Ao longo da primeira década do século, de forma mais ou menos regular, em minha casa tínhamos por hábito ligar na RTP2, de segunda a sexta, mais ou menos às oito e meia da noite, hora a que transmitiam uma sitcom americana. Série como Sabrina, a Bruxinha Adolescente, Yes, Dear/Sim Amor, S-Club; algumas mais clássicas, como Green Acres/Viver no Campo e Bewitched; numa fase mais posterior A Teoria do Big Bang, Dois Homens e Meio e Everybody Hates Chris/Todos Contra o Chris (uma série que merecia mais popularidade, na minha opinião). Todas estas eram razoáveis, umas mais do que outras. No entanto, a partir do outono de 2005, começou a passar uma que tinha muito mais piada que as demais: Friends.
Cerca de ano e meio após o episódio final de Friends, a RTP2 transmitia as dez temporadas de seguida, processo que durou um ano, mais coisa menos coisa. Eu e o resto da minha família íamos ficando cada vez mais rendidos à medida que acompanhávamos a vida dos seis amigos, com as suas amalucadas reviravoltas: desde o relacionamento tumultuoso de Ross e Rachel, os empregos difíceis de Monica, Joey sendo um péssimo ator, Phoebe sendo mãe de aluguer dos sobrinhos, Ross trocando o nome da sua noiva em pleno altar, Monica indo parar à cama de Chandler e acabando por se casar com ele, entre muitas outras coisas.
A RTP voltaria a exibir a série no mesmo horário daí a dois anos e nós seguimo-la com a mesma convicção. Desde essa altura, continuo a rever episódios da série com frequência (demasiada frequência, diga-se). Nenhuma sitcom que tenha visto até agora está tão bem feita e, sobretudo, me faz rir da mesma maneira (How I Met Your Mother esteve perto nos primeiros anos, mas toda a gente sabe no que isso deu...).
Como tal, quando dei com a TAG Eu Amo Friends, quis incluí-la aqui no meu blogue. Como o costume, adaptei as perguntas ao português europeu.
1) Com qual personagem mais te identificas e porquê?
Esta é uma pergunta muito interessante. Não me identifico com apenas uma personagem, mas identifico-me com cada uma das três personagens femininas, por motivos diferentes. Identifico-me com Rachel, sobretudo nas primeiras temporadas, pois ela é ingénua, um bocadinho mimada, está ainda a aprender a ser adulta, muito como acontece comigo. Identifico-me com Monica pelo seu lado mais romântico e, sobretudo, maternal, com algumas das suas inseguiranças quando começa a trabalhar no Alejandro's e também, de certa forma, com a relação tumultuosa com os seus pais. Por fim, identifico-me com Phoebe pelo seu lado mais excêntrico e amalucado.
2) Qual é a temporada de que gostas mais e a de que gostas menos?
A temporada de que gosto mais é a segunda. Isto pode ter a ver com o facto de eu possuir os DVDs das duas primeiras temporadas, logo, tenho tido mais contacto com estas do que com o resto da série.
A temporada de que gosto menos é a última, mais porque, por esta altura, já se notava o desgaste e as personagens já tinham demasiados elementos de caricatura. No entanto, a série tem o mérito de nunca ter deixado de fazer rir, o que é algo de que nem todos se podem gabar.
3) Qual é o teu episódio de feriado (Natal, Dia de Ação de Graças, etc.) preferido?
É uma escolha difícil, mas eu vou responder "The one with the football". A premissa é muito simples - os seis jogando futebol americano - não é difícil fazer as piadas surgirem. E estas realmente vão fluindo, com Monica e Ross, hiper-competitivos, trocando picardias, Joey e Chandler lutando pelas atenções de uma beldade holandesa, Rachel como a inepta do grupo e algum humor físico à mistura.
4) Qual é a tua canção da Phoebe preferida?
Escolho esta, não tanto pela música em si, antes pelo timing cómico. Rio-me de todas as vezes.
5) Qual é o episódio mais engraçado?
Vou aproveitar a ocasião e fazer um top 7 com os meus episódios favoritos e/ou que considero mais engraçados.
7) The One After the Superbowl, part 2
Refiro este apenas pela história de Chandler. Este reencontra Susan, uma colega do quarto ano. Susan refere, de forma muito casual, a ocasião em que Chandler lhe levantou a saia, durante uma peça de teatro escolar, deixando-lhe as cuecas à mostra. Ela e Chandler envolvem-se, mas na verdade tudo aquilo é uma armadilha montada por Susan para vingar aquela partida. E que vingança é, senhores! Uma pessoa fica a pensar quantos anos terá Susan passado aguardando o momento em que reencontraria o antigo colega, magicando este plano.
Susan é interpretada por Julia Roberts e esta história não teria metade da piada não fosse o trabalho dela. Sem querer, de modo algum, menorizar o trabalho de Matthew Perry, com quem tem uma excelente química (consta, aliás, que os dois namoravam aquando das filmagens deste episódio. Vejam só esta cena:
Atentem a esta troca:
Chandler: "That was fourth grade! How come you're still upset about that?"
Susan: "Well, why don't you call me in twenty years and tell me if you're still upset about this?"
Por sinal, estes vinte anos completaram-se há pouco tempo. Será que o Chandler ainda está chateado?
Este episódio só não está mais acima na classificação porque as outras histórias neste episódio não têm assim tanta piada.
6) The One With the Baby on the Bus
Este episódio vale sobretudo pela história de Chandler e Joey, que aproveitam o episódio alérgico de Ross para usarem o bebé Ben para engatar mulheres. No entanto, acabam por se esquecer do bebé no autocarro, o que conduz a esta cena hilariante, que me cai no goto de todas as vezes, sobretudo a última fala de Chandler: "What kind of scary ass clowns came to your birthday?"
Ao contrário do episódio de que falámos antes, as outras histórias deste até são engraçadas, mesmo não sendo por aí além. A conversa final de Monica e Ross fará, certamente, sorrir quem tenha irmãos. A história de Phoebe e Rachel também tem a sua piada, mas destaca-se sobretudo por corresponder à estreia de Smelly Cat.
5) The One With the Boobies
Ter personagens vendo-se acidentalmente nuas umas às outras não é propriamente um exemplo de comédia sofisticada, admito, mas esta está tão bem feita neste episódio que não resisto a incluí-la entre os mais engraçados da série. O que funciona aqui é o facto de haver uma escalada do efeito cómico, já que as personagens tentam vingar-se dos respetivos voyeurs, mas acabam por espreitar as pessoas erradas - tudo isto culminando com Monica invadindo o duche... do pai de Joey.
As outras duas histórias do episódio também têm a sua graça. A trama com a amante do pai de Joey, para além de engraçada, ajuda a caracterizar o galã do grupo. As outras personagens também passam por algum desenvolvimento graças ao namorado psicólogo de Phoebe, que faz exatamente aquilo que os psicólogos não devem fazer: usar os traumas dos outros para os diminuir.
4) The One with the Embryos
Este é referido inúmeras vezes entre os episódios mais engraçados de Friends, não sem razão. O jogo de perguntas e respostas que opõe Monica e Rachel a Chandler e Joey proporciona ótimos momentos de comédia, bem como a oportunidade de conhecermos melhor as personagens. Também aqui existe uma escalada do efeito cómico, à medida que o jogo se intensifica e os respetivos apartamentos entram nas apostas. O ponto alto ocorre quando as raparigas, depois de terem sabido responder a perguntas como o maior medo de Chandler e o nome e a profissão do amigo imaginário de infância de Joey, não são capazes de nomear... a profissão de Chandler.
3) The One With the Two Parties
Neste episódio, Rachel faz anos, mas os pais estão em processo de divórcio e não conseguem estar juntos na mesma divisão sem começarem a discutir. Quando os amigos dão uma festa de aniversário e os dois pais de Rachel aparecem, o grupo vê-se obrigado a dividir a festa pelos dois apartamentos, numa tentativa de mantê-los separados. Mais uma vez, temos uma escalada de humor à medida que as personagens recorrem a medidas cada vez mais desesperadas para impedirem os pais de Rachel de se encontrarem - culminando com Joey beijando a mãe de Rachel.
2) The One Where Everyone Finds Out
Todos consideram este como um dos melhores episódios de Friends de sempre. Na quinta temporada, uma das tramas principais diz respeito ao romance secreto entre Monica e Chandler. Evidentemente, o segredo acaba por ser descoberto. Joey é o primeiro a descobrir, Rachel descobre mais tarde Este episódio, tal como diz o título, corresponde ao momento em que a verdade vem à tona para todo o grupo.
No início do episódio, Phoebe descobre acerca do romance. Depois de fazê-lo, ela e Rachel decidem fingir que não sabem, que Phoebe tem um fraquinho por Chandler, começando a fazer-lhe avanços, a ver se Chandler se descose. Por sua vez, Monica e Chandler descobrem que Phoebe e Rachel saem e decidem entrar na brincadeira, com Chandler a corresponder aos avanços de Phoebe, a ver se ela se descose. Mais uma vez, há um crescendo no efeito cómico, sobretudo quando os dois se encontram para uma suposta noite de paixão. Vê-se que Phoebe e Chandler estão claramente a forçar algo que não querem que aconteça, ficando cada vez mais aflitos ao verem que o outro não cede. Acaba por ser Chandler a render-se e fá-lo declarando o seu amor por Monica, sendo esta a primeira vez que o faz com todas as letras
Pelo meio, Ross tenta ficar com o apartamento do Ugly Naked Guy/Feioso Nu (a identidade do actor que o representou só foi revelada há bem pouco tempo), acabando por se ver obrigado a despir-se também, para cativar o dono do apartamento. No encerramento do episódio, descobre acerca do romance entre a sua irmã e o seu melhor amigo e... não reage muito bem.
1) The One With the Birth
É muito raro as pessoas falarem deste episódio e eu compreendo porquê: é da primeira temporada, altura em que a série ainda estava a procurar a sua identidade. No entanto, é o que considero mais engraçado, na globalidade. Carol, a ex-mulher de Ross, prepara-se para dar à luz o filho deles, numa altura em que já vivia com a sua companheira, Susan. O grupo vai todo para a maternidade dar apoio ao trio parental. Existem várias situações que continuam a fazer-me rir ainda hoje: Joey dando apoio a uma grávida solteira, Monica suspirando por um bebé seu e Chandler tentando consolá-la (sabermos hoje que eles, no fim, adotam gémeos juntos dá ainda mais graça à situação), o obstetra de Carol mais interessado em namoriscar com Rachel do que em ajudar a parturiente; Ross e Susan mais interessandos em implicar um com o outro do que em ajudar a parturiente e, é claro, quando Ross, Susan e Phoebe se trancam acidentalmente uma despensa (destaque para Their Bodies, que já referi antes). O episódio acaba de forma fofinha, com a apresentação de Ben.
6) Que episódio te fez chorar?
Não me fez chorar, mas partiu-me o coração: The One With the Morning After, em que Ross e Rachel acabam a relação.
7) Qual é o casal de que mais gostas?
O casal Monica e Chandler. Toda a gente sabe que a relação deles começou quase que por acidente e, se calhar, nem todos esperavam que resultasse a longo prazo. Consta que os próprios guionistas estavam incertos quando juntaram as personagens, foram desenvolvendo o romance recém-nascido com muito cuidado, a ver como este se traduzia no ecrã, se os atores conseguiam vendê-lo.
Felizmente conseguiram. Não digo que Monica e Chandler fossem perfeitos um para o outro, mas tornaram-se perfeitos um para o outro. Tanto Monica como Chandler tinham alguns problemas de auto-estima devido à educação que tiveram. Monica tinha peso a mais enquanto criança e adolescente e os pais favoreciam descaradamente o irmão. Isto tornou-a insegura, demasiado perfeccionista e competitiva, obcecada por controlo. Os pais de Chandler tiveram um divórcio feio, não pouparam o filho aos detalhes mais sórdidos da separação. Isto tornou-o igualmente inseguro, sarcástico, recorrendo ao humor como mecanismo de defesa, com medo de compromissos. Tanto Chandler como Monica, em graus diferentes, tiveram de confrontar as suas próprias inseguranças, de se esforçar para que a sua relação resultasse. Eles, aliás, tornaram-se pessoas melhores, de uma maneira ou de outra, graças um ao outro - quando chegaram a um meio termo sobre quanto gastariam com o seu casamento, quando Monica ajudou Chandler a fazer as pazes com o seu pai, quando Chandler disse que gostava das neuroses de Monica pois era bom a apaziguá-las. E não se pode dizer que o romance não tenha passado por obstáculos, pois Chandler teve, a certa altura, de trabalhar noutra zona do país e, mais tarde, os dois descobriram que não podiam ter filhos biológicos. Tudo isto faz deles um casal realista e saudável, a que todos deviam aspirar - ao contrário do casal Ross e Rachel, como veremos adiante.
8) Uma frase para cada personagem.
Rachel: "No uterus, no opinion" (A vontade de eu tenho de dizer esta ao meu pai quando ele diz que eu tomo ibuprofenos a mais naquela altura do mês...)
Monica: "Fine, judge all you want to, but... [aponta para Ross] Married a lesbian; [aponta para Rachel] Left a man at the altar; [aponta para Phoebe] Fell in love with a gay ice dancer; [aponta para Joey] Threw a girl's wooden leg in the fire; [aponta para Chandler] Livin' in a box!"
Phoebe: "I have to go before I put your head through a wall"
Chandler: "There are like thousands of women out there who are just waiting to screw me over"
Joey: "Va fa Napoli!"
Ross: "When were you... under me?"
9) Qual é a aparição mais engraçada da Janice?
Não é preciso dizer mais nada.
10) Qual é o teu momento Regina Philange preferido?
Nunca fui assim grande fã dessa piada recorrente. Vou escolher a altura, depois da memorável troca de nomes no segundo casamento de Ross, em que ela fingiu ser a médica dele e que a troca de nomes se devia a uma doença.
11) Quem tinha razão: Ross ou Rachel?
Peço desculpa, mas eu estou do lado de Rachel. Se eles estavam em pausa ou a dar um tempo ou qualquer seja a vossa tradução para "We were on a break!!" é uma questão burocrática, é irrelevante. Enrolar-se com outra pessoa após uma discussão não abona a favor do carácter de ninguém. Quem garantiria a Rachel que Ross não voltaria a fazer o mesmo numa futura discussão?
Devo até dizer que não sou fã de Ross e Rachel como casal. Ao contrário do que acontece com Monica e Chandler, a relação não é das mais saudáveis. Para começar, não gostei de algumas das coisas que Ross fez a Rachel. Do ponto de vista feminista, não posso ignorar que ele se sentiu ameaçado quando Rachel conseguiu o emprego dos seus sonhos, quer por o ter conseguido graças à ajuda de outro homem, quer por Rachel possuir agora um aspeto na sua vida que não incluía Ross. A isto junta-se, entre outras coisas, o episódio da lista dos defeitos, a maneira como a rebaixou quando ela perdeu Marcel, o macaco, a ocasião em que ele interrompeu uma conversa dela com um homem em quem ela estava interessado (insinuando, ainda por cima, que ela era uma prostituta, como se não bastasse!), quando os dois se casaram em Las Vegas mentiu-lhe sobre o processo de anulamento, intercetou recados de outros homens que ela conhecera, subornou o antigo patrão de Rachel a ver se a impedia de ir para Paris - estes últimos actos provam que ele tem uma faceta ciumenta, insegura e algo manipuladora. Não que isso não seja compreensível, tendo em conta a maneira como o primeiro casamento dele terminou, mas a série não chegou a mostrar que ele ultrapassara esses problemas antes de voltar a juntar o casal.
Não que Rachel fosse uma santinha, pelo contrário. Entre outras coisas, ela tratou mal Julie e Bonnie, enquanto estas namoravam com Ross; quando os dois pensaram em reconciliar-se, em vez de falar diretamente com Ross, achou melhor ideia escrever uma carta exigindo que Ross assumisse a responsabilidade por inteiro pela anterior separação (também acho que a culpa foi sobretudo de Ross pela traição, mas os problemas deles já vinham de trás); foi até Londres só para tentar impedir o casamento de Ross com Emily - conforme foi assinalado, uma decisão egoísta, mas que felizmente não foi levada até ao fim. Em todo o caso, ao contrário de Monica e Chandler, que no fim resolviam sempre os seus problemas como adultos, Ross e Rachel raramente o faziam - não admira que tenham demorado seis ou sete temporadas a reatar. E, tal como assinalei antes, nada dá a entender que esses problemas tenham sido resolvidos no fim - fica, aliás, um amargo de boca por a série ter acabado com Rachel abdicando de um emprego fabuloso para ficar com Ross. Eles acabam juntos, mas, a menos que eles, a certa altura, recorram a um terapeuta de casais, a relação não deverá durar muito.
Está feito. Como o costume, se depois quiserem responder a esta TAG, deixem o link com as respostas nos comentários.
Alerta Spoiler: Este texto pode conter revelações do enredo das séries abordadas. Logo, se estiverem a pensar ver uma delas, ou se ainda não têm os episódios em dia, sintam-se à vontade para saltar a respetiva análise.
Já vinha acompanhando esta série de há alguns anos a esta parte antes de esta a acabar, este ano. À semelhança de muito boa gente, fiquei extremamente desiludida com o final de How I Met Your Mother. Já houve muita gente pela Internet fora falando sobre o assunto, eu não vou dizer nada de inédito, apenas relatarei a minha experiência.
Comecei a ver How I Met You Mother pois, além de trazer ecos de Friends, o conceito de história contada oralmente, com as naturais incoerências, avanços e recuos no tempo, inverossimilhança de algumas partes era original e engraçado. Isto para não falar das frases-feitas, sobretudo da autoria de Barney, que se tornaram icónicas, em parte muito graças ao advento das redes sociais e dos chamados memes ("challenge accepted", "true story", "legend...wait for it... dary", entre outras). As primeiras duas temporadas foram muito boas mas, com o tempo, a qualidade foi-se desvanecendo. À volta da sétima temporada, já deixara de ter piada, passara a ser pura e simplesmente imbecil. Estive muitas vezes perto de deixar de segui-la completamente. Só não o fiz porque, que diabo, queria conhecer a Mãe! Assim, ia assistindo só a um ou outro episódio, só mesmo para não perder o fio à meada no que tocava à principal (?) trama da série.
Se, na altura, soubesse que a Mãe teria direito a pouquíssimo tempo de antena, que acabaríamos por saber menos sobre ela que sobre outras namoradas do Ted, como Victoria (uma das minhas preferidas, no primeiro ano, bem entendido), Stella e a inútil Zoey, que morreria no final, que toda a esta história era apenas Ted pedindo aos filhos permissão para namorar com Robin, teria desistido da série há muito tempo. Suponho que devíamos ter desconfiado disto mais cedo. Já se suspeitava há algum tempo que a Mãe morreria no final. Sabia-se que a cena final da série tinha sido filmada durante o segundo ano, mais coisa menos coisa, mas a atriz que faz de Mãe só foi escolhida no ano passado. Mesmo assim, acho que ninguém previu esta malfadada reviravolta.
Eu até poderia aceitar este desfecho no fim da terceira, quarta, quinta, mesmo sexta temporada, altura em que havia boa química entre os atores, em que ainda não haviam enrolado a história deles até ao enjoo e ainda não haviam imbecilizado completamente o tom da série. Mesmo agora, podiam perfeitamente ter excluído a anteriormente filmada cena final, mesmo mantendo a morte da Mãe. Podia ter acontecido o mesmo que aconteceu a House: mesmo que a qualidade tivesse decrescido nos últimos anos, o final encerrou a série devidamente, permitindo-nos recordá-la pelos bons momentos. Ainda que as comparações não sejam assim tão legítimas (afinal, a premissa de HIMYM era mais complicada que o habitual), com How I Met Your Mother, em vez disso, fica a sensação de que os guionistas andaram a gozar com a nossa cara desde o primeiro momento.
Em suma, só tenho uma coisa a dizer: How I Met Your Mother, my ass!
Esta é outra série que venho seguindo há uns anos. Já falei dela aqui no blogue em duas ocasiões (aqui e aqui). Este último ano foi, na minha opinião, o pior de Bones, com a série a revelar um claro desgaste. Não se poderia esperar muito mais no nono ano da série mas, mesmo assim, houve coisas que poderiam ter sido melhoradas. A morte de Peleant veio demasiado tarde (um problema herdado da temporada anterior), a história da serial killer foi mal explorada, o caso da corrupção do FBI até era interessante, devia era ter sido um dos principais arcos narrativos da temporada, em vez de se confinar, praticamente, ao último episódio. Isto tudo intercalado com episódios aborrecidos, vários deles gritantemente formulaicos (sou capaz de apostar que os guionistas tinham um modelo pré-fabricado, em que, para além do caso da semana, inseriam um novo problema para o casal Brennan-Booth, facilmente resolvido, e um arco irrelevante envolvendo um dos estágiários para cada novo episódio), em que se contam os bons momentos pelos dedos de uma mão.
Um dos poucos pontos fortes desta temporada é a clara evolução do carácter de Temperance, muito mais aberta ao seu lado menos racional (ainda que com algumas incoerências). O casamento e tudo o que o antecede é um exemplo óbvio, mas existem outros. O ataque de histeria nos momentos finais do último episódio seria inconcebível para a personagem há alguns anos; ao mesmo tempo, adequa-se a alguém que ainda não está habituada a lidar com emoções fortes.
A verdade é que Bones devia ter terminado com o muito aguardado casamento entre Brennan e Booth (um dos melhores episódios desta temporada), pois não parece ter ideias para muito mais. Como tal, não me vou dar ao trabalho de acompanhar a décima temporada da série. Provavelmente só verei um ou outro episódio, e mesmo assim. Na minha opinião, Bones já deu o que tinha a dar - o que, mesmo assim, não foi pouco.
24 foi uma das primeiras séries que acompanhei, se bem que apenas a partir da quarta ou quinta temporada - nunca vi os primeiros anos da série. O seu conceito único, com a edição das imagens muito característica. o relógio, o protagonista Jack Bauer (um dos meus heróis de ação preferidos) e a parceira Chloe O' Brien, com o seu constante beicinho, algumas das deixas típicas tornaram a série num ícone para mim e uma das minhas maiores fontes de inspiração nos anos em que eu dava os meus primeiros passos na escrita de ficção. Só me apercebi das saudades que tinha dela quando, quatro anos depois, 24 regressou para uma meia temporada nova, sediada em Londres.
Tirando um aspeto ou outro (por exemplo, as premissas iniciais trouxeram ecos de Homeland), esta temporada extra de 24 não desapontou. Achei a primeira vilã brilhantemente retorcida. Gostei do Presidente "desta temporada". Fiquei de coração partido com a morte de uma personagem importante. E deu-me um gozo imenso ver Jack Bauer de novo em ação, depois de todos estes anos.
Parece que 24 (ainda) não fica por aqui. Ouve-se falar, de novo, num filme que ate as pontas que ficaram soltas no final de Live Another Day. Eu preferia uma nova temporada da série: o filme, para mim, só resultaria se mantivessem o relógio e a edição de imagem, o que não sei se será possível. De qualquer forma, um dia destes vou ver a série do princípio ao fim a ver se, entre outras coisas, esta me dá inspiração para o meu quarto livro.
Eu sei que, anteriormente, tinha falado de Homeland e Anatomia de Grey. Em relação à última, eu já tinha dado a entender que ia deixar de segui-la e foi o que aconteceu. Desta última temporada, só vi três ou quatro episódios, e isto em alturas em que não tinha melhor para fazer. Homeland, por sua vez, sofreu uma queda vertiginosa em termos de qualidade, pelo que desisti ainda a temporada não devia ir a meio (e visto que esta era apenas de doze episódios, fartei-me relativamente depressa) e não é provável que a retome.
Foi assim a última temporada de séries, pela parte que me toca. A nova já começou e ainda bem - andava com mais saudades de ter episódios novos todas as semanas do que estava à espera. Estou aqui em pulgas para ver o novo de The Good Wife. Não sei se começarei a ver alguma série nova este ano, mas é pouco provável pois não gosto de acompanhar muitas séries ao mesmo tempo. Em todo o caso, espero que este novo ano que agora começa nos traga coisas positivas nas séries que vejo, com destaque para Once Upon a Time, Arrow e The Good Wife.
Aquando do nascimento e primeira infância das pessoas da minha geração, a televisão e o cinema estavam já bem presentes no dia-a-dia. Deste modo, os desenhos animados constituíram uma porção significativa da nossa meninice. Quem de nós não se levantava absurdamente cedo aos sábados de manhã para ir ver o Buereré ou outro programa infantil do género? Pelo menos pela parte que me toca, os vários desenhos animados povoavam o meu imaginário e, tal como afirmei anteriormente, as minhas primeiras tentativas na escrita tiveram os heróis animados como personagens.
Deste modo, decidi compilar aqui uma lista com os dez filmes de animação que mais me marcaram, de que ainda hoje gosto. É possível, caso tenham mais ou menos a minha idade, que alguns dos vossos filmes animados preferidos estejam nesta lista. Ou talvez não. Como tudo neste blogue, as opiniões são pessoais e nem sempre cem por cento racionais. De qualquer forma, deem uma espreitadela:
10º) The Incredibles / Os Incríveis
Uma porção significativa dos desenhos animados que via em miúda, com os meus irmãos, eram filmes da Disney. Da mesma maneira que qualquer criança, desde tempos imemoriais, gosta de ouvir a mesma história outra e outra vez, também nós gostávamos de ver os mesmos filmes repetidamente. De tal forma que agora, mesmo passados vários anos desde a última vez que vi a larga maioria deles, ainda os sei praticamente todos de cor. No entanto, da Disney, apenas alguns dos filmes "sobreviveram" ao teste do tempo, encontrando-se entre os meus preferidos.
Os Incríveis não se incluem propriamente nesta categoria pois, quando saiu o filme, já eu tinha catorze ou quinze anos. No entanto, os meus irmãos ainda eram pequenos e vi o filme algumas vezes com eles. Aquilo que gosto mais no filme é do seu relativo realismo, da sensação de que aquilo era, de certa forma, possível. Se os super-heróis existissem, eles podiam levar com um processo em cima e ter toda a opinião pública voltando-se contra eles; podiam ter admirados demasiado obcecados que, eventualmente, se voltassem contra eles; podiam constituir família como o Beto e a Helena constituíram, podiam ter uma adolescente tímida como filha e um miúdo hiperativo como filho; podiam ter uma crise de meia-idade, como a que Beto tem e por aí fora. Deste modo, qualquer um se pode identificar com as personagens e é aí que, na minha opinião, reside a força do filme.
9º) Over the Hedge / Pular a Cerca
O principal motivo que me levou a ver o filme foi... Avril Lavigne (grande surpresa...). Este foi o seu primeiro trabalho no mundo do cinema, ela, que há já vários anos, afirma ambicionar ser atriz principal num filme de comédia ou de drama. Nos comentários ao filme na edição em DVD, os criadores ou produtores (não me lembro ao certo) afirmaram tê-la escolhido por Avril já estar habituada a exprimir as emoções através da sua voz, na sua música. Fazê-lo dando voz a uma personagem de animação não seria muito diferente. O filme tornou-se especial para mim sobretudo por causa dela.
Em todo o caso, não deixa de ser um filme giro, à sua maneira, pela crítica à mentalidade consumista da sociedade atual, sobretudo no que toca à alimentação. E, claro, como qualquer filme de animação, tem os seus momentos de comic relief/alívio cómico.
8º) Mulan
Desde pequena, sempre adorei heroínas femininas fortes, que não se resignam à condição de mulheres, de donzelas indefesas. Daí que Mulan seja a minha "princesa da Disney" preferida: uma jovem insegura e desajeitada mas revoltada com o papel submisso das mulheres na sociedade chinesa e suficientemente corajosa para tomar atitudes que roçam a loucura: como disfarçar-se de homem para substituir o pai enfraquecido no exército, provocar uma avalanche em plena batalha nas montanhas, enfrentar pessoalmente o líder dos hunos no telhado do palácio imperial.
Tem também uma série de momentos divertidos, proporcionados, sobretudo, pelo dragãozinho Moshu, que assume o papel de guardião de Mulan. A minha parte preferida é esta:
7º e 6º empatados) Shrek 1 e 2
O Shrek foi igulamente um filme marcante, pela maneira como faz uma paródia aos clichés dos filmes da Disney, sem deixar de ser ele mesmo um conto de fadas. Tem, portanto, a proeza de agradar a miúdos e graúdos. Por exemplo, quandoi o vimos pela primeira vez, os meus pais gostaram, pois não era um humor estritamente infantil, como o habitual nos filmes da Disney. Ao mesmo tempo, a minha irmã, que na altura tinha três ou quatro anos - foi uma das usas primeiras idas ao cinema - saiu de lá a imitar o Lorde Farquaad na cena em que este, no casamento, suplica a Fiona que o beije.
A sequela, Shrek 2, está tão boa como o primeiro, nalguns aspetos ainda melhor. O Gato das Botas é a minha personagem preferida. Uma espécide de Zorro sob a forma felina - e eu sempre achei o Zorro extremamente sexy - mas que também é capas de fazer de gatinho fofinho para enganar os incautos. A cena em que o Shrek e os amigos assaltam o castelo para invadir a festa de noivado enquanto Fiona e o Príncipe Encantado dançam ao som de Holding Out For a Hero - música adequadíssima à situação - é a minha preferida do filme. Recordem-na vocês mesmos:
Não posso dizer que esta seja uma das minhas séries preferidas. Acompanho-a há vários anos e temos sempre tido, digamos, uma relação de amor-ódio. Penso que é aquilo a que se chama um guilty pleasure. Ainda tentei deixar de a acompanhar mas, uma vez que está constantemente em reposição na FOX Life, julgo que já vi praticamente todos os episódios emitidos pelo menos uma vez.
Apesar do nosso relacionamento complicado, a verdade é que Anatomia de Grey até tem sido uma fonte de inspiração para a minha escrita, sobretudo na parte mais emotiva dos meus livros. Sim, porque a série já abordou praticamente todos os tipos de relacionamentos entre humanos. Destaque para os relacionamentos amorosos, é claro - uma das críticas que já ouvi a esta série é a de que já toda a gente andou com toda a gente - mas também os fraternais, os familiares, etc. Explora também alguns conceitos relacionados com a vida real, que, em muitos dos caos, se entrelaçam com os problemas dos doentes - embora, nalguns casos, de forma algo rebuscada - que fazem refletir e que me são francamente úteis na escrita.
Um desses conceitos é, na minha opinião, o pilar na qual toda a série assenta: o debate carreira versus vida pessoal. Praticamente todas as variantes desta dualidade, todas as perspetivas são exploradas na série. Se os cirurgiões fazem aquilo por mera ambição pessoal ou para salvar vidas. O convívio da competição com a cooperação na relação entre colegas, estejam estes no mesmo nível ou em diferentes estratos hierárquicos. O facto de os grandes cirurgiões serem vistos pelos pares como heróis, apesar de os entres queridos não conseguirem ignorar a indiferença e mesmo o desprezo com que são tratados. A escolha entre fazer aquilo que se ama ou estar com a pessoa que se ama. Assemelhando-se um pouco ao debate de ficções como "Sobrenatural", o desejo de se marcar a diferença, de fazer algo com significado, de se ser extraordinário, contrastando com o desejo de ter uma vida relativamente mais fácil, uma família, um lar para onde regressar todas as noites.
Outro aspeto que me cativa na série é a parte da Medicina, pois frequento um curso de saúde. É claro que, à semelhança do que acontece um pouco noutras séries médicas, nem tudo é cem por cento realista. Algo que igualmente não me parece realista é o facto de os alegados melhores cirurgiões do país, ou mesmo do Mundo, estarem concentrados no mesmo hospital. Além de que, em Anatomia de Grey, quando tudo parece perdido para o doente, há sempre alguém com uma terapia inovadora - na vida real, sobretudo no nosso País, duvido que uma ideia dessas fosse exequível ou que sequer coubesse no orçamento de um hospital.
O problema da série é ter momentos em que se torna demasiado melodramática, como se quisesse, a todo o custo, arrancar lágrimas às pedras da calçada. A mim, pelo menos, tirando uns quatro ou cinco casos, tais cenas apenas me provocam impaciência pela lamechice toda. Também não ajuda o facto de muitas das personagens serem completa e irritantemente disfuncionais, negando até à loucura aquilo que sentem, chegando ao ponto de se rirem quando deviam chorar. Como uma das personagens, das mais secundárias, disse uma vez, não passam de "crianças com bisturis".
Além disso, enquanto algumas das reflexões em voz off no início e no fim dos episódios e certos diálogos das personagens podem, como exemplifiquei acima, fazer-nos pensar, não são raras as vezes em que se dizem banalidades disfarçadas de pensamentos profundos.
No entanto, quando não estão todos a chorar, a série tem momentos bem divertidos. Isto deve-se, sobretudo, ao contraste entre as diferentes personalidades. Tenho um punhado de personagens preferidas mas a minha favorita é a Dra. Bailey. No início, é-nos apresentada como a mentora rígida e autoritária dos internos recém-chegados ao hospital. No entanto, acaba por equilibrar bem o seu carácter autoritário com a afeição que nutre pelos doentes, pelos colegas e, em particular, o amor maternal que nutre pelos seus internos, até mesmo depois de eles concluírem o internato.
A série já teve oito temporadas, umas melhores do que outras. A mais recente foi, até ao momento, a pior. Não nos podemos queixar por aí além quando uma série começa a dar sinais de desgaste ao sétimo ou oitavo ano de vida - outras séries têm apresentado tais sinais bem mais cedo. De facto, Anatomia de Grey chegou a um ponto em que já não traz praticamente nada que já não tenha exibido antes. As frágeis tentativas de dar uma lufada de ar fresco à coisa - por exemplo, o episódio do "What If?/E se?" - não resultam. Perdi também a conta às vezes que revirei os olhos nesta temporada.
Um dos problemas desta temporada é o facto de alguns dos casais estarem na fase do "viveram felizes para sempre". Ora, a ficção assenta, não digo na infelicidade, mas nos problemas das personagens, nos obstáculos com que se deparam, nos desejos delas. Nota-se que os argumentistas da série andam com dificuldades em arranjar problemas a, por exemplo, Callie e Arizona. Na minha opinião, o casal lésbico já deu o que tinha a dar, já teve a sua atribulada história de amor com final feliz. Eu já as teria despachado.
Outro caso desses, ainda que de maneira diferente, é o casal-centro de Anatomia de Grey, Meredith e Derek. Aqui, as fraquezas da história já vêm desde a temporada anterior: a história do ensaio clínico como tentativa de curar uma doença neurodegenerativa que termina quando um dos médicos o sabota a favor de um ente querido já tinha sido vista em House; a infertilidade de Meredith, então, é um tema batidíssimo em séries. Durante a primeira metade da oitava temporada, enrolaram a história da adoção até a custódia da órfã que querem adotar lhes cair do céu. E mesmo os problemas no casamento se resolveram sem grandes complicações.
Depois, existem linhas narrativas ainda mais fracas, nesta temporada. O caso de Cristina e Owen é um deles. Já se notava no fim da época anterior que o casamento estava condenado pelo simples facto de ele querer filhos, ela não e nenhum de ambos parecer disposto a ceder nesta matéria. A maior parte dos casais - incluindo um na mesma série - já se teria separado após a constatação deste facto. No entanto, a história de eles foi enrolada até ao infinito ao longo da temporada inteira. A partir de certa altura, sobretudo depois de ele a ter traído, ficava com vontade de lhes gritar: "Divorciem-se de uma vez, caramba!". O casamento não me parece ter salvação, tendo em conta tanto a discordância no que toca a filhos como a traição dele - há quem se divorcie por apenas um destes requisitos ou por ainda menos. No entanto, a oitava temporada terminou e nem sequer há certezas sobre se vai haver divórcio ou não. O que me parece ridículo.
Outro arco narrativo que também deixou bastante a desejar foi a relação de Lexie e Mark. O romance entre ambos tem estado on e off desde a sexta temporada, com ambos sempre incertos dos seus sentimentos, mesmo quando andam com outras pessoas, eternamente separados pela diferença de idades, por se encontrarem em fases de vida diferentes, por ele querer constituir família e ela não - olha, afinal são dois casais... Na oitava temporada, então, enrolaram ainda mais a história. Neste último ano, Lexie pouco mais fez do que suspirar por Mark, incapaz de se decidir se o quer ou não.
Acabou por não ser muito surpreendente a sua morte, no encerramento da temporada. Era óbvio que os argumentistas já não sabiam o que fazer com a personagem, portanto, adotaram a solução mais fácil. A morte de Lexie é um cliché em todos os aspetos - é claro que Mark só se lembra que quer uma vida com Lexie quando esta está a morrer!
Lexie era uma das personagens mais queridas da série, era uma das minhas preferidas, pela sua graça, pela memória fotográfica, pela teimosia que lhe permitiu estabelecer uma ligação com Meredith, mesmo depois de a meia-irmã ter deixado bem claro que não queria ter nada a ver com ela. Na minha opinião, merecia mais do que ter passado estas últimas duas temporadas fazendo pouco mais que suspirar por Mark.
Com tudo isto, ainda não sei se me darei ao trabalho de acompanhar a próxima temporada. O último episódio termina em suspense com o acidente de avião mas, para ser sincera, as pontas soltas não me interessam por aí além, não estou propriamente ansiosa por ver o que acontece aos sobreviventes. Isto porque duvido que aconteça algo que não tenha já sido visto em Anatomia de Grey: já antes se lidou com eventos traumáticos; já antes se lidou com a morte de colegas, amigos, parentes ou amantes; já antes se lidou com lesões comprometedoras das capacidades cirúrgicas. Só se, eventualmente, fizessem alterações no elenco é que a série ganharia fôlego. E mesmo assim... Na minha opinião, devia começar a pensar-se em encerrar a série. Já deu o que tinha a dar sobre o tema vida e medicina/cirurgia, duvido que, a partir de agora, surja algo de novo.
A acontecer isso em breve, não terei grandes saudades de Anatomia de Grey. Pelo menos, não tantas como de outras séries, como Friends e House - como já mencionei acima, nunca coloquei Anatomia de Grey entre as minhas preferidas. No entanto, não duvido que sentirei uma certa nostalgia por mais uma boa série, à sua maneira, daquelas que já duram há uns anos, ter terminado.
Esta série centra-se em Dean e Sam Wincheste, dois irmãos que se dedicam à caça de criaturas sobrenaturais como forma de esclarecerem e vingarem o assassinato da mãe quando ambos eram crianças pequenas. Como podem calcular, é sobretudo uma série de ação e terror, embora às vezes apareçam alguns elementos de comédia negra e outros momentos mais dramáticos.
Esta é uma daquelas séries que já sigo há alguns anos. Ou melhor, segui-a mais ou menos fielmente enquanto passava na televisão. As cinco primeiras temporadas foram exibidas até 2010; tanto quanto sei, a sexta temporada só começou a passar na AXN Black recentemente. Por isso, estive uns bons dois anos sem ver Sobrenatural. Só agora me encontro a ver a sexta temporada.
As duas primeiras épocas assentam essencialmente no modelo da criatura da semana, tornando os episódios relativamente isoláveis. O que não surpreende se tivermos em conta que o conceito inicial da série consistia em reportagens sobre fenómenos sobrenaturais.
A partir da terceira e, sobretudo, da quarta temporada, a série começa a focar-se mais no enredo. É aqui que começam a prevalecer elementos da mitologia cristã: anjos, demónios, Céu, Inferno, Apocalipse, entre outros.
Sim, eu usei a expressão "mitologia cristã". Sejamos racionais, a única diferença entre a mitologia egípcia, a mitologia greco-romana é que estas últimas foram extintas, enquanto que o Cristianismo conseguiu disseminar-se.
Eu digo isto mas, por outro lado, inicialmente, a maneira como usaram estes elementos cristãos incomodou-me, apesar de não ser religiosa. Como o facto de terem retratado os anjos de uma forma bem diferente das criaturas bondosas e inocentes que eu tinha na ideia antes disso. Imagino o que não terão pensado eventuais católicos praticantes...
A propósito, uma coisa que me tem surpreendido é o facto de, tanto quanto sei, a Igreja Católica não se ter pronunciado sobre tudo isto. Quer dizer, criticam o Pokémon, um desenho animado infantil, mas não dizem nada sobre uma série que retrata alguns dos anjos como seres tão cruéis como demónios...
Encerremos este aparte e regressemos a Sobrenatural em si. À semelhança, um pouco, do que aconteceu com Tru Calling, também Sobrenatural me ajudou na minha escrita ao abordar, várias vezes, o preço a pagar pelo heroísmo, as vantagens e as desvantagens de tal estilo de vida, a felicidade pessoal versus os benifícios para o coletivo, uma vida perigosa mas interessante versus uma vida segura mas aborrecida. Além disso, tenho uma afinidade especial para com Chuck, o profeta - se estiverem familiarizados com o papel dele no meio de tudo aquilo, saberão porquê.
Até ao momento, a quinta temporada é a minha preferida, pela maneira como praticamente todos os arcos narrativos desaguam naturalmente no confronto Miguel versus Lúcifer, usando os irmãos como recetáculos, respondendo a perguntas antigas. Finalmente, conhecemos o objetivo do demónio de olhos amarelos (eu sei que ele tem um nome mas, de momento, não me recordo) com aquelas crianças que escolheu: desencadear o Apocalipse e encontrar o recetáculo perfeito para Lúcifer. E já antes de notava a afinidade Dean para com os anjos e a afinidade de Sam para com os demónios. Era para aquilo que a série caminhava. Cheguei a achar que aquela seria a última temporada, pela maneira como quase todas as pontas ficam atadas no último episódio.
Devia ter sido assim. Ainda não acabei de ver a sexta temporada mas estou quase e, até agora, não estou a gostar muito. Os episódios em si continuam interessantes, no entanto, o enredo está demasiado rebuscado. Não é de admirar, tendo em conta o que mencionei acima sobre todos os arcos narrativos ficarem encerrados no final da quinta temporada. Atiraram demasiadas linhas narrativas: a guerra civil dos anjos, a tentativa de conquista do Purgatório pelos demónios, a mãe de todas as criaturas... Começam a chegar à altura em que já não sabem o que inventar mais.
Um exemplo é a "ressurreição" de Sam, deixando a alma pelo caminho. É já um grande cliché da série, como podem ver acima, a forma como os irmãos arranjam sempre maneira de regressar dos mortos, criando mais problemas do que aqueles que resolvem no processo. E, como todos os clichés, a partir de uma certa altura, uma pessoa deixa de ter pachorra, sobretudo quando se tornam tão fracos como este Sam Sem Alma...
Faz-me imensa confusão pensar que, na exibição americana, já houve sétima temporada e já se preparam para uma oitava. Se já se começam a notar alguns sinais de desgaste nesta sétima temporada - embora apenas no enredo, no restante Sobrenatural ainda conserva os seus pontos fortes - estou a tentar imaginar o estado da coisa nas próximas... Só espero que não cometam o erro que outros cometeram, que outros estão a cometer, que não deixem a série degradar-se muito mais, que saibam quando terminar. Porque Sobrenatural têm se conseguido manter no restrito lote das boas séries, na minha opinião, e quero que continue assim durante mais algum tempo.