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Álbum de Testamentos

"Como é possível alguém ter tanta palavra?" – Ivo dos Hybrid Theory PT

A história turbulenta da banda que vai abrir a Eras Tour em Portugal #3

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Terceira parte da história dos Paramore. Podem ler as partes anteriores aqui e aqui.

 

Mesmo com as desistências de Josh e Zac Farro, Hayley, Taylor e Jeremy eventualmente decidiram continuar com a banda – e o mundo susteve a respiração para saber como sobreviveriam os Paramore sem dois dos seus membros fundadores. O tal concerto no Optimus Alive decorreu cerca de seis meses depois da bomba. Lembro-me de estar sentada no chão da plateia, no meio de muitas pernas, conversando com uma fã mais experiente do que eu – penso que terá sido entre as atuações dos Kaiser Chiefs e dos Paramore. Ela explicou-me que Josh fora o principal parceiro de Hayley na composição – e não sabia se Taylor conseguiria desempenhar esse papel.

 

Enquanto escrevia o parágrafo acima, fiquei com umas estranhas saudades dessa rapariga, cujo nome não recordo, e dos outros fãs de Paramore que conheci nesse festival. Gostava de falar com eles sobre tudo o que aconteceu com a banda depois de 2011 (e aconteceu muita coisa, esta procissão ainda vai no adro). Será que não gostaram do rumo que os Paramore tomaram nos álbuns seguintes e deixaram de segui-los? Ou será que concordam comigo que, no fim, a banda deu a volta por cima?

 

Fechemos este parêntesis. Com menos dois membros, a banda foi obrigada a reinventar-se. Os três foram mesmo viver para Los Angeles, quando Nashville se tornou um local hostil para a banda por causa desta confusão toda. Taylor foi, então, promovido a co-compositor principal e de início tentou replicar o estilo de Josh. 

 

Isso funcionou, mais ou menos, com o Singles Club: quatro músicas lançadas ao longo de 2011, como forma de a banda provar que conseguiam funcionar sem Josh e Zac, que ainda tinham algo a dizer. 

 

Destas quatro, a única que não adoro é Monster. Gosto muito de Renegade e de Hello Cold World. Mas a mais importante, diria eu, é In the Mourning, na qual os membros dos Paramore fazem o luto pelas partidas dos antigos colegas.

 

Quando chegou a altura de prepararem o álbum seguinte, no entanto, a coisa ficou mais complicada. Tanto porque Taylor não era Josh, mas também porque, de início, Hayley tentou ao máximo não escrever sobre os irmãos Farro – o que lhe provocou um bloqueio criativo. 

 

 

O segundo problema resolveu-se de uma maneira fora do convencional: a banda compôs três musiquinhas com o ukulele, que serviram de veículo para deitar cá para fora aquilo que precisavam de deitar cá para fora. Essas músicas acabaram por ser incluídas no alinhamento final do álbum como interlúdios – este ficaria incompleto sem elas.

 

Por outro lado, depois de Hayley ter rejeitado, da forma mais simpática que conseguiu – as ideias de Taylor-tentando-compôr-como-Josh, Taylor mostrou-lhe outras ideias que ele criara para si mesmo, sem intenção de transformá-las em material para os Paramore. Uma delas, por exemplo, foi uma sequência de notas de marimba. Ora, foi dessas ideias que Hayley gostou – essas notas de marimba acabaram por dar origem a Ain’t It Fun, um dos maiores êxitos da banda (mais sobre isso já a seguir). 

 

O quarto álbum representou, assim, uma espécie de reboot para os Paramore, uma reintrodução. Precisamente por isso deram-lhe o nome da própria banda. Por norma aqui no blogue chamo-lhe Self-Titled, que é o nome que os fãs anglo-saxónicos usam, para o distinguir de outros álbuns homónimos. 

 

É o álbum mais longo dos Paramore até ao momento, o mais heterogéneo em termos de sonoridade. As velhas influências emo/pop punk, sim, mas também elementos pop, funk, sintetizadores, new wave – estes últimos em particular seriam ainda mais explorados no álbum seguinte – e os tais interlúdios no ukulele. Músicas tão diferentes umas das outras em termos instrumentais como Grow Up, Daydreaming, Ain’t it Fun, Part II, Last Hope, Hate to See Your Heart Break, (One of those) Crazy Girls.

 

Em termos de letra, o Self-Titled explora temas de crescimento, resiliência, esperança, vitória. Celebra o facto de os Paramore terem sobrevivido à turbulência dos anos anteriores. É o meu álbum preferido deles – ainda que o seguinte, After Laughter, ande a ameaçar essa posição nos últimos anos, 

 

Várias músicas dignas de destaque neste álbum. Uma delas é Last Hope – não só a minha preferida da banda, mas também uma das minhas músicas preferidas de todos os tempos. Também é bastante popular entre os fãs dos Paramore. Adoraria que eles a cantassem na Luz, mas não é single, é pouco provável. 

 

 

Outra música especial neste álbum é Hate to See Your Heart Break. Daquelas que foi ganhando novos significados com o tempo. Hayley escreveu a letra para Taylor, que terá passado por um período difícil algures durante os trabalhos do Self-Titled. 

 

Havemos de falar mais à frente sobre os problemas de saúde mental de Hayley, mas Taylor também tem tido a sua dose. Ele, no entanto, é mais reservado do que Hayley. A ideia que tenho é que os dois foram ficando mais próximos depois de Zac e Josh terem desistido da banda. E, anos depois de Hate to See Your Heart Break ter sido composta, quando foi Hayley a passar por um mau bocado, a mensagem passou a ser de Taylor para ela. 

 

Um dos grandes êxitos deste álbum foi Still Into You. Uma música bastante diferente daquilo que os Paramore haviam criado até ao momento: bastante pop, muito alegre, de tal forma que Hayley chegou a perguntar a Taylor se lhe era permitido. A letra fala de um amor que tem resistido a tudo.

 

À semelhança de The Only Exception, Hayley inspirou-se no seu relacionamento com Chad. Quando isso colapsou, no entanto, a letra de Still Into You passou a ser “oficialmente” sobre a relação de Hayley com os Paramore. A letra encaixa-se surpreendentemente bem.

 

O que diz muito sobre Hayley, na verdade.

 

O maior êxito do álbum no entanto foi, como referi acima, Ain’t it Fun. Uma música que mistura vários géneros musicais: pop, rock, funk (o baixo nesta música é fantástico) e um coro gospel na terceira parte. A letra é daquelas universais sobre as dificuldades de entrar na idade adulta e ganhar independência – so what are you gonna do when the world don’t orbit around you?

 

 

E aparentemente é necessário dizê-lo: o refrão é irónico. Nada disto é divertido na verdade.

 

Ain’t It Fun valeu aos Paramore o seu primeiro Grammy, para melhor música rock, no início de 2015. Curiosamente, ambos os Taylors na vida de Hayley – Swift e York – deram-lhe a notícia ao mesmo tempo, por mensagem. Não sei se consideraria Ain’t it Fun uma música puramente rock – tem demasiados elementos de outros géneros – mas merece todos os prémios. É fantástica.

 

Vou cantar e dançar tanto quando eles a tocarem na Luz.

 

O ciclo do Self-Titled foi comprido, terminou em 2015, mais de dois anos depois do lançamento do álbum. Anos mais tarde, Hayley admitiria que foi demasiado longo, não souberam quando parar (aqui entre nós, tenho medo que Taylor Swift venha a ter esse problema).  O burnout poderá ter contribuído para o que se passou depois. 

 

Eis um sumário do que aconteceu nestes dois anos. Hayley voltou a emprestar a voz para uma canção pop – desta feita, Stay the Night, de Zedd. Não foi um sucesso tão grande como Airplanes, mas gosto mais desta. No final de 2013, nasceu a filha de Jeremy. Em 2014, Hayley adotou Alf, um cãozinho, mistura de poodle e de golden retriever . No fim desse ano, os Paramore lançaram uma edição deluxe do Self-Titled. Foi também nessa altura que Hayley ficou noiva de Chad.

 

No fim desse ciclo, em 2015, a batata quente explodiu. 

 

 

Não sei qual dos eventos ocorreu primeiro, mas um deles foi a desistência de Jeremy. Tenho de confessar: na altura em que Zac e Josh saíram, eu tinha acabado de me tornar fã, não me afetou muito. Este afetou. Já seguia os Paramore há uns anos, afeiçoara-me aos seus membros, vira-os ao vivo. E a banda passara toda a era anterior garantindo ao mundo que estavam mais fortes do que nunca, depois do que acontecera com Zac e Josh. 

 

Uns meses mais tarde, Jeremy e a banda envolveram-se numa disputa legal pelos créditos de composição. Ainda não tenho cem por cento de certezas sobre quem tem razão neste conflito. Na altura em que isto se passou, tenho de confessar, até eu comecei a questionar o papel de Hayley nesta história. Eu gostava dela, respeitava-a – ainda o faço – em grande parte porque parece partilhar muitos dos meus valores. Mas se os Paramore estavam constantemente a perder peças, será que o problema era ela?

 

Em retrospetiva, Jeremy sempre pareceu ter sempre um pé dentro e outro fora. Como vimos antes, ele desistiu durante os trabalhos de All We Know is Falling. Mais tarde, durante os trabalhos de Riot!, segundo a carta de Josh, foi despedido temporariamente por causa da sua “ética de trabalho” e por “participar em coisas com as quais o resto da banda não concordava”. E agora, em 2015, deixa os Paramore para, ao que parece, não mais voltar.

 

A ideia que a maior parte dos fãs parece ter é que Jeremy se encosta ao trabalho dos colegas e queria, com este processo, garantir um cheque até ao fim da vida. Não sei se o conseguiu – ele e a banda chegaram a acordo em 2017, mas não divulgaram o resultado. 

 

E a verdade é que, à semelhança do que aconteceu com Josh, o tempo apagou quaisquer saudades que muitos de nós pudéssemos ter. Cinco anos depois da sua partida, Jeremy lançou-se como “rapper” – uso aspas porque, do pouco que ouvi, aquilo é mesmo muito mau. Foi uma das muitas coisas bizarras que aconteceram em 2020.

 

E a gracinha acabou por ter o pior resultado possível para Jeremy: ninguém quis saber. Teria sido uma coisa se o seu “trabalho” como Jerm Beats tivesse viralizado e sido ridicularizado por toda a gente – pela lógica de “não existe má publicidade”. Mas a maior parte do mundo ignorou-o. Acredito mesmo que a maior parte dos fãs dos Paramore nem faz ideia do que aconteceu ao antigo baixista. 

 

 

Adiantando-me um pouco, mesmo o álbum seguinte da banda, After Laughter, acaba por não falar muito sobre a partida de Jeremy. Só mesmo Tell Me How. Os próprios Paramore têm feito questão de apagá-lo da história da banda – ao ponto de, por exemplo, substituírem a capa do Self-Titled, em finais de 2022. 

 

Não que eu concorde com isso. Não por ter pena de Jeremy, mais pelo princípio da coisa: não se pode mudar o passado. 

 

Tenho algumas saudades do Pressure flip e tenho pena de não ver a filha dele a crescer. Tirando isso, não faz falta. E, tal como a Josh (talvez ainda mais), não lhe perdoo por quase ter destruído os Paramore e pelo efeito que as ações dele tiveram nos antigos colegas, sobretudo Hayley. 

 

Até porque foi mais ou menos na mesma altura que Hayley teve uma crise no seu relacionamento com Chad, levando-a a adiar o casamento. Ela nunca confirmou preto no branco o que aconteceu ao certo na altura, mas terá havido traição da parte dele. Não terá sido a primeira vez, provavelmente não foi a última, mas, segundo consta, terá sido com uma amiga de Hayley.

 

Com tudo isto, Hayley entrou em depressão (ainda que só tenha sido devidamente diagnosticada muito mais tarde) e assim se manteve durante um par de anos. Houve uma altura em que deixou de comer, emagreceu imenso, deixou mesmo de ter menstruação. Teve ideação suicida, só não foi para a frente porque sabia que Alf, o cãozinho dela, ficaria à espera dela, não saberia porque é que a dona não voltou para casa. 

 

Como alguém que também é dona de um patudo – ou melhor de uma patuda – compreendo e só de escrever isto fico com um nó na garganta. Por outro lado, vindo para o presente, Hayley acabou de perder um amigo, um menino de treze anos (!!!), para o suicídio. 

 

 

Aproveito a ocasião para recordar que o mundo precisa de vocês. Se suspeitam que alguém perto de vocês está com dificuldades, perguntem-lhe se precisam de ajuda. Se estão com dificuldades, por favor, peçam ajuda. Existem recursos para isso: aqui, caso estejam a ler em Portugal, aqui, caso estejam a ler no Brasil.

 

Regressando aos Paramore e aos finais de 2015, inícios de 2016, Hayley foi para a frente com o casamento à mesma – um erro gigantesco por vários motivos. Anos mais tarde, Hayley admitiria que o fez contra os seus próprios instintos, que uma parte de si sabia que o casamento estava destinado ao fracasso. Mas terá sentido que tinha mesmo de se casar, de fazer tudo para que a relação resultasse – senão, teria magoado outra mulher para nada.

 

Uma vez mais, falo melhor sobre a questão no meu texto sobre Petals For Armor

 

Pelo meio, Hayley desistiu em segredo dos Paramore. Lá está, estava farta da novela, farta das críticas, farta de duvidar de si mesma e da sua capacidade de manter a sua banda, a sua família, junta. Ao mesmo tempo, já não se sentia capaz de ser a ideia que o público tinha da Hayley Williams, a vocalista dos Paramore – daí ter pintado o cabelo de loiro platinado nesta altura, abandonando o icónico laranja.

 

Mais tarde, Hayley daria a entender que Chad a terá pressionado no sentido da desistência. Vindo de outra pessoa, eu até admitiria boas intenções: se a banda causava tanto sofrimento, para quê insistir? Mas é bem possível que Chad apenas quisesse isolar a noiva/esposa dos demais, mantê-la sob controlo.

 

Quem verdadeiramente ajudou Hayley foi Taylor. Este deu liberdade a Hayley para escolher, sem pressão, garantindo-lhe que a apoiaria sempre. E eventualmente Hayley decidiu continuar nos Paramore e ambos começaram a trabalhar no quinto álbum da banda.

 

 

Vou contar-vos um segredo, caros leitores: Taylor York é a pessoa mais importante dos Paramore. Quem achar que a pessoa mais importante é Hayley está redondamente enganado. Hayley é a cara da banda, a porta-voz e, sim, a primeira pessoa em quem toda a gente pensa quando se fala dos Paramore. Mas Taylor está por detrás da larga maioria dos instrumentais, sobretudo no quarto e quinto álbuns (o sexto, mais recente, foi muito mais colaborativo) – definindo o carácter da música. Hayley “apenas” cria as melodias e as letras de modo a condizem.

 

Mas, ainda mais importante do que isso, Taylor foi o único que nunca abdicou dos Paramore de livre vontade – só se juntou em 2007 porque não o deixaram juntar-se mais cedo. E nas múltiplas crises que se seguiram, não abandonou o barco, fez exatamente o correto para que a banda sobrevivesse. Adiantando-me um pouco na história, esteve por detrás do regresso de Zac. Soube quando estava na altura de fazer uma pausa, uns anos depois. E encorajou Hayley quando esta quis criar música fora da banda.

 

Nem sempre terá sido fácil para ele. Como vimos antes, ele também tem tido problemas com a sua saúde mental. Devemos-lhe muito. Sem ele, não haveria Paramore.

 

Mas não lho digam na cara, que ele detesta elogios. Vejam o discurso que Hayley lhe fez em 2016, no vídeo acima – Taylor merece cada palavra mas o moço, coitado, parece estar com vontade de se enfiar num buraco.

 

Estes foram uns anos difíceis para a banda e para Hayley, mas também aconteceram coisas boas. Uma delas foi o lançamento de Good Dye Young. Outra foi, então, o regresso de Zac Farro.

 

Zac tinha passado uns anos na Nova Zelândia e regressara a Nashville havia pouco tempo. Ele e Taylor reencontraram-se e retomaram a amizade – nesta altura, Hayley manteve-se afastada, deixando-os à vontade. Um par de meses depois, Taylor convidou-o para tocar bateria no álbum novo, sem quaisquer outras expectativas.

 

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Lembro-me vagamente dessa altura, em 2016, de ver Zac e Hayley loira nas fotos e vídeos que iam aparecendo nas internetes. Zac confirmou publicamente que estava apenas a tocar bateria no novo álbum dos Paramore, nada mais.

 

Mas estávamos todos a fazer figas.

 

E as nossas esperanças foram confirmadas no início de 2017. Os Paramore anunciaram oficialmente o regresso de Zac – com uma t-shirt. As minhas memórias desse evento são vagas. Recordo-me de uma sensação de irrealidade. Como disse acima, Zac deixara os Paramore na altura em que comecei “oficialmente” a seguir a banda. E tínhamos passado as eras anteriores tentando lidar com a partida dele.

 

Mas depressa me habituei.

 

Como referi antes, Zac não se arrepende de ter deixado a banda quando deixou. Durante esses anos sem Paramore, aprendeu fotografia, realização, criou um projeto lateral, Half-Noise – projeto esse que tem mantido em paralelo com os Paramore, ao ponto de tocar músicas dele em concertos. Acho que isso é um fator importante para a saúde da banda nos últimos anos. 

 

Mais sobre isso adiante.

 

 

Recuemos um bocadinho. Como disse acima, Hayley estava deprimida durante os trabalhos do quinto álbum. A música que Taylor andava a criar, no entanto, era muito alegre: vagamente tropical, com influências do synth pop/new wave dos anos 80. Hayley de início teve dificuldades – lá está, a sua disposição não condizia de todo.

 

– Por amor de Deus, manda-me música triste! – terá dito Hayley a certa altura.

 

Eventualmente Hayley começou a escrever letras tristes sobre melodias e instrumentais alegres. Essa dissonância tornou-se o carácter, mesmo o próprio conceito de After Laughter. Reflete um dos temas do álbum: positividade tóxica, como se diz hoje em dia, as dificuldades em manter uma cara alegre, em esconder a própria infelicidade. À primeira parece música feliz, estival – só quando prestamos atenção é que descobrimos a verdade. Da mesma maneira como muitos de nós parecem felizes, ter tudo sob controlo, mas muitas vezes basta raspar a superfície para descobrir que é tudo fachada.

 

Um pouco como Taylor Swift e I Can Do It With A Broken Heart, na verdade.

 

Aliás, After Laughter coincidiu com o início da mudança de atitude em relação a questões de saúde mental. Diriam mesmo que contribuiu para isso. Hayley ainda assim ia tentando evitar o uso do termo “depressão”, em parte porque ainda não tinha sido diagnosticada como deve ser, em parte para evitar sensacionalismos.

 

Como disse acima, After Laughter é o meu segundo álbum preferido dos Paramore, não muito longe do primeiro. Como tem sido a regra com a discografia da banda, o álbum espalhou essa fase da minha vida – uma fase menos feliz. 

 

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After Laughter saiu na véspera da final do Festival da Canção desse ano, quando o Salvador ganhou. O último capítulo do estado de graça que o nosso país atravessava na altura – que começara com a nossa vitória no Euro 2016. O verão desse ano foi difícil, tanto a nível individual como coletivo. Foi o verão da tragédia de Pedrógão Grande, tive alguns problemas pessoais, Chester Bennington, o vocalista da minha outra banda preferida, morreu por suicídio. Outra coisa a contribuir para a mudança de mentalidades no que toca a psicologia, mas que eu dispensava – custou imenso, ainda hoje custa.

 

A música de After Laughter refletia bem o meu estado de espírito durante grande parte da segunda metade de 2017. A vida acabou por melhorar mais tarde mas, claro, houveram outros períodos difíceis nos anos que se seguiram, que só tornaram After Laughter ainda mais relevante. Sobretudo durante a pandemia – Rose Colored Boy adequa-se que nem ginjas à cena do “Vamos todos ficar bem”. Tantas vezes cantei “Hearts are breaking, COVID’s raging on…”.

 

O que me leva às músicas. Os singles Hard Times e Rose Colored Boy são óbvios destaques. Caught in the Middle parece-me ser uma das preferidas de Hayley – sobre a sua depressão e tendência para a auto-destruição. Por outro lado, sugiro a outros fãs de Taylor Swift que peguem na letra de Idle Worship e a comparem com as letras de Castles Crumbling e Dear Reader.

 

Por sua vez, Pool é uma das preferidas dos fãs. Uma música bem estival, uma canção de amor com um lado sombrio. A narradora admitindo que o interesse romântico a magoa, a faz sofrer, mas ela continua a voltar para ele. 

 

Na música, pelo menos. Na vida real, foi nesta altura, quando o álbum estava para sair, que Hayley pediu o divórcio a Chad. O público só o soube um par de meses depois. Na altura, como ainda não conhecia os pormenores sórdidos, fiquei triste. 

 

Hoje digo que já foi tarde – que nunca devia ter começado sequer. 

 

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Os primeiros meses da era After Laughter não terão, assim, sido fáceis para Hayley. No rescaldo do divórcio, andou a beber em excesso para medicar a depressão e – um dos detalhes que mais me choca – chegou a viver numa casa com uma infestação de morcegos. 


Mas a sua saúde mental acabou por melhorar. Muito graças ao apoio de Zac, Taylor, dos membros da banda de apoio e resto da equipa – Hayley referiu várias conversas honestas que teve com eles. Em 2018, de acordo com um artigo que escreveu na altura, recuperou o seu riso antigo.

 

E para já ficamos por aqui. A próxima parte será a final. Os próximos capítulos serão mais leves e felizes, mas ainda terão as suas lições e desafios. Não percam! Obrigada pela vossa visita.

Música de 2013 #3 - Paramore

Queria fazer uma rápida referência a um álbum de música portuguesa, para variar. Infinito, o álbum de estreia de Catarina Rocha, editado no início deste ano. Já o tinha mencionado brevemente nesta entrada. É um disco bastante agradável, com músicas calminhas, sustentadas pela linda voz de Catarina, lembrando-me, de certa forma, o Goodbye Lullaby, da Avril.
 
2013, no entanto, pertenceu aos Paramore.
 

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Quando o ano começou, já o álbum havia sido anunciado. Pouco após, sairia a preview de Now. A faixa inteira seria lançada dois dias antes do meu aniversário. O respetivo videoclipe sairia poucas semanas depois - esse e o vídeo de Rock N Roll, de Avril Lavigne, foram para mim os melhores videoclipes do ano. Apesar de hoje considerar que a letra de Now é das mais fracas do álbum, o primeiro single de Paramore foi especialmente marcante durante o início de 2013. Muito porque, nessa altura, andava a escrever a parte final do meu terceiro livro; uma daquelas partes ricas em sequências de ação, as que mais gosto de escrever, já falei várias vezes disso cá no Álbum. Tanto a faixa Now em si como o seu videoclipe ajudavam-me a entrar no espírito, davam-me inspiração.

Seguiu-se o lançamento de Still Into You - que se tornaria um êxito estrondoso - e, poucas semanas mais tarde, as restantes músicas do álbum. Que, entretanto, já tiveram tempo de amadurecer no meu ouvido, deixando de soar tanto a novidade. Algumas que, inicialmente, não me agradavam por aí além, hoje aprecio melhor. Uma delas é a Interlude Holiday - depois de entrar em férias de verão e, mais tarde, ao emparelhá-la com as músicas estivais do Avril Lavigne.

O exemplo mais significativo, contudo, é mesmo Future. 

 
Levei algum tempo a compreender o propósito da faixa que encerra Paramore. Vejo agora que a letra faz referência a várias outras músicas do álbum, acabando por ser uma conclusão retirada das mesmas, por ser a mensagem do álbum. Uma mensagem de esperança, aconselhando a não olhar para trás e a focar-se no futuro, nos sonhos que estão por realizar. Funciona verdadeiramente como um epílogo do álbum, como um encerramento de capítulo. O tratamento instrumental da faixa - apesar de continuar a achar desnecessariamente longa, que a voz da Hayley podia soar mais clara no início da música e uns quantos vocais em eco, na parte instrumental, davam mais carácter a Future - confere a esta canção um tom adequadamente misterioso, agridoce, fazendo-me imaginar os membros da banda lutando num cenário semelhante ao vídeo de Now, ou então no mar em plena tempestade, ou num deserto, enfim, sobrevivendo numa situação agreste.
 
Vejo em Future certas semelhanças com Goodbye, de Avril Lavigne, e See the Light, dos Green Day. Goodbye também funciona como um epílogo de Goodbye Lullaby, pela maneira como retira uma conclusão a partir do álbum. Acaba, até, por ser uma mensagem relativamente semelhante, embora o sentimento seja diferente. Já See the Light tem um sentimento mais parecido e também me parece, de certa forma, uma conclusão a 21st Century Breakdown. Para além disso, tem uma mensagem semelhante, de procura de um sentido, de uma esperança, de desconhecimento sobre o futuro, tudo isto no típico tom agridoce de um epílogo.
 
 
É por estas e por outras que acho que o álbum foi mal batizado. Compreende-se a decisão de lançar um álbum homónico após terem sobrevivido a uma crise que quase destruiu a banda. Além de que quiseram mostrar todos os estilos que podiam adotar, todas as potencialidades dos Paramore. No entanto, o facto de terem batizado o seu quarto álbum assim, um álbum com uma sonoridade diferente dos anteriores, pode gerar equívocos. Podem dar a ideia e que estão a renegar os discos anteriores, de que estes eram menos Paramore do que o quarto álbum.

Na minha opinião, este álbum podia ter sido chamado Future. Por diversos motivos: pela canção-epílogo, que resume a mensagem geral do álbum. Por futuro ser o denominador comum a vários temas do disco: crescimento, sobrevivência, sonhos, esperança. Poque, com este álbum, a banda recuperou algo que esteve perto de perder: um futuro.

Mas trata-se apenas do título, é evidente que isso em nada diminui a qualidade do álbum. E enquanto músicas de que não gostava por aí além no início subiram na minha opinião (exceto Anklebiters. Não consigo mesmo gostar dessa), outras por que me apaixonei nas primeiras audições... continuam assim. Aliás, com o tempo, fui reparando nos pormenores, nas linhas de baixo de Jeremy, nos riffs de guitarra de Taylor, presentes em músicas como Daydreaming, Last Hope e, sobretudo, Ain't It Fun. É uma pena não termos ainda versões instrumentais oficiais...


Daydreaming tornou-se em poucas semanas uma das minhas preferidas, não apenas por descrever muito bem a fase da vida em que me encontro, como também por adorar cantá-la - aquelas estâncias suspiraras e depois o poderoso refrão. Daydreaming acabaria por ser lançada como single em alguns países da Europa, com direito a videoclipe. Como poder ver, é um vídeo muito simples, que nem sequer prima pela originalidade mas, na minha opinião, adequa-se à música que serve. Além de que, visto que não foi um lançamento mundial, não se justificava algo muito melhor.

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Uma das poucas coisas que me desiludiu em relação a este álbum, aliás, é o facto de terem sido lançados tão poucos singles. Aquando do lançamento de Paramore, eu pensava que haveria tempo para uns três singles até ao final do ano. A banda tentou gravar um vídeo para Ain't it Fun durante o verão -  que sempre se soube que seria single mais cedo ou mais tarde - mas parece que o processo não correu bem. Eles lançaram Daydreaming em novembro e, no início deste mês, fizeram uma segunda tentativa num videoclipe para Ain't it Fun. Parece que esta foi bem sucedida e o vídeo será lançado em janeiro.

Não se pode dizer, de resto, que este adiamento tenha prejudicado a banda pois Still Into You teve imenso sucesso. Este segundo single de Paramore não é das minhas preferidas deste álbum mas, tal como afirmei aquando do seu lançamento, consegue conjugar uma história forte por detrás da letra - Hayley chegou a afirmar numa entrevista que Still Into You era uma espécie de sequela a The Only Exception - com o carácter infeccioso das melhores canções pop.

Outros pontos fortes do álbum Paramore são Grow Up - sobretudo por causa dos elementos eletrónicos - e Part II. Não me vou alongar tantou sobre esta última pois tenciono dedicar-lhe uma entrada em breve.

No entanto, a melhor música, não apenas do álbum Paramore mas de todo o 2013, foi Last Hope.


Já falei aqui no blogue de como Last Hope me apaixonou à primeira audição, de como me arrebatou, de como dava vontade de cantar em altos berros. Algo que ainda acontece. Os Paramore, entretanto, referiram que esta se tornou uma das músicas preferidas de tocar ao vivo. Não surpreende, de facto. Diz-se vulgarmente que as músicas ideiais para concertos são as mais agitadas e alegres. Não concordo totalmente. Certas baladas arrebatadoras, cantadas em altos berros por milhares de pessoas, são muitas vezes o ponto alto de concertos.

Uma das coisas que ajudam à adesão de uma audiência será a letra com praticamente toda a gente se identifica - Lucky One, dos Simple Plan, também é assim. No entanto, emobra a mensagem de Last Hope seja generalizável, também se torna específica ao referir-se a dores de crescimento, àquilo que custa mas a que é necessário não resistir e, mesmo, aceitar - aquilo de que Hayley fala no seu blogue, uma lição que ainda estou a aprender.


Last Hope é, em suma, uma música perfeita em todos os sentidos. Se não for a melhor de sempre, será pelo menos a melhor deste ano. Ando a fazer figas para que a banda goste tanto de tocá-la ao vivo que a torne single.

Este álbum ajudou-me, assim, a apreciar ainda mais a banda, os seus trabalhos anteriores, os próprios integrantes.  Eu sei que Hayley detestaria ser discriminada positivamente em relação a Jeremy e a Taylor mas eu tenho de destacá-la. Eu já vinha a identificar-me com ela desde há uns anos a esta parte mas agora tornou-se um exemplo ainda maior para mim, por diversos motivos. Respeito-a imenso pela lealdade que tem para com os Paramore, ao contrário do que chegou a ser insinuado. O facto de, ao contrário do que acontece com quase todas as cantoras pop, ela não explora ostensivamente a sua sensualidade - só este ano é que começou a aparecer ainda mais descapotável mas, para ser sincera, ela parece uma freira quando comparada com o que se viu este ano... - e, mesmo assim, consegue há anos - incluindo numa altura em que muitas vezes aparecia de top e calças de ganga - ser considerada das cantoras mais sexys. Prova assim que sensualidade não é sinónimo de vulgaridade.

No entanto, o maior motivo da minha admiração diz respeito às letras, que são escritas por ela. É Hayley a principal responsável pelas mensagens das músicas, logo, dos álbuns. Para mim, essa é a parte mais importante, é o que me liga aos Paramore.

 

 

Porque este é, de resto, o principal motivo pelo qual este álbum teve um impacto tão grande em mim, mais do que a maior parte da música tem. Já o disse várias vezes aqui no blogue que, no finla, é o conteúdo da música que faz com que esta se torne verdadeiramente imortal - muito por colher inspiração dela. Paramore tem feito mais do que isso: as músicas, as mensagens por detrás, uma ou outra declaração sobre as mesmas, a própria história recente da banda, têm-me ensinado imenso, têm-me ajudado a descodificar a vida, a descobrir quem sou, aquilo que se passa comigo - sobretudo agora que me encontro à beira de um ponto de viragem. Coisas que já sabia e que estou a redescobrir, coisas que preciso de saber mas que ainda estou a tentar aprender.
 
Saber, por exemplo, quando ignorar as opiniões dos demais. Aprender que apenas seu sei o que é ser eu, percorrer o caminho que percorro, aceitar que não sou como toda a gente, que não faço o que é suposto fazer, que não sou normal e não tenho de o ser - em teoria, sei isto desde que tenho quinze anos mas, na prática, nem sempre consigo ignorar o que os outros pensam de mim.
 
Reconhecer que tudo o que tenho é sonhos, que vivo a meio gás e que está nas minhas mãos mudar isso, por assustador que seja. Porque muitas vezes, somos nós mesmos a impedirmo-nos de sermos felizes. Não esquecer que o Mundo Real é duro e tentará deitar-nos abaixo de todas as maneiras possíveis e imaginárias mas, se há pessoas a conseguirem sobreviver nele, também devo conseguir.
 
 
Aprender, também, que, por vezes, a maneira de ganhar a guerra não é derrotando o inimigo mas sim abraçando-o - quer literalmente, quer nos múltiplos sentidos figurados. Fazendo as pazes, perdoando, quer aos outros como a nós mesmos.
 
Pelo que vou vendo pela Internet, não apenas no que toca aos Paramore, o mesmo acontecendo com outros artistas, os fãs preferem embarcar em discussões sobre o sexo dos anjos, comparando o material novo com o antigo, muitas vezes desenterrando a velha questão da partida dos irmãos Farro. Eu prefiro focar-me naquilo que a música traz à minha vida. Se esta é mainstream ou indie é irrelevante. Se é conservadora ou inovadora é secundário - dái que o CD Avril Lavigne tenha ficado abaixo do EP dos Simple Plan: este podia trazer muito pouca novidade, ainda menos que o álbum da cantautora canadiana, ms as músicas deram mais. O álbum Paramore, esse, deu imenso: ajudou a clarificar o sentido da vida. Este devia, de resto, ser o principal propósito da Arte. Também serve de inspiração à minha escrita precisamente porque esta é, igualmente, a minha maneira de descodificar o Mundo.
 
Um dos meus desejos para 2014 é poder vê-los ao vivo outra vez, desta feita tocando as canções deste álbum. Não me importava que fossem ao Rock in Rio mas, depois de os ter visto no Alive, queria vê-los num concerto em nome próprio, de longa duração, não apenas com os singles mas, também, com as favoritas dos fãs mais hardcore - como por exemplo My Heart e Let The Flames Begin. Aguardo, igualmente, com ansiedade o vídeo de Ain't It Fun, bem como o single seguinte (Last Hope! Last Hope! Last Hope!). Entretanto, tenciono voltar a falar de músicas dos Paramore em entradas futuras. Mas, sobretudo, desejo que a banda continue a fazer músicas de qualidade, que continue a crescer connosco e a ajudar-nos a decifrar o Mundo.
 

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2014 dificilmente será tão rico musicalmente como 2013 foi. Já sabemos que os Within Temptation lançarão Hydra no final de janeiro. E aquela hipótese do álbum natalício de Avril Lavigne. Consta também que os Linkin Park se encontram, neste momento, em estúdio. Também não torceria o nariz a uma eventual participação dos mesmos no Rock In Rio. Em relação ao resto... não sei. Só o tempo o dirá.
 
Em termos pessoais, será um ano bastante decisivo. O ano em que espero acabar, finalmente, o meu curso. Um dos meus receios é que, quando estiver em estágio, deixe de ter tempo para escrever. Quero ver se consigo concretizar os vários planos de entradas que tenho acumulado nos meus cadernos - alguns dos quais há vários meses - antes do início do estágio mas não será fácil pois, no próximo mês, vou ter exames. Pelo meio, ainda queria avançar no meu quarto livro - escrevi oito capítulos ao longo do verão mas pouco mais escrevi depois disso.
 
Por outro lado, sou uma escritora caprichosa, que já escreveu mais em tempo de aulas do que em férias. Se em cerca de dezasseis anos de vida arranjei quase sempre tempo para escrever, não será agora que isso irá mudar. Como sempre, alguns dos melhores momentos deste ano corresponderam àqueles em que estive a escrever para os meus livros. Tenho a certeza de que, nesse aspeto, 2014 não será diferente. Sobretudo se o fizer catalisada por músicas novas dos meus artistas preferidos.
 
Deixo, então, aqui um voto de boas entradas em 2014, agradecendo aos meus seguidores, desejando que continuem a acompanhar o álbum ao longo do próximo ano. Que 2014 traga muitas alegrias, entre as quais boa música, bons livros, filmes e séries. Feliz Ano Novo!

Paramore (2013) #3

 
 
Depois de termos analisado todas as outras músicas de Paramore AQUI e AQUI, chegamos, deste modo, ao top 3 das minhas músicas preferidas. Como já terão calculado, pertencem todas à parte B do álbum. Esta é, de facto, a parte que tenho ouvido mais vezes. Mas passemos ao que interessa...
 
Part II
 
 
"Fighting on my own
In a war that's already been won
I'll be lost until you come and find me here
Oh glory..."
 
Esta faixa está quase fadada para ter sucesso entre os fãs por ser uma sequela de Let the Flames Begin. Uma música que sempre foi muito especial, tanto para os fãs como para a própria banda. Não sou uma exceção, embora a faixa do segundo álbum dos Paramore tenha demorado algum tempo a entranhar-se. E mesmo agora continuo a tentar decifrá-la. Talvez Part II ajude nessa tarefa. Quando isso acontecer, provavelmente dedicarei uma entrada de Música Ao Calhas a esse assunto.
 
Como podem ver, fiz um AMV do Pokémon para a música. Já tinha feito um para Let The Flames Begin, fazia todo o sentido fazer um para a sua sequela. É uma das melhores maneiras de imortalizar uma música.
 
Part II parece-se imenso com a sua prequela, embora com algumas diferenças. A sonoridade é parecida, mas Part II tem uma batida mais forte e elementos eletrónicos. Destaco as sequências instrumentais após o primeiro refrão e, sobretudo, após o segundo. É um dos pontos fortes em relação a Let the Flames Begin. E o refrão de Part II tem mais poder.
 
Tal como a sua prequela, Part II reflete sobre os defeitos da Humanidade e do Mundo em que vivemos. De certa forma, procura algo superior a toda a podridão, um sentido, esperança. Tal como a sua prequela, por vezes soa como um lamento, por vezes ganha um tom combativo, quase revolucionário, por vezes soa como uma oração. Este efeito é reforçado pela última estância - que já havia sido cantada ao vivo, em concertos no verão de 2012, na conclusão de Monster - e pelo final misterioso e, pelo menos pela parte que me toca, inesperado. 
 
Ain't it Fun
 
 
"What are you gonna do when the world don't orbit around you?"
 
Considero esta irónica faixa a melhor do álbum - não que seja a minha preferida - e, por algumas críticas que tenho lido, não sou a única. Também é uma das favoritas por parte dos próprios Paramore. É capaz de ser uma das músicas mais representativas da evolução da banda em termos de sonoridade. Embora mantenha uma base pop rock, nas palavras dos músicos, tem elementos mais funk e groove - o que quer que isso seja. Destaque para o coro de gospel, que parece saído de um contexto musical completamente diferente, mas que se encaixa surpreendentemente bem. Tem um ritmo dançante, assemelhando-se a Smile de Avril Lavigne - em particular no refrão - e gosto imenso da interpretação da Hayley. Em suma, em termos de sonoridade, Ain't It Fun é extremamente cativante. Só tenho pensa de não terem repetido os versos "Ain't it good to be on your own? Ain't it fun you can't count on no one?" - a minha parte preferida da música - a seguir aos últimos refrões, antes do regresso do coro.
 
A letra da música é também excelente. A Hayley descreveu-a como uma carta a si mesma, um "pontapé no traseiro" de que precisou quando começou a viver longe da família. Admito que também precisarei - ou melhor, preciso - desse pontapé, eu que ainda vivo com os meus pais. Eu e muito boa gente da minha geração, sobretudo cá em Portugal, que abandonamos a casa parental cada vez mais tarde. Que farei eu quando o mundo deixar de girar à minha volta? Não sei, mas convém ir pensando nisso.
 
Tenho quase a certeza que esta música tornar-se-á um single deste álbum e acho que se dará bem comercialmente. Não por ser um êxito pré-fabricado, de consumo rápido, mas porque é uma música de qualidade elevada, com potencial de agradar a muita gente e, sobretudo, fazer sentido para muita gente.
 
Last Hope
 


"It's not that I don't feel the pain
It's just I'm not afraid of hurting anymore..."

Chegamos à minha música preferida. Foi amor à primeira audição, mesmo quando só tínhamos um excerto de minuto e meio. Já a referi de passagem numa entrada do meu outro blogue, sobre a Seleção (AQUI).
 
Last Hope começa apenas com a voz da Hayley - que aqui surge como nunca a tinha ouvido antes: pura, natural, quase inocente - e uma guitarra elétrica. Após o primeiro refrão, juntam-se órgãos, baixo e bateria. Gosto também das notas de piano e da bateria em crescendo na terceira parte da música, culminando num final a várias vozes, quase em júbilo. Esta sim, esta é uma balada verdadeiramente arrebatadora.
 
A letra vai na linha de outras faixas do álbum: fala de desilusão perante a realidade, perante sonhos por realizar, mas também em aprender a lidar com as contrariedades, em encontrar força interior, baseando-se em pequenas coisas e seguir em frente. Porque, muitas vezes, as supostamente pequenas alegrias, as pequenas faíscas, são aquilo que tornam a vida um pouco menos insuportável. 
 
Há uma frase numa das últimas entradas do blogue da Hayley. Traduz-se assim: "Nos momentos em que sentes a mudança acontecendo e sentes o teu coração, mente, corpo e alma resistindo com toda a tua força, experimenta não resistir por um momento. Deixa-te levar, até!". Acho que o verso "Gotta let it happen", várias vezes repetido ao longo da música, se refere a isso. Além do mais, a imagem da faísca vem, de certa forma, em linha com a conclusão de Part II, o título anterior na tracklist
 
Devo dizer que estou completamente apaixonada pela música. Arrebata-me de tal forma, faz-me sentir tanta coisa dentro de mim, que só consigo libertar cantando-a em altos berros. Ando a fazer figas para que se torne um single. Acho que tem potencial para isso. No entanto, é mais provável Ain't It Fun ser escolhido primeiro.

Já falámos de todas as músicas mas falta apenas uma parte, para as considerações gerais. Mantenham-se ligados.
 
Quarta parte

 

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