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Álbum de Testamentos

"Como é possível alguém ter tanta palavra?" – Ivo dos Hybrid Theory PT

A história turbulenta da banda que vai abrir a Eras Tour em Portugal #3

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Terceira parte da história dos Paramore. Podem ler as partes anteriores aqui e aqui.

 

Mesmo com as desistências de Josh e Zac Farro, Hayley, Taylor e Jeremy eventualmente decidiram continuar com a banda – e o mundo susteve a respiração para saber como sobreviveriam os Paramore sem dois dos seus membros fundadores. O tal concerto no Optimus Alive decorreu cerca de seis meses depois da bomba. Lembro-me de estar sentada no chão da plateia, no meio de muitas pernas, conversando com uma fã mais experiente do que eu – penso que terá sido entre as atuações dos Kaiser Chiefs e dos Paramore. Ela explicou-me que Josh fora o principal parceiro de Hayley na composição – e não sabia se Taylor conseguiria desempenhar esse papel.

 

Enquanto escrevia o parágrafo acima, fiquei com umas estranhas saudades dessa rapariga, cujo nome não recordo, e dos outros fãs de Paramore que conheci nesse festival. Gostava de falar com eles sobre tudo o que aconteceu com a banda depois de 2011 (e aconteceu muita coisa, esta procissão ainda vai no adro). Será que não gostaram do rumo que os Paramore tomaram nos álbuns seguintes e deixaram de segui-los? Ou será que concordam comigo que, no fim, a banda deu a volta por cima?

 

Fechemos este parêntesis. Com menos dois membros, a banda foi obrigada a reinventar-se. Os três foram mesmo viver para Los Angeles, quando Nashville se tornou um local hostil para a banda por causa desta confusão toda. Taylor foi, então, promovido a co-compositor principal e de início tentou replicar o estilo de Josh. 

 

Isso funcionou, mais ou menos, com o Singles Club: quatro músicas lançadas ao longo de 2011, como forma de a banda provar que conseguiam funcionar sem Josh e Zac, que ainda tinham algo a dizer. 

 

Destas quatro, a única que não adoro é Monster. Gosto muito de Renegade e de Hello Cold World. Mas a mais importante, diria eu, é In the Mourning, na qual os membros dos Paramore fazem o luto pelas partidas dos antigos colegas.

 

Quando chegou a altura de prepararem o álbum seguinte, no entanto, a coisa ficou mais complicada. Tanto porque Taylor não era Josh, mas também porque, de início, Hayley tentou ao máximo não escrever sobre os irmãos Farro – o que lhe provocou um bloqueio criativo. 

 

 

O segundo problema resolveu-se de uma maneira fora do convencional: a banda compôs três musiquinhas com o ukulele, que serviram de veículo para deitar cá para fora aquilo que precisavam de deitar cá para fora. Essas músicas acabaram por ser incluídas no alinhamento final do álbum como interlúdios – este ficaria incompleto sem elas.

 

Por outro lado, depois de Hayley ter rejeitado, da forma mais simpática que conseguiu – as ideias de Taylor-tentando-compôr-como-Josh, Taylor mostrou-lhe outras ideias que ele criara para si mesmo, sem intenção de transformá-las em material para os Paramore. Uma delas, por exemplo, foi uma sequência de notas de marimba. Ora, foi dessas ideias que Hayley gostou – essas notas de marimba acabaram por dar origem a Ain’t It Fun, um dos maiores êxitos da banda (mais sobre isso já a seguir). 

 

O quarto álbum representou, assim, uma espécie de reboot para os Paramore, uma reintrodução. Precisamente por isso deram-lhe o nome da própria banda. Por norma aqui no blogue chamo-lhe Self-Titled, que é o nome que os fãs anglo-saxónicos usam, para o distinguir de outros álbuns homónimos. 

 

É o álbum mais longo dos Paramore até ao momento, o mais heterogéneo em termos de sonoridade. As velhas influências emo/pop punk, sim, mas também elementos pop, funk, sintetizadores, new wave – estes últimos em particular seriam ainda mais explorados no álbum seguinte – e os tais interlúdios no ukulele. Músicas tão diferentes umas das outras em termos instrumentais como Grow Up, Daydreaming, Ain’t it Fun, Part II, Last Hope, Hate to See Your Heart Break, (One of those) Crazy Girls.

 

Em termos de letra, o Self-Titled explora temas de crescimento, resiliência, esperança, vitória. Celebra o facto de os Paramore terem sobrevivido à turbulência dos anos anteriores. É o meu álbum preferido deles – ainda que o seguinte, After Laughter, ande a ameaçar essa posição nos últimos anos, 

 

Várias músicas dignas de destaque neste álbum. Uma delas é Last Hope – não só a minha preferida da banda, mas também uma das minhas músicas preferidas de todos os tempos. Também é bastante popular entre os fãs dos Paramore. Adoraria que eles a cantassem na Luz, mas não é single, é pouco provável. 

 

 

Outra música especial neste álbum é Hate to See Your Heart Break. Daquelas que foi ganhando novos significados com o tempo. Hayley escreveu a letra para Taylor, que terá passado por um período difícil algures durante os trabalhos do Self-Titled. 

 

Havemos de falar mais à frente sobre os problemas de saúde mental de Hayley, mas Taylor também tem tido a sua dose. Ele, no entanto, é mais reservado do que Hayley. A ideia que tenho é que os dois foram ficando mais próximos depois de Zac e Josh terem desistido da banda. E, anos depois de Hate to See Your Heart Break ter sido composta, quando foi Hayley a passar por um mau bocado, a mensagem passou a ser de Taylor para ela. 

 

Um dos grandes êxitos deste álbum foi Still Into You. Uma música bastante diferente daquilo que os Paramore haviam criado até ao momento: bastante pop, muito alegre, de tal forma que Hayley chegou a perguntar a Taylor se lhe era permitido. A letra fala de um amor que tem resistido a tudo.

 

À semelhança de The Only Exception, Hayley inspirou-se no seu relacionamento com Chad. Quando isso colapsou, no entanto, a letra de Still Into You passou a ser “oficialmente” sobre a relação de Hayley com os Paramore. A letra encaixa-se surpreendentemente bem.

 

O que diz muito sobre Hayley, na verdade.

 

O maior êxito do álbum no entanto foi, como referi acima, Ain’t it Fun. Uma música que mistura vários géneros musicais: pop, rock, funk (o baixo nesta música é fantástico) e um coro gospel na terceira parte. A letra é daquelas universais sobre as dificuldades de entrar na idade adulta e ganhar independência – so what are you gonna do when the world don’t orbit around you?

 

 

E aparentemente é necessário dizê-lo: o refrão é irónico. Nada disto é divertido na verdade.

 

Ain’t It Fun valeu aos Paramore o seu primeiro Grammy, para melhor música rock, no início de 2015. Curiosamente, ambos os Taylors na vida de Hayley – Swift e York – deram-lhe a notícia ao mesmo tempo, por mensagem. Não sei se consideraria Ain’t it Fun uma música puramente rock – tem demasiados elementos de outros géneros – mas merece todos os prémios. É fantástica.

 

Vou cantar e dançar tanto quando eles a tocarem na Luz.

 

O ciclo do Self-Titled foi comprido, terminou em 2015, mais de dois anos depois do lançamento do álbum. Anos mais tarde, Hayley admitiria que foi demasiado longo, não souberam quando parar (aqui entre nós, tenho medo que Taylor Swift venha a ter esse problema).  O burnout poderá ter contribuído para o que se passou depois. 

 

Eis um sumário do que aconteceu nestes dois anos. Hayley voltou a emprestar a voz para uma canção pop – desta feita, Stay the Night, de Zedd. Não foi um sucesso tão grande como Airplanes, mas gosto mais desta. No final de 2013, nasceu a filha de Jeremy. Em 2014, Hayley adotou Alf, um cãozinho, mistura de poodle e de golden retriever . No fim desse ano, os Paramore lançaram uma edição deluxe do Self-Titled. Foi também nessa altura que Hayley ficou noiva de Chad.

 

No fim desse ciclo, em 2015, a batata quente explodiu. 

 

 

Não sei qual dos eventos ocorreu primeiro, mas um deles foi a desistência de Jeremy. Tenho de confessar: na altura em que Zac e Josh saíram, eu tinha acabado de me tornar fã, não me afetou muito. Este afetou. Já seguia os Paramore há uns anos, afeiçoara-me aos seus membros, vira-os ao vivo. E a banda passara toda a era anterior garantindo ao mundo que estavam mais fortes do que nunca, depois do que acontecera com Zac e Josh. 

 

Uns meses mais tarde, Jeremy e a banda envolveram-se numa disputa legal pelos créditos de composição. Ainda não tenho cem por cento de certezas sobre quem tem razão neste conflito. Na altura em que isto se passou, tenho de confessar, até eu comecei a questionar o papel de Hayley nesta história. Eu gostava dela, respeitava-a – ainda o faço – em grande parte porque parece partilhar muitos dos meus valores. Mas se os Paramore estavam constantemente a perder peças, será que o problema era ela?

 

Em retrospetiva, Jeremy sempre pareceu ter sempre um pé dentro e outro fora. Como vimos antes, ele desistiu durante os trabalhos de All We Know is Falling. Mais tarde, durante os trabalhos de Riot!, segundo a carta de Josh, foi despedido temporariamente por causa da sua “ética de trabalho” e por “participar em coisas com as quais o resto da banda não concordava”. E agora, em 2015, deixa os Paramore para, ao que parece, não mais voltar.

 

A ideia que a maior parte dos fãs parece ter é que Jeremy se encosta ao trabalho dos colegas e queria, com este processo, garantir um cheque até ao fim da vida. Não sei se o conseguiu – ele e a banda chegaram a acordo em 2017, mas não divulgaram o resultado. 

 

E a verdade é que, à semelhança do que aconteceu com Josh, o tempo apagou quaisquer saudades que muitos de nós pudéssemos ter. Cinco anos depois da sua partida, Jeremy lançou-se como “rapper” – uso aspas porque, do pouco que ouvi, aquilo é mesmo muito mau. Foi uma das muitas coisas bizarras que aconteceram em 2020.

 

E a gracinha acabou por ter o pior resultado possível para Jeremy: ninguém quis saber. Teria sido uma coisa se o seu “trabalho” como Jerm Beats tivesse viralizado e sido ridicularizado por toda a gente – pela lógica de “não existe má publicidade”. Mas a maior parte do mundo ignorou-o. Acredito mesmo que a maior parte dos fãs dos Paramore nem faz ideia do que aconteceu ao antigo baixista. 

 

 

Adiantando-me um pouco, mesmo o álbum seguinte da banda, After Laughter, acaba por não falar muito sobre a partida de Jeremy. Só mesmo Tell Me How. Os próprios Paramore têm feito questão de apagá-lo da história da banda – ao ponto de, por exemplo, substituírem a capa do Self-Titled, em finais de 2022. 

 

Não que eu concorde com isso. Não por ter pena de Jeremy, mais pelo princípio da coisa: não se pode mudar o passado. 

 

Tenho algumas saudades do Pressure flip e tenho pena de não ver a filha dele a crescer. Tirando isso, não faz falta. E, tal como a Josh (talvez ainda mais), não lhe perdoo por quase ter destruído os Paramore e pelo efeito que as ações dele tiveram nos antigos colegas, sobretudo Hayley. 

 

Até porque foi mais ou menos na mesma altura que Hayley teve uma crise no seu relacionamento com Chad, levando-a a adiar o casamento. Ela nunca confirmou preto no branco o que aconteceu ao certo na altura, mas terá havido traição da parte dele. Não terá sido a primeira vez, provavelmente não foi a última, mas, segundo consta, terá sido com uma amiga de Hayley.

 

Com tudo isto, Hayley entrou em depressão (ainda que só tenha sido devidamente diagnosticada muito mais tarde) e assim se manteve durante um par de anos. Houve uma altura em que deixou de comer, emagreceu imenso, deixou mesmo de ter menstruação. Teve ideação suicida, só não foi para a frente porque sabia que Alf, o cãozinho dela, ficaria à espera dela, não saberia porque é que a dona não voltou para casa. 

 

Como alguém que também é dona de um patudo – ou melhor de uma patuda – compreendo e só de escrever isto fico com um nó na garganta. Por outro lado, vindo para o presente, Hayley acabou de perder um amigo, um menino de treze anos (!!!), para o suicídio. 

 

 

Aproveito a ocasião para recordar que o mundo precisa de vocês. Se suspeitam que alguém perto de vocês está com dificuldades, perguntem-lhe se precisam de ajuda. Se estão com dificuldades, por favor, peçam ajuda. Existem recursos para isso: aqui, caso estejam a ler em Portugal, aqui, caso estejam a ler no Brasil.

 

Regressando aos Paramore e aos finais de 2015, inícios de 2016, Hayley foi para a frente com o casamento à mesma – um erro gigantesco por vários motivos. Anos mais tarde, Hayley admitiria que o fez contra os seus próprios instintos, que uma parte de si sabia que o casamento estava destinado ao fracasso. Mas terá sentido que tinha mesmo de se casar, de fazer tudo para que a relação resultasse – senão, teria magoado outra mulher para nada.

 

Uma vez mais, falo melhor sobre a questão no meu texto sobre Petals For Armor

 

Pelo meio, Hayley desistiu em segredo dos Paramore. Lá está, estava farta da novela, farta das críticas, farta de duvidar de si mesma e da sua capacidade de manter a sua banda, a sua família, junta. Ao mesmo tempo, já não se sentia capaz de ser a ideia que o público tinha da Hayley Williams, a vocalista dos Paramore – daí ter pintado o cabelo de loiro platinado nesta altura, abandonando o icónico laranja.

 

Mais tarde, Hayley daria a entender que Chad a terá pressionado no sentido da desistência. Vindo de outra pessoa, eu até admitiria boas intenções: se a banda causava tanto sofrimento, para quê insistir? Mas é bem possível que Chad apenas quisesse isolar a noiva/esposa dos demais, mantê-la sob controlo.

 

Quem verdadeiramente ajudou Hayley foi Taylor. Este deu liberdade a Hayley para escolher, sem pressão, garantindo-lhe que a apoiaria sempre. E eventualmente Hayley decidiu continuar nos Paramore e ambos começaram a trabalhar no quinto álbum da banda.

 

 

Vou contar-vos um segredo, caros leitores: Taylor York é a pessoa mais importante dos Paramore. Quem achar que a pessoa mais importante é Hayley está redondamente enganado. Hayley é a cara da banda, a porta-voz e, sim, a primeira pessoa em quem toda a gente pensa quando se fala dos Paramore. Mas Taylor está por detrás da larga maioria dos instrumentais, sobretudo no quarto e quinto álbuns (o sexto, mais recente, foi muito mais colaborativo) – definindo o carácter da música. Hayley “apenas” cria as melodias e as letras de modo a condizem.

 

Mas, ainda mais importante do que isso, Taylor foi o único que nunca abdicou dos Paramore de livre vontade – só se juntou em 2007 porque não o deixaram juntar-se mais cedo. E nas múltiplas crises que se seguiram, não abandonou o barco, fez exatamente o correto para que a banda sobrevivesse. Adiantando-me um pouco na história, esteve por detrás do regresso de Zac. Soube quando estava na altura de fazer uma pausa, uns anos depois. E encorajou Hayley quando esta quis criar música fora da banda.

 

Nem sempre terá sido fácil para ele. Como vimos antes, ele também tem tido problemas com a sua saúde mental. Devemos-lhe muito. Sem ele, não haveria Paramore.

 

Mas não lho digam na cara, que ele detesta elogios. Vejam o discurso que Hayley lhe fez em 2016, no vídeo acima – Taylor merece cada palavra mas o moço, coitado, parece estar com vontade de se enfiar num buraco.

 

Estes foram uns anos difíceis para a banda e para Hayley, mas também aconteceram coisas boas. Uma delas foi o lançamento de Good Dye Young. Outra foi, então, o regresso de Zac Farro.

 

Zac tinha passado uns anos na Nova Zelândia e regressara a Nashville havia pouco tempo. Ele e Taylor reencontraram-se e retomaram a amizade – nesta altura, Hayley manteve-se afastada, deixando-os à vontade. Um par de meses depois, Taylor convidou-o para tocar bateria no álbum novo, sem quaisquer outras expectativas.

 

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Lembro-me vagamente dessa altura, em 2016, de ver Zac e Hayley loira nas fotos e vídeos que iam aparecendo nas internetes. Zac confirmou publicamente que estava apenas a tocar bateria no novo álbum dos Paramore, nada mais.

 

Mas estávamos todos a fazer figas.

 

E as nossas esperanças foram confirmadas no início de 2017. Os Paramore anunciaram oficialmente o regresso de Zac – com uma t-shirt. As minhas memórias desse evento são vagas. Recordo-me de uma sensação de irrealidade. Como disse acima, Zac deixara os Paramore na altura em que comecei “oficialmente” a seguir a banda. E tínhamos passado as eras anteriores tentando lidar com a partida dele.

 

Mas depressa me habituei.

 

Como referi antes, Zac não se arrepende de ter deixado a banda quando deixou. Durante esses anos sem Paramore, aprendeu fotografia, realização, criou um projeto lateral, Half-Noise – projeto esse que tem mantido em paralelo com os Paramore, ao ponto de tocar músicas dele em concertos. Acho que isso é um fator importante para a saúde da banda nos últimos anos. 

 

Mais sobre isso adiante.

 

 

Recuemos um bocadinho. Como disse acima, Hayley estava deprimida durante os trabalhos do quinto álbum. A música que Taylor andava a criar, no entanto, era muito alegre: vagamente tropical, com influências do synth pop/new wave dos anos 80. Hayley de início teve dificuldades – lá está, a sua disposição não condizia de todo.

 

– Por amor de Deus, manda-me música triste! – terá dito Hayley a certa altura.

 

Eventualmente Hayley começou a escrever letras tristes sobre melodias e instrumentais alegres. Essa dissonância tornou-se o carácter, mesmo o próprio conceito de After Laughter. Reflete um dos temas do álbum: positividade tóxica, como se diz hoje em dia, as dificuldades em manter uma cara alegre, em esconder a própria infelicidade. À primeira parece música feliz, estival – só quando prestamos atenção é que descobrimos a verdade. Da mesma maneira como muitos de nós parecem felizes, ter tudo sob controlo, mas muitas vezes basta raspar a superfície para descobrir que é tudo fachada.

 

Um pouco como Taylor Swift e I Can Do It With A Broken Heart, na verdade.

 

Aliás, After Laughter coincidiu com o início da mudança de atitude em relação a questões de saúde mental. Diriam mesmo que contribuiu para isso. Hayley ainda assim ia tentando evitar o uso do termo “depressão”, em parte porque ainda não tinha sido diagnosticada como deve ser, em parte para evitar sensacionalismos.

 

Como disse acima, After Laughter é o meu segundo álbum preferido dos Paramore, não muito longe do primeiro. Como tem sido a regra com a discografia da banda, o álbum espalhou essa fase da minha vida – uma fase menos feliz. 

 

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After Laughter saiu na véspera da final do Festival da Canção desse ano, quando o Salvador ganhou. O último capítulo do estado de graça que o nosso país atravessava na altura – que começara com a nossa vitória no Euro 2016. O verão desse ano foi difícil, tanto a nível individual como coletivo. Foi o verão da tragédia de Pedrógão Grande, tive alguns problemas pessoais, Chester Bennington, o vocalista da minha outra banda preferida, morreu por suicídio. Outra coisa a contribuir para a mudança de mentalidades no que toca a psicologia, mas que eu dispensava – custou imenso, ainda hoje custa.

 

A música de After Laughter refletia bem o meu estado de espírito durante grande parte da segunda metade de 2017. A vida acabou por melhorar mais tarde mas, claro, houveram outros períodos difíceis nos anos que se seguiram, que só tornaram After Laughter ainda mais relevante. Sobretudo durante a pandemia – Rose Colored Boy adequa-se que nem ginjas à cena do “Vamos todos ficar bem”. Tantas vezes cantei “Hearts are breaking, COVID’s raging on…”.

 

O que me leva às músicas. Os singles Hard Times e Rose Colored Boy são óbvios destaques. Caught in the Middle parece-me ser uma das preferidas de Hayley – sobre a sua depressão e tendência para a auto-destruição. Por outro lado, sugiro a outros fãs de Taylor Swift que peguem na letra de Idle Worship e a comparem com as letras de Castles Crumbling e Dear Reader.

 

Por sua vez, Pool é uma das preferidas dos fãs. Uma música bem estival, uma canção de amor com um lado sombrio. A narradora admitindo que o interesse romântico a magoa, a faz sofrer, mas ela continua a voltar para ele. 

 

Na música, pelo menos. Na vida real, foi nesta altura, quando o álbum estava para sair, que Hayley pediu o divórcio a Chad. O público só o soube um par de meses depois. Na altura, como ainda não conhecia os pormenores sórdidos, fiquei triste. 

 

Hoje digo que já foi tarde – que nunca devia ter começado sequer. 

 

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Os primeiros meses da era After Laughter não terão, assim, sido fáceis para Hayley. No rescaldo do divórcio, andou a beber em excesso para medicar a depressão e – um dos detalhes que mais me choca – chegou a viver numa casa com uma infestação de morcegos. 


Mas a sua saúde mental acabou por melhorar. Muito graças ao apoio de Zac, Taylor, dos membros da banda de apoio e resto da equipa – Hayley referiu várias conversas honestas que teve com eles. Em 2018, de acordo com um artigo que escreveu na altura, recuperou o seu riso antigo.

 

E para já ficamos por aqui. A próxima parte será a final. Os próximos capítulos serão mais leves e felizes, mas ainda terão as suas lições e desafios. Não percam! Obrigada pela vossa visita.

Paramore - After Laughter (2017) #2

Segunda parte da análise a After Laughter. Primeira parte aqui.

 

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Existem algumas canções em After Laughter que fogem à norma do falsamente alegre. Uma delas é Forgiveness – que terá sido a primeira a ser composta para este álbum. Esta faixa é conduzida por notas suaves de guitarra, acompanhada por baixo e uma bateria discreta.

 

Consta que a letra de Forgiveness foi inspirada numa crise na relação de Hayley com o seu, em breve, ex-marido. O que não surpreende. A letra descreve um cenário em que alguém pede perdão, mas a narradora está ainda demasiado magoada para concedê-lo.

 

Uma pessoa poderia interpretar esta letra como um retrocesso. Em vários momentos ao longo do Self-Titled, Hayley parecia razoavelmente aberta ao perdão. Não tanto porque a(s) outra(s) pessoa(s) o merecessem, mais por uma questão de paz de espírito. É possível que seja assim para algumas situações, mas não para todas. Sobretudo se a ofensa em questão ainda está fresca na memória e/ou se a outra pessoa ainda não fez nada para merecer ser perdoada.

 

Por outro lado, podem existir casos em que “perdoar e esquecer” até seja benéfico para a pessoa ofendida. Dito isto, existem coisas que ninguém tem a obrigação de perdoar.

 

  

Desde Brand New Eyes, todos os trabalhos dos Paramore (incluindo o Singles Club) têm incluído uma balada acústica. After Laughter manteve essa tradição. Se dois desses números acústicos – Misguided Ghosts e Hate to See Your Heart Break – se juntassem e tivessem um filho, esse seria provavelmente 26. Para além da guitarra acústica, esta faixa possui ainda uma secção de violino lindíssima.

 

Em entrevista, Hayley revelou que escreveu a letra de 26 como uma carta para a versão mais jovem de si mesma. Eu diria, também, que esta letra representa um conflito entre o seu lado mais cínico e o seu lado mais sonhador. Os dois sempre se manifestaram na música dos Paramore (Careful e Brick By Boring Brick para o cinismo; Miracle e Daydreaming para o idealismo). Em 26, Hayley quer agarrar-se ao lado sonhador, idealista – embora sinta que a realidade a puxa para o cinismo.

 

Nem todas as canções em After Laughter são assim tão depressivas, felizmente. Uma delas é, por sinal, uma das minhas preferidas: Pool. Esta é a única canção de amor neste álbum. Em entrevista, Hayley referiu que não se sente muito à vontade no que toda a canções de amor, que provavelmente nunca criará uma música romântica propriamente dita, idílica, sem um senão, sem uma reserva. E agora, com a separação, duvido que tão depressa voltemos a ter canções de amor no reportório dos Paramore.

 

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Em linha com isso, Pool parece fazer referências à ansiedade de Hayley. A letra compara um relacionamento amoroso a um mar agitado ou a uma piscina sem fundo: mergulhar nele é algo arriscado, incerto, perigoso, mas irresistível. No fundo (no pun intended), a narradora está a aprender que, no amor, nem sempre poderá ter controlo total. Existirá sempre um grau de incerteza relativamente ao futuro.

 

Não que isso tenha resultado muito bem para a Hayley…

 

Pool tem, aliás, sido a minha canção de verão deste ano. Tanto graças à sua sonoridade new wave, à anos 90, que me dá uma certa nostalgia, bem como às várias referências aquáticas – algo de que sempre gostei, tal como referi num texto recente deste blogue.

 

A única canção verdadeiramente alegre em After Laughter é Grudges. Consta que Zac e Taylor colaboraram na composição do instrumental (que não difere muito do resto do álbum), o que motivou Hayley a escrever sobre o regresso do baterista à banda. A letra celebra, assim, o renascimento da amizade, deixando de lado o passado, os motivos da antiga zanga e a longa ausência. Os vocais de Zac na terceira parte da música foram bem sacados.

 

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Vou falar, agora, das músicas de que gosto menos em After Laughter. Caught in the Middle, para começar, deixa-me algo dividida. Não sou grande fã da parte musical – não sendo má, não é nada por aí além. O refrão, por sua vez, soa-me estranho, um bocadinho forçado.

 

Por outro lado, a letra de Caught in the Middle é aquela com a qual mais me identifico em todo o After Laughter. Há coisa de uns dois, três anos, estive numa situação semelhante à descrita nesta letra: incapaz de pensar no passado, nos sonhos que tinha, nas promessas que fizera a mim mesma, e que não tinham dado em nada; cheia de medo de pensar no futuro a médio/longo prazo. Ainda hoje, em dias maus, chego a regressar temporariamente a esse modo.

 

Felizmente, não era algo que interferisse assim tanto com a minha vida, que me impedisse de funcionar normalmente. O caso da Hayley terá sido bem mais grave – ao ponto de,como ela descreveu em entrevista, ter desistido temporariamente da banda, ter passado dias e dias a ver séries, sem sair da cama, ter tido mesmo um diagnóstico de depressão e ansiedade. Costuma-se dizer, de resto, que a depressão ocorre quando somos atormentados pelo passado e a ansiedade ocorre quando somos atormentados pelo futuro – mas isto, claro, é simplificar demasiado a questão.

 

Não posso deixar de falar daqueles que serão, de longe, os melhores versos neste álbum: “I don't need no help, I can sabotage me by myself”, cantados no melhor tom sarcástico de Hayley. Tenho vindo a perceber, nos últimos tempos, que também tenho uma tendência para me boicotar a mim mesma. Ando a tratar disso…

 

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Mas este álbum é a consulta no psicólogo da Hayley, não minha.

 

Tenho tido um relacionamento complicado com Idle Worship. Nesta música, encontramos uma Hayley cínica, amarga, mesmo enraivecida. Sob um instrumental mais sombrio que no resto do álbum, Hayley tece críticas à veneração que muitos fãs nutrem por ela.

 

Confesso que fiquei, um pouco, com as orelhas a arder. Já passei há muito a fase de ter ídolos absolutos. Dito isto, muitos de vocês já terão reparado que passo a vida a falar de Hayley como uma das minhas pessoas preferidas no mundo da música, a minha guia espiritual. Sobretudo graças ao marcante álbum Self-Titled.

 

Mas não posso dizer que Hayley esteja errada – que não seja um fardo ter tanta gente idolatrando-nos. Não me custa, aliás, imaginar uma Hayley deprimida sentindo-se a anos-luz da carismática vocalista dos Paramore, que dominava os palcos com a sua voz, a sua energia e o seu cabelo cor de chama.

 

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Este pode, até, ser outro dos motivos pelos quais ela desistiu dos Paramore por algum tempo – por não se sentir capaz de voltar a ser a Hayley que todos conhecemos e adoramos.

 

Por outro lado, Idle Worship serve para nos recordar que, só porque Hayley é uma cantora excelente e bem sucedida, isso não significa que não tenha problemas, falhas, como toda a gente. O seu iminente divórcio é um bom exemplo disso. Não é de todo razoável exigir que ela seja sempre um exemplo a seguir, que faça tudo bem, que não cometa erros.

 

Até porque Hayley sabe perfeitamente que, nos piores momentos da banda, toda a gente se volta contra ela. Já aconteceu antes. Várias vezes.

 

Devo dizer, no entanto, que Hayley não é uma das minhas pessoas preferidas no mundo da música por achar que ela é (ou deveria ser) sempre perfeita, carismática, glamourosa – essa criatura, se existisse, não teria nada a ver comigo. Ela é uma das minhas preferidas porque é humana, com falhas e dificuldades tal como todos nós – e porque transfere a sua humanidade para a sua música.

 

  

No Friend é uma música que demorei algum tempo a compreender. Quando a ouvi pela primeira vez, cheguei a pensar que era um glitch ou algo do género – com o seu riff de guitarra repetitivo e os vocais masculinos que mal se conseguem ouvir. Consta, então, que foi co-composta e interpretada por Aaron Weiss, dos MeWithoutYou (que Hayley refere como a sua banda preferida). Os Os registos originais no site da ASCAP indicam que esta foi composta como um outro para Idle Worship – e de facto notam-se algumas semelhanças no instrumental. A letra torna, além disso, a pegar no tema da veneração tóxica.

 

Muitos fãs têm estranhado a música, eu incluída. No entanto, está a acontecer comigo o mesmo o que aconteceu com Future, no Self-Titled: de início, também não gostava, mas acabei por compreender o seu propósito.

 

A minha teoria é que os membros oficiais dos Paramore, Hayley sobretudo, a certa altura, precisaram de exorcizar demónios no que diz respeito à história turbulenta da banda. Precisaram de alguém de fora que dissesse coisas que eles, provavelmente, sentem, mas que não têm coragem de dizer eles mesmos. E a letra escrita por Aaron Weiss acaba por fazer referências a vários temas da discografia dos Paramore. No Friend não é, de todo, uma das minhas canções preferidas em After Laughter, mas compreendo a sua inclusão no álbum.

 

Até porque, ao deitar toda a raiva cá para fora, abre-se caminho a Tell Me How: o momento mais vulnerável em After Laughter.

 

  

Tell Me How é conduzida por notas de piano, ao qual se juntam notas de guitarra e uma bateria discreta, tudo muito suave. Na mesma linha, os vocais de Hayley são graves, quase sussurrados, magoados.

 

Fora de contexto, poder-se-ia pensar que a letra se refere a uma separação amorosa. No entanto, para uma pessoa minimamente informada sobre a situação da banda ao longo dos últimos anos, fica claro que a letra sobre Jeremy. Hayley chora (mais uma) amizade que perdeu, as infinitas mudanças na banda, o eterno ciclo de destruição e reconstrução dos Paramore. Uma das frases que se destaca em Tell Me How é a que reza “Of all the weapons you fight with, your silence is the most violent”.

 

Suponho que esta seja a parte da Hayley que desistiu da banda durante algum tempo.

 

A ideia com que fico é que, em Tell Me How, Hayley se encontra numa encruzilhada. Não só sem saber se deve continuar nos Paramore ou não, mas também sem saber se deve continuar a debater-se com o passado, a tentar descobrir onde é que errou, ou se deve seguir com a sua vida.

 

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Gosto de pensar que Hayley escolheu a segunda opção, que é a isso que se referem os versos finais. Tell Me How (e o próprio álbum After Laughter) termina com Hayley dizendo “I can still believe” – uma nota de esperança encerrando um álbum bastante deprimente, na sua maioria.

 

After Laughter não é tão bom (ou melhor, não é tão arrebatador) como o Self-Titled, mas também não estava à espera que fosse. É, no entanto, tão intricado e introspetivo como são os álbuns anteriores. E as referências a problemas de saúde mental – ainda muito pouco falados e cheios de preconceitos – tornam-no ainda mais relevante.

 

Aquilo que mais impacto me tem causado, no que toca a After Laughter, é a mudança na mensagem relativamente ao Self-Titled. Tal como escrevi na altura, este último é um álbum de sobreviventes, de vencedores, um álbum otimista, confiante no futuro. Admito mesmo que esse espírito me contagiou, a certa altura na minha vida. Fez-me sentir igualmente confiante, otimista, convencida de que já sabia como a vida funcionava, qual era o meu lugar no mundo.

 

É óbvio, agora, que a realidade havia de nos atingir, mais cedo ou mais tarde. No caso da banda, isso veio na forma da desistência de Jeremy e talvez mesmo na separação de Hayley.

 

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Esse, de resto, é o tema de After Laughter: o momento em que a batata quente nos explode nas mãos sem que estivéssemos à espera. O momento após uma gargalhada em que regressamos ao mundo real.

 

O facto de a banda, ao que parece, ter deixado para trás os elementos emo/pop punk tem causado controvérsia entre os fãs e não só. Era de esperar. Pessoalmente, admito que terei algumas saudades das guitarras pesadas em Paramore. À parte isso, a mudança de estilo não me incomoda, porque as músicas são boas. Estão muito bem feitas, com vários elementos que não se notam à primeira audição, com boas letras. O rótulo que os demais queiram colocar neste estilo musical é irrelevante.

 

O regresso dos Paramore às luzes da ribalta, de resto, tem-me feito redescobrir – mais uma vez – a discografia deles. Em particular o primeiro, All We Know Is Falling. Estou a descobrir que a tensão, os conflitos, a instabilidade fazem parte do DNA dos Paramore. O seu primeiro álbum foi maioritariamente inspirado pela desistência de um membro, Jeremy (a primeira, apenas temporária). Músicas desse álbum, como a homónima All We Know, Pressure, Here We Go Again, Conspiracy continuam a aplicar-se bem à banda, sobretudo nos momentos mais turbulentos.

 

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Os Paramore bem podem dizer que, agora, estão mais fortes do que nunca e tal, mas eu já ouvi essa antes – e só os acompanho a sério desde finais de 2010! Fãs mais antigos já devem ter ouvido esta mais vezes. Estou cada vez mais convencida de que a banda nunca terá estabilidade. Poderá chegar o dia em que termine de vez – ou, pelo menos, em que entre num hiato prolongado.

 

Depois de ter escrito sobre Riot! há dois anos, planeava escrever sobre Brand New Eyes pouco tempo depois. Confesso que tencionava tecer duras críticas aos membros da banda, por terem dito que a criação daquele álbum tinha resolvido os conflitos dentro do grupo. O que claramente não era verdade – conforme provado pela saída de Josh e Zac.

 

No entanto, depois de Jeremy ter saído da banda, fiquei sem coragem para escrever sobre isso – porque teria de admitir que o Self-Titled, um dos álbuns da minha vida, era igualmente “mentiroso”.

 

Só agora, mais de um ano e meio após a partida de Jeremy, em que começo a aceitar a eterna instabilidade da banda, é que me sinto em condições de escrever sobre Brand New Eyes. Não será a curto prazo – talvez daqui a uns meses.

 

Já agora, um aparte sobre os meus planos imediatos para o blogue. Tenho ainda dois álbuns lançados recentemente sobre os quais quero escrever. Um deles é One More Light, dos Linkin Park (Alerta Spoiler: gostei mais do que estava à espera mas, mesmo assim, não por aí além). O outro é Melodrama, de Lorde (Alerta Spoiler: A miúda não desiludiu, de todo). Espero não me demorar muito tempo com estes textos.

 

Quanto aos Paramore, ainda que esteja algo cética relativamente ao futuro da banda, espero, no entanto, que os próximos tempos sejam mais felizes para a Hayley, o Zac e o Taylor.

 

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Paramore - After Laughter (2017) #1

 

No passado dia 12 de maio, os Paramore lançaram o seu quinto álbum de estúdio, intitulado After Laughter. Eu comecei a trabalhar na análise a esse disco no dia em que saiu, acreditem. Só que, entretanto, a Seleção Portuguesa entrou em ação e assim se manteve durante mais de um mês. Ou seja, quase todo o tempo de escrita que tive foi consumido pelo meu outro blogue.

 

Daí que esta análise só esteja a ser publicada agora.

 

A vantagem deste atraso é ter apanhado umas quantas entrevistas sobre o álbum, em particular a da revista Fader – que revela imenso sobre After Laughter e mesmo sobre a história de Hayley e dos Paramore como banda. Apanhei essas entrevistas… e a separação de Hayley e do seu marido.

 

Lá se vai uma das minhas canções de amor preferidas.

 

Como tenho muito a dizer sobre After Laughter, resolvi dividir esta análise em duas partes. O resto será publicado amanhã. Falemos, então, sobre o quinto álbum de estúdio dos Paramore.

 

 

Aquilo que salta à vista (ou melhor, à audição) ao ouvir After Laughter é a sonoridade – os elementos de pop punk são praticamente inexistentes. Temos guitarras elétricas, sim, mas usadas de maneira diferente – em vez de acordes pesados, temos notas mais soltas, misturadas com xilofones, teclados e sintetizadores. O resultado é um som tropical, com elementos de new wave e de pop dos anos 80. Uma pessoa pode ser levada a pensar que After Laughter é um disco leve, de verão.

 

Desde que não se ligue às letras.

 

Uma das características deste álbum é a sua consistência: o facto de as músicas serem parecidas umas com as outras, embora não ao ponto de se confundirem. O reverso da medalha é que, a partir de certa altura, as coisas tornam-se demasiado formulaicas. Falo, sobretudo, das terceiras estâncias – se forem a ver, numa boa parte das músicas, as terceiras estâncias consistem, apenas, em um ou dois versos repetidos inúmeras vezes (nalguns casos com variações mínimas). Ao fim de algum tempo, cansa.

 

Outro aspeto menos bom em After Laughter é o facto de os vocais de Hayley não impressionarem por aí além – pelo menos em comparação com álbuns anteriores. Existem, aliás, muitas ocasiões em que os vocais se reduzem a quase sussurros.

 

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Também é verdade que vocais muito agudos e/ou prolongados, estilo Now, Decode ou Misery Business, não se encaixariam muito bem neste tipo de música. Além disso, há que recordar que Hayley estava a debater-se com depressão aquando das gravações de After Laughter – é bem possível que ela não tivesse vontade de elevar a voz. Por outro lado, visto que muitas destas músicas foram precisamente inspiradas pela depressão de Hayley, os vocais baixos adequam-se, sobretudo nos momentos de maior vulnerabilidade.

 

O que nos leva às letras das canções. Todos os álbuns dos Paramore, à exceção de Riot!, têm-se inspirado numa qualquer crise atravessada pela banda – porque, conforme comentámos extensivamente antes, a banda está sempre a atravessar uma crise ou tentando recuperar-se após uma crise. After Laughter não é exceção – até porque é o primeiro álbum que a banda edita após a saída do baixista Jeremy Davies. A inspiração, no entanto, não é assim tão direta na maior parte das músicas – só no sentido em que a crise nos Paramore poderá ter despoletado a depressão e ansiedade de Hayley.

 

O álbum After Laughter tem, aliás, sido elogiado precisamente por se focar em diferentes aspetos da vida de alguém que lida com um qualquer problema de saúde mental (eu ainda tenho algumas dificuldades em dizer, pura e simplesmente, doença mental por causa de todo o estigma associado), seja uma depressão, uma crise de ansiedade. Ou então, que esteja apenas a passar por… bem, tempos difíceis.

 

Por exemplo, Told You So fala sobre profetas da desgraça, que em vez de ajudarem, ainda mais enterram a pessoa. Rose-Colored Boy, ao invés, fala sobre pessoas que não sabem de todo o que acontece numa depressão, que acham que tudo se resolve com sorrisos e “pensamento positivo”. Forgiveness fala, precisamente, sobre as dificuldades em “perdoar e esquecer”. Caught in the Middle fala sobre desorientação. 26 fala sobre cinismo e sonhos desfeitos. Tell Me How revela vulnerabilidades.

 

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Isto pode ser um bocadinho esticado, mas, na minha opinião, em After Laughter existe uma canção para cada fase do luto. Hard Times representa a negação ou, pelo menos, o choque. No Friend e, talvez, Iddle Worship representam a raiva. 26 simboliza a negociação. Por sua vez, Tell Me How representa a parte da depressão e existem ainda algumas pistas, perto do fim da faixa, que apontam para uma eventual aceitação. Hayley referiu, em entrevista, que ainda não tinha ultrapassado por completo certas coisas de que fala em After Laughter – nesse aspeto, não é de surpreender que não haja uma única música para aceitação.

 

Falemos, agora, sobre as músicas em si. Hard Times (sobre a qual já falámos antes) é a primeira na tracklist e foi o primeiro single. Quando escrevi sobre ela, critiquei a letra por trazer pouco de novo no que toca aos Paramore. No entanto, agora que conhecemos o resto do álbum, faz sentido que esta seja/tenha sido a primeira canção que ouvimos em After Laughter: uma vez que apresenta o tema e estrutura da maior parte das faixas do álbum e faz uma ligação com os trabalhos anteriores.

 

Confesso, por outro lado, que nesta fase ando um bocadinho farta de Hard Times – a maior parte das outras canções em After Laughter são melhores, tanto em termos de letra como da musicalidade.

 

Uma das minhas preferidas neste álbum é Rose-Colored Boy. Calculo que seja uma das mais pop neste álbum e onde mais se notam as influências dos anos 80 – eu, pelo menos, vejo algumas semelhanças com a clássica Girls Just Want to Have Fun. As primeiras notas dão logo a ideia de uma festa numa praia tropical – sensação reforçada pelos vocais, estilo meninas de claque “Low key! No pressure! Just hang with me and my weather!”.

 

 

É claro que a última coisa em que a letra nos faz pensar é em festas. Rose-Colored Boy fala sobre aquelas pessoas irritantes, que insistem em ver o lado positivo em tudo. Ou que acham que as pessoas só caem em depressões porque têm pena de si próprias e que, se fizessem um esforço, curavam-se (acreditem, há muitos a pensar assim). Alguns fãs especulam sobre a identidade do tal Rose-Colored Boy: há quem diga que é o Taylor (pouco provável, na minha opinião), há quem diga que é Chad Gilbert, o, em breve, ex-marido de Hayley. Eu, no entanto, acredito que Hayley se terá cruzado com inúmeros Rose-Colored Boys e Girls aquando da sua depressão.

 

Pessoalmente, nunca fui uma pessoa pessimista ou cínica, nem faço questão de o ser. Prefiro sentir-me alegre em vez de me sentir triste e encarar a vida com esperança e otimismo. Mas a verdade é que o otimismo e o “pensamento positivo” só ajudam até certo ponto – quando estes implicam a repressão de sentimentos negativos, como a raiva ou a tristeza, são mesmo prejudiciais. E, conforme aprendemos com o filme Inside Out/Divertida-mente (vi-o pela primeira vez há bem pouco tempo e ando obececada com ele), a tristeza é saudável. A pressão para reprimir a infelicidade, para estar sempre feliz, otimista, sorrindo com os dentes todos, é precisamente aquilo que leva uma pessoa à depressão.

 

O que nos leva a Fake Happy (que, ao que parece, será o próximo single de After Laughter).

 

  

Esta música possui uma introduçãozinha acústica, com vocais graves, resumindo a mensagem da canção. Depois, soam os teclados. Os vocais de Hayley soam saltitantes, irresistíveis – sobretudo no pré-refrão. O refrão em si é tão cativante como os das melhores músicas dos Paramore.

 

Fake Happy fala, assim, sobre a dificuldade em manter as aparências quando nos sentimos infelizes – e, ao mesmo tempo, sobre a futilidade dessas aparências quando, na verdade, todos fingem ser mais felizes do que realmente são. Uma mensagem relevante nos dias que correm, em que as pessoas procuram vender a sua vida como perfeita nas redes sociais. Consta, até, que os americanos são particularmente obcecados pela ideia de felicidade e pensamento positivo.

 

Eu acho curioso porque Portugal tem uma cultura oposta. Conforme referido neste artigo da BBC, no nosso país, há uma cultura de tristeza – com o fado e os poemas de Camões, que achava que a sua vida era a “mais desgraçada que jamais se viu”. Os portugueses gostam de ser infelizes. Não é costume as pessoas fingirem ser felizes por cá, pelo menos não no contacto pessoa a pessoa (as redes sociais são uma história diferente).

 

Aliás, só ao longo do último ano, com a vitória da Seleção no Euro 2016, a vitória de Salvador Sobral no Festival da Canção, a popularidade de Portugal lá por fora, entre outras coisas, é que nos temos atrevido a ser um pouco mais felizes.

 

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Nunca fui fã desta cultura de tristeza. No entanto, reconheço que pode ser saudável, sobretudo num contexto de uma depressão ou de outra doença psiquiátrica semelhante.

 

Agora que penso nisso, se os Paramore fossem portugueses, não teriam criado um álbum falsamente alegre, como After Laughter. Teriam cantado fado (a versão portuguesa da cultura emo).

 

Mas estou a desviar-me.

 

Só para concluir, referir que, na minha opinião, Fake Happy funcionaria bem como título alternativo a este álbum: com as suas músicas com instrumentais e melodias alegres, mas com letras deprimentes. Tenho visto muitas pessoas deixando-se enganar.

 

  

Told You So – a segunda canção de After Laughter que conhecemos – acaba por funcionar como a antítese de Rose-Colored Boy. Desta feita, lidamos com os Velhos do Restelo, aquelas pessoas que parecem sentir um gozo especial quando as suas previsões pessimistas se concretizam, ou ao verem uma pessoa que invejam passando por um mau bocado. Esta sim é uma realidade bem portuguesa. Em Told You So, Hayley procura agarrar-se a uns resíduos de esperança e otimismo – algo que se torna quase impossível, com pessoas como as que acabo de descrever.

 

Gosto imenso da sonoridade de Told You So. Os riffs de guitarra e o xilofone do Taylor são excelentes, sobretudo no refrão, casando bem com os vocais, mais uma vez, ritmados e saltitantes de Hayley. Devo dizer, no entanto, que, à semelhança do que aconteceu com Hard Times, a letra de Told You So está uns furos abaixo do nível habitual dos Paramore. É demasiado curta e simplista, sobretudo a repetitiva terceira estância.

 

Por outro lado, não é fácil cantar “Throw me into the fire, throw me in, pull me out again" muitas vezes de seguida, como Hayley faz. Eu, pelo menos, troco-me toda.

 

Visto que Hard Times e Told You So saíram antes do resto do álbum, cheguei a temer que todas as letras em After Laughter fossem assim – mais fraquinhas que o habitual. Não foi o que aconteceu, felizmente, tal como já vimos e ainda vamos ver a seguir.

 

  

Queria falar, ainda, sobre o videoclipe de Told You So – que foi realizado pelo baterista da banda, Zac. Nele, começamos por ver Hayley vestida de preto, numa casa escura – uma metáfora para a depressão, quase de certeza. Os rapazes – Zac e Taylor – acabam por vir buscá-la, num carro antigo. As sombras não desaparecem completamente, mas pelo menos agora Hayley não está sozinha.

 

A banda revelou em entrevista, pouco após o lançamento do vídeo, que, aquando das gravações de After Laughter, os três costumavam viajar juntos no carro de Zac. Nessas alturas, a ansiedade de Hayley dava tréguas. Zac percebia mesmo que ela se sentia mais calma, mais aliviada, durante essas viagens. O carro dele era um porto seguro.

 

Acho amoroso que Zac tenha querido homenagear isso no videoclipe. Os Paramore podem ser uma banda de estabilidade precária, mas são coisas como estas que me ajudam a ter esperança no futuro deles.

 

É com esta nota positiva que nos despedimos por hoje. Regressamos amanhã com a segunda parte da análise a After Laughter.

 

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Músicas Não Tão Ao Calhas - Hard Times

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Em janeiro de 2013, estreava aqui no blogue a rubrica Músicas Não Tão Ao Calhas. Nela, escrevo sobre músicas inéditas que os meus artistas preferidos vão lançando – na maior parte das vezes singles antes de álbuns, mas não só. A minha primeira entrada de Músicas Não Tão Ao Calhas foi sobre Now, o primeiro single do quarto álbum dos Paramore – aquele que ficou conhecido por The Self-Titled. Hoje, mais de quatro anos depois, volto a escrever sobre o primeiro single de um álbum dos Paramore – é um ciclo que se fecha.

 

Infelizmente, este ciclo nem sempre foi fácil para a banda. O início até nem foi mau. O Self-Titled é um álbum excelente, mudou por completo a maneira como encaro a vida. Graças a Deus, teve o devido reconhecimento em termos comerciais: foi platina e teve dois singles de sucesso: Still into You e Ain’t it Fun. A segunda ganhou um merecidíssimo Grammy. O ciclo desse álbum durou até meados de 2015, terminando com a digressão Writing the Future.

 

No entanto, em finais de 2015, a banda anunciou a partida do baixista Jeremy Davis. Desde essa altura, os Paramore têm passado por… bem, tempos difíceis.

 

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Ainda não tive oportunidade para escrever sobre a desistência de Jeremy. Custou-me, para ser sincera, ainda me custa. Nos primeiros tempos, ainda pensei/esperei que tivesse sido uma “rescisão” amigável, que ele tivesse partido porque tem uma filha e não pode andar em digressão.

 

Essa ilusão não durou muito. Meses depois surgiram notícias de que Jeremy e a banda estavam envolvidos numa disputa judicial, alegadamente devido a honorários da música e dos concertos. Como o processo ainda está em decurso, ainda não foi divulgada oficialmente a razão da partida de Jeremy. A ideia com que fico – e posso estar errada – é que, no centro disto tudo, está aquele três vezes maldito contrato celebrado, algures em 2005, entre a Atlantic Records e Hayley Williams, excluindo os restantes membros da banda. O mesmo contrato que já tinha sido um dos motivos para a partida dos irmãos Farro, em finais de 2010.

 

Toda esta história dá-me vontade de bater com a cabeça numa parede. Aquando do Self-Titled, a ideia que os Paramore davam era de que a banda tinha resolvido os seus problemas, aprendido com os erros cometidos. O trio estava mais forte, mais unido do que nunca, capaz de sobreviver a tudo. Eu acreditei nisso. Talvez os próprios membros da banda acreditassem nisso.

 

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Mas a verdade é que não devia ter ficado surpreendida. A banda nunca teve estabilidade – desde a ausência de Jeremy das gravações de All We Know Is Falling, passando pela saída dos irmãos Farro, e agora isto. A verdade é que Hayley tem sido a única constante em Paramore (ainda que Taylor só não se tenha juntado oficialmente à banda até depois do lançamento de Riot! porque os seus pais não deixaram). Por um lado, toda a gente sabe que Hayley podia, desde o início, optado por uma carreira a solo. Se não o fez até agora é porque, obviamente, não o quer. Por outro lado, para os membros estarem sempre a entrar e a sair, alguma coisa não está bem.

 

Não quero pensar que Hayley seja o problema. Ela parece ser uma miúda simpática, com valores parecidos com os meus – aliás, é atualmente uma das minhas pessoas preferidas no mundo da música. Mas como não a conheço pessoalmente, não dá para ter a certeza.

 

Nestas alturas, a música Pressure, do primeiro álbum, faz mais sentido do que nunca.

 

 

Em defesa deles, os membros da banda parecem tão frustrados com esta história toda como eu. Ainda mais, já que esta é a vida deles. Hayley tem referido várias vezes que pensou em desistir. Disse que os Paramore parecem mais uma novela do que uma banda, que estava farta de perder amigos e de se questionar sobre o que estava a fazer de errado. Considerou várias alternativas: dedicar-se à sua linha de tintas para o cabelo, ter uma família (ela casou-se no ano passado), compôr para outras pessoas, começar um projeto diferente com Taylor.

 

Terá sido este último a salvar os Paramore, segundo Hayley. Taylor disse-lhe que a apoiaria independentemente da decisão que ela tomasse relativamente à banda. Isso aliviou a pressão sobre Hayley – que, no meio desta história toda, chegou a debater-se com depressão e ansiedade. Assim, os dois foram compondo música a pouco e pouco.

 

Entretanto, Taylor chamou Zac, o mais novo dos irmãos Farro, para tocar bateria no álbum novo. Inicialmente, veio apenas como músico contratado. Ao fim de algum tempo, Taylor convidou Zac para regressar oficialmente à banda. Ele disse que sim.

 

Toda a gente ficou feliz, como seria de esperar. Em primeiro lugar, Zac é um ótimo baterista e sentiu-se a falta dele em certos momentos do Self-Titled. A música dos Paramore fica a ganhar. Além disso, eu mesma referi, há pouco mais de dois anos, que tinha esperanças de que, um dia, os irmãos Farro regressassem. Cinquenta por cento desse desejo já se realizou.

 

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Mas fica um amargo de boca por Jeremy já lá não estar.

 

Os membros da banda chegaram mesmo a dizer que já não sabem muito bem por que os Paramore continuam a ser uma banda. Nesta altura, deve ser só por nós, os fãs – porque eles sabem que a música deles é uma das coisas que nos ajuda a sobreviver. Eu, apesar de tudo, fico grata por isso. E, agora, teremos um álbum novinho em folha daqui a menos de duas semanas.

 

Suponho que haja uma qualquer metáfora para a vida no meio desta história toda. Talvez seja assim que as coisas funcionem: uma batalha sem fim, com perdas e ganhos, cometendo os mesmos erros, sempre a desfazermo-nos e a reconstruirmo-nos outra vez, sempre a aprendermos. Uma pessoa vai continuando, às vezes só por causa daqueles que ama, às vezes só porque… qual é a alternativa?

 

 

Gonna make you wonder why you even try

 

Com isto tudo, vamos quase em mil palavras e ainda nem sequer falámos de Hard Times. Mas eu tinha de escrever sobre as aventuras e desventuras dos Paramore nestes últimos anos porque, na minha opinião, a letra da música fala sobre elas. As estâncias falam claramente sobre depressão, com referências a um buraco onde nos enfiar até os nossos problemas terem desaparecido e a uma nuvem negra que nos segue para todo o lado. No refrão, questiona-se mesmo como é que se consegue aguentar tudo isto e continuar.

 

Na verdade, a letra de Hard Times não me impressiona por aí além. Não me interpretem mal, não a acho má. É, aliás, melhor que muito do que se ouve por aí. No entanto, cai muito nos clichés habituais de Paramore. Por exemplo, o primeiro verso (“All that I want is to wake up fine”) remete para Last Hope – “Every night I try my best to dream tomorrow makes it better”. “Tell me that I’m alright” recorda-me Tell Me It’s Okay. Os versos “And I’m gonna get to rock bottom!” e “We’ll kick it when I hit the ground” fazem lembrar Turn It Off: “I’m better off when I hit the bottom”. Eu podia continuar. Não há nada na letra de Hard Times que não tenhamos ouvido antes, o que é uma pena.

 

Isso, de resto, é a única falha que tenho a apontar a Hard Times – e nem sequer a acho grave no primeiro single de um álbum novo. A letra pode não trazer nada de novo, mas o mesmo não se passa com o acompanhamento musical. Depois de músicas como Grow Up, Still into You e Ain’t it Fun, Hard Times parece lógica como o passo seguinte. À semelhança de Ain’t it Fun, Hard Times começa com notas de xilofone, que são rapidamente substituídas por notas de guitarra – são estas as responsáveis pelo ritmo dançante da música. Ouvem-se também algo que se assemelha a tambores africanos, algo que se mantém durante toda a faixa. A bateria de Zac dá personalidade à música (sobretudo numa altura em que este instrumento está em vias de extinção). No refrão, noto elementos de Daft Punk - sensação que se reforça no fim da música, com os vocais distorcidos.

 

Não sei se o mesmo aconteceu com vocês, mas eu demorei algum tempo a decifrar esses vocais. Se não estou em erro, dizem “Makes you wonder why you even try” e “Still don’t know how I even survive”. Em suma, em termos musicais, à semelhança das melhores músicas do Self-Titled, Hard Times conjuga vários elementos de forma primorosa, podendo-se ouvir a contribuição de cada membro da banda. Eu gosto. Não estou propriamente caída de quatro, mas também não estava por Now quando esta foi lançada e, com o tempo, a música foi ganhando novos significados. Estou certa de que o mesmo acontecerá com Hard Times. Sobretudo quando puder ouvi-la no contexto do álbum. Para já, espero que não demore muito a chegar às rádios portuguesas.

 

 

O quinto álbum dos Paramore chama-se, então, After Laughter, e sai dia 12 de maio. Sim, daqui a menos de duas semanas. Confesso que fiquei estonteada com esse anúncio, ainda estou. Um dia, tínhamos a vaga ideia de que os Paramore estariam a trabalhar num álbum, algumas pistas como músicas registadas no site da ASCAP. No dia seguinte, temos nome, capa, tracklist, data de lançamento, primeiro single com videoclipe e pessoas que já ouviram o álbum (inveja!). Tendo em conta que os álbuns da Avril Lavigne têm sempre um parto longo e complicado (e o sexto álbum não está a ser exceção), esta é uma alternativa atordoante, mas muito mais agradável.

 

Segundo Hayley, o título After Laughter (a melhor tradução que me ocorre é “Pós-riso”) refere-se àquele momento após uma gargalhada em que regressamos à realidade. Dá para ver, assim, que este álbum vai ser animado… só que não. Quem já ouviu o álbum dá a entender que o resto será semelhante a Hard Times. Ou seja, os Paramore vão fazer o que fazem desde o início da sua carreira: queixar-se da vida. A diferença é que, enquanto antes, Paramore depressivo equivalia a guitarras pesadas e estética emo, agora equivale a música rítmica, falsamente alegre (o nome de uma das faixas novas é Fake Happy, por sinal), e tons pastel.

 

Gostava de chamar a atenção para o símbolo no centro da capa: as barras de néon que criam uma ilusão de ótica, de modo que não sabemos se são duas ou três. É obviamente uma variante do símbolo que a banda adotou em 2011, uma provável alusão à recente troca de membros. Eu, de qualquer forma, gosto imenso deste símbolo. Já encomendei, até, um dos conjuntos de merchandising da banda que inclui uma t-shirt preta com este símbolo, para além do álbum em CD (uma encomenda que, admito, foi para aí quarenta por cento impulso).

 

Havemos de falar mais sobre os Paramore quando analisar o resto de After Laughter. Ainda não decidi se analiso faixa por faixa, por ordem crescente de preferência, ou se analiso em texto corrido. Mas vou tentar publicá-la não muito depois do lançamento do álbum. Entretanto, vou ganhar vergonha na cara e ver se acabo e publico de vez a análise ao quarto filme de Digimon Adventure Tri.

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