Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Álbum de Testamentos

Mulher de muitas paixões e adoro escrever (extensamente) sobre elas.

Música 2022 #4: Diz que tudo isto é emo

Hayley_01-819x1024.jpeg

 

Não podia falar sobre música que me marcou em 2022 sem falar sobre Everything is Emo. Este é um podcast/programa de rádio que Hayley Williams dos Paramore lançou entre abril e setembro desse ano. 

 

Neste programa, Hayley fez mais ou menos aquilo que tantos de nós fazem nas internetes, aquilo que eu faço aqui neste blogue: falar de música de que se gosta, que a marcou, partilhando histórias pessoais sobre ela. Como a própria Hayley explicou, ela prestou homenagem a artistas e bandas que a inspiraram, a ela e ao resto dos Paramore, que abriram caminho para eles. Ao mesmo tempo, Hayley elevou artistas e bandas – por exemplo, Wet Leg e Wolf Alice – que surgiram depois dos Paramore. Pelo meio, foi aceitando sugestões da audiência.

 

Houve aqui um bocadinho de exploração do ciclo nostálgico de vinte anos, sim. Mas, pelos motivos listados acima, pareceu-me um pouco mais genuíno que aquilo que, por exemplo, Travis Barker e respetiva trupe têm feito – já terão reparado que os Blink 182 reagruparam e vão lançar um álbum em breve. 

 

E, claro, como alguém que foi adolescente durante os anos 2000, identifiquei-me com algumas coisas de que Hayley falou no podcast: CDs gravados por mim mesma, o som da Internet ligando-se por telefone, ouvindo música no Windows Media Player enquanto escrevia. No meu caso eram as minhas histórias e talvez o meu diário. Hayley não só escrevia um diário (e acho que ainda o faz hoje) como escrevia letras para os Paramore. 

 

Como é que Hayley escrevia letras de música enquanto ouvia música, no entanto? Seria como eu escrever as minhas histórias ao mesmo tempo que oiço um áudiolivro de ficção.

 

O tema do podcast era música emo… e eu não sei ao certo o que isso é. Conheço o termo há anos, claro, já o usei algumas vezes, mas nunca conheci a definição oficial e nunca me “identifiquei” com ele. Até porque, como penso já ter referido cá no blogue, não ligo muito a rótulos ou géneros musicais, tirando termos muitos gerais como rock, pop, eletrónico, etc. Às vezes oiço alguém dizer “Ah, este verso é muito emo” e nem sequer percebo o que levou a essa observação.

 

FRf5aSeXsAA1_fc.jpeg

 

Conheço, claro, o estereótipo do emo vestido de negro, que abusa do eyeliner preto, com o rosto inexpressivo – o que parece contradizer o conceito de emo, que vem de “emoção”. Pessoalmente, sempre associei emo a uma certa melancolia, estilo ultra-romantismo ou as fases não-futuristas de Álvaro de Campos, um dos heterónimos de Fernando Pessoa. A minha playlist Post Kyousei (que compilei depois do filme de Tri com o mesmo nome) é um bom apanhado daquilo que eu considero pelo menos um bocadinho emo. Inclui músicas como Chasing Cars, dos Snow Patrol, My Indigo, Victim of Love ou Sober II (Melodrama) de Lorde – claro que nem toda a gente concordará essas escolhas. 

 

Por outro lado, admira-me ninguém referir The Sound of Silence quando falamos deste género musical. Haverá algo mais emo que os versos “Hello darkness, my old friend. I’ve come to talk with you again”?

 

De resto, parece-me que o discurso em torno do que é emo ou não tem mudado nos últimos anos. Agora, pelos vistos, uma grande parte da música que oiço é emo. 

 

Será…? 

 

Que os Linkin Park sempre foram um bocadinho emo concordo. Os Paramore também sempre estiveram associados a esse género – havia quem dissesse há uns anos que eles não o eram, mas agora os próprios assumem-se assim. Quem vai contrariá-los? Avril Lavigne emo? Já acho um bocadinho esticado. Talvez o Under My Skin e partes do Let Go. Mas tirando isso…

 

Às tantas haverá quem ache que sou emo. Nunca pensei…

 

Hayley_02-819x1024.jpeg

 

O que é certo é que sempre tive um lado musical mais pesado, mais “alternativo”. No entanto, esse lado esteve menos ativo durante uns anos enquanto investi no meu lado mais pop. De 2017/2018 para a frente ganhei um interesse por pop dos anos 80, por pop influenciada pelos anos 80, como descrevi aqui, ou mesmo pop em geral. O After Laughter dos Paramore contribuiu para isso, bem como os trabalhos a solo de Hayley Williams, mas também artistas como Carly Rae Jepsen, Mika, Lorde ou Taylor Swift. Com as devidas exceções, o lado mais pesado ficou mais negligenciado. 

 

O podcast de Hayley e o concerto dos Simple Plan e dos Sum 41 (mais sobre isso mais tarde) ajudaram a despertá-lo de novo. 

 

Mesmo assim, não abdico do meu pop. O meu gosto musical define-se por aquele meme com uma casa escura ao lado de uma casa colorida. 

 

Havemos de falar sobre a casa colorida mais tarde, hoje falamos sobre a casa escura. Não gostei de todas as músicas que Hayley tocou no seu podcast, mas gostei de uma mão-cheia delas. Neste texto vou falar das mais marcantes, mas a playlist que compilar no fim deste balanço musical incluirá outras.

 

Uma das bandas que apareceram mais vezes no podcast foi Jimmy Eat World. Antes disto, só os conhecia de nome e por The Middle. O programa de Hayley convenceu-me a ouvir Bleed American e gostei. Agora arrependo-me de não os ter conhecido melhor antes – é o estilo de música de que sempre gostei.

 

Só recentemente, na preparação para este texto, é que tive oportunidade para olhar com olhos de ver para a maior parte das letras. Foi um problema recorrente em 2022 e que acho que se vai manter em 2023, se me permitem o desabafo. Hayley diz, com toda a razão, que quanto mais música tivermos para amar, mais felizes seremos. O problema no meu caso é nem sempre conseguir passar tempo suficiente com as canções, não consegui conhecê-las a fundo. E sinto admiração à mistura com inveja de pessoas como Hayley, que têm muito mais artistas e bandas no seu radar do que eu. 

 

func.jpeg

 

Eu sei que, como cantora e compositora, isso faz parte do trabalho de Hayley. Mas mesmo assim. 

 

Regressamos a Jimmy Eat World e a Bleed American. Gosto imenso da instrumentação neste álbum. As guitarras e a bateria são o mais óbvio, mas gosto particularmente da maneira como usam o piano nas músicas mais agitadas – por exemplo, Sweetness e If You Don’t, Don’t. Corrijam-me se estiver enganada, mas não é muito habitual em música deste género, pois não?

 

E, claro, as melodias são irresistíveis. 

 

Hear You Me foi uma das primeiras a cativar-me porque, regra geral, vou sempre primeiro para as baladas. No entanto, na minha opinião, Cautioners é uma balada mais interessante – pelo menos no que toca ao instrumental. Por um lado, parte do acompanhamento é sereno, atmosférico, como numa balada convencional. Gosto em particular do piano no refrão e no pequeno crescendo na terceira parte. Ao mesmo tempo, temos os acordes de guitarra elétrica e a bateria a cortar – adoro o efeito.

 

Outras de que gosto são If You Don’t, Don’t e The Authority Song – isto se falarmos apenas na edição-padrão. A versão Deluxe também tem as suas pérolas, como (Splash) Turn Twist, No Sensitivity e The Most Beautiful Things.

 

Tenho tido algumas dificuldades em escolher a minha preferida em Bleed American. Durante muito tempo foi Get it Faster – segundo Hayley no seu podcast, é uma das preferidas da irmã dela, Erica.

 

 

Continuo a achar que é uma das melhores do álbum. É uma música zangada. Na letra, o narrador quer sair de uma situação má. O mais provável será uma relação amorosa, mas também se poderá aplicar a outros cenários, como um emprego ou uma família disfuncional. 

 

A musicalidade reflete bem essas emoções. Partes da música são contidas, a instrumentação é tensa. É como se Get it Faster estivesse a ser cantada e tocada entredentes. A música solta-se no refrão, torna-se mais barulhenta, aliviando a tensão – aqueles “Oh! Oh!” são irresistíveis, convidam-nos a partilhar da raiva e do alívio do narrador. E, como muitos assinalam, aquele momento com as guitarras na terceira parte é muito fixe.

 

No entanto, A Praise Chorus foi subindo nas minhas preferências na reta final de 2022. É uma canção super cativante, super contagiosa – a terceira parte, então, é uma delícia. O refrão deixa-nos com vontade de conquistar o mundo, sobretudo o último.

 

Na preparação deste texto fui ver a letra e pesquisar as origens da música. A Praise Chorus é uma homenagem aos artistas e bandas que inspiraram os Jimmy Eat World, bem como uma celebração de concertos e música em geral. Convida o ouvinte a juntar-se à festa e a não ficar nas margens.

 

O que é definitivamente uma filosofia a que subscrevo. Tendo isso em conta, não surpreende que Hayley a tenha escolhido para abrir Everything is Emo. Por tudo isto, A Praise Chorus é a minha preferida em Bleed American – pelo menos para já.

 

Claro que os Jimmy Eat World têm outros álbuns para além deste. Ainda não os ouvi, tirando uma ou outra música do álbum Futures que Hayley incluiu no podcast. Hei de ouvi-los no futuro, começando talvez por Clarity – dizem que é o melhor deles.

 

 

Depois, tenho uma série de músicas individuais apresentadas no podcast de que gostei. The Taste of Ink e Jackie Down the Line estão entre as minhas preferidas, mas têm a seu favor terem tocado nos primeiros episódios do programa – estão comigo há mais tempo. The Adults Are Talking é muito gira, mas tem-me feito confusão – As it Was do Harry Styles é demasiado parecida com ela.

 

Também gostei de Trust dos The Cure. Adoro a longa introdução instrumental, adoro a atmosfera que pinta.

 

Uma das minhas preferidas em Everything is Emo – e uma das minhas preferias em 2022, ponto – é Sidelines, de Phoebe Bridgers, uma canção de amor. Hayley deu a entender que esta a fez chorar – e se olharmos para a letra dá para perceber porquê.

 

Essencialmente, a narradora de Sidelines não tinha medo de nada porque não tinha nada a perder – nunca se colocava numa situação onde podia ser magoada. Isso mudou quando se apaixonou. Agora tinha um motivo para sair da sua zona de conforto, agora tinha alguém que podia perder – e que a podia perder.

 

Faz lembrar um dos temas recorrentes neste blogue, sobretudo a propósito dos trabalhos a solo de Hayley: impermeabilidade versus força, erguer barreiras versus ser-se vulnerável. No caso de Sidelines é paradoxal: dizer que não se tem medo de nada é batota se uma pessoa se mantém à margem da vida, se evita ativamente situações em que poderá sentir medo. 

 

Lá está, é algo humano, algo universal. Algo com que Hayley se debateu no passado, conforme admitiu em Petals For Armor, com que a própria Phoebe Bridgers se terá debatido. Aliás, Sidelines pode ser um dedo apontado a mim, que sou demasiado boa a estar sozinha. Além de que me faz pensar em inúmeras personagens fictícias. Ruki e Emma, como comentei noutras ocasiões, e a protagonista das histórias que escrevia em miúda – que se mantinha afastada de tudo porque receava afeiçoar-se a pessoas e depois perdê-las. 

 

 

A última canção de Everything is Emo sobre a qual quero falar é Faces in Disguise, dos Sunny Day Real Estate – a última música tocada no podcast. Hayley incluiu-a nas suas cinco canções emo preferidas. Depois desta, também é uma das minhas.

 

Aquilo que me cativou primeiro foi a instrumentação. Adoro um tom atmosférico bem feito. A música mantém-se serena até à terceira parte, onde ganha intensidade. 

 

A letra fala sobre paixão latente. Duas pessoas que se desejam uma à outra mas que não o exprimem. Acho piada porque o cenário adequa-se ao estereótipo do emo: rostos inexpressivos com múltiplas emoções borbulhando por dentro. 

 

Everything is Emo abre e fecha com chave de ouro. 

 

Na verdade, na preparação deste texto, tenho olhado para as listas das músicas deste podcast – lendo-as com a voz de Hayley – tenho voltado a ouvir partes de episódios. Ainda continuo a descobrir músicas de que gosto e a reparar em coisas que não tinha reparado antes – por exemplo, notando semelhanças entre as músicas de Bloc Party do podcast e as músicas de This is Why lançadas oficialmente até agora.

 

Hei de continuar a ouvir estas músicas. E espero que Hayley volte a fazer um programa deste género um dia destes – ela não fechou essa porta.

 

 

Queria agora falar de outras músicas, mais ou menos dentro do género emo, mas que descobri fora do podcast de Hayley. Inside of Love, dos Nada Surf, é uma música que já está nas minhas playlists há uns anos e identifico-me um pouco com a letra. Ashes of Eden dos Breaking Benjamin é uma agradável balada rock, ainda que dispensasse a religiosidade da letra.

 

Uma palavra para Song for Zula, de Phosphorescent. Há uns meses, uma colega minha estava a ouvir esta canção no trabalho, eu gostei e fiz Shazam. Não sei se isto é oficialmente emo, mas encaixa-se na minha definição – uma letra super triste. O acompanhamento é lindo – outra música com um instrumental etéreo bem sacado.

 

Por seu lado, o cover de Running Up that Hill dos Placebo é uma que conheço há ainda mais tempo – desde uma inesquecível cena da segunda temporada de Bones. Tinha-a negligenciado nos últimos anos, mas voltou à minha rotação em 2022. Como se devem recordar, o original de Kate Bush explodiu no ano passado graças a Stranger Things. Nada contra essa versão, bem pelo contrário, mas prefiro a versão dos Placebo. E adoro a apresentação deles no Vilar de Mouros do ano passado – ficou ainda melhor que a versão de estúdio. 

 

Finalmente, já que falo em covers, tenho de referir um que está entre as minhas músicas preferidas de 2022. O autor é Anthony Vincent, um YouTuber que acompanho de longe há vários anos, desde que ele gravou uma versão de In the End dos Linkin Park em vinte estilos diferentes. Com o próprio Chester Bennington a apadrinhar. 

 

Ora, este ano, Anthony fez ao contrário e gravou duas canções de Eminem no estilo de Linkin Park. De Rap God não gostei muito, ficou demasiado parecida com Papercut.

 

 

A versão de Lose Yourself, no entanto, ficou perfeita. Este cover é clássico Linkin Park, sem que se pareça demasiado com uma canção específica. Como se fosse, de facto, apenas mais uma canção dos Linkin Park, uma faixa do baú de Hybrid Theory ou de Meteora. Não vou mentir, numa altura em que é pouco provável virmos a ter um novo álbum da banda, esta versão mexe com as minhas emoções. 

 

Até porque aquele último screamo é parecidíssimo com o de Chester.

 

Outro evento relacionado com emo/pop punk que influenciou o meu ano musical foi, então, o concerto dos Simple Plan e dos Sum 41, com Casyette a abrir – uma espécie de When We Were Young em ponto pequeno. 

 

Antes de falarmos sobre as bandas principais, uma palavra para o número de abertura. Cassyette é uma cantora inglesa, na altura desconhecida para mim e, suspeito, uma grande parte da audiência na Sala Tejo do Pavilhão Atlântico. No entanto, a jovem conquistou a nossa admiração – os gritos impressionados do público depois de cada screamo.

 

Pois é, já referi que Cassyette faz screamo? Não conheço muitas muitas cantoras que o façam. Aliás, acho que ela soa melhor ao vivo – os screamos perdem-se um bocadinho na produção das gravações de estúdio. 

 

O único defeito que não chega a sê-lo que tenho a apontar é que, na minha opinião, a voz de Cassyette parece-se demasiado com a da P!nk. Às vezes distrai um pouco. Tirando isso, esta foi uma boa adição ao meu nicho pessoal. As minhas canções preferidas neste momento são September Rain e Sad Girl Summer. Tenho pena que o concerto se tenha dado depois do final de Everything is Emo – teria tentado sugerir Cassyette.

 

310936402_686214816197617_4793246313229535459_n.jp

 

Regressamos aos Simple Plan e aos Sum 41. Existe algo comum a estas duas bandas, para além de serem canadianas (fiquei chateada por não terem colocado t-shirts da digressão Blame Canada à venda no Pavilhão Atlântico; teria um significado especial para mim, que gosto de vários músicos canadianos). É o facto de ter negligenciado ambas nos últimos anos, ainda que em graus diferentes e por motivos diferentes. 

 

Começando pelos Simple Plan. Não sei se cheguei a referi-lo aqui, mas praticamente deixei de ouvi-los depois de Taking One for the Team, em 2016. Mantive uma meia-dúzia de músicas na minha rotação – Perfect World, Holding On, Boom! e pouco mais. Depois de comprar bilhete para o concerto, dei uma oportunidade a Harder than it Looks. Mas a verdade é que esse álbum apenas me recordou dos motivos pelos quais deixei de ouvir a banda.

 

Nem sei bem como explicar. São as letras demasiado simplistas, demasiado literais, sem subtileza nenhuma. Várias delas são quase uma paródia ao emo, podiam ter sido escritas por um puto de doze anos – veja-se por exemplo I’m Just a Kid. Poderá ser precisamente por isso que os Simple Plan cativaram muitos de nós quando éramos mais novos – essencialmente musicando páginas do nosso diário – mas era de esperar que, pelo menos no meu caso, se tenha tornado menos apelativo à medida que fui envelhecendo.

 

Até porque os Simple Plan evoluíram pouco. Harder than it Looks partilha defeitos com Love Sux: letras sem profundidade, dependentes de clichés, demasiado imaturas para a idade dos músicos – estes tipos estão na casa dos quarenta, já têm filhos! Porque eles ainda cantam sobre haters? Até com a Taylor Swift, dez anos mais nova, já começo a achar excessivo.

 

Dito isto… eles foram simpáticos e deram um bom espetáculo. Eu fiz mal o trabalho de casa, devia ter-me focado nos velhos êxitos em vez de em Harder than it Looks – eles só tocaram Iconic desse álbum. Já não me lembrava de algumas letras das músicas mais antigas – inclusivamente, tinha-me esquecido que Summer Paradise existia.

 

 

Ao menos serviu para recuperar apreciação por algumas destas músicas. Welcome to My Life continua muito fixe. Perfect continua a bater mais forte do que merece (mommy issues, caro leitor). E “You say ‘Good morning’ when it’s midnight” continua a ser um dos meus versos preferidos em música.

 

Fui filmando um ou outro vídeo durante o concerto, eles estão todos na página de Facebook daqui do blogue. A certa altura esqueci-me de desligar a câmara antes de guardar o telemóvel na minha mala e acabei por gravar o áudio de cerca de quarenta minutos do concerto. A qualidade não ficou muito má, se quiserem podem ouvir aqui. Se os Simple Plan quiserem voltar a Portugal um dia destes, sou mulher para voltar a vê-los.

 

Com os Sum 41 é diferente. Ouvi-os menos nos últimos anos não por gostar menos deles, antes porque, como expliquei antes, cansei-me um pouco de música mais pesada. Soube quando eles lançaram Order in Decline em 2019, mas não me apeteceu ouvi-lo. Fi-lo no verão passado, em preparação para o concerto.

 

Ainda só conheço o álbum de forma superficial mas, no geral, gostei. Os Sum 41 têm um lado mais pop punk dos anos 2000 e um lado mais pesado, quase heavy metal. Order in Decline explora o segundo – com um par de baladas para desopilar.

 

Segundo Deryck, a intenção não era criar um álbum político. Ele terá escrito as letras com base nas suas experiências pessoais. Como nos últimos anos não tem dado para nos mantermos imparciais em relação ao que se passa no mundo, o político acaba por verter para a escrita – suspeito que isto também terá sido o caso com This is Why. Temos, assim, várias referências a Donald Trump, ainda presidente em 2019 – 45 (A Matter of Time) é um exemplo óbvio, mas outras músicas, como A New Sensation ou Heads Will Roll também poderão aludir a ele.

 

 

Fico com uma certa pena de não ter ouvido o álbum em 2019 para, depois, tocar estas músicas quando Trump perdeu as eleições. Por outro lado, infelizmente, não faltam por aí tiranos a quem estas músicas se podem aplicar.

 

Vou acrescentar algumas músicas de Order in Decline à playlist anual, mas ainda preciso de passar mais tempo com este álbum antes de formar uma opinião (mais) definitiva.

 

De qualquer forma, eles não tocaram nenhuma destas músicas no concerto. Este serviu sobretudo para celebrar os vinte anos de All Killer No Filler e de Does This Look Infected.

 

Gostei mais deste concerto do que do de 2017, embora não saiba explicar bem porquê. Talvez eles estivessem mais calorosos desta vez, talvez eu estivesse mais sedenta de concertos depois da pandemia – e depois de perder Chester. Não sei, só sei que gostei. Estava à frente, encostada à esquerda – não necessariamente aquilo a que os anglo-saxónicos chamam “nosebleed section”, mas suficientemente perto para sentir o calor dos lança-chamas em palco.

 

Não sei se tenho um lado emo, mas definitivamente tenho um lado pop punk, alternativo, quase metaleiro. Em ocasiões como esta, ela canta em altos berros, dança, dá headbangs – e fica dois ou três dias sem conseguir baixar a cabeça. Pode parecer estranho pois, à primeira vista, sou uma pessoa calma, introvertida, uma menina certinha, betinha, que bebe pouco e à meia-noite já está pronta para ir para casa.

 

Em minha defesa, Hayley é pior do que eu – a essa hora já ela foi para a cama há muito. Está visto que eu e ela temos muito em comum.

 

 

Por outro lado, para além da parte metaleira, também tenho um coração romântico. Assim, fiquei contente quando, depois do concerto em si, quando metade do pessoal já tinha saído, Deryck subiu de novo ao palco e cantou Best of Me em acústico. Best of Me não é single, nem sequer sei se é muito popular, mas sempre gostei dela. E depois da intensidade do concerto, soube bem aquele momento mais calmo, de maior proximidade entre Deryck e nós, o público mais resistente.

 

Há quase um ano, os Sum 41 anunciaram que o seu próprio álbum chamar-se-á Heaven and Hell. Neste exploração ambos os lados – o pop punk em Heaven, o metal em Hell. 

 

Heaven refletirá a nostalgia do pop punk dos anos 2000 e também a felicidade pessoal de Deryck. Ele que tem um filho pequeno (um miúdo muito giro) e está à espera de outro.

 

Um aparte só para dizer que, como alguém que o acompanha há muitos anos, sabe bem ver Deryck feliz depois de tudo a que sobreviveu. Que se mantenha assim. 

 

Hell por sua vez, refletirá tudo o que se tem passado fora dessa bolha familiar. Nesse aspeto, deverá ser parecido com Order in Decline.

 

Parece fixe mas, infelizmente, ainda não há previsão para o lançamento. Problemas na produção? Espero que não seja o caso. Talvez eles queiram terminar a digressão primeiro, ou esperar que o segundo filho de Deryck nasça. Talvez o álbum só venha lá para o fim deste ano.

 

Pessoalmente não me importo. Terei que chegue com que me entreter.

 

a32274d42336b438fd7a5ae9f7775501.webp

 

O que me leva de volta, finalmente, aos Paramore e a This is Why. Atrasei-me tanto mas tanto com este texto que 2023 já começou há muito, eles já lançaram C’est Comme Ça e, à hora desta publicação, estamos a horas do lançamento do álbum completo. 

 

Tendo isso em conta, não me vou alongar muito sobre The News, que ainda conta para 2022. Haverá oportunidade para isso quando escrever sobre This is Why, o álbum. Dizer apenas que gostei, que soube bem ouvir dois meses depois dos primeiros excertos.

 

No fim disto tudo, que acham? Sou emo ou não? Fica ao vosso critério. Pessoalmente não me ralo.

 

Por hoje é tudo. Só falta mais um texto para, finalmente, concluir o balanço musical de 2022. A ver se consigo fazê-lo antes do final de 2023.

 

Obrigada pela vossa visita. Até à próxima.

Músicas Não Tão Ao Calhas – This is Why

01.png

 

Hoje completa-se mais um ciclo aqui no blogue. Inaugurei a rubrica Música Não Tão Ao Calhas – onde analiso singles (ou leaks) recentes dos meus músicos preferidos – há quase dez anos com Now, o primeiro avanço do quarto álbum dos Paramore, homónimo. Agora, analiso o primeiro avanço de This is Why, o sexto álbum deles. Isto depois de já ter feito o mesmo com Hard Times, o primeiro avanço de After Laughter e com Simmer, o primeiro avanço de Petals For Armor, o primeiro álbum a solo da vocalista Hayley Williams (se vocês acharem que conta). 

 

Hei de brindar a isso com a minha próxima chávena de café. 

 

This Is Why, primeiro single do álbum com o mesmo nome, é a primeira música dos Paramore em quase cinco anos e meio – precisamente desde a edição de After Laughter. Foi muito tempo mas, pela parte que me toca, não me custou muito, tirando estes últimos meses. Sobretudo porque os álbuns a solo de Hayley, Petals For Armor e Flowers For Vases, serviram de metadona. Mesmo este ano, quando já estava ansiosa por algo mais, Hayley foi-nos entretendo com o programa de rádio Everything is Emo – que me fez adicionar imensa música às minhas playlists. 

 

Hei de escrever sobre isso nos meus textos de fim de ano. 

 

Os Paramore estavam a precisar de uma pausa. Hayley já tinha referido, a propósito de Petals For Armor, que o ciclo de After Laughter não tinha sido fácil. Taylor abriu-se um pouco mais do que o costume para o The Guardian: falando sobre a perda de um amigo de família durante as filmagens do vídeo de Rose Colored Boy, revelando que deixou de beber, que, a certa altura, sofreu com ansiedade e agorafobia. Zac não se arrepende de ter deixado os Paramore – sente que os anos afastado da banda o rejuvenesceram. Suponho que estes últimos quatro anos tenham tido um efeito semelhante. 

 

Nada disto surpreende. Lorde falava mais ou menos do mesmo no ano passado, quando regressou com Solar Power também após uns anos de pausa. Se há coisa que aprendemos com a pandemia é que há coisas que não valem a pena. Saúde física e mental vêm antes do trabalho. 

 

02.png

 

Esses anos de pausa e a oportunidade de trabalharem em projetos laterais podem ter ajudado os três a desenvolverem uma relação mais saudável com a banda. Talvez seja por isso que This Is Why é o primeiro álbum dos Paramore em que o alinhamento da banda é o mesmo que o do álbum anterior. 

 

Há uns anos atrás, diria que tinha esperanças num regresso de Josh e Jeremy a médio/longo prazo. Hoje já não faço questão. Só faz falta quem lá está. E como consta que Josh é homofóbico e, no geral, não grande coisa como pessoa… 

 

After Laughter e os próprios Paramore enquanto banda ganharam um culto de seguidores fiéis nos últimos anos. Em parte porque os três – Hayley em particular, a mais mediática – são figuras simpáticas, terra-a-terra, "não problemáticas" (embora já tenham cometido os seus deslizes). Têm fãs de várias idades, raças e expressões de sexualidade e género e uma boa relação com eles. 

 

Por outro lado, After Laughter – um álbum que explora "tempos difíceis" e questões de saúde mental – envelheceu muito bem, num mundo que se tem degradado cada vez mais desde 2017 (que já foi suficientemente mau). 

 

Já calculava há algum tempo que os Paramore iriam entrar em territórios políticos/sociais no seu sexto álbum, por vários motivos. Em primeiro lugar, não faria sentido focarem-se em questões pessoais. Como referido acima, a banda está finalmente estável. Hayley, ainda por cima, teve dois álbuns a solo para exorcizar os demónios pessoais que já tinham dado sinais de vida em After Laughter. 

 

E agora Hayley está numa relação feliz com… o Taylor! Sim, aquilo que se suspeitava desde Petals For Armor – e houve quem suspeitasse há mais tempo ainda – foi confirmado no artigo do The Guardian. Apenas uma frase entre parêntesis no texto, consta que nem Hayley nem Taylor quiseram dizer mais nada. 

 

03.png

 

Durante muito tempo tive medo da reação dos fãs, depois do que aconteceu entre Hayley e Josh. Mesmo a minha primeira reação aos rumores, há mais de dois anos, não foi muito favorável. Mas, tanto quanto tenho visto, está toda a gente contente – eu incluída, que já tive tempo para me habituar à ideia (sobretudo depois de Flowers For Vases). 

 

Agora espero que as pessoas não os destabilizem, que lhes dêem privacidade. O facto de, aparentemente, já terem namorado em segredo durante pelo menos três anos deve ajudar. E, claro, espero que sejam muito felizes. 

 

Mas fechando este parêntesis, duvido que Hayley tenha algo a acrescentar a Petals For Armor e Flowers For Vases, no que toca à sua vida amorosa. Talvez This is Why tenha uma canção de amor só pela graça, mas não mais do que isso. 

 

Por outro lado, falando por mim, os Paramore sempre foram muito bons a captar e/ou prever o estado de espírito de pessoas da minha geração. O que não surpreende, os três têm a minha idade, mais ano menos ano. Isso às vezes implica entrarem em territórios políticos/sociais. Hello Cold World é um bom exemplo, mas também há quem detecte mensagens políticas em After Laughter, como explicado neste artigo. Pelo menos nesse álbum, Hayley disse que não era essa a intenção, mas o próprio artigo refere que, nestes últimos tempos, é difícil saber onde acaba o pessoal e começa o político/social. 

 

E se já era assim em 2017, em 2022 ainda mais o é, entre pandemia, tensões raciais, guerras culturais, guerra propriamente dita, inflação, alterações climáticas. 

 

A juntar a isso, os Paramore têm estado muito interventivos nos últimos anos. Em parte porque, por estes dias, não dá para nos mantermos neutros – direitos humanos não são para debate. Mas também porque, como referido acima, a banda tem fãs muito diversos e eles procuram usar a sua posição privilegiada para retribuir. Entre outras coisas, apoiaram o Black Lives Matter e, mais recentemente, agora que o Roe vs. Wade foi revogado nos Estados Unidos, vão doar parte dos lucros dos concertos a organizações que dão acesso a interrupções voluntárias da gravidez a pessoas que não têm possibilidades. 

 

 

Eu adoro-os por isso. 

 

Consta, aliás, que uma grande parte do álbum This is Why terá sido inspirada por conversas que os membros dos Paramore foram tendo nos últimos anos acerca destas questões. Afinal de contas, os três foram nados e criados no sul dos Estados Unidos, que se caracteriza pelo extremismo cristão, pelo ultraconservadorismo, que faz as nossas avós beatas parecerem progressivas e modernas. A gente que elegeu Donald Trump, essencialmente. 

 

Aliás, apesar de os Paramore sempre terem recusado o rótulo de "Christian Rock", a música deles, sobretudo nos primeiros álbuns, está cheia de referências religiosas. Hoje em dia, os fãs culpam o antigo guitarrista e co-compositor Josh Farro por isso. São capazes de ter razão mas, para sermos justos, eles compuseram Part II após a saída dele. 

 

A relação dos três com o cristianismo será um dos aspetos que eles reavaliaram – já o sabíamos desde o ano passado. Pergunto-me se alguma das músicas novas abordará esse tema – seria interessante. 

 

Teremos de esperar para ver – ou melhor, para ouvir. Aliás, ainda temos de esperar quatro meses para ouvir o álbum todo – este só será editado a 10 de fevereiro. Sim, é um bocadinho chato – já lá vão cinco anos e meio, que diabo! No entanto, aqui entre nós, até me dá jeito em termos de gestão dos meus blogues. Ia ser complicado se saísse durante o Mundial. 

 

A data tardia do lançamento é o menos, para ser sincera, porque não gostei muito deste início de ciclo (e acho que não fui a única). O festival When We Were Young foi anunciado para agora, dia 22, 23 e 29 de outubro, no início deste ano. Mais tarde foram saindo outras datas para este outono, sendo que a maioria foi anunciada em julho. Todos sabíamos que era pouco provável os Paramore irem em digressão sem lançarem pelo menos um single. 

 

04.png

 

Pois bem, eles lançaram-me This is Why a 28 de setembro, nas vésperas do primeiro concerto. Pareciam portugueses, deixando tudo para a última hora. 

 

Ainda assim, não me importaria com isso se eles não tivessem começado tão cedo com os indícios. – Quase três semanas antes, na altura em que a Rainha morreu, enchendo-nos de falsas esperanças de um lançamento daí a poucos dias. Quando foi propriamente anunciado, uma semana mais tarde, ainda faltavam quase duas semanas para o dia 28.

 

Mais incompreensível, para além da partidinha que nos pregaram com o "wr0ng" (ah ah, ainda não era desta que os Paramore recebiam o dinheiro das reproduções e do iTunes, hilariante), foi terem partilhado excertos de uma música que, conforme se veio a descobrir, não era This is Why. Com alguma pena minha pois gosto muito do que ouço nesses vídeos. E, sinceramente, não percebo a lógica – terá sido engano? 

 

Provavelmente será o segundo single – aposto que será The News. E talvez saia no dia 3 de novembro, como aparece no site oficial neste momento. Se sair, ou se sair mais algum single antes de sair o álbum (pelo menos mais um, quase de certeza), só devo escrever sobre isso num dos textos de fim de ano. 

 

E depois do já expectável milhar e meio de palavras de introdução, falemos sobre This is Why. 

 

Nem Now nem Hard Times me deixaram de joelhos quando saíram. Foram-se entranhando com o tempo, sim, mas ainda hoje não se encontram entre as minhas preferidas. Com This is Why está a acontecer mais ou menos o mesmo: precisei de ouvir algumas vezes para lhe tomar o gosto e mesmo agora não está entre as minhas preferidas dos Paramore ou mesmo deste ano. 

 

 

Ainda assim, acho que gosto mais de This is Why do que gostei de Now e Hard Times. Não tenho a certeza – já lá vão uns aninhos. 

 

Musicalmente, This is Why tem sido descrita como uma combinação do estilo de After Laughter e, um pouco, de Petals For Armor, com as sonoridades mais antigas dos Paramore. Não é uma música pesada – é dançante, rítmica, baseada mais em riffs e menos em acordes – mas é mais áspera, menos pop, que After Laughter. Nesse sentido, foi bem escolhida como primeiro avanço. 

 

Aliás, ouço imensas semelhanças com Hard Times: o ritmo, o tom falsamente animado, a letra curta, as metáforas com quedas na terceira parte, os acordes que pontuam os versos do refrão (fazem-me lembrar os que soam no final de Hard Times, entre "Makes you wonder why you even try" e "Still don't know how I even survive"). 

 

O refrão é mesmo a minha parte preferida de This is Why. Adoro as múltiplas vozes. 

 

Outro aspecto de que gosto é a longa introdução instrumental – dando tempo a Zac e a Taylor para fazerem a cena deles antes de Hayley entrar. Gosto dos padrões da bateria e das notas de baixo e guitarra. Em suma, um instrumental irrepreensível. 

 

Agora falemos sobre a letra. De uma maneira geral, This is Why fala sobre instintos misantrópicos, isolacionistas. Sobre estar-se farto de pessoas. O ponto de vista de Hayley é semelhante ao meu: no início da pandemia tinha algumas esperanças de que as dificuldades trouxessem ao de cima o melhor da Humanidade.

 

309430565_5660016494020807_2589125217912409436_n.j

 

Nalguns casos terá trazido… mas na maior parte das vezes foi o contrário. 

 

Nem é preciso olharmos para o Mundo em geral. Olhemos só para o microcosmos do futebol, por exemplo, para o último mês, mês e meio. Tivemos crianças apanhadas no fogo cruzado das rivalidades clubísticas cá em Portugal. Em Java, na Indonésia, morreram cento e setenta e quatro pessoas e outras tantas ficaram feridas durante uma invasão de campo. Na Argentina morreu uma pessoa num incidente parecido, que envolveu confrontos entre polícia e adeptos. 

 

Pegando no argumento acima, seria de esperar que, após meses de futebol em estádios vazios ou de lotação limitada, quando os adeptos voltassem à bola fariam por serem civilizados. 

 

Ainda há pouco tempo saiu um estudo demonstrando que a maior parte das pessoas, sobretudo jovens adultos, sofreu desenvolvimento carácter negativo com os eventos dos últimos anos. Este artigo fala em "declínios na extroversão, abertura, amabilidade e consciência". No que toca a este género de ciência pop, é sempre necessário dar um desconto, claro. Mas a verdade é que o estudo condiz com a nossa percepção: estamos todos piores e tornamo-nos uns aos outros piores. 

 

A letra de This is Why reflete essa diminuição da extroversão: "This is why I don't leave the house". Hayley faz logo uma entrada a pés juntos: "If you have an opinion, maybe you should shove it". 

 

Temos aqui um problema semelhante a Hard Times: a letra é um pouco curta demais e, fora do contexto, pode ser mal interpretada. Pode parecer intolerância, recusa em aceitar opiniões diferentes das suas – precisamente um dos comportamentos que a banda diz criticar. É interessante compararmos This is Why com Ain't it Fun: "It's easy to ignore trouble when you're living in a bubble". Uma das mensagens de Ain't it Fun e do Self-titled em geral diz respeito à necessidade de sairmos das nossas zonas de conforto, das nossas casas, de modo a podermos crescer, expandir o nosso mundo. 

 

309407880_5660026077353182_8016496747531319663_n.j

 

Dito isto… eu percebo. Em teoria sim, temos de ter mentes abertas, conversar com o outro lado, ouvir o que eles nos têm para dizer. Na prática, é difícil. É preciso que o outro lado esteja disposto a fazer o mesmo e isso nem sempre acontece. Além de que este tipo de conversas exige tempo e energia que nem todas as pessoas têm. 

 

E sobretudo, pelo menos no que toca às redes sociais, o jogo está viciado. Conforme explicado aqui na vizinhança, os algoritmos tendem a favorecer polarização, opiniões instantâneas e inflamadas, "da boca para fora", que suscitem likes, partilhas, guerras nas caixas de comentários ("Dare to have conviction 'cause we want crimes of passion"). João Ferreira Dias só refere o Facebook mas o mais certo é o mesmo passar-se com o Twitter, o Tik Tok, o YouTube e companhia. Em resposta – e eu mesma sou culpada disso – agarramo-nos aos nossos pontos de vista. Caímos nas chamadas "câmaras de eco", em que só recebemos notícias que confirmem as nossas convicções. Encaramos opiniões contrárias como ameaças, como ataques pessoais ("You're either with us or you can keep it to yourself"). 

 

Quando é assim, o melhor é não jogarmos ou arriscam-nos a fazer parte do problema. Os membros dos Paramore abandonaram o jogo há algum tempo – é raro eles mesmos usarem as redes sociais. 

 

Quanto a mim, faço por jogar segundo as minhas próprias regras. No meu "feed" do Twitter, os tweets aparecem por ordem cronológica e não por destaques – nem imaginam a diferença que faz, recomendo fortemente. Procuro evitar dar "opiniões instantâneas" – não é raro sair uma notícia qualquer que nos suscita uma reação, apenas para serem divulgados pormenores horas mais tarde, que mudam o contexto do caso. Tento usar as redes sociais quase só a propósito dos meus interesses e para contactar com família e amigos. 

 

Não tenho tido sempre um comportamento exemplar nas internetes, admito. Mas, por estes dias, tento ter. Ajuda muito não ser uma figura pública, não ter uma data de pessoas à espera que eu cometa um deslize para me cancelarem, e nunca ter sido alvo de cyber bullying até agora. 

 

05.png

 

Em todo o caso, agora quero ouvir o resto do álbum, para ver como é que este primeiro avanço se encaixa. Sobretudo tendo em conta que foi a última a ser composta e, segundo Hayley, traduzir a mensagem essencial de This is Why enquanto álbum. 

 

Aliás, adoro a maneira como a tracklist foi divulgada: escondida nas t-shirts que vendem nos concertos, estilo caça ao tesouro. Nem a Taylor Swift alguma vez se lembrou desta! 

 

E é tudo o que tenho a dizer sobre This is Why, pelo menos para já. Agora, nos próximos parágrafos, vou virar os holofotes para mim mesma, isto vai assemelhar-se a uma página do meu diário. Se não estiverem interessados, podem clicar noutro sítio, não levo a mal. 

 

O lançamento deste single marcou o fim de um setembro muito intenso para mim, sobretudo nos dias imediatamente antes. Aconteceu muita coisa na minha vida: estive uma semana de férias no Algarve, publiquei um texto novo aqui no blogue, tivemos dois jogos da Seleção, tive um "sunset", um concerto dos Simple Plan e dos Sum 41 (com Cassyette a abrir), vi Digimon Adventure Last Evolution Kizuna dobrado em português… duas vezes. 

 

Já que falo nisso, rever Kizuna um ano e meio depois não doeu, pelo menos não tanto como as primeiras vezes, mas foi outra vez uma catrefada de emoções, tive de passar de novo pelo processo de digestão e ainda não terminei. 

 

Acho que este filme irá sempre mexer comigo, mesmo depois de sair The Beginning. 

 

 

Quanto à dobragem em si? Adorei. O elenco português fez um excelente trabalho. A minha voz preferida é a da Menoa, por Vera LimaDeixo uma amostra acima (sem Menoa, infelizmente).

 

Muitas das coisas que listei acima ocorreram em menos de uma semana. Atrasei-me com o meu texto sobre música portuguesa e passei um par de dias em stress para publicar no meu outro blogue antes dos jogos da Seleção. No sábado dia 24 de manhã, publiquei a crónica pré-jogos. À noite tive o tal sunset enquanto decorria a vitória de Portugal sobre a Chéquia. No domingo de manhã vi Kizuna nos cinemas pela segunda vez. Na segunda-feira tive o concerto. Na terça-feira Portugal perdeu com a Espanha e falhou a final four da Liga das Nações. Finalmente, na quarta-feira saiu This is Why. 

 

Foram muitas emoções diferentes em poucos dias: alegria, tristeza, stress, frustração, comunhão, desilusão, Kizuna. Houveram dias em que bebi café a mais, tive insónias a meio da noite e escrevi em modelos desatualizados de receitas manuais. Ainda não sei se irei partilhar o que escrevi – a minha versão de Midnights? 

 

Já não estava habituada a isto – sobretudo depois de dois anos e meio de pandemia. Terá acontecido mais naquela meia semana do que num ano ou dois. Coisas que não puderam acontecer durante muito tempo porque Covid. Foi bom. 

 

E não acabou aqui, na verdade. Este texto foi quase todo escrito durante uma viagem a Paris e a Zurique. Foi a primeira vez que vim ao estrangeiro desde antes da pandemia, tirando uma visita rápida a Salamanca há um ano. Não foi tão intenso como aqueles dias no final de setembro, mas foi ótimo. 

 

This is Why veio, assim, num momento feliz da minha vida. Aliás, Setembro foi um mês em que me fartei de descobrir ou redescobrir música, de diferentes formas e por diferentes motivos. Assim, compilei a playlist abaixo para captar, pelo menos em parte, a montanha-russa de emoções que foram aqueles dias. Deem uma espreitadela.

 

 

Entretanto vou ganhar vergonha na cara e tentar publicar pelo menos um dos textos que tenho em atraso antes do Mundial. 

 

Como sempre, obrigada pela vossa visita. Continuem desse lado.

Pesquisar

 

Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.

Comentários recentes

  • Inês

    Eu viciei no álbum Happier Then Ever. E o single q...

  • Sofia

    Ventanni é gira! E gostei do videoclipe.

  • Inês

    As baladas que eles têm são absolutamente linda: T...

  • Bibliotecário

    Estou há 3 anos à espera da continuação da saga "O...

  • Sofia

    Claro, a maior parte das pessoas é̶ ̶n̶o̶r̶m̶a̶l, ...

Arquivo

  1. 2023
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  14. 2022
  15. J
  16. F
  17. M
  18. A
  19. M
  20. J
  21. J
  22. A
  23. S
  24. O
  25. N
  26. D
  27. 2021
  28. J
  29. F
  30. M
  31. A
  32. M
  33. J
  34. J
  35. A
  36. S
  37. O
  38. N
  39. D
  40. 2020
  41. J
  42. F
  43. M
  44. A
  45. M
  46. J
  47. J
  48. A
  49. S
  50. O
  51. N
  52. D
  53. 2019
  54. J
  55. F
  56. M
  57. A
  58. M
  59. J
  60. J
  61. A
  62. S
  63. O
  64. N
  65. D
  66. 2018
  67. J
  68. F
  69. M
  70. A
  71. M
  72. J
  73. J
  74. A
  75. S
  76. O
  77. N
  78. D
  79. 2017
  80. J
  81. F
  82. M
  83. A
  84. M
  85. J
  86. J
  87. A
  88. S
  89. O
  90. N
  91. D
  92. 2016
  93. J
  94. F
  95. M
  96. A
  97. M
  98. J
  99. J
  100. A
  101. S
  102. O
  103. N
  104. D
  105. 2015
  106. J
  107. F
  108. M
  109. A
  110. M
  111. J
  112. J
  113. A
  114. S
  115. O
  116. N
  117. D
  118. 2014
  119. J
  120. F
  121. M
  122. A
  123. M
  124. J
  125. J
  126. A
  127. S
  128. O
  129. N
  130. D
  131. 2013
  132. J
  133. F
  134. M
  135. A
  136. M
  137. J
  138. J
  139. A
  140. S
  141. O
  142. N
  143. D
  144. 2012
  145. J
  146. F
  147. M
  148. A
  149. M
  150. J
  151. J
  152. A
  153. S
  154. O
  155. N
  156. D

Segue-me no Twitter

Revista de blogues

Conversion

Em destaque no SAPO Blogs
pub