Coldplay - A Head Full Of Dreams (2015)
Algo que me acontece com frequência é queixar-me da demora que os artistas de quem gosto levam a lançar álbuns. O que aconteceu com os álbuns Goodbye Lullaby e o homónimo de Avril Lavigne foi ridículo. Estava à espera que Get Up, de Bryan Adams, tivesse saído uns meses antes. Estou há pelo menos um ano à espera do álbum novo dos Sum 41. Os Simple Plan, por sua vez, finalmente anunciaram o nome e data de lançamento do quinto disco de estúdio, depois de lançarem uma data de singles: Taking One For the Team, previsto para 19 de fevereiro.
No entanto, a verdade é que também não gosto muito quando os artistas lançam álbuns com pouco tempo de intervalo. Regra geral, levo mais ou menos um ano a digerir um disco na sua totalidade. Às vezes preciso de mais tempo. Escrevi sobre Ghost Stories, por exemplo, há pouco menos de um ano e ainda não me desliguei completamente - Ink continua a ser uma das minhas músicas preferidas neste momento e ainda não me cansei de temas como Magic e Midnight. Ainda não precisava de outro álbum dos Coldplay.
Por outro lado, conforme me tenho queixado amiúde aqui no blogue, 2015 foi um ano fraquinho em termos de música nova dos artistas de que gosto - razão pela qual nem me dei ao trabalho de escrever uma entrada de Música de 2015, ao contrário de anos anteriores. Ao menos sempre tenho algo mais sobre que escrever aqui no blogue.
Depois do introspetivo Ghost Stories, A Head Full Of Dreams adota um tom completamente diferente: alegre, otimista, refletindo, suponho eu, o novo capítulo na vida de Chris Martin, o vocalista. Mesmo as canções mais calmas e intimistas focam-se no lado mais positivo do tema que abordam. Existem imensas músicas em A Head Full Of Dreams que falam de otimismo, felicidade, esperança e tal, embora o façam através de letras pouco notáveis: ou demasiado vagas, ou resvalando para clichés ou armando-se em intelectuais. No entanto, em quase todas as músicas neste disco, a sonoridade - tanto em termos de melodia como de instrumentação - apesar de por vezes demasiado produzida, compensa facilmente as fraquezas das letras.
Devo dizer que o início do álbum é a parte de que menos gosto. As faixas A Head Full Of Dreams e Birds são, a meu ver, aborrecidas. Não me dizem nada. Apenas me dão vontade de passar à frente, sobretudo a segunda. Hymn For the Weekend tem subido na minha consideração, mas não ao ponto de se encontrar entre as minhas preferidas. Tem uma sonoridade interessante, não o nego: o piano, as palmas, um som que se assemelha a talheres batendo em copos - algo que condiz com a letra, na qual o narrador diz-se embriagado pela vida e pelo amor em geral. A voz de Beyoncé enriquece a música.
Com o primeiro single, Adventure of a Lifetime, passa-se um pouco o mesmo que em Hymn for the Weekend: de início, a música não me entusiasmava particularmente. Com várias audições fui gostando mais, mas continua a não estar entre as minhas preferidas. A letra fala de um romance numa fase inicial, mas que se pode vir a tornar em algo fantástico. Muitos apontam as semelhanças com Get Lucky. É definitivamente é muito mais dançante que aquilo que esperaríamos dos Coldplay, mesmo depois de A Sky Full Of Stars.
Não considero X Marks the Spot como verdadeiramente parte de A Head Full Of Dreams, por vários motivos. Para começar, é uma hidden track.
Um rápido aparte só para dizer que, na minha opinião, as hidden tracks estão obsoletas, numa altura maioritariamente digital. Eu ainda vou comprando CDs (cada vez menos...), mas extraio sempre as músicas para o meu computador e, depois, para o meu telemóvel. Aqui, gosto de rearranjá-las em playlists temáticas, para a minha escrita, ou pura e simplesmente coloco em shuffle. Nestas circunstâncias, não dá jeito nenhum ter duas músicas na mesma faixa - muito menos quando gosto imenso da primeira e não muito da segunda.
Fechando o aparte, conforme dizia eu, para além de ser uma hidden track, X Marks the Spot tem uma sonoridade do resto do álbum: mais eletrónica, mais à R&B. A ideia com que fico é que isto foi apenas uma pequena experiência da banda, devendo ser tomada apenas como uma curiosidade, um gracinha, quase uma b-side. Não parte integrante de A Head Full Of Dreams.
Por sua vez, os interlúdios Colour Spectrum e Kaleidoscope nada acrescentam ao álbum, do meu ponto de vista, embora compreenda a sua inclusão.
Army Of One é uma canção de amor com uma letra vulgar, explorando os clichés "as maravilhas do Mundo não são nada comparadas contigo" e "vou lutar pelo teu amor". No entanto, tem uma melodia extremamente cativante e um órgão que dá à música uma nota de euforia, tornando-a irresistível.
Amazing Day é uma balada muito suave, baseada em piano, notas de guitarra e em violinos, que se integraria bem na minha entrada sobre Innocence e músicas similares. A letra pinta a imagem de um momento de romance, de intimidade, debaixo das estrelas.
Por sua vez, Up&Up pega no tema dominante do álbum - otimismo e esperança. Começa com uma sequência de piano e batidas leves. No refrão juntam-se várias vozes a cantar (supostamente todos os convidados a colaborar neste álbum) - é difícil não apreciar. Também gostei do solo de guitarra, cortesia do guitarrista dos Oasis, Noel Gallagher.
Everglow e Fun são, do meu ponto de vista, as melhores músicas em A Head Full Of Dreams. Curiosamente, ambas vêm em linha com os temas de Ghost Stories, funcionando mais ou menos como sequelas - por outras palavras, tudo indica que se referem à relação de Chris Martin com Gwyneth Paltrow. Fun é uma daquelas canções cuja letra se esforça demasiado por soar intelectual, com várias metáforas e uma referência ao mito de Ícaro que não parecem fazer muito sentido no contexto da música. No entanto, sempre pinta a imagem de um pôr-de-sol numa praia tropical, que eu imagino sempre que a oiço. Fun está muito bem conseguida tanto em termos de melodia como de arranjo musical. A voz de Tove Lo soa muito bonita ao lado da de Chris Martin. Pena é terem-na reduzido a pouco mais que um backvocal. Ela merecia ter cantado pelo menos a segunda estância. Em Fun, o narrador terminou um relacionamento, mas procura focar-se nos aspetos positivos desse relacionamento, dando mesmo a entender que, se calhar, nem todas as pontas ficaram atadas entre ele e a antiga amada.
Finalmente, Everglow é uma balada conduzida pelo piano, com uma produção mais simples que quase todo o resto do álbum. A sonoridade é reconfortante, aquece o coração, o que combina com a letra. A ideia principal desta é que as pessoas que amamos nunca nos deixam verdadeiramente, deixam qualquer coisa em nós, algo a que a música chama uma... luz eterna (é a melhor tradução que encontro para o título da faixa, que de resto é um neologismo). Algo que permanece, mesmo num mundo em que tudo é efémero. Algo que, por vezes, é suficiente para conseguirmos sobreviver. É sem dúvida a mensagem mais bonita de todo o álbum. Mais bonita... e menos batida.
Resumindo e concluindo, o ponto forte de A Head Full of Dreams é a sonoridade das músicas e a mensagem geral de esperança e otimismo. O seu ponto fraco é essa mensagem resvalar frequentemente para lugares-comuns, parecendo por vezes vaga e impessoal. Nesse aspeto, um álbum melhor conseguido é o Self-Titled dos Paramore - mas também este álbum está muito melhor conseguido em todos os aspetos que a larga maioria dos álbuns (por favor, não me perguntem pela saída do Jeremy ou eu começo a chorar...). No fim, acho que gosto mais de Ghost Stories, sobretudo por causa dos temas mais pessoais e pelo conceito geral.
Tal como escrevi no ano passado, não me considero grande fã dos Coldplay. Não estou investida neles tanto como noutros artistas sobre quem escrevo neste blogue. Por outro lado, pelo que li em artigos e criticas publicados aquando do lançamento de A Head Full Of Dreams, é considerado "cool" odiar os Coldplay (eu podia jurar que essa honra pertencia aos Nickelback...). Ainda que compreenda e concorde, parcialmente, com algumas das críticas (não se desviam do mainstream e do radiofónico, preocupam-se demasiado em agradar ao público, não arriscam, não são grande coisa em termos de letras), na minha opinião, uma boa parte deste ódio é mesquinhez.
Não que eu não tenha os meus odiozinhos de estimação, movidos a mesquinhez. Ainda sou do tempo em que era Britney Spears versus Avril Lavigne - ainda hoje não tenho grande consideração por Britney, quer como cantora quer como pessoa, embora até ache piada a algumas músicas dela. Embirro com os Maroon 5 desde This Love, embora seja difícil manter essa embirração depois de momentos como este. Aquando dos EMA de 2010, fartei-me de dizer mal de Lady Gaga, de tal forma que, poucos dias depois, a minha irmã sonhou que eu ia a tribunal por ter dado um tiro na cantora... De qualquer forma, procuro não perder tempo com coisas de que não gosto - a vida é demasiado curta para isso. Acredito cada vez menos em guilty pleasures - se gosto de alguma coisa é porque os seus criadores fizeram algo como deve ser.
É certo que a música dos Coldplay não se destaca pelo arrojo, mas isso não significa que não haja espaço para a banda. Há alturas em que queremos ouvir coisas novas, ver os limites da música esticados. Há alturas em que queremos apenas algo familiar feito como deve ser. Parece ser isso que os Coldplay gostam de fazer. Quanto a mim, desde que eu goste da música que eles, ou quaisquer outros artistas, criarem, independentemente da opinião popular, eu alinho.