Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Álbum de Testamentos

"Como é possível alguém ter tanta palavra?" – Ivo dos Hybrid Theory PT

A história turbulenta da banda que vai abrir a Eras Tour em Portugal #4

Chegámos à última parte da história dos Paramore (que começámos a contar aqui). Retomamo-la algures em 2018, quando Hayley e Taylor terão começado a namorar. Sim, é ele o amor da vida dela a que me referi antes. Segundo declarações e letras escritas à posteriori, de início Hayley tentou reprimir os seus sentimentos. Em parte precisamente porque já não era a primeira vez que se envolvia com um colega de banda – e o fim da relação com Josh dera cabo da amizade entre os dois e quase destruíra os Paramore. 

 

Mas também terão existido outros motivos. Depois do traumático relacionamento anterior, acredito que Hayley tenha receado apaixonar-se de novo. Ao mesmo tempo, a jovem não estava habituada a uma relação saudável. Parte de si não se sentia à vontade com isso – mais sobre isso adiante.

 

Mas, de uma maneira muito típica e muito descrita em inúmeras canções de amor, os sentimentos foram mais fortes.

 

309949882_5690343694322403_9160066209427969919_n.j

 

Na altura – 2018 – não dei por nada, mas alguns fãs já desconfiavam. Uma das pistas mais óbvias foi um par de histórias do Instagram, que podem ver acima. Hayley publicou uma de um jardim (?) à chuva, com as palavras “I love you”. Poucos minutos depois, Taylor publicou uma, desta feita de árvores à chuva, com a palavra “same” de pernas para o ar. 

 

Mais sobre este romance já a seguir.

 

Apesar deste desenvolvimento feliz, no início de 2018, durante as filmagens do vídeo de Rose Colored Boy, Taylor soube da morte de um amigo de família – uma perda dolorosa. Ainda durante essas mesmas filmagens, falou com Zac e Hayley e os três acordaram que, assim que cumprissem os compromissos que tinham agendados, a banda faria uma pausa prolongada.

 

E assim foi. O último concerto da era de After Laughter foi o festival Art + Friends, em Nashville, em setembro de 2018. Como vimos antes, a saúde mental de Hayley melhorara durante esta era. No entanto, a larga maioria dos seus problemas ficara apenas em águas de bacalhau. Quando Hayley regressou a casa, veio tudo à tona.

 

E infelizmente uma das vítimas foi a relação com Taylor. Como referi antes, Hayley não estava habituada a uma relação saudável. A sua experiência com o amor – quer as suas relações anteriores, quer as relações dos seus pais – não era essa. Ao ver que o seu romance com Taylor era pacífico, seguro, relativamente fácil, uma parte de si ter-se-á assustado, levando à separação.

 

Não tenho a certeza absoluta de que terá sido esse evento específico a mostrar a Hayley que precisava de ajuda e de lidar com os seus traumas como deve ser. Mas é provável que tenha sido. A própria Hayley o disse uma vez: sim, ela tinha, ainda terá, uma certa tendência para se boicotar a si mesma. Já se divertiu com isso em música, em jeito de auto-depreciação – “No, I don’t need no help, I can sabotage me by myself”. No entanto, a partir do momento em que Hayley não era a única a ser magoada, a coisa já não tinha assim tanta graça.

 

hayley-williams-hair-51.jpg

 

Foi nesta altura que Hayley começou a tratar a sério de si mesma. Chegou a estar internada numa instituição de reabilitação, onde foi finalmente diagnosticada com depressão e stress pós-traumático. Ao mesmo tempo, terá falado com a sua mãe sobre os casamentos falhados dela e começado a desatar os nós provocados pelos múltiplos divórcios dos pais.

 

Pelo meio, ela e Taylor retomaram a relação.

 

Como parte da terapia, Hayley foi encorajada a escrever, a compôr. Os Paramore, no entanto, estavam em pausa – e, de qualquer forma, os temas abordados e o estilo das músicas não encaixariam no trabalho da banda. Hayley, no entanto, não queria lançar as músicas a solo, depois de todas as acusações de que fora alvo ao longo dos anos. Taylor, como sempre, soube aconselhá-la, encorajou-a a lançar aquelas músicas – e ele mesmo produziu aquele que se tornaria Petals For Armor, o primeiro álbum de Hayley em nome próprio. 

 

Hayley e os seus amigos e colaboradores passaram quase todo o ano de 2019 criando este disco em segredo. No final desse ano, no seu trigésimo-primeiro aniversário, Hayley largou a bomba – ainda hoje me lembro do choque. 

 

Ela deixou bem claro múltiplas vezes que não tencionava deixar os Paramore para trás. E de qualquer forma, isto não foi uma cedência ao comercialismo. Foi algo criado como catarse, com a ajuda de amigos seus – inclusive Zac e Taylor. 

 

Petals For Amor foi editado em maio de 2020. Era suposto Hayley ir em digressão para promover o álbum mas, claro, a pandemia veio boicotar esses planos. Por outro lado, a espera por esse lançamento acabou por ser um dos meus poucos consolos durante os primeiros dois meses do confinamento. Hayley deu uma série de entrevistas muito pessoais – que, na verdade, foram as principais fontes deste texto. Houve também uma altura em que divulgava uma música nova do álbum por semana.

 

 

Para mim, Petals For Armor ficará para sempre associado a esse período.

 

Mas também gosto muito deste álbum por si só. Uma das minhas músicas preferidas neste álbum é Simmer: uma canção sobre raiva no feminino que precedeu mad woman em cerca de seis meses. Outra é Dead Horse, inspirada pelo seu divórcio, em que Hayley é particularmente (e merecidamente) cáustica para com o ex-marido – quatro anos mais tarde, ainda estou a recuperar de “held my breath for a decade, dyed my hair blue to match my lips”.

 

Também adoro as canções de amor dedicadas a Taylor, sobretudo Crystal Clear. Vimos antes que Taylor foi o produtor. Nesta, ele incorporou um excerto de Friends Or Lovers, uma música composta e cantada por Rusty Williams, o avô de Hayley. 

 

Crystal Clear faz-me lembrar um pouco Daylight de Taylor Swift, na verdade. O tom é semelhante: romântico mas sereno. O tema da letra também: sobre deixar maus hábitos para trás e entregar-se ao amor. A frase “I wounded the good and I trusted the wicked” podia ter sido escrita por Hayley. 

 

Foi mais ou menos nesta altura que dei pela primeira vez com os rumores de que Hayley e Taylor se tinham juntado. Não é a primeira vez que o refiro aqui no blogue, mas a minha primeira reação não foi muito positiva – sobretudo tendo em conta o que aconteceu com Josh. De tal forma que andei em negação, ao ponto de achar que o sample de Friends or Lovers fora um gesto de amizade. 

 

Às vezes consigo ser muito ingénua. 

 

 

Só comecei a levar os rumores a sério quando saiu o segundo álbum em nome próprio de Hayley – Flowers For Vases/descansos, editado em 2021.

 

Antes de avançarmos para ele, referir que, apesar de ter confirmado, com o lançamento de Petals For Armor, que tinha um novo amor na vida dela, Hayley estava a cumprir a quarentena sozinha. Na altura achei estranho. Cheguei mesmo a perguntar-me se ela teria terminado a relação com esse misterioso novo amor.

 

Ao contrário do que aconteceu com o álbum a solo anterior, Hayley praticamente não deu entrevistas, não deu nenhuma indicação sobre as inspirações para as músicas de Flowers For Vases. O que vou dizer a seguir é pura especulação, baseando-me em letras deste álbum e em entrevistas posteriores dos Paramore – duvido que estas teorias venham a ser confirmadas. Mas Taylor revelou que também teve de lidar com problemas de saúde mental nos últimos anos. Teve de deixar de beber, foi diagnosticado com hiperatividade e défice de atenção e, com o confinamento, começou a sofrer de agorafobia. 

 

Calculo que, algures em 2020, teve de se afastar um pouco de Hayley para lidar com estes problemas. Hayley parece passar uma boa parte de Flowers For Vases tentando lidar com esse afastamento. Em músicas como Wait On e HYD, sente dificuldades. Em Find Me Here, finalmente, aceita-o.

 

Flowers For Vases foi, assim, um álbum criado durante o confinamento – criado por causa do confinamento, à semelhança de folklore. Hayley não só compôs todas as músicas sozinha como também tocou todos os instrumentos e fez as gravações em sua casa. Não é um mau álbum, mas não o adoro. Podem ler mais sobre isso aqui

 

Em todo o caso, Flowers For Vases praticamente provou-me que Tayley era cânone. Possui demasiadas alusões a Taylor para ser de outra maneira.

 

Teríamos de esperar mais de um ano e meio pela confirmação oficial, no entanto. Pouco depois da edição de Flowers For Vases, Hayley, Zac e Taylor começaram a trabalhar no sucessor a After Laughter. Este ficou pronto no ano seguinte e a era de This is Why começou no outono de 2022 – ainda que o álbum só tenha sido editado em fevereiro do ano seguinte.

 

667960183a16de40b86c21890bb4cf6e.jpg

 

Foi nessa altura que Hayley e Taylor confirmaram que estavam juntos. Penso que a maior parte dos fãs reagiu bem à notícia – mesmo eu, nesta altura, já me habituara à ideia. Como já referi antes aqui no blogue, eles têm sido bastante discretos. Acho que nunca se beijaram em público sequer. Contam-se pelos dedos de uma mão as vezes que eles falaram sobre o relacionamento – tirando, claro, as entrevistas de Petals For Armor, antes de ter confirmado a identidade do amante. Sabemos que estão a viver juntos, pouco mais. 

 

Pessoalmente, não me importo com a discrição. Respeito-a. Ao mesmo tempo, à semelhança de outros fãs, fico contente com as migalhas que vão deixando: dois segundos de vídeo com eles de mãos dadas, as suas interações em palco. 

 

Esta é a era mais recente da banda. Pode-se argumentar que ainda está a decorrer neste momento. Tenho poucas coisas a acrescentar à análise que lhe escrevi no ano passado

 

Uma delas é curiosa. Não tenho noção se isso acontece muito com fãs mais ferrenhos de Taylor Swift e os seus álbuns e eras. Mas os membros dos Paramore têm a minha idade e há anos que sinto que eles têm crescido comigo. Quando lançam um álbum – incluindo aqueles que Hayley tem lançado em nome próprio – estes por norma refletem a fase da vida por que estou a passar na altura.

 

Isso tem acontecido com partes de This is Why, sim. Músicas como The News e sobretudo Crave. Por outro lado, noutros aspetos, sinto que a minha vida tem sido o completo oposto. Um dos slogans desta era, por exemplo, reza “this is why I don’t leave the house”. No entanto, neste momento estou a atravessar talvez a era mais extrovertida de toda a minha vida.

 

Uma coisa muito boa desta era é que Hayley parece mais confortável do que nunca na sua própria pele. Mais confiante, indiferente às opiniões dos demais. Como dizem os anglo-saxónicos, “unhinged”

 

Dá gozo ver.

 

344b81d3f45d0c6864545b57113da1b3.jpg

 

Esta tem também sido uma das eras mais bem sucedidas deles entre a crítica – ao ponto de terem ganho um par de Grammys no início deste ano. Um para o Melhor Álbum de Rock com This is Why (foram a primeira banda com uma vocalista feminina a ganhar) e para a Melhor Apresentação de Música Alternativa com o single homónimo. 

 

Conforme já referi antes aqui no blogue, acho que os dois álbuns anteriores a This is Why mereciam mais distinção. Mas para mim os Paramore merecem todo o reconhecimento que recebem, seja por que for.

 

Recuando um pouco, no início deste ano apanhámos um susto. A banda limpou as suas redes sociais e o site oficial. Depois, começaram a cancelar compromissos. A comunidade de fãs, quais gatos escaldados com medo de água fria, entrou logo em pânico. Até mesmo eu fiquei nervosa – tal como expliquei aqui

 

No entanto, um dia depois de ter publicado esse texto, no primeiro aniversário de This is Why, a banda regressou às redes sociais para anunciar que, agora que o infame contrato com a Atlantic Records/Fueled By Ramen finalmente terminou, os Paramore são agora uma banda independente. Algumas semanas depois, lançaram um videoclipe para Thick Skull, juntamente com uma nota de Hayley. Depois de anos de introspeção, já não se sente na obrigação de agradar aos demais. Já não duvida de si mesma como líder dos Paramore.

 

Quanto à banda, eles têm, então, a Eras Tour, que lhes vai ocupar uns meses. Depois disso, não têm nada planeado. Vinte anos depois, os Paramore estão finalmente livres para fazerem o que bem entenderem. 

 

E estão apenas a começar. 

 

 

Como podem ver, depois deste testamento todo, é um pequeno milagre podermos vê-los no Estádio da Luz daqui a menos de dez dias, abrindo para Taylor Swift. A banda por estes dias graceja que tem de fazer um documentário (há quem especule que eles estão a tratar disso neste momento) ou de escrever um livro. Eu mesma acabo de gastar quase doze mil palavras só para contar a história dos Paramore – e sou apenas uma fã. E existem coisas que deixei de fora, muitas músicas excelentes que não referi aqui.

 

Se eu consigo escrever tanto, o que não conseguirá uma jornalista profissional e/ou uma pessoa dentro da própria banda?

 

Deviam também fazer uma biopic daqui a uns vinte ou trinta anos. Eu chamar-lhe-ia Conspiracy ou Misguided Ghosts. Mas o nome mais provável seria Misery Business.

 

O percurso até aqui foi acidentado, mas não estou preocupada com o futuro dos Paramore. Os três estão na casa dos trinta, são todos adultos, sobreviveram a inúmeros conflitos, aprenderam as suas lições. Não terão faltado oportunidades para desistirem de vez, mas não o fizeram – e só faz falta quem lá está, quem quer lá estar. Eles sabem quando é necessário fazer uma pausa, têm liberdade para explorarem projetos laterais, para em geral terem uma vida fora dos Paramore – sobretudo agora que se tornaram independentes. Uma relação muito mais saudável.

 

Sim, Hayley e Taylor estão a namorar e, na História da música, isso costuma terminar mal. Mas também não estou muito preocupada com isso. Eles já estarão juntos há uns seis anos, mesmo com uma ou outra crise pelo meio. São amigos há mais de vinte anos – e dizem que as melhores relações começam assim. Aqui entre nós, às vezes pergunto-me se a afeição de Hayley por Taylor é um reflexo da sua afeição pelos Paramore, pela família que escolheu. 

 

Desde que seja saudável.

 

432835488_378874738314647_7938514714343518312_n.jp

 

Se calhar poucos apostariam nisso há uns doze, quinze anos, mas os Paramore foram das poucas bandas dos anos 2000 que conseguiram sobreviver até agora, que conseguiram manter a qualidade da sua música. São adorados pela comunidade LGBT+, como vimos antes, pela comunidade negra, influenciaram inúmeros músicos que vieram depois deles: Olivia Rodrigo, Billie Eilish, Soccer Mummy, Willow Smith, entre vários outros. 

 

E eu sinto-me muito orgulhosa deles, da história que tenho partilhado com os Paramore ao longo de mais de treze anos, do quanto eu e eles crescemos, do quanto evoluímos, desde aquele primeiro concerto no Optimus Alive. Se no dia 25, durante a atuação deles, for a única no Estádio da Luz a cantar, a dançar, a chorar, a gritar em coro com Hayley “WE! ARE! PARAMOOOOORE!!!”, não me importo.

 

Acho que não vou ser a única, no entanto. E de qualquer forma espero ter convertido algum de vocês, caros leitores – ou que, pelo menos, vos tenha deixado mais abertos a eles, a deixarem que a banda vos conquiste. Como fã dos Paramore, peço encarecidamente que os recebam bem em ambas as noites da Eras Tour cá em Portugal. Como poderão concluir, eles são sobreviventes, são resilientes e… são bons músicos. Merecem.

 

E, se gostarem de nós, talvez fiquem com vontade de voltar cá, com um ou mais concertos em nome próprio.

 

No que toca aqui a este blogue, devo ficar sem publicar mais algumas semanss. Como escrevi no fim dos textos de fim de ano, era suposto ter escrito primeiro sobre a terceira temporada de Ted Lasso mas, conforme previ, acabei por me atrasar. Esse texto já está planeado, até já rascunhei um parágrafo ou dois. Só que, entretanto, veio Abril e achei por bem voltar-me para este.

 

Agora temos o Euro 2024 está aí à porta. Ou seja, terei de me voltar para o meu outro blogue. Talvez consiga ir trabalhando no texto de Ted Lasso – pelo menos nas semanas de preparação, antes do Europeu propriamente dito. Mas será quase impossível enquanto a Seleção estiver na Alemanha – e eu espero que só regresse a 15 de julho.

 

Entretanto, amanhã estreia nos cinemas portugueses o filme de Digimon 02, The Beginning/O Início, sequela a Kizuna. Finalmente. Como é óbio, vou escrever sobre ele depois do texto sobre Ted Lasso. Depois disso? Logo se vê.

 

20240513_150329.jpg

 

Muito obrigada pela vossa visita e por lerem. Foi divertido recordar a história da banda durante a contagem decrescente para voltar a vê-los. Um agradecimento ao podcast Still Into You, uma fonte importante para este texto. Deixo aqui uma playlist com aquilo que considero os essenciais dos Paramore – as músicas de que fomos falando ao longo do texto e mais algumas. Estou super entusiasmada em relação à Eras Tour. Façamos e troquemos pulseiras da amizade (Como podem ver, já fiz uma para os Paramore. As próximas serão com os títulos de algumas das minhas músicas preferidas da Taylor neste momento). Causemos atividade sísmica na zona em volta. Que sejam noites inesquecíveis. Aos Paramore e a Taylor Swift!

Hayley Williams – Petals For Armor (2020) #3

Terceira parte da análise a Petals For Armor. Podem ler as partes anteriores aqui e aqui

1289804.jpg

 

Vamos agora começar a falar sobre a terceira parte do álbum, a tal que representa a fase da borboleta. Esta é a parte mais homogénea das três – tirando Watch Me While I Bloom, todas as faixas são canções de amor, todas sequelas maduras a The Only Exception, de uma forma ou de outra. Não surpreende que estas músicas tenham sido lançadas todas de uma vez, com o resto do álbum. São muito parecidas umas com as outras, talvez até demasiado parecidas, não fazia sentido individualizá-las.

 

Suponho que o elefante na sala seja o novo amor na vida de Hayley, depois do divórcio. Não se sabe se é o mesmo referido em Sudden Desire e Why We Ever – se ela conseguiu reparar a relação que sabotou – ou se é outro homem. Pessoalmente inclino-me para a primeira hipótese, mas é um mero palpite, não tenho nada em que me basear. 

 

Hayley tem explicado muito sobre as músicas deste álbum, mas não revelou a identidade do seu novo companheiro. Não tem essa obrigação. A filosofia Petals For Armor é muito bonita e tal, mas quando envolve outra pessoa o caso muda de figura (aqui entre nós, já é um bocadinho questionável não conhecermos a perspetiva do ex no que toca ao casamento falhado). 

 

Quase toda a gente diz que é o Taylor. Eu sinceramente espero que não. Em parte porque, da última vez que ela namorou um companheiro de banda, a coisa correu mal (é certo que Hayley e Taylor já não são adolescentes… mas mesmo assim).

 

Enfim. Quando Hayley e o namorado estiverem para aí virados (isto se não tiverem acabado entretanto), logo anunciam a relação. Eu pessoalmente não tenho pressa em saber.

 

 

Pure Love, que abre a terceira parte, parece uma resposta direta aos erros cometidos aquando de Why We Ever (isto é, segundo o contexto dado por Hayley). Uma vez mais, musicalmente é guiada pelo baixo e pela bateria, com um ritmo interessante. Quando começam os vocais começa também o teclado (é Hayley quem o toca, pelo menos uma parte. Gosto em particular das notas claras no refrão, a condizer com os agudos (menos polidos, sobretudo nos últimos refrões) de Hayley.

 

A letra de Pure Love é essencialmente a filosofia Petals For Armor aplicada ao romance. Essencialmente, para fazer o seu amor resultar, Hayley teve de aprender a deixar cair os muros, a ser vulnerável, a ser forte em vez de impermeável, como vimos antes. Hayley está disposta a fazer a sua parte para que a relação resulte (“I give a little, you give a little”).

 

No refrão, Hayley fala em ser “experimental”. Segundo ela, é no sentido de descobrir como é ter uma relação adulta e saudável – a primeira da sua vida – ultrapassando o seu medo de intimidade. Também admitiu que pode ser interpretado no sentido sexual, mesmo não tendo sido essa a sua intenção quando escreveu a letra – iria em linha com o tema de Sudden Desire, na minha opinião.

 

Quase todas as músicas desta parte do álbum andam à volta deste tema. Fazem-me lembrar o casal Emma e Hook em Once Upon a Time. Não foi por acaso que me lembrei dela, entre outras personagens, quando Hayley apresentou a filosofia Petals For Armor. Lá está, o romance Captain Swan foi apenas a faceta romântica da coisa – foi, aliás, o último muro a cair.

 

Taken é muito parecida com Pure Love, parecendo quase uma continuação desta última. A instrumentação é praticamente a mesma: baixo, percussão, teclados (ainda que estes últimos só apareçam no refrão). Tem no entanto notas de guitarra que lhe dão um toque de blues – eu gosto. A melodia é mais grave, sem os agudos de Pure Love.

 

 

Mesmo a letra acaba por entrar em territórios parecidos, de uma forma mais vaga até. Fala sobre acreditar de novo no amor, estar disposta a arriscar, tornar oficial: Hayley já não está o mercado. Acrescenta pouco a um álbum que já tem Pure Love e Crystal Clear.

 

Não me interpretem mal, eu gosto de Taken – gosto do ritmo e das influências de blues. No entanto, se tivesse de retirar uma faixa a Petals For Armor, retirava esta – na minha opinião, seria a única em que não se notaria a falta.

 

Sugar on the Rim é uma das músicas mais divertidas e experimentais de todo o álbum. Está entre as minhas preferidas. Claras influências disco nos sintetizadores, os vocais meio artificiais repetindo “sugar on the rim”, o tom algo sexy. Definitivamente nada compatível com o que os Paramore fariam.

 

O título da música vem de uma técnica de preparação de cocktails, em que se fixa açúcar na borda no copo para enfeitar ou alterar o sabor de uma bebida. Brian uma vez fez isso com uma margarita durante um almoço com Hayley (com margaritas é mais comum usar-se sal), dando a ideia para esta canção. 

 

Esse açúcar na borda do copo serve de metáfora (bem… comparação, se quisermos ser rigorosos) para o amor, a alegria que contrabalança com a infelicidade. Ao contrário do Rose Colored Boy, não ignora o lado negro da vida – pelo contrário, Hayley fala em brincar com as sombras, diz que não tem medo do escuro. As coisas boas são suficientes para aguentar as coisas más – no final, doce é o sabor que fica nos lábios (pode também ser uma referência ao amargo em Leave it Alone).

 

 

Por outro lado, Hayley revelou que esta canção também é dedicada à comunidade gay. Suponho que seja por causa do “rimming” (vão ao Google… não em público, atenção!). Mas também a parte da vergonha e de viver escondido é algo com que, infelizmente, muitos da comunidade LGBT se poderão identificar.

 

É um conceito original e uma música muito gira. Se algum dia Hayley conseguir levar este álbum aos palcos, Sugar on the Rim será um ponto alto.

 

Watch Me While I Bloom é a única música nesta parte do álbum que não é uma canção de amor. Funciona um pouco como uma sequela a Rose/Violet/Lotus/Iris no sentido em que usa de novo metáforas florais – sobretudo na parte do “I myself was a wilted woman (...) forgot my roots, now watch me bloom”

 

É sobretudo a canção de vitória de Hayley, que depois dos anos mais difíceis da sua vida, voltou a ser quem era, sente emoções boas de novo. Uma Tell Me It’s Okay mais madura. Hayley está pronta para sair do seu casulo, para desabrochar, para mostrar um novo lado de si mesma. 

 

A música começa precisamente com “How lucky I feel to be in my body again” – aquilo que falámos antes sobre contacto com o próprio corpo. Por outro lado, ninguém me convence que o verso “Big invisible spark” não é uma referência a Let the Flames Begin, Part II e em particular Last Hope.

 

Hayley tem chamado a atenção para os versos “If you feel like you’re never gonna reach the sky ‘til you pull up your roots, leave your dirt behind, you’ve got a lot to learn”. Temos muito a tentação de esperar que a nossa vida esteja perfeitamente resolvida, com as pontas todas atadas, antes de irmos atrás do que queremos. Ou de achar que o processo é linear, que nunca daremos passos atrás. 

 

 

Ora, a vida não funciona assim. Nunca seremos perfeitos, nunca teremos as respostas todas e não podemos ficar parados por causa disso.

 

Havemos de regressar a essa ideia. 

 

Chegamos finalmente a Crystal Clear, a faixa que encerra Petals For Armor, outra que está entre as minhas favoritas. Esta foi outra das poucas em que Hayley não participou na composição da parte musical. Desta feita foi Taylor quem criou este instrumental, com notas de órgão algo etéreas e batidas à Phil Collins. 

 

Uma vez mais temos uma canção romântica, que fala sobre arriscar de novo, acreditar no amor. Quer-me parecer, no entanto, que quando Hayley promete não ceder ao medo não se refere apenas ao romance – também se pode aplicar a outras áreas da sua vida.

 

O título, aliás, pode também aludir à filosofia Petals For Armor. Crystal Clear, transparência, honestidade, vulnerabilidade.

 

Hayley recorre de novo a metáforas aquáticas para falar de um relacionamento amoroso, desta feita numa luz muito mais positiva – o que condiz com a sonoridade, que faz pensar em águas calmas e transparentes, raios de luz atravessando o subaquático. Ao contrário do romance descrito em Pool, este dá-lhe oxigénio em vez de tirar-lho. Não tem medo de mergulhar até ao fundo porque a água continua transparente. Hayley está a arriscar de novo – pode ser que seja desta. 

 

 
 
 
 
 
Ver esta publicação no Instagram
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

Uma publicação partilhada por hayley williams (@yelyahwilliams) a

 

O pormenor delicioso desta canção ocorre na parte final, com versos cantados por Rusty Williams, o avô de Hayley – ela trata-o por “Grandat”. Rusty era um “crooner” quando era jovem (consta que era o nome dado a cantores masculinos que cantavam baladas, como Frank Sinatra por exemplo) e Hayley cresceu ouvindo-o cantando canções de amor compostas por ele mesmo. A sua preferida é uma chamada Friends or Lover. Um dia, Rusty tocou-a ao piano em casa de Taylor. Este gravou-a e, como surpresa para Hayley, incorporou uma parte dos vocais de Rusty em Crystal Clear.

 

O Taylor é um anjo.

 

Ficamos assim a saber a quem Hayley sai. A jovem fala muito sobre os avós, que começaram a namorar aos doze anos e ainda hoje estão juntos (isto é, dentro do possível, foi esta a avó que caiu das escadas e perdeu faculdades). É super amoroso, uma bonita homenagem àquela que será a história de amor preferida de Hayley.

 

E é isto Petals For Armor. Como fomos observando, este álbum começou sombrio e tornou-se gradualmente mais luminoso. Mas não nos deixemos enganar, nenhum destes casos ficou completamente resolvido. Hayley afirmou que a sua vida contiua uma confusão, que ainda passa por cada uma das músicas de Petals For Armor. Ainda sente raiva, luto, medo, dor, amor, tudo. Ainda não tem todas as pontas atadas, ainda tem lições por aprender. “As histórias são infinitas, cada uma delas entrelaçada com dor e esperança”, escreveu ela quando lançou o álbum.

 

1099.jpg

 

Confesso que foi este o meu erro durante a era do Self-Titled: achar que já sabíamos tudo, que nunca voltaríamos atrás, que de alguma forma tínhamos ficado prontos para enfrentar qualquer coisa. Daí o choque quando Jeremy saiu da banda e com os temas abordados em After Laughter. A vida não é assim tão simples, de facto – e se a atual pandemia provou alguma coisa foi que tudo pode mudar de um momento para o outro, quase sem darmos por isso.

 

Por estranho que pareça depois deste testamento todo, ainda estou a processar o álbum. Gosto de todas as faixas, algumas mais do que de outras, mas não consigo escolher uma única como favorita absoluta. As minhas opiniões estão sempre a mudar. Daqui a uns meses, se calhar, terei novas coisas a dizer sobre este álbum.

 

Posso adiantar desde já, de qualquer forma, que Petals For Armor é um belo trabalho. Em termos musicais, é razoavelmente consistente em termos de instrumentação, conforme assinalado ao longo deste texto, mas é bastante eclético em termos de estilos musicais. Temos pop, new wave, disco, baladas, um bocadinho de rock, um bocadinho de jazz, um bocadinho de blues… Hayley e Taylor tiveram uma oportunidade de sair do território habitual dos Paramore, divertir-se um bocadinho noutros estilos musicais. Eu gosto de músicos multifacetados, que conseguem criar música em vários géneros – até porque eu mesma sou multifacetada, nunca fui de me interessar por uma só coisa.

 

Petals For Armor assemelha-se a álbuns como Melodrama e Post Traumatic no sentido em que as músicas funcionam muito bem como conjunto. O álbum é melhor que apenas o somatório das suas partes: vale tanto pelas músicas individuais como pela história que contam em conjunto. Um capítulo da história de Hayley, que continuará no próximo disco que ela lançar (quer a solo ou, mais provável, juntamente com os Paramore). 

 

Tivemos, aliás, uma combinação de temas novos, com perspectivas diferentes, com temas já recorrentes no cânone dos Paramore e não só. Raiva, luto, desejo, feminilidade no primeiro caso. Amizade, esperança, redenção, desgostos românticos e acreditar de novo no amor no segundo. Há coisas que são clichés por algum motivo – há lições que temos de estar sempre a aprender. 

 

08williams-articleLarge.jpg

 

Devo dizer, ainda, que foi divertido estar a olhar para as metáforas e temas recorrentes deste álbum, mesmo nem todos sendo super originais. E estou grata por Hayley ter dado tantas entrevistas, fornecido tanto material para esta análise. Demoro mais tempo a escrever, escrevo autênticos testamentos – gastei quase noventa páginas A5 com o primeiro rascunho manuscrito (é certo que a minha letra é grande), isto já vai em quase dez mil palavras – mas é uma delícia.

 

O que acontece agora? O plano de Hayley era ir em digressão, levar Petals For Armor aos palcos, mas isto é 2020, um péssimo ano para planos. Ela tenciona ir em 2021, mas sabe-se lá se será possível – até porque a situação está catastrófica nos Estados Unidos. Não dá para calcular quanto tempo durará a era Petals For Armor – talvez mais um ano, talvez mais dois. Talvez a pausa nos concertos se prolongue tanto que Hayley se canse de esperar e ela e Taylor comecem a trabalhar noutra coisa. 

 

Já que falamos nisso, Hayley tem deixado pistas em relação à direção tomada no próximo álbum dos Paramore. Para o júbilo de muitos fãs, a jovem admitiu que ela e Taylor têm saudades das guitarras pesadas dos álbuns pré-After Laughter. 

 

Eu devo ser a única fã da banda que não fazia questão de regressar a essa sonoridade. Adoro as músicas antigas deles, claro que adoro, mas fazem parte do passado – tal como o cabelo cor de chama de Hayley. Nunca lhes pediria para voltarem para trás – a uma altura em que, agora sabemos, eles não estavam assim tão felizes. Não quando, hoje em dia, continuam a fazer música de qualidade, melhor até nalguns aspetos.

 

Mas se eles mesmo quiserem regressar a esse estilo não me queixo. O mais certo é adorar à mesma – tenho adorado todos os álbuns até agora… 

 

73393237_828554320914473_8512789894496499606_n.jpg

 

Na verdade, mais do que o género musical, estou curiosa em relação à influência de Petals For Armor nos próximos trabalhos dos Paramore. Irá Hayley contribuir para a composição dos instrumentais ou voltará ao hábito antigo de esperar pelo material composto por Taylor e Zac? Por falar em Taylor, irá ele produzir os próximos álbuns sozinho? (Tenho quase a certeza que sim.) Voltarão a compôr com Joey? Irão incorporar estilos de Petals For Armor na música da banda?

 

Eu espero que sim, espero que algumas coisas mudem. Na minha opinião, seria um desperdício não aproveitar o que aprenderam com Petals For Armor para enriquecer o som dos Paramore.

 

Eu, aliás, tenciono escrever em breve sobre All We Know is Falling e Brand New Eyes, os dois álbuns que me faltam analisar. Estes são daqueles textos que ando a adiar há anos mas, pelo menos neste caso, estou contente por ter esperado. Não só porque, como já é habitual no cânone dos Paramore, Petals For Armor fez com que olhasse de maneira diferente para esses álbuns. Mas também Hayley prestou novos testemunhos sobre esses períodos nas múltiplas entrevistas que deu, em particular nesta.

 

Não vou escrever já já sobre esses álbuns. Depois de tanto tempo à volta de Petals For Armor, preciso de uma pausa de tudo o que se relacione com os Paramore.

 

Os meus planos a curto, médio prazo para este blogue ainda estão um bocadinho incertos. Estou a pensar escrever uma entrada de Músicas Ao Calhas, um texto mais rápido e curto que estes últimos dois e, possivelmente, os textos seguintes.

 

É aí que as coisas estão um pouco indefinidas. Já revelei antes que quero escrever sobre Hybrid Theory e Meteora dos Linkin Park em breve. Queria no entanto que o primeiro saísse no dia em que completa vinte anos, ou seja lá para 24 de outubro. Provavelmente começo já a escrever sobre ele em agosto. Sei que o texto vai demorar e, como em setembro e outubro devo estar ocupada com o meu outro blogue (porque, se tudo correr bem, a Seleção irá regressar, fazendo de mim uma mulher feliz), mais vale deixar o trabalho adiantado.

 

lind798-214_custom-206a481b3403350edf7cc51bd31307e

 

Pelo meio, gostava de escrever sobre o filme Digimon Adventure: Last Evolution Kizuna, quando conseguir vê-lo. Tecnicamente já dá para sacar na Internet, mas é uma versão de fraca qualidade, não me atrai. Talvez se surgir uma versão melhor entretanto… mas mesmo assim não sei. Supostamente o filme sairá nos cinemas portugueses a 12 de novembro – se isso se cumprir, eu quero ir ver, mesmo que já tenha visto o filme antes. E talvez espere por essa data para escrever e publicar a análise.

 

É assim que tenho sobrevivido a isto tudo: escrevendo, lendo, vendo Digimon (os episódios da nova versão de Adventure ao domingo e, quando esta esteve em pausa porque Covid, vi Frontier pela primeira vez), jogando Isle of Armor, a expansão de Pokémon Sword&Shield, recordando antigos jogos da Seleção Nacional, sobretudo no Euro 2016. Sempre foi mais ou menos assim, agora ainda mais. Como sempre, obrigada por lerem e por me aturarem. Até à próxima!

Pesquisar

 

Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.

Comentários recentes

  • Sofia

    Tudo indica que não, infelizmente.

  • O ultimo fecha a porta

    Vai haver alguma artista/banda portuguesa a atuar ...

  • Chic'Ana

    Uau!! Obrigada por estas partilhas..Eu adorava Avr...

  • Sofia

    é verdade, infelizmente. eles vêm ao NOS Alive no ...

  • Chic'Ana

    Não sabia que os Sum41 iriam dissolver a banda.. F...

Arquivo

  1. 2024
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  14. 2023
  15. J
  16. F
  17. M
  18. A
  19. M
  20. J
  21. J
  22. A
  23. S
  24. O
  25. N
  26. D
  27. 2022
  28. J
  29. F
  30. M
  31. A
  32. M
  33. J
  34. J
  35. A
  36. S
  37. O
  38. N
  39. D
  40. 2021
  41. J
  42. F
  43. M
  44. A
  45. M
  46. J
  47. J
  48. A
  49. S
  50. O
  51. N
  52. D
  53. 2020
  54. J
  55. F
  56. M
  57. A
  58. M
  59. J
  60. J
  61. A
  62. S
  63. O
  64. N
  65. D
  66. 2019
  67. J
  68. F
  69. M
  70. A
  71. M
  72. J
  73. J
  74. A
  75. S
  76. O
  77. N
  78. D
  79. 2018
  80. J
  81. F
  82. M
  83. A
  84. M
  85. J
  86. J
  87. A
  88. S
  89. O
  90. N
  91. D
  92. 2017
  93. J
  94. F
  95. M
  96. A
  97. M
  98. J
  99. J
  100. A
  101. S
  102. O
  103. N
  104. D
  105. 2016
  106. J
  107. F
  108. M
  109. A
  110. M
  111. J
  112. J
  113. A
  114. S
  115. O
  116. N
  117. D
  118. 2015
  119. J
  120. F
  121. M
  122. A
  123. M
  124. J
  125. J
  126. A
  127. S
  128. O
  129. N
  130. D
  131. 2014
  132. J
  133. F
  134. M
  135. A
  136. M
  137. J
  138. J
  139. A
  140. S
  141. O
  142. N
  143. D
  144. 2013
  145. J
  146. F
  147. M
  148. A
  149. M
  150. J
  151. J
  152. A
  153. S
  154. O
  155. N
  156. D
  157. 2012
  158. J
  159. F
  160. M
  161. A
  162. M
  163. J
  164. J
  165. A
  166. S
  167. O
  168. N
  169. D

Segue-me no Twitter

Revista de blogues

Conversion

Em destaque no SAPO Blogs
pub