Digimon 02 #12 - ...e viveram felizes para sempre?
Tenho vindo a perceber que ninguém gosta de epílogos do género "não-sei-quantos anos mais tarde...". Muita coisa acontece nesse intervalo de tempo, por norma, as personagens mudam, mas nós, a audiência, não testemunhamos nada dessa mudança e as decisões tomadas pelas personagens nem sempre fazem sentido para nós. É um dos problemas do epílogo de Harry Potter: ainda no outro dia, J.K.Rowling teve de explicar o facto de Harry ter dado o nome de Snape a um dos filhos.
O mesmo se passa com o epílogo de 02, em que descobrimos os diferentes rumos que as doze Crianças Escolhidas tomaram. Este epílogo é tão controverso precisamente porque, nalguns casos, estes destinos são incompreensíveis.
Comecemos pelos casos menos polémicos: Izzy torna-se um estudioso do Mundo Digital, Joe torna-se médico de Digimons, Cody, como vimos antes, torna-se advogado. Nada a apontar. Conforme já tinha referido, Davis abre o tal restaurante italiano. Ele precisava de se transformar num grande empresário e de figurar na capa da Time? Também não me parece, mas faz sentido tendo e conta o espírito sonhador e lutador que revelou na batalha final de 02.
Outros destinos aceitáveis são ods de Ken como detetive, Kari como educadora de infância e T.K. como escritor. Mimi torna-se cozinheira e crítica culinária - não me é difícil imaginá-la como juíza no MasterChef. Ela consegue ser suficientemente mazinha para isso, quando quer. Tai torna-se diplomata e medeia as relações entre o Mundo Real e o Digital - pode parecer estranho no fim de 02, mas pelo primeiro filme de Tri já se torna mais compreensível.
Agora o resto... (*suspiro*) Não me incomoda que Yolei se tenha casado com Ken. Mas tornar-se dona-de-casa?... Não vou ser daqueles que dizem que não ter carreira é anti-feminista e tal, eu acredito em liberdade para escolher sem ser julgada. Mas, para ser sincera, Yolei é a última rapariga em Digimon que eu imaginaria abdicando de uma carreira profissional. Ela, que, como disse antes, é inteligente, é a única com o mesmo fascínio de Izzy pela informática. Além disso, enérgica e entusiasta como é, não estou a vê-la contente por ficar em casa a tomar conta de criancinhas o tempo todo. Não faz sentido nenhum.
Por fim temos Matt e Sora (*suspiro ainda maior*). Não é dito preto no branco que eles se juntaram... mas o filho de Matt parece-se com Sora e a filha de Sora parece-se com Matt (outra coisa mal feita no epílogo é que cada um dos filhos das antigas Crianças Escolhidas são quase um copy-paste do progenitor que conhecemos). Eu não sou do género shipper, ao contrário de três quartos da Internet (tenho alturas em que chego a ser anti-shippers depois do que fizeram com Arrow) mas... Matt e Sora? Não me faz muito sentido, as personalidades deles são demasiado semelhantes. Se Matt não estivesse tão marcado pelo divórcio dos pais - pelo menos em Adventures - creio que seria muito parecido com Sora. Desde miúda que acho que Tai e Sora fariam muito mais sentido como casal. Dito isto, já que temos Tri, se derem alguns sinais favoráveis a um relacionamento entre Matt e Sora, não digo mais nada... mas espero que não desperdicem demasiado tempo com romance e, por amor a todos os monstrinhos digitais, ponham Tai e Matt às turras um com o outro (e já puseram...) por todos os motivos que quiserem... menos por Sora!
Na verdade, incomodam-me mais as carreiras que ambos seguiram. Matt, que tanto em 02 como em Tri toca em bandas de rock, torma-se... astronauta? A sério? Alguém se lembra de Matt alguma vez ter dado sinais de interesse em astronomia/astrofísica? Quem eu esperaria que trabalhasse nessa área seria Izzy, talvez Cody ou... bem, Yolei!
Por sua vez Sora - a maria-rapaz de Adventures, que jogava futebol numa equipa masculina - torna-se... estilista de quimonos. Yep. Não digo que não seja possível uma menina ter uma fase de maria-rapaz para, mais tarde, se tornar mais feminina. Ouvi falar vagamente de uma certa Avril Lavigne que passou por um processo parecido. É dado a entender que Sora deixou-se convencer pela mãe a desistir do futebol e a seguir uma carreira mais "feminina", perdendo uma oportunidade de ser uma pioneira. O meu eu aos doze anos, que admirava imenso Sora, está um bocadinho desiludido.
Uma das questões que esperamos ver respondidas em Tri é quanto deste epílogo ainda fará parte do cânone após o último filme. Não sei se os guionistas vão respeitar o que ficou determinado no fim de 02 ou se vão alterar coisas. A segunda opção pode ser arriscada, mesmo que os guionistas o façam para agradar aos fãs - as alterações terão de ser muito bem feitas e bem fundamentadas. Manter os destinos definidos no epílogo será a opção mais segura mas, já agora, espero que aproveitem para justificar as opções mais controversas, ainda que discretamente.
Estamos quase a terminar a nossa análise - não vamos chegar às quinze entradas sobre Adventure, mas não ficamos longe... Em princípio a próxima entrada será a última. Continuem por aí...