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Álbum de Testamentos

"Como é possível alguém ter tanta palavra?" – Ivo dos Hybrid Theory PT

Digimon Adventure: Last Evolution Kizuna #3

Terceira e última parte da análise a Kizuna. Podem ser as partes anteriores aqui e aqui.

 

1) Spoilers: esta análise vai discutir extensamente os eventos do filme Digimon Last Evolution Kizuna e poderá também revelar detalhes dos enredos das três temporadas do universo de Adventure (Aventure, 02 e Tri). Leia por sua conta e risco.

 

2) Alguns conceitos próprios de Digimon têm traduções controversas – na língua portuguesa têm mais do que uma possível. Neste texto, vou adotar as traduções com que estou mais familiarizada e/ou que considero mais adequadas.

 

3) Conforme tinha dito que faria quando terminei as análises a Tri, para esta análise vou usar os nomes japoneses.

 

Esta agora vai doer. 

 

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Como disse antes, fiquei à espera de uma solução milagrosa para a contagem decrescente até ao último minuto. Recusava-me, uma parte de mim ainda se recusa, a aceitar aquele destino. E, em minha defesa, temos o epílogo de 02 na equação, mas falamos sobre isso mais tarde.

 

Para já, Taichi e Yamato levam separadamente os respectivos Digimon a ver a vista, à hora do pôr-do-sol, quando a contagem decrescente está quase no zero. Yamato comprou, inclusivamente, uma harmónica para a ocasião – gosto de pensar que Taichi e Agumon o ouviram tocar, mesmo à distância.

 

Finalmente, Agumon e Gabumon perguntam aos parceiros o que vão fazer no dia seguinte. Taichi e Yamato olham para o horizonte, pensando na questão. Vemos duas borboletas voando em direção às nuvens. Quando os dois rapazes – os dois homens – estão preparados para responder e olham para o lado, Agumon e Gabumon já não estão lá. Os dispositivos digitais apodrecem. As mãos que os seguiram tremem e lágrimas caem nos dispositivos. 

 

Éramos três a chorar. 

 

Ainda há tempo para umas últimas imagens de Taichi e Yamato, vários meses mais tarde – como as cerejeiras estão em flor, é capaz de ser a primavera seguinte. Parecem satisfeitos. É um alívio, este final já é suficientemente triste. Já viram como seria se a última imagem que tivesse de heróis que conheço e adoro há duas décadas fosse deles soluçando (de forma bem audível) sobre os seus dispositivos?

 

Os créditos finais incluem imagens de cada um dos doze protagonistas do universo de Adventure nas respectivas vidas e carreiras. De notar que os da geração de 02 (incluindo Takeru e Hikari) aparecem nas fotografias com os seus Digimon, mas os mais velhos não. A última imagem é a da tese de Taichi, sobre a relação entre a Humanidade e os Digimon.

 

Não que sirva de grande consolo para mim. Pelo menos não de início.

 

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Bom trabalho, digiguionistas. Kizuna é oficialmente o trabalho ficcional que mais me arrasou emocionalmente. Ainda mais que Kokuhaku e Kyousei na altura em que saíram. Este final fez-me chorar e, como já disse várias vezes aqui no blogue, eu não choro facilmente com estas coisas. 

 

Uma asneira que cometi foi ter visto este filme quando não estava ninguém em casa, nem sequer a minha cadela. Eu escolhi essa altura de propósito, para poder ver o filme em paz, sem interrupções. Mas quando Kizuna terminou desta forma, não tinha ninguém que me consolasse. Foi sobretudo nessa altura que me arrependi de não ter esperado para ver nos cinemas, quiçá com outros fãs de Digimon. Não teria de chorar sozinha. 

 

Isso ou, pura e simplesmente, tinha saudades do pessoal que costuma vir ao Odaiba Memorial Day. Ainda tenho. Maldita pandemia…

 

Hoje, mais a frio, não sei se ia querer chorar em público. Talvez não fosse assim tão mau se não fosse a única em lágrimas (e acho que não seria). Ainda assim, eu aconselharia as pessoas a não assistirem a Kizuna sozinhas e a terem lencinhos por perto. E uma bebida.

 

Estive semanas sem coragem para ver o filme segunda vez, para escrever este texto. Se não fosse Adventure 2020, teria cortado com tudo a ver com Digimon – era demasiado doloroso. Deixei de querer ouvir música de Digimon, deixei de querer pensar, tanto em Adventure como em Tamers ou mesmo Frontier. 

 

Talvez esta tenha sido uma reação exagerada a algo que não é real, pelo menos no sentido mais rigoroso da palavra. Adaptando uma frase de Chandler, estava a chorar porque deixaram de desenhar o Agumon e o Gabumon. Mas, pelas Bestas Sagradas, como me tenho fartado de dizer aqui, são duas décadas com este elenco! Mesmo tendo passado dez anos afastada de Digimon enquanto franquia, esse laço não se quebrou. São o meu elenco ficcional preferido!

 

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Não digo que ver (e ouvir) Taichi e Yamato chorando sobre os restos mortais dos seus dispositivos tenha sido a pior coisa que me aconteceu na vida. Claro que não. Nem sequer foi a pior coisa que me aconteceu no ano. Mas no ano da desgraça de 2020 não precisava mais desta!

 

Só recentemente é que me sinto a voltar ao normal. De uma maneira retorcida, o facto de neste momento estar a decorrer o reboot de Digimon Adventure, que me “obriga” a ver um episódio novo todos os domingos de manhã e a escrever uma breve crítica para a página do Facebook pode ter-me ajudado a ultrapassar esta má fase mais depressa. 

 

Escrever esta análise também ajudou. Costuma ajudar.

 

Temos  então de falar da velhíssima questão do epílogo de 02, em que os Digimon estão todos vivos e de boa saúde, em que, aliás, “toda a gente tem um Digimon”. O que contraria o final de Kizuna, e mesmo a regra definida pelo filme, que dita que nenhum adulto funcional pode ser um Escolhido. 

 

Nesta altura do campeonato, fica claro que a Toei há muito se arrependeu do epílogo. Em 2001 incluíram-no porque queriam colocar um ponto final na história deste universo. Queriam criar outros universos, com regras diferentes. Não imaginavam, se calhar, que o universo de Adventure viesse a ganhar tanta popularidade, que quereriam continuar a ordenhar dessa teta quinze, vinte anos depois. Mas agora as sequelas tinham de se encaixar no epílogo que criaram. 

 

Ou pelo menos deviam.

 

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Do que tenho lido por aí, quase toda a gente considera que o epílogo de 02 continua a ser válido. Um dos produtores do filme confirmou-o, mais ou menos, em entrevista. Eu mesma tenho-o interiorizado, sendo essa uma das razões para hoje me sentir menos triste com o final de Kizuna. Eles hão de recuperar os seus Digimon algures nos dezassete anos seguintes.

 

O que, no entanto, traz consigo as suas questões. Nomeadamente, como é que isso vai acontecer. Talvez Koshiro arranje uma maneira de travar o processo, mesmo revertê-lo – talvez ainda antes sequer de as contagens decrescentes de Joe, Mimi e os outros chegarem a zero, evitando que Gomamon, Palmon e os outros desapareçam. Ou então, talvez só os consigam recuperar anos mais tarde. 

 

Gosto de uma teoria na Internet que defende que, seguindo a lógica de que os Digimon representam a infância, os Escolhidos recuperarão os seus companheiros quando forem pais. Todos nós temos de crescer e tal, mas quando temos filhos e brincamos com eles, a nossa criança interior desperta de novo. Aí, os Digimon regressariam.

 

Pelo menos explicava porque é que cada um dos doze Escolhidos resolveu reproduzir-se. Já estou a imaginar a Sora:

 

– O que estás a dizer, Miyako? O Wormon e o Hawkmon voltaram quando a vossa filha nasceu? Também quero! Hei Yamato, faz-me um filho!

 

Ainda assim, mesmo que seja uma questão de tempo até Taichi e os outros Escolhidos recuperarem os seus Digimon… não deixa de ser cruel, estarem constantemente a tirar-lhes os Digimon, para depois os devolverem, para depois lhos tirarem outra vez. Kokuhaku já fora suficientemente duro. Havia necessidade de estar a sujeitar, tanto o elenco como a nós, na audiência, à mesma perda vezes e vezes sem conta?

 

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Iremos alguma vez saber as respostas a estas perguntas? Com outro filme, um CD drama, qualquer coisa? Infelizmente duvido que tão cedo a Toei vá por aí – se alguma vez for. Agora está a explorar o efeito Adventure de maneira diferente, com o reboot. Se quiserem fazer alguma coisa com este universo, com este elenco, fá-lo-ão na Adventure nova. 

 

É possível que nunca venhamos a ter a certeza. 

 

Achava eu que o elenco de Tamers era o menos afortunado, com aquela despedida traumática. Agora já não sei quem teve a pior sorte. Ao menos Takato, Ruki e os outros sabem que os seus Digimon estão vivos (ainda que nada seja garantido naquela versão distópica do Mundo Digital) e que a probabilidade de se reencontrarem não é zero. 

 

Já me garantiram, sem dar spoilers, que existem universos no anime em que as personagens têm companheiros Digimon e continuam com eles no fim. A minha sanidade mental agradece. 

 

Mas basta de lamúrias – pelo menos por agora. Kizuna pode ter um final doloroso, o que não é sinónimo de um final mau. Toda a narrativa do filme foi construída de forma sólida conduzindo a este desfecho. O tom sério e melancólico, o facto de mostrarem as dificuldades de ser um Escolhido enquanto adulto, a ideia subjacente em cada diálogo de que “as coisas não podem ficar para sempre na mesma”. 

 

Se Kizuna tivesse arranjado uma solução milagrosa à última hora, uma maneira caída do céu de Agumon e Gabumon sobreviverem, eu teria poupado muitas lágrimas, mas respeitaria muito menos o filme. Seria uma cobardia. 

 

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Porque Kizuna em si, no geral, está muito bem feito. É certo que é mais fácil ser-se consistente com um filme de noventa minutos, com apenas dois protagonistas – uma temporada com cinquenta ou sessenta episódios de vinte minutos com um elenco alargado ou uma série de seis filmes são muito mais complicados. Mas não deixa de ser um feito. 

 

Especificando um pouco mais, gosto da animação, do estilo do desenho – mais do que do de Tri. O filme pode só ter dois protagonistas, mas gostei que os outros dez Escolhidos tivessem todos aparecido, mesmo outros fora do grupo. Acho que foram bem utilizados.

 

Bem, com uma única exceção. Sora. É a única falha que tenho a apontar a Kizuna, mas é uma falha grande. Preparem-se, vem aí “rant”, como dizem os anglo-saxónicos. 

 

Já falámos sobre a curta-metragem focada nela, que justifica a sua ausência da larga maioria do filme: ela quer descobrir quem é fora da vida de Escolhida. Dentro do universo é uma razão perfeitamente legítima para ter ficado no banco, em Kizuna, e é um desenvolvimento interessante para a personagem.

 

A razão em termos de meta, por sua vez, é muito diferente. Sintam só isto: Sora aparece em Kizuna durante um total inferior a cinco minutos porque os digi-guionistas acharam que os fãs quereriam saber o que se passava entre ela e Taichi e Yamato.

 

 

Isto era literalmente a última coisa que queria que fizessem com Sora – recordo, a minha personagem preferida do universo de Adventure. Reduzirem-na ao papel de interesse romântico, assumirem que a audiência só quer saber dela como pretendente de Taichi ou Yamato. É insultuoso em tantos mas tantos níveis!

 

Eu, por um lado, compreendo em parte a posição deles. 02 emparelhou-a com Yamato, o epílogo oficializou-os ainda que não preto no branco, é claro que as pessoas iam fazer perguntas. 

 

No entanto, na minha opinião, existiam alternativas bem melhores. Deixarem a situação ambígua, como em Tri. Na minha opinião, não funcionou mal – tirando em Soshitsu, em que o esforço dos digiguionistas para não favorecerem nenhum dos rapazes ganhou contornos ridículos. Ou então, opinião impopular: confirmem de passagem que sim, Sora e Yamato namoram e Taichi está feliz por eles! Ninguém morreria por isso!

 

A entrevista com esta infame declaração surgiu na internet algures em maio do ano passado, vários meses antes de conseguir deitar as mãos a Kizuna. Na altura discuti com outros fãs no Twitter e houve quem ficasse do lado dos digiguionistas. Se não se achavam capazes de explorar essa faceta da história, diziam eles, talvez fosse melhor excluir Sora do filme.

 

Admito que, na altura, até me deixei convencer um bocadinho. Mas depois de ver Kizuna, depois de conhecer o reduzido papel de Sora nos eventos do filme, voltei atrás. Peço desculpa, mas isto foi cruel. 

 

Em Kizuna, Sora está a passar exatamente pelo mesmo que Taichi e Yamato: com uma contagem decrescente no seu dispositivo digital, prestes a perder a Piyomon. Parece que o dispositivo com uma única barra que aparece muito brevemente durante os créditos iniciais é dela. 

 

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No entanto, com Taichi e Yamato vemos o processo todo, praticamente todas as fases do luto, as lágrimas em primeiro plano, os soluços bem audíveis. Com Sora temos apenas uns vislumbres curtíssimos, uma breve cena dela com Piyomon nos braços, outras cenas igualmente breves dela já sozinha, com os restos mortais do seu dispositivo. Não sabemos sequer se alguém lhe explicou o que ia acontecer, porque ia acontecer. 

 

O mais triste de tudo? Sora sendo Sora arranja forças dentro de si mesma para deixar a sua dor de lado e torcer à distância pelos amigos, que estão a lutar na Terra do Nunca. Eles não merecem Sora, ninguém merece.

 

Lembram-se de quando Sora se queixou, em Soshitsu, de que ela se preocupa com toda a gente mas, quando é Sora quem precisa, ninguém se preocupa com ela? Não que fosse cem por cento verdade, mas agora Kizuna faz-lhe exatamente isso. A sua dor não é relevante. Tudo isto porque os digiguionistas acharam que a audiência ia dizer algo tipo:

 

– Sim Sora, perderes a Piyomon é muito triste, mas como vai a tua vida amorosa?

 

Torno a repetir, é uma crueldade. Sora merecia muito melhor. E infelizmente não é a primeira vez que Sora é negligenciada em comparação com outras personagens, no universo de Adventure.

 

Dito isto… não sei o que faria diferente. Mal por mal, gosto muito da curta-metragem de Sora, tal como escrevi acima. Mantendo a curta, Sora teria de continuar afastada da maior parte dos eventos de Kizuna, não poderia estar entre as vítimas de Eosmon. Pô-la como terceira protagonista, ao lado de Taichi e Yamato, também não bateria certo. 

 

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Para mim o ideal teria sido manter Sora fora do epicentro de Kizuna, mas deixá-la conversar com Taichi e/ou Yamato durante o segundo acto, mesmo que fosse apenas por telefone. Talvez ela oferecesse uma perspetiva diferente ao conflito emocional. Ela que, como vimos, quis deixar de ser Escolhida, deseja crescer. Talvez ela aceitasse melhor a perda da sua companheira, quando comparada com os amigos: porque na prática já não tem espaço na sua vida para os Digimon e, lá está, as coisas não podem ficar para sempre na mesma. 

 

Mas seria difícil encaixar essa conversa se tivessem de cumprir o limite dos noventa minutos. Não sei o que cortaria para incluir esta cena. 

 

Além disso, quero acreditar que, lá porque a narrativa de Kizuna ignorou o sofrimento de Sora, isso não quer dizer que o resto do elenco faça o mesmo fora dos ecrãs. Estou certa de que pelo menos Mimi não deixará Sora a chorar sozinha. 

 

Tenho, aliás, um headcannon para as primeiras horas depois de Agumon e Gabumon desaparecerem. Taichi vai passar a noite a casa dos pais, para ser consolado por eles e por Hikari. Por sua vez, Yamato vai ter com Sora e, ao consolarem-se um ao outro, uma coisa há de levar à outra e começam a namorar outra vez. 

 

Mudando de assunto, queria falar sobre as curtas-metragens que foram lançadas após uma campanha de crowdfunding e que detalham histórias sobre os Escolhidos e/ou os seus Digimon que não couberam em Kizuna. Já falámos sobre as duas primeiras. Tirando a que se centrou em Sora, estas curtas só apareceram na Internet há poucas semanas.

 

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A vantagem de ter demorado eternidades a escrever esta análise é ter apanhado este “lançamento” tardio. Agora posso incluir notas sobre essas curtas neste texto.

 

Estas pequenas histórias têm tons bastante diferentes entre si. Algumas são mais sérias e emotivas, algumas são mais parvas, no melhor sentido da palavra. Algumas são uma mistura de ambos. 

 

Uma dessas é a que se foca em Joe. Gomamon está preocupado porque o seu parceiro em miúdo não gostava de ver sangue. No entanto, agora está em Medicina, ou seja, há de ver sangue todos os dias ou quase.

 

O que não é necessariamente verdade. Existem especialidades em que não se vê muito sangue. Psiquiatria, por exemplo, oftalmologia (a menos que se fizessem cirurgias e mesmo assim), anatomia patológica (mortos não sangram), investigação…

 

Em todo o caso, em vez de fazer o que qualquer pessoa ou Digimon com dois dedos de testa fariam – falar com Joe – Gomamon arrasta Agumon para fazerem um teste. Mete ketchup. Tudo muito caricato e tal… até ao momento em que Gomamon leva com um camião em cima. 

 

Falta de juízo dá nisto. E aparentemente os Digimon sangram. As coisas que se aprende…

 

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No fim, Agumon continua na rua, coberto de ketchup, esquecido por todos. Eu pagava para ver a cara de Taichi quando encontrasse o seu Digimon naquela figura.

 

Noutra curta, que decorre no Mundo Digital, Palmon e Piyomon invejam Silphymon. Como Silphymon se consegue formar sem a intervenção de Hikari e Miyako só as Bestas Sagradas saberão. Palmon e Piyomon tentam fazer a sua própria digievolução ADN. Traduzindo à letra uma expressão anglo-saxónica, segue-se hilaridade. 

 

Aposto que, quando V-mon as viu naquela fatiota, no fim da curta, sentiu pela primeira vez que não era o companheiro Digimon mais totó do universo de Adventure.

 

Por falar em totó, a última curta diz respeito à épica história de Pumpmon e Gotsumon. Sim, os dois Digimon que supostamente o Vandemon tinha assassinado. Pelos vistos fora tudo a fingir. 

 

Das duas uma: ou os dois ressuscitaram com o Reinício, em Tri, e agora estão a armar-se ou Gabumon e V-mon estavam bêbados e imaginaram a história toda. 

 

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Mudando outra vez de assunto, queria falar sobre Digimon Adventure Tri Super Evolution Stage (qualquer coisa como Palco da Super Digievolução). Esta foi uma peça de teatro que decorreu em Tóquio entre 5 e 13 de agosto de 2017, entre as estreias de Soshitsu e Kyousei. Em finais de 2017, a filmagem da peça apareceu na Internet. Na altura, não achei que se justificasse escrever sobre ela aqui no blogue, mas deixei algumas impressões na página do Facebook.

 

Esta peça decorre algures durante os eventos de Tri, mas não se consegue perceber ao certo quando. Não que importe muito, pois, apesar de decorrer na mesma altura, é uma história independente da série. Não mete Meiko, nem Meicoomon, nem Maki, nem Daigo. Apenas os oito Escolhidos de Adventure e… Etemon. É, aliás – alerta spoiler – uma daquelas histórias em que, no fim, se descobre que foi tudo um sonho.

 

Em todo o caso, na peça – no sonho – os oito dão por si presos numa realidade alternativa onde é para sempre dia 1 de agosto de 1999. Isto porque, lá está, os miúdos consideram que os eventos de Adventure foram o pico da vida deles e estão cheios de medo de crescer.

 

Parece-vos familiar?

 

Curiosamente, a história pinta Joe como o exemplo a seguir. Neste sonho ele não está com dificuldades na escola (é de partir o coração quando regressa à realidade) e está determinado em ir para Medicina. Sabe o que quer ser quando for grande e quer lutar por isso. Não apesar das suas aventuras no Mundo Digital mas graças a elas. 

 

Gostei muito desta peça, recomendo-a. Como já terão concluído, entra em territórios semelhantes a Kizuna. Gosto mais da mensagem final da peça. Para começar, os Escolhidos não têm de se separar dos seus Digimon no fim, mas também pela lição de usar o melhor da infância como base para a vida adulta. 

 

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Já que se fala de crescimento, e como esse é um dos temas de Kizuna, uma coisa que me tem feito confusão diz respeito às mensagens contraditórias. Já vinha de Tri. Tanto esses filmes como Kizuna tentam desmontar o conceito de nostalgia, de saudades de tempos que já foram – neste caso, as primeiras temporadas, Adventure e 02, as infâncias do elenco. Em Tri, conhecemos três personagens cujas experiências enquanto Crianças Escolhidas foram menos idílicas que as dos nossos protagonistas. Em Kizuna, vemos as dificuldades de se ser Escolhido enquanto adulto e recordamos uma regra universal: nada dura para sempre. 

 

No entanto, ainda que Tri e Kizuna mostrem as limitações da nostalgia, esta continua a ser a principal razão de eles existirem. Eles não deixam de se aproveitar da nostalgia, o que tem o seu quê de hipócrita. Kizuna diz-nos para seguirmos em frente, mas a Toei não está a fazê-lo. Bem pelo contrário, poucas semanas após lançar Kizuna, estreou um reboot – ou, como gosto de chamar-lhe, “tábua rasa” – de Adventure. Reboot esse que vai a meio e, apesar de uma melhoria nos episódios mais recentes, parece não compreender aquilo que tornou Adventure tão especial, há duas décadas.

 

Em que é que ficamos, Toei? É para crescer ou não? É para deixar Adventure para trás, ou não?

 

E depois de tantas palavras sobre Kizuna, sobre a inevitável passagem do tempo, sobre a necessidade de seguir em frente e crescer, tenho uma opinião impopular: crescer não é assim tão mau. Crescer tem sido bom para mim. 

 

Não digo que seja necessariamente mais feliz ou que a minha vida seja mais fácil. Ainda assim, como alguém que cresceu um tudo nada demasiado protegida, uma das coisas de que mais gosto na idade adulta é de ter mais controlo sobre a minha vida e, no geral, ser melhor pessoa, mais confiante, responsável e desenrascada. Estou em constante crescimento, em constante (digi)evolução, e gosto mais de mim mesma enquanto adulta do que enquanto criança ou adolescente.

 

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E se tivesse de salvar o Mundo Digital, estaria mais habilitada para fazê-lo agora e não aos onze anos.

 

Eu compreendo que uma franquia dirigida a crianças teria, idealmente, um elenco da mesma idade que o seu público-alvo. Mesmo dentro do universo de Adventure, compreendo que Taichi e os amigos sintam que os seus melhores tempos tenham sido aos dez, onze anos – quando fizeram coisas que, se calhar, muitos adultos não seriam capazes, mas sem a autoconsciência de um adulto ou mesmo de um adolescente. Compreendo que tenham medo de crescer e cortar com essa vida.

 

No entanto, na minha opinião, os Escolhidos deviam orgulhar-se dos jovens adultos em que se transformaram – como eu me orgulho deles. Logo nos primeiros trailers, há pouco mais de um ano, ao ver o elenco na idade adulta, precisei de um momento. Como quem torna a ver um amigo de infância após muitos anos e se surpreende com as mudanças. Ou como quem reencontra um familiar que não via desde que este era criança, que descobre que este já está na faculdade ou que já está a trabalhar, e se orgulha do quão crescidos estão. 

 

Ainda agora sinto esse orgulho. Vendo Joe quase médico, Yamato e os seus “street-smarts”, como comentámos antes, Miyako estudando no estrangeiro, Koshiro com a sua empresa, Taichi mais perto de se tornar um embaixador do Mundo Digital – e admiro-o por ter ido por aí, mesmo depois de ter perdido Agumon. Eu não sei se seria capaz.

 

Todos eles são melhores versões de si mesmos. Em parte graças a aspetos mundanos do dia-a-dia, mas todos sabemos que foi sobretudo graças aos amigos e às suas experiências com os Digimon. O final da história deles pode não ser o mais feliz, pelo menos não por agora, mas aposto que nenhum dos Escolhidos, nenhum deles, lamenta ou se arrepende de ter embarcado nesta jornada.

 

E o mesmo se aplica a nós, na audiência. 

 

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Como referi acima, o final do filme é triste ao ponto de, da primeira vez que o vi, ter ficado com vontade de renegar tudo que fosse Digimon. Mas mesmo nessa altura, arrependida de ter começado a ver Adventure quando tinha dez ou onze anos? Nunca! Pelas recordações, pelo elenco inigualável, pelas fantasias de ser Criança Escolhida e visitar o Mundo Digital, pelos amigos que fizemos pelo caminho, pelos diretos no YouTube, as discussões no Twitter, os milhares de palavras no blogue, os encontros no Odaiba Memorial Day, pelos passeios na praia ao som de Hirari acústica. 

 

E vamos continuar, incluindo aqui no blogue – com Frontier. O plano é fazer o mesmo que fiz com Tamers. Ver pela primeira vez a versão original da temporada, sem stresses; ver de novo algum tempo depois, dobrada em português, desta feita já tomando notas para a análise. 

 

Pois bem, vi Frontier pela primeira vez no ano passado, quando Adventure 2020 estava em pausa. Como passei várias semanas à volta de Kizuna, agora preciso de uma pausa na escrita sobre Digimon. Assim, só devo ver Frontier pela segunda vez daqui a uns meses. Talvez o faça durante o verão, com o espírito do Odaiba Memorial Day.

 

Posso desde já adiantar, no entanto, que duvido que a análise seja tão longa como a de Tamers e mesmo que as de Adventure e 02. Frontier não convida a isso.

 

Falando a um prazo mais curto sobre os meus planos para este blogue – e deixando Digimon de lado por um momento – o meu próximo texto deverá ser sobre Flowers For Vases, o sucessor a Petals For Armor, que Hayley Williams lançou de surpresa na semana passada. Não vou começar a escrever já já sobre o álbum – preciso de passar mais algum tempo com as músicas. Mas em princípio não devo demorar tanto como demorei com o seu antecessor.

 

Adicionalmente, parece que Avril Lavigne tem um álbum novo prestes a sair do forno. Deverá editá-lo no verão, com o(s) primeiro(s) single(s) saindo daqui a dois ou três meses. No que toca a Avril, eu não conto os pintos até nascerem. Os álbuns dela têm sempre um parto difícil, não me surpreendia se houvesse algum adiamento. Também tenho esperanças de que Lorde decida a qualquer momento sair da sua toca e lançar o seu terceiro álbum.

 

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Como sempre, obrigada por lerem o meu testamento. Escrever sobre Digimon tem sempre aquele saborzinho especial. No caso deste texto em particular, escrevê-lo ajudou-me a lidar com todas as emoções em torno deste filme. Espero ter a oportunidade de ver Kizuna nos cinemas em breve, juntamente com outros fãs. Talvez até com dobragem portuguesa

 

Torno a repetir: zero arrependimentos no que toca a ter entrado em Digimon. Estamos todos melhores por cá estarmos. Despeço-me com a mensagem final de Kizuna: de uma maneira ou de outra, estaremos sempre juntos.  

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