Segunda parte da minha análise a Once Upon a Time. Podem ler a primeira parte aqui. Hoje, queria começar por falar dos enredos mais secundários nesta temporada.
Um deles disse respeito à morte do pai de David, quando este era pequeno. Descobre-se que, em vez de ter sido uma morte acidental, o pai, Robert, morreu tentando recuperar James, o irmão gémeo de David, que fora levado por Rumplestilskin para ser adotado pelo rei George.
De início, pensa-se que Robert fora assasinado pelos guardas do rei. Mas, no fim, descobrimos que quem desferiu o golpe fatal foi... Hook.
Esta história é interessante, mas teria sido perfeita se tivesse sido integrada no arco do Submundo, da temporada anterior. Podiam manter os mesmos flashbacks. No presente, David reencontrava o pai e o irmão no Submundo. Haveria uma dose saudável de drama e conflito, motivados por traumas de abandono e, no fim do episódio, Robert e James seguiriam para a luz.
Sempre era uma maneira de dar mais profundidade a James, que sempre foi muito unidimensional – além de que a sua história no Submundo foi uma seca, conforme referi na altura.
Podiam, também, manter Hook como o verdadeiro assassino de Robert. Juntando isso às coisas que este fizera enquanto Dark One, podíamos ter uns quantos episódios com o pirata sentindo-se culpado, indigno de ser salvo.
Da forma como fizeram, o envolvimento de Hook e consequente espiral de culpa, que demorou vários episódios a ser resolvida, não fez sentido nenhum. Depois de Zeus ter considerado Hook digno de ser ressuscitado, que mais redenção é necessária?
É óbvio que esta história só foi incluída para que houvesse algum drama entre Emma e Hook antes de estes se casarem.
Regressando à Maldição do Sono, a sua quebra tardou mas foi bem feita, na minha opinião. No episódio em que ocorre, descobrimos que, dez anos após o início da primeira Maldição, Snow e David recuperaram as memórias durante algumas horas. Tiveram a oportunidade de ir ter com Emma (uma criança, na altura), mas escolheram não fazê-lo. Se o tivessem feito, a Maldição podia nunca ter sido quebrada e os habitantes de Storybrooke nunca seriam libertados (bem, tecnicamente seriam sempre libertados quando Emma morresse, mas não sei se Snow e David sabiam desse pormenor).
Gostei que, ao fim de quase seis anos de série, tivessem abordado uma questão, até ao momento, mal resolvida. Snow podia dizer tanto quanto quisesse que abandonara Emma “para lhe dar a sua melhor hipótese” (a tradução não soa tão bem como o original “give you your best chance”), mas a verdade é que ela sacrificou a felicidade da filha para salvar outras pessoas. Não que fosse líquido que Emma estivesse melhor amaldiçoada, mas ao menos estaria junto da mãe.
Fez, assim, sentido que, no presente, Snow tenha escolhido trocar a cura para a Maldição do Sono pela possibilidade de Emma resgatar Hook – que estava preso na Terra do Nunca. E que, no fim, a Maldição do Sono tenha sido quebrada com a ajuda dos outros habitantes de Storybrooke.
Com Hook de regresso e os Charmings livres da Maldição, a série pôde finalmente avançar para o casório de Emma e Hook – que decorreu no muito antecipado episódio musical. Muitos fãs aguardavam-no ansiosamente, alguns deles há anos, e, na minha opinião, a série não desiludiu. As músicas originais (com uma única exceção) são perfeitas para as personagens que as cantam e… são giríssimas. Têm sido regulares nas minhas playlists desde a exibição do episódio – e, tirando quando era pequena, nunca fui do género de ouvir músicas da Disney no meu Mp3 (a única exceção é Let it Go).
Once Upon a Time deixa, assim, de ser uma das minha poucas paixonetas (daquelas sobre as quais escrevo) que não tem uma componente musical. Não vou, por isso, deixar de falar sobre estas canções.
Eu não fazia ideia que o elenco de Once Upon a Time tinha vozes como estas. Penso que alguns deles, como Josh Dallas e Jennifer Morrison, já tinham participado em musicais e Colin O’Donoghue tem uma banda. Os actores também deram a entender que tiveram treinadores vocais, que os ajudaram a encontrar o tom adequado para cada um.
Se este foi o resultado… será que me podem ensinar também?
O motivo para toda a gente ter começado a cantar foi um desejo que Snow pediu, quando estava grávida de Emma e à espera da Maldição: algo que garantisse que a filha teria o seu final feliz. Vemos os primeiros resultados em Powerful Magic, o dueto entre Snow e David.
Esta é a música mais Disney de todas. Tanto Ginnifer Goodwin como Josh Dallas dão espetáculo. Têm vozes lindas, sobretudo Josh (a sua entrada é hilariante, a propósito), e parecem, mais do que nunca, saídos de um filme da Disney – chega a ser caricato. Powerful Magic em si personifica lindamente o casal: alegre, esperançosa e saudavelmente lamechas.
As músicas de Regina, The Queen Sings e, sobretudo, Love Doesn’t Stand a Chance, por sua vez, são cantadas em tom grave. A segunda, aliás, é conduzida por acordes de guitarra e notas de piano, e Lana Parrilla canta e dança, personificando a Evil Queen em toda a sua glória.
Da mesma maneira, o tema de Hook, Revenge is Gonna Be Mine, mistura rock com elementos que recordam a banda sonora dos Piratas das Caraíbas. Colin O’Donoghue, aliás, domina a atuação sem esforço, com o carisma que todos lhe reconhecem.
O tema de Zelena, por sua vez, deixou-me dividida. Rebecca Mader tem uma voz fabulosa – o meu queixo caiu quando ela começou a cantar. E a música é linda, não o nego. O meu problema é que a melodia é demasiado… luminosa para uma música de vilã – lembrar que, na altura dos flashbacks, Zelena ainda não fazia parte dos heróis.
Suponho que esse seja um problema semelhante ao que os criadores de Frozen tiveram, no início da conceção do filme. A ideia inicial era fazer de Elsa uma vilã mas, quando compuseram Let it Go, a música revelou-se demasiado positiva e inspiradora para ser vilanesca.
Os criadores de Frozen puderam reescrever o filme para que se adequasse à canção. Os guionistas de Once Upon a Time não iam fazer o mesmo, por motivos óbvios. Mas também não eram necessárias muitas alterações à música para que esta se adequasse melhor a Zelena.
Snow e David pensam que a música seria uma boa arma contra Regina e, assim, vão confrontá-la. Este confronto musical entre os Charmings e a Evil Queen fazia sentido em teoria mas, na prática, ficou esquisito. Não sei se era essa a intenção dos guionistas, se era suposto ser ridículo. Mas não seria a primeira vez que Once Upon a Time levava uma boa ideia longe de mais, acabando por estragá-la um pouco.
O confronto acaba por não dar em nada, para desilusão de Snow e David. A Fada Azul, no entanto, diz-lhes que o objetivo da música não era esse – antes, esta viveria dentro de Emma e, um dia, dar-lhe ia forças para a Batalha Final.
Esse dia é o da boda dela e de Hook – o mesmo dia em que a Fada Negra lançará uma Maldição sobre Storybrooke. É durante o confronto com essa vilã que a música surge de dentro de Emma. Esta canção foi composto a partir do tema principal da série – um tema que esteve sempre lá desde o início de Once Upon a Time, o que era consistente com a ideia de que esteve sempre no coração da protagonista. A voz de Jennifer Morrison não é tão consistente como a dos outros membros do elenco, mas também acho que esta canção é mais difícil de cantar que as restantes.
Não deixa de ser uma bela música, que começa melancólica, mas que rapidamente ganha um carácter épico – muito graças à secção de metais.
Por fim, temos A Happy Beginning – a canção de casamento de Emma e Hook (e estou a pensar seriamente incluí-la no meu). Acaba por ser a típica canção final num musical: alegre, vitoriosa, com o elenco todo a dançar e a cantar. Uma canção de final feliz.
Isto é, antes de o sino tocar e a Maldição ser ativada.
Esta é a terceira vez na série que o episódio duplo de final de temporada se centra numa qualquer variante à realidade/cronologia habitual. Desta feita, temos a Batalha Final, que consiste numa Maldição em moldes semelhantes à da primeira temporada. Ou melhor, vemos o que poderia ter acontecido se essa primeira Maldição não tivesse sido quebrada. As únicas diferenças são que Fiona é a Presidente e mãe adotiva de Henry, em vez de Regina, e que a família direta de Emma, tirando Henry, é banida para a Floresta Encantada. Emma encontra-se internada num hospício por ter acreditado nas histórias de Henry.
Henry é o único em Storybrooke que manteve as suas recordações… por algum motivo. O miúdo é imune a estas coisas, ao que parece – provavelmente por causa daquela história do “coração do maior crente”. A missão de Henry é, mais uma vez, fazer a mãe acreditar em magia e nas histórias do seu livro.
Até porque, à medida que Emma vai deixando de acreditar, os diferentes mundos dos contos de fadas, onde os Charmings e os outros estão presos, vão sendo destruídos.
Não que as personagens tenham ficado de braços cruzados, enquanto o mundo se desfazia literalmente em pó à volta deles. Pelo contrário, Hook e David trepam um pé de feijão (não sei se é o mesmo onde Emma e Hook se conheceram mas, pelo menos, é muito parecido) à procura de um feijão mágico que os leve de volta a Storybrooke.
Esta pequena aventura sempre rendeu alguns bons momentos de interação entre sogro e genro (David e Hook sempre tiveram boa química), alguns momentos parvos (David caiu do pé de feijão e recuperou dos eventuais ferimentos com o Beijo do Verdadeiro Amor… #fucklogic) mas, no fim, acabou por não resolver nada.
Entretanto, em Storybrooke, todas as tentativas de Henry para fazer a mãe acreditar falham. Fiona convence mesmo Emma a queimar o livro de histórias e a regressar a Boston.
Quando chega, no entanto, Emma descobre na sua mala um caderno onde Henry escreveu a história dela: a história de uma mulher solitária, um patinho feio, que encontrou a sua família, o seu lugar, que se transformou num cisne, numa heroína. Assim, Emma decide regressar. Não porque se recorde da história contada por Henry, mas porque quer ser a pessoa que o filho acredita que seja.
Adorei esse pormenor – foi uma das minhas partes preferidas deste final de temporada. À primeira vista, parecia que esta Maldição fizera Emma regredir à sua personalidade na primeira temporada. Mas não era verdade. Se bem se recordam, nos últimos episódios desse ano, quando Emma teve as primeiras indicações de que as histórias de Henry poderiam ser verdade, que ela nascera para ser a Salvadora, ela entrou em pânico e tentou fugir de Storybrooke. Desta feita, ao descobrir que Henry a via como a Salvadora, Emma não fugiu – pelo contrário, abraçou esse papel.
Só mostra que, lá porque Emma perdera as memórias das últimas cinco temporadas da série, não perdera a sua transformação em heroína.
Mas não foi ela a quebrar esta Maldição. Foi Rumple. Este passara a meia temporada igual a si próprio, com um pé na Luz e outro na Escuridão, sem que saibamos ao certo a qual dos lados ele é leal. Nos últimos episódios da temporada, antes da Maldição, Fiona tinha, aparentemente, conseguido seduzir o filho para o seu lado.
Contudo, cometeu um erro de amadora: separar Belle de Rumple. Qualquer um podia ter-lhe dito que Rumple nunca abriria mão da esposa sem protesto – para o melhor e para o pior, como víramos na primeira metade da temporada. Acabou por ser essa a ruína de Fiona – depois de o filho ter visto o estado em que Belle se encontrava, sob o efeito da Maldição, Rumple vira-se contra ela. Fiona morre às mãos do próprio filho, tal como já acontecera com o marido.
Fiona continuava, no entanto, na posse do coração de Gideon. Ao descobrir que Emma regressara de Boston, ordenara ao neto que matasse a Salvadora. A morte dela não anulava a ordem – apesar de isso ir contra o que a série estabelecera antes (mais uma vez, #fucklogic). Assim, poucos segundos após a Maldição ser quebrada e Emma recuperar as memórias, começa o muito antecipado confronto entre a Salvadora e Gideon.
O Dark One vai à procura do coração do filho para travá-lo. Rumple sendo Rumple tem um último momento de hesitação, contemplando a hipótese de deixar a Salvadora morrer – consta que isso eliminaria várias das limitações da magia… mais alguma vez, por algum motivo. Supostamente, Rumple ficaria capaz de obrigar Belle e Gideon a amá-lo, sem ter de abdicar do seu lado negro.
Depois de tantas ocasiões em que Rumple fez a escolha errada, algum dia este teria de fazer a escolha certa. Por outro lado, toda esta confusão só começara porque ele tentara usar magia para ter o filho e a esposa junto de si – e Gideon fora quem mais sofrera com isso. Porque haveria Rumple de ir por essa via outra vez?
Assim, ignorando os conselhos da mãe e da própria essência do Dark One, Rumple ordena a Gideon, através do coração do filho, que não mate Emma.
Ao mesmo tempo, Emma e Gideon duelam-se nas ruas de Storybrooke. Emma, a certa altura, percebe que está a lidar com uma espada de dois gumes. Se ela morrer, a Luz perde, obviamente. Mas se ela matar Gideon, comete um acto maligno, ou seja, a Escuridão vence.
Desse modo, a meio do duelo, Emma atira a espada para o lado.
Pelos visto, o facto de tanto o maior representante da Luz – a Salvadora – como o maior representante da Escuridão – o Dark One – terem tomado as decisões corretas foi o suficiente para o dia ser salvo. Emma morre mas regressa à vida depois de Henry lhe dar o Beijo do Verdadeiro Amor. Por sua vez, Gideon transforma-se num bebé, de novo, como se nunca tivesse sido levado pela Fada Negra – acho que todos concordamos que este era o único final feliz possível para ele.
Temos, aliás, tempo para ver os finais felizes (ou melhor, “começos felizes”) de toda a gente. Snow continua a ser professora, David torna-se dono-de-casa, Emma e Hook continuam a ser os xerifes de Storybrook – até aqui, tudo bem.
Regina continua a ser Presidente e a dividir a custódia de Henry com Emma. Fico satisfeita por os guionistas não terem sentido a necessidade de emparelharem nem Regina, nem Zelena, com um homem (a propósito, que ficou Zelena a fazer, para além de criar a filha?). É certo que Regina ainda regressa na próxima temporada. Mesmo assim, é bom vermos duas mulheres solteiras e felizes em televisão.
Por outro lado, Rumple e Belle voltam a ser um casal. Tenho algumas reservas em relação a isto. Não sei se Rumple merecida ser perdoado de tudo tão depressa. Sim, ele tomou a decisão certa no fim, salvando toda a gente – mas isto foi depois de séculos e séculos de decisões erradas, algumas das quais amplamente comentadas na primeira parte deste texto.
Não que eu não quisesse que Rumple e Belle tivessem feito as pazes, pelo contrário. Gosto de pensar, apenas, que Belle não caiu logo nos braços de Rumple, que a reconciliação foi gradual.
A cena final, com o elenco todo na mesma mesa, foi outro dos meus momentos preferidos. Há anos, na segunda temporada, quando o facto de Rumple ser avô de Henry era apenas a ponta do icebergue, David comentou (numa tradução livre):
- Ainda bem que não há Dia de Ação de Graças na nossa terra, que esse jantar seria horrível.
Pois bem, mostrarem precisamente esse jantar não sendo horrível foi a maneira perfeita de encerrarem esta parte da história.
Eu dispensava a comparação com a Última Ceia, no entanto. A série nunca soube ser subtil.
O episódio, no entanto, não termina aqui. Antes disso, saltamos no tempo (Quinze anos? Vinte?) e vemos Henry em adulto. Este é visitado por uma menina chamada Lucy, que diz ser sua filha e que vem buscá-lo para que ajude a sua família – recorda-vos alguma coisa?
Este ano de Once Upon a Time deixou muito, mas mesmo muito a desejar. No entanto, tal como já aconteceu antes, o final bem conseguido ajuda a redimir, tanto a temporada como a própria série. Pelo menos em parte.
E talvez este reinício/salto no tempo ajude a disfarçar o desgaste. Não quero falar muito sobre a sétima temporada, até porque este texto já vai longo – mais longo do que tinha previsto. Recordo apenas que Rumple, Regina e Hook regressam, com novas identidades nesta nova Maldição. É uma premissa interessante – mas quero ver como irão justificar as ausências de Emma, dos Charmings e de todos os outros que saíram.
Estou disposta, assim, a dar o benefício da dúvida a OUaT – embora vá ter saudades de Emma e das suas interações com Henry, Regina e Hook. Não sei, no entanto, se voltarei a escrever sobre esta série. Na altura decidirei.
Antes de terminarmos, quero falar sobre os meus planos para este blogue. Falta pouco mais de uma semana para a estreia do quinto filme de Digimon Adventure Tri, Kyousei. Como tal, uma das próximas publicações será a análise a esse filme. Desta vez, vou tentar não me demorar tanto, que o meu atraso com Soshitsu foi uma vergonha.
Não vai ser fácil porque o filme estreia mesmo antes da próxima jornada da Seleção – ou seja, durante as primeiras duas semanas depois de Kyousei terei de dar prioridade ao meu outro blogue.
Depois de tratar de Tri, quero continuar a minha rubrica “Pokémon através das gerações”. Já cheguei ao fim de Pokémon Sun (quase dez meses após o seu lançamento…) e quero, um dia destes, escrever sobre esse jogo.
No entanto, ainda me faltam três textos até chegar a Sun&Moon: um sobre a quinta geração, um sobre a sexta e um sobre Pokémon Go. Pelo meio, dia 17 de novembro saem mais dois jogos da sétima geração: Ultra Sun e Ultra Moon. Como duvido que consiga despachar estre três textos que me faltam (ah ah, terei sorte se conseguir despachar um), em princípio falarei sobre todos os jogos da sétima geração no mesmo texto.
Ainda tenho outro texto nos meus planos: uma coisa curtinha. Já comecei a escrevê-lo e tudo. Talvez consiga terminá-lo e publicá-lo nestes dias que faltam até Kyousei mas, se não conseguir, não há crise. Tentarei terminá-lo nos intervalos dos outros textos.
Não levem estes planos muito a sério, no entanto. Posso não conseguir cumpri-los à risca. Vou tentar, mas não posso prometer nada. Em todo o caso, obrigada pela vossa paciência.
Tenho uma confissão a fazer: não tinha muita vontade de escrever este texto. Filo-o quase por obrigação: porque escrevo sobre Once Upon a Time pelo menos uma ou duas vezes por ano desde os primeiros meses deste blogue. Se não tivesse nada a dizer, ainda punha a hipótese de não escrever. Mas não era o caso, logo, aqui estou.
Pelos vistos, tinha muito a dizer, pois este texto ficou bem mais comprido do que estava à espera. Tão comprido que tive de dividi-lo em duas partes – publicarei a segunda amanhã.
Alerta Spoiler: este texto contém revelações sobre o enredo, pelo que só é aconselhável lê-lo caso tenha visto todos os episódios da sexta temporada de Era Uma Vez/Once Upon a Time, até para a própria compreensão desta entrada.
A verdade é que uma boa parte deste desinteresse deve-se a uma sexta temporada muito irregular. Claros sinais de desgaste, reutilização de ideias já antes exploradas até à exaustão, a ausência de uma linha narrativa coerente, enredos enfiados a martelo, entre outras falhas. Como tal, passei este ano quase todo meio esperando, meio desejando que a série fosse cancelada – sobretudo quando se descobriu que Jennifer Morrison, Ginnifer Goodwin, Josh Dallas, Rebecca Mader e Emilie de Ravin (que fazem, respetivamente, de Emma, Snow, David, Zelena e Belle) não renovaram o contrato. De início, fiquei chateada com a notícia de uma sétima temporada – agora que sabemos que a série dará um salto no tempo e sofrerá uma espécie de Reinício (tenho um certo trauma com esta palavra…), não estou tanto.
Mas já lá vamos.
O primeiro episódio deixou-me logo com poucas esperanças para o resto da temporada – por causa da história envolvendo a protagonista, Emma. Depois de, na época anterior, se ter tornado no Dark One, ter visto o amante morrer e ter ido resgatá-lo ao mundo dos mortos, Emma descobria agora que estava prestes a morrer, às mãos de uma figura encapuçada. Porque, ao que parecia, era esse o destino de todos os Salvadores.
Durante cinco temporadas – em particular, durante a segunda metade da quarta – OUaT martelou-nos com o dogma “Vilões não têm finais felizes”. Agora diziam que os Salvadores – o supra-sumo dos heróis – também não os têm? Em que é que ficamos?
Chamo a isto Síndrome Meredith Grey: aquilo que acontece quando uma série já dura há muito tempo e os guionistas não sabem o que fazer com o protagonista. Assim, vão atirando desgraças para cima dele(a), até já não fazer sentido ou não ser de todo realista.
Apesar de não ter gostado muito da premissa inicial, a execução até foi boa, tirando um pormenor ou outro, conforme veremos adiante.
Os episódios que se seguiram ao primeiro foram bem melhores. Tal como tinha referido no ano passado, o conceito das Histórias Por Contar era interessante – os episódios que exploraram esse conceito corresponderam a essas expetativas. O problema é que… essa linha narrativa só durou seis episódios – e estou a incluir a história de Aladdin e Jasmine.
Este arco terminou tão depressa porque as duas personagens centrais – Dr. Jekyll e Mr. Hyde – morreram logo no sexto episódio. Por sinal, a história deles foi a minha preferida das Histórias Por Contar. Por um lado, por apresentar o twist de Jekyll ser o verdadeiro vilão; por outro, por desconstruir o irritante princípio de que as mulheres preferem os homens maus.
Mas isso daria azo a um texto à parte.
Depois da morte de Hyde, pensou-se que Jafar tomaria o seu lugar como vilão. Isto porque a história de Aladdin e Jasmine fora uma das mais promovidas antes do início da temporada. No entanto – de uma forma muito típica em OUaT, diga-se de passagem – a execução não correspondeu ao hype. Aladdin e Jasmine só foram centrais em dois episódios. Numa mão-cheia de outros, foram apenas secundários. Jafar, esse, tirando uns quantos flashbacks, só apareceu durante uns dez minutos. Os paralelismos entre Emma e Aladdin até tiveram o seu interesse. Tirando isso, esta parte da história não me aqueceu nem arrefeceu.
A Evil Queen foi a primeira vilã da primeira meia temporada, mas não fui grande fã. Para além de ter sido uma repetição da Regina das primeiras temporadas, sobretudo nos flashbacks, a partir de certa altura tornou-se demasiado poderosa, demasiado invulnerável. Teve de vir outro vilão – falaremos sobre ele mais à frente – para a travar, ainda que durante apenas alguns episódios.
Uma coisa de que ninguém – ninguém, nem mesmo as próprias personagens – gostou foi do envolvimento entre a Evil Queen e Rumple. Não nego que sempre existiu alguma tensão sexual, sobretudo nos flashbacks – mas também, o sex appeal sempre foi uma parte significativa do modo Evil Queen de Regina. Ela agia assim com praticamente todos os homens com quem se cruzava, David e Hook incluídos. A sua interação com Rumple não era assim tão diferente das demais. Passar das insinuações à prática foi uma péssima ideia.
Já que falamos em Rumple, este atingiu o seu ponto mais baixo nesta meia temporada. Se já na época anterior tinha notado contornos de relação abusiva no seu casamento com Belle, estes, agora, foram inconfundíveis. Prendeu Belle no Jolly Roger e, mais tarde, colocou-lhe a versão mágica de um localizador, dizendo que a ama e ao filho por nascer para se justificar; ameaça-lhe acelerar-lhe a gravidez e tirar-lhe o filho à força.
É, na verdade, o que acaba por acontecer, embora seja obra da Evil Queen e não de Rumple (não que Belle o saiba). A recente mãe acaba por decidir entregar o filho (a quem dá o nome Gideon) à Fada Azul, para que o proteja do próprio pai.
Houve alguma controvérsia entre os fãs sobre se Belle tinha o direito de negar Gideon a Rumple. Alguns argumentam que Rumple nunca faria mal ao filho e talvez até tenham razão. Eu, no entanto, se estivesse no lugar de Belle, também não quereria um homem como Rumple – que não aceita rejeição, que recorre a atalhos para obrigar pessoas a amá-lo em vez que estabelecer relações genuínas, que tem um histórico bem conhecido de abandono de crianças – perto do meu filho. Fazendo comparações com o “mundo real”, a lei é ambígua, mas eu pessoalmente acho que um agressor nunca poderá ser um bom pai – quanto mais não seja pelos exemplos que dá aos filhos.
Um aparte só para comentar que nunca esperei ter de pesquisar sobre violência doméstica enquanto escrevia sobre uma série baseada em contos de fadas… Mas também é verdade que os contos de fadas tem origens bastante sombrias.
Ainda que a decisão de Belle seja compreensível, entregar Gideon à Fada Azul acabou por ser pior a emenda que o soneto… mas já aí vamos.
Regressando à Evil Queen, a sua maior façanha de longe enquanto vilã foi a maldição que lançou a Snow e David: uma variante da Maldição do Sono em que, quando um está acordado, o outro está inconsciente.
É certo que existem uma série de incoerências nisto. Supostamente, ambos seriam já imunes a este tipo de maldições. Na segunda temporada, a Maldição do Sono implicava sonharem com um quarto em chamas – nesta, contudo, as vítimas mergulham num sono normal.
Nesta altura do campeonato é mesmo escusado esperar consistência em Once Upon a Time.
De início até foi interessante – e devo dizer que já era altura de a série explorar as consequências de Snow e David partilharem um coração. No entanto, foi um arco narrativo que se prolongou demasiado tempo – e não se percebe, por exemplo, por que motivo Emma não tentou dar-lhes o Beijo do Verdadeiro Amor.
Conforme veremos mais à frente, no entanto, gostei da maneira como encerraram essa história.
Um dos episódios mais interessantes foi o final da primeira meia temporada. Neste, a Evil Queen envia Emma para uma realidade alternativa – aqui, a primeira Maldição nunca ocorreu e Emma cresceu com os pais. Regina consegue, mais tarde, entrar nesta realidade. No momento em que esta encontra Emma em modo cem por cento princesa Disney – apanhando flores e cantando Someday My Prince Will Come/O Meu Amor Virá – eu tive de carregar no “pausa” para me rir.
A piada não durou muito. Passou a ser triste, mesmo patético, quando Regina tentou apelar ao lado heróico de Emma – inexistente, nesta realidade. A mim, custa-me a acreditar que Snow e David não tivessem educado Emma, pelo menos um bocadinho, para ser lutadora – sobretudo tendo em conta o passado guerreiro de Snow.
Emma, na verdade, só “desperta” quando a versão alternativa de Henry tenta matar Regina e esta não faz nada para se defender.
Gostei do regresso, ainda que breve, de August – bem como do pequeno flashback que conta as origens do apelido Swan. Outra pérola desta realidade alternativa foi Hook – trinta anos mais velho, barrigudo, hilariantemente alcóolico. A própria Jennifer Morrison parecia estar a esforçar-se por não se rir.
Por sua vez, Regina “reencontra” Robin nesta realidade alternativa. Reencontra entre aspas pois este, como todos os habitantes deste mundo, é uma versão diferente do seu antigo amante – um Robin que nada tem de heróico, que rouba para proveito próprio. Regina, como seria de esperar, trá-lo para Storybrooke.
Não acredito que houvesse uma única pessoa na audiência que acreditasse que aquilo ia resultar. E, de facto, Robin não se consegue integrar em Storybrooke, na sombra deixada pela versão mais heróica de si. A sua partida torna-se inevitável.
Para onde vai ele? Para explicar, temos de saltar alguns episódios. No final da primeira meia temporada, a Evil Queen tinha sido transformada numa serpente e aprisionada por uma figura encapuçada, acabada de chegar a Storybrooke – a mesma figura destinada a matar Emma. Alguns episódios mais tarde regressa à sua forma habitual e confronta Regina com o intuito de matá-la.
É durante esse confronto que, conforme todos sabíamos que iria acontecer mais cedo ou mais tarde, Regina percebe que deve aceitar o seu lado mau – ou seja, aceitar-se a si mesma, amar-se a si mesma. Não foi muito diferente da história de Emma, durante o arco de Frozen, sem parecer repetição.
E a verdade é que, mais do que nas maldições, nos duelos grandiosos, nas figuras da Disney feitas carne, é nestes momentos de crescimento das personagens, de humanidade, que Once Upon a Time brilha verdadeiramente, ofuscando os seus defeitos.
Ao contrário do que muitos esperavam, Regina não reabsorve a Evil Queen. Em vez disso, Regina mistura os corações de ambas, de modo a ficarem com a mesma proporção de luz e sombra. A Evil Queen (chateia-me um bocadinho que não tenham arranjado outro nome para ela) vai, depois, viver com Robin na realidade alternativa que ela mesma criara.
Já na altura me perguntei se fora boa ideia enviarem a Evil Queen para um reino em que ela era procurada por regicídio e rapto da princesa. Não foi surpresa, por isso, quando se descobriu que ambos fugiram para a Floresta Encantada original, onde acabaram por ficar noivos.
Sempre consola um bocadinho que uma versão de Regina e uma versão de Robin tenham tido um final feliz juntos.
Recuemos alguns episódios. Depois de Emma regressar a Storybrooke, encontra a figura encapuçada que estava destinada a matá-la. Nada mais nada menos que… Gideon, o filho de Belle e Rumplestilskin.
Eu passo a explicar.
Tínhamos visto que Belle deixara o filho recém-nascido à guarda da Fada Azul. Infelizmente, esta não foi capaz de proteger a criança durante mais do que um dia, se tanto: esta acabararia por ser raptada pela Fada Negra (que, segundo o que descobríramos no episódio anterior, era a mãe de Rumple e o abandonara pouco depois de ele nascer).
Dá vontade de citar o meu meme preferido: “You had one job!”. Se já antes não gostava da Fada Azul, depois desta gosto ainda menos.
Havemos de falar melhor sobre a Fada Negra, também conhecida por Fiona. Para já, só é necessário saber que esta aprisionou o neto no seu reino, onde o tempo passa mais depressa. Em suma, Gideon envelheceu vinte e oito anos do dia para a noite, essencialmente.
Por esta altura já contávamos cinco anos e meio de #OUaTlogic. Pais e filhos com as mesmas idades biológicas; Leopold noivo e mãe e filha; Rumple envolvendo-se com mãe e filhas; Emma envolvendo-se com enteado e padrasto; Regina adotando o neto da sua enteada; uma cidade quase sempre isolada do resto do mundo mas que se sustém sem problemas.
Mas uma criança crescer até à idade adulta antes de o corpo da mãe recuperar totalmente do parto (assumo eu…)? Já é demais.
Gideon diz que quer matar Emma para lhe roubar os poderes de Salvadora, de modo a derrotar a sua avó. O que obviamente não faz sentido nenhum – ao que parecia, ele estava a confundir a Salvadora com o Dark One.
Não foi, portanto, grande surpresa quando se descobriu que Gideon estava a ser controlado pela Fada Negra. Foi-nos revelado, também, que esta era a grande opositora de Emma, que a “Batalha Final” de que Rumple falava na profecia do episódio-piloto seria entre a Fada Negra e a Salvadora. Isto por ter sido Fiona a criar a primeira Maldição, a Maldição que Emma nasceu para quebrar.
O que não me convenceu. Se os guionistas queriam vender a Fada Negra como a principal vilã até agora em Once Upon a Time, a Némesis de Emma, deviam ter dado pistas sobre isso antes. Tanto quanto me lembro, só se fala dela em Snow Falls, na primeira temporada, e Snow Drifts/No Place Like Home (que, de qualquer forma, é uma espécie de remake de Snow Falls). Mesmo que fosse esta desde o início (coff coff, dúvido), sem os devidos indícios, esta parte parece enfiada a martelo.
Para ser sincera, modéstia à parte, a minha teoria de há um par de anos faria mais sentido – aquela segundo a qual o grande vilão da série seria a essência do Dark One. Mesmo o próprio Rumplestilskin ou a Evil Queen fariam mais sentido.
Uma coisa tenho de reconhecer, contudo: em termos de carisma, Fiona não fica nada atrás de outros vilões icónicos da série, como Rumple, Cora ou Regina em modo Evil Queen.
Perto do fim da temporada, é revelado o motivo pelo qual Fiona abdicou do filho, ainda antes de lhe dar um nome. No dia em que Rumple nasceu, a Fada Azul e Tiger Lilly profetizam que ele seria um Salvador, destinado a confrontar uma grande força da Escuridão, nascida na mesma altura, na Batalha Final.
Esta cena de Rumple ter estado destinado a ser um Salvador, de início, pareceu-me vinda do nada. Mas, entretanto, lembrei-me da realidade alternativa do final da quarta temporada, em que Rumple é o Light One. Se, nessa realidade, Rumple nunca tiver sido abandonado por nenhum dos pais, nunca tiver ganho fama de cobarde, faz sentido que se tenha tornado um Salvador – mesmo que não seja esse o título que usa.
Infelizmente, nesta realidade, Fiona decide tornar-se uma fada para proteger o filho. Quando, a certa altura, fica disposta a matar Tiger Lilly, a sua magia torna-se negra – um pouco à semelhança do que tinha acontecido com Nimue, conforme vimos na quinta temporada. A própria Fiona torna-se, assim, a tal força da Escuridão destinada a matar Rumple.
Um caso clássico que profecia que se cumpre a si mesma. O que, de resto, faz a Fada Azul descer ainda mais na minha consideração: mais valia que tivesse ficado calada!
A certa altura, a Fada Azul dá a Fiona a hipótese de abdicar do seu poder, de modo a não ter de enfrentar Rumple na Batalha Final. À semelhança do que o filho faria inúmeras vezes, Fiona recusa. Em vez disso, separa Rumple do seu destino como Salvador. Depois disto, a Fada Azul bane Fiona para outro mundo – o tal onde o tempo corre mais depressa.
A ideia com que fiquei foi que, já que Rumple não chegou a ser o Salvador, Emma substituiu-o, ficando ela com a tarefa de enfrentar a Fada Negra, na Batalha Final.
Voltaremos a falar sobre essa parte da história e sobre outras partes na próxima entrada, amanhã. Fiquem por aí!
O meu plano para este verão consistia em escrever e publicar a minha série de entradas sobre Pokémon de seguida - com um único interregno para uma tag. No entanto, estes textos estão a dar-me mais trabalho do que antecipei. Contava tê-los terminados por agora, mas ainda a procissão vai no adro e o tempo começou a escassear. Já tivemos as estreias tanto da nova temporada de Once Upon a Time como do próximo filme de Digimon Adventure Tri (tanto para escrever!!!), vou ter de deixar essa série em águas de bacalhau durante algum tempo. Que deverá compreender mais algumas semanas, pois, como se OUAT e Tri não bastassem, já não falta muito para a próxima dupla jornada da Seleção - ou seja, terei de me virar para o meu outro blogue.
Uma coisa é certa, estes textos nunca virão antes do lançamento de Pokémon Sun&Moon, marcado para 23 de novembro cá em Portugal. Fica a promessa, farei por cumpri-la.
Alerta Spoiler: Este texto contém revelações sobre o enredo, pelo que, até para a própria compreensão do mesmo, não é aconselhável que este seja lido, a menos que tenham visto Era Uma Vez /Once Upon a Time até, pelo menos, o final da quinta temporada.
A verdade é que, durante algum tempo, tive pouca vontade de escrever sobre Once Upon a Time, sobretudo quando tinha tanta coisa mais apelativa em que pensar e sobre que escrever. Adiei até às últimas semanas antes da rentrée da série. Custa-me dizer isto, mas a segunda metade da quinta temporada foi, na minha opinião, a pior desde o segundo ano de Once Upon a Time.Sabia há muito que haveria uma altura em que se começaria a notar o desgaste: esta chegou. Foi a primeira meia temporada de toda a série em que não gostei de um único episódio a cem por cento: havia sempre um flashback desnecessário ou uma história lateral desinteressante.
Conforme tinha sido referido na última análise, depois de Hook ter morrido no final da primeira metade da temporada, nesta metade o elenco principal visitaria o Submundo para trazê-lo de volta à vida. Já tinha referido que o conceito inicial do Submundo me parecera interessante: uma versão retorcida de Storybrooke, em que as almas dos que partiram ficavam lá presas, de maneira semelhante à Maldição inicial, na primeira temporada. Porque é que o Submundo se parece com Storybrooke? Veremos adiante. No entanto, eu pelo menos cansei-me depressa. Para uma dimensão supostamente só acessível depois da morte, a partir de certa altura, o Submundo começa a parecer demasiado... mundano. Na prática, no Submundo não existem diferenças vivos e mortos. Estes últimos levam uma "vida" quase normal, com necessidades semelhantes às de pessoas vivas (incluindo sexuais, conforme hilariantemente demonstrado por Cruella). Eu, pelo menos, esperava uma existência mais etérea. O Submundo acaba por não ser assim tão diferente de outras dimensões no universo de Once Upon a Time, como a Terra do Nunca ou Oz. Esta opinião vem reforçada pela forma como Belle, Zelena e Ruby vão facilmente lá parar. Se o reino dos mortos é tão facilmente acessível, uma pessoa interroga-se por que motivo ninguém do elenco principal, como Rumplestilskin, Regina ou Zelena, o visitou antes.
A parte subterrânea do Submundo (se é que podemos chamar assim) parece-me mais interessante, com inspirações na mitologia greco-romana e as referências à Divina Comédia de Dante. Agora que penso nisso, teria sido interessante se Dante e a sua amada morta, Beatriz, tivessem aparecido em Once Upon a Time ou, apenas, mencionados. Dante podia, por exemplo, ser o Autor homólogo do Livro de Histórias do Submundo.
Embora se façam vários trocadilhos entre o Submundo e o Inferno na série, o Submundo equivale mais ao Purgatório: um local onde ficam retidas as almas com "assuntos inacabados". Segundo o que nos é dito no início da meia temporada, as almas só abandonam o Submundo ou para ir para "um lugar melhor" (o Céu, assume-se, ou pura e simplesmente "a luz") ou para "um lugar bem pior" (o Inferno). No entanto, acabamos por não ver ninguém indo parar a esse lugar pior, tirando o desgraçado que Cora usou como exemplo no primeiro episódio. Em vez disso, algumas das almas vão parar (acidentalmente ou não) ao Rio das Almas Perdidas, onde se transformam numa espécie de zombie (*arrepios*). Ao longo da meia temporada, encontramos várias dessas almas com "assuntos inacabados", em histórias que faziam lembrar o Entre Vidas/Ghost Whisperer, umas mais interessantes do que outras.
Logo no primeiro episódio tivemos a oportunidade de reencontrar Henry Sénior, o pai de Regina. Esta meia temporada pode ter tido muitas falhas, conforme veremos adiante, mas este episódio pelo menos conseguiu algo que muitos poucos produtos ficcionais conseguem: fazer-me chorar. Isso aconteceu nas cenas em que Regina reencontra o pai e, depois, quando consegue acesso à "luz" e Regina lhe apresenta o neto homónimo. Admito que posso ter projetado imenso mas, de qualquer forma, o ator Tony Perez injeta imensa ternura na sua interpretação de Henry Sénior (a banda sonora também ajudou). Demonstra bem o amor incondicional e, por vezes, pouco saudável que este sempre nutriu pela filha - ao ponto de parecer quase um "banana", assistindo quase sem protestos às atrocidades que Regina ia cometendo (os flashbacks mostram, precisamente, uma das poucas ocasiões em que Henry tentou fazer frente à filha, sem sucesso). Da mesma maneira como viu a esposa, Cora, empurrando Regina para maus caminhos e nada fez para a impedir. Fez sentido, então, que Henry Sénior tenha conseguido seguir em frente da primeira vez que a filha não se deixou manipular pela mãe.
Mais sobre Cora adiante.
No Submundo também encontramos vilões, como a Bruxa Cega (morta na primeira temporada por Hansel e Gretel, a mando de Regina) e Cruella (morta da forma que sabemos). A primeira gere o diner homólogo ao da Avozinha em Storybrooke (com crianças no menu...) e, não tendo representado verdadeiro antagonismo aos heróis (tirando perto do fim). Sempre providenciou umas trocas de picardias em jeito de comic relief. Cruella, por sua vez, tinha os seus próprios interesses. Inicialmente, tentou manobrar Henry para que este usasse a pena de Autor para a devolver a vida. Acabou por não dar em nada, tirando convencer Henry a usar a pena "para o bem". Após isso, Cruella foi relegada para a posição de vilã-quando-o-enredo-precisar - um papel semelhante ao que Zelena representava na primeira metade da temporada - mas sempre com o seu charme muito próprio (revejam a cena com David que referi antes). No fim, assume a liderança do Submundo, no lugar de Hades.
Reencontramos, também, Milah, a primeira esposa de Rumple, mãe de Neal, que também teve um romance com Hook. Milah é uma personagem muito complexa, ao nível das melhores personagens de Once Upon a Time, que toma atitudes com as quais não concordaríamos, mas não totalmente incompreensíveis. Dizer que o seu casamento com Rumple não foi feliz é eufemismo. Ser casada com alguém tão inseguro como Rumple era na altura não deverá ter sido nenhum prémio. No entanto, se a esposa se tivesse mostrado mais compreensiva em determinadas alturas, talvez Rumple não se tivesse tornado tão cobarde quanto se tornou. Rumple essencialmente vendeu o potencial segundo filho do casal sem consultar Milah, fazendo com que esta agarrasse a primeira oportunidade para fugir. No entanto, deixou Baelfire, que não tinha culpa de nada, para trás - ou seja, este acabaria por ser abandonado por ambos os pais em alturas diferentes. Ao abandonar Rumple, trocando-o por Hook, deixou o primeiro ainda mais predisposto para a Escuridão. No entanto, continuo a achar que não merecia ter morrido da forma como morreu.
Quando a encontramos no Submundo, os assuntos inacabados de Milah prendem-se com o seu abandono de Baelfire. Numa conversa em que ela e o antigo marido se mostram inesperadamente vulneráveis, Milah confessou que tudo o que deseja é voltar a ver o filho e pedir-lhe perdão. Pouco antes, Emma - após uma apresentação extremamente misógina por parte de Rumple - dera-lhe algum conforto ao revelar-lhe que Neal estava feliz, num lugar melhor. Foi de uma crueldade indescritível Rumple ter, mais tarde, atirado-a para o Rio das Almas Perdidas. Volto a dizer, nem mesmo Milah merecia isto. O mais triste é que, da parte de Rumple, isto já não surpreende.
Outra alma presa ao Submundo relacionada com Rumple é a do pai, Peter Pan. Este acaba por não ter grande tempo de antena, mas não me queixo. Ele cumpriu o seu papel na terceira temporada, não se encontra, na minha opinião, entre as personagens mais interessantes de Once Upon a Time. Desta feita, ele não sente rancor contra o filho, deseja mesmo regressar ao mundo dos vivos com ele... no lugar de um dos heróis. Rumple vai aceitando a sua ajuda, em alguns momentos, mas no fim condena-o ao Rio das Almas Perdidas. Problema resolvido.
Voltaremos a falar de Rumple mais à frente. Para já, o caso de que falaremos agora está mais ligado a Oz do que ao Submundo. Há pelo menos dois, três anos, que se especulava sobre a inclusão de um casal LGBT em Once Upon a Time. O primeiro indício disso ocorreu perto do início da terceira temporada, entre Mulan e Aurora. Como poderão ver, há suficiente ambiguidade para uns pensarem que Mulan se refere a Aurora e outros pensarem que ela se refere a Phillip. A questão voltou a surgir já na quinta temporada - no episódio The Bear King, o tal que se seguiu à revelação de que Hook se tornara um Dark One. Desde essa altura, os fãs estavam à espera que o romance se desenrolasse entre Mulan e Ruby. Quando, afinal, Ruby se apaixona por Dorothy, houve quem tivesse ficado desiludido. É possível, no entanto, que a Disney tenha vetado uma potencial saída do armário por parte de uma das suas princesas, sobretudo uma que terá, em breve, o seu próprio filme em live action. Talvez fosse um passo demasiado avançado - embora se fale da possibilidade de Elsa arranjar uma namorada na sequela a Frozen.
Tirando esse aspeto e, talvez, o facto de as personagens se terem apaixonado ao ponto de terem "amor verdadeiro" em menos de um episódio (o que, de resto, não é propriamente inédito em Once Upon a Time - a abordagem ao primeiro romance lésbico da série foi quase perfeita. As hesitações sentidas pelas personagens não se prendiam com o género e sim com traumas do passado, com dúvidas existenciais, semelhantes às sentidas por outras personagens em OUAT). Personagens terceiras ao casal reagiram com naturalidade ao romance, nada afetadas pelo seu caráter homossexual. Deram um exemplo que devia ser seguido por muitas pessoas de carne e osso (incluindo algumas aqui na blogosfera...).
Passemos, agora, ao menos bom das almas do Submundo. A história de Liam Jones, o irmão de Hook, não me aqueceu nem me arrefeceu. A de Hércules e Mégara foi, na minha opinião, uma oportunidade desperdiçada. No filme da Disney, Mégara oferecera os seus serviços como escrava a Hades em troca da vida do seu amante. Depois de regressar a vida, no entanto, o "cretino" trocara-a por outra. Teria sido interessante se Once Upon a Time tivesse pegado nessa história, estabelecendo um paralelismo entre ela e a busca de Emma or Hook.
Em vez disso, Mégara faz o papel de uma típica donzela indefesa (e nem sequer no sentido irónico do termo, como no filme), numa história que se focou mais em Snow. Não foi assim tão interessante - os flashbacks mostraram, essencialmente, os primeiros passos da jovem Snow passando de princesinha mimada a guerreira, com a ajuda de Hércules. No presente, Hércules está morto e preso no Submundo. Snow ajuda-o a seguir em frente e, no processo, recupera confiança em si própria. Valeu a pena só pela prestação de Bailee Madison, que já anteriormente tinha feito de jovem Snow. Bailee já de si é parecida com Ginnifer Goodwin. Adicionalmente, imita na perfeição as expressões e a maneira de falar da atriz mais velha. É uma delícia vê-la. Se quiserem incluir mais flashbacks da juventude de Snow na série, no futuro, protagonizados por Bailee, eu assinaria de imediato por baixo.
No fim deste episódio, Snow declara que não quer voltar a ser tratada por Mary Margaret - por norma mais passiva, focando-se mais em discursos de esperança e tal - e sim por Snow White, mais proativa e lutadora. Tudo muito bonito e inspirador e tal mas, na prática, não teve consequências. Tudo o que Snow fez no resto da temporada, para além de dar apoio a Emma e, mais tarde, a Ruby, foi lamentar-se por estar longe do filho, Neal (aumentando ainda mais o sentimento de culpa a Emma - mais sobre isso adiante) até conseguir, finalmente, regressar mais cedo a Storybrooke. Sempre deu um momento bonitinho, quando David troca o nome dela pelo seu na lápide que a prende ao Submundo, mas de resto Snow continua a dar pouco para a caixa.
O mesmo se passa com o marido, David. O reencontro dele com o seu irmão gémeo mau, James, foi antecipado logo desde o primeiro episódio no Submundo. E nem precisava disso, na verdade, já que há muito que ficou claro que James é a antítese do irmão - um confronto entre eles teria sempre potencial. No entanto, a montanha acabou por parir um rato. Enfiaram o reencontro num episódio em que o interesse principal era outro. James limitou-se a atacar o irmão, a tomar o seu lugar até chegar a Emma e Robin, a ameaçar atirá-los para o Rio das Almas Perdidas. À última hora, David e Hook aparecem, quase literalmente como Cavaleiros Andantes, os dois irmãos lutam e James vai parar ao Rio. Tudo muito superficial, quase cliché. Só prova que David e Snow continuam entre os elos mais fracos no elenco.
Mesmo assim, não são piores que Belle e Rumplestilskin. Snow e David podem ser pouco interessantes mas, como casal, são exemplares. Rumple e Belle estão no extremo oposto, ganhando já contornos de relação abusiva. Ao menos agora, ao contrário de ocasiões anteriores, Rumple foi totalmente sincero com Belle; deixou-lhe bem claro que não vai abdicar de ser o Dark One, nem mesmo por ela. Belle, mesmo assim, continua convencida que consegue mudá-lo, mesmo contra a vontade dele. Pelo meio, o casal descobre que estão à espera de bebé (uma integração da gravidez da atriz, Emilee de Ravin, na história) e Hades usa o acordo anteriormente referido para chantagear os pais. Belle tenta obrigar Rumple a resolver o problema sem recorrer a magia negra (vai sonhando, Belle...), mas a coisa complica-se quando Gaston, o antigo noivo de Belle assassinado por Rumple, aparece para se vingar No meio do confronto, longe de virar Rumple para a Luz, Belle acaba por se aproximar da Escuridão dele ao atirar Gaston para o Rio das Almas perdidas, para salvar a vida do marido.
Uma pessoa mais lúcida do que Belle interpretaria isto como um sinal para se afastar de vez de Rumple e procuraria ajuda em Emma e os outros. No entanto, não é isso que acontece (não é por acaso que, muitas vezes, vítimas de relações abusivas se encontram isoladas de outras pessoas da sua vida, quer por imposição do companheiro ou por outro motivo qualquer). A única pessoa para além de Rumple a quem Belle recorre é... Zelena. Esta fá-la decidir administrar a si mesma a Maldição do Sono, como forma de proteger o filho que tem por nascer de Hades. Tanto ela como Rumple sabem perfeitamente que Rumple não a ama o suficiente para quebrar a Maldição com um beijo de verdadeiro amor. Desse modo, Belle espera que Rumple arranje maneira de anular o acordo com Hades, que a traga de volta a Storybrooke, onde o pai poderá acordá-la.
Nunca achei que isso fosse resultar. Estamos a falar de um homem que tentou fazer com que a filha perdesse as memórias de modo a mantê-la afastada de um homem que ele não aprovava: Rumple. Duvido muito que o beijo do verdadeiro amor resultasse se fosse aplicado por ele. Não surpreende, deste modo, que, mais tarde, Moe tenha preferido manter a filha amaldiçoada, sem a possibilidade de voltar para o marido. A verdade é que entre o pai, Rumple e Gaston, Belle tem tido uma sorte péssima com os homens da sua vida. Na altura em que a temporada terminou, Belle ainda se encontrava sob o efeito da Maldição do Sono e Rumple ainda não sabia como acordá-la (consta que isso terá um arco narrativo próprio na sexta temporada). Só espero que, quando acordar, Belle corte definitivamente com Rumple. Não me queixaria, aliás, se ela fosse excluída da história pois toda esta história com Rumple desgastaram imenso a personagem.
Regressemos, então, à raison d'être de toda a meia temporada: Emma resgatando Hook. Depois de a primeira metade do quinto ano de Once Upon a Time se ter concentrado quase só nela, Emma ocupa um lugar mais secundário durante vários episódios. No relativamente pouco tempo de antena a que tem direito, infelizmente, não faz nada de muito interessante. Na minha opinião, perde demasiado tempo com sentimentos de culpa por a família ter vindo consigo para o Submundo. Fez-me ter saudades da Dark Swan - ela, ao menos não perdia tempo com lamúrias, preocupava-se antes em fazer o que tinha de ser feito. É de resto habitual em Once Upon a Time, mas não só: muitos vilões são mais interessantes que os heróis. Talvez por os últimos terem, por norma, uma atitude mais passiva, reagindo em vez de agindo, muitas vezes debatendo-se com o que está certo e errado - enquanto os vilões fazem o que querem, sem dar satisfações a ninguém... mas isso daria azo a um outro texto, por si só.
Pudemos, no entanto, conhecer a história de origem do icónico casaco de cabedal vermelho de Emma (ando a rondar a Cada das Peles à procura de um parecido) e de como ela se tornou agente de fianças. Achei os flashbacks centrados em Emma e Cleo interessantes, só estranhei o facto de terem ocorrido apenas dois anos antes dos eventos da primeira temporada. Emma sempre deu a entender que contava vários anos de experiência em, como ela diz, "encontrar pessoas". Além de que a ideia de que Emma passou cerca de oito anos, desde o nascimento de Henry e de que saiu da prisão, deambulando por aí no seu carocha amarelo, sustentando-se com assaltos a lojas de conveniência, é deprimente.
No início da meia temporada, eu estava à espera que arrastassem o resgate de Hook, que ele só se reencontrasse com Emma mais tarde, na temporada. O reencontro deu-se logo no terceiro episódio. O arrastamento deu-se imediatamente depois, quando Hades prendeu os heróis ao Submundo. Em linha com o que referi antes, sobre o Submundo parecer demasiado mundano, Emma e Hook levam uma vida quase normal durante a maior parte da meia temporada. O que faz com que os eventos do antepenúltimo episódio doam mais.
Eu sinceramente ainda não percebi que mensagem a série quer passar a Emma pois ora a castiga por não se querer comprometer com Hook, ora a castiga por se agarrar a ele (tornando-o um Dark One para lhe salvar a vida, indo resgatá-lo ao Submundo). Sinceramente, achei parvo que Emma e Hook tenham sido obrigados a despedir-se (sendo esta a quarta vez que Emma vê Hook morrer) para, um episódio mais tarde, Hook ressuscitar literalmente por intervenção divina (ainda que merecida, de certa forma). Parvo... e tendo em conta que os deuses não mostraram a mesma bondade a outras personagens, mesmo cruel.
Mas já aí vamos.
Ainda não falei do vilão da meia temporada, Hades, o Senhor do Submundo. Este é, na verdade, um dos motivos para que esta meia temporada tenha tido menos qualidade. Once Upon a Time tem se caracterizado pelos vilões carismáticos mas Hades, na minha opinião, não é um deles. Greg Germann faz uma interpretação demasiado monocórdica do deus do Submundo, exceto quando se põe a sussurrar. Talvez ele pense que isso torna a personagem mais assustadora mas, na verdade, apenas o torna irritante. A sua aptência por decadência e degradação faz sentido, tendo em conta que ele é, de certa forma, o Senhor da Morte. No entanto, não é fornecida mais nenhuma explicação. As suas motivações são as típicas dos vilões de Once Upon a Time - sem sequer uma história de origem satisfatória, tirando um ressentimento ao irmão Zeus. Este congelou o coração de Hades e confinou-o ao Submundo. Não será agradável, é certo, mas nada nos garante que Hades não o tenha merecido.
A única altura em que Hades revela um mínimo de profundidade é no seu relacionamento com Zelena. Aí admito, o Senhor do Submundo é adorável quando está apaixonado. Achei particularmente tocante, de uma forma retorcida, o facto de ter criado o Submundo à imagem de Storybrooke, como forma de consolar Zelena por Rumple não a ter escolhido para lançar a Maldição. Existem, no entanto, alturas em que não se percebe se Hades está mesmo apaixonado por Zelena ou se está apaixonado pela ideia de estar apaixonado - visto que ele precisa do beijo do verdadeiro amor para se libertar das maldições de Zeus.
Zelena foi, aliás, uma das melhores personagens desta meia temporada. A Verdocas ganhou finalmente algum desenvolvimento quase um ano depois do seu bombástico regresso à série. Tal deveu-se tanto à filha recém-nascida (à boa moda de Once Upon a Time) e ao romance com Hades, como à relação com a irmã, Regina. Depois de Hades a ter arrastado, bem como à bebé e a Belle, para o Submundo, Zelena vira-se para Regina e Robin, confiando-lhes a filha e comprometendo-se a tentar torna-se a mãe de que esta precisa. Eventualmente, as duas irmãs vão se aproximando a pouco e pouco. O Senhor do Submundo, no entanto, revela-lhe que não deseja magoar, nem Zelena nem a sua filha. Pelo contrário, deseja reatar o romance com a Verdocas. Esta acaba-se por se sentir dividida entre ele e a irmã, que procura desesperadamente uma maneira de vencer Hades e de sair do Submundo.
Entretanto, Regina recorre a Cora, a mãe de ambas, para tentar proteger Zelena de Hades. Cora sendo Cora, mesmo com boas intenções, recorre inicialmente à manipulação - desta feita para tentar fazer a filha mais velha esquecer o Senhor do Submundo. Quando isso não resulta, Cora acaba por recorrer a memórias que suprimira às filhas.
Aproveito a ocasião para comentar que o modelo dos flashbacks de Once Upon a Time está a ficar obsoleto. Em metade dos casos não acrescenta praticamente nada de relevante à história e/ou à caracterização do elenco. Este caso é particularmente flagrante pois aliam os flashbacks a outro frequente plot device da série: alterações de memórias. Basicamente, enfiaram a martelo uns flashbacks da infância de Regina e Zelena, em que estas se teriam encontrado e feito amizade, antes de Cora as obrigar a beber uma poção de memória que as fez esquecerem-se uma à outra. Assim, bastou a Cora reverter o efeito da poção para Regina e Zelena se tornarem imediatamente amigas do peito. Um truque óbvio e barato, quando existiam maneiras mais genuínas de estabelecer uma amizade entre as duas irmãs.
Em todo o caso, estes eventos sempre permitiram a Cora fazer as pazes com ambas as filhas, redimindo-se de certa forma e conseguindo partir para a Luz. Provavelmente sob o efeito das emoções todas, Regina resolve dar uma oportunidade a Hades e Zelena. Antes de se encontrar com o Senhor do Submundo, contudo, Rumple e Peter Pan raptam a Bruxinha Verde, usando-a para obrigar Hades a rasgar o contrato que lhe dá direitos sobre o filho do Dark One. Hades alia-se aos heróis para salvar a amada, dando-lhes em troca passagem para fora do Submundo. Depois de resolvido o problema de Rumple (não foi muito difícil...), Zelena e Hades dão o beijo do verdadeiro amor (na minha opinião, não devia ter resultado) e vão para Storybrooke - Hades tenta reter o resto dos heróis no Submundo nas costas de Zelena. Estes escapam por pouco.
Por esta altura, percebe-se que Hades não se contenta com a simples vida doméstica que Zelena deseja para si e para a filha. À boa maneira dos vilões de Once Upon a Time, ele quer tudo e qué-lo agora. Zelena, não querendo acreditar que Hades lhe está a mentir, acaba por entrar em conflito com a irmã e com os outros heróis. No meio dos confrontos, Hades acaba por recorrer ao Cristal Olímpico para eliminar Robin - não se limita a matá-lo, oblitera mesmo a sua alma, de modo a que não haja nem Céu, nem Inferno, nem Submundo para ele. Só aí é que Zelena se apercebe da verdadeira natureza de Hades e recorre ao Cristal Olímpico para matá-lo.
Esta morte de Robin é um dos aspetos que mais critico nesta meia temporada. Não que gostasse por aí além dele - pelo contrário, nunca teve nenhum interesse especial para além de ser o objeto romântico de Regina e é precisamente por isso que a morte dele me desagradou. Robin nunca teve direito a mais desenvolvimento para além de ser o típico ladrão honrado e a segunda hipótese de Regina no amor. Praticamente tudo o que lhe acontece na série - apaixonar-se, recuperar a esposa falecida, descobrir que essa esposa era, afinal, Zelena sob disfarce e que esta espera um filho seu, quase morrer no início da quinta temporada e, finalmente, morrer no fim desta - serviu para caracterizar Regina e não a ele. Se Robin fosse uma mulher e Regina um homem, choveriam de imediato críticas à série. Não vou deixar de criticar só porque agora reverteram os papéis, não quando aquilo deviam ter caracterizado os dois elementos do casal devidamente, em vez de reduzir um deles a plot device.
Um dos objetivos da morte de Robin foi precisamente despoletar a 582ª crise existencial de Regina na série, na qual esta hesita entre o heroísmo e a vilania. Esta foi uma das tramas principais do episódio duplo de final de temporada. Desta feita não houve viagem no tempo nem a uma realidade alternativa. Em vez disso, temos uma viagem a Nova Iorque atrás de Henry, que rouba o Cristal Olímpico, pega em Violet e foge para a Big Apple para tentar erradicar a magia. Por sua vez, os Charmings, Zelena e Hook caem num portal (outra vez), indo parar a um novo reino, onde são feitos prisioneiros.
Na minha opinião, este foi o final de temporada mais fraquinho desde o da segunda. Em parte pela comparação com os finais anteriores, de que eu gostei muito, admito. Mas também achei que as tramas foram pouco interessantes. Considero mais ou menos compreensível que Henry quisesse erradicar a magia, depois de todos os sarilhos em que a sua família se meteu ao longo das temporadas por causa dela. É claro que, depois de passar das intenções aos atos, se iria arrepender ao descobrir que eliminara a única maneira de resgatar metade da sua família. Como é que se resolve este imbróglio? Henry sobe para um muro, pede às pessoas para acreditarem em magia e que atirem moedas para um repuxo, desejando que ele recupere a família. As pessoas obedecem e puff! Fez-se o Chocapic!
Para além de ser um gritante deus ex-machina, achei esta cena demasiado lamechas (e os fãs de Once Upon a Time, por norma, têm uma elevada tolerância a lamechice). Se alguém fizesse o que Henry fez na vida real, as pessoas rir-se-iam a cara dele, vaiavam-no ou, pura e simplesmente, ignoravam-no. Por outro lado, mesmo que resultasse e os Charmings, Hook e Zelena surgissem magicamente do repuxo... estamos em 2016, há smartphones em todo o lado. É mais do que certo que alguém filmaria a cena e colocaria no YouTube, arriscando a exposição de Storybrooke e dos seus habitantes. Ainda estou à espera das consequências desta jogada de Henry, mas o mais certo é os guionistas terem passado à frente assim que o problema do resgate dos heróis ficou resolvido.
Decobrimos, entretanto, que o reino onde os Charmings, Hook e Zelena ficam retidos chama-se Terra das Histórias por Contar. As primeiras personagens que conhecemos nesse mundo são Dr. Jekill e Mr. Hyde. Confesso que sei porquíssimo sobre essa história, tirando a premissa inicial (em pequena, costumava ver um episódio do Looney Tunes baseado nesse conto que me assustava imenso). São, aliás, esses dois que inspiram a decisão seguinte de Regina.
Depois de termos passado quase todo o episódio duplo a ver se Regina caía de novo na vilania ou não (se caísse, eu ia dar um berro), perto do fim Regina decide tomar o soro do Dr. Jekill de modo a arrancar o seu lado negro feito carne e a matá-lo. Aparentemente consegue, mas, nos minutos finais, descobrimos que esse lado negro personificado, a Evil Queen pura e dura, sem pingo de humanidade, sobreviveu e tenciona ripostar.
É bastante óbvio que este desenvolvimento é a maneira de os guionistas, como se diz em inglês "have their cake and eating it too", ou seja ter duas boas situações que, por norma, se excluiriam uma à outra. Depois de anos e anos consolidando Regina como uma heroína, ela não podia reverter para os seus modos vilanescos. No entanto, também é óbvio que os guionistas adoram a Evil Queen (embora, na minha opinião, esta tenha começado a roçar a caricatura nos últimos tempos) e a teta dos flashbacks já começa a secar. Com esta solução toda a gente ganha. Ficou claro desde início que pura e simplesmente erradicar o seu lado negro era uma solução demasiado fácil. Daí que não tenha sido uma grande surpresa descobrir que a Evil Queen continua viva. Toda a gente sabe, de certa forma, que mais cedo ou mais tarde Regina descobrirá que o seu lado bom e o seu lado sombrio não têm fronteiras definidas, que um não existe sem o outro, que ela não pode, pura e simplesmente, apagar todas as atrocidades que cometeu ao longo dos anos. Tudo isto, por um lado, é redundante, como dei a entender acima. Por outro, uma parte de mim anseia ver o que irá a Evil Queen tramar.
Não será só com ela que os heróis se virão a braços na sexta temporada: também com uma data de personagens da Terra das Histórias Por Contar, trazidas para Storybrooke por Mr Hyde - depois de uma negociata com Rumple, em troca de uma solução para a maldição de Belle. A sexta temporada terá, deste modo, uma estrutura semelhante à primeira. Cada episódio focar-se-á numa história diferente (algumas das quais fugindo ao cânone habitual dos contos de fadas, como o Conde de Montecristo, Simbad, o Marinheiro, Vinte Mil Léguas Submarinas, entre outras), de pequena escala, com maior envolvimento do elenco secundário, muitas vezes negligenciado nas últimas temporadas, como Dr. Archie, Dr. Whale, Cinderela e o marido. E, ao contrário dos últimos anos, este arco deverá durar a temporada inteira.
Talvez esta mudança de paradigma seja boa para combater o desgaste que senti nesta meia temporada. No entanto, o primeiro episódio já foi exibido e este não me entusiasmou - pelo contrário, a sensação de desgaste saiu reforçada, pelo menos no que toca a Emma... mas vou guardar as minhas opiniões sobre isso para outra ocasião. Já que em princípio, este arco narrativo durará a temporada toda, só deverei escrever sobre ela quando esta terminar. Por outro lado, agora que tenho uma página no Facebook, talvez vá fazendo mini-análises semanais após a exibição americana de cada episódio.
A verdade é que, depois do Europeu, vários dos meus interesses mudaram e tenho-me sentido farta de séries em geral. Não ajuda o facto de o nível ter sido fraco... outra vez. Arrow continua a insistir nos mesmos erros da terceira temporada, de tal modo que, em princípio, não vou voltar para a quinta temporada - a menos que as críticas sejam muito boas. Legends of Tomorrow teve os seus momentos, mas desisti mais ou menos a meio. Ainda posso retomar, mas é pouco provável. Com tanto filme de super-heróis a saírem, cada um com infinitas campanhas de marketing, ando saturada - apesar de só ter seguido duas séries centradas neles e, no que toca aos filmes, só ter visto o Deadpool.
The Good Wife até começou mais ou menos bem, mas acabou por se arrastar até ao final, nunca conseguindo sair da mediocridade. Considerei particularmente insultuoso que uma série que sempre se destacou pela maneira exemplar como tratava as personagens femininas, quebrando estereótipos, tenha terminado com uma mulher agredindo outra por causa dos respetivos maridos - e eu gostava tanto de Kurt e Diane como casal!
Ironicamente, tendo em conta o que escrevi no ano passado, acabei por gostar mais de ver Anatomia de Grey, ainda que como mero entretenimento apenas é ainda que os defeitos continuem lá todos (drama só porque sim, ninguém naquele elenco sabe lidar com as coisas como pessoas normais, sobretudo a protagonista, de quem gosto cada vez menos). Por outro lado, durante os últimos tempos, a única série que me tem apetecido ver é Last Man Standing/Um Homem Entre Mulheres, na FOX Comedy: uma sitcom que está longe de ser brilhante em termos de enredo e caracterização, mas que ao menos entretém-me e faz-me rir.
Apesar de todas as minhas críticas, Once Upon a Time é, neste momento, a única série que representa mais do que um entretenimento para mim, mesmo que o meu entusiasmo esteja em mínimos históricos. Mal por mal, os pontos fortes mantém-se: um elenco subvalorizado, personagens femininas bem construídas, celebração do amor em todas as suas formas, temas de esperança e redenção. E embora uma parte de mim deseje que a sexta temporada seja a última, sei que vou ter saudades de Once Upon a Time quando esta terminar de vez.
Alerta Spoiler: Este texto contém revelações sobre o enredo, pelo que, até para a própria compreensão do mesmo, não é aconselhável que este seja lido, a menos que tenham visto Era Uma Vez /Once Upon a Time até, pelo menos, o meio da quinta temporada.
A premissa da primeira metade da quinta temporada de Once Upon a Time era promissora: Emma Swan, a protagonista, o produto do verdadeiro amor, a Salvadora, a encarnação da luz, da esperança, de tudo o que é heróico... transformar-se ia no Dark One, o representante da Escuridão e de tudo o que é vilanesco. Não acredito que existisse um único fã que não estivesse nem um bocadinho entusiasmado. Eu, em particular, conforme escrevera antes, sentia-me ansiosa pelo desenvolvimento de Emma, que nem sempre fora o mais adequado nas primeiras temporadas, na minha opinião. Todo o marketing desta meia temporada centrou-se nisso.
No entanto, esta premissa apresentava um problema: contrariamente ao que alguns materiais promocionais davam a entender, incluindo este vídeo feito de propósito para a Comic Con do ano passado, transformarem Emma numa supervilã iria contra tudo o que havia sido estabelecido antes, tanto sobre o Dark One em si como sobre a personagem. Já na quarta temporada tinham tentado vender Emma como vilã, mas a única ação vilanesca que ela fez foi matar uma sociopata que ameaçava assassinar-lhe o filho. De igual modo, Emma torna-se na Dark Swan enquanto salvava a vida a Rumple (não que ele o merecesse, conforme veremos adiante) e para impedir que a essência do Dark One tomasse Regina. A única maneira de Emma se tornar naquilo que mostraram no vídeo da Comic Con seria se a essência do Dark One lhe mudasse a personalidade por completo - e, pelo que tínhamos visto de Rumple, já se sabia que não funcionava assim.
Na minha opinião, os guionistas tomaram a decisão correta ao respeitarem a evolução da personagem. Fizeram, até, questão de mostrar que Emma tinha uma capacidade de resistência invulgar aos efeitos da Escuridão - ainda que soubéssemos, desde a cena final do primeiro episódio, que a certa altura ela tornar-se-ia a sério na Dark Swan. Em toda a jornada de Emma como Dark One, a sua pior ação foi manipular a apaixonada do filho para que esta o rejeitasse - algo que, mesmo assim, chocou muita gente. No final, acabamos por descobrir que as intenções de Emma foram sempre boas, que, mais uma vez, o único motivo pelo qual cedera à Escuridão fora para salvar uma vida. Como disse antes, este arco foi mais ou menos coerente - mas fica aquele vazio por não termos visto Emma como vilã a sério.
Dizia eu que, logo no final do primeiro episódio da temporada, descobrimos que, seis semanas depois do elenco principal ter partido para Camelot, Emma está em modo cem por cento Dark One. Ela e o resto do elenco regressam a Storybrooke via mais uma Maldição e ninguém, tirando Emma, se recorda do que aconteceu em Camelot. Como poderão ver no vídeo acima, a cena em que descobrimos isto está excelente, mostrando a Dark Swan com todo o seu aterrorizante esplendor (a sério, eu estive perto de gritar pela minha mãezinha quando ela toca no rosto de Snow).
No entanto, ninguém achou muita piada a mais um caso de Maldição com perda de memória em Once Upon a Time. Por está altura, a ideia que fica é que está é a única maneira que os guionistas possuem de criar tensão. Está na altura de arranjarem truques novos.
Depois deste episódio, a narrativa vai alternando entre o que se passa em Storybrooke e flashbacks do que aconteceu em Camelot. Durante muito tempo não sabemos ao certo o que aconteceu a Emma para ela ter dado o passo final em direção à Escuridão e as suas atitudes em Storybrooke, pelo menos a mim, confundiram. Ela nunca age em conformidade com as ameaças que fez no fim do primeiro episódio. Tão depressa ela tenta aproximar-se de Henry e Hook como trata Regina com frieza. Devo inclusivamente dizer que Snow e Charming me desiludiram por, ao contrário dos outros entes queridos de Emma, não terem tentado falar com a filha, apelando ao seu lado heróico. Não sabemos se Emma está a tentar livrar-se da Luz ou da Escuridão e isso, a partir de certa altura, começa a cansar.
Não que não tenha acontecido nada de interessante pelo meio, ainda que, demasiadas vezes, as linhas narrativas paralelas desta meia temporada tivessem atrapalhado a história em vez de enriquecê-la. Como tinha escrito antes, tinha grandes expectativas para a abordagem que Once Upon a Time faria à mitologia do rei Artur e de Camelot. Não desgostei das premissas que estabeleceram. Achei que aspetos como Arthur como o Escolhido de Merlin e o romance entre Guinevere e Lancelot foram demasiado cliché. Por outro lado, achei interessante o facto de a grandiosidade de Camelot ser uma farsa, bem como o facto de Arthur não olhar a meios para manter essa falsa grandiosidade - passando por assassinar um fiel súbdito e escravizar emocionalmente a esposa. Esta história sempre rendeu o melhor momento de Snow e Charming em demasiado tempo, quando os dois conspiraram contra Arthur em "The Broken Kingdom". No entanto, depois disso, pouca evolução houve nesta linha narrativa após esse episódio, ficando tudo por resolver. Para ser sincera, acho que ninguém se ralou particularmente com isso. A partir de certa altura, Arthur passou de um vilão intrigante a apenas irritante e, de qualquer forma, estávamos todos muito mais interessados na história principal da temporada.
Gostei da versão Once Upon a Time de Merlin, mas, para alguém que foi pintado como o maior Feiticeiro de todos os tempos e dimensões, aquele que profetizara tanto a Maldição, a Salvadora e a sua suposta némesis, aquele que escolhia os Autores, cujo Chapéu poderia albergar inúmeras criaturas mágicas e libertar os Dark One da adaga... e acabámos por não ver muito do seu poder. Zelena e Arthur, por exemplo, colocaram-no sobre o controlo de Excalibur com espantosa facilidade. Merlin só poderia ser derrotado por um Dark One e, conforme veremos adiante, Dark Ones não faltaram nesta meia temporada, logo, o grande Feiticeiro acabou por não ter muito tempo para exibir os seus poderes. O que é uma pena.
Também tinha grandes expectativas relativamente a Nimue desde que soube que ela apareceria em Once. Para aqueles que não conhecem, na mitologia de Camelot, Nimue foi uma donzela enviada pela Dama do Lago para seduzir Merlin e encerrá-lo no tronco de um carvalho. N'As Brumas de Avalon, Nimue chega a apaixonar-se por Merlin enquanto o seduz e, depois de o entregar à Dama do Lago, ela suicida-se. Logo, quando se descobriu, no início da temporada, que Merlin estava preso dentro de uma árvore, pensou-se logo em Nimue. Mais tarde na temporada, descobrimos que, em Once Upon a Time, foi o Dark One original quem aprisionou Merlin na árvore. Somando dois e dois, não foi grande surpresa descobrir que esse primeiro Dark One era Nimue, que também fora a amada de Merlin. Visto que, de certa forma, todos os Dark One vivem no Dark One corrente, é o coração de Merlin que ativa a Maldição.
Vocês poderão assumir que foi Emma quem lançou a Maldição. Eu digo para continuarem a ler...
Para além da mitologia de Camelot, nesta meia temporada tivemos também o elenco do filme Brave. Nunca vi o filme - pelo que li em críticas não é brilhante - mas tenho uma ideia vaga da história. Amy Manson fez um ótimo trabalho dando vida a Merida e o seu arco rendeu bons momentos. No entanto, apesar das boas intenções, a história de Merida acabou por interferir com a trama principal - o exemplo mais flagrante foi o episódio The Bear King, exibido em segundo lugar, na mesma noite em que foi revelado o twist da meia temporada. Depois disso, ninguém queria saber das desventuras de Merida, nem mesmo com os regressos de Ruby e Mulan.
Uma nota rápida, igualmente, para Zelena. Já na última temporada me tinha queixado que, ainda que desse gosto ver Rebeca Mader divertindo-se com este papel, os guionistas não lhe deram uma história decente. Isso tem continuado nesta temporada. Nesta altura é óbvio para toda a gente que os guionistas adoram o bruxa verde, mas não sabem o que fazer com ela. Pouco mais foi que um plot device para quando a história precisava de complicações. Quando, depois de a filha dela e de Robin nascer (Emma acelerou-lhe a gravidez... eu explico mais adiante), parecia haver alguma evolução na história de Zelena - quando Regina e Robin procuram um compromisso para Zelena pudesse estar na vida da filha - no episódio segunte, Regina entrou em modo YOLO (compreensível perante as circunstâncias) e despacha a irmã para Oz. Suspeito que seja só uma maneira de se livrarem de Zelena por alguns episódios - sim, os guionistas já confirmaram que Zelena regressará, mais cedo ou mais tarde.
O romance entre Emma e Hook continua a ser um dos pontos fortes em Once Upon a Time, recebendo ainda mais protagonismo que anteriormente. Em Camelot, vemos uma Emma cada vez mais aberta para Hook. O amor do atraente pirata é o que mais ajuda Emma a manter a essência do Dark One sobre controlo. Há que notar que o pior ato de Emma em Camelot - quando obrigou a apaixonada de Henry a rejeitá-lo - ocorreu quando Hook está convenientemente desaparecido da ação. Depois de tanto tempo fechando-se ao romance, soube bem ver Emma feliz, ainda que por breves momentos. É claro que não seria Emma sem as suas ocasionais inseguranças. Quase como se os guionistas tivessem lido as minhas críticas na última análise a OUaT, gostei da cena em que Emma admite que faz batota com os "Amo-te".
De uma maneira paradoxal, aquilo que permitiu a Emma controlar a essência do Dark One durante tanto tempo acabou por ser crucial para que ela desse o passo decisivo em direção à Escuridão. Hook é ferido mortalmente e a única maneira que Emma arranja de salvá-lo é... transformá-lo num segundo Dark One. Todas as temporadas, Once faz pelo menos uma surpresa deste género (a paternidade de Henry na segunda, a paternidade de Rumple e a Maldição lançada por Snow na terceira, o regresso de Zelena na quarta) e, tal como nas anteriores (com uma ou outra exeção), ninguém as previu.
O problema é que Hook possui um longo historial como vilão, logo, apresentou fraca capacidade de resistência à essência do Dark One. Dizer que ele ficou muito desagradável é um eufemismo. A primeira coisa que faz enquanto Dark One é usar o coração de Merlin para lançar a Maldição de que falámos anteriormente. Tudo o que Emma consegue fazer é remover as memórias de toda a gente, Hook incluído. Quando regressam a Storybrooke, Emma veste a pele de supervilã para manter toda a gente à distância enquanto procura uma maneira de eliminar a essência do Dark One de si e de Hook.
Que uma pessoa possa ser um Dark One sem ter noção disso é questionável, sobretudo depois de eles terem revelado que estes não dormem. Hook não estranhou esse facto? No entanto, não se pode censurar Emma tendo em conta o que Hook fez depois de descobrir a verdade. O plano de Emma não era mau: aproveitar-se do coração em branco de Rumple, transformá-lo num herói, fazê-lo retirar Excalibur da pedra, usar a espada para transferir toda a Escuridão para um recipiente humano - Zelena - e matá-lo, eliminando Dark One para sempre. A moralidade de matar Zelena seria questionável mas, na prática, ninguém se queixaria por não ter de lidar com a Verdocas - sobretudo depois de ter tido a bebé. Emma acelerou-lhe a gravidez precisamente para não ter de matar a criança. Mas Hook sendo Hook não podia deixar Emma em paz, sobretudo depois de ela, aparentemente, lhe ter salvo a vida. Acabou por descobrir mais do que queria.
A partir daí foi a Lei de Murphy. Custou-me em particular a maneira como Hook tratou Emma, atirando-lhe à cara todas as inseguranças que ele lhe ajudara a ultrapassar - a sério, quando Hook jogou a cartada da orfã, eu ter-lhe-ia dado um estalo. Eventualmente, o Captain Dark One abre as portas do Submundo, trazendo todos os Dark One que alguma vez existiram para Storybrooke. Estes, por sua vez, marcam todo (ou quase todo) o elenco principal para que este tome o lugar deles no Submundo.
Como seria mais ou menos de esperar, à última hora Hook muda de ideias e dá a vida para travar os Dark One e destruir a sua essência. Não é totalmente bem sucedido, pois Rumple arranja uma maneira de transferir a Escuridão para si, tornando-se de novo no Dark One. Agora, na segunda metade da temporada, Emma e o resto do elenco principal vai até ao Submundo nuna tentativa de ressuscitar Hook.
Foi a primeira vez que um final de meia temporada em Once Upon a Time me desiludiu em vários aspetos. Em primeiro lugar, pelo menos um mês antes já se dizia que Hook iria morrer e Emma iria buscá-lo ao Submundo. A grande virtude de OUaT tem sido a sua imprevisibilidade: ninguém estava à espera que a Bruxa Má do Oeste aparecesse em Storybrooke a meio da terceira temporada, que a Elsa de Frozen, por sua vez, aparecesse depois (pelo menos não tão cedo), que Emma se tornasse no Dark One no final da quarta. OK, já se sabia que as Queens of Darkness viriam aí para a segunda metade da quarta temporada ainda o arco de Frozen não estava encerrado, mas isso é um spoiler mais aceitável que a morte de uma personagem importante. Não digo que a culpa seja diretamente dos guionistas, são sinais dos tempos e tal, mas a equipa da série devia ter mais cuidado com as informações e fotografias das filmagens que deixam chegar à Internet.
Por sua vez, quando se descobriu que Rumple era de novo o Dark One, fiquei com vontade de dar um berro. Em primeiro lugar, veio contra aquele que fora o arco de Rumple esta temporada: em que este foi obrigado a transformar-se num herói, chegando a ter uma oportunidade de matar o velho inimigo Hook e opta por poupar-lhe a vida. Já não é a primeira vez que isto acontece, já no ano passado Rumple falava em ser uma pessoa melhor em nome da memória do filho, blá blá blá, para à primeira oportunidade optar pela atitude vilanesca. Andamos em círculos constantes com Rumple desde o início, já não é um plot twist, é cansativo e irritante. O que mais indigna nisto tudo é que toda a história desta meia temporada - Emma como Dark One e tudo o que daí derivou - só aconteceu quando o elenco tentava salvar a vida a Rumple - algo que ele nem sequer merecia, pois acabara de colaborar com o Autor nos eventos do episódio Operation Mongoose. Bela maneira de agradecer, Mr. Gold, deixando Hook morrer em vão!
No meio disto tudo, Belle continuará a ser a parva nesta história toda. Já não sinto pena nenhuma da rapariga. Nesta altura, ela já devia saber com o que está a lidar. Teve inúmeras oportunidades de ser afastar de tudo isto, incluindo uma que o próprio Rumple lhe ofereceu. Sei que a atriz que faz de Belle, Emilie de Ravin, está grávida e é possível que incluam a gravidez na história. No entanto, para ser sincera, já não tenho paciência nem para Belle nem para Rumple.
Agora que já deitei cá para fora aquilo que me fazia comichão neste final, falemos das coisas boas. Ainda que tenha sido capaz de prevê-lo, este final foi executado de forma soberba por parte dos atores. Eu tinha escrito antes que o arco de Dark Swan tinha potencial para mostrar-nos lados diferentes da habitualmente controlada Emma Swan e não me enganei. Jennifer Morrison teve, desde o primeiro episódio, inúmeras oportunidades para exibir o seu talento. No entanto, eu não esperava que Colin O'Donoghue fosse capaz de competir com ela, ao explorar o seu Dark Hook: ora mostrando quase embriagado com a essência do Dark One, imitando os maneirismos de Rumple (podia vê-lo fazendo isto durante horas...), controlando a sua fúria perante Emma. Os desempenhos de ambos os atores culminaram, no entanto, com a cena do sacrifício de Hook que, embora esperada, doeu. E muito. Bem como o momento em que o corpo de Hook é levado e Emma chora nos braços dos pais.
A decisão de Emma de ir resgatar Hook da própria morte é controversa. Por um lado, ressuscitar os mortos não é saudável. Emma já causou muitos problemas tentando impedir Hook de morrer. Será boa ideia fazer o mesmo de novo? Também já me ocorreu a hipótese de Hook, pura e simplesmente, não querer regressar à vida.
Por outro lado, isto é um passo que faz sentido na evolução emocional de Emma. Ela deixou-se apaixonar por Hook porque este foi o único que nunca a magoou - tirando quando estava em modo Dark One e, mesmo assim, redimiu-se a tempo - e que fez tudo por ela. Abdicou do seu navio por ela, cruzou mundos por ela, viajou no tempo por ela, foi dos que mais lutou por ela em Camelot. Estava na altura que Emma fazer o mesmo por ele. De notar ainda que ela, enquanto embarca para o Submundo, diz o lema dos pais: "I will always find you".
Agora vem aí o Submundo. Pelo que os guionistas revelaram, não será propriamente o Inferno e sim uma espécie de Purgatório: uma dimensão/realidade onde permanecem os mortos que ainda tenham assuntos pendentes. Sabemos já que o Submundo tomará a forma de uma Storybrooke distorcida, algo que considero, em simultâneo, fascinante e sinistro. Dá também uma desculpa a série trazer de volta para o seu centésimo episódio - o primeiro da próxima meia temporada - personagens como Cora, Peter Pan, Henry Sénior, entre outras. Consta, até, que o salvamento de Hook será apenas o começo, que o Submundo trará consigo uma infinidade de histórias. Pelo que os guionistas têm referido, o elenco principal será literalmente assombrado pelo seu passado. Faz-me lembrar o que disseram sobre a Terra do Nunca, onde, não existindo futuro, o passado é tudo o que os seus habitantes possuem. Não é, de resto, por acaso que há quem compare a Terra do Nunca e a juventude eterna de Peter Pan e os Meninos Perdidos à própria morte.
Não nego que estou curiosa. Não se sabe muito mais ainda sobre a próxima meia temporada, é provável que saia mais informação até lá. No entanto, depois de a primeira metade desta temporada ter sido prejudicada por overhype e sobretudo spoilers, prefiro assim.
Antes das alegações finais, quero apenas referir umas quantas pontas por atar. O aviso críptico de Merlin, referindo Nimue como a única pessoa que poderia ajudar o elenco principal a derrotar a Escuridão não faz sentido nenhum - a própria Nimue foi crucial para a Maldição e liderou os Dark One ressuscitados. Também não se percebe porque Lancelot não foi levado pela Maldição quando Merida o foi e, já agora... a mãe dele não ficara de ajudar? Algum dia conheceremos a misteriosa Dama do Lago?
Tenho vindo a compreender que, ainda que goste dos mistérios e perguntas por responder que Once vai introduzindo, o mais certo é uma boa parte desses nunca serem devidamente esclarecidos. A força da série reside na evolução das personagens, nas relações entre elas, nas prestações dos atores - Once Upon a Time tem um elenco muito subvalorizado. Há personagens de quem gosto mais do que outras - Charming continua uma seca, Rumple irrita-me, apenas vejo Belle como uma vítima de Síndrome de Estocolmo. Por sua vez, relações como as de Henry com cada uma das suas mães, a amizade entre Emma e Regina, o amor entre Emma e os país (ainda hoje me comovo de cada vez que Emma trata Snow e Charming por "Mom" e "Dad") continuam entre os grandes atractivos da história, mais do que os romances por vezes. É a história deles que me vai mantendo interessada em Once, numa altura em que outras séries que acompanho me aborrecem como nunca.
As dúvidas que tinha no final da quarta temporada mantém-se - depois de terem tornado a heroína na maior vilã, para o nível continuar a subir, os guionistas tiveram de mandar a história para o Inferno, quase literalmente. O que me faz perguntar, novamente, até quando Once Upon a Time durará. Um dos patrões da ABC disse há pouco tempo que a série tem "um futuro longo e brilhante", que as histórias de Once Upon a Time os entusiasmam, mesmo não sendo brilhante em termos de audiências. Isto, em princípio, pode significar uma renovação para uma sexta temporada mas, para além disso, eu não faço apostas. Em todo o caso, quando a altura chegar, vai custar despedir-me de Storybrooke e, sobretudo, dos seus habitantes.
Encontro-me, neste momento, a trabalhar na análise à segunda parte da quarta temporada de Once Upon a Time (podem ler a análise à primeira aqui). Em jeito de amostra, deixo aqui as minhas respostas à tag sobre a série.
1) Como descobriste a série?
Descobri Once Upon a Time há cerca de três anos, quando estava a fazer zapping e, no AXN (ou seria o AXN White?) estava a passar o episódio The Thing You Love Most - o segundo da primeira temporada.
2) Quem é a tua personagem preferida?
Definitivamente Regina, que tem sido a personagem a evoluir mais ao longo de toda a série. Apesar de, tecnicamente, estar agora do lado dos bons, manteve a língua afiada e uma dose saudável de malícia que toda a gente adora.
Em segundo lugar, está Emma, apesar de nem sempre gostar do que escrevem para a personagem.
3) Se fosses uma personagem de contos de fadas, quem serias?
Não faço a mínima ideia, sinceramente. Sempre gostei de ler histórias tradicionais, sobretudo quando era pequena, mas nunca me identifiquei com nenhuma personagem em especial.
4) Charming ou Hook?
Nunca achei muita piada ao Charming, mas o Hook é uma das minhas personagens preferidas. Adoro a química entre ele e Emma.
5) Qual é o teu episódio preferido até ao momento?
Já falei de muitos episódios marcantes na série em críticas anteriores. Entre aqueles que considero os melhores encontram-se Snow Falls, The Heart is a Lonely Hunter, Desperate Souls, A Land Without Magic, Lady of the Lake, Tallahasee, Manhattan, Quite a Common Fairy, Going Home, Snow Drifts/No Place Like Home, Shattered Sight, Operation Mongoose. No entanto, o meu preferido provavelmente será sempre o episódio-piloto. Para além de cumprir bem o seu papel de definir as premissas e de seduzir-nos para OUaT, é um dos melhores escritos de toda a série, com imensas deixas memoráveis - as declarações de Mary Margaret sobre a importância dos contos de fadas, as trocas de picardias entre Henry e Emma e até mesmo o discurso cheio de ameaças de Regina quando Emma dá a entender que quer estabelecer uma relação com o filho biológico.
6) Se pudesses ser uma personagem da série, quem serias?
Sendo eu reservada, um pouco tímida e cheia de inseguranças, eu provavelmente seria Elsa ou, então, Ingrid enquanto jovem - até porque também tenho uma irmã mais nova, que adoro.
7) Se pudesses namorar uma personagem da série, quem seria?
Hook. Tal como disse antes, é um dos meus preferidos e... é extremamente sexy!
8) Qual foi a tua primeira impressão sobre a série? Mudou?
Na sua essência, aquilo que sempre me atraiu em Once Upon a Time mantém-se até ao momento: o facto de ser uma série com personalidade própria, diferente de tudo o resto, uma espécie de Harry Potter com personagens mais velhas em televisão.
De início, a primeira temporada, muito focada nas personagens, impacientava-me por o enredo andar a passo de caracol. Daí que a primeira impressão da segunda temporada, com um ritmo mais elevado, tenha sido positiva. No entanto, esta temporada empalidece na comparação com a terceira e a quarta, sendo muitos os aspetos mal conseguidos: a frequente irrelevância de Emma exceto como deus ex-machina, a débil tentativa de redenção de Regina, uma cansativa disputa de custódia por Henry, a morte prematura de Cora, a história da Dark Snow (que não teve conclusão satisfatória), Greg e Tamara (a dupla de vilões que tenho procurado esquecer). O modelo atual de duas temporadas numa funciona - permite que o enredo avance a um ritmo razoável, dando igualmente tempo para o desenvolvimento das personagens.
Hei de falar melhor sobre isso na análise à segunda parte da quarta temporada, mas posso desde já assegurar que Once continua a ser a minha série preferida. Pode ter as suas falhas, pode ser cada vez mais Disney que contos de fadas propriamente ditos, mas as conclusões das histórias satisfazem.
Mais sobre Once Upon a Time em breve. Continuem por aí...