A última quinta-feira, 16 de abril, ficou marcada pelo lançamento de Fly, o mais recente single da cantautora canadiana Avril Lavigne.
A comunidade de fãs já sabia da existência da música há um tempo considerável. Fly foi composta em 2012, em colaboração com Chad Kroeger e David Hodges - terá sido aproximadamente na mesma altura em que nasceram várias faixas que, hoje, fazem parte do álbum Avril Lavigne: Let Me Go, Hush Hush, Bad Girl, Give You What You Like, Hello Kitty. Alguns destes títulos (Fly incluída, penso eu), na verdade, já tinham chegado aos fãs ainda nesse ano (acreditem, há pouco tempo dei com um tópico antigo do Fórum Avril Portugal), depois de terem sido registados em sites especializados. Eu na altura, não lhes dei muito crédito (títulos surgidos em circunstâncias semelhantes anteriormente nunca tinham sido confirmados e, além disso, quem no seu juízo perfeito comporia uma música chamada Hello Kitty?). Cerca de um ano mais tarde, em vésperas do lançamento de Avril Lavigne, Fly surgiu em possíveis tracklists para o quinto álbum. Avril chegou mesmo a referi-la em algumas entrevistas, dizendo que a compusera para ser o hino da sua Fundação (a Fundação Avril Lavigne, inaugurada em 2010, que trabalha essencialmente com crianças e jovens com doenças graves ou deficiências.
Logo nessa altura, eu calculei (à semelhança de muitos outros fãs), que Fly seria uma espécie de Keep Holding On 2.0, com toques de Black Star. Fly, no entanto, acabaria por ser excluída da tracklist final do álbum Avril Lavigne, à semelhança de outros títulos, igualmente divulgados. Calculo que, pelo menos no caso de FLy, estivessem à espera de uma ocasião especial para a lançar - como as Special Olympics deste verão.
Entretanto, depois de um 2014 fraquinho, no final de dezembro, a Avril revelou estar a debater-se com problemas de saúde. No início deste mês, numa entrevista à revista People, revelou que, durante quase um ano, sofreu de Doença de Lyme, uma infeção bacteriana provocada pela mordedura da carraça. Os sintomas são inespecíficos, assemelham-se a uma gripe má, o que dificulta o diagnóstico mas, se detectada a tempo e se medicada com antibióticos, passa ao fim de algumas semanas. No entanto, a Avril teve de passar por vários médicos, muitos dos quais não a levaram a sério, e chegou a estar cinco meses seguidos presa à cama, sem forças para desempenhar tarefas tão básicas como tomar duche. Chegou a pensar que estava a morrer. Felizmente agora está melhor (eu estou aliviada por não ser cancro...), mas foi um período difícil.
Neste contexto, a Avril revelou que a sua própria canção, Fly, a ajudou a sobreviver. Não apenas a mensagem da música em si, mas também a determinação da cantora em partilhá-la com os fãs (que, ainda por cima, foram impecáveis, fartaram-se de enviar mensagens de força sob várias formas : tweets, desenhos, vídeos...).
A verdade é que a música da Avril tem-nos salvo a vida há muitos anos, de várias maneiras. Para nós é emocionante a noção de que, agora, a Avril sabe exatamente o que isso é.
A single step becomes a leap of faith
Fly corresponde às expectativas. Conforme tinha dito antes, de uma maneira geral, a Avril é incapaz de falhar no que toca às chamadas "power balads" e não precisou de se esforçar muito para criar um hino inspirador para a sua Fundação e para os Special Olympics. Tal como seria de esperar, em termos de sonoridade, Fly assemelha-se a Keep Holding on e à b-side Won't Let You Go. Fly, no entanto, tem uma produção mais leve (terá sido a Avril a produzi-la sozinha, como fez com 4 Real e Goodbye?), é conduzida pelo piano (KHO tem mais guitarra acústica). Poucos mais instrumentos tem, destacando-se um adorável violino.
Numa entrevista recente, Avril admitiu que, inicialmente, pensara numa produção mais pop - provavelmente ao estilo de Hello Heartache, talvez quando a ideia ainda era incluí-la no quinto álbum. Não me custa imaginar e acho que também resultaria. No entanto, acabou por considerar esta produção mais simples - fazendo lembrar Goodbye Lullaby - mais adequada, destacando mais a voz. Uma boa aposta, que os vocais nesta música estão excelentes. Por outro lado, regra geral, uma orquestra dá sempre um carácter épico e inspirador a qualquer música.
Na verdade, o único defeito que encontro nesta música é o facto de ser curta (só dura três minutos, quando as baladas da Avril costumam durar à volta dos quatro). Eu queria ouvir mais daquele violino. É possível que esta seja uma versão mais curta (vi a indicação "misturada para o iTunes" nalgum sítio...).
A letra de Fly é sólida, sem ser nada de muito original. Avril recicla conceitos de Breakaway (é praticamente a mesma mensagem, com a diferença de que Breakaway fala da experiência pessoal da cantora, enquanto Fly é um apelo a terceiros) e também a mensagem do seu primeiro perfume, Black Star (que também inspirou o nome da comunidade de fãs. Se formos a ver, isto está tudo ligado...). É uma mensagem de esperança, de estímulo à luta pelos sonhos. Na verdade, a letra de Fly recorda-me, um pouco, Last Hope dos Paramore, na medida em que defende que basta dar o primeiro passo para começarmos a voar.
O videoclipe para Fly saiu no mesmo dia que o single - algo que, tanto quanto me lembro, para a Avril, é inédito. De uma forma igualmente previsível, o vídeo alterna imagens dos atletas das Special Olympics, bem como da Avril fazendo o trabalho da sua Fundação, com imagens da Avril interpretando a música - fazendo também um shout-out para o álbum The Best Damn Thing, que por esta altura faz oito anos de publicação (mais sobre isso em breve...).
Em suma, Fly não surpreende, mas isso não é uma coisa má. No que toca à Avril, o previsível está sempre muito acima da média. Tendo em conta as circunstâncias, destacando-se o facto de Fly ser uma sobra do quinto álbum (que, conforme assinalei antes, não impressiona pelo arrojo), não estava à espera de uma grande evolução. Fly não compete com as melhores baladas de Avril, mas cumpre muito bem o seu papel e apresenta potencial para tocar os corações de muitos fãs. É uma boa adição à discografia da cantautora.
Contudo, parece que não ficamos por aqui. A Avril revelou também que, no início do ano, compôs uma canção sobre a sua luta com a Doença de Lyme. Também tornou a falar de um possível álbum de Natal, dando a entender que é desta que vai levar a ideia para a frente. Parece, então, que vamos ter mais Avril este ano, o que é ótimo.
Também teremos mais Avril aqui no blogue, nos próximos tempos. Continuem desse lado.
Terceira parte da crítica de Avril Lavigne. Partes anteriores AQUI e AQUI. Chegámos ao top 5 deste álbum. Por ordem...
Bad Girl
"Just lay your head in daddy's lap"
Sendo este o dueto com Marilyn Manson, este título era, natural, um dos que mais curiosidade, e mesmo algum receio, despertava. Agora que já conhecemos Bad Girl, posso dizer que, de uma maneira geral, fomos todos apanhados de surpresa pela positiva.
Eu estava mais ou menos à espera deste género de letra e sonoridade, mas não estava à espera que a música fosse tão contagiante nem que a voz de Manson combinasse tão bem. A distorção dos vocais tornam a voz de Avril quase irreconhecível mas reforçam o tom lânguido, condizente com a letra atrevida. Nesse aspeto, contudo, prefiro o refrão, em que a voz da Avril surge sem efeitos e com agudos impressionantes. É a faixa mais rock de todo o álbum, sem deixar de ser dançante. Faz pensar em roupa de cabedal e meias de rede. Há quem compare esta música a Taylor Momsen, de The Pretty Reckless - não a conheço, por isso, não posso concordar nem discordar. A mim, contudo, recorda-me Joan Jett. De qualquer forma, conforme já disse acima, a participação de Marilyn Manson não soa forçada, combina perfeitamente com o estilo da música. Por fim, um destaque positivo para a conclusão, com a gargalhada de Avril e as últimas palavras ofegantes de Manson.
Give You What You Like
"I've got a brand new cure for lonely"
Numa entrevista recente, Avril revelou que esta canção nasceu daquilo que era para ser a terceira estância de Bad Girl mas que ela, Chad e, provavelmente, David Hodges, decidiram transformar numa música independente. De facto, Give You What You Like repete o carácter erótico de Bad Girl, embora o faça de uma forma menos ostensiva. Tocada e cantada num tom grave e intimista, condizente com o tema da canção - recordando-me, de certa forma, In the Darkness, de Dead By Sunrise - conduzida pela guitarra acústica, acompanhada pela bateria suave e uma discreta linha de baixo, a que se junta o piano, mistura erotismo com romance e alguma vulnerabilidade. Tenho lido comparações com Lana Del Rey - concordo, apesar de não a conhecer tão bem. É das poucas deste álbum em que se nota algum amadurecimento e evolução sendo, também, uma das melhor produzidas.
Falling Fast
"I never knew I needed you Like a sad song needs a sea of lighters" Da primeira vez que ouvi Falling Fast, o início recordou-me uma canção de Rui Veloso, "Nunca Me Esqueci de Ti" Falling Fast foi composta a solo pela Avril, provavelmente sobre o início do seu relacionamento com Chad. A produção - a guitarra acústica, os vocais incrivelmente suaves - recordam-me 4 Real e Tomorrow. Quanto à letra, nada de especial a assinalar, não diferem muito das habituais canções de amor da Avril. A interpretação dela, quase suspirada, conferindo um tom etéreo à canção, é verdadeiramente o maior pilar da música. Destaque para os "Oh" no fundo, na parte final.
17
"Hey, those days are long gone
But when I hear that song
It takes me back..."
Sem contar com os singles, esta era a música que conhecíamos há mais tempo deste álbum. Já tinha falado dela AQUI, quando ela a apresentou ao vivo pela primeira vez. Acho que, em vários aspetos, gosto mais dessa versão do que da de estúdio: esta última ficou um bocadinho eletrónica a mais (embora tenha vazado uma versão demo que era ainda pior). Além disso, na versão ao vivo, Avril cantou-a de uma forma mais doce, mais condizente com o espírito da canção. Também ajuda a ausência de auto-tune. À parte tudo isso, contudo, 17 é, tanto na minha opinião como na dos críticos, uma das melhores músicas deste álbum.
Coo se constata facilmente, Avril Lavigne é rico em músicas exaltando o espírito jovem, adolescente. 17 - que já foi apelidado de Teenage Dream de 2013 - é aquela que, na minha opinião, aborda o tema da melhor forma: contando uma história de amor juvenil, com o tom agridoce da nostalgia. Que, tal como já tinha mencionado na primeira crítica, me recorda músicas de Bryan Adams e - sendo esta uma descoberta recente - a música Kids in the Street dos All-American Rejects. Há que lembrar, também, que os dezassete anos da Avril foram uma idade marcante, já que foi nessa altura que lançou o seu primeiro álbum e toda a loucura começou. Ela referiu também, numa entrevista recente, que a parte das cervejas roubadas no parque de caravanas era algo que ela e o irmão costumavam fazer quando eram novos. Em suma, em termos de conceito, 17 é uma das melhores do álbum, se não a melhor.
Hush Hush
"So many questions, but I don't ask why"
Chegámos, finalmente, à minha música preferida de Avril Lavigne, o álbum. Não digo que seja a mais inovadora deste álbum - conduzida pelo piano, em termos de sonoridade é um pouco mais moderna do que as outras baladas da Avril mas, em termos de letra e conceito, é como se fosse uma Goodbye mais elaborada. Mais uma break up song, provavelmente sobre o fim da relação de dois anos com Brody Jenner. Além de que, neste álbum, é apenas a última faixa da tracklist, não tem o carácter de epílogo que Goodbye tem no quarto disco da cantautora canadiana. No entanto, Hush Hush é a mais emotiva de todo o álbum Avril Lavigne, arrebatadora ao ponto de partir o coração, de dar vontade de chorar, à semelhança de várias grandes baladas da cantora. Não é a primeira vez que Avril compõe baladas deste género, provavelmente não será a última mas, que diabo, a mulher sabe fazê-las! Se forem todas tão belas, tão arrebatadoras como esta, ela que esteja à vontade!
Continuamos a analisar o mais recente álbum de Avril Lavigne. Podem ler a primeira parte da crítica AQUI.
You Ain't Seen Nothing Yet
"Can't wait to see your superpowers"
Em Avril Lavigne, várias músicas têm um toque eletrónico, numas mais evidentes que noutras mas, em You Ain't Seen Nothing Yet, composta a solo por Avril, esta abraça o tradicional pop rock. Daqueles que faz pensar na música e nos filmes de Hillary Duff e Lindsay Lohan para a Disney, trazendo também ecos de Contagious e Runaway. A letra é engraçada, descrevendo o entusiasmo típico de um início de relação. Condiz com o tom adolescente do som, algo que soa estranho numa cantora de vinte e nove anos... mas eu gosto.
Let Me Go
"And two goodbyes led to this new life"
Este é o single mais recente do álbum. Sem que eu perceba bem porquê tem surgido nalgumas críticas coo a faixa mais fraca deste disco - não me admirava se tal fosse derivado do ódio de estimação que muitos devotam aos Nickelback.
Só tivemos de esperar uma semana após o lançamento do single para conhecermos o videoclipe de Let Me Go. O conceito recordou-me Memories, dos Within Temptation - o cenário clássico, de casa assombrada, a paleta de cores azuladas e sóbrias, tudo isso combina com o próprio conceito da canção, o seu tom gótico e misterioso. Inicialmente, as câmaras rápidas e algo tremidas faziam-me confusão mas agora vejo que combinam com as emoções conflituosas da faixa. O vídeo tem o ponto forte de suscitar interpretações variadas, sendo a mais correinte a de que Avril aqui é um fantasma, assombrando a casa onde vivera com Chad enquanto jovem. Este, envelhecido, assombrado pelas recordações, regressa à casa para reviver o tempo que passou com a amada. Na minha opinião, o objetivo do breve regresso ao passado é encerrar definitivamente esse capítulo dessa vida de modo a poder seguir em frente. Em todo o caso, o videoclipe fica na memória, não apenas pela emoção do conceito mas também pela extrema beleza da cantora neste vídeo.
Hello Heartache
"It's not the first time
But this one really hurts"
Pouco antes de as músicas de Avril Lavigne ficarem disponíveis para audição, correu o rumor de que Complete Me - um dos três instrumentais de supostas canções da Avril que apareceram na Internet durante o verão de 2011 - era, na verdade, o instrumental de Hello Heartache. Tal rumor confirmou-se parcialmente: o instrumental da Hello Heartache que aparece em Avril Lavigne é diferente mas, depois de um fã ter juntado essa versão com o instrumental conhecido com Complete Me dá para perceber que, na sua maior parte, a melodia é compatível com o instrumental que conhecemos há dois anos.
Podemos, então, deduzir com alguma certeza que Hello Heartache foi, inicialmente, composta para Goodbye Lullaby, mas ficou de fora da tracklist final, tendo sido remodelada aquando da composição de Avril Lavigne. E, de facto a letra de Hello Heartache recorda as break up songs de Goodbye Lullaby - sendo, provavelmente, também sobre o fim do primeiro casamento da cantora - enquanto que a sonoridade se assemelha a uma Here's to Never Growing Up mais melancólica. Penso que a remodelação foi uma boa ideia pois, apesar de gostar muito do instrumental Complete Me, este parece-se demasiado com músicas como My Happy Ending. Além de que este resultado final tem sido muito elogiado pelas críticas. E eu concordo.
No entanto, gostava de um dia ouvir a versão Complete Me desta música.
Bitchin' Summer
"Whiskey's got us singing like a choir"
Avril Lavigne é um álbum rico em músicas de verão, de festa, e Bitchin' Summer é a melhor delas todas. Não pela letra - que repete o espírito de Here's to Never Growing Up, reforçando mesmo o carácter adolescente - mas pela qualidade musical. Bitchin' Summer não comete o erro que a larga maioria das músicas mais pop da discografia da Avril comete ao se tornarem demasiado estridentes, demasiado agressivas. Ao apostar na guitarra acústica e na melodia suave, Bitchin' Summer torna-se uma música bem agradável ao ouvido, possuindo ainda um ritmo dançante do que faixas como Sippin' On Sunshine e Here's to Never Growing Up. Destaque, ainda, para o rap - mais uma vez, melhor conseguido que o de músicas como Girlfriend e The Best Damn Thing.
Bitchin' Summer podia perfeitamente ter sido um dos singles, no lugar de Here's t Never Growing Up ou Rock N Roll. É também aqui que se notam as consequências dos sucessivos adiamentos - estamos a ouvir uma música de início de férias de verão pela primeira vez em novembro! É apenas um exemplo de como este álbum é demasiado bom para a equipa de marketing por detrás dele...
Depois de muitas falsas partidas, não sei quantos adiamentos, o quinto álbum de Avril Lavigne, homónimo, é hoje, finalmente, editado. Depois de 9 de abril, 5 de novembro torna, novamente, a ser um dia marcante, não apenas por este álbum, mas também por ser o aniversário do meu cantor preferido e, também, por hoje ser lançado o videoclipe de Daydreaming, uma das músicas mais marcantes do último álbum dos Paramore. Quem precisa de Natal depois disto?
Regressando a "Avril Lavigne", eis, então, a crítica que ando a prometer desde... bem, praticamente desde que inaugurei aqui o blogue, altura em que já circulavam rumores sobre um quinto disco. Podem, portanto, ver há quanto tempo estamos à espera de "Avril Lavigne" - e, mesmo assim, esperámos bem mais por Goodbye Lullaby. Não é facil ser fã da Avril...
Bem, deixemos estas divagações de lado, passemos ao que interessa. Tal como já fiz com Paramore, falarei de cada música por ordem crescente de preferência (embora esta classificação seja provisória). Comecemos, então, por...
Hello Kitty
"Meow!"
O título da música devia ter-nos preparado para uma coisa destas mas não preparou: fomos todos apanhados de surpresa e não necessariamente pela positiva. Tal como já afirmei aqui no blogue, a Avril tinha dito que era uma faixa mais para o eletrónico - eu, contudo, não estava à espera que fosse completamente dubstep, algo que nunca esperei ouvir da Avril. Há um ou dois anos, teria reagido de maneira pior a esta faixa - no entanto, depois de Stay the Night e de A Light that Never Comes (AQUI), o dubstep não me choca tanto.
No entanto, mais do que a sonoridade, mais do que a interpretação que nos recorda Ke$ha - cantora que Avril já referiu como uma das suas preferências - é a letra que se destaca pela negativa. Do mais fútil que há, infantil, chegando a assumir contornos de fantasia lésbica. As palavras em japonês são atiradas ao calhas - a tradução é "vocês são o máximo" ("you rock"), "obrigado", "fofinho". Só mesmo para se dizer que ela cantou em japonês - e tanto isso como os leves ecos do K-Pop (é assim que se chama?) são uma clara piscadela de olho ao mercado oriental que tanto a adora.
Na verdade, ando a reagir da maneira como reagi ao lançamento de Girlfriend - inicialmente como choque, achando que ela se desviou demasiado do seu estilo habitual mas sem deixar de gostar da música. Um guilty pleasure, no fundo. Com Girlfriend, acabei por que habituar à música sem que esta se tornasse uma das minhas preferidas. E, para o melhor e para o pior, Girlfriend tornou-se o single de maior sucesso da Avril.
OK. I have an obsession.....HELLO KITTY.....I just can't get enough..... I just can't get enough! — Avril Lavigne (@AvrilLavigne) June 10, 2010
Hello Kitty tem, de facto, momentos engraçados. Até gosto do refrão: "Come come, kitty kitty, you're so pretty pretty". Tem a sua graça dizer, assim do nada, "Mina saiko, arigato! Ka-ka-ka-kawai!" E o "Meow!" atirado lá pelo meio parte tudo. Foi, também, hilariante ver as caras da minha irmã enquanto esta ouvia Hello Kitty pela primeira vez - ficando, segundo ela, traumatizada.
No entanto, ainda não sou capaz de cantar versos como: "Let's play truth or dare now, we can roll around in our underwear". Nem garanto que alguma vez seja. Tenho limites... por enquanto.
Here's to Never Growing Up
"Say, won't you say forever Stay, if you stay forever Hey, we can stay forever young"
Depois de ter ouvido o resto do quinto álbum, não concordo com a escolha de Here's to Never Growing Up para primeiro single - mais sobre isso à frente. Vejo, também, que o álbum tem várias músicas parecidas, tanto em termos de mensagem como de sonoridade. Destaque para o pós-refrão destas, em que o título da música é repetido, juntamente com "Hey!"'s ou "Oh!"'s ou outro monossílabo semelhante - um truque óbvio para prender as faixas ao ouvido e facilitar a adesão do público durante os concertos.
O videoclipe de Here's to Never Growing Up, ironicamente, apresenta, de certa forma, o mesmo ponto fraco que a faixa que apresenta: a ausência de novidade. As cenas da atuação no baile de finalistas não trazem nada de memorável. Cenas de destruição de todo o cenário estão mais do que batidas nos videoclipes da Avril: neste não possuem motivo aparente, não estão inseridas numa história de qualquer tipo e nem sequer vêm com um elemento cómico, como em Complicated. A edição do vídeo também desiludiu - sobretudo tendo em conta que Shane Drake, responsável por edições ótimas, como em Smile e Monster, participou na realização - com câmaras lentas mal executadas e que nem sequer são compatíveis com a música. O único aspeto positivo foi a Avril aparecer com o visual da era Let Go, emocionando muitos dos fãs mais antigos mas nem mesmo isso salva aquele que considero um dos vídeos mais fracos da sua carreira.
Sippin' On Sunshine
"Boy, you get me so high
Buzzing like a bee hive..."
Conduzida por notas permanentes de piano e linhas de baixo (ou de guitarra elétrica grave), Sippin' On Sunshine asemelha-se, em termos de sonoridade a Here's to Never Growing Up, tento também a já referida estrutura de refrão. Em termos de letra, é ao mesmo tempo uma música de verão e de amor - um hino de lua-de-mel, no fundo, talvez o hino da lua-de-mel Chavril, rica em vitamina D. À parte isso, a faixa não desperta grande interesse.
Rock N Roll
"I am the motherfucking princess You still love it!"
Continuo a gostar imenso de Rock N Roll. Mesmo sendo uma Smile 2.0, com a mesma estrutura de Here's to Never Growing Up e letra também bastante similar, continua a ser uma faixa incrivelmente contagiante, mais contagiante que o primeiro single deste álbum.
O videoclipe acerta precisamente naquilo em que o vídeo de Here's to Never Growing Up falha: em vez de mais do mesmo, temos um videoclipe diferente de tudo o que Avril tinha feito até ao mmomento, sem se deixar de notar o seu toque. Sob o formato de banda desenhada animada, temos uma história de ação e comédia, pós-apocalíptica, em que Avril é uma heroína de ação - confesso que desejava vê-la representando um papel destes há algum tempo. Com Billy Zane e Danica McKellar como convidados especiais, com referências várias à cultura pop, incluindo a The Wonder Years, série que deu a fama a Danica, o vídeo tem enredo suficiente para fazer algum sentido mas que, claramente, não se leva demasiado a sério. Como resultado, temos um videoclipe inesquecível, pelos melhores motivos.
Referir também que o bearshark/tubaurso, vilão neste video, está em vias de tornar-se a nova mascote da Avril.
Já se calculava que Let Me Go, o dueto de Avril Lavigne e Chad Kroeger - vocalista dos Nickelback e, agora, marido da cantora - seriam o terceiro single do seu álbum homónimo. Também se sabia que era possível que este single fosse lançado mais ou menos nesta altura, ainda antes do CD. No entanto, fomos todos apanhados de surpresa quando, quase sem aviso, Let Me Go foi lançada como single na passada segunda-feira.
"And two goodbyes led to this new life"
Composta por Avril, Chad e David Hodges dos Evanescence, Let Me Go é uma balada, conduzida pelo piano, acompanhada por violinos, sempre muito evidentes, bateria e, em certos momentos, uma batida muito discreta, só distinguível com headphones, que me faz lembrar uma pulsação. O tom melancólico, algo gótico, faz lembrar o álbum Under My Skin, músicas como Together. No entanto, as comparações mais gritantes são mesmo baladas dos Nickelback: músicas como Hero e Savin' Me. Let Me Go acaba, até, por ter algumas semelhanças com o cover que a Avril gravou de How You Remind Me. Não que isto constitua surpresa. Conforme já afirmei aqui, era expectável. E, tal como calculei, este lado dos Nickelback é compatível com o estilo da Avril.
A participação de Chad nos vocais e a sua provável influência na composição dão a Let Me Go aquilo que falta a Here's to Never Growing Up e Rock N Roll: o fator novidade. As vozes de Avril e Chad soam bem juntas - no entanto, fiquei um bocadinho desapontada com o facto de o Chad apenas cantar os vocais de apoio (ou backvocals) no refrão. Acho que haveria maior impacto caso ambos tivessem cantado os vocais principais em coro, se a voz do Chad tivesse tido maior destaque, em particular nos "Oh..." após os refrões. O "it's too late" do final da segunda estância ficou demasiado prolongado, devia ter sido cantado da mesma maneira como o primeiro foi. Por outro lado, a Avril fez coisas diferentes com a sua voz. Temos como exemplo os "Don't let me go, don't let me go" no final do último refrão e o arrepiante "Love's never too late" - esse, sim, merecia ser esticado ou, pelo menos, ter sido seguido de um "Oh" que se prolongasse pelo refrão. A parte final da música, o "outro" instrumental, está talvez um pouco longo de mais, mas confere uma aura de mistério à música e os vocais desvanecidos combina com a imagem dos ecos, na letra.
Esta foi a primeira canção em que a Avril e o Chad colaboraram - tanto vocalmente como em termos de composição. Segundo os mesmos, inicialmente Let Me Go era apenas sobre uma separação. Só que, entretanto, apaixonaram-se, ficaram noivos, não faria muito sentido lançarem um feat sobre o término de um relacionamento. Logo, alteraram a música de modo a incluir uma reconciliação. Acabou por ser uma boa ideia, na minha opinião, pois músicas de rompimento são o que não falta na discografia da Avril. A história de Let Me Go fica, assim, mais interessante. Há quem diga que cada um dos cantores fala de relações passadas e depois, na parte final, falam da relação um com o outro. É uma interpretação possível. Eu, no entanto, prefiro interpretar a música como a história de um relacionamento que precisava de uma rotura temporária, para que cada uma das partes resolvesse os seus problemas de modo a poderem começar de novo. De qualquer forma, à parte a história, em termos de qualidade de letra, não se pode falar de uma evolução significativa - o conceito das recordações de que é necessário abdicar já é recorrente, com destaque para a música My Happy Ending.
Estou particularmente curiosa em relação ao videoclipe de Let Me Go. Ando a torcer para que não façam um vídeo estilo Nickelback - geralmente os vídeos deles são protagonizados por atores contratados, a banda limita-se a aparecer interpretando a música. Se fizerem isso com Let Me Go, os fãs atiram-se ao ar, eu incluída. Estamos todos à espera de momentos Chavril. Eu, aliás, imagino um vídeo num cenário semelhante àquele onde se casaram e onde fizeram uma sessão fotográfica para a revista italiana Glamour.
Não fiquei desiludida com este primeiro feat original da Avril mas não posso dizer que este me tenha arrebatado, como aconteceu noutros lançamentos de músicas, quer da Avril quer de outros. Let Me Go é um single mais interessante, mais inovador do que os que o precederam e já ando a cantá-lo por aí mas não faz mais do que isso. Quero ver se o álbum Avril Lavigne terá músicas ainda melhores, por que me apaixone a sério. Posso também estar a ficar demasiado exigente... Em todo o caso, Let Me Go ajuda-nos a ligar com a síndrome de privação de músicas novas, consequente destes adiamentos todos do quinto disco da cantora. Faltam, agora, vinte e seis dias do lançamento oficial e já conhecemos as quatro músicas - venham as restantes!