A banda canadiana Simple Plan comemorou recentemente o décimo aniversário do lançamento do seu primeiro álbum “No Pads, No Helmets… Just Balls”. Já conheço a banda há alguns anos. Ainda me lembro de ouvir Welcome To My Life pela primeira vez em 2005 ou 2006, num anúncio de um automóvel cuja marca não recordo (alguém se lembra desse anúncio?). Músicas como essa, When I’m Gone, Crazy (nunca me esquecerei de quando o meu pai disse que esta música podia ser o hino do Partido Comunista…), Grow Up, já fazem parte da minha playlist há alguns anos. Finalmente, há alguns meses, ouvi a discografia da banda, excetuando o último álbum.
A sonoridade da banda é um pop punk rock que se tem mantido mais ou menos homogéneo ao longo da carreira deles. Na verdade, assemelha-se bastante ao som de Avril Lavigne (a minha cantora preferida. Um dia destes escreverei uma entrada só sobre ela). No outro dia, quando estávamos a ouvir o Get Your Heart On no carro, o meu pai perguntou-me se a Avril Lavigne tinha andado a tomar esteroides porque estava a cantar com voz de homem… Achei graça pois eu própria considero os Simple Plan como uma versão masculina da Avril, pelo menos nalguns aspetos: são canadianos, surgiram mais ou menos ao mesmo tempo (acho que chegaram a abrir alguns concertos para ela), têm sonoridade semelhante e abordam temas parecidos.
É precisamente sobre a temática das músicas dos Simple Plan que quero falar agora. Os primeiros dois álbuns são muito adolescentes. Há quem fale de Let Go - o primeiro álbum de Avril Lavigne - como um álbum adolescente, mas o No Pads, No Helmets… Just Balls e o Still Not Getting Any vão ainda mais longe no que toca a situações com que praticamente toda a gente lida nesta fase da vida: dúvidas existenciais, fases tipo ninguém-gosta-de-mim ou ninguém-me-compreende, vontade de fugir aos problemas, à rotina, solidão, desentendimentos com os pais, rebeldia, limitações à individualidade e, claro, amor: paixões, saudade, desgostos.
O terceiro álbum dos Simple Plan, lançado quando eles já eram mais velhos, não é tão adolescente mas as temáticas acabam por ser as mesmas, tirando apenas uns pozinhos aqui e ali. E o mais recente álbum deles, Get Your Heart On!, lançado em Junho do ano passado, acaba por ser mais do mesmo, nesse aspeto. Anywhere Else But Here recicla o conceito de músicas como Jump e Welcome To My Life. Músicas como You Suck At Love e Freaking Me Out recordam músicas como Addicted e Your Love is A Lie. Can’t Get My Hands Off You relembra I’d Do Anything e Promise. Last One Standing lembra Me Against The World.
O pior é que, quando eles procuram inovar, a coisa não resulta. Falo de Summer Paradise, a faixa em que eles fazem um dueto com o K’naan. Algo mais para o folk, mas que não tem muito a ver com os Simple Plan, na minha opinião. Ou então, sou eu que, pura e simplesmente, não gosto da música…
No entanto, este álbum não deixa de ter músicas interessantes. Começarei por Jet Lag, segundo singe, que foi a que conheci primeiro. Esta faixa foi gravada em dueto com Natasha Bedingfield. Também existe uma versão francesa com Marie-Mai. Jet Lag é capaz de ser a faixa mais contagiante que ouvi nos últimos tempos, muito animada, com uma melodia super cativante e letra engraçada, sobre quando o nosso amor se encontra noutro fuso horário. Adoro o verso “Tryin’ to figure out the time zone is making me crazy!”, antes do início do refrão: “You say Good Morning when it’s midnight…”.
O terceiro single é Astronaut, uma balada rock sobre solidão, que recorda I’m With You, de Avril Lavigne, mas que se torna única graças ao conceito do astronauta e das viagens espaciais (embora eu seja suspeita nessa matéria…).
Uma nota rápida só para dizer que Loser Of The Year, de letra e som clássicos dos Simple Plan, faz-me lembrar, no que toca ao seu conceito, dois temas de Bryan Adams: The Only Thing That Looks Good On Me Is You e All I Want Is You.
Outro destaque do álbum é a faixa Gone Too Soon. Esta é uma balada de luto, muito semelhante a Slipped Away - mais uma vez, de Avril Lavigne - no sentido em que também fala da morte de um ente querido que foi tão rápida, tão inesperada, que não houve tempo para despedidas. Só que, enquanto Slipped Away tem uma letra bastante simples, bastante crua, Gone Too Soon é bastante poética. Gosto imenso da imagem da estrela cadente e da estrela orientadora. Uma faixa linda e comovente.
Deixei para o fim aquela que, para mim, é a melhor faixa de Get Your Heart On, se não for a melhor de toda a discografia dos Simple Plan. Chama-se This Song Saved My Life e é uma autêntica carta de amor de um fã de música dirigida ao seu artista ou banda preferida. Fala da capacidade que a música, em geral, tem de servir de escape, de consolo, de fonte de força, em suma, fala de tudo o que a música tem de melhor. Para mim, recorda-me o efeito que a Avril Lavigne e a sua música têm tido na minha vida. Bem, não apenas ela, mas sobretudo ela. Para outra pessoa, pode recordar a música dos próprios Simple Plan, do Eminem, da Lady Gaga, do Justin Bieber… Dá-me a ideia que os Simple Plan copiaram frases de cartas que receberam dos fãs. Dá para destrinçar referências a músicas antigas deles : Perfect, Welcome To My Life, Shut Up… Talvez a ideia deles fosse homenagearem os seus fãs mas, no fim, conseguiram criar uma música única, linda, tocante, de mensagem universal. Recomendo-a vivamente.
Eu gostei deste álbum. Apesar de os Simple Plan terem repetido fórmulas, fizeram um bom álbum, com conteúdo, em vez de apenas um conjunto de faixas radiofónicas. É sempre de louvar o facto de não terem cedido ao sucesso fácil. Com Get Your Heart On, os Simple Plan fazem o que sempre têm feito ao longo desta última década: animam, dão voz à nossa raiva e rebeldia, comovem. Em suma, consolidaram-se como uma das minhas bandas preferidas e não me arrependo de ter comprado o CD (que, por sinal, foi caríssimo…).
Começo, desde já, por falar sobre o último CD que ouvi. Esta crítica já tinha sido publicada no Fórum Avril Portugal.
Os Linkin Park são há já vários anos uma das minhas bandas preferidas. Não só por, obviamente, gostar da música deles, mas também por causa do inesquecível concerto do Rock in Rio de 2008. Esse concerto, a química que conseguiram manter com o público - tal como voltou a acontecer no RiR de 2012 - fizeram com que me apaixonasse pela banda. Atrevo-me a dizer que é a minha banda preferida, mais porque, pelo carinho que demonstraram para com os fãs nestes concertos, simpatizo particularmente com os vocalistas Chester Bennington e Mike Shinoda - algo que não acontece, ou melhor, acontece em menor escala com outras bandas de que gosto: Sum 41, Paramore, Green Day, Within Temptation, Simple Plan...
O grupo californiano sempre teve um estilo único, muito claro nos seus dois primeiros álbuns, Hybrid Theory e Meteora. Agrada-me a mistura de rock alternativo, nu-metal (o que quer que isso seja...), rap e um ou outro elemento eletrónico - sobretudo porque eu não sou grande apreciadora de rap cru, só com batida, sem acompanhamento musical. Parece que isto é um processo que ocorre naturalmente na banda. Cada um mete os elementos de que gosta nas músicas, criando um som que não é possível rotular sem ser como "Linkin Park".
Não sou daqueles fãs mais hardcore, que conheceram a banda com Hybrid Theory e/ou Meteora, se agarraram àquele estilo e ofenderam-se quando os Linkin Park quiseram experimentar coisas diferentes. Já conhecia músicas como Breaking The Habbit e Numb antes de Minutes to Midnight mas foi com esse CD que me tornei fã. As minhas favoritas eram músicas como In The End, Numb, Leave Out All The Rest, demorei algum tempo a aprender a gostar das faixas mais pesadas, como Place For My Head e Faint. Por isso, não me tem incomodado tanto como, se calhar, tem incomodado outros fãs mais puritanos, eles explorarem outros estilos musicais. Eu, aliás, gosto de alguma variedade nestas coisas. Mas já lá vamos.
Os dois primeiros álbuns são bastante homogéneos, tornando-se um pouco repetitivos em certas alturas. A fórmula é quase sempre a mesma: guitarra elétrica, um ou outro elemento eletrónico, vocais de Chester Bennington, às vezes apimentados com os seus icónicos gritos, o rap de Mike Shinoda.
Em Minutes do Midnight nota-se alguma evolução. Algumas faixas repetem a velha fórmula, noutras há abertura a sons diferentes, a emoções diferentes. Como em Leave Out All The Rest. Em 2008, o Mike disse que achava que esta era a melhor faixa que eles haviam composto até à altura. Hoje, dois álbuns mais tarde, ainda acho que é uma das melhores deles.
A Thousand Suns é, na minha opinião, o álbum menos conseguido da banda. Percebe-se que eles queriam experimentar coisas novas, é de louvar essa atitude, e a sonoridade está de acordo com as tendências da altura. No entanto, neste, de alguma forma, perderam-se no processo. Tirando The Catalyst - abusa do auto-tune mas é incrivelmente contagiante - e Waiting For The End to come, as músicas são bastante insonsas. Não me interpretem mal, não são más mas não cativam verdadeiramente, não viciam, não têm alma.
Ora, Mike afirmou que Living Things, o mais recente álbum da banda, editado há poucas semanas, nunca teria sido concebido se não fosse cada um dos quatro álbuns anteriores, que o quinto disco assenta no passado dos Linkin Park e projeta-se para o futuro. É o que, de facto, acontece em Living Things: a sonoridade é atual, moderna, com elementos da música urbana, à semelhança de A Thousand Suns - com a diferença de que não são deixados de fora os elementos mais clássicos dos Linkin Park - guitarras elétricas pesadas, nu-metal, a antiga fórmula - nem as emoções de Minutes to Midnight. O resultado é um som poderoso e... espetacular. As músicas seguem-se umas às outras a uma velocidade vertiginosa. Quando damos por ela, o CD já acabou.
As três primeiras faixas do disco são um bom exemplo desta nova sonoridade híbrida: teclados contagiantes, batidas poderosas, letras com a atitude in-your-face de músicas como Bleed It Out e New Divide, energia incrível.
Especificando, Lost in The Echo, que será o próximo single com direito a videoclipe, abre o CD de forma especular com aquela introdução contagiante, o rap enérgico de Mike, cheio de personalidade e, no final, a alternância entre os "Go" cantados e os "Go" gritados.
In My Remains lembra um pouco o material mais antigo da banda, embora também inclua elementos mais recentes. O terceiro verso que se prolonga até aos refrões finais está muito bem metido, dá vontade de nos juntarmos ao coro.
Burn It Down foi o primeiro single e tem estado, há várias semanas, entre as minhas músicas preferidas. Tal como as duas anteriores, tem batidas poderosas, atitude e energia à New Divide. A letra, à volta do conceito do fogo - recordando-me músicas como Iron, dos Within Temptation, e Into the Fire, de Bryan Adams - é particularmente interessante para mim, por causa dos meus livros. Sobretudo, porque refletirão muito bem um momento particular daquele que, em príncipio, será a sequela de "O Sobrevivente".
O álbum outras músicas mais pesadas, de que não gosto tanto. Tirando Victimized, abusaram um pouco do auto-tune e efeitos semelhantes. Until it Breaks, então, é a faixa de que menos gosto neste álbum - embora tenha gostado de ouvir os vocais de Brad, o guitarrista, pela primeira vez, o resto da música ficou demasiado aleatória, sem coesão. Por outro lado, Lies Greed Misery não me agradou à primeira vez, precisamente pelo auto-tune que considero desnecessário, mas, depois de ouvi-la algumas vezes, o refrão ficou-me preso na cabeça. Agora, dou por mim cantarolando: "I want to see you choke in your lies..."
Tem, por fim, algumas baladas, recordando um pouco Minutes to Midnight: Roads Untraveled, I'll Be Gone, Castle of Glass e Powerless, com letras excelentes e tons, em geral, melancólicos, recordando músicas como Shadow Of The Day e Leave Out All The Rest. A primeira tem uma espécie de sininhos irritantes mas, à parte isso, parece uma Iridiscent aperfeiçoada, uma mensagem de consolo. Em Castle of Glass, por seu lado, pede-se consolo. A própria música é, aliás, estranhamente reconfortante. I'll Be Gone e Powerless invocam um cenário pós-apocalíptico, dominam sentimentos de desilusão, de resignação.
Em suma, em Living things há um equilíbrio quase perfeito entre o que é clássico e o que é moderno no grupo oriundo da Califórnia. A sonoridade pode não ser a mesma mas não há dúvida que aquilo é Linkin Park. Os temas são os mesmos de sempre, muito emo: raiva, frustração, traição, busca por conforto, revolta, tormenta, mas também esperança. Fazem o mesmo que têm feito nos últimos doze anos: fornecem uma maneira saudável de gerir emoções negativas. No meu caso, o tom de desafio, combativo, de muito do seu material constitui, à semelhança dos Within Temptation e de algumas músicas dos Sum 41, a banda sonora perfeita para a minha escrita, para quando estou a trabalhar em cenas de ação, em que as minhas personagens estão em confronto direto com os maus da fita.
Não sei dizer qual destas faixas é a minha preferida. Talvez Burn it Down, pelos motivos que já mencionei, pelo impacto que me causou. No entanto, outras músicas, como, se calhar, Lost in the Echo, Castle of Glass e Powerless teriam efeitos semelhantes caso fossem o primeiro single. Diria que estas quatro são as melhores de Living Things mas é difícil escolher.
Espero agora que os Linkin Park regressem em breve a Portugal para um concerto em nome próprio, em que dê para ver a energia deste álbum transportada para o palco. Não me é difícil, aliás, imaginá-los a interpretar algumas destas músicas ao vivo. Mas gostava de vê-lo com os meus próprios olhos. Ou, pura e simplesmente, ser capaz de voltar a cantar as velhas músicas em coro com milhares de pessoas.
Isto é como diz a minha irmã: o Justin Bieber, a Lady Gaga, os One Direction, são todos muito bonitos e tal, são grandes fenómenos, mas não demorarão a serem substituídos por outras modas. Por outro lado, músicos como os Linkin Park, a Avril Lavigne, os Coldplay, entre outros, podem nem sempre ter tanta atenção mediática, mas manterão sempre uma legião significativa de fãs, sem precisarem de artificialismos. Continuarão a fazer música de qualidade durante mais vinte, trinta ou quarenta anos, crescerão connosco. Em suma, o primeiro grupo de músicos que mencionei serão de curta duração, os outros ainda têm vários anos de carreira pela frente. Depois, levaremos os nossos filhos aos concertos deles e contar-lhes-emos acerca daquela vez em que um tipo deixou o Chester numa posição difícil depois de lhe colocar um cachecol do F.C.Porto ao pescoço no concerto do Rock in Rio.