A história turbulenta da banda que vai abrir a Eras Tour em Portugal #3
Terceira parte da história dos Paramore. Podem ler as partes anteriores aqui e aqui.
Mesmo com as desistências de Josh e Zac Farro, Hayley, Taylor e Jeremy eventualmente decidiram continuar com a banda – e o mundo susteve a respiração para saber como sobreviveriam os Paramore sem dois dos seus membros fundadores. O tal concerto no Optimus Alive decorreu cerca de seis meses depois da bomba. Lembro-me de estar sentada no chão da plateia, no meio de muitas pernas, conversando com uma fã mais experiente do que eu – penso que terá sido entre as atuações dos Kaiser Chiefs e dos Paramore. Ela explicou-me que Josh fora o principal parceiro de Hayley na composição – e não sabia se Taylor conseguiria desempenhar esse papel.
Enquanto escrevia o parágrafo acima, fiquei com umas estranhas saudades dessa rapariga, cujo nome não recordo, e dos outros fãs de Paramore que conheci nesse festival. Gostava de falar com eles sobre tudo o que aconteceu com a banda depois de 2011 (e aconteceu muita coisa, esta procissão ainda vai no adro). Será que não gostaram do rumo que os Paramore tomaram nos álbuns seguintes e deixaram de segui-los? Ou será que concordam comigo que, no fim, a banda deu a volta por cima?
Fechemos este parêntesis. Com menos dois membros, a banda foi obrigada a reinventar-se. Os três foram mesmo viver para Los Angeles, quando Nashville se tornou um local hostil para a banda por causa desta confusão toda. Taylor foi, então, promovido a co-compositor principal e de início tentou replicar o estilo de Josh.
Isso funcionou, mais ou menos, com o Singles Club: quatro músicas lançadas ao longo de 2011, como forma de a banda provar que conseguiam funcionar sem Josh e Zac, que ainda tinham algo a dizer.
Destas quatro, a única que não adoro é Monster. Gosto muito de Renegade e de Hello Cold World. Mas a mais importante, diria eu, é In the Mourning, na qual os membros dos Paramore fazem o luto pelas partidas dos antigos colegas.
Quando chegou a altura de prepararem o álbum seguinte, no entanto, a coisa ficou mais complicada. Tanto porque Taylor não era Josh, mas também porque, de início, Hayley tentou ao máximo não escrever sobre os irmãos Farro – o que lhe provocou um bloqueio criativo.
O segundo problema resolveu-se de uma maneira fora do convencional: a banda compôs três musiquinhas com o ukulele, que serviram de veículo para deitar cá para fora aquilo que precisavam de deitar cá para fora. Essas músicas acabaram por ser incluídas no alinhamento final do álbum como interlúdios – este ficaria incompleto sem elas.
Por outro lado, depois de Hayley ter rejeitado, da forma mais simpática que conseguiu – as ideias de Taylor-tentando-compôr-como-Josh, Taylor mostrou-lhe outras ideias que ele criara para si mesmo, sem intenção de transformá-las em material para os Paramore. Uma delas, por exemplo, foi uma sequência de notas de marimba. Ora, foi dessas ideias que Hayley gostou – essas notas de marimba acabaram por dar origem a Ain’t It Fun, um dos maiores êxitos da banda (mais sobre isso já a seguir).
O quarto álbum representou, assim, uma espécie de reboot para os Paramore, uma reintrodução. Precisamente por isso deram-lhe o nome da própria banda. Por norma aqui no blogue chamo-lhe Self-Titled, que é o nome que os fãs anglo-saxónicos usam, para o distinguir de outros álbuns homónimos.
É o álbum mais longo dos Paramore até ao momento, o mais heterogéneo em termos de sonoridade. As velhas influências emo/pop punk, sim, mas também elementos pop, funk, sintetizadores, new wave – estes últimos em particular seriam ainda mais explorados no álbum seguinte – e os tais interlúdios no ukulele. Músicas tão diferentes umas das outras em termos instrumentais como Grow Up, Daydreaming, Ain’t it Fun, Part II, Last Hope, Hate to See Your Heart Break, (One of those) Crazy Girls.
Em termos de letra, o Self-Titled explora temas de crescimento, resiliência, esperança, vitória. Celebra o facto de os Paramore terem sobrevivido à turbulência dos anos anteriores. É o meu álbum preferido deles – ainda que o seguinte, After Laughter, ande a ameaçar essa posição nos últimos anos,
Várias músicas dignas de destaque neste álbum. Uma delas é Last Hope – não só a minha preferida da banda, mas também uma das minhas músicas preferidas de todos os tempos. Também é bastante popular entre os fãs dos Paramore. Adoraria que eles a cantassem na Luz, mas não é single, é pouco provável.
Outra música especial neste álbum é Hate to See Your Heart Break. Daquelas que foi ganhando novos significados com o tempo. Hayley escreveu a letra para Taylor, que terá passado por um período difícil algures durante os trabalhos do Self-Titled.
Havemos de falar mais à frente sobre os problemas de saúde mental de Hayley, mas Taylor também tem tido a sua dose. Ele, no entanto, é mais reservado do que Hayley. A ideia que tenho é que os dois foram ficando mais próximos depois de Zac e Josh terem desistido da banda. E, anos depois de Hate to See Your Heart Break ter sido composta, quando foi Hayley a passar por um mau bocado, a mensagem passou a ser de Taylor para ela.
Um dos grandes êxitos deste álbum foi Still Into You. Uma música bastante diferente daquilo que os Paramore haviam criado até ao momento: bastante pop, muito alegre, de tal forma que Hayley chegou a perguntar a Taylor se lhe era permitido. A letra fala de um amor que tem resistido a tudo.
À semelhança de The Only Exception, Hayley inspirou-se no seu relacionamento com Chad. Quando isso colapsou, no entanto, a letra de Still Into You passou a ser “oficialmente” sobre a relação de Hayley com os Paramore. A letra encaixa-se surpreendentemente bem.
O que diz muito sobre Hayley, na verdade.
O maior êxito do álbum no entanto foi, como referi acima, Ain’t it Fun. Uma música que mistura vários géneros musicais: pop, rock, funk (o baixo nesta música é fantástico) e um coro gospel na terceira parte. A letra é daquelas universais sobre as dificuldades de entrar na idade adulta e ganhar independência – so what are you gonna do when the world don’t orbit around you?
E aparentemente é necessário dizê-lo: o refrão é irónico. Nada disto é divertido na verdade.
Ain’t It Fun valeu aos Paramore o seu primeiro Grammy, para melhor música rock, no início de 2015. Curiosamente, ambos os Taylors na vida de Hayley – Swift e York – deram-lhe a notícia ao mesmo tempo, por mensagem. Não sei se consideraria Ain’t it Fun uma música puramente rock – tem demasiados elementos de outros géneros – mas merece todos os prémios. É fantástica.
Vou cantar e dançar tanto quando eles a tocarem na Luz.
O ciclo do Self-Titled foi comprido, terminou em 2015, mais de dois anos depois do lançamento do álbum. Anos mais tarde, Hayley admitiria que foi demasiado longo, não souberam quando parar (aqui entre nós, tenho medo que Taylor Swift venha a ter esse problema). O burnout poderá ter contribuído para o que se passou depois.
Eis um sumário do que aconteceu nestes dois anos. Hayley voltou a emprestar a voz para uma canção pop – desta feita, Stay the Night, de Zedd. Não foi um sucesso tão grande como Airplanes, mas gosto mais desta. No final de 2013, nasceu a filha de Jeremy. Em 2014, Hayley adotou Alf, um cãozinho, mistura de poodle e de golden retriever . No fim desse ano, os Paramore lançaram uma edição deluxe do Self-Titled. Foi também nessa altura que Hayley ficou noiva de Chad.
No fim desse ciclo, em 2015, a batata quente explodiu.
Não sei qual dos eventos ocorreu primeiro, mas um deles foi a desistência de Jeremy. Tenho de confessar: na altura em que Zac e Josh saíram, eu tinha acabado de me tornar fã, não me afetou muito. Este afetou. Já seguia os Paramore há uns anos, afeiçoara-me aos seus membros, vira-os ao vivo. E a banda passara toda a era anterior garantindo ao mundo que estavam mais fortes do que nunca, depois do que acontecera com Zac e Josh.
Uns meses mais tarde, Jeremy e a banda envolveram-se numa disputa legal pelos créditos de composição. Ainda não tenho cem por cento de certezas sobre quem tem razão neste conflito. Na altura em que isto se passou, tenho de confessar, até eu comecei a questionar o papel de Hayley nesta história. Eu gostava dela, respeitava-a – ainda o faço – em grande parte porque parece partilhar muitos dos meus valores. Mas se os Paramore estavam constantemente a perder peças, será que o problema era ela?
Em retrospetiva, Jeremy sempre pareceu ter sempre um pé dentro e outro fora. Como vimos antes, ele desistiu durante os trabalhos de All We Know is Falling. Mais tarde, durante os trabalhos de Riot!, segundo a carta de Josh, foi despedido temporariamente por causa da sua “ética de trabalho” e por “participar em coisas com as quais o resto da banda não concordava”. E agora, em 2015, deixa os Paramore para, ao que parece, não mais voltar.
A ideia que a maior parte dos fãs parece ter é que Jeremy se encosta ao trabalho dos colegas e queria, com este processo, garantir um cheque até ao fim da vida. Não sei se o conseguiu – ele e a banda chegaram a acordo em 2017, mas não divulgaram o resultado.
E a verdade é que, à semelhança do que aconteceu com Josh, o tempo apagou quaisquer saudades que muitos de nós pudéssemos ter. Cinco anos depois da sua partida, Jeremy lançou-se como “rapper” – uso aspas porque, do pouco que ouvi, aquilo é mesmo muito mau. Foi uma das muitas coisas bizarras que aconteceram em 2020.
E a gracinha acabou por ter o pior resultado possível para Jeremy: ninguém quis saber. Teria sido uma coisa se o seu “trabalho” como Jerm Beats tivesse viralizado e sido ridicularizado por toda a gente – pela lógica de “não existe má publicidade”. Mas a maior parte do mundo ignorou-o. Acredito mesmo que a maior parte dos fãs dos Paramore nem faz ideia do que aconteceu ao antigo baixista.
Adiantando-me um pouco, mesmo o álbum seguinte da banda, After Laughter, acaba por não falar muito sobre a partida de Jeremy. Só mesmo Tell Me How. Os próprios Paramore têm feito questão de apagá-lo da história da banda – ao ponto de, por exemplo, substituírem a capa do Self-Titled, em finais de 2022.
Não que eu concorde com isso. Não por ter pena de Jeremy, mais pelo princípio da coisa: não se pode mudar o passado.
Tenho algumas saudades do Pressure flip e tenho pena de não ver a filha dele a crescer. Tirando isso, não faz falta. E, tal como a Josh (talvez ainda mais), não lhe perdoo por quase ter destruído os Paramore e pelo efeito que as ações dele tiveram nos antigos colegas, sobretudo Hayley.
Até porque foi mais ou menos na mesma altura que Hayley teve uma crise no seu relacionamento com Chad, levando-a a adiar o casamento. Ela nunca confirmou preto no branco o que aconteceu ao certo na altura, mas terá havido traição da parte dele. Não terá sido a primeira vez, provavelmente não foi a última, mas, segundo consta, terá sido com uma amiga de Hayley.
Com tudo isto, Hayley entrou em depressão (ainda que só tenha sido devidamente diagnosticada muito mais tarde) e assim se manteve durante um par de anos. Houve uma altura em que deixou de comer, emagreceu imenso, deixou mesmo de ter menstruação. Teve ideação suicida, só não foi para a frente porque sabia que Alf, o cãozinho dela, ficaria à espera dela, não saberia porque é que a dona não voltou para casa.
Como alguém que também é dona de um patudo – ou melhor de uma patuda – compreendo e só de escrever isto fico com um nó na garganta. Por outro lado, vindo para o presente, Hayley acabou de perder um amigo, um menino de treze anos (!!!), para o suicídio.
Aproveito a ocasião para recordar que o mundo precisa de vocês. Se suspeitam que alguém perto de vocês está com dificuldades, perguntem-lhe se precisam de ajuda. Se estão com dificuldades, por favor, peçam ajuda. Existem recursos para isso: aqui, caso estejam a ler em Portugal, aqui, caso estejam a ler no Brasil.
Regressando aos Paramore e aos finais de 2015, inícios de 2016, Hayley foi para a frente com o casamento à mesma – um erro gigantesco por vários motivos. Anos mais tarde, Hayley admitiria que o fez contra os seus próprios instintos, que uma parte de si sabia que o casamento estava destinado ao fracasso. Mas terá sentido que tinha mesmo de se casar, de fazer tudo para que a relação resultasse – senão, teria magoado outra mulher para nada.
Uma vez mais, falo melhor sobre a questão no meu texto sobre Petals For Armor.
Pelo meio, Hayley desistiu em segredo dos Paramore. Lá está, estava farta da novela, farta das críticas, farta de duvidar de si mesma e da sua capacidade de manter a sua banda, a sua família, junta. Ao mesmo tempo, já não se sentia capaz de ser a ideia que o público tinha da Hayley Williams, a vocalista dos Paramore – daí ter pintado o cabelo de loiro platinado nesta altura, abandonando o icónico laranja.
Mais tarde, Hayley daria a entender que Chad a terá pressionado no sentido da desistência. Vindo de outra pessoa, eu até admitiria boas intenções: se a banda causava tanto sofrimento, para quê insistir? Mas é bem possível que Chad apenas quisesse isolar a noiva/esposa dos demais, mantê-la sob controlo.
Quem verdadeiramente ajudou Hayley foi Taylor. Este deu liberdade a Hayley para escolher, sem pressão, garantindo-lhe que a apoiaria sempre. E eventualmente Hayley decidiu continuar nos Paramore e ambos começaram a trabalhar no quinto álbum da banda.
Vou contar-vos um segredo, caros leitores: Taylor York é a pessoa mais importante dos Paramore. Quem achar que a pessoa mais importante é Hayley está redondamente enganado. Hayley é a cara da banda, a porta-voz e, sim, a primeira pessoa em quem toda a gente pensa quando se fala dos Paramore. Mas Taylor está por detrás da larga maioria dos instrumentais, sobretudo no quarto e quinto álbuns (o sexto, mais recente, foi muito mais colaborativo) – definindo o carácter da música. Hayley “apenas” cria as melodias e as letras de modo a condizem.
Mas, ainda mais importante do que isso, Taylor foi o único que nunca abdicou dos Paramore de livre vontade – só se juntou em 2007 porque não o deixaram juntar-se mais cedo. E nas múltiplas crises que se seguiram, não abandonou o barco, fez exatamente o correto para que a banda sobrevivesse. Adiantando-me um pouco na história, esteve por detrás do regresso de Zac. Soube quando estava na altura de fazer uma pausa, uns anos depois. E encorajou Hayley quando esta quis criar música fora da banda.
Nem sempre terá sido fácil para ele. Como vimos antes, ele também tem tido problemas com a sua saúde mental. Devemos-lhe muito. Sem ele, não haveria Paramore.
Mas não lho digam na cara, que ele detesta elogios. Vejam o discurso que Hayley lhe fez em 2016, no vídeo acima – Taylor merece cada palavra mas o moço, coitado, parece estar com vontade de se enfiar num buraco.
Estes foram uns anos difíceis para a banda e para Hayley, mas também aconteceram coisas boas. Uma delas foi o lançamento de Good Dye Young. Outra foi, então, o regresso de Zac Farro.
Zac tinha passado uns anos na Nova Zelândia e regressara a Nashville havia pouco tempo. Ele e Taylor reencontraram-se e retomaram a amizade – nesta altura, Hayley manteve-se afastada, deixando-os à vontade. Um par de meses depois, Taylor convidou-o para tocar bateria no álbum novo, sem quaisquer outras expectativas.
Lembro-me vagamente dessa altura, em 2016, de ver Zac e Hayley loira nas fotos e vídeos que iam aparecendo nas internetes. Zac confirmou publicamente que estava apenas a tocar bateria no novo álbum dos Paramore, nada mais.
Mas estávamos todos a fazer figas.
E as nossas esperanças foram confirmadas no início de 2017. Os Paramore anunciaram oficialmente o regresso de Zac – com uma t-shirt. As minhas memórias desse evento são vagas. Recordo-me de uma sensação de irrealidade. Como disse acima, Zac deixara os Paramore na altura em que comecei “oficialmente” a seguir a banda. E tínhamos passado as eras anteriores tentando lidar com a partida dele.
Mas depressa me habituei.
Como referi antes, Zac não se arrepende de ter deixado a banda quando deixou. Durante esses anos sem Paramore, aprendeu fotografia, realização, criou um projeto lateral, Half-Noise – projeto esse que tem mantido em paralelo com os Paramore, ao ponto de tocar músicas dele em concertos. Acho que isso é um fator importante para a saúde da banda nos últimos anos.
Mais sobre isso adiante.
Recuemos um bocadinho. Como disse acima, Hayley estava deprimida durante os trabalhos do quinto álbum. A música que Taylor andava a criar, no entanto, era muito alegre: vagamente tropical, com influências do synth pop/new wave dos anos 80. Hayley de início teve dificuldades – lá está, a sua disposição não condizia de todo.
– Por amor de Deus, manda-me música triste! – terá dito Hayley a certa altura.
Eventualmente Hayley começou a escrever letras tristes sobre melodias e instrumentais alegres. Essa dissonância tornou-se o carácter, mesmo o próprio conceito de After Laughter. Reflete um dos temas do álbum: positividade tóxica, como se diz hoje em dia, as dificuldades em manter uma cara alegre, em esconder a própria infelicidade. À primeira parece música feliz, estival – só quando prestamos atenção é que descobrimos a verdade. Da mesma maneira como muitos de nós parecem felizes, ter tudo sob controlo, mas muitas vezes basta raspar a superfície para descobrir que é tudo fachada.
Um pouco como Taylor Swift e I Can Do It With A Broken Heart, na verdade.
Aliás, After Laughter coincidiu com o início da mudança de atitude em relação a questões de saúde mental. Diriam mesmo que contribuiu para isso. Hayley ainda assim ia tentando evitar o uso do termo “depressão”, em parte porque ainda não tinha sido diagnosticada como deve ser, em parte para evitar sensacionalismos.
Como disse acima, After Laughter é o meu segundo álbum preferido dos Paramore, não muito longe do primeiro. Como tem sido a regra com a discografia da banda, o álbum espalhou essa fase da minha vida – uma fase menos feliz.
After Laughter saiu na véspera da final do Festival da Canção desse ano, quando o Salvador ganhou. O último capítulo do estado de graça que o nosso país atravessava na altura – que começara com a nossa vitória no Euro 2016. O verão desse ano foi difícil, tanto a nível individual como coletivo. Foi o verão da tragédia de Pedrógão Grande, tive alguns problemas pessoais, Chester Bennington, o vocalista da minha outra banda preferida, morreu por suicídio. Outra coisa a contribuir para a mudança de mentalidades no que toca a psicologia, mas que eu dispensava – custou imenso, ainda hoje custa.
A música de After Laughter refletia bem o meu estado de espírito durante grande parte da segunda metade de 2017. A vida acabou por melhorar mais tarde mas, claro, houveram outros períodos difíceis nos anos que se seguiram, que só tornaram After Laughter ainda mais relevante. Sobretudo durante a pandemia – Rose Colored Boy adequa-se que nem ginjas à cena do “Vamos todos ficar bem”. Tantas vezes cantei “Hearts are breaking, COVID’s raging on…”.
O que me leva às músicas. Os singles Hard Times e Rose Colored Boy são óbvios destaques. Caught in the Middle parece-me ser uma das preferidas de Hayley – sobre a sua depressão e tendência para a auto-destruição. Por outro lado, sugiro a outros fãs de Taylor Swift que peguem na letra de Idle Worship e a comparem com as letras de Castles Crumbling e Dear Reader.
Por sua vez, Pool é uma das preferidas dos fãs. Uma música bem estival, uma canção de amor com um lado sombrio. A narradora admitindo que o interesse romântico a magoa, a faz sofrer, mas ela continua a voltar para ele.
Na música, pelo menos. Na vida real, foi nesta altura, quando o álbum estava para sair, que Hayley pediu o divórcio a Chad. O público só o soube um par de meses depois. Na altura, como ainda não conhecia os pormenores sórdidos, fiquei triste.
Hoje digo que já foi tarde – que nunca devia ter começado sequer.
Os primeiros meses da era After Laughter não terão, assim, sido fáceis para Hayley. No rescaldo do divórcio, andou a beber em excesso para medicar a depressão e – um dos detalhes que mais me choca – chegou a viver numa casa com uma infestação de morcegos.
Mas a sua saúde mental acabou por melhorar. Muito graças ao apoio de Zac, Taylor, dos membros da banda de apoio e resto da equipa – Hayley referiu várias conversas honestas que teve com eles. Em 2018, de acordo com um artigo que escreveu na altura, recuperou o seu riso antigo.
E para já ficamos por aqui. A próxima parte será a final. Os próximos capítulos serão mais leves e felizes, mas ainda terão as suas lições e desafios. Não percam! Obrigada pela vossa visita.