Terceira e última parte da análise ao álbum Get Up, de Bryan Adams. Partes anteriores aqui e aqui.
Se olharmos para a trilogia de álbuns que Bryan lançou entre o ano passado e este ano - o álbum de coversTracks of My Years, a reedição de Reckless e, agora, Get Up - o denominador comum é o facto de se focarem no passado. Os covers em Tracks of My Years remetem à juventude de Bryan. A reedição de Reckless foi uma celebração de canções com trinta anos de idade. Por sua vez, Get Up tem um estilo maioritariamente retro. Aparentemente isto terá ocorrido por acaso - recordo que a ideia por detrás das primeiras músicas de Get Up compostas era a banda sonora de um filme ou série passada nos anos 50 ou 60, algo independente de Tracks of My Years - mas não acredito que seja cem por cento mera coincidência.
De certa forma, este foco no passado não é de surpreender por parte de Bryan. Ele nunca abrirá mão do rock, estilo musical fora de moda no presente, faz sentido trazer de volta os tempos em que o rock dominava. Bryan não é o único artista musical a ir buscar ideias ao passado. E, tendo ele uma carreira mais do que feita, pode dar-se ao luxo de fazer o que quiser.
Get Up é um álbum interessante, mas não sem as suas imperfeições. O maior defeito é mesmo o tamanho: nove músicas inéditas (em que a maioria não chega a três minutos de duração) é pouco. Na minha opinião, Thunderbolt e Do What Ya Gotta Do são faixas menos boas e isso corresponde já a quase um quarto do álbum - o que não é pouco. É verdade que 11 já foi lançado há muito tempo, que, segundo Bryan, as editoras já não querem álbuns grandes. Mas talvez ele pudesse ter adiado a edição de Get Up por uns meses para acrescentar mais dois ou três temas. Eu ficaria frustrada por passar muito tempo sem discos novos dos meus artistas preferidos, mas talvez o álbum me agradasse mais quando saísse.
Bryan tem referido este álbum como um dos seus melhores, como o álbum que desejava ter conseguido fazer há vinte e cinco anos. Ainda estou um pouco em fase de fim de estranhamento e início do entranhamento. Ainda não tenho uma opinião definitiva sobre Get Up, sobretudo no que toca à comparação com outros trabalhos do cantautor canadiano. Mas se concordo que é um dos melhores álbuns de Bryan? Se concordo que devia ter sido editado no lugar de Into the Fire ou Waking Up the Neighbours? Não. Get Up nem sequer aspira a isso - ou, pelo menos, não devia aspirar, na minha opinião. No entanto, não deixa de ser uma boa adição à discografia de Bryan. Tal como disse antes, e parafraseando uma das canções deste álbum, nesta fase da sua carreira Bryan não precisa de criar revoluções, chega-lhe divertir-se. Se é Get Up que o diverte, não tenho problemas com isso e até alinho na diversão.
Depois de cerca de ano e meio - ou mesmo mais, se me recordo bem de uma ou outra entrevista - lançando pistas sobre um possível álbum de inéditos, Bryan Adams edita hoje o disco "Get Up", que sucede a 11, lançado há sete anos e meio. Este é um álbum é constituído por nove temas inéditos e quatro versões acústicas.
Tal como é o meu hábito quando artistas de que gosto lançam álbuns de inéditos, vou analisar individualmente cada tema. E, pela primeira vez em muito tempo, vou fazê-lo por ordem de preferência. Volto a recordar que esta ordem não está gravada em pedra. Em muitos casos, as faixas estão quase empatadas. É possível, até, que a ordem se altere radicalmente com o tempo. Como o costume, esta análise será dividida por várias entradas (em princípio duas, no máximo três).
Sem mais delongas, comecemos com a música de que gosto menos...
Do What Ya Gotta Do
"People believe what they want to believe"
Segundo o que li na Internet, Do What Ya Gotta Do foi composta para o filme Golpada Americana, mas acabou por não ser usada. Não vi o filme, logo, não sei dizer se a letra tem alguma ligação com ele mas, para ser honesta, duvido. A letra é uma coleção de clichés que nem sequer servem para publicações pseudo-inspiradoras no Facebook. Também não gosto da produção - uns ecos desnecessários e uma espécie de zumbidos metálicos. Se isso é uma marca da produção de Jeff Lynne, definitivamente não sou fã.
Thunderbolt
"A shot right out of the blue"
Esta também é outra música que, pelo menos de início, não me cativou particularmente. A letra não me diz muito - embora, segundo Bryan, Thunderbolt tenha sido título provisório deste álbum. O único aspeto de que gosto em Thunderbolt é da terceira estância, com uns vocais mais agudos e interessantes e uma nota martelada de piano ou teclado, bem como o solo de guitarra que se segue. À parte isso, Thunderbolt é uma faixa pouco marcante.
You Belong to Me
"While you're out there
Remember I'm right here"
You Belong to Me foi o primeiro avanço de Get Up. Segundo Bryan, foi a primeira canção deste álbum a ser composta, sendo depois produzida por Jeff Lynne. Bryan chegou a considerar incluí-la no álbum em que estava a trabalhar na altura (qual seria? Tracks of My Years? O concerto Bare Bones na Ópera de Sydney, cujo DVD lançou há dois anos?), mas tendo esta faixa uma sonoridade tão própria, ele decidiu criar mais músicas dentro deste estilo - e assim terá nascido a ideia para Get Up. Já falei sobre You Belong to Me aqui e não tenho muito mais a acrescentar. Este álbum tem temas bem mais interessantes.
Yesterday Was Just a Dream
"No more lies, I'm tired of hurting"
Esta faixa tem uma sonoridade familiar na discografia de Bryan - poderia encaixar-se, talvez, nos álbuns On a Day Like Today ou Room Service. Esta faixa tem uma sonoridade misteriosa, pensativa de certa forma. Gosto das notas de guitarra a seguir ao refrão, dentro do velho estilo de Bryan. A letra é interessante, fala de procura de conforto, de vontade de esquecer. A mim, lembra-me um pouco a música Help Me Make It Through the Night, cujo cover foi incluído em Tracks of My Years. Apesar de não ter sido a música que mais me agradou aquando das primeiras audições, foi uma das primeiras cujo refrão comecei a cantarolar sem dar por isso.
De certa forma, Yesterday Was Just a Dream condiz com o outono, com o seu tom melancólico, misterioso, mas não demasiado pesado. É uma boa canção.
Don't Even Try
"It's too late for love, what can you say?"
A sonoridade de Don't Even Try recorda-me a canção (One of Those) Crazy Girls dos Paramore, o que é expectável visto a inspiração por detrás de ambos os temas terá sido a mesma: os Beatles. Para além de You Belong to Me, este foi outro dos temas compostos para uma série passada dos anos 50 ou 60, que não chegou a passar do papel. O CD inclui uma versão acústica que nos permite apreciar o belo trabalho com a guitarra acústica - reparem na parte em que Bryan toca cada uma das cordas individualmente.
A letra de Don't Even Try é dirigida a um sujeito que partiu o coração a uma antiga amada, logo, deve desistir de reconquistá-la. Quando ouvi a música pela primeira vez, por altura do segundo refrão pensei "Que estranho, o Bryan não costuma ser tão pessimista...". A letra só começou a fazer sentido quando chegou ao verso "It's alright tonight, now she's with me".
Em suma, o sujeito narrativo dirige-se ao ex da sua atual companheira, dizendo-lhe para se manter afastado dela e atirando-lhe à cara tudo o que o desgraçado fez de mal. Por um lado, é bonito o sujeito narrativo defender a amada, por outro lado é moralmente questionável ele atacar o seu ex dessa maneira. Eu, se fosse a mulher nesta situação, não gostava. Mas fica ao critério de cada um.
Na próxima entrada, analisamos as músicas que faltam. Realmente não são muitas...