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Álbum de Testamentos

"Como é possível alguém ter tanta palavra?" – Ivo dos Hybrid Theory PT

Livros Opostos


Vi neste blogue uma série de perguntas intitulada Livros Opostos, uma TAG, como diz a autora do blogue, que já vinha de vídeos do YouTube mas a que ela respondeu por escrito por, tal como eu, preferir expressar-se através desse meio. Achei graça às perguntas dessa série pelo que decidi respondê-las também, aqui no Álbum. Estas vêm em português do Brasil, pelo que vou adaptá-las ao português de Portugal. Assim, a primeira pergunta é...

1) Qual foi o primeiro livro da tua coleção e qual foi o último que compraste?

Não me lembro do meu primeiro livro visto que vivi sempre rodeada deles, quer livros infantis, quer os policiais da minha mãe. O primeiro livro "a sério" que me lembro de ler é o "Rosa, Minha Irmã Rosa", de Alice Vieira.

O último que comprei foi o "A Chama de Sevenwaters", de Juliet Marillier.

2) Um livro por que pagaste pouco e outro por que pagaste muito.

Lembro-me de ter comprado o livro "Abre os Olhos, Alex!", de Kate Andrews, por pouco mais de três euros, faz agora uma década. Era um daqueles livros para pré-adolescentes que agora não me diz nada mas de que, na altura, gostei muito.

Por outro lado, lembro-me de pagar à volta de vinte euros por "Herança", de Christopher Paolini (falo sobre esse livro e respetiva coleção AQUI).

3) Um livro com protagonista homem e um com protagonista mulher.

Com protagonista homem, temos "A Cidade dos Deuses Selvagens", de Isabel Allende que, na verdade, é o primeiro de uma triologia da qual fazem parte, também, "O Reino do Dragão de Ouro" e "O Bosque dos Pigmeus".

Com protagonista mulher, indico "A Filha da Floresta", o primeiro e o meu preferido dos livros da série Sevenwaters que conta, até agora, seis títulos, cada um deles protagonizado por uma personagem feminina forte, embora de uma forma diferente das protagonistas anteriores.

4) Um livro que leste depressa e outro que leste devagar.

Tenho vários exemplos de leituras rápidas. Uma das mais recentes (embora tenha sido há mais de um ano, já) diz respeito a "Os Jogos da Fome", de Suzanne Collins - li para aí numa noite e numa tarde.

Para leitura lenta, indico "Nómada", de Stephenie Meyer. O livro é enorme e não é o género de histórias que nos façam virar as páginas febrilmente. Levei uma semana - o que, para mim, é muito, tendo em conta que estava de férias. (falo mais sobre esse livro AQUI).

5) Um livro com capa bonita e um com capa feia.

Todos os livros do Ciclo da Herança de Paolini têm belas capas. Uma das que gosto mais é a do primeiro, "Eragon".

Não gostei da capa da edição de "O Plano Infinito" de Isabel Allende que a minha mãe já tem há alguns anos e que li durante este verão.

6) Um livro português e um livro estrangeiro.

Para livro português, o melhor exemplo que encontro diz respeito a "Os Maias", de Eça de Queiroz.

Para livro internacional, escolho o meu preferido de Isabel Allende: "Zorro - O Começo da lenda"

7) Um livro mais fino e um mais grosso.

Um livro fino de que gosto muito ainda hoje é o "Felizmente Há Luar, de Luis de Sttau Monteiro - tendo em conta que é uma peça de teatro, não é de admirar que seja fino.

O primeiro livro grosso que me lembro de ler foi o "Harry Potter e a Ordem da Fénix". Era tão grande e a minha ansiedade tanta que andei com dores de cabeça enquanto o li. Lembro-me, também, de os jornais afirmarem que muitos jovens lendo o livro pela primeira vez andavam com sintomas semelhantes.

8) Um livro de ficção e um de não-ficção.

Para livro de ficção vou escolher "O Enigma das Cartas Anónimas" - apenas um entre os inúmeros policiais de Agatha Christie cujo estilo adoro.

O meu livro preferido de não-ficção é o "A Pátria Fomos Nós", de Afonso Melo (mais sobre esse livro AQUI).

9) Um livro meloso e um livro de ação.

O último livro meloso que li foi "Um Dia Perfeito", de Nora Roberts - de vez em quando, este tipo de leituras sabem bem, apesar de não ser nem de longe nem de perto o meu tipo de livros preferido.

Para livro de ação, indicarei "O Adversário Secreto", mais uma vez de Agatha Christie - ela devia ter escrito mais livros protagonizados por Tommy e Tuppence.

10) Um livro que te deixou feliz e um que te deixou triste.

Penso que todos ficámos felizes com o final de "Harry Potter e os Talismãs da Morte". 

Por outro lado, um dos que me deixou mais triste foi o livro "Goa ou o Guardião da Aurora", de Richard Zimmler. Uma pessoa acompanha o crescimento do protagonista, é natural que simpatize com ele. No meu caso, houve a agravante adicional de o associar ao Alex, a minha personagem principal. Não admira que tenha ficado de coração partido com a maneira como o livro acabou.



Se alguém quiser pegar, também, nesta TAG, não se esqueça de dar os respetivos créditos. E, já agora, coloque o link do texto ou vídeo nos comentários desta entrada. Boas leituras!

Músicas Ao Calhas - Nothing I've Ever Know

Alerta Spoiler: este texto contém revelações sobre o enredo do filme de animação Spirit: Stallion of the Cimmarron, bem como do livro A Herança, de Christopher Paolini, pelo que só é aconselhável lê-lo caso tenha esteja familiarizado com ambas as obras.



"I found myself somewhere I never thought I'd be"

Já anteriormente falei aqui no blogue do filme de animação Spirit, bem como da sua banda sonora. Hoje quero falar-vos de mais uma faixa dessa banda sonora, chamada Nothing I've Ever Know, uma música de amor. É uma faixa que conheço há quase onze anos, de que sempre gostei imenso, mas cujo significado só compreendi há menos de dois anos.

Em termos musicais, encaixa no resto da banda sonora do filme, se bem que possua as suas particularidades. É uma balada conduzida por notas de guitarra acústica, que funcionam quase como uma segunda voz. Até ao primeiro refrão, a música resume-se, praticamente, à voz e à guitarra. Por altura do refrão, aparecem acordes de guitarra acústica. No início da segunda estância, junta-se a bateria suave e o arranjo de violinos, inicialmente discretos, tornando-se mais intensos no segundo refrão, no auge emotivo. Tal como toda a banda sonora do filme, esta faixa é uma autêntica obra de arte musical.

A condizer com a beleza da música, está a sua letra. De uma maneira simples, esta conta a história de alguém que foi apanhado de surpresa pelo amor, que provavelmente está a lidar com ele pela primeira vez, e vê toda a sua vida, todo o seu ser, alterados por causa disso.

Tal como praticamente todas as músicas da banda sonora do filme, Nothing I've Ever Known descreve bem a situação de Spirit, o protagonista equino, num determinado momento da película. Praticamente desde que nascera, tudo o que Spirit amara e desejara fora a sua terra natal. Tudo o que fizera ao longo do filme, desde que fora capturado pelos colonizadores americanos, fora tentar, com todas as suas forças, regressar a casa. Nada mais lhe interessava. Só que, agora, estava a apaixonar-se por Rain, a égua do índio que o resgatara dos colonizadores - o que, pela primeira vez, lhe dava um motivo para ficar. A narração de Matt Damn resume bem a situação de Spirit, aliás: "Pela primeira vez na minha vida, o meu coração estava dividido."

No final do filme, após uma série de peripécias, Rain opta por ir viver com Spirit, na terra natal deste - um final feliz para a história mas deve ter sido também difícil para a égua deixar para trás o seu lar e o seu dono por amor.

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Existe outra história ficcional a que Nothing I've Ever Known se pode aplicar, de que já falei aqui no blogue - a história de Murtagh e Nasuada do livro A Herança, de Christopher Paolini. Já falei nesta entrada sobre o papel que esta história de amor teve no desenlace da saga - quero desenvolver esse assunto um pouco mais. Murtagh habituara-se, desde criança, a proteger a sua própria vida a todo o custo contra um mundo que sempre o usara ou desprezara, em que muito poucas pessoas se importavam verdadeiramente com ele. Murtagh colocava-se sempre a si mesmo em primeiro lugar (e, mais tarde, o seu dragão) pois tudo o que alguma vez possuíra na vida era ele mesmo.

Tudo isso muda quando se apaixona por Nasuada, prisioneira de Galbatorix. Tal afeição dá-lhe, pela primeira vez na sua vida, um motivo para se sacrificar, para pôr as necessidades de outros acima das suas. Isto altera-o de tal forma que o liberta da escravidão de Galbatorix, permitindo-lhe fazer o correto.

Já tive casos de personagens surpreendidas e alteradas pelo amor em histórias minhas e, agora, ando a desenvolver uma história semelhante no meu quarto livro. Neste caso, a personagem em questão também se altera ao apaixonar-se mas não se sentirá tão dividido pois, apesar de inicialmente não saber lidar com ele, perceberá depressa que o amor o tornará uma pessoa melhor.

Tal como ficou aqui demonstrado, o amor pode ser assim, violento ao ponto de nos fazer rever as nossas convicções, de nos sujeitarmos a coisas que, se calhar, antes consideraríamos impensáveis. É por isso que, apesar de durante muito tempo ter desejado apaixonar-me a sério, tal como toda a gente deseja, hoje tenho algum receio de que isso aconteça. É certo que tenho explorado paixões dessas na minha escrita, que estas histórias de que falei têm, à sua maneira, finais felizes. Mas, na vida real, o que acontece quando fazemos coisas apenas por amor e, depois, o romance acaba ou a paixão arrefece?



Passando à frente dessa questão, é engraçada a maneira como as músicas vão ganhando novos significados com o tempo, tal como aconteceu com Nothing I've Ever Known. É algo que me acontece com alguma frequência, sobretudo desde que tenho aqui o Álbum. Existem mesmo casos de músicas que continuam a ganhar novos significados, mesmo depois de eu ter escrito sobre elas, ao ponto de ter vontade de reescrever essas entradas. Tal como existem casos em que passo a gostar ainda mais das músicas depois de as ter esmiuçado aqui no blogue.

O pior é que, quase um ano depois de Músicas Ao Calhas, começo a ficar sem ideias. É por isso que não tenho escrito tão frequentemente aqui no blogue. Por isso e porque, neste momento, ando concentrada na escrita do meu quarto livro. No entanto, não devo ficar demasiado tempo sem escrever aqui para o Álbum visto que se aproxima música nova. Podem, por isso, continuar por aí...

O Ciclo da Herança

AVISO: Esta entrada inclui informações relevantes sobre o enredo dos livros pelo que só é aconselhável lê-lo caso já os tenha lido.
 

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Esta série de livros foi-me apresentada pelo meu irmão há já uma boa meia dúzia de anos ou mais. Julgo que foi em 2004, 2005, que ele comprou "Eragon", o primeiro livro e "Eldest" depois de ser editado. No entanto, não foi ele quem me convenceu a ler os livros. Foi Avril Lavigne. Desculpa, mano...

 

 

O livro "Eragon" foi adaptado ao cinema e o resultado esteve em exibição em finais de 2006. A cantora canadiana - que se encontrava naquela altura a gravar o seu terceiro álbum de originais - foi convidada para compor e interpretar um tema para o filme. Avril chegou a criar duas ou três músicas para o efeito - no ano passado chegou a aparecer na Internet uma faixa chamada Won't Let You Go que, pelas semelhanças com o tema utilizado nos créditos no filme, se suspeita ter sido composta com o mesmo objetivo. Por alguma razão, Keep Holding On foi a escolhida.
 
Keep Holding On é mais conhecida como uma balada sobre amizade mas, para mim, é mais do que isso. Mais do que sobre apenas companheirismo, penso que a música fala sobretudo sobre união, transmissão de coragem, resistência perante adversidades, tudo isto com um cheirinho a épico. Daí que a mensagem se aplique, não apenas o filme "Eragon" e ao próprio Ciclo da Herança, mas também a outras obras de ficção: Harry Potter, o Senhor dos Anéis, mais recentemente os Jogos da Fome e, sobretudo, às histórias que eu escrevia na altura, que serviram de base a "O Sobrevivente". Daí que depressa a faixa se tenha tornado especial para mim, que tenha incluído a citação "With you by my side I will fight and defend". Esse carácter universal da música é, na minha opinião, o seu maior ponto forte.

 
Quando vi o filme pela primeira vez não tinha, portanto, ainda lido o livro em que se baseara. Por isso, até não desgostei, se bem que se assemelhasse a outras produções inspiradas em O Senhor dos Anéis, como por exemplo As Crónicas de Nárnia. Contudo, lembro-me de o meu irmão me segredar, não deviam ter ainda passado quinze minutos desde o início do filme, que este não prestava.
 
E, realmente, quando se compara o livro com o filme, é óbvio que foi uma adaptação muito mal feita. Simplificaram demasiado a história de tal forma que inviabilizaram logo a adaptação do segundo livro. É uma pena que tal tenha acontecido. Mas falarei melhor sobre isso mais à frente.
 
 
Quando Eragon encontra uma pedra azul polida na floresta, acredita que poderá ser uma descoberta bendita para um simples rapaz do campo: talvez sirva para comprar carne para manter a família durante o Inverno. Mas quando descobre que a pedra transporta uma cria de dragão, Eragon depressa se apercebe de que está perante um legado tão antigo como o próprio Império.

De um dia para o outro, a sua vida muda radicalmente, e ele é atirado para um perigoso mundo novo de destino, de magia e de poder. Empunhando apenas uma espada legendária e levando os conselhos dum velho contador de histórias como guia, Eragon e o jovem dragão terão de se aventurar por terras perigosas e enfrentar inimigos obscuros, dum Império governado por um rei cuja maldade não conhece fronteiras.Conseguirá Eragon alcançar a glória dos lendários heróis da Ordem dos Cavaleiros do Dragão? O destino do Império pode estar nas suas mãos...
Christopher Paolini planeou a série quando tinha quinze anos, se não me engano. Inicialmente, tencionava criar uma trilogia mas, quando começou a trabalhar no terceiro volume, decidiu esticar a série para um ciclo de quatro livros. Grande fã de fantasia, a sua ideia inicial era criar uma história que reunisse os seus elementos preferidos sem, contudo, pretensões de ser publicada. É assim que muitos escritores jovens dão os seus primeiros passos. Eu, por exemplo, quando era pequena escrevia histórias com o Bugs Bunny e/ou o Rato Mickey e afins e, mais tarde, com o Pokémon. Meros exercícios de escrita mas, sem eles, dificilmente teria escrito livros "a sério". No entanto, Paolini acabou por decidir publicar "Eragon", o primeiro livro da série. A obra acabou por ser um sucesso a nível planetário, mesmo utilizando conceitos emprestados.

"Eragon" é capaz de ser, dos quatro, o livro que se lê mais facilmente, por ter mais ação, por quase todo o livro contribuir para o avanço da história, enquanto os outros três possuem frequentes passagens mais "paradas", digamos. A tensão é maior por o protagonista se encontrar sobre ameaça quase permanente, por, durante uma boa parte do enredo, não perceber o que acontece em seu redor, por ainda ser relativamente imaturo, sobretudo nas capacidades que começa a desenvolver, acabando, como uma das personagens chega a assinalar "por obrigar toda a gente a protegê-lo".

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A narrativa de Eldest começa três dias após a cruel batalha travada por Eragon para libertar o Império das forças do mal. Agora, o Cavaleiro de Dragões se vê envolvido em novas e emocionantes aventuras. Em busca de um tal Togira Ikonoka – "O Imperfeito que é Perfeito" –, que supostamente possui as respostas para todas as suas perguntas, Eragon parte, junto com Saphira, o dragão azul que o acompanha desde o início da aventura, para Ellesméra, a terra onde vivem os elfos. Lá, eles pretendem aprender os segredos da magia, da esgrima e aperfeiçoar o seu domínio da língua antiga.

Em sua jornada, que também é uma caminhada para a maturidade, Eragon conhece seres e lugares diferentes e se apaixona por Arya, filha da rainha Islanzdaí. Mas também descobre que nem tudo é o que parece. Conflitos e traições aguardam o jovem herói e por um longo tempo ele não tem certeza em quem pode confiar. Os desafios de Eragon são entremeados pela luta de Roran, cuja importância aumentou em relação ao primeiro livro, formando narrativas paralelas que se juntam no fim com um único objetivo: derrotar o grande rei.

Mais maduro e preparado, Eragon consegue afastar o exército inimigo por algum tempo. A vitória definitiva, no entanto, só acontece depois da revelação de um grande segredo, que fará com que Eragon e Roran se unam novamente e decidam partir para uma nova e perigosa missão, que parece ser o ponto de partida do terceiro livro: salvar a noiva de Roran, Katrina, dos Ra’zac.
Enquanto "Eragon" se focaliza exclusivamente na personagem principal, homónima, em "Eldest", a história é-nos contada também na perspetiva de Roran - primo de Eragon - e Nasuada - neste livro, eleita líder dos Varden, uma organização de resistência ao regime totalitário de Galbatorix. E ainda bem que assim é, uma vez que a situação de Eragon é bem menos interessante do que no primeiro livro, agora que já não se encontra em perseguição/fuga quase permanente. A tensão, neste livro, acaba por se centrar em Roran, perseguido pelo Império sem saber porquê, acabando por ser obrigado a fugir, juntamente com a população da sua aldeia natal, de modo a salvar as vidas deles todos, e a resgatar Katrina, a sua noiva.

No entanto, aquelas passagens mais monótonas de que falei acima, mais irrelevantes do ponto de vista da ação, não deixam de ser interessantes pelas reflexões que a própria personagem principal é induzida a fazer, traçando paralelismos com a realidade. Abordarei este assunto mais exaustivamente mais à frente nesta entrada.


Em Brisingr, Eragon e seu dragão, Saphira, conseguiram sobreviver à batalha colossal na Campina Ardente contra os guerreiros do Império. No entanto, Cavaleiro e dragão ainda terão de se deparar com inúmeros desafios. Eragon se vê envolvido numa série de promessas que talvez não consiga cumprir, como o juramento a seu primo, Roran, de ajudá-lo a resgatar sua amada Katrina das garras de Galbatorix. Todavia, Eragon deve lealdade a outros também. Os Varden precisam desesperadamente de sua habilidade e força, assim como elfos e anões. Com a crescente inquietação dos rebeldes e a iminência da batalha, Eragon terá de fazer escolhas que o levarão a atravessar o Império, viajando muito além. Escolhas que poderão submetê-lo a sacrifícios inimagináveis? Conseguirá o jovem unir as forças rebeldes e derrotar o Império?
Este é, na minha opinião, o livro mais fraco do ciclo, por ser aquele que menos avança na ação, por ter demasiadas passagens monótonas - e nem todas têm a contrapartida de induzirem reflexões, algumas parecem estar lá apenas para encher chouriços. Tem os seus momentos, sem dúvida - o momento em que Eragon descobre a verdadeira identidade do seu pai é, na minha opinião, o ponto alto de Brisingr - mas o livro não tem grande força por si só, limita-se a abrir caminho para o último livro, a definir o cenário em que este decorrerá, a fornecer armas a Eragon para o confronto final - armas tanto no sentido literal como no figurativo: segredos, alianças, etc. Nesse aspeto, assemelha-se a Harry Potter e o Príncipe Misterioso, até porque também Brisingr termina com a morte de um mentor. Até Eclipse, da saga Twillight/Crepúsculo ou Luz e Escuridão, se assemelha em parte pois também vai dando pistas - ainda que de uma forma mais subtil - que remetem para o livro final.

Isto deve até ser uma maldição relacionada com penúltimos livros pois encontro-me, neste momento, a trabalhar no terceiro e penúltimo livro da minha série e estou a ter grandes dificuldades. Enquanto os dois primeiros livros me saíram naturalmente, ficando o primeiro rascunho pronto em cerca de seis ou sete meses, ando encalhada neste há quase um ano. E não acredito na máxima que diz que o que é escrito sem esforço é lido sem gosto, antes pelo contrário. Pelo menos no meu caso, com as suas exceções, os melhores textos são aqueles que se escrevem a si mesmos. Uma parte de mim deseja, pura e simplesmente, saltar para o livro final - o que não é possível. Em todo o caso, pode ser que o resultado final se aproveite. Vou fazer por isso, pelo menos.

 
 
Há pouco tempo atrás, Eragon – Aniquilador de Espectros, Cavaleiro de Dragão – não era mais que um pobre rapaz fazendeiro, e o seu dragão, Saphira, era apenas uma pedra azul na floresta. Agora, o destino de toda uma sociedade pesa sobre os seus ombros.


Longos meses de treinos e batalhas trouxeram esperança e vitórias, bem como perdas de partir o coração. Ainda assim, a derradeira batalha aguarda-os, onde terão de confrontar Galbatorix. E, quando o fizerem, têm de ser suficientemente fortes para o derrotar. São os únicos que o podem conseguir. Não existem segundas tentativas.


O Cavaleiro e o seu Dragão chegaram até onde ninguém acreditava ser possível. Mas serão capazes de vencer o rei tirano e restaurar a justiça em Alagaësia? Se sim, a que custo?
Os primeiros capítulos deste livro continuam, um pouco, a linha de Brisingr: relativos poucos avanços na história, cimentação de alianças, preparação do herói para o confronto final. E mesmo ultrapassada essa parte, o livro demora a arrancar. Só arranca verdadeiramente após o rapto de Nasuada. A partir daí o livro ganha maior interesse à medida que nos são revelados os segredos finais - segredos esses que me fizeram arquejar de espanto quando os li pela primeira vez - conhecemos, finalmente, Galbatorix no cativeiro de Nasuada - até ao momento, Galbatorix fora uma personagem ausente, o máximo que havíamos tido direito fora ouvir a sua voz à distância no final de Brisingr - onde também assistimos à tortura, tanto física como mental da jovem líder dos Varden e ao nascimento de uma ligação entre esta  Murtagh - ligação esta que se tornará crucial - e assistimos ao longamente antecipado confronto final, herói versus vilão.

Nesta última parte, faz-me alguma confusão a forma como Galbatorix está ciente de todas as armas dos heróis, incluindo as "arranjadas" à última hora. Não ficou bem explicado. Não sei se foi uma ponta deixada propositadamente por atar ou se foi um deslize...

O epílogo da história ainda se estende por uns quantos capítulos. Pessoalmente, tenho pena de que o terceiro ovo de dragão só tenha chocado já depois de Galbatorix ter sido derrotado, mas compreendo que tal não fosse possível...


Muitos esperavam que, no final, como em todas as histórias, o herói conquistasse a donzela. O próprio autor admitiu que era esse o plano inicial. No entanto, à medida que a história ia prosseguindo e a personagem se ia desenvolvendo, Paolini concluiu que não seria coerente com a sua personalidade se Arya "caísse nos braços" de Eragon.

Eu tive pena. Gosto da dinâmica entre Eragon e Arya, de como ela é, em simultâneo, mentora e companheira de luta do jovem Cavaleiro, ao invés de ser apenas uma donzela em apuros - ou vice-versa. Mas compreendo. No momento em que Herança acaba, a diferença de idades e a fidelidade de Arya a um amante morto são grandes barreiras a um eventual romance entre ela e Eragon. No entanto, a meu ver, uma vez que ambos são imortais e Cavaleiros, com o tempo, tais obstáculos deixarão de sê-lo.

É outra das características de Herança: por um lado, muitas pontas soltas são atadas - algumas até de forma algo forçada - outros arcos narrativos são deixados em aberto. Como a personagem Angela, uma das mais interessantes e misteriosas das quatro obras. Paolini deu a entender que atar essas pontas em futuras obras - mas num futuro ainda distante.

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A série foi batizada Ciclo da Herança pois, na sua essência, a história é sobre passagem do testemunho da geração mais velha para a mais nova, sobretudo no que toca à luta contra a tirania de Galbatorix. Ao longo da série, praticamente todos os progenitores, todos os mentores - que ainda não estiverem mortos no início de "Eragon" - vão morrendo um a um, tendo o seu trabalho de ser continuado pelos filhos e/ou alunos, pelos herdeiros.

Um dos aspetos mais interessantes do Ciclo é, na minha opinião, a dinâmica daquelas que considero as três personagens principais: Eragon, o seu meio-irmão Murtagh e o seu primo Roran. Eragon e Roran foram criados como irmãos, no mesmo meio. No entanto, o primeiro torna-se Cavaleiro do Dragão, enquanto o outro mantém-se humano. Não que isso lhe constitua um entrave, ele acaba por desempenhar um importante papel na luta contra o Império ao tirar o maior partido possível das armas que possui. Ele e Eragon têm, portanto, vidas divergentes. Por sua vez, Eragon e Murtagh têm vidas convergentes. O primeiro cresce num meio completamente diferente daquele em que o irmão cresce: sempre consciente de que é filho do falecido Morzan, um antigo aliado de Galbatorix e um dos homens mais odiados do Império. No entanto, os dois irmãos acabam por ter vários aspetos em comum e acabam, ambos, por se tornarem Cavaleiros.

Este conceito de personagens ligadas umas às outras desta forma, por um lado tão parecidas, por outro lado tão diferentes, faz com que o Ciclo se assemelhe a Harry Potter. O trio Harry-Voldemort-Snape acaba por ser parecido com o trio Eragon-Roran-Murtagh.

Murtagh assemelha-se a Snape no sentido em que ambas as personagens são ambíguas, despertam sentimentos contraditórios. Isto é mais claro no caso de Murtagh já que, no caso de Snape, a maneira como ele se relaciona com Harry dificulta a perceção do seu lado bom. E, no final, o amor leva-os à redenção, desempenhando um papel fundamental na derrota do mau da fita.

Acho tão interessante esta dinâmica que resolvi reproduzi-la também nos meus livros. Aparecerá a partir do terceiro.


Já que se aborda o assunto, vale a pena mencionar as semelhanças entre o Ciclo da Herança e Harry Potter. São várias e provavelmente tratam-se de coincidências. Ambas as séries se centram num órfão "escolhido" para derrotar um inimigo tirano, cujo poder reside, em parte, em certos objetos - os conceitos de Horcruxes e Eldunarí são parecidos embora já tenha ouvido dizer que o conceito de objetos de poder não é novo.

Por fim - e considero este um dos maiores pontos fortes de ambas as séries - o facto de, apesar de ambas serem séries de fantasia, ambas apresentarem analogias para a "vida real", induzindo reflexões. No Ciclo da Herança, este carácter está mais evidente em Eldest e Brisingr e os temas abordados são o racismo, a desconfiança perante aquilo é diferente, a ditadura, a política, a própria natureza humana, deixando, no fim, uma mensagem de tolerância, de empatia, de que "o importante não é aquilo que se nasce mas aquilo em que se torna", que "são as nossas escolhas e não as nossas qualidades que determinam quem somos".

E, mais uma vez, espero conseguir o mesmo com os meus livros.

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Diria que a minha personagem preferida é Nasuada. Ela é filha de Ajihad, líder dos Varden, acabando por herdar a liderança do grupo de resistência. Quando Nasuada foi nomeada líder pelo Conselho de Anciãos, estes esperavam que a jovem funcionasse como uma marioneta, que eles fossem os verdadeiros detentores do poder. No entanto, Nasuada cedo deixa bem claro que é capaz de tomar decisões pelos Varden, mostrando ser uma líder carismática, capaz de conquistar a lealdade por parte dos seus súbitos.

Nasuada destaca-se no Ciclo da Herança precisamente pela sua personalidade forte, pela forma como gere a resistência ao Império. Apesar de fazer questão de lutar ao lado dos soldados, fugindo à sua condição de mulher, o seu maior papel é nos bastidores das batalhas, fazendo a gestão pessoal de guerreiros como Eragon e Roran, transmitindo coragem e determinação ao seu povo. Durante Eldest e Brisingr, Nasuada é, no fundo, a personificação dos Varden - tanto as suas motivações como preocupações são as motivações e as preocupações do grupo rebelde. É a figura política perfeita, dedicada ao seu povo, como não existe na vida real. Nesses dois livros é difícil destrinçar Nasuada, a pessoa, de Nasuada, a líder os Varden.

O seu rapto em "Herança" torna-se interessante pois, pela primeira vez vemos Nasuada "liberta" da responsabilidade da liderança dos Varden, sem outras motivações ou preocupações que não a própria sobrevivência, a resitência à tortura por parte de Galbatorix. É obviamente de louvar a sua coragem e perseverança perante as condições em que decorre o seu cativeiro e interessante assistir ao nascimento do "romance" entre ela e Murtgah que, como já foi referido várias vezes nesta entrada, consegue alterar as motivações do jovem Cavaleiro conduzindo-o à redenção.

Depois da morte de Galbatorix, a sua nomeação para Rainha surge de uma forma natural. Eu, pelo menos, estava à espera. Segundo o plano inicial, seria Roran a assumir o trono. No entanto, à semelhança do que tinha acontecido com Arya, à medida que a personagem se foi desenvolvendo, tornou-se claro que tudo o que Roran deseja é uma vida pacífica, em Carvahal, junto da mulher e dos filhos que eventualmente terá. De resto, notam-se algumas semelhanças nas personalidades de Nasuada e Roran: também ele é devotado ao seu povo - no caso dele, a aldeia de Carvahal - e revela ter capacidade de liderança, de incitar os outros para a luta, pelo que daria igualmente um bom rei, se assim o desejasse.


Com tudo isto, acho lamentável o facto de terem desperdiçado a adaptação ao cinema do Ciclo da Herança. Apesar de não ser completamente original, a série tem, na minha opinião, potencial para ser um fenómeno do calibre de Harry Potter, Crepúsculo e Jogos da Fome.

Talvez fosse necessário para tal apostar forte na vertente romântica da coisa. O Ciclo não tem o triângulo amoroso da praxe mas tem a sua quota-parte de amores contrariados. A história de Eragon e Arya teria de acabar com eles juntos, por muito que isso contrariasse a personalidade da última. O amor entre Roran e Katrina é interessante embora seja a história clássica da donzela cujo pretendente não é aprovado pela família, em particular o pai, e depois da donzela em perigo. O romance mais interessante nesse aspeto acabaria por ser o de Nasuada e Murtagh: uma paixão entre "inimigos" que, ainda por cima, desempenha um importante papel na derrota do mau da fita. Mais uma vez, o final teria de ser alterado pois, no livro, visto que o desfecho de Murtagh fica um pouco em aberto, o potencial romance com Nasuada é igualmente deixado em stand-by.

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Em suma, o Ciclo da Herança é uma das minhas séries de livros preferida, é uma referência, é uma fonte de inspiração, pelos motivos que listei exaustivamente - estiquei-me imenso, não foi? Para algo que começou por ser um mero exercício de escrita, considero que foi muito bem construído. Christopher Paolini pode ter aspetos a melhorar mas tem tempo para fazê-lo já que está ainda em início de carreira. E se o seu exercício de escrita é deste calibre, mal posso esperar para ver o que pode ele escrever "a sério".

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