Referi no texto anterior que o meu gosto musical se define por aquele meme da casa escura ao lado da casa colorida. Claro que esta é uma versão muito redutora da coisa – até porque muitos dos artistas e bandas que oiço não se encaixam perfeitamente numa só casa. De resto, o texto anterior focou-se na casa escura. Hoje vamos focar-nos na casa colorida.
Começando por Mika. Este é um artista sobre quem não escrevo desde 2016, mas que se tem mantido na minha rotação ao longo de todos estes anos. Tenho ouvido uns quantos temas do seu álbum mais recente, My Name is Michael Holbrook, de 2019, de forma muito casual, quando me aparecem no aleatório, sem pensar muito nisso. Algumas das minhas preferidas são Cry e Dear Jealousy.
Ainda assim, houveram algumas músicas que fui negligenciando. Quando Mika co-apresentou o Festival da Canção e cantou um medley de algumas das suas músicas – e a sua apresentação foi melhor que as de metade dos concorrentes – recordei-me delas. Em particular, Love Today e Lollipop.
Isto numa altura em que, lá está, Everything is Emo tinha acabado de começar e eu andava entusiasmada com essas músicas.
Foi também nessa altura – na véspera do Festival, se não me engano – que Mika lançou o single Yo Yo. Uma das minhas músicas preferidas de 2022. É um tema de disco pop, bastante simples, talvez mesmo básico, em termos de instrumentação. Mas funciona. É um caso de menos que é mais.
Diz que Mika está a preparar um par de álbuns, um em inglês, outro em francês, mas ainda não há previsão de lançamento. Em todo o caso, hei de continuar a acompanhar casualmente a carreira dele e espero que um dia volte a Portugal – o Rock in Rio 2016 foi giro.
Uma que se tem mantido sempre forte na minha rotação é Carly Rae Jepsen. A cantautora canadiana lançou um álbum este ano, The Loneliest Time. Por azar, foi editado no mesmo dia que Midnights, de Taylor Swift.
Cheguei a temer que houvesse alguém na editora de Carly que a odiasse secretamente. Até porque já o lançamento de Emotion foi uma confusão. No entanto, daquilo que pesquisei, The Loneliest Time foi anunciado cerca de um mês antes de Midnights. Deve ter sido uma coincidência infeliz.
Segundo Carly, The Loneliest Time é um dos seus álbuns mais pessoais. Algumas destas músicas foram compostas como páginas do seu diário. Carly nem sequer queria lançá-las, mas foi persuadida pela sua editora.
Este é o primeiro caso que conheço em que uma editora prefere o mais honesto em vez de o mais radiofónico. Respeito.
Uma dessas músicas mais diarísticas é o primeiro single, Western Wind, lançada uns meses antes do resto do álbum. Acho que a ouvi pela primeira vez quando me apareceu no Radar de Lançamentos do Spotify. Nos meses que se seguiram, ia adicionando-a às minhas filas, gostando do que ouvia, mas sem lhe prestar muita atenção. Uma das primeiras coisas que me atraiu em Western Wind foi a sonoridade vagamente mística, criada pela percussão e pelos sintetizadores.
Mais tarde, depois de sair The Loneliest Time e depois de ler e ouvir algumas entrevistas, descobri que a letra de Western Wind foi inspirada pelas suas experiências durante o confinamento. Carly estava a viver em Los Angeles e a sua família estava a viver no Canadá quando a pandemia começou. Perdeu a avó nessa altura, mas não pôde ir ao funeral nem estar com a família por causa das restrições nas fronteiras.
Western Wind não é uma música triste, no entanto. Aliás, faz-me lembrar Everglow, dos Coldplay, pois fala sobre sentir a presença e o amor dos seus entes queridos, mesmo com a distância.
Ao mesmo tempo, Western Wind fala sobre o contacto com a Natureza que, para Carly, lhe recorda a infância. Faz parte do arquétipo do Canadá, eles gostarem muito do ar livre. Por outro lado, este tem sido um tema recorrente desde o início da pandemia, por motivos óbvios. Nem sequer é a primeira vez que o comento aqui no blogue.
Ora, o segundo single, Beach House, é muito diferente. O instrumental é mais alegre, daqueles que convidam a palmas. Há muitos que não gostam desta música e eu até compreendo porquê – é daquelas canções um bocadinho tolas. Confesso que já fui mais papista nesse aspeto – e, de resto, existe muito pior por aí.
Eu acho engraçada. Carly escreveu a letra sobre as suas experiências quando aderiu ao Tinder ou a uma aplicação semelhante.
Eu pergunto-me, no entanto, como é que não se soube que Carly Rae Jepsen andava a aparecer em apps de encontros – ela é relativamente famosa! E aposto que levou com uma mão-cheia de piadas com Call Me Maybe. Aparentemente ela não se manteve na app durante tempo suficiente para isso mas, de qualquer forma, a experiência não foi divertida. Corre-se o risco de entrar em território muito sombrio quando se fala de encontros que correm mal. Beach House conseguiu manter o tom humorístico, o que nem sempre é fácil. Pontos para Carly.
E acho que não estou a perder nada ao não aderir ao Tinder.
Outro single de que gosto é de Surrender My Heart – que também abre o álbum. Esta é outra música sobre relutância em apaixonar-se após más experiências anteriores. Carly é uma confessa romântica incurável e isso reflete-se na sua música. Paradoxalmente, tem tido azar no amor. Isso foi algo que a atormentou durante o confinamento: o facto de ainda não ter encontrado a pessoa certa.
Em Surrender My Heart, a narradora – vamos assumir que é Carly – está com uma pessoa e está ativamente a lutar contra os comportamentos tóxicos que adotou, depois de todas as suas relações falhadas. Algumas por sua causa, ela admite – “All the broken hearts that I broke before they could break me”. Carly quer deixar tudo isso para trás, quer deitar os muros abaixo, ter fé no amor e no seu amado.
O refrão é tão cativante como algumas das melhores músicas de Carly. Gosto em particular dos backvocals.
A balada Go Find Yourself or Whatever é outra autobiográfica. Terá sido inspirada pelo término de uma relação de Carly. O tipo deixou-a, dizendo que, como diz o título, precisava de “se encontrar a si mesmo”.
É uma situação curiosa Isto de se “encontrar a si mesmo” é um daqueles ditos de psicologia popular que tem estado na moda nos últimos anos – e que, de tão usados, já começaram a perder o seu significado. Chegam mesmo a ser usados como pedras para atirar aos demais.
Não digo que tenha sido esse o caso do interesse romântico de Carly. Pelo contrário, é possível que o sujeito tivesse boas intenções. Se ele tinha assuntos pessoais por resolver, talvez não fosse saudável ele continuar naquela relação.
Dito isto, Go Find Yourself or Whatever mostra-nos o outro lado. A narradora pode compreender as razões do amado, mas também pode vê-las como “Estou melhor sem ti” ou “Não fazes bem à minha saúde mental”. Carly chegou a descrever Go Find Yourself or Whatever como uma canção zangada, mas eu não a vejo assim. Acho que a narradora está a lidar com a situação com uma elegância de louvar – claramente ressentida, mas espera que o amado volte para ela, quando se encontrar a si mesmo ou lá o que for.
Eu não sei se estaria disposta a fazer o mesmo.
Outras músicas de que gosto são Anxious e Keep Away. Ainda preciso de passar mais tempo com The Loneliest Time, mas acho que gosto um bocadinho mais dele que de Dedicated. Carly abrindo o seu coração foi uma aposta ganha – tanto na música como no amor, ao que parece.
Emotion continua a ser o melhor, no entanto. Side B incluído.
Por fim, temos de falar sobre Taylor Swift. Ela que continua uma presença forte nos meus hábitos musicais – e provavelmente assim continuará. A música da mulher é tão cativante que, se não tenho cuidado comigo mesma, não oiço mais nada.
E muitas vezes nem sequer são as músicas mais recentes. Muitas vezes são músicas como Treacherous e evermore, que têm ganho novos significados com o tempo.
Por outro lado, tenho de confessá-lo: ao fim de algum tempo cansa. São muitas canções sobre relações românticas e, sobretudo, sobre separações.
Apesar da omnipresença de Taylor na minha vida musical, é pouco provável que alguma vez escreva uma análise como deve ser a algum álbum dela. O mercado está saturado. Há por aí muita gente com mais conhecimentos sobre a carreira dela e histórico amoroso, mais capaz de identificar as pistas e os infames easter eggs. Tenho pouco a acrescentar ao debate. Não digo nunca, mas para já vou limitar-me a textos como este – e a eventuais Músicas Ao Calhas, se me apetecer.
Não sei como foi com outros fãs de Taylor, mas não contava com um álbum de músicas inéditas em 2022. Estava à espera de mais regravações – estou um bocadinho desiludida por não termos ainda 1989 TV ou Speak Now TV.
Tirando isso, Midnights foi uma surpresa agradável. Taylor regressou ao synth pop de 1989, Reputation e Lover, mas com as lições aprendidas com folklore e evermore. Tenho uma certa pena que Taylor não se tenha aventurado num género musical diferente – ando com desejos de um álbum rock – mas a música é boa e isso é o mais importante.
Anti-Hero tem-se fartado de quebrar recordes, mas não está entre as minhas preferidas. É possível que seja por excesso de exposição. Estou contente por Taylor ter percebido que as pessoas preferem o seu lado honesto em vez de uma música estilo Me!, concebida para ser o êxito radiofónico.
Ainda assim, cansei-me depressa do verso “It’s me, hi, I’m the problem, it’s me” – e acho que era previsível.
Também não adoro Bejeweled. Das três músicas que tiveram direito a vídeo até agora, Lavender Haze é a de que gosto mais – adoro o verso “Get it off your chest, get it off my desk”. Alguns fãs queixam-se que Taylor nunca escolhe as músicas certas como singles. Eu não sou assim tão categórica, mas no que toca a Midnights concordo.
Karma é uma das minhas preferidas em Midnights. Tem um estilo de instrumentação semelhante a Bejeweled, mas na minha opinião melhor executado. Os momentos com piano (?) que vão pontuando a música fazem-me pensar no ataque Dazzling Gleam em Pokémon. A letra tem uma dose saudável de braggadocio – na minha opinião justificado e mais genuíno do que quando Taylor se faz de coitadinha, como em You’re On Your Own, Kid. Adoro o verso “Ask me why so many fade but I’m still here” – tanto pela mensagem e sim como pelos vocais harmonizados.
Midnight Rain é outra das minhas preferidas. Uma balada estilo anos 80 – aliás, lembra-me imenso All That, de Carly Rae Jepsen. À semelhança de outras músicas neste álbum, como Labyrinth, os vocais artificiais são muito prevalentes. Regra geral, não costumo gostar de vocais como estes – Carly Rae Jepsen, por exemplo, usou-os em músicas como The Loneliest Time e eles irritam-me. No entanto, em Midnights todos eles foram bem sacados.
Só prova que estes elementos menos “orgânicos” – coisas como auto-tune, dubstep, etc – não são maus por si só. Depende tudo da forma como são usados. Mais sobre isso já a seguir.
A letra fala de algo que eu penso ser muito comum: dois apaixonados cujos projetos de vida não encaixam. Faz lembrar a história de ‘tis the damn season e dorothea em evermore – com a diferença de que, em Midnight Rain, há mais certeza de que foi tomada a decisão certa. Ainda que a narradora de vez em quando pense nele.
Vigilante Shit é quase um guilty pleasure – sombria de uma maneira lamechas e deliciosa. Também gosto muito do tom sonhador de Snow on the Beach – não sei se Taylor pretende lançar mais singles para Midnights, mas, se eu tivesse voto na matéria, escolheria esta.
Labyrinth, Maroon e Question…? são três músicas de que gosto mas que ainda não digeri por completo. Destas três, a minha preferida é a terceira – o cenário pintado pelo refrão recorda-me uma de várias histórias que escrevi há muitos anos, em miúda.
Depois temos ainda a versão Deluxe – a 3am Edition, edição das três da manhã, que está cheia de pérolas. Algumas delas, na minha opinião, mereciam estar na edição padrão de Midnights.
Bem, mais ou menos no caso de Bigger than the Whole Sky: uma música linda mas de partir o coração. Especula-se que a letra tenha sido inspirada por um possível aborto espontâneo. Talvez Taylor a tenha deixado de fora da edição-padrão para não ter de responder a perguntas sobre ela.
Compreende-se.
Would’ve Could’ve Should’ve, que parece ter sido inspirada pela relação de Taylor com John Mayer, não é das minhas preferidas. Tem, no entanto, sido bastante comentada pelos fãs pelo infame verso “Give me back my girlhood”.
Gosto muito de High Infidelity, que apresenta uma situação de moralidade questionável – a narradora explicando os motivos pelos quais traiu o companheiro. Paris também é muito gira – é a música mais alegre em toda Midnights. No entanto, estou zangada com Taylor por esta música ter saído duas semanas depois de eu ter estado em Paris. Isto faz-se, Miss Swift?
Em defesa dela, a Paris da música não parece ser a cidade propriamente dita, antes uma metáfora. Como a Paris dos Chainsmokers – uma música de que também gosto muito.
É possível que alguns de vocês não conheçam Hits Different. Esta é uma faixa exclusiva da versão de Midnights vendida na Target (uma cadeia de supermercados norte-americana) e não está disponível em nenhum dos Spotifys desta vida. Mesmo no YouTube os vídeos nunca permanecem disponíveis durante muito tempo. Nos últimos anos, faixas como esta costumam ser lançadas nas plataformas de streaming mais cedo ou mais tarde. Mas já lá vão quatro meses e, até agora, nada… (É melhor sacarem-na aqui.)
Às vezes o fator raridade sobrevaloriza uma canção e é possível que ele esteja presente com Hits Different. Mas continuo a achar que é uma das melhores em Midnights e merecia estar na edição-padrão. Ao mesmo tempo, é uma sonoridade distinta do resto do álbum – com mais guitarra acústica, embora mantenha elementos de synth pop. Talvez tenham achado que não se encaixava bem com o resto das músicas.
Há quem descreva Hits Different como a august deste álbum. Consigo compreender porquê: o refrão de Hits Different parece-se um bocado com a terceira parte de august. Aliás, tanto o refrão como a terceira parte desta música são excelentes.
Espero que não demorem muito mais a colocar isto no Spotify. O resto do mundo merece ouvir Hits Different.
Falta só falar sobre a minha canção preferida em Midnights – e possivelmente de todo 2022. Para isso, vamos regressar à 3am Edition e olhar para a primeira das faixas-extra: The Great War.
Esta música cativou-me forte logo na primeira audição e, nas raras ocasiões em que isso acontece, fico refém para o resto da eternidade. No caso de The Great War, estas melodias devem ter uma droga qualquer, sobretudo no refrão – são viciantes.
A instrumentação é daquelas coisas que, como comentei acima, não devia resultar mas resulta. É a música mais eletrónica em toda a Midnights, com notas daquilo que me parece ser 8bit.
8bit! Música de Game Boy! Taylor e Aaron Dessner criaram uma autêntica obra de arte com música de Game Boy! E eu costumo dizer que prefiro instrumentos “a sério”...
Ao mesmo tempo, existe algo de militarístico na percussão, sobretudo na terceira parte – o que se adequa à letra, claro. Esta é uma das melhores letras em todo o álbum, se não for de todo o ano: comparando uma discussão feia entre amantes a uma das Guerras Mundiais. Uma das partes é menos belicosa, tenta resolver a situação diplomaticamente. A narradora, no entanto, tem uma coleção de más experiências anteriores, o que a leva a comportamentos destrutivos, tanto para ela como para o amado – veja-se toda a segunda parte. Claro que, a partir de certa altura, ela percebe que está errada e põe fim ao conflito.
Tal como Lorde fez com todo o álbum Melodrama, Taylor pegou numa situação relativamente corriqueira e transformá-la em algo grandioso.
E depois são os pormenores. Adoro a frase “Diesel is desire” – não consigo perceber se isto é considerado assonância ou aliteração, só sei que adoro a maneira como soa. Por outro lado, a expressão “crimson clover” também aparece em A Praise Chorus, outra das minhas músicas favoritas em 2022 – uma coincidência engraçada.
The Great War é mesmo daquelas músicas que estimulam a imaginação que se aplicam a inúmeras histórias. A mim invoca-me imagens do filme Expiação, que vi no verão passado e que deu cabo de mim. Ao mesmo tempo, têm-me aparecido várias montagens de vídeos nas minhas sugestões do YouTube – como a acima.
Eu mesma tentei fazer uma story com imagens do primeiro filme de Tri, mas não saiu bem como queria. Eu devia era fazer um AMV – se algum dia arranjar tempo, paciência e software para isso, este está no topo da lista.
E depois de Midnights? Taylor prepara-se para ir em digressão pela primeira vez em vários anos. À data desta publicação, só há marcações para os Estados Unidos – os Paramore, aliás, irão abrir um par de concertos – que se estendem até agosto. Ainda não há datas para concertos na Europa, mas estas deverão ser anunciadas mais cedo ou mais tarde.
Ela virá a Portugal? Talvez. Taylor era para ter vindo em 2020, antes de a pandemia ter cancelado tudo. Se vier, eu gostava de ir, mas será quase de certeza uma corrida estilo Coldplay no ano passado. E os bilhetes serão caríssimos.
Entre esta digressão e o filme que ela irá realizar, não sei se ela planeia lançar música em 2023. Ninguém a censuraria – seria o primeiro ano desde 2018 sem que Taylor lançasse música. Mas ando um tudo nada sedenta de mais relançamentos. Os intérpretes de easter eggs dizem que o próximo será Speak Now, o que me agrada – só mesmo por causa de Enchanted.
E chegámos ao fim deste balanço. Finalmente. Isto foi um autêntico exagero e, por incrível que vos pareça, houveram músicas marcantes este ano que ficaram de fora. Coloquei-as na playlist do ano à mesma. Temas como, por exemplo, Lost My Mind de Finneas, Celestial de Ed Sheeran (porque continuo a comer da mão), Guerra Nuclear de Marisa Liz e de António Variações e uma Questão de Fé, de João Pedro Pais, na sequência do meu texto sobre música portuguesa. Deixo também aqui o link da playlist de Setembro de 2022 para complementar. E o meu Spotify Wrapped, que este ano acho que até ficou fidedigno.
Agora se me permitem algumas reflexões sobre 2022 com dois meses de atraso… para mim 2022 foi o oposto de 2021. 2021 foi um ano melhor que o anterior em termos coletivos mas foi pior para mim em termos pessoais. 2022 foi péssimo em termos coletivos – muito menos Covid, mas guerra, inflação, crise energética, seca em Portugal – mas, a nível pessoal, foi o melhor desde 2019. Entre outras coisas, estou mais feliz no trabalho. Foi o regresso a uma quase normalidade após a pandemia. Voltei a ir a concertos, viajei mais, convivi mais. Como escrevi num dos textos anteriores, vi mais séries e filmes – destaque para Kizuna em português nos cinemas portugueses – alguns fora da minha zona de conforto.
E, como poderão deduzir desta série de testamentos a que chamo balanço musical, não me faltou música.
Na verdade, sinto que, depois de dois anos acontecendo relativamente pouco por causa da pandemia, desde há alguns meses para cá está a acontecer tudo ao mesmo tempo para compensar. Isso já tinha acontecido em setembro e escrevi sobre isso na altura. Depois, tivemos o Mundial – um Mundial muito melhor do que tinha o direito a ser – fora de horas, em cima do Natal, na mesma altura em que saiu Pokémon Scarlet & Violet e em que os Paramore lançaram The News.
E isso tem continuado e vai continuar em 2023. Vejam-se as últimas semanas: Lost, uma inédita dos Linkin Park dos trabalhos de Meteora saiu no mesmo dia que o álbum This is Why. Depois disso, em abril, vou ter dois concertos em menos de uma semana – vou ver os Hybrid Theory ao Pavilhão Atlântico no dia 15 e, no dia 21, vou finalmente ver Avril Lavigne a Zurique.
Aliás, toda a gente e respectivos avós vão lançar música em 2023, ao que parece. Os Sum 41, para começar, como comentámos no texto anterior. Avril está em estúdio neste momento – no que toca a ela, no entanto, é melhor apontarmos só para a 2024. Lorde também anda a brincar com a ideia de lançar música nova, apesar de, tecnicamente, ainda andar em digressão por Solar Power. Ela, aliás, acaba de ser confirmada no Paredes de Coura.
Mas eu dificilmente poderei ir. Paredes fica muito longe e não marquei férias para essa altura.
Está também prestes a sair a edição de vigésimo aniversário de Meteora. Mike Shinoda também irá lançar algumas canções a solo e tem deixado em aberto a possibilidade de os Linkin Park lançarem música nova.
Tudo isto é bom, claro. O reverso da medalha é que é muita coisa para digerir ao mesmo tempo, quanto mais escrever – quando eu também tenho trabalho e outros assuntos pessoais na minha vida (diz que isto é a vida adulta). É por isso que estamos em finais de fevereiro, princípios de março, e eu ainda a refletir sobre 2022.
Uma pessoa com juízo chegaria à conclusão de que talvez eu não precise de escrever tanto, mas eu quero. Existem tantas coisas que quero escrever, nem só apenas nestes blogues. Um lema/lamento que adotei nos últimos meses é que a vida é demasiado curta para tudo o que quero escrever. Vai continuar a ser verdade em 2023.
Já que falo no assunto, deixo os meus planos para os próximos textos deste blogue. O próximo será uma análise a Meteora, a propósito do vigésimo aniversário – algo semelhante ao que fiz com o Hybrid Theory. Não vou publicar no próprio dia 25 de março. Em parte porque não devo ter tempo, mas também quero esperar pela edição de aniversário para poder incluir as faixas novas e as demos todas na análise. Espero divertir-me tanto como com Hybrid Theory.
A seguir, escreverei sobre This is Why dos Paramore. Vou precisar destas semanas, ou meses, para formar uma opinião sobre o álbum – ainda está tudo muito no ar. Depois disso, logo se vê. Não quero preocupar-me demasiado com isso e não vou ter pressa. Como disse antes, existem coisas que quero escrever fora dos meus blogues. Não estranhem se isto voltar a ficar parado durante longos períodos.
Obrigada por me terem aturado mais um ano. Continuem a aturar-me durante mais um… ou melhor, durante mais dez meses – espero nunca mais voltar a atrasar-me com um balanço musical. Antes de me ir embora, deixo-vos o link para o meu Tumblr – aderi no início do ano para servir de alternativa ao Twitter. Não que publique nada de especial, mas tenho-me divertido – para mim é um mundo à parte de todas as outras redes.
Como sempre, obrigada pela vossa visita. Até à próxima.
Segunda parte da minha retrospetiva musical de 2019. Hoje começamos com...
Roxette e companhia ilimitada
Já estava nos meus planos falar sobre os Roxette neste texto antes de recebermos a notícia da morte de Marie Fredriksson, a vocalista feminina. A sua partida foi uma infeliz coincidência. Assim sendo, estes parágrafos não são exatamente iguais ao que seriam não fosse esta perda.
Já se sabe como é: depois de alguém morrer, temos a tendência de homenagear o defunto de uma forma que nem sempre fazemos quando a pessoa está viva. Um dos motivos pelos quais tenho este blogue é para contrariar essa mania, mostrar a minha apreciação por trabalhos mediáticos enquanto os seus criadores estão vivos – mesmo que seja altamente improvável eles lerem o meu blogue. Mas neste caso não fui a tempo.
A verdade é que, embora esteja um bocadinho triste com a morte da senhora, não sabia muito sobre ela. Marie foi diagnosticada com um tumor cerebral em 2002. Apesar de ter sido operada com sucesso, a sua saúde nunca recuperou por completo. Nas últimas digressões ela passava os concertos quase todos sentada, num estado visivelmente fragilizado. Em 2016 finalmente deu-se por vencida e reformou-se as digressões.
É possível que Marie estivesse em sofrimento nesta reta final, que o seu estado de saúde se degradasse cada vez mais a partir de agora. Talvez tenha sido melhor assim.
É também triste porque Bryan é apenas um ano mais novo. Nunca teve problemas graves de saúde e, mesmo que a idade se vá notando aqui e ali, ainda não dá sinais de abrandar. Ele diz que é a dieta vegan, mas acho que será sobretudo sorte: conta mais do que se pensa.
Já tinha referido num texto anterior que a música Listen to Your Heart me ajudou a definir o meu gosto musical em miúda. Durante algum tempo foi a única música dos Roxette que ouvia com alguma regularidade. Mais tarde (para aí há dez anos) houve uma altura em que andei obcecada com Sleeping in My Car. Com o passar dos anos, aliás, sobretudo desde que comecei a usar o Spotify, fui continuando a acrescentar canções deles às minhas playlists. Ainda hoje o faço.
Muitas dessas músicas estão dentro do estilo de Listen to Your Heart: baladas rock no feminino, emotivas mas confiantes, com personalidade. Fading Like a Flower e Spending My Time são provavelmente as minhas preferidas. Almost Unreal é uma descoberta mais recente e tenho andado um bocadinho viciada.
It Must Have Been Love, o maior êxito dos Roxette, também se encaixa nesse estilo. Está entre as minhas preferidas mas, como tenho andado a explorar outras músicas, tenho-lhe dado menos atenção ultimamente – porque já a conheço bem. Continua a ser uma excelente canção, como escrevem neste artigo. Eu destacaria o piano nesta canção, sobretudo o solo antes dos últimos refrões, em tom mais agudo.
Por outro lado, este ano tenho encontrado músicas dos Roxette que fogem um pouco ao rock mas que não são em nada inferiores às demais. Já conhecia Wish I Could Fly, embora não soubesse que era deles – havia uma altura há muitos anos (quando eu tinha treze ou catorze? Mais tarde?) em que a apanhava várias vezes na rádio. Breathe e Queen of Rain são agradavelmente atmosféricas, com letras a condizer.
Depois, temos músicas sem ser baladas, mais alegres e divertidas. Como referi acima, conheço Sleeping in My Car há muito tempo, embora me tenha cansado um bocadinho dela. Também gosto de Joyride (uma das mágoas da minha vida é não conseguir replicar os assobios) e sobretudo de The Look, ambas com vocais de Per Gessle. Confesso que a maior parte das canções de que gosto dos Roxette são cantadas a solo por Marie, mas os dois fazem uma dupla fixe.
Bem… faziam.
Ainda estou em modo de exploração, na verdade. E vou continuar. Vou continuar a adicionar músicas dos Roxette à fila, se gostar adiciono-as às minhas playlists. Talvez um dia compre um dos CDs: Look Sharp! ou Crash! Boom! Bang! Mesmo que Marie já não esteja entre nós, a musica dela está. E pelo menos da minha parte o legado dela não sofrerá de falta de apreciação.
Existem outros exemplos de pop rock/soft rock no feminino que tenho ouvido nos últimos anos, em particular no passado, se bem que menos que os Roxette. Pat Benatar é um desses casos, bem como Blondie – dá para ver que estes últimos são uma influência importante dos Paramore.
Por outro lado, os Cranberries também perderam a sua vocalista, Dolores O'Riordan, vai fazer dois anos daqui a dois dias. Tenho ouvido alguns singles deles, mas gosto muito de um cover de Zombie, dos Bad Wolves. Consta que o plano era Dolores contribuir com vocais para o cover. Infelizmente ela morreu antes de poder gravar. Os Bad Wolves acabaram por gravar o cover à mesma e lançá-lo como homenagem à cantora – os lucros reverteram para os seus filhos.
A meu ver, a versão dos Bad Wolves ganhou personalidade própria. Não apenas pela instrumentação mais pesada e atualizações da letra (como por exemplo “It’s the same old theme in 2018”), mas também porque a dor pela perda de Dolores acabou por se entretecer na música, dando-lhe um carácter ainda mais melancólico. O videoclipe contribui ainda mais para esse efeito, como poderão ver abaixo.
Outra música marcante este ano e que podia também ser incluída nesta secção foi Holding Out For a Hero, de Bonnie Tyler… mas antes tenho de falar sobre outra.
Carry On & Holding Out for a Hero
Vou ser sincera, se as circunstâncias fossem outras, se por exemplo tivesse ouvido esta canção na rádio, esta teria entrado por um ouvido e saído por outro. Não sendo má, tem pouco que a distinga do resto da música mainstream dos últimos anos. Instrumentalmente, é uma espécie de pop tropical, disco tropical, com piano e sintetizadores, com um interregno musical mais ou menos dançante a seguir ao refrão – no caso desta música, uma sequência vagamente dançante com sintetizadores.
Existem canções neste estilo que exploram bem essa fórmula: Stay the Night, This One’s For You, Outside de Calvin Harris (gosto muito desta). Não acho que Carry On seja uma delas. Enquanto as melhores músicas neste estilo conseguem construir um crescendo, aumentando a excitação, culminando com o tal interregno musical, Carry On mantém-se sempre no mesmo nível, não atinge nenhum clímax.
Mesmo a letra em si não é nada de especial. Fala sobre amor e saudade, com algumas referências a praia e ao mar que lhe conferem características de música de verão. Pode referir-se a uma relação romântica, pode referir-se a uma relação platónica. Dá a ideia que a letra foi mantida vaga de propósito para que o ouvinte pudesse projetar os seus próprios significados nela. Sou a primeira a admitir que isso tem vantagens – passo a vida a fazê-lo, incluindo com esta canção – mas para um compositor e/ou letrista é o caminho mais fácil.
Como referi antes, se as circunstâncias fossem outras, Carry On ter-me-ia passado ao lado. No entanto, foi a música escolhida para os créditos do filme Pokémon: Detetive Pikachu. Agora, mesmo não tendo sido composta de propósito para este filme (consta que a primeira demo datava de setembro de 2016), faz parte do cânone da franquia – pelo menos na minha mente.
Um dia destes hei de escrever sobre este filme aqui no blogue. Posso adiantar desde já que gostei muito, mesmo não tendo sido perfeito.
A letra de Carry On podia ser aplicada à relação entre Tim e o Detetive Pikachu. Ainda assim, se me permitem, acho que se aplica ainda melhor a Digimon Tamers. Como disse antes, a letra fala em amor e saudade. As estâncias focam-se na saudade. No refrão, no entanto, o sujeito narrativo reconhece que o ser amado mudou a sua vida, ajudou-o a crescer, e promete seguir em frente por ele.
No fundo, Carry On é um resumo geral, ultra-simplificado, dos voicemails dos Treinadores para os seus Digimon, no CD DramaMessage in a Packet.
Tendo eu dedicado uma grande parte do meu ano a Tamers e tendo Detetive Pikachu sendo um filme tão marcante, não posso deixar de referir Carry On como uma das músicas de 2019. Mesmo que a canção em si não seja nada por aí além. Às vezes basta um pouco de sentimentalismo – e eu sou extremamente sentimental e lamechas – para elevar uma canção mediana a algo extraordinário.
Falemos agora de Holding Out for a Hero. Esta foi usada no segundo trailer de Detetive Pikachu – depois de Happy Together ter sido usada no primeiro. De início não compreendi a escolha das músicas – e não apreciei muito. Iam lançar um filme de Pokémon, uma franquia com uma forte componente musical, e em vez que usarem essas músicas, iam usar canções pop?
No entanto, depois de pesquisar, fiquei a compreender a lógica. Se formos a ver (ou melhor, a ouvir), as duas canções – Happy Together, dos Turtles, e Holding Out for a Hero, de Bonnie Tyler – partilham características com os dois principais temas da franquia. No início dos respetivos trailers, ouvem-se notas discretas desses temas.
Happy Together (uma música de que não gosto muito, confesso), usada no primeiro trailer, é muito parecida com o tema principal de Pokémon nos jogos – o tema que ouvimos em quase todos os ecrãs iniciais de quase todas as versões, com variantes, claro. No site TV Tropes alegam que o tema dos The Turtles terá influenciado a música de Pokémon. É possível, mas não encontrei nenhuma fonte que o confirmasse.
Por sua vez, Holding Out for a Hero terá sido escolhida pelas suas semelhanças com Gotta Catch'em All, o primeiro tema de abertura do anime. Ambos se caracterizam pelo piano (ou teclado?) em ritmo acelerado, que entusiasma, que funciona bem como banda sonora de cenas de ação.
Entre Happy Together e Holding Out for a Hero prefiro a segunda. Não apenas pelos méritos da canção, também porque… eu adoro Gotta Catch'em All. Gosto do tema dos jogos tanto quanto qualquer fã da franquia mas para mim, por muitos defeitos que o anime tenha, o primeiro tema de abertura será sempre a música de Pokémon. Se a oiço quando não estou à espera, derreto como manteiga. Aconteceu neste filme – ouvir o Ryan Reynolds cantando-o a chorar é uma das várias cenas do filme que, por si só, valem o preço do bilhete. Aconteceu com dois dos trailers para Let’s Go – num usaram a versão inglesa, noutro usaram a versão portuguesa. Uma jogada suja porque… resulta.
Holding Out For a Hero fica, agora, associada a dois filmes de que gosto. Detetive Pikachu e Shrek 2: pela célebre cena a que serve de banda sonora.
Por muito que goste da versão original, tenho de admitir que a versão de Shrek 2, interpretada de forma soberba por Jennifer Saunders, é melhor. A instrumentação é mais moderna, com variações para acompanhar os eventos no ecrã. Além de ser uma combinação única de dancemusic com elementos orquestrais.
Suponho que tenha de falar do elefante na sala: a mensagem obsoleta e pouco feminista da canção. Não me incomoda muito. Quando a oiço, gosto de imaginar um videoclipe irónico, mostrando mulheres tomando conta de si mesmas, em diametral oposição à letra. Ou entanto, pura e simplesmente, pessoas salvando-se umas às outras.
Voltaremos a falar sobre Detetive Pikachu em breve, como referi acima. Prossigamos.
Carly Rae Jepsen
Como poderão ler no texto correspondente do ano passado, Carly Rae Jepsen, cantautora canadiana, foi uma artista marcante para mim em 2018. Sobretudo por causa do álbum Emotion, a edição padrão, faixas extra e o EP Side B, lançado um ano mais tarde. Como tal, estava interessada no seu álbum novo Dedicated, lançado em maio de 2019.
Antes de mais nada, devo confessar que demorei alguns meses a dar a atenção devida a Dedicated. Como já referi aqui no blogue, muitas vezes só consigo ouvir um álbum como deve ser sob a forma de CD, no meu carro. Só comprei Dedicated perto do fim do ano.
Uma das coisas que me chateou foi o facto de Party for One não fazer parte da edição padrão do álbum – a que comprei em CD. Já com Emotion deixaram várias músicas excelentes de fora… mas este foi o primeiro single. Qual é a lógica? Obrigar toda a gente a compar a versão Deluxe?
Ainda preciso de passar mais algum tempo com Dedicated, mas, nesta altura, posso desde já adiantar que gosto da maior parte das músicas. Now That I Found You, Happy Not Knowing, The Sound (gosto muito do pré-refrão), I Want You In My Room (ameninada, engraçada, com um saxofone que me recorda Let’s Get Lost).
Too Much tem uma letra interessante – acho que todos conhecemos alguém assim, incapaz de meio termo, de moderação, que leva tudo ao extremo. A própria Carly, então, já admitiu ser uma romântica incurável. É possível que seja daquelas pessoas que, quando se apaixona, deixa-se levar pelas suas emoções – o que pode levar a que se magoe a si mesma ou a que assuste os demais.
A minha preferida até agora, no entanto, é Real Love. A sonoridade é semelhante à dance pop dos dias de hoje. Ao contrário de Carry On, no entanto, Real Love executa a fórmula com mestria. Um crescendo constante desde as estâncias, passando pelo pré-refrão, culminando com o último verso do refrão e o interregno dançante.
Mas aquilo que destaca Real Love das demais é a sua letra. Real Love exprime o desejo de encontrar amor num mundo cada vez mais degradado, numa altura em que parece que estamos todos em guerra constante uns com os outros (sobretudo na Internet), em que a apatia e a indiferença são uma tentação cada vez mais forte. Deseja-se amor verdadeiro, mesmo que não se saiba ao certo o que isso é.
No fundo, é Lesson Learned por outras palavras e noutro estilo musical. Com a diferenca de que na música de My Indigo já se tem amor. Em Real Love ainda se está à procura.
Falemos agora dos aspetos de que menos gosto em Dedicated. Os vocais artificiais em várias canções irritam-me – bem como os apitos e algumas escolhas de instrumentos. A sonoridade em geral é um bocadinho homogénea demais para o meu gosto.
Além de que todas as canções são sobre relações amorosas. Mesmo Party For One, que procura celebrar a solidão, começa como uma “break up song”. É certo que a larga maioria de Emotion também é assim, mas sempre tinha algumas exceções, como Boy Problems, L.A. Hallucinations e, até certo ponto, Making the Most of the Night (que também podia ser aplicada a uma amizade).
Aliás, tenho de dizer que numa ocasião, ao fim de algum tempo com Dedicated, fiquei com vontade de ouvir Emotion. Como disse antes, é possível que Dedicated suba na minha consideração no futuro, mas duvido que ultrapasse o seu antecessor. Dedicated pura e simplesmente fica atrás de Emotion.
Para sermos justos, era muito difícil ser melhor.
Pergunto-me se Dedicated terá um side B este ano, como Emotion teve. Aparentemente está nos planos de Carly, se bem que não necessariamente nos mesmos moldes do de Emotion. Afinal, Carly terá composto umas duzentas músicas durante os trabalhos para este álbum. Só estas quinze é que merecem ser ouvidas? Duvido.
Esperemos para ver.
E pronto, foi assim 2019 em música para mim. Existem outras canções e/ou artistas que ouvia com regularidade. Não acho que justifiquem uma secção, mas não queria deixar de mencioná-los.
Billie Eilish foi um dos fenómenos deste ano. Há uns meses pus-me a ouvir o álbum dela no Spotify. À primeira não gostei assim muito – só agora é que me estou a habituar ao estilo musical – mas Bury a Friend ficou-me logo na cabeça. Sobretudo a frase que dá título ao álbum “When we all fall asleep, where do we go?”. Também gosto de Bad Guy. Hei de ouvir mais músicas dela.
Por outro lado, nos últimos anos tenho andado interessada na música de António Variações. O filme inspirado na vida dele, que saiu no verão passado, reforçou esse interesse. A Canção do Engate é para mim uma das melhores da música portuguesa. Por outro lado, tive uns dias em que andei absolutamente viciada em Anjinho da Guarda. “Ele não, não usa aaaarmaaa… Ele não, não usa a foooorçaaa…”
Tenho também andado a explorar um bocadinho mais a discografia de Mika, sobretudo os seus dois últimos álbuns – o mais recente lançado este ano. Por fim, os Coldplay lançaram Everyday Life em novembro, mas preciso ainda de passar algum tempo com o álbum. Talvez escreva sobre ele – num texto independente ou no da música de 2020.
Como mudámos não apenas de ano como de ano como de década, muita gente tem aproveitado para fazer retrospetivas dos anos 10. Para mim não faz muito sentido. Uma década é demasiado tempo, muitas coisas acontecem, de bom e de mau. Gostos e opiniões mudam, alguns deles de forma radical. Tirando coisas muito gerais, é muito difícil encontrar aspetos que se tenham mantido consistentes ao longo de dez anos.
Suponho que possa referir os álbuns que mais me marcaram esta década (ainda que, lá está, estas opiniões não estejam gravadas em pedra): os dois que os Paramore lançaram, em 2013 e 2017, os dois álbuns de Lorde (sobretudo o segundo), Living Things dos Linkin Park, Post Traumatic de Mike Shinoda. Menções honrosas seria Goodbye Lullaby de Avril Lavigne, The Unforgiving e Hydra, dos Within Temptation, Bare Bones de Bryan Adams, My Indigo, Emotion, de Carly Rae Jepsen.
Em relação a 2020, teremos o projeto a solo de Hayley Williams, Petals For Armor. A primeira música (ou músicas? Ou o álbum ou EP inteiros?) sairá já este mês, no dia 22 – falaremos sobre isso na altura.
Tirando isso, e possivelmente o side B de Dedicated, não há nada de concreto planeado para sair este ano. Lorde tinha um álbum quase pronto no ano passado, mas entretanto morreu-lhe o cão que adotara no ano anterior. Pearl, que é como se chamava o bichinho, mudara a vida de Ella para melhor, como ela descreve na mensagem que escreveu: “Pearl trouxe uma quantidade imensurável de alegria e propósito para o meu mundo. Amor vibrava à nossa volta. Sentia a minha vida a crescer, inchando de saúde, esta esfera de satisfação brilhando à minha volta, de Pearl, da nossa família”. Supostamente, o seu terceiro álbum refletiria esse estado de espírito.
No entanto, com a perda de Pearl, isso mudou. Não sou capaz de censurá-la por precisar de tempo para, como ela diz, recalibrar antes de trabalhar no seu álbum novo – quando eu mesma tenho a minha Jane. Eu, aliás, andava contente por Lorde ter "seguido" o meu conselho e arranjado um cão e um gato, como revelara uns meses antes. Ninguém merece…
*breve pausa para festinhas à Jane*
Assim sendo, a haver álbum este ano, deverá ser mais para o fim. Não me importo de esperar. Se estiver ao nível dos anteriores, até se espera uma década, como a própria Lorde referiu uma vez.
Muito obrigada por terem acompanhado este blogue durante mais um ano. Vou agora tentar despachar os vários textos que tenho atraso, tanto aqui como no meu outro estaminé. Deixo-vos uma playlistcom as músicas que se comentaram aqui, bem como as músicas que mais toquei no Spotify este ano (não são um espelho muito muito rigoroso, aviso desde já). A próxima publicação será, provavelmente, a análise a Petals For Armor, o que quer que isso seja – se forem mais do que três ou quatro músicas, devo demorar um bocadinho ainda. Continuem por aí!
Segunda parte do meu balanço musical de 2018. Podem ler a primeira parte aqui. Até agora, a crónica tem sido um pouco mixórdia de temáticas, mas as secções seguintes falarão apenas de um artista ou banda (embora a segunda fale tanto de uma banda como do trabalho a solo de um dos membros). O primeiro item será uma estreia absoluta neste blogue. Deem, assim, as boas-vindas a...
Carly Rae Jepsen
Conheci Carly Rae Jepsen ao mesmo tempo que quase toda a gente: em 2012, quando o mundo inteiro andava obcecado com Call Me Maybe. Ainda hoje gosto da música. A letra é um bocadinho totó, mas isso faz parte do apelo. Além de que a melodia é irresistível. No que toca a músicas virais, esta é das melhores – até porque saiu num ano em que tivemos de levar com Gangham Style…
Quado Carly lançou o seu álbum, Emotion, três anos mais tarde, não teve o mesmo hype. Alguns dos singles geraram algum buzz, mas o seu impacto não se comparou ao de Call Me Maybe. As críticas, no entanto, foram positivas (houve quem chamasse a Emotion o “1989 de 2015”). Um YouTuber que sigo há uns anos, aliás, teceu rasgados elogios ao álbum Emotion, na altura.
Teimosa como sou, só há pouco mais de um ano é que resolvi espreitá-lo no Spotify. Já na altura gostei e acrescentei várias faixas às minhas playlists. Mesmo assim, foi só este ano, depois de comprar o álbum em CD é que me rendi a sério a Emotion. Não digo que goste de todas as músicas deste projeto, mas quando gosto, gosto mesmo muito.
O primeiro single, I Really Like You parece ter sido criado para recriar o fenómeno Call Me Maybe. A letra cai em territórios parecidos. Tom Hanks e Justin Bieber até foram recrutados para o videoclipe. A música não teve o mesmo impacto de Call Me Maybe, mas na minha opinião é melhor: um tudo nada mais cativante e com um melhor desempenho vocal.
A faixa-título Emotion é também irresistível – ainda que com uma letra inesperadamente mazinha (não no sentido de mal escrita, a narradora é que é mazinha). Por sua vez, All That é uma balada que parece saidinha dos anos 80.
Making the Most of the Night é uma música de que, de início, me esquecia um pouco, perdida entre tantas músicas giras. No entanto, quando a ouvia, censurava-me por não lhe dar mais atenção. Adoro a maneira como começa num tom mais grave, acelerando e abrandando, até finalmente entrar em crescendo até ao refrão.
Estas são apenas algumas de várias boas músicas da edição padrão do álbum. Foi esta que comprei em CD, para ouvir no carro, logo, conheço-a um pouco melhor que as faixas extra. Emotion tem uma data de b-sides, várias das quais foram lançadas num EP, chamado Emotion side B, no ano seguinte. Consta que foram compostas à volta de 250 canções nos trabalhos para Emotion (e que a editora fez uma confusão enorme no lançamento deste álbum). De qualquer forma, encontram-se várias pérolas entre estas faixas extra.
Uma delas é Love Again, que faz parte da edição japonesa. Confesso que só me apercebi desta há relativamente pouco tempo, mas tenho andado obcecada pelo seu refrão, cheio de luz.
Quem foi o idiota que deixou esta música de fora do Spotify? Não, não! Quem foi o idiota que deixou esta música de fora da edição padrão do álbum. O que a editora fez com Emotion devia dar direito a cadeia!
Dizia eu que há quem ache que o side B é ainda melhor que a edição padrão de Emotion. Eu não vou a esse ponto, mas está definitivamente ao mesmo nível – com músicas como Cry, Store e First Time. As minhas preferidas são Higher – com uma melodia que, de facto, nos leva aos céus – e Roses – uma balada lindíssima, romântica e um tudo nada sensual. Aquela terceira estância é uma obra de arte.
Deixei a minha preferida para o fim: Run Away With Me, a música que abre a edição padrão de Emotion. Eu nunca me apaixonei a sério, mas quer-me parecer que Run Away With Me é a tradução musical de cair de amores (se não for, ficarei desiludida). Desde as notas iniciais de saxofone, passando pela melodia irresistível, o refrão explosivo, terminando nos vocais em coro. Andei semanas viciada e dá para vê-lo – foi a segunda mais tocada no meu Spotify.
A letra não é nada do outro mundo, mas cumpre o seu papel. Fala de uma escapadela romântica, de fugir a tudo para estar com a pessoa amada. Está longe de ser um tema super original, eu sei, mas, mais do que na letra, a força da música está na emoção genuína com que Carly a interpreta.
Run Away With Me tem, assim, todos os elementos que atraem na música de Carly Rae Jepsen. Aliás, as músicas de Emotion – tanto a edição padrão como as múltiplas faixas extra – representam o meu ideal de música pop: bem interpretada, com melodias cativantes. As letras não precisam de ser muito muito boas ou profundas (aliás, se tenho alguma falha a apontar à música de Emotion é o facto de, em certos momentos, parecer algo impessoal), desde que não sejam completamente ocas. Desde que sejam minimamente sentidas.
Estes elementos, aliás, também estão presentes nas músicas de que falei na secção anterior, especialmente no synth pop dos anos 80 e nas músicas dos ABBA.
Por tudo isto, é um crime que Carly Rae Jepsen não receba mais atenção – quando a música mainstream de hoje em dia é tão medíocre que os Grammys tiveram de nomear músicas como The Middle e Girls Like You.
Consta que Carly se prepara para lançar o sucessor a Emotion em 2019. Não sei muito sobre este álbum, apenas que Carly terá composto à volta de oitenta músicas para este projeto (estou a ver que esta não sofre de bloqueio criativo), que terá influências disco e que o primeiro single é Party For One. É uma música gira e tem um toque pessoal que as músicas de Emotion não parecem ter – segundo Carly, a música foi inspirada numa noite que teve, pouco após uma separação. Se o resto do álbum for parecido, não me queixo.
Fico então a aguardar esse álbum. Ainda não sei se escreverei sobre ele aqui no blogue, mas, depois de Emotion, estou definitivamente curiosa.
Depois de, até agora, termos falado de músicas mais de fora do nicho habitual deste blogue, o resto da crónica será um pouco mais conservador. Começando por…
My Indigo & Within Temptation
Já tinha referido My Indigo, o side project de Sharon den Alden dos Within Temptation, de passagem, no balanço musical do ano passado. O álbum saiu em abril e não desiludiu. Foi mais um exemplo de música com influência dos anos 80 – desta feita, à mistura com folk e alguns elementos orquestrais, parecidos com os que encontramos na música dos Within Temptation. Mais do que isso, é um álbum emotivo, real, com um toque agradável de melancolia – para uma audiência mais velha que a da música mais mainstream.
Confesso que é o género de música de que tenho precisado nos últimos dois anos.
Não me vou alongar muito, pois quero escrever uma análise a este álbum a curto/médio prazo. De qualquer forma, My Indigo permitiu a Sharon curar o seu bloqueio criativo e ganhar inspiração para o novo álbum dos Within Temptation. Este chamar-se-á Resist e será lançado a 1 de fevereiro.
Duas semanas antes do álbum novo da Avril Lavigne, Head Above Water. É um aspeto curioso em que reparei há pouco tempo: desde 2004, tanto a Avril como os Within Temptation têm lançado os seus álbuns de estúdio quase ao mesmo tempo. Under My Skin e The Silent Force saíram em 2004. The Best Damn Thing e The Heart of Everything saíram em 2007 com pouco mais de um mês de intervalo (e, além disso, rimam!). Goodbye Lullaby e The Unforgiving saíram em 2011 com pouco mais de duas semanas de intervalo. O álbum homónimo de Avril e o Hydra saíram com pouco menos de três meses de intervalo em finais de 2013, início de 2014.
Isto deve ser apenas uma coincidência, creio eu (se alguém tiver provas em contrário, avise-me). É possível que existam outros artistas ou bandas que lancem música ao mesmo tempo. Em todo o caso, eu acho piada.
Os Within Temptation já partilharam umas quantas canções de Resist, mas a única que oiço com alguma regularidade é o primeiro avanço, The Reckoning. É uma boa música – gosto em particular na sequência que parece uma espécie de trompa de guerra eletrónica. Também gosto da participação de Jacoby Shaddix, dos Papa Roach.
Não quis ouvir as outras músicas, tirando uma vez ou duas. Tal como tenho referido nos últimos tempos, não gosto de ouvir um álbum às prestações, antes do lançamento oficial.
Uma palavra que tem sido usada para descrever o conceito de Resist é “futurista”. Segundo a banda, o álbum foi inspirado pela atualidade cada vez mais digital e as consequências para a humanidade. Aquilo que temos visto em termos de estética do álbum e dos videoclipes, aliás, dão a ideia de um futuro distópico, talvez mesmo cyber punk.
Faz sentido. Os álbuns até The Heart of Everything foram inspirados por fantasia épica/medieval. The Unforgiving inspirou-se em fantasia urbana (Hydra foi menos conceptual). O passo lógico seguinte, de facto, é o futuro, o distópico, a ficção científica.
Fico contente, pois sempre gostei desta faceta dos Within Temptation – embora tenha de admitir que, nos últimos tempos, prefiro música mais… “real”, menos fantasiosa.
Enfim. Pode ser que me ajude quando decidir voltar a escrever ficção.
São, assim, dois álbuns novos por que esperar em fevereiro. Não vou falar sobre Avril Lavigne e o álbum Head Above Water neste texto, pois já falei muito sobre ele há pouco tempo.
Na verdade, só vou falar sobre mais um artista nesta crónica. Nada mais nada menos que…
Mike Shinoda
A era do álbum Post Traumatic durou o ano todo (acho que ainda nem sequer acabou). Começou a 25 de janeiro, com o lançamento do EP com as três primeiras músicas. Foi continuando ao longo do primeiro semestre, com o lançamento de vários singles até à publicação do álbum completo. Mesmo depois, Mike continuou a lançar singles e videoclipes. A título pessoal, foi durante os últimos meses do ano, enquanto trabalhava na análise, que passei mais tempo com Post Traumatic.
E agora, em dezembro, Mike lançou o vinil de Post Traumatic, com duas canções inéditas, Prove You Wrong e What the Words Meant.
Em termos musicais, se Over Again e Ghosts se juntassem e tivessem um filho, esse seria Prove You Wrong. É conduzida pelo piano e algumas das melodias lembram Ghosts. Ao mesmo tempo, possuir várias semelhanças com Over Again: é cantada maioritariamente em rap, a segunda parte é cantada num tom mais agudo, denotando raiva e os últimos refrões surgem acompanhados de guitarras e vocais que, em certos momentos, parecem a voz de Chester.
Em termos de letra, Prove You Wrong está ali num intermédio entre Crossing a Line e Make It Up As I Go. É menos esperançoso e luminoso que o primeiro. É movido a determinação, como o segundo, mas o tom é menos sombrio.
Como já tínhamos visto com várias canções de Post Traumatic, Mike está à procura de um caminho para a sua vida, de um novo normal, depois de o antigo normal ter morrido, com o Chester. O rapper anda à procura de encorajamento, de votos de confiança, da parte dos demais, mas ninguém parece acreditar a sério nele. Assim, Mike decide cerrar os dentes e levar os seus planos a cabo, só mesmo para calar os céticos.
Eu perguntou-me quem eram essas pessoas que não acreditavam em Mike. Não estou a ver, por exemplo, a esposa dele, a família próxima, os colegas dos Linkin Park ou mesmo os fãs a duvidarem das capacidades de Mike – pelo contrário, Mike revelou que, ainda no rescaldo imediato da morte do Chester, pessoas na Internet suplicavam-lhe que não deixasse de fazer música.
Tudo isto leva-me a pensar que os destinatários de Prove You Wrong serão os seus próprios demónios, as suas inseguranças personificadas. As vozes que Mike diz que já não consegue ouvir em Can’t Hear You Now.
Acho que Prove You Wrong é a minha preferida das duas músicas novas, no entanto, What the Words Meant não fica muito atrás na minha consideração. É, aliás, uma música fascinante.
A sonoridade de What the Words Meant é grave e algo melancólica. De uma maneira estranha, a parte depois do segundo refrão lembra-me Midnight, dos Coldplay.
Segundo Mike, a letra de What the Words Meant foi inspirada por uma conversa que teve com uma artista musical (ele não revelou o nome dela). Mike gostara muito de um certo álbum dela e perguntou-lhe acerca dos assuntos das canções. Ela respondeu-lhe que eram sobre a morte da sua irmã. Ao saber disso, Mike nunca mais ouviu essas músicas da mesma maneira – até porque ele tivera uma perda semelhante.
Não estando, nem de longe nem de perto, a comparar a dor de Mike com a minha, esta é uma letra com que qualquer fã dos Linkin Park se pode identificar pós julho de 2017.
Conforme veremos quando voltar a escrever sobre a música da banda, depois do que aconteceu ao Chester, pelo menos metade da discografia dos Linkin Park (e também dos Dead by Sunrise) soa a pedidos de ajuda e/ou bilhetes de suicídio. Antes, se calhar, não levávamos muito a sério ou achávamos que, entretanto, ele tinha resolvido essas questões (sou culpada de ambos os casos, sobretudo do segundo). Agora sabemos que não era exagero, que não era uma personagem que Chester estava a representar. Era tudo real e, no fim, ele não conseguiu ultrapassar nada daquilo.
Como diz Mike nesta música, quem me dera não ter descoberto a verdade. Muito menos desta forma.
É uma pena que estas músicas não tenham sido incluídas na edição padrão do álbum. Mas compreendo porque não foram. Como vimos acima, Prove You Wrong é demasiada parecida com outras músicas do álbum e a letra é um pouco redundante. Por sua vez, What the Words Meant foge um bocadinho ao conceito principal de Post Traumatic. Além de que a edição padrão já conta com dezasseis faixas – e eu não excluiria nenhuma delas a favor de Prove You Wrong e What the Words Meant.
Enfim.
Nós – os fãs, Mike e os outros membros dos Linkin Park – temos passado o último ano e meio tentando habituar-nos a um mundo sem Chester. De maneiras diferentes, a ritmos diferentes, com graus de sucesso diferentes, é certo. Mas consola-me, de uma maneira estranha, saber que estamos todos no mesmo barco.
No que diz respeito a mim, não tenho estado mal. Não digo que não volte a ir-me abaixo, sobretudo quando os restantes membros dos Linkin Park tomarem uma decisão em relação ao futuro da banda. Mas acho que a pior parte já passou.
Quero acreditar que o mesmo se passa com Mike e os outros. Que eles encontraram alguma paz de espírito, um novo normal.
Tal como referi na análise ao álbum, a música que encerra Post Traumatic, Can’t Hear You Now, descreve bem o meu estado de espírito na maioria de 2018 e neste momento. Não apenas no que toca a Chester, mas no que toca à vida em geral. Sinto-me melhor que no fim de 2017, ainda que mantenha muitas das minhas inseguranças. Acho que estou no caminho certo – quero ver o que vem a seguir.
O futuro dos Linkin Park enquanto banda continua uma incógnita. Os membros que restam têm dado a entender que querem, um dia, voltar a fazer música juntos – apenas não sabem quanto.
Pessoalmente, não sei o que quero. Não sei se quero que voltem só os cinco, se quero que arranjem outro vocalista, se quero que continuem sob outro nome. Estou sempre a mudar de opinião. Nesta fase, prefiro deixar a bola do lado deles, não ter nenhuma opinião. O Mike, o Phoenix e os outros que decidam o que quiserem, quando quiserem. Quando derem esse passo, eu lidarei com isso.
E foi isto o meu ano musical. Em baixo está uma playlist com todas as músicas de que falámos aqui e mais algumas.
2018 foi um ano um bocadinho menos interessante que 2017, mas também 2017 não foi interessante pelos melhores motivos. Sinto, aliás, que 2018 foi o ano em que os músicos do meu “nicho” começaram a recuperar dos anos difíceis que tiveram – que tivemos todos. O Mike lançou música a solo. A Avril está de volta ao mundo da música, após a sua doença. Sharon e os Within Temptation também estão de volta após um período de bloqueio. Os Paramore encerraram a era After Laughter e parecem mais felizes que quando a começaram.
Talvez estejamos todos, finalmente, a dar a volta por cima.
Temos uns quantos álbuns por que esperar em 2019. Já falámos sobre os dos Within Temptation e da Avril.
Quem, pelos vistos, também se prepara para lançar um álbum novo é Bryan Adams. Não se sabe muito sobre ele, ainda – apenas que se chamará Shine A Light, que o primeiro avanço terá o mesmo nome, que Bryan filmou o videoclipe há cerca de duas semanas e que terá uma digressão no Reino Unido em 2019.
Confesso que não contava com esta. Depois de ter esperado sete anos e meio por um álbum novo após 11, em 2008, não estava habituada a esperar apenas três ou quatro anos pelo sucessor a Get Up.
Quando é que eu me tornei uma mulher tão paciente?
É possível que Shine a Light inclua uma digressão que passe por Portugal. Talvez já em 2019, talvez só em 2020. Mais uma vez, não passou assim tanto tempo depois da última vez. No entanto, se ele voltar, vou tentar ir. Depois do que aconteceu ao Chester, não quero desperdiçar nenhuma oportunidade. Já foi suficientemente mau não ter conseguido ir ao Porto ver a Lorde, em junho último.
Para além destes três, há outros álbuns que me interessam a caminho, ou que se especulam que possam estar a caminho em 2019. Já referi o de Carly Rae Jepsen, mas também poderemos ter álbuns dos Sum 41, dos Coldplay, de Mika. Na altura, decido se escrevo sobre eles ou não.
No que toca a este blogue, 2018 não foi um ano muito fácil. Por causa do meu emprego novo, tenho tido muito menos tempo para escrever. Houve alturas em que não foi fácil gerir. Infelizmente, isso não deverá mudar em 2019.
Ao mesmo tempo, apesar de ter tido menos tempo, apesar de, demasiadas vezes, ter estado semanas e semanas sem conseguir publicar, quando consegui, foram textos de que me orgulho. Os textos de Pokémon através das gerações, por exemplo, deram imenso trabalho, mas valeram a pena – oh, se valeram. Outros textos que destaco são a última análise a Tri, as análises a Head Above Water e a Post Traumatic.
Este foi também um ano em que recebi bastante feedback aqui no meu blogue. Falo dos comentários do Fernando e do Miguel, mas também aqueles que recebi no grupo Comunidade Portuguesa de Pokémon e Digimon PT. Vocês sabem que eu não dependo de validação externa no que toca à minha escrita. Mas há dias em que ajuda. Há dias em que ajuda mesmo muito. Estou muito grata.
Espero, então, conseguir manter este nível em 2019: produzir textos de que me orgulhe, mesmo que demorem.
Obrigada, então, por tudo o que fizeram por mim e pelo meu blogue em 2018. Que tenham um 2019 muito feliz, com saúde (mas não muita muita, porque senão fico sem emprego), dias bons, momentos bons, boa música, bons filmes, bons jogos, muitos Pokémon Shinies, enfim, tudo de bom. Continuem desse lado!