Mike afirmou que queria "preencher um vazio" existente na rádio dos dias de hoje. Eu pergunto-me se a intenção dos Linkin Park será, realmente, ressuscitarem o estilo musical. A ser verdade, será de louvar, estarão a fazer um favor a inúmeras bandas de rock que não conseguem, ou não querem, adaptar-se ao eletro-pop da rádio atual. Esperemos é que sejam bem sucedidos, o que não está garantido. Uma coisa é agradarem aos fãs hardcore, que nunca alinharam muito no estilo dos últimos álbuns. Outra coisa é a reação do mundo da música geral a este estilo pouco radiofónico.
Intenções nobres à parte, visto que o álbum só sairá em junho, ou mesmo depois (espero não ter uma nova situação à Avril Lavigne, o álbum), talvez se lance um segundo single em finais de abril, inícios de maio. Talvez, à semelhança do que aconteceu em 2012, apresentem uma ou outra música inédita no concerto do Rock in Rio, a que vou assistir.
Guilty All the Same não teve, para mim, o mesmo impacto que Burn it Down teve quando saiu. Acho até que gosto mais de A Light that Never Comes, apesar de ser mais imperfeita - coisas incompreensíveis. O que não me impede de gostar muito de Guilty All the Same, de ansiar pelo resto do álbum. Quer-me parecer que, com os Linkin Park e Hydra, dos Within Temptation, 2014 será o ano do metal para mim. Vai ser engraçado.
Neste momento, encontro-me em estágio, pelo que tenho menos tempo aqui para o blogue. No entanto, vou tentar não deixá-lo ao abandono durante demasiado tempo. Não deixem de visitá-lo, de vez em quando.
Última parte da crítica a Hydra. Parte anterior aqui.
De acordo com a mitologia grega, a Hidra de Lerna era um monstro de múltiplas cabeças. Tal como o monstro de quem recebe o nome, o álbum Hydra, o sexto trabalho de estúdio dos Within Temptation, é multifacetado, equilibrando perfeitamente os elementos mais clássicos dos Within Temptation - alguns deles resgatados dos primeiros trabalhos da banda - com os elementos mais modernos e experimentais. Discos anteriores da banda, como The Silent Force, pecavam por terem sonoridade demasiado homogénea, repetitiva. Hydra é provavelmente o álbum mais diversificado da banda, sem, no entanto, deixar de ter consistência - um equilíbrio que é difícil de obter. A única coisa que tenho pena de não ter sido incluída em Hydra diz respeito aos elementos célticos. Enfim...
Outra característica que Hydra partilha com a criatura homónima é o facto de, visto que, quando uma das cabeças da Hidra era cortada, duas novas nasciam no seu lugar, esta era considerada invencível. De uma maneira análoga, este disco não tem fraquezas. É provavelmente o álbum mais sólido, mais homogéneo em termos de qualidade, que ouvi nos últimos anos. Tem músicas melhores do que outras, naturalmente, mas nenhuma delas se destaca gritantemente das demais, nem pela positiva nem pela negativa. Não há fillers, cada uma das músicas, das dez cabeças de Hydra, tem algo a oferecer, seja em termos de sonoridade ou em termos de história.
Reza, ainda, a lenda da Hidra que esta se escondia na noite permanente de uma caverna escura. Uma das poucas maneiras pela qual podia ser derrotada seria trazendo-a para a luz do dia, onde perderia os seus poderes. Segundo o mito, a Hidra simboliza demónios interiores, os vícios, os defeitos da Humanidade. Estes, se não forem combatidos, tornam-se imortais, continuam a crescer dentro dos homens, regenerando-se continuamente. Só poderão ser vencidos quando deixarem de ser ignorados, quando forem arrastados para a luz, quando forem enfrentados. A outra maneira de derrotar a Hidra é cauterizando os cotos das cabeças depois de cortadas - por analogia, é igualmente necessário recurar às origens dos traumas e defeitos humanos para que estes possam ser curados.
@SarahWT1 Why did we choose Hydra.. Confront your fears and embrace your demons, we’re Hydra #WThydra — Within Temptation (@WTofficial) January 14, 2014
Tudo isto vai em linha com a própria mensagem do álbum, revelada durante uma sessão de perguntas e respostas no Twitter (em que a Sharon respondeu a uma das minhas perguntas! High-five!): precisamente, reconhecer os próprios vícios e fraquezas, aceitá-los, saber transformá-los em forças. As músicas de Hydra falam de várias dessas dificuldades, dessas facetas sombrias, de como lidar com elas, de como vencê-las. Em linha com o que disse anteriormente, Whole World is Watching funciona como epílogo por se focar na mensagem geral do álbum, ao recordar os vários altos e baixos da vida, ao reforçar a necessidade de decidir quem verdadeiramente somos, de que fibra somos feitos, o que vamos fazer quando não houver fuga possível, quando tivermos de enfrentar a Hidra - o que quer que esta simbolize.
Nesse aspeto, no que toca ao conceito de Hydra, às histórias que as músicas contam, este álbum possui um grande potencial de me ajudar na escrita. Não esperava menos dos Within Temptation, de resto, já que esta é a característica que mais aprecio neles. Agora, gostava de, em breve, vê-los pela primeira vez em concerto. Até porque muitas músicas de Hydra têm potencial para darem excelentes momentos ao vivo.
Em termos musicais, 2014 começa, assim, da melhor maneira. Para além dos Within Temptation, uma das bandas que estará em destaque este ano será Linkin Park. A banda californiana já foi confirmada no Rock in Rio e eu, em princípio, vou. Comprei um daqueles bilhetes em promoção, no Continente, em que temos de escolher o dia até 31 de março. Estou a dar um compasso de espera, no pouco provável caso de os Within Temptation ou a Avril Lavigne serem igualmente confirmados - visto que, ao contrário dos Linkin Park, nunca vi estes ao vivo. Se, entretanto, alguns deles forem confirmados, escolho o dia deles. Não me perguntem, no entanto, o que farei caso os Paramore aparecerem no cartaz. O mais certo, contudo, é que eu marque para dia 30 e pronto. Não vou esperar até que o dia esgote.
Em todo o caso, com esta confirmação, podemos assumir, com um nível razoável de certeza, que eles editarão o sexto álbum de estúdio este ano. Nada sabemos sobre este trabalho, exceto que será pesado e sombrio. Depois de Living Things, as minhas expectativas estão altas para o seu sucessor. A ver se este consegue manter o nível, ou mesmo suplantá-lo. Em todo o caso, mesmo que esse álbum não chegue a ser editado ainda este ano, 2014 já se pode gabar de ter oferecido um disco de qualidade: Hydra, dos Within Temptation.
2014 começa muito bem, com o lançamento do sexto álbum de estúdio da banda holandesa Within Temptation, Hydra. Um disco bastante variado, com muitas participações especiais - todas elas desconhecidas até ao lançamento das músicas em questão - em que a banda não desilude.
Ao contrário do que fiz com críticas anteriores, desta feita não vou ordenar as faixas de acordo com a minha preferência. Isto porque, neste álbum, a qualidade é relativamente homogénea, não existe nenhuma de que não goste, todas têm os seus pontos fortes. Assim sendo, neste texto seguirei a ordem da tracklist oficial.
1) Let Us Burn
"I'll face all that is coming my way! Denying the devil of silence, Embracing the world on the edge..."
A faixa de abertura de Hydra não é propriamente desconhecida. Foi uma das que foi lançada sob a forma de demo com o single Paradise (What About Us), em setembro de 2013. Segundo o que a vocalista Sharon Den Adel disse em entrevista recente, foi a primeira a ser composta para este álbum servindo, assim, de modelo para as faixas seguintes. Das três demos, Let Us Burn foi a menos alterada, logo, não existem grandes surpresas na versão final. As poucas alterações, no entanto, foram bem conseguidas, na minha opinião. Começando pela introdução, que a adequa à abertura do disco. Foram, também, adicionados vocais de Sharon à parte inicial e aqui e ali, ao longo da faixa. Este género de vocais é um denominador comum à larga maioria das músicas de Hydra e pergunto-me se não terá sido influência da participação de Tarja em Paradise.
Outro denominador comum à maioria das músicas de Hydra é o facto de, em várias musicas, como esta, repetirem várias vezes o verso que dá o título à faixa. É um vício que herdam da rádio atual e que, por vezes, se torna cansativo e passa por falta de imaginação.
Em todo o caso, fiquei satisfeita por terem retirado os efeitos à voz de Sharon na terceira estância, bem como do coro no fundo, aumentando o dramatismo desse segmento da faixa.
A letra de Let Us Burn não é propriamente original, existem melhores neste álbum - já toda a gente sabe que o fogo pode simbolizar revolta, os Jogos da Fome são um bom exemplo disso. No entanto, cumpre o seu papel, condiz com o dramatismo da música. Em suma, não sendo das mais marcantes de Hyrda, Let Us Burn abre bem o álbum. 2) Dangerous
"We're going on, no we'll never stop We're going on 'till worlds collide"
Dangerous já havia sido lançada como segundo single de Hydra, no final do ano passado. Com a participação de Howard Jones, é provavelmente a faixa mais "moderna" do álbum, com o seu ritmo absurdamente rápido, pedindo headbangs. A participação de Howard enriquece a música, dá-lhe mais tensão. Gosto particularmente da terceira estância, em que o ritmo abranda ligeiramente, fazendo-me pensar num momento de êxtase provocado pela adrenalina. A letra fala, precisamente, da apetência por liberdade, experiências fortes, por viver nos limites, esticar a corda o mais possível - um tema que recorda The Unforgiving.
Se a música em si não desiludiu, o mesmo não se pode dizer no videoclipe. Penso que a banda perdeu aqui uma oportunidade para criar algo memorável. Em vez disso, há uma gritante falta de coesão entre as cenas patrocinadas pela Red Bull - mais adequadas a um estilo musical mais leve, menos dramático - e as da atuação da banda, que até estão bem conseguidas. As cenas em que Howard aparece também não encaixam - ele recorda-me demasiado o Timbaland, não um vocalista de heavy metal. Um tiro falhado sem que, contudo, impeça de apreciar a música.
3) And We Run
"Don't blink, you'll miss it Lift up your head We gotta get gone Yeah, we outta here"
Esta será, certamente, a faixa que mais opiniões divide em Hydra. Mesmo eu demorei algum tempo a formar uma opinião. And We Run - que, segundo o que Sharon deu a entender numa entrevista recente, será single de Hydra - começa só com piano, a que se vão juntando acordes de guitarra e, depois, a bateria, num crescendo de tensão até ao refrão. Na segunda parte deste, ouve-se um crescendo de bateria, que se assemelha estranhamente a dubstep - será de propósito? - culminando nos primeiros versos de rap de Xzibit. Sim, rap. Quem diria que os Within Temptation incluiriam rap numa música?
Como seria previsível, esta participação do rapper Xzibit gera controvérsia entre os fãs e não só, mas eu gosto. Talvez por ser fã de Linkin Park - Mike Shinoda seria, igualmente, uma boa escolha para And We Run. A letra, que fala de demónios interiores, cicatrizes por sarar, desejo de fugir, acaba por ter, também, um tema muito Linkin Park. Na minha opinião, combina surpreendentemente bem com o resto da música, dando um elemento original àquilo que seria um típico tema dos Within Temptation. A única coisa que eu, eventualmente, acrescentaria seria uma segunda estância, cantada por Sharon, deixando o rap para a terceira parte da música. Admito, no entanto, que tal tornasse a faixa demasiado comprida - e Hydra já tem a sua quota-parte de faixas com cinco ou seis minutos de duração.