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Álbum de Testamentos

"Como é possível alguém ter tanta palavra?" – Ivo dos Hybrid Theory PT

Within Temptation - Hydra (2014) #3

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Terceira parte da crítica a Hydra, dos Within Temptation. Parte anterior aqui.

8) Dog Days


"Embracing the highs to fight the lows
Running down the path that I think I need to go"

Chegámos à última música lançada como demo no EP Paradise (What About Us?). Esta sofreu melhorias significativas na transição de demo para a versão final, começando pela sonoridade. O refrão ficou muito mais forte com os coros a apoiá-lo. O violoncelo e as guitarras fortes na segunda estância foram, igualmente, uma boa adição. Pontos, também, para a sequência que se segue à terceira estância, com os vocais em crescendo e, finalmente, aquele "1, 2, 3, 4, what are you waiting for?", antes dos últimos refrões. Por fim, a repetição do verso "These are the dog days", na conclusão da faixa, fazendo lembrar Paradise, foi também bem sacada.

A letra também sofreu alterações, como se previa. Fala sobre um momento de desânimo, da apatia, em que a força e a coragem para fazer frente às dificuldades parecem faltar. No entanto, há fraquezas que são herdadas da demo, como a constante repetição de "These are the dog days" ao longo de toda a faixa e o verso "1, 2, 3, 4, what are you waiting for?", que continua a irritar-me. É provavelmente a letra menos conseguida de todo o álbum - isto sem, no entanto, ser uma música má. Dog Days não é, definitivamente, uma faixa a saltar em Hydra. Nenhuma delas é, de resto.

9) Tell Me Why


"Losing myself to madness
And the game's been played"

Tell Me Why é, sem dúvida, a mais sombria de Hydra, tanto em termos de sonoridade como de letra. Na parte musical, destaca-se o padrão diferente da bateria na primeira estância e, mais uma vez, os grunhidos de Robert na terceira estância. A melodia não é das minhas preferidas em Hydra mas funciona.

O conceito de Tell Me Why é o seu ponto forte, na minha opinião. O sujeito narrativo surge atormentado por demónios interiores, sentimentos de raiva, desejos antigos de vingança, isto apesar de, aparentemente, a crise já ter passado. Vários versos de Tell Me Why recordam-me, aliás, o verso "Fighting on my own, in a war that's already been won" da faixa Part II, dos Paramore. Ambas as músicas parecem, de facto, abordar temas semelhantes - mais sobre isso quando escrever sobre a faixa dos Paramore, em breve. Quanto a Tell Me Why, é mais uma boa música, com uma boa história por detrás, em Hydra.

10) Whole World is Watching


"It's all in this moment that changes all"

Chegamos, assim, à última música na tracklist de Hydra, que é também o seu terceiro single de trabalho. Whole World is Watching é já o meu single preferido de Hydra e uma das minhas músicas preferidas. Existem duas versões, uma cantada por Dave Pirner, dos Soul Asylum e outra, de Piotr Rogucki. A letra é a mesma em ambas e ambos os cantores cumprem o seu papel com competência. Numa entrevista recente, Sharon justificou o feat dizendo que, caso tivesse sido apenas ela a cantar, a sua interpretação seria demasiado doce. A participação de Dave Pirner (ela não falou de Rogucki) dá um carácter mais dramático à música, mais adequado à letra.

Em termos musicais, não me lembro de os Within Temptation terem alguma música parecida com Whole World is Watching. No entanto, o estilo é perfeitamente compatível com o material da banda. Gosto do arpejo de guitarra elétrica com que começa, as notas da segunda guitarra, os violinos e piano que se vão ouvindo aqui e ali. Destaque para aquele momento após a terceira estância, em que se houve o violoncelo e, depois, os vocais de Sharon prolongados.

No entanto, é a letra o grande ponto forte de Whole World is Watching. É aplicável a uma infinidade de situações mas, a mim, faz-me pensar na eminência de um confronto final, que decidirá os destinos, não apenas do sujeito em questão, mas também de muitas outras pessoas. O momento em que, finalmente, enfrentamos a Hidra de Lerna ou que, por exemplo, o Harry Potter finalmente enfrenta Voldemort ou em que Katniss Everdeen sobe à arena dos Jogos da Fome. A situação retratada no videoclipe - de um jovem que, depois de um acidente, recebe uma segunda oportunidade e resolve mudar de vida - tambem condiz com a música. Whole World is Watching recorda-me imenso Into the Fire, de Bryan Adams (cheguei a ler uma crítica em que comparavam a interpretação de Pirner à do próprio cantautor canadiano) que também fala sobre as contrariedades da vida, ver-se entre a espada e a parede, obrigado a agir, a assumir responsabilidades, reunir todas as suas forças, enfrentar os próprios medos, a suplantar-se.

Na minha opinião, Whole World is Watching pode mesmo, à semelhança de outras faixas referidas aqui recentemente, representar bem a mensagem final de Hydra, funcionando como um epílogo. Falarei melhor sobre isso nas alegações finais.

Última parte

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Within Temptation - Paradise (What About Us) EP

 
Hoje, dia 27 de setembro, os Within Temptation lançaram um EP contendo Paradise (What About Us), o primeiro single do seu novo álbum, ainda sem nome e sem data prevista para lançamento, bem como três versões demo de músicas que farão parte desse mesmo álbum: Let Us Burn, Silver Moonlight e Dog Days.

 
 



"The wheel embodies all where we are going..."

Tal como já referi anteriormente aqui no blogue, Paradise (What About Us) conta com a participação de Tarja Turunen, antiga vocalista dos Nightwish, nos vocais. A sua voz - que difere da voz de anjo da Sharon, ao assemelhar-se mais a uma cantora de ópera, sem deixar de ser bela e mística, adequada ao estilo dos Within Temptation - é praticamente o único elemento de novidade numa faixa que pouco inova, tanto em termos de letra como de sonoridade. Gosto das partes instrumentais, dos vocais de Tarja, em particular na terceira parte da música, do pré-refrão. Já o refrão, tal como já havia mencionado na última entrada, não tem a força de outros temas semelhantes da banda holandesa.

O conceito é interessante, embora não completamente inédito na discografia dos Within Temptation. A canção apresenta uma situação apocalíptica, lamenta-a - gosto particularmente da imagem da roda que continua a girar, na minha opinião simbolizando um ciclo vicioso - mas reforça a necessidade, a determinação de defender aquilo que, não sendo um paraíso, é tudo o que se possui.

Algo que me faz confusão em Paradise (What About Us) é a passagem do pré-refrão para o refrão. Não sei se a frase "'Cause... what about us?" está gramaticalmente correta. Na minha opinião, devia ter-se substituído  "'cause" por "yeah" ou outra interjeição do género.


O videoclipe saiu ao mesmo tempo que o single. Como poderão ver acima, este apresenta uma história interessante. Passa-se num cenário desértico, pós-apocalíptico, em que duas raparigas jovens reúnem as peças necessárias para fazer funcionar uma máquina que fará com que chova. São bem sucedidas e, quando chegam a adultas - representadas por Sharon e Tarja - a terra está transformada num paraíso graças a elas. Adequa-se ao tema de Paradise (What About Us) mas eu estava à espera de uma maior participação por parte dos elementos da banda em termos de representação, que não se limitassem à atuação e a aparecerem no fim.
 

"I'll face all that is coming my way
The lying, the devil, the silence
Embracing the world on the edge"

Passemos às demos, começando por Let Us Burn, uma faixa que recorda Iron pelo conceito do fogo - nesta altura, já devem conhecer os motivos pelos quais este conceito me agrada. É uma típica música com carácter combativo do Within Temptation, em particular no seu último álbum. Por outro lado, gosto imenso do instrumental, com destaque para a introdução, as notas de piano, o solo de guitarra, os violinos na parte final da música. Só não gostei da parte em que a voz da Sharon soa alterada, na terceira estância. De resto, o pré-refrão, o refrão e os vocais antes do solo de guitarra estão muito bem conseguidos.


"Screaming at the walls of fire, 
closing into me..."

Silver Moonlight começa suave, da mesma forma com que depois é encerrada: com os vocais etéreos de Sharon, fazendo-nos pensar que será uma balada mas depressa ganha um ritmo acelerado, uma sonoridade extremamente parecida às faixas mais marcantes de The Unforgiving. O tema também vai em linha com esse álbum. A música apenas ganha identidade própria graças aos grunhidos de Robert Westerholt, guitarrista da banda. Grunhidos esses que, tal como acontece em temas mais antigos dos Within Temptation (neste momento, no entanto, só me recordo de The Other Half of Me, embora não tenha sido o Robert a grunhir nessa), soam surpreendentemente bem juntamente com a voz angelical de Sharon.



"Embracing the highs, defying the lows
Running down the path that I think I need to go"

Em contraste com o tom acelerado, in-your-face, das outras músicas deste EP, Dog Days é mais lenta e melancólica. Gosto do piano etéreo que a conduz, mas não tanto da letra. Para além de a segunda estância repetir a letra da primeira (coisa que, provavelmente, alterarão para a versão final), toda ela é fraca de uma maneira geral. Destaque para os verso "1,2,3,4, what are you waiting for") que fariam muito mais sentudo numa música pop pré-fabricada ou, pelo menos, numa das faixas de tom combativo e mesmo assim. Numa música melancólica como Dog Days soam completamente deslocados, não encaixam.

Em suma, as músicas do EP Paradise (What About Us) têm todas os seus pontos fortes e os seus pontos fracos, sendo o defeito comum a todas elas a falta de evolução em relação ao último álbum de estúdio da banda, The Unforgiving. Se tivesse de eleger a melhor destas quatro, escolheria Silver Moonlight por ser a que possui menos imperfeições.

Em todo o caso, nenhuma destas opiniões se encontra gravada em pedra, até porque, tirando o caso de Paradise (What About Us), estas ainda não são as versões finais. Até ao lançamento do álbum, estas primeiras impressões terão tempo para amadurecer. Anseio por saber o nome deste disco, o conceito, ouvir as outras músicas, ver como é que as versões finais das faixas deste EP se encaixam no álbum. E, claro, escrever sobre isso aqui no blogue.

Mas ainda faltam alguns meses para isso acontecer. Mantenham-se ligados, contudo, porque tenho mais entradas planeadas para os próximos dias.

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