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Álbum de Testamentos

"Como é possível alguém ter tanta palavra?" – Ivo dos Hybrid Theory PT

Séries 2013-2014 #2

Alerta Spoiler: Este texto pode conter revelações do enredo das séries abordadas. Logo, se estiverem a pensar ver uma delas, ou se ainda não têm os episódios em dia, sintam-se à vontade para saltar a respetiva análise.

 
Primeira parte aqui.

 

Já vinha acompanhando esta série de há alguns anos a esta parte antes de esta a acabar, este ano. À semelhança de muito boa gente, fiquei extremamente desiludida com o final de How I Met Your Mother. Já houve muita gente pela Internet fora falando sobre o assunto, eu não vou dizer nada de inédito, apenas relatarei a minha experiência.

Comecei a ver How I Met You Mother pois, além de trazer ecos de Friends, o conceito de história contada oralmente, com as naturais incoerências, avanços e recuos no tempo, inverossimilhança de algumas partes era original e engraçado. Isto para não falar das frases-feitas, sobretudo da autoria de Barney, que se tornaram icónicas, em parte muito graças ao advento das redes sociais e dos chamados memes ("challenge accepted", "true story", "legend...wait for it... dary", entre outras). As primeiras duas temporadas foram muito boas mas, com o tempo, a qualidade foi-se desvanecendo. À volta da sétima temporada, já deixara de ter piada, passara a ser pura e simplesmente imbecil. Estive muitas vezes perto de deixar de segui-la completamente. Só não o fiz porque, que diabo, queria conhecer a Mãe! Assim, ia assistindo só a um ou outro episódio, só mesmo para não perder o fio à meada no que tocava à principal (?) trama da série.

Se, na altura, soubesse que a Mãe teria direito a pouquíssimo tempo de antena, que acabaríamos por saber menos sobre ela que sobre outras namoradas do Ted, como Victoria (uma das minhas preferidas, no primeiro ano, bem entendido), Stella e a inútil Zoey, que morreria no final, que toda a esta história era apenas Ted pedindo aos filhos permissão para namorar com Robin, teria desistido da série há muito tempo. Suponho que devíamos ter desconfiado disto mais cedo. Já se suspeitava há algum tempo que a Mãe morreria no final. Sabia-se que a cena final da série tinha sido filmada durante o segundo ano, mais coisa menos coisa, mas a atriz que faz de Mãe só foi escolhida no ano passado. Mesmo assim, acho que ninguém previu esta malfadada reviravolta.

Eu até poderia aceitar este desfecho no fim da terceira, quarta, quinta, mesmo sexta temporada, altura em que havia boa química entre os atores, em que ainda não haviam enrolado a história deles até ao enjoo e ainda não haviam imbecilizado completamente o tom da série. Mesmo agora, podiam perfeitamente ter excluído a anteriormente filmada cena final, mesmo mantendo a morte da Mãe. Podia ter acontecido o mesmo que aconteceu a House: mesmo que a qualidade tivesse decrescido nos últimos anos, o final encerrou a série devidamente, permitindo-nos recordá-la pelos bons momentos.  Ainda que as comparações não sejam assim tão legítimas (afinal, a premissa de HIMYM era mais complicada que o habitual), com How I Met Your Mother, em vez disso, fica a sensação de que os guionistas andaram a gozar com a nossa cara desde o primeiro momento.

Em suma, só tenho uma coisa a dizer: How I Met Your Mother, my ass!

 

Esta é outra série que venho seguindo há uns anos. Já falei dela aqui no blogue em duas ocasiões (aqui e aqui). Este último ano foi, na minha opinião, o pior de Bones, com a série a revelar um claro desgaste. Não se poderia esperar muito mais no nono ano da série mas, mesmo assim, houve coisas que poderiam ter sido melhoradas. A morte de Peleant veio demasiado tarde (um problema herdado da temporada anterior), a história da serial killer foi mal explorada, o caso da corrupção do FBI até era interessante, devia era ter sido um dos principais arcos narrativos da temporada, em vez de se confinar, praticamente, ao último episódio. Isto tudo intercalado com episódios aborrecidos, vários deles gritantemente formulaicos (sou capaz de apostar que os guionistas tinham um modelo pré-fabricado, em que, para além do caso da semana, inseriam um novo problema para o casal Brennan-Booth, facilmente resolvido, e um arco irrelevante envolvendo um dos estágiários para cada novo episódio), em que se contam os bons momentos pelos dedos de uma mão.

Um dos poucos pontos fortes desta temporada é a clara evolução do carácter de Temperance, muito mais aberta ao seu lado menos racional (ainda que com algumas incoerências). O casamento e tudo o que o antecede é um exemplo óbvio, mas existem outros. O ataque de histeria nos momentos finais do último episódio seria inconcebível para a personagem há alguns anos; ao mesmo tempo, adequa-se a alguém que ainda não está habituada a lidar com emoções fortes.

A verdade é que Bones devia ter terminado com o muito aguardado casamento entre Brennan e Booth (um dos melhores episódios desta temporada), pois não parece ter ideias para muito mais. Como tal, não me vou dar ao trabalho de acompanhar a décima temporada da série. Provavelmente só verei um ou outro episódio, e mesmo assim. Na minha opinião, Bones já deu o que tinha a dar - o que, mesmo assim, não foi pouco.

 

24 foi uma das primeiras séries que acompanhei, se bem que apenas a partir da quarta ou quinta temporada - nunca vi os primeiros anos da série. O seu conceito único, com a edição das imagens muito característica. o relógio, o protagonista Jack Bauer (um dos meus heróis de ação preferidos) e a parceira Chloe O' Brien, com o seu constante beicinho, algumas das deixas típicas tornaram a série num ícone para mim e uma das minhas maiores fontes de inspiração nos anos em que eu dava os meus primeiros passos na escrita de ficção. Só me apercebi das saudades que tinha dela quando, quatro anos depois, 24 regressou para uma meia temporada nova, sediada em Londres.

Tirando um aspeto ou outro (por exemplo, as premissas iniciais trouxeram ecos de Homeland), esta temporada extra de 24 não desapontou. Achei a primeira vilã brilhantemente retorcida. Gostei do Presidente "desta temporada". Fiquei de coração partido com a morte de uma personagem importante. E deu-me um gozo imenso ver Jack Bauer de novo em ação, depois de todos estes anos.

Parece que 24 (ainda) não fica por aqui. Ouve-se falar, de novo, num filme que ate as pontas que ficaram soltas no final de Live Another Day. Eu preferia uma nova temporada da série: o filme, para mim, só resultaria se mantivessem o relógio e a edição de imagem, o que não sei se será possível. De qualquer forma, um dia destes vou ver a série do princípio ao fim a ver se, entre outras coisas, esta me dá inspiração para o meu quarto livro.


Eu sei que, anteriormente, tinha falado de Homeland e Anatomia de Grey. Em relação à última, eu já tinha dado a entender que ia deixar de segui-la e foi o que aconteceu. Desta última temporada, só vi três ou quatro episódios, e isto em alturas em que não tinha melhor para fazer. Homeland, por sua vez, sofreu uma queda vertiginosa em termos de qualidade, pelo que desisti ainda a temporada não devia ir a meio (e visto que esta era apenas de doze episódios, fartei-me relativamente depressa) e não é provável que a retome.

Foi assim a última temporada de séries, pela parte que me toca. A nova já começou e ainda bem - andava com mais saudades de ter episódios novos todas as semanas do que estava à espera. Estou aqui em pulgas para ver o novo de The Good Wife. Não sei se começarei a ver alguma série nova este ano, mas é pouco provável pois não gosto de acompanhar muitas séries ao mesmo tempo. Em todo o caso, espero que este novo ano que agora começa nos traga coisas positivas nas séries que vejo, com destaque para Once Upon a Time, Arrow e The Good Wife. 

Bones/Ossos - oitava temporada

Alerta Spoiler: este texto contém revelações sobre o enredo, pelo que só é aconselhável lê-lo caso tenha visto todos os episódios da oitava temporada de Bones/Ossos, até para a própria compreensão desta entrada.
 
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A única série, das que vejo há mais tempo, que sigo com fidelidade absoluta é Bones/Ossos. A emissão da oitava temporada terminou na FOX há algumas semanas e já se sabe que teremos nona temporada.
 
Começarei pelo melhor. Os pontos fortes da série - a interação entre as personalidades díspares do elenco e o humor negro da praxe - mantém-se, distinguindo-se de tantas outras séries policiais. Também se nota uma evolução nas personagens, com óbvio destaque para a protagonista Temperance Brennan, também conhecida por Bones. Durante vários anos, Bones refugiara-se atrás de uma máscara de racionalidade. Contudo, o seu relacionamento com Booth e a maternidade deixaram-na mais vulnerável ao seu lado emotivo, apesar de muitos dos seus traços mais característicos se manterem: a sua visão do mundo a preto e brando, a sua fria mas ingénua honestidade, sem subtilezas. Esta mudança refletiu-se no último episódio, quando ela pede Booth em casamento.
 
 
Notou-se, também, ao longo desta temporada, uma tentativa de introduzir variações no esquema habitual dos episódios, com resultados finais de qualidade díspar. Os que mais gostei foram "The Patriot in Purgatory" - em que se aborda a ferida por cicatrizar que é o 11 de setembro - e "The Pathos in the Pathogens", por envolver conceitos de Virologia, uma das disciplinas de que mais gostei até agora no meu curso. Aquele de que menos gostei foi The Shot in the Dark, em que Brennan foi alvejada. Este foi um dos capítulos que procurou comprovar a evolução emocional da protagonista mas de uma forma desnecessariamente batida: o contacto com entes queridos falecidos durante uma experiência de quase morte é um enorme chavão e a descoberta de que o distanciamento emocional de Brennan resulta da última conversa que teve com a mãe antes de a abandonar, para além de ser também um cliché, destrói a explicação bem menos melodramática, sustentada por mais de sete anos da série, de que a frieza resulta do trauma do abandono em si. 
 
A temporada exibiu outras fraquezas para além desta. No primeiro episódio, o nome de Brennan é limpo e ela regressa após meses em fuga com a filha. Seria de esperar que esta ausência prolongada trouxesse consequências para a relação com Booth mas tais problemas são resolvidos logo no segundo episódio e, depois, é como se Brennan nunca tivesse fugido. E embora, como li algures, seja refrescante ver na televisão uma relação saudável, sem dramas de maior, às vezes não parece credível.
 

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Existiu também alguma falta de consistência entre os episódios envolvendo Peleant e os outros. Para além de serem absurdamente tensos quando comparados com os outros da série, nos outros episódios, as personagens parecem esquecer-se que anda um assassino psicopata decidido a magoá-los à solta. Parecem duas séries diferentes, por vezes. 
 
Também não me agrado que a linha narrativa envolvendo Peleant tenha sido prolongada até à próxima temporada. Começam a enrolar demasiado a história que, de resto, não ocupou mais do que três episódios este ano. Receio que, a menos que a ponta seja atada logo no primeiro episódio da nona temporada, a coisa descarrile.
 
De resto, é apenas uma especificação da minha opinião geral sobre Bones. Apesar de não ser atualmente a minha série preferida, continua a ser um entretenimento eficaz. Por quanto tempo mais, não sei dizer. Sinto que Bones se encontra perigosamente à beira de exibir sinais de desgaste. Como tal, espero que os produtores não deixem que uma boa série como esta vá por água abaixo - algo que tem acontecido demasiadas vezes - que saibam quando devem parar e que, nessa altura, possamos despedir-nos de Brennan, de Booth e de toda a equipa forense do Jeffersonian da melhor forma.

Bones / Ossos

 

Esta é uma série que se foca em Temperance Brennan, uma antropóloga forense que estuda os ossos dos cadáveres para os identificar, descobrir o que os matou, quem os matou, onde é que a pessoa viveu, como viveu, entre outras coisas. Como podem ver, à primeira vista, na sua raiz, não parece diferir muito do CSI e outras séries policiais similares. Aquilo que distingue Bones de tais séries não é apenas o humor negro, muito invocado quando se fala desta série. É também o núcleo duro das personagens, cada uma com as suas particularidades, algumas quase caricaturadas, a dinâmica entre elas. São elas que fazem com que anseie pelo episódio seguinte, que eliminam o sentimento de repetição que tantas vezes vigora em outras séries policiais.
 
Outro grande fio condutor de Ossos é a dinâmica de Brennan e Booth, durante muitas temporadas o casal-que-não-chega-a-sê-lo, conceito que já vi repetido em séries como O Mentalista, Castle e Lie to Me. Nas três primeiras temporadas, esta dinâmica foi muito bem trabalhada, na minha opinião. Nas três temporadas seguintes enrolaram-na demasiado: se anteriormente a tensão romântica/sexual  era subtil, discutível, a partir de uma certa altura, tornou-se tudo muito óbvio, perdeu uma grande parte da graça. No entanto, acabaram por encontrar uma boa maneira de selar a coisa - a gravidez da atriz que faz de Brennan foi muito bem aproveitada na transição da sexta para a sétima época. Teria sido redundante mostrarem todos os passos desde dormirem juntos até assumirem a relação. 
 
A série conseguiu manter o nível nesta última temporada, apesar de ter sido mais curta do que o habitual - provavelmente, mais uma vez, devido ao nascimento da filha de Emily Deschanel. O final foi um dos melhores de todas as temporadas de Bones - atrevo-me mesmo a dizer que foi um dos melhores episódios de sempre, apresentando-nos aquilo que muitos julgariam impensável. um homicídio em que todas as provas apontam para Brennan, de tal forma que eu própria começo da duvidar da inocência da personagem principal. Faz-nos, deste modo, ansiar pelo retorno da série.
 
Em suma, Ossos é das poucas séries - se não for a única - das que já sigo há vários anos cuja qualidade não decaiu com o tempo. Acho que ainda pode durar mais um par de anos - dificilmente mais do que isso - antes de começar a desgastar. Quando terminar, deixará imensas saudades.

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