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Álbum de Testamentos

"Como é possível alguém ter tanta palavra?" – Ivo dos Hybrid Theory PT

15 Conselhos sobre Escrita (para blogues e não só!) #3

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Estes são os últimos cinco dos meus quinze conselhos sobre escrita, que começaram aqui. Seguimos, então, para o décimo-primeiro...

 

11) A Internet está cheia de dicas para escritores...

 

Muitos dos conselhos que tenho deixado aqui foram obtidos da Internet. E nem sequer é preciso procurar muito. Se forem ao Google e pesquisarem “Conselhos de Escrita” ou “Writing Advice”, encontram logo uma série de citações de autores prestigiados sobre escrita (com um bocadinho de sorte, estas publicações hão de aparecer algures entre os resultados). Encontrarão, com relativa facilidade, conselhos generalistas, como aqueles que tenho listado aqui, e outros mais específicos e complexos. Qualquer dúvida que tenham, poderá ser esclarecida.

 

Também encontrarão os tais bancos de ideias e exercícios de escrita, que referi aquando do meu primeiro conselho.

 

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Uma das minhas fontes preferidas de conselhos de escrita é o blogue de Rachel Aaron. Já referi os livros dela algumas vezes, nas minhas respostas a tags sobre livros, mas não foi através deles que a descobri. Foi através de um texto viral que ela escreveu há uns anos, sobre como foi capaz de atingir a marca das dez mil palavras por dia. Desde mais ou menos essa altura, tenho seguido o blogue dela e aprendido imenso sobre escrita, desde planear livros, desenvolver personagens, escrever diálogos, editar livros, entre muitas outras coisas.

 

O reverso da medalha é que tenho vindo a descobrir que fiz quase tudo mal com o meu primeiro livro.

 

Em todo o caso, recomendo fortemente o blogue dela a todos aqueles que escrevam, sobretudo ficção, ou que aspiram a isso.

 

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Outra fonte que já sigo há anos é a conta de Twitter Advice to Writers. Esta conta está constantemente a partilhar citações/conselhos de escritores publicados – foi assim que encontrei as citações de J.K.Rowling, Nora Roberts e Geoff Dyer que referi antes. Partilha, também, entrevistas a escritores, perguntando-lhes sempre como começaram a escrever, as suas influências e, lá está, conselhos para combater o bloqueio de escritor.

 

Deem uma espreitadela, mas tenham em conta o conselho seguinte.

 

 

12)As dicas para escritores são diretrizes, não regras.

 

 

 ...incluindo as minhas. Cada escritor é diferente, cada texto ou livro é diferente. Como tal, certos conselhos de escrita são isso mesmo: conselhos, diretrizes. Não são regras ou ordens. Vocês estão à vontade para não os seguirem.

 

Um exemplo é a minha preferência por escrever à mão primeiro em vez de diretamente no computador. Sei de vários escritores que não conseguem trabalhar assim. Do mesmo modo, existem escritores, como Stephen King, que não planeiam livros, sentam-se pura e simplesmente a escrever, e outros, como J.K.Rowling, que os planeiam minuciosamente (podem ver o plano de Rowling para Harry Potter e a Ordem da Fénix abaixo). Sei também que muitos escritores não seriam capazes de escrever em cafés ou em bancos do jardim enquanto passeiam a cadela, como eu.

 

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Encarem qualquer conselho de escrita, meu incluído, com espírito crítico. Neste texto, estou só a referir métodos que funcionam comigo – não é obrigatório que funcione para toda a gente. Na minha opinião, vale sempre a pena saber como é que outros escritores trabalham e, de vez em quando, experimentar um truque novo. Não têm nada a perder. Se não resultar, não faz mal – tal como disse Thomas Edison, descobriram uma maneira que não funciona.

 

13) Talento (se é que existe) é sobrevalorizado.

 

Este vem em linha com o meu quarto conselho. Pelo menos no que toca à escrita, não acredito em talento – talento no sentido de uma capacidade inata. Nem eu nem ninguém nasce com jeito para a escrita. Quando andava na escola, em vários anos escolares, Português era (tirando Educação Física) a disciplina em que tirava piores notas – e, com uma única exceção, não tive maus professores, bem pelo contrário. Se nasci com alguma coisa, foi com boa imaginação, tendência para sonhar acordada, gosto por histórias e ficção em geral e paixão pelo acto de escrever.

 

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Foi essa paixão que me fez começar a escrever quando tinha sete ou oito anos. Era – ainda é – algo que fazia por prazer, algo que fazia quando devia estar a prestar atenção às aulas ou a fazer os trabalhos de casa. E, sem dar conta, fui colocando o conselho número quatro em prática. Só se aprende a escrever escrevendo – não há volta a dar.

 

Não acreditem, por isso, que só uma mão-cheia de indivíduos, abençoados por Deus Nosso Senhor, génios de nascença, é que podem ser escritores. Podem existir uns quantos com maior facilidade em aprender, maior gosto pela escrita, mas qualquer um pode ser escritor. Desde que esteja disposto a trabalhar nisso, a escrever e a aprender – o que nem sempre é fácil.

 

14) Só serão fracassos se desistirem de escrever.

 

Conforme acabei de referir, ninguém nasce sabendo escrever obras-primas/best-selleres. Ser escritor dá trabalho. E podem... não, vão existir alturas em que ser escritor dá demasiado trabalho, é demasiado difícil. Alturas em que não escrevemos durante dias, semanas, meses ou anos, por um motivo ou por outro. Manuscritos rejeitados por editoras ou blogues que não recebem visitas. É muito fácil deixarmo-nos abater por coisas como estas, sentirmo-nos uns falhados.

 

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No entanto, tal como Rachel Aaron, mais uma vez, me ensinou, na escrita, só falhamos quando desistimos por completo de escrever. Conforme tenho repetido inúmeras vezes ao longo deste texto, uma pessoa aprende a escrever escrevendo. Enquanto continuarmos a escrever, continuaremos a crescer como escritores – não que a escrita se torne mais fácil. Desde que regressem sempre, mesmo após uma longa ausência, não falharão.

 

15) Quando quiserem desistir, lembrem-se porque começaram.

 

Confesso que, de uma maneira geral, a parte de nunca parar de escrever é fácil para mim. Conforme já referi amiudadas vezes aqui no blogue, escrever é-me quase uma necessidade fisiológica. Tenho alturas em que a escrita é a única que me dá um propósito. Dito isto, também é verdade que, às vezes, quando ando em baixo, escrevo menos material publicável.

 

No entanto, já tive um momento em que me apeteceu desistir. Certa noite há uns anos, li uma notícia sobre uma escritora de vinte e um anos de idade, que seria “a próxima J.K.Rowling”. Hoje desconfiaria de rótulos como esse – até porque a previsão claramente não se confirmou – mas, na altura, acreditei. Comecei a comparar-me com a tal autora e afundei-me em autocomiseração.

 

Felizmente não fiquei nesse buraco por muito tempo. Comecei a pensar nas minhas primeiras histórias em miúda – aquelas que escrevia à socapa nas aulas, cujos rascunhos escondia no meio dos livros ou do dossier – nos meus diários, nas tardes gastas passando essas histórias para o computador enquanto ouvia música, a tal fan fiction que me fez apaixonar pela escrita de ficção em geral (não sei se cheguei mesmo a relê-la nessa noite). E a neura passou-me.

 

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Isto é um daqueles conselhos que, de vez em quando, aparece no Facebook mas, como podem ver, funciona: quando vos apetecer desistir, lembrem-se porque começaram. Lembrem-se do que vos motiva a escrever. Talvez tenham coisas a dizer, histórias para contar. Talvez a escrita seja, como a arte em geral, a vossa maneira de decifrarem o mundo e a vida, de desabafarem, de se ligarem a outras pessoas.

 

Se o vosso desejo, por outro lado, é ganhar fama e fortuna à custa da escrita… bem, com livros, esqueçam, existem maneiras mais fáceis de enriquecer. Com blogues, talvez seja possível, mas não sou a melhor pessoa para vos dizer como. A blogosfera está cheia de conselhos sobre isso.

 

Seja ela qual for, a vossa motivação tem de estar sempre presente nas vossas cabeças. Será ela que vos ajudará a suportar as partes mais difíceis da escrita, fazendo com que nunca desistam dela. Não definitivamente, pelo menos. Continuem a escrever e pode ser que, um dia, consigam aquilo que desejam.

 

 

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E são estes os meus conselhos. Ironicamente, muitos dos problemas para os quais dei soluções manifestaram-se enquanto escrevi este texto. No meu primeiro rascunho, saltei muitos parágrafos e tive de escrevê-los mais tarde. Houve uns quantos outros que tive de cortar do rascunho inicial, outros que tive de reescrever. Pelo meio, pratiquei muita, mas mesmo muita rotação de culturas.

 

Só prova que tudo o que referi neste texto é verdade: escrever dá trabalho.

 

Apesar de já escrever há quase vinte anos, estou longe de ser uma escritora exemplar. Ainda estou a tentar corrigir muitos dos meus vícios: frases demasiado compridas, parágrafos demasiado compridos, linguagem demasiado complexa, por vezes, abuso de advérbios e de outras palavras de estimação. Também isto faz parte do processo: como em tudo na vida, estamos sempre a aprender.

 

Espero que estes meus conselhos vos ajudem na vossa escrita, seja ela qual for. Se vocês tiverem alguma dica a acrescentar, partilhem-na nos comentários. Continuem desse lado, se quiserem ver o resultado destes conselhos aplicados à prática.

  

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15 Conselhos sobre Escrita (para blogues e não só!) #2

Hoje, continuamos a dar dicas para contornar o bloqueio de escritor. Podem ler as anteriores aqui.

 

6) Experimentem escrever em sítios diferentes.

 

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Hoje em dia, é muito raro eu escrever em casa. Passo rascunhos para o meu computador, sim, mas geralmente existem demasiadas distrações para escrever mesmo. Como referi antes, os cafés são dos meus sítios preferidos. Julgo que também referi noutra ocasião que outros dos meus locais preferidos são bancos de jardim. Hoje em dia, como tenho uma cadela, ela acompanha-me nessas ocasiões. Os nossos passeios chegam a incluir diversas paragens, primeiro numa esplanada, depois em diversos bancos. Para um cão, ela até fica bastante sossegada enquanto escrevo. É claro que não posso ficar parada durante muito tempo, mas, tendo em conta o que referi no ponto anterior, isso até resulta bem comigo.

 

Como é do conhecimento geral, a escrita é uma atividade solitária.  Isso pode tornar-se um fardo. Por norma, a solidão não me incomoda particularmente, mas não gosto de ficar em casa o dia todo. Assim, ir mudando de local de trabalho pode tornar a escrita muito mais agradável.

 

 

7) Facilitem o começo ou o recomeço.

 

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Na escrita, o mais difícil é começar. Por muito que planeie os meus textos, conforme referi antes, continua a assaltar-me o medo da página em branco, às vezes. No entanto, por norma, basta-me começar a escrever, mesmo que sejam duas ou três frases mal amanhadas, para entrar no ritmo e as palavras começarem a fluir levemente da minha caneta.

 

Porque acham que começo quase todos os textos do meu outro blogue da mesma forma? (“No próximo dia X, a Seleção Portuguesa de Futebol recebe a sua congénere Y, no estádio Z...”) Porque o facto de ter uma estrutura mais ou menos fixa para o primeiro parágrafo me ajuda a começar a escrever esses textos.

 

Quando isso acontece, quando se consegue fazer com que a escrita flua, o ideal seria continuar a escrever, a escrever, sem nunca parar – algo que, naturalmente, não é possível. Ou temos de parar, por um motivo ou por outro, ou o ritmo, pura e simplesmente, arrefece ao fim de algum tempo. E existe sempre o risco de voltarmos a ter um arranque difícil da próxima vez que formos escrever.

 

Para evitar esses arranques difíceis, aquilo que procuro fazer quando páro de escrever é certificar-me de que saberei como começar da próxima vez. Uma maneira de fazer isso é deixar dois ou três tópicos, sintetizando o que vou escrever nos parágrafos seguintes (faço muito isso em ficção). Outro truque é deixar uma frase a meio. Um que tenho usado ultimamente é escrever a primeira frase do parágrafo seguinte – sobretudo quando este vai falar sobre um assunto diferente.

 

Aconselho-vos, então, a experimentarem estes meus truques ou a inventarem os vossos. O que quer que vos ajude a escrever o mais possível.

 

8) Alternem entre projetos e/ou tirem dias de folga

 

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Em agricultura, quando se pratica o cultivo intensivo da mesma espécie vegetal no mesmo terreno, a longo prazo, os nutrientes e minerais essenciais a essa espécie começam a esgotar-se e a produtividade diminui. Uma solução para esse problema é a prática da rotação de culturas: as espécies vegetais cultivadas no mesmo terreno vão mudando de um ano para o outro. Por exemplo, no primeiro ano, um determinado terreno produz uma espécie leguminosa, no segundo, uma espécie não-leguminosa (que, segundo este artigo, exige um aporte mineral diferente). No segundo ano, o terreno teria tempo para repôr os minerais necessários para a espécie leguminosa. Assim, quando o terreno voltar a produzir a espécie leguminosa no terceiro ano, os minerais necessários estarão lá.

 

Na escrita, também é benéfico praticar a rotação de culturas. Se andam há muito tempo a trabalhar no mesmo projeto e, a certa altura, bloqueiam, uma solução pode ser escreverem outra coisa. Um solo tem tempo de se remineralizar enquanto produz uma espécie com necessidades nutritivas diferentes. Da mesma forma, enquanto se focam noutro projeto, o vosso subconsciente tem tempo para se curar do desgaste provocado pelo projeto antigo. Pode mesmo ganhar novas ideias para esse projeto. Assim, quando regressarem a ele, a escrita tornar-se-á mais fácil.

 

Também podem fazer rotação de culturas dentro do mesmo trabalho. Não é obrigatório começarmos em “Era uma vez…” e terminarmos em “...e viveram felizes para sempre”. Se estão bloqueados (e isto é válido tanto para ficção como para não-ficção), nada vos impede de saltarem para o fim ou para uma qualquer outra parte que esteja mais clara na vossa cabeça. Desvendarem o destino primeiro pode, até, ajudar-vos a encontrarem o caminho por entre o bloqueio. Desde que, no fim, se certifiquem que o texto ou livro tem coerência.

 

Por outro lado, se existem partes do vosso texto que vos aborrecem ao ponto de quererem saltar à frente, talvez elas não devam estar lá – mais sobre isso adiante.

 

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Dentro da rotação de culturas, existe a possibilidade de deixar o terreno em pousio – ou seja, sem produzir nada. Podem fazer o mesmo na escrita – isto é, não escreverem de todo, tirarem uns dias de folga. Eu, por norma, não faço isso a menos que seja obrigada. Prefiro estar sempre a trabalhar em qualquer coisa, mesmo que não sirva para nada, só mesmo pela minha sanidade mental. Mas nem todos são maluquinhos como eu. E, de resto, podem à mesma ganhar ideias novas, perspetivas novas, para a vossa escrita – sobretudo se, lá está, estiverem em contacto com as vossas fontes de inspiração, sejam elas livros, filmes, música ou a vida em geral.

 

O senão deste conselho é o risco de cairmos em exageros. Eu sou culpada disso. Conforme já dei a entender, nas últimas semanas tenho praticado demasiada rotação de culturas na minha escrita. Em certas alturas, estive a trabalhar em três ou quatro textos ao mesmo tempo, sem concluir nenhum. Assim, se não têm cuidado, podem arrastar projetos durante demasiado tempo. Continuo a achar que é sempre melhor escrever do que não escrever mas, quando exagerada, a rotação de culturas não passa de falta de disciplina. É preciso atenção. (*olha, com ar culpado, para o primeiro rascunho, ainda por terminar, da sua análise ao último filme de Digimon Adventure Tri*)

 

9) “Consigo corrigir uma página má, não consigo corrigir uma página em branco”

 

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Esta é uma tradução livre da citação de Nora Roberts, acima, que me tem ajudado muito, sobretudo no passado recente. Uma das maiores causas do bloqueio de escritor é o desejo de escrever tudo certinho à primeira. A escrita não funciona assim, infelizmente. Eu, aliás, nos últimos tempos, tenho tido ocasiões de “falta de inspiração”, em que o texto me custa a sair como deve ser. Não sei se isso acontece por me ter tornado mais exigente ou mais ansiosa relativamente à escrita.

 

Qualquer escritor vos dirá que o primeiro rascunho de qualquer texto é uma porcaria – eu não vou a esse extremo, mas sim, é suposto um primeiro rascunho ficar aquém das expectativas. Todos os textos precisam de, pelo menos, uma correção antes de estarem prontos para consumo. É muito mais fácil corrigir um texto já no papel do que corrigi-lo na nossa cabeça – é assim que uma pessoa se bloqueia!

 

Como eu escrevo os primeiros rascunhos sempre à mão, quando os passo a computador (em muitos casos, algum tempo após escrevê-los), aproveito para corrigir o texto conforme achar necessário. Faz parte do processo. Mesmo que o primeiro rascunho esteja uma porcaria – e, acreditem, às vezes está – mesmo que tenha de reescrever algumas partes ou o texto todo, preciso sempre de algo no papel com que possa trabalhar.

 

O meu conselho é, assim, que, mesmo que não estejam satisfeitos com o que vos está a sair da caneta ou do teclado, façam por continuar a escrever, por acabar esse texto, seja ele qual for. Não têm de mostrar esse primeiro rascunho de má qualidade a ninguém. Depois de o terminarem, podem corrigi-lo até ficar ao vosso gosto.  Como diz Rachel Aaron (mais sobre ela adiante) a escrita não é uma arte de palco – não é obrigatório sair bem à primeira.

 

10) Não é suposto ser assim tão difícil

 

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Isto acaba por contrariar um pouco o meu conselho anterior, mas às vezes não dá para continuar a escrever, por muito que insistamos. Muitos não deverão sabê-lo, mas o bloqueio de escritor pode ser sintoma de um problema com o vosso trabalho. No caso da ficção, talvez não saibam o que acontece a seguir na vossa história, talvez esta esteja a ir na direção errada. No caso da não-ficção, talvez não estejam a abordar o assunto da maneira correta. Algo está a correr mal, o vosso subconsciente sabe-o e escrever torna-se difícil, mesmo impossível.

 

Quando é assim, há que parar, tentar descobrir qual é o problema e procurar resolvê-lo. No caso da ficção, podem descobrir, por exemplo, que as vossas personagens estão a agir contra o seu carácter (ou, como se diz em inglês, “out of character”), que essa parte da vossa história é aborrecida (se vocês, os autores, se aborrecem com o vosso próprio livro, os leitores também se vão aborrecer, acreditem!), que o final que planearam para a vossa história não é o mais adequado.

 

No caso dos vossos blogues, ou de não-ficção em geral, podem descobrir, por exemplo, que estão a fugir ao assunto do vosso texto, a divagar, a andar em círculos, que precisam de pesquisar melhor sobre o assunto do texto. Talvez o plano que traçaram para esse texto, como expliquei no meu primeiro conselho, não seja o mais adequado – esta será uma boa altura para voltar a olhar para ele e considerar novos caminhos.

 

Ou então, podem descobrir que o vosso projeto não tem salvação possível.

 

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Aconteceu comigo há pouco tempo. Quem acompanha o meu outro blogue, saberá que, no final de cada ano, costumo fazer um apanhado de tudo o que aconteceu com a Seleção nos doze meses anteriores. No entanto, o texto relativo a 2016 estava a custar-me imenso. Arrastei-o durante semanas, desde princípios de dezembro até bem depois do início de 2017 (quando, nos anos anteriores, conseguia publicar sempre antes do Ano Novo, quando não publicava antes do Natal). O facto de ter menos tempo do que o costume para escrever não ajudava. Tinha vários outros projetos que me entusiasmavam muito mais (este texto, por exemplo), mas decidi que só trabalharia neles quando concluísse a revisão de 2016. Estávamos já em meados de Janeiro, o texto ainda nem ia a meio, eu ia pondo a hipótese de publicar o texto em data já passada.

 

Foi aí que pensei: “Que estou a fazer?”. Aquele texto andava a consumir-me o reduzido tempo de escrita de que dispunha há semanas e para quê? Era pouco provável que alguém o lesse, ainda por cima se fosse publicá-lo em data já passada.

 

O facto de ter pouca audiência nunca me foi fator impeditivo em nenhum dos blogues. Se fosse, já teria desistido há muito tempo – quando, na verdade, já ultrapassei a barreira das duzentas publicações em ambos. Sou demasiado egoísta para não ocupar espaço online escrevendo sobre aquilo que me dá na veneta. No entanto, se a escrita não está a dar-me prazer, não vale a pena – não quando tenho outros textos para escrever que não me custam tanto.

 

Não me foi fácil tomar esta decisão. Acho que nunca tinha desistido desta maneira de um texto para um blogue. Talvez pudesse ter evitado este desfecho se tivesse planeado melhor as coisas. Tirando isso, não me arrependo de ter abandonado este.

 

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Não quero com isto aconselhar-vos a desistir à primeira dificuldade, nada disso. Apenas quero dizer que, se notam alguma resistência a sentarem-se e a escrever, façam uma pausa para pensarem se existe algum problema com o vosso trabalho. Se existir, procurem resolvê-lo. No entanto, se não encontrarem forma de resolvê-lo, ou se não encontram nenhum problema visível com o projeto mas, mesmo assim, não conseguem continuar a escrever, deixem-no de lado e trabalhem noutra coisa.

 

Pode ser que o projeto fique para sempre inacabado e acabem por reciclar alguns elementos dele noutro trabalho. Pode ser que a lógica da rotação de culturas, de que falámos antes, entre em ação e, daí a dois dias, uma semana, um mês ou um ano, descubram uma solução para o vosso bloqueio. Faz parte do processo. Existem coisas que não valem mesmo o esforço.

 

E com este pensamento animador, encerramos por agora. Podem ler os últimos conselhos aqui.

Manuscrito

Depois de uma longa série de entradas sobre música, decidi escrever algo diferente. A inspiração para este texto veio-me da seguinte imagem, que me apareceu no Facebook há algum tempo:
 
 
Estive a pesquisar na Internet sobre o assunto e, pelo que li, escrever ao computador e escrever à mão são, de facto, atividades muito diferentes, em diversos níveis. Sendo a escrita manual uma atividade mais intensa a nível sensorial, estimula uma parte diferente do cérebro, a área de Broca, ligada à linguagem - talvez isso explique a maior facilidade das palavras em surgirem na escrita em papel, testemunhada por mim e por outras pessoas. Outros estudos demonstraram que, por dar mais trabalho e por requerer maior concentração, a escrita manual facilita a aprendizagem, em particular no que toca a símbolos e fórmulas e mantém o cérebro ativo, contrariando os efeitos do envelhecimento. No fundo, as diferenças entre escrever à mão e escrever no computador acabam por serem equivalentes às diferenças entre praticar um determinado desporto e ver alguém a praticá-lo. 
 
Devo dizer que fui sempre uma grande adepta da escrita à mão, em detrimento da escrita a computador. Não que nunca digite, é óbvio que não, se assim fosse não estariam a ler este texto. O que costumo fazer é rascunhar manualmente estes textos e depois passá-los a computador.
 
Foi, de resto, quase sempre a regra no que toca à minha escrita: primeiro em suporte de papel, com lápis ou caneta. Devo ter escrito milhões de páginas desde os meus oito anos. Tirando os meus diários, durante muitos anos escrevi em folhas soltas, pouco recorrendo a cadernos. Isto porque, muitas vezes, escrevia durante as aulas. Ao contrário dos cadernos, as folhas podem, facilmente, ser escondidas debaixo de um dossier ou entre as páginas de um manual ou caderno diário. Os inconvenientes eram o facto de poderem ser perdidas e a ordem das páginas baralhadas.
 
 
 
 
Só em 2010, quando comecer a pensar seriamente em escrever algo publicável, é que adotei, definitivamente os cadernos. Prática que mantenho ainda hoje. Geralmente, são cadernos A5, que podem ser levados para todo o lado na minha mala. Muitas vezes, são oferecidos aos meus pais, em congressos, outras vezes são sobras de material escolar, minhas ou dos meus irmãos, outras vezes sou eu que os compro. Se puder escolher, prefiro argolas e folhas quadriculadas. Por possuírem mais linhas - e a minha letra, ainda por cima, é grande - e por darem jeito para fazer esquemas. Como poderão ver nesta fotografia, e no topo do blogue, gosto de guardá-los e exibi-los. Em parte por vaidade, para poder olhar para eles e pensar: "A minha "obra" está toda ali". Também gosto de folhear os cadernos, ver os rascunhos de certos capítulos ao lado de notas ou rascunhos de entradas para os meus dois blogues, para me recordar das circunstâncias em que escrevi aquelas passagens (jogos da Seleção, episódios de séries que acompanhava, músicas recém-lançadas...). Mas sobretudo por conterem imensas notas para as sequelas de "O Sobrevivente".
 
Posso acrescentar às que disse acima mais umas quantas vantagens da escrita manual: é mais prática, pois não tenho de carregar com um computador portátil, com o risco de esgotar a bateria e não ter acesso a eletricidade. É claro que, para a escrita manual, estou dependente de papel e caneta, mas estas últimas são bem mais fáceis de transportar - um aparte só para referir que sou a maior consumidora do mundo de canetas bic - e, mesmo que me esqueça do caderno, existem sempre guardanapos em cafés e restaurantes. 
 
Outra vantagem de estar longe do computador é estar longe da Internet. Eu, aliás, nos últimos tempos, tenho escrito relativamente pouco em casa. Se tenho um computador por perto, fico irremediavelmente presa ao Twitter, ao Facebook, ao YouTube e afins. Sou muito mais produtiva à mesa de um café, por exemplo. E agora, com o regresso do bom tempo, tenho escrito bastante em jardins públicos e esplanadas, enquanto faço a fotossíntese. 
 

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A maior vantagem já foi, contudo, mencionada aqui: as palavras saem-me com mais facilidade quando escrevo à mão.
 
Vou dar um exemplo relacionado com o meu primeiro blogue, sobre a Seleção Nacional. No primeiro ano, ano e meio, de entradas (não conto com o ano que estive sem publicar nada), escrevia diretamente no editor do blogger. Só em meados, finais de 2010, é que me habituei aos rascunhos manuscritos. Ora, aquando do particular com a Argentina, em fevereiro de 2011, andava cheia de exames, só tive tempo de trabalhar na entrada de antecipação do jogo na tarde do dia do próprio encontro. Como achava que não teria tempo para o rascunho manuscrito, resolvi escrever o texto diretamente no computador. Levou-me a tarde toda. Só consegui terminar menos de uma hora antes do início do jogo.
 
Daí que, agora, escreva sempre à mão antes. Dá bastante mais trabalho e consome-me bastante tempo - durante o Euro 2012, às vezes, só conseguia publicar as entradas vários dias depois dos respetivos jogos. A do jogo com a Espanha, então, levou-me uma semana - mas, quando comparo entrada, as que foram manuscritas primeiro estão melhores. Mesmo pequenos textos, para as páginas no Facebook, por vezes custam-me a sair quando escritas diretamente no computador. Por fim, o ato de passar os rascunhos a limpo já constitui uma primeira correção.
 
 
Por outro lado, passar os rascunhos das minhas histórias a computador sempre foi uma das minhas partes preferidas, nem eu sei bem porquê. Ao longo de uns bons doze anos, tenho tido muitas tardes felizes, ou mesmo noites, de férias em particular, digitando rascunhos das minhas pequenas "obras" de ficção, ao som da minha música. As memórias mais antigas que tenho disso remontam aos meus onze anos de idade. Na altura, penso que eram histórias inspiradas n'"Os Cinco" e/ou n'"Uma Aventura" e a música era a banda sonora do Pokémon. Hoje, as histórias são as sequelas d"O Sobrevivente" e as músicas são playlists por mim compiladas de modo a adequarem-se ao espírito da cena em que estou a trabalhar. 
 
Sei perfeitamente que sou uma raridade, que a tendência é a digitalização de tudo. Não sei por mais quanto tempo fabricarão papel e caneta. Duvido que seja tão cedo, contudo, nem que seja porque a eletricidade pode, sempre, falhar. De qualquer forma, enquanto me for possível, não deixarei de recorrer ao suporte em papel e, quando a altura chegar, farei questão de que os meus filhos aprendam a escrever manualmente. Nem que os tenha de ensinar eu mesma.
 
Entretanto, terminei na semana passada o rascunho do meu terceiro livro. Quase dois anos depois de o ter começado... Estou, portanto, a entrar numa parte de que gosto muito. O que também significa que terei de fazer uma pausa aqui no blogue. Não convém estar a aumentar a resma de papel que tenho de passar a computador com entradas para o Álbum. Com a agravante de ter imenso trabalho para a Faculdade este semestre.
 
Esta pausa não se deve prolongar muito, no entanto, já que se aproxima o término da temporada de séries e quero falar, pelo menos, de Era Uma Vez.
 
Em todo o caso, não deixem de visitar aqui o Álbum de vez em quando, caso continuem interessados nestes meus monólogos, primeiro manuscritos e depois digitalizados.

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