Chegámos à última parte do meu balanço de concertos. Hoje vamos falar sobre a banda que, de forma direta e indireta, virou a minha vida do avesso, sobretudo nos últimos dois anos e pouco – e, ao que tudo indica, irá continuar. Não existe nada de normal nesta banda nem na minha relação com ela. O concerto a que fui no ano passado foi apenas um exemplo: dois meses antes não o achava, sequer, possível.
Um regresso dos Linkin Park não estava no bingo de ninguém para 2024. Muito menos com um álbum novo. Muito menos com uma mulher como vocalista. Tecnicamente já escrevi sobre isso aqui, mas os meses que se passaram desde essa altura, o equivalente a uma gestação, trouxeram outra prespetiva.
Quando me recordo do período antes de 5 de setembro de 2024, esse parece-me outra vida. É certo que tinham havido sinais nos meses anteriores. Ainda há pouco tempo foram-me aparecendo, nas funcionalidades de memória das redes sociais, publicações sobre os primeiros rumores de uma cantora nos Linkin Park. Tenho-me fartado de rir com as minhas reações. A questão é que, por uma questão de sanidade mental, não acreditava em nada, a menos que viesse diretamente da banda. E, a partir de certa altura, isso deu em negação.
E mesmo com as pistas que iam saindo, falando por mim, deste lado da grade, o regresso dos Linkin Park foi quase do dia para a noite. E eles vieram com tudo. Num dia, eram uma banda parada, sem vocalista, que podia nunca mais voltar ao ativo. No dia seguinte, tínhamos uma banda completa, com música novinha em folha, um álbum pronto a ser lançado, concertos marcados, como se nunca tivessem estado em pausa. Do zero ao oitenta – agora compreendo o título From Zero. Foi como vermos uma série depois de saltarmos várias temporadas – no elenco estão velhos conhecidos e outras personagens, para nós desconhecidas, mas já bem integradas na história.
É de admirar que tantos de nós tenham precisado de um momento para entrar no ritmo?
E agora, passado todo este tempo, é-me muito claro que esta foi a melhor maneira possível de voltarem. Emily Armstrong é a pessoa certa no lugar certo. Tem as cordas vocais, para começar, mas eu diria que essa é a parte mais fácil – só garante o papel de vocalista convidado. Tem a idade e o nível de experiência certos para se encaixar bem na banda. Mais importante de tudo, diria eu, Emily tem a personalidade certa. Ela é um deles, feita da mesma matéria-prima: engraçada, totó, sem se levar demasiado a sério. Porta-se como a irmã mais nova traquinas, sobretudo do fundador, multi-intrumentista e produtor Mike Shinoda e do baixista Dave Farrell. Se não me engano, Emily já admitiu roubar roupa ao Mike – por estes dias, eles vestem-se de forma tão parecida que às vezes, em vídeos de concertos de baixa qualidade, é difícil distingui-los. E há vários momentos em vídeo dela a brincar com os colegas, em palco e fora dele.
E depois, conforme a vou conhecendo melhor, mais rendida lhe fico. Mulheres como Emily – roqueiras, louras, de dedo do meio levantado – são outra das minhas fraquezas. Quando ela me apareceu a andar de skate nos bastidores do vídeo de Two Faced, quase ouvi o universo a rir-se de mim. Emily não é só feita da mesma matéria-prima dos Linkin Park: ela é feita da mesma matéria-prima que Avril Lavigne e Hayley Williams. Elas que me criaram! Eu nunca tive hipóteses, minha gente, sou apenas humana.
De qualquer forma, a ideia com que fico é que qualquer pessoa com a mente minimamente aberta acabará por aceitar Emily, mais cedo ou mais tarde. Tal como disse uma amiga minha, “primeiro estranha-se, depois entranha-se, depois adora-se”. O problema de setembro passado foi o barulho desproporcional online. Mas, à medida que o tempo foi passando, que Emily foi ganhando à-vontade, que das músicas novas foram sendo lançadas e obtendo bons resultados nas tabelas, que os bilhetes foram sendo vendidos, ficou claro que a maior parte dos fãs está contente com o regresso da banda.
Para mim, a discussão Emily versus Chester está arrumada há muito. Não me interessa quem é o “melhor”. Chester morreu. Os Linkin Park não quiseram – e bem – uma pessoa como o Ivo dos HT, capaz de recriar a voz dele. Preferiram Emily e, conforme acabo de explicar, escolheram bem. Eu gosto dos dois. Aliás, por estes dias, desejava que ambos estivessem na banda – o que, obviamente, não é possível. Chester irá sempre fazer falta, mas os Linkin Park não se podem centrar para sempre na perda dele. Têm o direito de ser felizes e claramente estão felizes com Emily. Ponto final.
Uma palavra para Colin, que costuma ser esquecido nas conversas sobre a nova vida dos Linkin Park. Eu gosto dele. Já não me lembro muito bem dos tempos de 2017 para trás, mas a ideia que tenho é de que o seu antecessor, Rob Bourdon, era dos mais discretos da banda. Nesse aspeto, Colin é mais extrovertido e, tal como Emily, já tem uma certa dinâmica com a comunidade de fãs. Pelo que vou vendo, já ganhou a fala de Tom Holland da banda, pela tendência para revelar mais do que deve. E já anda a aprender com os fãs…
Estou ansiosa por conhecê-lo ainda melhor. A ele e a Emily. São nossos.
Hei de escrever sobre o álbum From Zero. Este texto, no entanto, focar-se-á sobretudo no concerto que os Linkin Park deram em Paris, em novembro do ano passado – a que assisti. À hora desta publicação, a banda já conta inúmeros concertos sob este formato, mas este foi um dos primeiros da nova era. Verdadeiramente um reencontro com os fãs, uma re-apresentação.
Houve tempo para passear um pouco por Paris, antes e depois do concerto, quer a solo quer com os amigos da família HT com quem fui. Já tinha lá estado dois anos antes, mas soube bem à mesma. Paris é uma cidade bonita (ainda que com partes menos bonitas). Embora saiba que é um cliché, adoro a Torre Eiffel, sobretudo de noite. Era capaz de ficar horas a olhar para ela.
De vez em quando, cruzávamo-nos com gente usando merch dos Linkin Park – oficial ou não – e naturalmente recriávamos o meme do Homem-Aranha. Andava com o meu boné dos Hybrid Theory, fazendo publicidade aos moces – acenei à distância a uns fãs brasileiros que terão reconhecido o nome. No dia a seguir, nas filas da viagem de regresso, estive à conversa com outros fãs portugueses que também tinham ido ao concerto. Trocámos impressões sobre o regresso da banda e também, claro, sobre os Hybrid Theory e o seu segundo Pavilhão Atlântico, daí a uns meses (mais sobre isso adiante).
Em suma, falando por mim, sentiu-se aquele espírito Linkin Park, aquela alegria de termos a nossa banda de volta.
O La Défense Arena é parecido com o Pavilhão Atlântico por dentro, mas maior e menos bonito. Foi a maior audiência da nova era até àquele momento. Infelizmente, foi o primeiro a não ter palco circular. Comprámos bilhetes para as bancadas de trás e acabámos por ficar um pouco longe do palco. Mas também, com lugares marcados, ficámos mais à vontade em termos de filas. Até porque, segundo consta, houveram problemas nas entradas para a plateia.
Os Linkin Park abriram com o mesmo tema com que já haviam aberto o direto de inauguração da nova era – menos de dois meses antes! Consta que o nome oficial da faixa é Inception Intro A. Só quando estava a pesquisar para estes textos é que percebi: este é o equivalente dos Linkin Park à introdução da Eras Tour. Todo um repertório enfiado numa música de dois minutos e meio. Inception, no entanto, não invoca nomes de álbuns, invoca elementos musicais de vários êxitos dos Linkin Park: os sintetizadores de The Catalyst, alguns versos de Castle of Glass, o piano de Waiting For the End, as notas de abertura de In the End e de Numb, a percussão de Somewhere I Belong. E isto é apenas aquilo que consigo identificar. Um remix de metade do alinhamento de Papercuts.
Gosto ainda mais de Inception do que da introdução da Eras. Musicalmente é melhor, mais complexa. Mas sobretudo, estando eu muito mais afeiçoada à música dos Linkin Park, Inception mexe ainda mais com as minhas emoções. Até porque, da primeira vez que a ouvi, tais emoções estavam em completo desalinho.
Ao contrário do que aconteceu no direto, no entanto, a Inception seguiu-se Somewhere I Belong. Uma das preferidas de Colin, segundo Mike, quando ele e os outros veteranos da banda não a colocavam entre as melhores dos Linkin Park. É outro aspeto engraçado do alinhamento novo – dois fãs promovidos a membros oficiais. Trazendo perspectivas novas. Houve até um momento engraçado numa entrevista do ano passado: os anfitriões estavam a comentar que sempre adoraram Linkin Park, Emily disse “Eu também”, Mike riu-se e recordou-lhe, no mesmo tom, que ela agora faz parte da banda.
Eu não vejo mal nenhum. É saudável ser-se fã do próprio trabalho ou do trabalho que representa, a que se dá vida. Do legado que lhe foi colocado nos ombros.
Nesta altura, Emily já estava mais à vontade em palco, já se notava a diferença em relação a dois meses antes. Um aspeto curioso em que difere de Chester é que ela parece gostar de tocar guitarra em palco. No concerto de Paris, tocou em Over Each Other – lançada como single poucas semanas antes e estreada ao vivo nessa noite. Tinha esperanças de que eles tocassem uma inédita – provavelmente queriam ir acrescentando apenas uma música de cada vez.
Orgulho-me de dizer que o público recebeu bem Emily – o melhor episódio de sempre de Emily em Paris, como li algures. Gritei o nome dela em coro com milhares – tal como tinha feito dez anos antes com Chester. Sobretudo no momento delicioso que podem ver aqui.
Tenho de confessar uma coisa, no entanto: existem músicas antigas dos Linkin Park de que continuo a não gostar quando adaptadas à voz dela. What I’ve Done é um dos exemplos – sobretudo em contraste com a versão que os Hybrid Theory tocavam no ano passado. Um solo prolongado do Miguel, com o Ivo e o Dani aos headbangs nas costas dele.
Lost in the Echo é outra de que não gostei sob este formato. Mas para ser sincera, mesmo em concertos dos HT, ando algo farta da música.
Mas isto são exceções. E mesmo que não fossem… eu conseguiria viver com isso. Só teria de ouvi-las nas raríssimas ocasiões em que fosse a concertos dos Linkin Park.
No que toca à maior parte das interpretações de Emily, estou entre o “tolero” e o “gosto ativamente”. Tenho várias entre as minhas preferidas: New Divide, Burn it Down, Waiting For the End. No concerto de Paris em particular, as músicas mais calmas foram pontos altos, na minha opinião. Castle of Glass, por exemplo, que sempre esteve entre as minhas preferidas. Friendly Fire – a música tinha saído no início de 2024, mas parecia que já a conhecia há anos, que era uma de muitas das antigas que agora ouvíamos com o filtro de Emily. My December, uma das surpresas da nova era, lindíssima sob esta nova versão. Tenho-me perguntado se foi também um pedido dos meninos novos.
Leave Out All the Rest foi das melhores. Foi das mais que mais me tocaram. Ouvi-a abraçada ao meu eu que dezassete anos, que ruminava sobre a letra vezes e vezes sem conta, sem nunca a compreender até anos depois. Eles mudaram a estrutura – um solo de guitarra no início, um pós-refrão no fim, Mike cantando o refrão na introdução e o resto praticamente a meias com Emily.
Pensava que esta versão tinha sido criada para esta nova era. Nas pesquisas para este texto descobri que já havia sido tocada durante a digressão de One More Light – com Chester cantando quase tudo. Foi incluída no One More Light Live, na verdade, mas não me lembrava de a ter ouvido antes.
Em todo o caso, adoro esta versão. Tanto a cantada em 2017 como a atual.
Outra que teve alterações interessantes foi Points of Authority. À semelhança de Leave Out All the Rest, foi Mike a cantar as estâncias, o que faz sentido. Houve um momento giro quando Emily se enganou nos últimos refrões – duas vezes! Ela depois foi ter com Mike como quem pede desculpa e ele deu-lhe um abraço. Adorável.
Uma confissão: não vi o momento em direto, só mais tarde, na net. Estava demasiado ocupada abanando o capacete. Tive o problema oposto de quem passa os concertos de telemóvel em punho: estava tão perdida na música que nem prestei atenção ao que se passava em palco.
Mike foi quem mais gostei de ver. Estava tão feliz – como, aliás, nunca deixara de estar nos dois meses anteriores. Como li por aí, nunca mais parou de sorrir desde o direto de 5 de setembro.
Neste concerto, então, não dava para ignorar. Durante Burn it Down, por exemplo. Ao longo dos anos, fui vendo vários vídeos da banda tocando-a ao vivo, Mike fazendo o rap com uma expressão relativamente séria. Em Paris foi a primeira vez que o vi fazendo o rap a sorrir.
E In the End? In the End…
Durante muitos anos disse que a minha música preferida dos Linkin Park era New Divide. Mas a verdade é que tenho vindo a acumular inúmeras recordações maravilhosas relacionadas com In the End. A primeira há muito, no Rock in Rio 2008, mas a maior parte delas nos últimos dois anos. Muitas delas em concertos dos Hybrid Theory, claro: agarrando a mão do Ivo, do Pedro. Aliás, hoje em dia, incluo sempre o “Gritem!” do Pedro a meio da terceira parte – pertence à letra oficial, já. E, como referi antes, quando gente da família HT se reúne, muitas vezes acabamos a cantar In the End. Destaque para o momento em que “obrigámos” a Jéssica Cipriano a cantá-la aqui.
Não digo que esteja entre as melhores da banda. Pelo contrário, é a versão mais palatável do estilo rock-e-rap pelo qual são conhecidos. Um dos êxitos mais óbvios, aquela que toda a gente conhece. Mas a questão é mesmo essa: é aquela que toda a gente conhece, que toda a gente adora. É a música que une todos os fãs.
De qualquer forma, nunca tinha visto ninguém, nem eu mesma, cantando-a com tanta alegria como o Mike naquela noite. Penso que pelo menos parte disso terá sido influência de Emily, igualmente entusiasmada. Mesmo assim, nunca tinha visto o Mike assim: ao pulos, um sorriso de orelha a orelha, parecia um miúdo pequeno.
Como já escrevi antes, a felicidade do Mike e do resto da banda, depois de tudo por que passaram, é tudo. Tem sido a melhor parte desta era. No ano e meio anteriores foram as várias as noites em que voltava de um dia de Hybrid Theory com o coração cheio, pensava em Mike e nos outros e perguntava-me: “Será que eles têm noção da alegria que a música deles continua a dar a esta gente toda? Eles mereciam fazer parte dela também.”
Agora claramente voltaram a fazer parte dela. E eu não podia estar mais feliz. Foi para isto que todos nós nascemos.
Com tantos concertos a que tenho ido, regra geral, a recuperação não custa muito. Fico com a garganta e o pescoço um pouco doridos durante um dia ou dois, nada de especial. Desta vez, no entanto, o concerto foi num domingo e passei a tarde da terça-feira seguinte cheia de dores de costas. Não sei se foi só do concerto – não terá ajudado ter andado a passear a pé por Paris com uma mala demasiado cheia às costas. Mas também isso foi culpa dos Linkin Park – foi por causa deles que estava em Paris.
Tive de dizer a mim mesma: “Foi a primeira vez em dez anos e meio que os viste ao vivo. Há três meses não achavas isto possível. Isto é um preço mais do que razoável. Como se diz, a dor é temporária, as memórias duram para sempre.”
E agoraficam aqui.
Foi lindo, mas ficou a faltar algo muito importante: não foi cá. Não foi em Portugal. E quando anunciaram a digressão de 2025, cerca de dez dias depois, Portugal não estava incluído. Tenho amigos que se preparam para ir vê-los a Paris – alguns que vieram comigo no ano passado, alguns que não.
Ainda pensei nisso, mas recusei. Em parte por motivos práticos: não queria gastar tanto dinheiro outra vez e é mais complicado marcar férias durante o verão. Em parte por motivos sentimentais. Queria voltar a vê-los em Portugal. Apaixonei-me por eles no Rock in Rio de 2008. Uma bandeira portuguesa pendurada no teclado, Chester deixando elogios a Lisboa. E agora, ainda por cima, tenho aqui toda uma família graças aos Linkin Park – é mais fácil para eles virem a um concerto no nosso próprio país.
…mais sobre isso já a seguir.
Queria agora falar sobre os Hybrid Park – o outro tributo português. Vi-os duas vezes no inverno passado, uma vez no RCA, outra no Pátio do Sol – quando andávamos em abstinência sem concertos dos HT. Eles terão nascido em finais de 2017 – mais ou menos na mesma altura que os Hybrid Theory.
Faz sentido: foi quando perdemos Chester e os Linkin Park entraram em pausa. A resposta de dois conjuntos de músicos portugueses foi dar uma de Katniss Everdeen: “we volunteer as tribute”.
Os Hybrid Park não têm tido tanto sucesso como os Hybrid Theory, mas há que recordar que, no que toca a tributos, os moces são a exceção, não a regra. Consta também que este é apenas um entre vários projetos destes músicos. O baixista, Sérgio Duarte, é aliás manager do RCA. Um sujeito simpático. Da última vez que vi a banda, ofereceu-me uma palheta – por sinal, num momento em que estava com as emoções um pouco à flor da pele (música dos Linkin Park, gente…).
Entre ele, o Pedro dos Decoded e o Cenoura, ando com afinidade para baixistas.
Nas músicas pré-From Zero, os Hybrid Park fazem um bom trabalho. Continuo a preferir os HT, mas não são nada maus. No entanto, para mim, estes valem pela Kaddy – a cantora que recrutaram para fazer de Emily. Eu adoro a voz dela, para começar, faz um excelente trabalho.
Além disso, spoilers para a minha análise ao álbum, mas eu gosto do From Zero pelo menos tanto quanto gosto dos restantes álbuns dos Linkin Park. E gosto de ouvir estas músicas em concerto. Os Hybrid Theory não as vão tocar, pelo menos não tão cedo. Ao menos tenho os Hybrid Park para preencher essa lacuna.
Não garanto que me torne uma fã tão assídua como tenho sido em relação aos HT. Mas hei de voltar a vê-los. Penso que os próximos concertos serão no fim de semana do aniversário da morte de Chester. Não vou pois já tenho planos para esse fim de semana – e nem sequer é com os HT, o que, depois dos últimos dois anos, é estranho. Mas se tiverem oportunidade, caros leitores, ide vê-los. A Sofia recomenda.
O último concerto que recordaremos é, então, o segundo dos Hybrid Theory, no Pavilhão Atlântico. Faz sentido serem eles a abrir e a fechar (bem… mais ou menos) esta retrospetiva. Correndo o risco de me repetir, foi graças a gente que conheci através dos mês moces que fui à maior parte dos concertos sobre os quais escrevi – inclusive o dos Linkin Park originais. Foi graças a Hybrid Theory – a banda e, sobretudo, a família – que desbloqueiei esta versão de mim.
O 22 de março foi, então, uma noite de homenagem ao Chester, dois dias depois daquele que seria o seu quadragésimo-nono aniversário. Houveram algumas dúvidas, mas o Pavilhão Atlântico voltou a encher, talvez tenha mesmo esgotado.
A abertura ficou a cargo dos Grey Daze, a primeira banda do Chester. Nos anos que se seguiram à morte dele, os membros sobreviventes foram lançando versões remasterizadas das músicas que Chester gravou com a banda – era ele adolescente. No último ano e tal, no entanto, recrutaram um novo vocalista – Cris Hodges que, por sinal, também canta num tributo aos Linkin Park, os In the End – e entretanto começaram a criar e a lançar músicas novas, sem Chester.
Mais ou menos como os próprios Linkin Park fizeram.
Nos meses anteriores ao concerto, andei a estudar a discografia dos Grey Daze. Gosto mais de Linkin Park e mesmo de Dead By Sunrise, mas música deles não é nada má – sobretudo tendo em conta que foi criada por adolescentes. E, de uma maneira muito típica comigo, fiquei a gostar mais depois de ouvir ao vivo.
Só tive pena de não terem tocado a minha preferida, Shouting Out.
Passemos agora aos próprios Hybrid Theory. Em termos de produção pura e dura, foi o melhor concerto deles que vi até agora. Aproveitaram bem as oportunidades que o Pavilhão Atlântico lhes deu. E, apesar de, para já, não tocarem nada de From Zero, não deixaram de se inspirar na nova era dos Linkin Park: com os lasers e uma adaptação de Inception Intro A na abertura do concerto, os ecrãs gigantes em espelho.
O alinhamento foi OK. Tenho alguns reparos. Eles repetiram algumas músicas que já tinham estado em rotação no ano passado e de que, aqui entre nós, já estava um pouco farta: No More Sorrow, Final Masquerade, Lost in the Echo, como referi antes. Abriram com What I've Done, mas tiraram o solo prolongado de que falei acima. Por fim, não gostei muito de One Step Closer como encerramento – prefiro Bleed it Out ou mesmo Faint.
Claro que isto é uma questão de opinião, não é possível agradar a todos. E ninguém me mandou ir a tantos concertos como fui no ano passado. Acho que este concerto também foi filmado e é possível que eles quisessem que músicas como Final Masquerade ou No More Sorrow tivessem registo em vídeo.
E até houveram muitas coisas que me agradaram. Continuo a não adorar Heavy, mas gostei que o Cris dos Grey Daze tenha voltado ao público para fazer dueto com o Ivo. Voltaram a tocar Waiting for the End, mais de um ano depois da última vez – tinha de ser. Tocaram QWERTY, uma favorita dos fãs mas que só teve lançamento oficial no ano passado. O Ivo arrasou: conseguiu recriar a maneira imaculada como Chester alternava entre screamo e melodia. Gostei particularmente da inclusão de In My Remains, uma velha favorita. Por fim, outra surpresa foi Kings to the Kingdom. Chester nunca a cantou ao vivo e mesmo os próprios Linkin Park só tocaram umas duas ou três vezes – depois de Mike fazer uma piadinha com as queixas de falta de The Hunting Party em Papercuts.
No fim, eu e a seita deixámo-nos ficar no Pavilhão. Foi a primeira vez que vi o palco desmontado e o que há por detrás. Fotos e abraços aos membros dos HT já são habituais – e eu valorizo cada um deles. Não tão habitual foi o Dani ter-me acertado com uma goma desde o palco. Em sua defesa, ele estava a tentar acertar no Ivo (que é um alvo pequeno)... mas talvez me vingue. Também pudemos abraçar membros dos Grey Daze: o Chris e o Sean Dowdell, agradecer-lhes por manterem o legado de Chester vivo e prometer-lhes que, caso voltem a Portugal, estaremos lá.
Porque, no fim do dia, de uma maneira ou de outra, tudo isto tem acontecido graças a Chester. Ele vive em cada uma destas músicas, em cada uma destas bandas, em cada um de nós.
Foi um dia excelente. Só sinto que, depois de meses à espera, passou demasiado depressa. E não consegui voltar a ver os Hybrid Theory depois desta. Por esta altura no ano passado, andava a vê-los uma vez por mês – e andava um bocadinho mais feliz. As saudades são muitas. Felizmente não falta muito para a próxima, em Loures.
Nestes últimos tempos tenho sentido que o tema principal do universo Linkin Park é segundas oportunidades. Comigo já tinha acontecido há dois anos, com os Hybrid Theory: os moces deram-me uma oportunidade… Ou melhor, várias oportunidades para ouvir música de Linkin Park ao vivo, de conhecer pessoas através dela. Permitiram-me desenterrar algo que esteve adormecido durante anos. Doeu imenso, mas hoje penso que foi melhor ter arrancado o penso nessa altura do que fazê-lo quando os Linkin Park regressaram.
Terá sido também uma segunda oportunidade para os próprios membros do tributo – para terem uma carreira no mundo da música. E para os fãs: muitos deles na casa dos trinta, quarenta, cinquenta. Os concertos dos HT, as pessoas que conhecemos graças a eles, têm-nos dado novas oportunidades para sermos jovens outra vez – sairmos à noite, conhecermos pessoas, viajarmos, mesmo que seja só dentro do País.
No fundo, o tema destes três textos.
Do mesmo modo, o regresso dos Linkin Park foi uma oportunidade para quatro senhores com quase cinquenta anos começarem de novo – do Zero. Foi uma segunda oportunidade para Emily e Colin abraçarem um projeto desta envergadura – eles que estão perto dos quarenta e estavam longe de serem novatos no mundo da música.
E, claro, tem sido uma segunda oportunidade para os fãs. Para vê-los ao vivo ou, pura e simplesmente, vê-los lançando música nova, videoclipes, entrevistas, sendo uma banda – depois de passarmos anos sem saber se isso voltaria a ser possível. Nenhum fã da minha geração, que estava cá durante o tempo de Chester, é jovem – e nem sequer falo em termos físicos. Nós passámos por muito, aprendemos da pior maneira possível que os nossos heróis não vivem para sempre, que as nossas bandas são frágeis. E foi-nos concedido o enorme privilégio de recuperarmos a nossa banda, mesmo que nem tudo seja igual.
Segundas oportunidades como estas não surgem assim tantas vezes na vida.
É por isso que o Mike nunca mais parou de sorrir, com a cara toda, desde o dia 5 de setembro. É por isso que ele e os colegas se dizem mais felizes do que nunca na banda – aprenderam a dar ainda mais valor. Eu mesma dou mais valor agora, vendo-os sendo uma banda outra vez. Entusiasmando-me com eventos como a inclusão de músicas deles em bandas sonoras, atuações em eventos desportivos – destaque para a final da Liga dos Campeões – até mesmo o lançamento de… gomas (outra que não estava no meu cartão de bingo).
É mais do que nostalgia. Nostalgia só olha para o passado. Aqui temos… Não, recuperámos o presente e o futuro. A possibilidade de criar novas recordações, de continuar a história.
E daqui a um ano vamos ter a maior segunda oportunidade de todas.
Não resisto a entrar em território meta e a escrever sobre o dia em que recebemos a notícia. Era dia 30 de maio, o décimo-primeiro aniversário da participação dos Linkin Park no Rock in Rio de 2014 – a tal noite em que agarrei na mão do Chester. Eu estava de férias – tinha, aliás, um voo de manhã cedo. Antes de embarcar, fiz uma publicação sobre esse concerto na página do Facebook. “Lisboa nunca se cansará de receber Linkin Park”. Durante anos citei a frase com mágoa, agora o subtexto era outro: estávamos à espera.
Depois disso estive offline durante várias horas. Passei o voo escrevendo o primeiro rascunho deste mesmo texto, a parte sobre o concerto de Paris. Isto enquanto ouvia Inception Intro A várias vezes – antes de The Emptiness Machine, antes de Somewhere I Belong – e fiquei com a música na cabeça. Ou seja, estava já no estado de espírito certo.
Finalmente, aterrámos. Ainda dentro do avião, desliguei o modo de voo e dei logo com um reel publicado nas redes sociais do Rock in Rio com a imagem abaixo. O meu coração falhou um batimento.
O reel acabaria por ser apagado umas duas ou três horas depois. Em defesa do estagiário das redes sociais do RiR, para o cidadão comum, a imagem não é assim tão óbvia. É “apenas” a silhueta do guitarrista Brad Delson (que ironicamente, nesta fase, nem sequer sobe ao palco). O problema foi que era uma imagem parecidíssima com outra, que fazia parte da tal publicação que eu partilhara horas antes, sobre o RiR de 2014 – é logo a primeira fotografia! E a bandeira portuguesa pendurada no teclado é demasiado icónica.
Nós soubemos logo.
Ainda assim, foi preciso esperar várias horas para a confirmação final: os Linkin Park serão cabeças de cartaz no Rock in Rio de 2026 no dia 21 de junho.
Já consegui bilhete e não podia estar mais feliz. Sinto que isto é o culminar desta história toda, sobretudo nestes últimos anos: voltar ao início, ao local onde me apaixonei, onde tive duas das melhores noites da minha vida, ter uma terceira. Como disse acima, a derradeira segunda oportunidade. O sonho seria estar na grade, com os próprios Hybrid Theory ao meu lado, bem como todos os amigos que fiz graças a ambas as bandas. Na prática, alguns deles já decidiram que não vão. Mas outros já têm bilhete, como eu. Entretanto, tenho andado também a conversar com outros fãs portugueses de Linkin Park na Internet, também será bom tê-los ao meu lado.
E estou contente por todos os fãs portugueses, como grupo. Vamos vê-los de novo. Mike e os outros membros vão matar saudades de nós e nós deles. Se calhar Emily tentará falar português. E ficaremos com um vídeo gravado profissionalmente de todo o concerto.
Só mesmo os Linkin Park para me fazerem voltar ao Rock in Rio, depois da má experiência do ano passado. Vai ser um sacrifício, até porque, como vou tentar ficar na grade, vou ter de passar lá o dia todo, provavelmente à fome. Só espero que não esteja demasiado calor.
Terei trinta e seis anos quando voltar a ver os Linkin Park. O dobro da idade que tinha quando os vi pela primeira vez, no Rock in Rio de 2008. O primeiro capítulo de uma história que, como referi antes, tem tido tantos desenvolvimentos inesperados e que, agora está numa etapa bem feliz. Adaptando algo que vi algures na Internet, o mundo é um lugar melhor com Linkin Park no ativo, bem como as suas bandas de tributo.
Aliás, por estes dias tenho sentido que os Linkin Park são a única coisa a acontecer a nível global – tirando a vitória portuguesa na Liga das Nações. É certamente a única coisa boa a vir dos Estados Unidos neste momento. Chega a ser caricato: pego no telemóvel, de um lado aparecem-me notícias sobre a escalada dos conflitos no Médio Oriente, o crescimento da extrema-direita, da xenofobia, da violência. De outro aparece-me um vídeo da Emily rapando a cabeça a um fã a meio de um concerto.
Ao menos serve de consolo.
O fim da história está longe. Continuará a ser escrita aqui mesmo, no blogue.
Chegámos, finalmente, ao fim desta retrospetiva. Algo de que me apercebi algures no ano passado foi que já tive o privilégio de ver praticamente todos os meus artistas e bandas preferidos ao vivo pelo menos uma vez. Não creio que haja muita gente que se possa gabar disso. Avril Lavigne, Bryan Adams, Linkin Park, Paramore, Taylor Swift, Within Temptation… Só me falta a Lorde – pode ser que haja oportunidade daqui a um ano ou dois.
O plano é continuar a ir a concertos, dentro das minhas possibilidades. Tenho passado por um período de seca nestas últimas semanas, mas isso irá mudar em breve. Talvez faça um novo apanhado de concertos daqui a um ano ou dois – quando achar que se justifica. Entretanto, o próximo texto daqui do estaminé será sobre Digimon: o Início – já comecei a planeá-lo. A seguir, escreverei sobre From Zero. Depois disso, talvez escreva sobre Virgin, o novo álbum de Lorde, prestes a sair.
Obrigada por terem recordado todos estes dias maravilhosos comigo. Continuem desse lado.
Segunda parte da minha... análise? O que quer que queiram chamar aos milhares de palavras que gastei para lidar com o regresso dos Linkin Park. Podem ler a primeira parte aqui.
Com tudo o que discutimos na parte anterior, quase me esqueço de falar sobre as músicas novas. Quase que é o menos importante no meio disto tudo.
The Emptiness Machine é uma boa música. Uma fórmula Linkin Park estilo Minutes to Midnight ou The Hunting Party – até me recorda um bocadinho Already Over. O lado mais rock/metal, mais pesado.
Aliás, um ou dois dias depois de a música ter saído, reparei que o refrão de The Emptiness Machine é parecidíssimo com o de Final Masquerade. Tem a mesma estrutura, o mesmo esquema nas rimas. Os versos têm a mesma métrica e as últimas frases têm a mesma sintaxe: “Standing at the end of the final masquerade”/ “Falling for the promise of the emptiness machine”.
Depois de ter reparado nisto, nunca mais consegui ouvir a música da mesma forma.
Mesmo um dos poucos elementos inéditos em The Emptiness Machine – abrir com o Mike a cantar, a Emily entrando na segunda parte – remete para Final Masquerade. Neste caso, a lindíssima versão acústica (que só comecei a apreciar como deve ser no início deste ano).
Não adoro a letra. Reutiliza tropos antigos dos Linkin Park, sobre revolta e rebeldia, luta por identidade própria, estilo Numb. O verso que dá o título, “falling for the promise of the emptiness machine” irrita-me um bocadinho. Ironicamente, é vazio, é um cliché, não diz nada.
A parte que mais gosto, por outro lado, é do verso “I only wanted to be part of something”. É aquele com que mais me identifico.
Pode parecer que não gosto de The Emptiness Machine, mas não é verdade. Gosto muito: é tão enérgica e contagiosa como várias outras da banda. Sim, é a fórmula típica dos Linkin Park mas… preparem-se para o choque… eu até gosto de Linkin Park.
Ainda assim, gosto um pouco mais de Heavy is the Crown – lançada no dia 24 de setembro como hino oficial do campeonato mundial de League of Legends. Passo a explicar porquê.
Existe uma frase que, de vez em quando, nos aparece na internet, pelos vistos da autoria de Frank Ocean. Traduzindo e parafraseando, “Quando se está feliz, curte-se a música. Quando se está triste, compreende-se as letras”. Nos últimos tempos, tenho adaptado essa frase para a minha relação com as músicas dos Linkin Park: antes de o Chester morrer, ligava mais à sonoridade. Depois de o Chester morrer, passei a compreender as letras.
Claro que isto é uma simplificação. Claro que sempre existiram músicas dos Linkin Park que me atraíram sobretudo pelas letras: Numb, Leave Out All the Rest, Castle of Glass. Ao mesmo tempo, não foi só a morte de Chester a fazer-me prestar atenção ao que as músicas diziam. Foi também uma consequência natural de escrever no blogue sobre Hybrid Theory, Meteora e One More Light.
Dito isto, uma das coisas que me atraiu para os Linkin Park nos meus primeiros anos como fã foi o carácter grandioso, cinemático, das músicas. Hoje em dia, por exemplo, temos o meme “...but it came out in 2007”. Os meus preferidos são o com Oppenheimer e o com o Across the Spiderverse (sobretudo porque me revejo na personagem solitária que encontra a sua banda).
E já houve quem tenha feito o oposto, com The Emptiness Machine.
Ainda assim, gosto mais de New Divide. Acho que já contei esta história cá no blogue, mas é a minha preferida dos Linkin Park – precisamente pelo tom épico, cinemático, que me faz pensar em cenas de explosões e me deixou doida por lhe montar um vídeo. Arranjei matéria-prima dois anos depois, quando aprendi a sacar os filmes de Pokémon. Quando saiu Burn it Down, a minha segunda preferida, montei-lhe logo um vídeo.
Só mais tarde é que soube que AMVs eram uma cena – e demorei ainda mais a perceber o papel que tiveram para a pegada dos Linkin Park. A banda sempre andou de mãos dadas com a cultura nerd. Os AMVs que inspiraram, o vídeo para Breaking the Habit, a banda sonora dos filmes dos Transformers (uma franquia que fez parte da infância dos próprios membros da banda) e de outros videojogos – por exemplo, The Catalyst, Lies Greed and Misery e Castle Of Glass em jogos de Medal of Honor. Eu fartava-me de usar esse carácter nerd de Linkin Park como inspiração para a minha escrita – e nem sequer fui a única fã portuguesa a fazê-lo.
Isto também é Linkin Park.
Heavy is the Crown apela a essa faceta da banda. Sonoramente é clássico Linkin Park. Parecidíssima com Faint, aliás: é o ritmo da bateria. (No outro dia um fã fez um mashupdas duas músicas e, agora, fiquei com desejos de uma música com o Chester e a Emily a cantarem).
O sample que eles usam faz-me lembrar um pouco rock sinfónico. Algo que não é muito habitual em Linkin Park, mas que contribui para o carácter épico. Uma vez mais, a letra não me diz muito. Pode-se argumentar que faz referências às expectativas dos demais nesta nova era dos Linkin Park, mas também pinta cenários vagamente bélicos e apocalípticos. Lá está, semelhante a New Divide.
Aquilo que para mim potencia o carácter de Heavy is the Crown é mesmo o videoclipe. Não sei nada sobre League of Legends (alguém há de me explicar como é que temos personagens com óculos e instrumentos musicais num universo aparentemente medieval), mas o vídeo retrata o tipo de cenas que eu imaginava há mais de uma década quando ouvia Linkin Park – e que eu depois tentava passar para o papel. Esta música e este vídeo fazem-me sentir como se tivesse vinte e três anos de novo.
Em termos de últimos singles dos Linkin Park, continuo a preferir Lost e Friendly Fire. Mas The Emptiness Machine e Heavy is the Crown não são nada de deitar fora.
Por muito que goste destas músicas, no entanto, está a fazer-me alguma confusão os Linkin Park estarem a reciclar fórmulas antigas, a plagiarem-se a si mesmos até certo ponto. Não é costume deles – eles tinham o hábito de fazer coisas diferentes em cada álbum, despoletando a ira dos fãs.
Não me é difícil arranjar explicações. Depois de tanto tempo parados, sem criarem música juntos, talvez se tenham sentido mais à vontade jogando pelo seguro, usando truques que resultaram antes. Talvez queiram explorar o fator nostalgia. Talvez tenham achado que já havia muita coisa diferente neste regresso, sete anos depois, e acharam melhor não se pôrem a inventar. Talvez tenha sido uma mistura de todos estes motivos.
É possível que, em álbuns futuros, eles comecem a criar mais fora da caixa, como faziam antes.
A ver como é o resto do álbum. Dizem que nos esperam músicas ainda mais pesadas – o que é interessante nesta altura do campeonato e olhando para os álbuns imediatamente anteriores. The Hunting Party é dos mais pesados deles, One More Light é o mais pop, From Zero vai ser pesado outra vez.
Seria fixe se o álbum a seguir fosse mais eletrónico, estilo Living Things ou Post Traumatic.
Uma das melhores e mais estranhas partes deste processo todo, deste último mês, tem sido ver o mundo dos Linkin Park a restaurar-se. Entrevistas, videoclipes, concertos, vídeos da LPTV, AMVs, fãs nas ruas cantando In the End (tirando nós, na família HT, claro). Em teoria, nunca assumi que a banda tinha terminado de vez, sabia que eles poderiam voltar um dia. Na prática, sem dar por isso, habituei-me a falar dos Linkin Park no passado. Eles eram uma das muitas bandas de que falávamos a propósito da nostalgia pelos anos 2000. As pessoas vinham aos concertos dos Hybrid Theory porque não tinham tido oportunidade de ver os Linkin Park.
Isto há coisa de um mês e meio! E de repente estes bacanos regressam ao ativo, quase do dia para a noite! Com alguém chamado Emily como vocalista! E dando concertos menos de uma semana depois!
É muito bom por um lado. Por outro… não é a mesma coisa. A banda está diferente, não há como negá-lo. Tenho saudades de Chester, tenho saudades das palhaçadas dele, e não consigo evitar imaginá-lo cantando as músicas novas.
Enfim, faz parte, iria sempre fazer parte. Esta é uma nova versão da banda. É legítimo precisar de algum tempo para fazermos o luto pelo passado, como disse antes, e para nos habituarmos a este presente.
Ao mesmo tempo, é aqui que os Hybrid Theory nos dão jeito.
Tenho de confessar: outra parte difícil deste processo teve a ver com os efeitos que um regresso dos Linkin Park teriam na banda de tributo. Sejamos sinceros: uma boa parte do sucesso dos Hybrid Theory dever-se-á ao facto de a banda original ter estado parada nos últimos sete anos. O que vai acontecer agora que os Linkin Park voltaram ao ativo? Será que a procura vai diminuir?
Algo que não ajudou em nada foi o facto de as primeiras contagens decrescentes terem coincidido com o ataque cardíaco que Miguel Martins, o guitarrista da banda, teve durante um concerto no Canadá. Foi horrível. Como fãs de Linkin Park já tivemos a nossa dose, mas vai além disso. Como já referi antes, nós os fãs formámos uma família em torno deles. Se não é amigo, é amigo de amigo, é familiar de amigo, é amigo de familiar. Se um sofre, nós também sofremos – e nem me refiro apenas à banda em si.
O lugar-comum é verdade: o importante é ter saúde. Faz com que tudo o resto, nomeadamente estes conflitos mesquinhos, pareça insignificante.
Mesmo assim, com o que aconteceu ao Miguel e com o regresso dos Linkin Park, tive ali uma altura em que receei o pior. Depois da revelação do novo alinhamento da banda original, no entanto, penso que os Hybrid Theory ainda têm um papel a desempenhar. Suponho que agora funcionem como um tributo à banda até 2017, uma cápsula do tempo. A voz do Chester e as músicas no tom igual às versões de estúdio. Uma forma de ter o melhor de dois mundos. Há espaço para todos no universo Linkin Park.
Claro que é preciso ter cuidado. Já tenho apanhado comentários do género “Isto é que é Linkin Park!”... e eu não gosto. A última coisa que quer é que os Hybrid Theory sejam usados como arma de arremesso contra a banda original. Corrijam-me se estiver enganada, mas não foi para isso que se criou o tributo.
Aliás, não é agora que me vou pôr a comparar Hybrid Theory com Linkin Park. Há muito que deixei de fazê-lo. Posso, de vez em quando, ver um vídeo deles e pensar, pela milionésima vez “Fogo, a voz do Ivo é igualzinha à do Chester”, mas não mais do que isso. Em parte por uma questão de sanidade mental, em parte porque aquilo que temos na banda e na seita é algo muito nosso. Algo que nós mesmos criámos, independentemente dos Linkin Park: as cumplicidades, os rituais… É difícil explicá-lo por palavras, mas é algo que não acontece com mais nenhum artista ou banda. É algo que me enche o coração de todas as vezes e é o motivo pelo qual continuo a ir a todos os concertos a que posso.
E têm sido muitos. Como disse antes, já conto doze, nove este ano, mais ou menos ao ritmo de um por mês. No fim de semana de 20 de julho foram dois em vinte e quatro horas. Só não continuo porque eles agora foram numa digressão de várias semanas para o estrangeiro. Neste momento mergulharam de cabeça no público brasileiro – literalmente no caso do Pedro Paixão. A última vez que os vi foi a 19 de setembro, já depois de os Linkin Park terem regressado. Cheguei a pensar que a experiência seria diferente com a banda original no ativo. Não foi.
É mesmo algo que ninguém nos pode tirar.
Ainda é cedo para saber que impacto este regresso terá na carreira dos Hybrid Theory. Se não estou em erro, as datas anunciadas até agora foram marcadas antes de setembro. A maior delas todas é o regresso deles ao Pavilhão Atlântico, a 22 de março do próximo ano, para um concerto de homenagem a Chester – com os Grey Daze a abrir. Depois disso, não sei.
De qualquer forma, para mim já é demasiado tarde. Os Hybrid Theory já tomaram demasiado de mim: a minha cabeça, o meu coração, o meu dinheiro, o meu tempo livre, a minha vida social. Seja no Pavilhão Atlântico, no Rock in Rio ou numa festa de aldeia no meio de nenhures, enquanto tiver possibilidades, enquanto os Hybrid Theory continuarem, eu continuo também.
Outra parte difícil do regresso dos Linkin Park tem sido o regresso da discórdia entre os fãs. Também faz parte, infelizmente, sempre fez – desde Minutes to Midnight ou mesmo antes. A única altura em que houve paz na comunidade de fãs foram nestes últimos sete anos, quando a banda esteve em pausa. Fãs de Linkin Park nunca reagiram bem a mudanças – eu incluída, sobretudo com One More Light. Claro que uma grande parte iria reagir mal a um regresso dos Linkin Park sem Chester, fosse de que forma fosse.
E eu infelizmente estava menos bem preparada para isso do que pensava.
Ao menos na comunidade HT as coisas têm-se mantido civilizadas, mesmo quando discordamos. Tenho dias em que levo mais a peito quando, na minha opinião, são demasiado duros para com os Linkin Park, mas guardo-o para mim mesma. O problema é meu.
Como poderão concluir no fim deste longo testamento, as minhas opiniões têm sido tendencialmente positivas… mas posso estar enganada. Tenho noção de que posso estar a ser demasiado leal para com uma banda que, tanto quanto sei, só me vê como uma caixa multibanco. E pronto, talvez só tenham reativado os Linkin Park porque a marca ainda rende dinheiro – mais do que se arranjassem outro nome.
Se for esse o motivo… não me importo muito. Afinal de contas, o dinheiro move o mundo atual e já vi coisas bem piores que isto para encher cofres. Ao menos tenho a minha banda preferida de volta.
E, apesar de tudo, apesar dos conflitos internos e externos, isso é ótimo. É brutal ter os Linkin Park de novo, quando cheguei a pensar que não voltaria a recuperá-los.
E vou vê-los de novo em concerto – dez anos depois da última vez! Em Paris! E de novo se eles passarem por Portugal. Com toda uma seita a acompanhar-me!
Este foi o primeiro mês de vários anos, talvez mesmo décadas de Linkin Park. De músicas, álbuns, concertos, entrevistas, vídeos de bastidores. Vamos envelhecer juntos! É demasiado tarde para o Chester, mas não o é para o Mike, o Brad, a Emily e os outros – nem para os Hybrid Theory! Isto é um privilégio que nunca mais hei de voltar a tomar por garantido. Ninguém deixará que Chester seja esquecido, mas a nossa história com Linkin Park vai continuar.
A verdade é que não me traria felicidade nenhuma virar as costas à banda – não sem um bom motivo para isso, e não me parece que haja. Sou demasiado “soft”, como se diz agora, por tudo o que se relaciona com Linkin Park. Sempre fui e tenho sido ainda mais neste último ano e meio, depois de o tributo português deles ter mudado a minha vida. Sim, como expliquei antes, temos a nossa própria cena na família HT, independente da banda original, mas não muda o facto de ter sido Linkin Park a unir-nos. Eu estarei para sempre em dívida para com a banda e para com o Chester por isso.
E para com o Mike. Não tenho concordado com tudo o que ele fez nos últimos anos, nomeadamente quando se meteu em NTFs, e ainda estou confusa em relação às músicas a solo que lançou no ano passado. Mas o Mike manteve-se connosco nestes anos todos, sempre soube o que dizer a fãs com saudades do Chester, como eu. Ainda sabe. Temos projetado muito do nosso luto nele, ele tem-no aceitado. Até fez a digressão Post Traumatic em parte para dar um espaço para os fãs exprimirem as suas emoções em relação à morte do Chester – admitindo, anos mais tarde, que lhe custou. Como penso já ter dito antes aqui no blogue, Mike não tinha essa obrigação – a perda dele foi muito maior do que a nossa.
Continuo com as minhas reservas, mas confio mais nele do que na má-fé da gente das internetes.
Aliás, uma das melhores partes da apresentação na noite de 5 de setembro foi ver o Mike sorrindo com a cara toda, como eu tanto gosto. Ficou mesmo contente com o cachê extra. Quando eu ainda me recordo de como ele estava no concerto de homenagem ao Chester, em outubro de 2017, quando ainda hoje ouço músicas de Post Traumatic. O Mike nasceu para isto, para estar em palco perante milhares cantando para ele.
Mesmo nos meus momentos mais céticos, pelo Mike, pela felicidade do Mike, estou disposta a dar-lhe o benefício da dúvida. Só mesmo porque uma das maiores fontes da minha felicidade hoje em dia nasceu graças a ele.
Há sete anos que sei que isto poderia acontecer. Passei este tempo dizendo a mim mesma que lidaria com isso quando a altura chegasse.
Pois bem, a altura chegou. Eis-me lidando com isso.
Os Linkin Park são a minha banda preferida. Por uma questão de princípio costumo dizer que estão empatados com os Paramore. Mas, se quiser ser sincera comigo mesma, nenhum outro artista ou banda me deu tanto, mudou tanto a minha vida como eles. Sobretudo no último ano, ano e meio – ainda que de forma indireta neste caso.
Quando o vocalista Chester Bennington morreu, há sete anos, custou-me horrores. Ainda custa. O luto não tem sido linear – por exemplo, para mim a pior fase foi no ano passado – e acho que nunca aceitarei esta perda por completo. Tenho vários textos neste blogue documentando diferentes fases do luto – é assim que tenho digerido esta perda.
E é para isso que estamos aqui hoje. Não queria voltar a escrever sobre o universo Linkin Park tão cedo – tirando textos de fim de ano, no meu blogue só tem dado Linkin Park e Paramore, Paramore e Linkin Park nos últimos dois anos. Mas esta é uma nova fase do luto e há muita coisa para processar.
Daí as sete mil e quinhentas palavras, mais coisa menos coisa, que se seguem. Não couberam todas numa única publicação, logo, este texto vem dividido em dois. A ver se publico a segunda parte ainda hoje ou, no máximo, amanhã.
Sete anos é muito tempo. Vivi muitas vidas desde 2017 e, ao longo deste tempo, fui fazendo flip-flop nas minhas opiniões em relação a um possível regresso dos Linkin Park ao ativo sem Chester. Não havia opção que não doesse de uma maneira ou de outra. Podiam reativar a banda, com ou sem um vocalista novo, mas nunca serão capazes de preencher o buraco em forma de Chester.
Por outro lado, há Linkin Park para além do lendário vocalista, sempre houve. Seria um desperdício se passassem o resto da vida parados, esgravatando baús à procura de faixas inéditas na voz do Chester para irem lançando em edições de aniversário. Os próprios membros sobreviventes dos Linkin Park foram deixando mensagens contraditórias ao longo destes últimos anos em relação a um possível regresso – o que é perfeitamente compreensível.
Neste último ano, não fazia questão que os Linkin Park voltassem já ao ativo. Como quase toda a gente na minha vida está farta de saber, há um certo tributo português à banda que se entranhou no meu coração. Já fui a doze concertos deles no total e, conforme já expliquei antes, fiz inúmeras amizades entre os fãs de Hybrid Theory. Chamamos a nós mesmos família – e, mais recentemente, seita – e tenho sido muito feliz com eles.
Por estes dias, nos meus piores momentos, quando me sinto mais cansada e desanimada com todas as controvérsias em torno da banda original, quase que desejo que os Linkin Park tivessem ficado quietinhos por pelo menos mais um ano ou dois. Que me deixassem como estava, linda e maravilhosa com os meus HT, banda e família – até porque não me foi fácil chegar a esse ponto – sem ter de lidar com a inevitável confusão emocional que viria sempre com um hipotético regresso dos Linkin Park sem Chester.
Mas estou a adiantar-me.
Este regresso pareceu-me muito repentino, mas a verdade é que já havia sinais há algum tempo. Em fevereiro deste ano (com a vida intensa que tenho levado, parece já ter sido há uma eternidade), os Linkin Park lançaram Friendly Fire, uma faixa excluída do álbum One More Light, como primeiro avanço do álbum de êxitos Papercuts, que sairia um par de meses depois.
Um breve aparte para referir que ando com vontade de escrever sobre Friendly Fire cá no blogue. Só não o fiz ainda porque, em primeiro lugar, lá está, tem havido muito Linkin Park aqui no estaminé. Em segundo, porque iria entrar em territórios tristes e vocês já tiveram a vossa dose com esta.
Em todo o caso, como já tinha escrito na altura, o timing de Papercuts deixou-me com a pulga atrás da orelha. E as minhas suspeitas aumentaram quando, no início de Abril, Jay Gordon deixou escapar em entrevista que tinha ouvido dizer que os Linkin Park tinham arranjado uma cantora.
O pessoal, naturalmente, passou-se, mas nada foi confirmado oficialmente na altura. Ainda pensei “onde há fumo, há fogo”, mas agarrei-me à minha resolução de esperar que fosse oficial antes de reagir. O burburinho acabou por esmorecer, eu mesma acabei por me esquecer, quase entrando em negação e relação à possibilidade de os Linkin Park regressarem.
Com isto tudo, passaram-se… *conta pelos dedos* quatro meses. Em finais de agosto, publicaram uma contagem decrescente nas redes sociais, que depois passou a crescente e depois passou a decrescente outra vez – ideia de Mike Shinoda e Brad Delson, aqueles cromos. Finalmente, anunciaram um evento para dia 5 de setembro, às onze da noite, hora portuguesa, com transmissão em direto online. Nessa noite sentei-me em frente ao computador, com várias conversas abertas com pessoas da família HT para comentar na hora – uma das muitas vantagens da seita é ter gente com quem desfrutar destas coisas.
Acabou por ser um exemplo perfeito de “show, don't tell”. A banda pura e simplesmente apareceu em palco – um baterista diferente, um guitarrista diferente. O Mike disse-nos olá e começou a cantar uma música que não conhecíamos, confirmando o título The Emptiness Machine que andara a circular nas internetes nos dias anteriores. Na segunda parte da música, juntou-se uma mulher aos vocais.
Estes são os Linkin Park agora. Mike Shinoda, Joe Hahn e Dave Phoenix Farrell nos papéis habituais. Emily Armstrong como co-vocalista. Brad Delson ainda com todas as funções anteriores, mas substituído em palco por Alex Feder. Finalmente, Rob Bourdon não regressou à banda, logo, a bateria ficou a cargo de Colin Brittain. A banda regressou aos palcos menos de uma semana depois e já deu seis concertos até agora (sete, se contarmos com o concerto de apresentação). O novo álbum deles chama-se From Zero e sai a 15 de novembro.
Ah, e eu vou vê-los a Paris.
Não faltaram entrevistas depois da revelação onde a banda explicou como é que isto aconteceu. Recuemos no tempo de novo.
A perda do antigo vocalista e a súbita paragem na carreira dos Linkin Park não foi fácil para ninguém e, para os membros sobreviventes, foi pior que para quaisquer outros, tirando a família e amigos de Chester. Zane Lowe, na sua entrevista com a banda, referiu – e muito bem – o álbum a solo do Mike, Post Traumatic (que eu continuo a adorar, mais que alguns álbuns dos Linkin Park). Todos os membros sobreviventes tiveram de passar pelo luto, cada um à sua maneira.
O baixista Phoenix, por exemplo, chegou a pensar nunca mais voltar ao mundo da música. Mike, por seu lado, nunca deixou de fazer música – foi a sua maneira de processar a perda nos primeiros meses, e ele é daquele tipo de pessoas criativas que tem de estar sempre a trabalhar na sua arte. Mas não para os Linkin Park – Mike terá mesmo pensado, há uns tempos, que o povo já tinha perdido o interesse na banda. Os próprios membros sobreviventes da banda chegaram a reduzir o contacto entre si.
A partir de certa altura os membros sobreviventes foram retomando o convívio. Sem pressão, sem intenções de reativar a banda, só vibes, só renovando amizades. Tiveram algumas sessões espaçadas para criarem música ao longo dos anos, incluindo com outros artistas (entre os quais Emily Armstrong e Colin Brittain), mas que não deram em nada. Só nos últimos dois anos, mais coisa menos coisa, é que terão mais deliberadamente a tentar criar música para os Linkin Park… mas não todos.
O que nos leva a uma das partes mais tristes deste evento: Rob Bourdon, o primeiro baterista dos Linkin Park, não quis voltar.
Eu e outros fãs já tínhamos reparado que o Rob não aparece em público em anos. Pensava que a última vez tinha sido no concerto de homenagem ao Chester, em outubro de 2017, mas no outro dia um fã desenterrou o vídeo acima, da altura do HybridTheory20 – um discurso muito bonito, dedicado aos fãs de Linkin Park e que, agora, soa a uma despedida. Para o Meteora20 já não apareceu. Ainda assim tínhamos esperança – não não, tínhamos quase a certeza de que, se os Linkin Park regressassem, Rob regressaria com eles.
Enganámo-nos.
Confesso que a ausência do Rob me custa. Não custa tanto como a ausência do Chester, mas é mais difícil de aceitar. Sabíamos que o Chester não regressaria, por motivos óbvios. Mas, lá está, não estávamos à espera que o Rob ficasse de fora.
Não que estivesse muito muito afeiçoada ao Rob. Sempre gostei de todos. Mike e Chester foram sempre os meus preferidos e, se calhar, até gostava mais de Brad ou de Phoenix. Mas para mim os Linkin Park sempre foram os seis membros originais, a amizade entre eles. Sempre dei valor ao facto de a banda ter conseguido manter o mesmo alinhamento durante dezassete anos. Não é fácil – a minha outra banda preferida são os Paramore, sei que não é fácil. E essa ideia dos Linkin Park como um bromance inquebrável a seis, mesmo com a perda do Chester, conforme mostrado neste desenho, foi um dos meus consolos nestes últimos sete anos. Foi também por isso que, inicialmente, não reagi muito bem quando Brad anunciou que não iria tocar em palco, mesmo continuando a fazer parte da banda.
Deixando a parte sentimental de lado, talvez não fosse razoável assumir que mais nada mudaria para além da perda do Chester. Sete anos é muito tempo, aconteceu muita coisa, incluindo uma pandemia. Como dei a entender antes, não sou a mesma pessoa que era em 2017, eles também não o serão.
Talvez Rob não tenha querido voltar por não querer continuar numa banda sem Chester. Toda a gente compreende. Mas mesmo que o Chester não tivesse morrido, quem nos garante que o Rob não sairia da banda à mesma? Eles estão à beira dos cinquenta anos, o Rob já teve de ser seguido por problemas nas costas. Este estilo de vida não é fácil – infelizmente tive um exemplo das consequências há bem pouco tempo (mais sobre isso adiante). E se ao Brad, como explicou, fosse custando cada vez mais tocar em palco, mais cedo ou mais tarde desistiria à mesma, com ou sem Chester. Legítimo.
Há que fazer o luto pela versão dos Linkin Park que conhecíamos até inícios de setembro. A que tinha o Chester, o Rob e o Brad em palco. Haverá uma lição de vida aqui: todo o mundo é composto de mudança, tomando sempre novas qualidades. E ainda nem chegámos a Colin e sobretudo a Emily.
Serve de consolo saber que esta versão dos Linkin Park não está perdida por completo… mas já aí vamos.
Dizia eu que os membros sobreviventes se foram encontrando ao longo dos anos, convivendo, retomando as amizades e, a partir de certa altura, criando música. O Mike e os outros dizem que o álbum novo foi nascendo assim. Suponho que o próprio processo tenha inspirado o título From Zero: eles repetiram o processo por que passaram quando eram miúdos e criaram a banda. Amigos primeiro, banda(s) depois. O “Zero” funciona também como referência a Xero, um dos primeiros nomes, antes de Chester se ter juntado à festa.
Dito isto, não concordo a cem por cento com este título – não é completamente honesto. Eles fizeram um soft reboot à banda, mas não estão verdadeiramente a começar do zero: têm sete álbuns e mais de vinte anos de história no mundo na música a sustentá-los. E, para desagrado de muitos (eu não incluída), eles não tencionam abdicar da discografia anterior.
Outra coisa que me faz confusão é o timing disto tudo – porque eu fui seguindo os trabalhos do Mike, com mais ou menos distância, ao longo destes sete anos. A ideia que tenho é que o Mike foi mantendo várias panelas ao lume: os seus trabalhos como produtor, a sua música a solo e, pelos vistos, isto. Há um ano, o Mike andava a lançar música a solo e dando a entender que iria continuar a fazê-lo – quando supostamente já estaria a trabalhar em músicas para o regresso dos Linkin Park. Se calhar, nessa altura ainda não se queria comprometer com um regresso da banda.
Para ser justa, não é a primeira vez que o Mike faz uma coisa destas. Entretanto recordei-me de Welcome: um single do seu projeto lateral Fort Minor, que foi lançado com bastante pompa e circunstância em 2015. Também na altura o Mike deu a entender que era o início de algo maior… para depois não dar em nada. Deve ser uma mania dele.
O Mike agora diz que os Linkin Park são o seu verdadeiro amor, que nenhum dos seus outros projetos o satisfaz da mesma maneira. Vou acreditar nele.
Estão a ver todos os cenários que fomos colocando ao longo de sete anos para um possível regresso dos Linkin Park? Eles pensaram em todos – ou, vá lá, quase todos. Só o Mike nos vocais, um vocalista novo, vários vocalistas convidados. E também adotarem um novo nome, como muitos fãs têm sugerido antes e sobretudo depois do regresso da banda – quiçá a maior fonte de polémica neste último mês.
Da maneira que vejo, a maior parte da controvérsia centra-se numa questão muito simples: o que é Linkin Park? O que entendem por Linkin Park? O que significa para vocês? É uma marca? É Chester-mais-cinco? É Mike-mais-cinco? Os seis originais? Com o Mike como cérebro e o Chester como coração? É nu-metal? É rock com rap? É a banda que nunca se contentou com um único género musical? É só a música ou são também as pessoas por detrás? Tiram-se um ou dois membros e já não é Linkin Park?
Não existem respostas erradas e é legítimo se uma grande parte delas – se não for a maior parte – não for racional. Cada um de nós, fãs, tem os seus motivos para terem adotado os Linkin Park e para os terem mantido na sua vida.
No meu caso, nunca me fez sentido os membros sobreviventes dos Linkin Park regressarem com outro nome, sobretudo se tencionassem continuar a tocar as músicas antigas. Lá está, não é uma coisa racional, é instintiva e só agora, que me sentei a escrever este texto, é que consigo explicar por palavras.
Linkin Park é muitas coisas para mim e uma delas é o legado de Chester. É o oposto daqueles que dizem que sem Chester não há Linkin Park. Para mim, seguirem com outro nome seria um desrespeito à memória do Chester, fingirem que ele nunca existiu. Linkin Park será sempre Chester. Manterem o nome, tocarem as músicas que ele ajudou a criar, de uma maneira ou de outra, é uma forma de manter o legado dele vivo, é uma forma de honrar a memória dele.
Da mesma forma, cada vez que ouvimos e cantamos músicas dos Linkin Park, cada vez que vamos a concertos da banda original ou de tributos como os Hybrid Theory, cada vez que convivemos e nos ligamos a outros fãs, estamos a homenagear o Chester e aquilo que nos deixou.
Dito isto, os motivos que o Mike e os outros deram para manter o nome Linkin Park são diferentes. Em entrevista, disseram que a música que criaram em conjunto soava a Linkin Park. Uma vez mais, não foi uma coisa racional, foi instintivo. Eles sentiam que era Linkin Park. Dar-lhe um nome diferente seria desonesto.
E, agora que já conhecemos duas das primeiras músicas que eles criaram com este novo formato, tenho de concordar que isto é Linkin Park. Talvez até seja demasiado Linkin Park, mas já falamos sobre isso.
É legítimo discordar com a manutenção do nome. Não há como negá-lo, esta é uma banda diferente. Mas foram o Mike, o Brad e os outros a criá-la. Linkin Park significa coisas diferentes para diferentes pessoas, mas os seus membros têm mais autoridade do que nós para determinar o que a banda é ou deixa de ser.
Eu prefiro pensar neste novo capítulo como uma expansão do que é Linkin Park. Na minha era de “both/and”, nada e sobretudo ninguém se define por um único atributo. Somos todos várias coisas, talvez contraditórias à primeira vista, mas que não se excluem umas às outras. Linkin Park é o Chester, são os seis membros originais, mas não só. O universo dos Linkin Park é grande. Cabe muita gente.
O que nos leva, assim, à questão do vocalista – da vocalista. A primeira vez que vi alguém colocar a hipótese de uma mulher nos Linkin Park foi em finais de 2017 – a propósito das participações de Kiiara e Amy Lee no concerto de homenagem ao Chester. A possibilidade começou a ser debatida em força este ano, com os rumores iniciados por Jay Gordon.
A minha principal objeção à ideia tem a ver com um aspeto dos Linkin Park sobre o qual li nas minhas pesquisas para os textos sobre Hybrid Theory e Meteora. A importância que a banda têm tido para rapazes adolescentes, sobretudo com os seus primeiros álbuns. Deu-lhes uma forma de lidar com emoções e vulnerabilidades que a sociedade nem sempre tolera no masculino. O Chester, então, era um excelente exemplo disso – ele que nunca escondeu o seu lado negro, o seu lado vulnerável e assim conquistou os corações de tantos.
Com uma mulher é diferente. É mais tolerado da parte de mulheres e meninas exprimirem vulnerabilidade e tristeza. Não há como negá-lo
Dito isto, este argumento vale o que vale. Não sou nem nunca fui homem ou rapaz, não posso falar como um. Quem me garante que vai deixar de haver essa ligação, esse veículo, só porque agora é uma mulher a cantar? Até porque continuam a haver cinco homens na banda. The Emptiness Machine, então, foi compôsta por Mike, Brad e Phoenix. Não deixa de ser uma banda masculina.
Ao mesmo tempo, mesmo que os Linkin Park sempre temnham apelado em particular a rapazes e homens, nunca faltaram raparigas e mulheres entre os fãs. E nem se pode dizer que os temas das músicas só sejam aplicáveis ao género masculino – eu, por exemplo, sempre me identifiquei com Numb. Ainda agora somos imensas mulheres no grupo de fãs dos Hybrid Theory. Sessenta por cento homens e quarenta por cento mulheres, mais coisa menos coisa segundo o que me dizem. Adiantando-me um pouco, a Emily também idolatrava o Chester e foi influenciada por ele. É uma de nós.
Além disso, pelo menos nesta fase, mulheres no rock não são demais. E uma parte de mim acha muito fixe ter uma mulher vocalista nos Linkin Park, a minha banda preferida. Uma mulher da comunidade LGBT+, ainda por cima. Uma mulher perto da casa dos quarenta – já na terceira idade, segundo os critérios da indústria musical. Uma mulher cujas roupas já ando a cobiçar. O facto de existirem fãs aziados só por haver uma senhora nos Linkin Park é mais um ponto a favor.
Os Linkin Park garantem que não houve casting formal para um ou uma nova vocalista. Houve quem o sugerisse. Um concurso estilo Ídolos, chamado “Quem quer ser o próximo vocalista dos Linkin Park?” se calhar – acho que nunca detestei tanto uma ideia.
Muito se tem falado sobre os dotes vocálicos da Emily – mesmo nós havemos de falar disso. Têm sido referidos outros nomes, tanto homens como mulheres, que poderiam desempenhar esse papel – incluindo um certo pitoco dos Algarves. Mas, conforme o Mike e os outros explicaram, não bastaria ao candidato ser capaz de fazer os dezassete segundos do grito de Given Up. Se assim fosse, contentar-se-iam com um ou mais vocalistas convidados.
Em vez disso, eles procuravam gente com quem podiam trabalhar, criar música, ir em digressão, que se integrava bem na banda. O Colin, por exemplo, terá conhecido o Mike em 2021. O Colin é produtor e multi-instrumentista (ainda que a bateria seja o seu instrumento principal), tal como o Mike, ambos terão filosofias musicais semelhantes, encaixam bem um com o outro. Assim, quando chegou a hora de reativar os Linkin Park, convidar o Colin terá sido o passo natural.
Da mesma forma, o Mike e os outros foram trabalhando com outros artistas, terão tido outros vocalistas cantando as músicas que criaram. Vários até cantavam bem, mas só a Emily é que soava como se encaixasse em Linkin Park.
E a verdade é que ela parece bem integrada. No artigo da Billboard que saiu no dia da revelação, referem a cumplicidade entre o Mike e a Emily. Agora que já se passaram umas semanas e alguns concertos, já deu para ver a Emily em brincadeiras com os colegas: aqui com o Phoenix, por exemplo.
A minha primeira reação não foi muito favorável, confesso: cheguei a sentir alguns ciúmes no lugar do Chester, sobretudo no que toca ao Mike. Por outro lado, se era para arranjar gente nova para os Linkin Park, tem de haver cumplicidade, tem de haver química. Porque, lá está, para mim Linkin Park é também as amizades entre os membros. Menos do que isto não era aceitável.
Mas agora temos de falar do reverso da medalha: a polémica em torno do passado do Emily. Nomeadamente o facto de ter sido criada no seio da igreja da Cientologia.
Isto tem sido a pior parte desta história toda, a mais cansativa. Não percebo o suficiente sobre o assunto, mas quer-me parecer que as pessoas estão a culpá-la por fatores que não estão sob o controlo da Emily. Literalmente as circunstâncias do seu nascimento. Mesmo que ela, a certa altura, tenha acreditado naquilo que a Igreja propagava e até praticado a religião, não seria a primeira nem seria a última pessoa a revoltar-se contra a fé em que foi criada.
Até porque, de acordo com o que pesquisei, tirando uma ocasião em que a Emily esteve numa gala da Igreja em 2013, não há provas concretas de que ela ainda pratique a Cientologia. Aliás, as ações dela contrariam essa ideia. A Cientologia é homofóbica mas a Emily é lésbica assumida, para começar. Muitos têm também invocado as posições dessa igreja em relação à saúde mental, que contrastam com o que os Linkin Park têm pregado sobre o tema, sobretudo depois de o Chester ter morrido por suicídio. No entanto, olhando para as letras da sua antiga banda, Dead Sara, um dos temas é precisamente ideação suicida – tal como várias letras do próprio Chester. Se não foi a própria Emily a escrevê-las, pelo menos assinou por baixo.
E é possível que ela não fale abertamente contra a Cientologia porque, segundo dizem, eles retaliam brutalmente contra que o faz e respectivas famílias. Se a Emily foi criada nessa igreja, talvez ainda tenha familiares associados à mesma, logo, numa posição vulnerável.
Mais difícil será justificar ter sido testemunha de defesa daquele sujeito condenado por violação. Segundo a publicação dela, a Emily considerava-o um amigo e admitiu ter-se enganado em relação a ele. Não foi ela quem cometeu um crime, nem acho que seja automaticamente má pessoa só porque foi das que diziam “Ah, mas ele parecia-me tão bom rapaz!”. E é de muita má-fé dizer que a Emily “apoia” a violência sexual por princípio (?) por causa desta situação.
Em paralelo, muitos fãs parecem falar do Chester como se tivesse sido um santo. O que eu até compreendo: a tendência muito humana de santificarmos quem já perdemos, de não querermos falar mal dos mortos. Eu mesma sou culpada disso, mesmo não sendo daqueles que só deram valor ao Chester depois de ele morrer.
Mas apesar de ter sido uma excelente pessoa, sobretudo tendo em conta a vida que teve, o Chester não era perfeito. Ele era alcoólico, toxicodependente, teve cinco filhos biológicos (e um adotivo) com três mulheres diferentes, magoou muitos, incluindo as pessoas que o amavam. O que, claro, não faz dele um monstro. O Chester era humano tal como nós, tal como a Emily, fazendo o melhor que podia.
Podia escrever um texto à parte sobre a cultura de cancelamento, sobre má-fé, sobre a forma como pinta o mundo a preto e branco, como muitos dos seus praticantes parecem passar demasiado tempo online, sem saber o que é lidar com pessoas na vida real. No caso da Emily, não sei se é misoginia ou se qualquer vocalista novo “substituindo” (ênfase nas aspas) o Chester, homem ou mulher, estaria sujeito a isto (aqui entre nós, ainda bem que o Ivo dos HT não está nesta posição). Mas há várias outras figuras públicas por aí bem mais militantes da Cientologia – Tom Cruise por exemplo – que não aturam nem metade daquilo que Emily tem levado.
Esta minha posição vale o que vale. Não quero insinuar que a Emily seja cem por cento inocente. Mas não acho que haja matéria que chegue para repudiá-la.
Para mim, é mais legítimo avaliar a Emily pelo seu desempenho como vocalista dos Linkin Park. Há fãs que adoram incondicionalmente, há fãs que detestam. Na família HT há muitos que até gostam da voz dela nas músicas novas, mas não gostam de ouvi-la cantando músicas antigas dos Linkin Park.
No início, eu estava mais ou menos a meio deste espectro e com o tempo a minha opinião tem vindo a tender para o favorável. Aquele primeiro concerto, transmitido em direto a 5 de setembro, não lhe correu bem: a expressão que tenho usado para descrever é “muito hit or miss”. Gostei da nova versão de Lost, por exemplo, e de Papercut – vê-la lado a lado com o Mike, tal como o Mike e o Chester faziam, tal como o Ivo e o Pedro fazem.
Outros momentos deixaram muito a desejar, no entanto. De Faint não gostei nada. The Catalyst e Waiting for the End também não correram bem. Nós, na conversa online da família HT, fomos mauzinhos:
– Se a mulher não aguenta The Catalyst, é melhor nem tentar Given Up!
Eu e outros fomos tentando ser caridosos. Talvez ela estivesse nervosa, ainda a adaptar-se. Mais tarde, o Mike revelaria em entrevista que a Emily estava a chorar durante Waiting For the End, pelo menos, daí lhe ter falhado a voz. Isso voltou a acontecer em concertos posteriores, logo, a música definitivamente mexe com ela.
E eu sou a última pessoa que lhe pode atirar pedras. Waiting for the End é uma música especial. Quando andava mais sensível, com saudades do Chester, no ano passado, era uma de várias que me faziam chorar. Há várias partes da letra que se podem aplicar à perda, à situação dos Linkin Park nos últimos anos e a esta transição. Nós fartámo-nos de citar esta música uns aos outros nos dias antes do anúncio. “I know what it takes to move on”, “the hardest part of ending is starting again”.
Mesmo assim, uma coisa de que não gostei foi de terem mudado o tom das músicas para serem compatíveis com a voz da Emily. Compreendia… mas não gostava. Estava a esforçar-me para ser caridosa naquela noite e a minha primeira reação a Numb foi:
– WTF?! Numb versão nightcore!
Para ser justa, estive a ver um vídeo do concerto deles em Nova Iorque e já gostei mais – de Numb e do resto que tenho visto. Não muito muito, para não ter demasiados spoilers para o concerto de Paris. Mas o suficiente para ficar mais descansada em relação à Emily. O benefício da dúvida deu resultado, ela está a melhorar com o tempo.
E sim, ela parece ter a energia certa. Canta, faz screamo – as pessoas têm vindo a comentar que a Emily grita com raiva, enquanto o Chester gritava com dor. É uma opinião interessante – ainda não sei se concordo ou discordo mas, de qualquer forma, acho que encaixa em Linkin Park.
Continuo a preferir o Chester/os Linkin Park antigos ou o Ivo/os Hybrid Theory. Por exemplo, a nova versão de Given Up não soa mal, mas a Emily ainda não está preparada para ela. O Ivo, por sua vez, seria capaz de fazer aquele grito a dormir, aposto. Mas pronto, mantenho o benefício da dúvida. Para já, a Emily está aprovada.
E mesmo que não gostasse, nunca aceitaria que os Linkin Park deixassem de tocar as músicas antigas. Até compreendo quem o defende mas, pelo menos no meu círculo, quem o defende é gente na posição privilegiada de quem vai com regularidade a concertos dos Hybrid Theory (já falamos melhor sobre eles). A maior parte dos fãs de Linkin Park não tem essa sorte – o Mike disse mesmo que um motivo pelo qual reativou a banda foi para dar novas oportunidades às pessoas que não puderam ver Linkin Park.
E se houve algo que reaprendi neste último ano e meio é que as músicas desta banda – e não falo apenas de Numb ou de In the End – são intemporais, fazem parte da paisagem musical, do ADN cultural. Criaram-nos, salvaram-nos, continuam a ganhar novos significados, mesmo passados quinze ou vinte anos. Como os próprios HT defendem, foram feitas para o palco. E como disse antes, na minha opinião, são a melhor forma de homenagear o Chester.
Para já ficamos por aqui. Na segunda parte falamos, então, sobre as músicas novas que saíram até agora, entre outras coisas. Publico-a assim que puder. Não saiam daí.