Interrompemos a análise a Digimon Frontier para assinalar o décimo aniversário aqui do estaminé. Não que vá fazer nada de muito especial, esta é apenas uma reflexão sobre a vida deste blogue.
Na altura, criei o Álbum de Testamentos para servir de caixote do lixo no bom sentido: para escrever sobre assuntos diversos que não se encaixavam noutros sítios. Com o tempo tornou-se a minha principal plataforma de escrita. E visto que, ao contrário do meu outro blogue, que tem um conceito mais específico e que só requer que eu o atualize algumas vezes de tantos e tantos meses, aqui no Álbum escrevo com muito mais frequência. Assim, sinto-me um pouco mais orgulhosa por ter conseguido fazer isto ao longo de dez anos.
Não é a primeira vez que o digo, mas este blogue tem funcionado como um diário de bordo dos meus interesses e entusiasmos. Como raramente falo aqui sobre a minha vida privada, pode parecer que o blogue não é muito pessoal. Acreditem: é mais pessoal do que vocês pensam. Regra geral, se escrevo sobre algo aqui, o assunto do texto esteve na minha mente durante muito tempo, vivi com ele todos os dias, às vezes durante semanas, às vezes durante meses. É por isso que faço retrospetivas musicais anuais – é uma forma indireta de refletir sobre o ano que passou.
Por outro lado, há ocasiões em que essas coisas se tornam marcantes porque estou a escrever sobre elas – textos que estavam à espera de ser escritos há muito tempo, como por exemplo a análise a All We Know is Falling no ano passado. Noutras ocasiões, acontecem coisas marcantes, logo, tenho de escrever sobre elas – por exemplo, quando um dos artistas de que gosto lança música nova ou quando resolvi regressar a Digimon em 2015. Às vezes é um misto de ambas. Às vezes funciona como escapismo. Às vezes ajuda-me a lidar com coisas dolorosas – por exemplo, quando o Chester morreu.
Outra faceta de isto ser um diário de bordo diz respeito ao que muda: interesses vão e vêm, alguns mantêm-se, opiniões evoluem, a qualidade vai melhorando. Hoje em dia evito reler e encaminhar para publicações mais antigas – já não estão a um nível que considero aceitável e/ou já não refletem as minhas opiniões atuais. É aquela: hoje escreveria esses textos de maneira muito diferente – e alguns se calhar não escreveria de tudo – mas se não os tivesse escrito não teria aprendido com eles. Não me teria tornado mais exigente comigo mesma.
Assim, mesmo que não os promova tanto como textos mais recentes, essas publicações continuam online. Pode ser que as pessoas ainda gostem.
Uma coisa de que tenho pena, no entanto, é de não conseguir atualizar o blogue tantas vezes como nos primeiros anos. Tenho menos tempo livre agora, como é óbvio – quando criei o blogue, ainda estava a estudar, agora tenho um emprego a tempo inteiro. Por outro lado, tenho de ser sincera: arranjar um smartphone fez diferença, sobretudo quando arranjei um plano generoso de dados móveis. Quando tenho tempos mortos, é mais conveniente pegar no telemóvel do que sacar do caderno e da caneta.
Acho que não é a primeira que refiro que hoje não gosto muito do nome do blogue. É um bocadinho palavroso, soa esquisito. Mas, para ser sincera, não sei que nome lhe daria. Talvez alguma coisa relacionada com cadernos – mas se calhar seria pouco original.
Esse é mesmo o único verdadeiro arrependimento que tenho em relação a este blogue. De resto, não tenho praticamente mais nenhum. Estou muito contente com o que tenho feito com o blogue até agora.
A ideia é ir continuando a fazê-lo enquanto puder. Não tenho ilusões: sei perfeitamente que, daqui a uns anos, terei quase de certeza menos tempo para o blogue (e para escrever em geral). Quero aproveitar enquanto posso.
Dito isto, não é a primeira vez que digo que ando a trabalhar, intermitentemente, noutro projeto de escrita. Ainda não quero dizer do que se trata – provavelmente só o farei quando estiver pronta a partilhá-lo. Assim, é possível que as publicações aqui no blogue continuem a ser mais espaçadas do que o ideal.
Já é habitual eu, de vez em quando, falar dos meus planos para o blogue – para depois não cumprir metade deles ou ainda mais. É pura auto-indulgência – e, se não se importam, vou continuar a fazê-lo.
Para já quero terminar a análise a Fronteira – quando este texto for para o ar, só me devem faltar uma ou duas partes. Depois, como este foi um projeto longo, talvez faça uma pausa aqui no blogue e as minhas próximas publicações serão mais pequenas e mais simples.
Tanto Bryan Adams como Avril Lavigne lançaram música este ano – um álbum de inéditas cada um mas não só. Vou escrever sobre isso, mas de maneira diferente: em vez de analisar os álbuns a fundo, como o habitual, vou escrever textos mais parecidos com aqueles que escrevo no fim de cada ano.
Também vou querer fazer um top 10 de música portuguesa – ainda não decidi se o escrevo antes ou depois dos textos de Bryan e Avril. Por outro lado, os Paramore têm um álbum no forno, algo que vou cobrir aqui no blogue. Já não deve faltar muito para pelo menos o primeiro single: na sexta-feira passada, eles anunciaram concertos para o outono, num poster com uma estética curiosa. Nas próximas semanas deveremos saber mais alguma coisa. Só espero que o álbum saia antes do Mundial, para não interferir com o meu outro blogue.
Já que falo no Mundial, este vai decorrer excecionalmente em novembro e dezembro. Isso poderá atrasar os meus textos de fim de ano – que mesmo em circunstâncias normais já são difíceis de encaixar no meu horário por causa das festas. Os textos sobre a música de Bryan e de Avril são em parte para não ter de escrever sobre eles no fim do ano. Eu naturalmente espero estar muito tempo ocupada com o meu outro blogue, até depois do dia 18 de dezembro. Quanto mais tiver de atrasar o Álbum por causa do Mundial, mais feliz ficarei.
O próximo grande projeto deste blogue será um texto sobre Pokémon Go – algo que ando a prometer há anos, eu sei. Só devo consegui-lo no próximo ano, mas não quero adiá-lo muito mais.
Termino esta pequena celebração agradecendo todas as visitas que o meu blogue recebeu na última década. A mais dez anos de Testamentos!
O assunto de hoje é diferente do costume. Quero falar sobre três aplicações/sites que comecei a usar no último ano, ano e meio e mudaram a minha vida – ou, vá lá, parte dela. A parte que incluí a minha escrita, os meus blogues, a minha música. Não, não estou a ser paga por nenhuma destas aplicações, gosto genuinamente delas e recomendo-as.
Seguindo uma ordem mais ou menos cronológica, comecemos por falar do…
Pocket:
Foi aqui, no Sapo Blogs, que descobri acerca desta aplicação . Conforme a Ana explicou muito bem no seu texto, o Pocket permite guardar artigos da Internet para ler ou consultar mais tarde. Podemos etiquetá-los consoante a nossa conveniência e acedê-los a partir de qualquer dispositivo que tenha a app, até mesmo offline.
Tenho usado o Pocket desde que esse texto foi publicado, mais coisa menos coisa. Este tem-me facilitado imenso o processo de escrita, sobretudo no que toca aos meus blogues. Quase todos estes textos requerem pesquisa: entrevistas aos criadores do material que estou a analisar (música, filmes, séries, jogos…), páginas da Wikipédia ou de sites semelhantes, críticas. No meu outro blogue, consulto notícias e crónicas sobre a Seleção.
Com o Pocket, guardo todas essas fontes no mesmo sítio, com a etiqueta adequada. Facilita a fase de planeamento dos textos, sobre a qual já falei aqui, e também a escrita propriamente dita – por muito bem que planeie os textos, muitas vezes preciso de voltar a consultar os artigos originais. Como costumo escrever em sítios sem wi-fi, o facto de o Pocket funcionar offline dá muito jeito.
Existem outras coisas que guardo no Pocket, para além de pesquisa para os meus blogues. Algumas delas são artigos sobre escrita – vários dos quais acabaram por inspirar estes textos.
Gosto também de ir colecionando artigos para ler nos tempos mortos: quer coisas que encontre nas redes sociais, quer na secção dos “Recomendados” do próprio Pocket. Os meus preferidos são os do The Guardian. Como, aliás, o Pocket usa a mesma formatação para todos os artigos (eu uso a tradicional: serif preto em fundo branco) muitas vezes prefiro mesmo ler os artigos por lá, em vez de lê-los nos sites originais – sobretudo quando estes têm anúncios a mais e formatações esquisitas.
Descobri há bem pouco tempo que o Pocket tem uma componente áudio, que lê os artigos em voz alta, mesmo offline. Ainda não tive tempo para usá-la muito, mas tenho-me divertido ouvindo os meus próprios textos – alguns dos quais, como este, escritos com o coração na ponta da caneta – lidos por uma voz feminina robótica com sotaque brasileiro.
Em suma, só para terem noção, quando fiquei sem telemóvel durante algumas semanas, há quase um ano, a aplicação que mais falta me fez não foi o Facebook, nem o Twitter, nem o WhatsApp, nem mesmo o Pokémon Go. Foi o Pocket.
Genius
O Genius é um site de letras de músicas. O que o destaca de milhentos sites do género é o facto de permitir aos visitantes anotarem as letras das músicas – quer com factos sobre as mesmas, quer com sugestões de interpretações. Consta que, de início, o site dedicava-se exclusivamente a hip-hop – o seu primeiro nome era Rap Genius – mas acabou por expandir-se a outros géneros musicais. Hoje em dia, vários artistas têm contas verificadas no site, confirmam letras e/ou fornecem-nas antecipadamente – os Linkin Park fizeram isso este ano com Heavy – e chegam mesmo a anotar as letras com a interpretação “oficial” – Lorde fê-lo com Perfect Places.
Tendo em conta que analiso música neste blogue, este site dá-me imenso jeito. Com o Genius, temos quase tudo o que se sabe sobre determinada música no mesmo sítio – o que poupa imenso tempo no planeamento das minhas análises. Gosto, também, de ler as interpretações de outros visitantes no site, mesmo que nem sempre concorde com elas.
Tenho, aliás, contribuído com alguns factos e interpretações minhas. O meu username é bg_sofia, se tiverem curiosidade. Já fui convidada, até, para ser editora. Só não aceitei, porque ainda não me sinto preparada para isso. Ainda me atrapalho com a formatação das anotações, com a adição de links, citações, imagens. Mas tenciono ir praticando – tenho o conhecimento de mais de metade da minha vida como ouvinte de música para partilhar. Ainda agora comecei.
O site Genius tem uma aplicação móvel. Cheguei a sacá-la, mas eliminei-a quando precisei de espaço. As únicas diferenças entre a aplicação e aceder ao site através do navegador em que reparei foram a ligação automática à letra da música que estiver a ouvir no momento e uma funcionalidade tipo Shazam – mas que funciona pior que o Shazam. Não achei que justificasse o espaço que ocupa.
O site, contudo, vale a pena – sobretudo se forem fãs de música, como eu.
A próxima aplicação de que vou falar também se relaciona com essa área.
Spotify
Esta é, sem dúvida, a aplicação mais popular desta pequena lista. Eu, como toda a gente, já conhecia serviço de streaming há alguns anos. Só há cerca de seis meses é que saquei a aplicação para o PC e experimentá-la a sério (nem me lembro ao certo do motivo). Desde essa altura, uso-o quase sempre que estou ao computador, o que tem mudado muito a maneira como consumo música.
A grande vantagem do Spotify é a facilidade no acesso a música. Sacar ficheiros mp3, ou semelhantes, quer legalmente quer não, ou então passá-los dos CDs para o computador, são coisas que dão trabalho. No Spotify, contudo, basta pesquisá-las e fazer um par de cliques para adicioná-las ao nosso catálogo pessoal. Ainda são precisos menos cliques quando essas músicas aparecem sugeridas nas sugestões, nos Daily Mixes, no Discover Weekly ou outras playlists.
Essas mesmas playlists são, aliás, outro dos pontos fortes do Spotify. Sempre fui fã delas – desde que descobri, quando era miúda, que podia tirar as músicas do CDs para o computador e reorganizá-las conforme quisesse, com o Windows Media Player. Penso que já falei, algures aqui no blogue, acerca da playlist que oiço quando escrevo cenas de ação nos meus livros. No meu outro blogue, tanto quanto me lembro, já falei algumas vezes da minha playlist da Seleção.
Agora, com o Spotify, posso partilhar essas playlists sobre as quais falo há anos com quem quiser e onde quiser. Já tenho a tal playlist da Seleção incorporada no meu outro blogue, por exemplo. Também criei e incorporei playlists em alguns textos antigos sobre música deste blogue – mas acho que ainda não partilhei a playlist com todas as músicas sobre as quais escrevi nesta rúbrica. A playlist do Top 10 de Canções de Amor está sempre a ser atualizada com novas canções de amor que vou descobrindo – como, por exemplo, Underwater.
Não sou grande fã das playlists sugeridas pelo próprio Spotify, como por exemplo, aquelas para o ginásio ou os Hits do momento. Em parte, porque não costumo gostar da maior parte das músicas da moda, mas sobretudo porque… sou esquisita e casmurra com a música. Prefiro ser eu a escolher o que oiço. Não que nunca oiça nada de novo – pelo contrário, desde que tenho o Spotify, tenho adicionado imensas canções ao meu leque habitual. Mas sempre tive dificuldades em alargar os meus horizontes – tenho andado a trabalhar nisso e já fui pior.
Como uso a versão gratuita do Spotify, uma das desvantagens é ter de levar com anúncios de tantas em tantas canções. No entanto, estes não me incomodam muito – continuam a ser em menor número e um bocadinho menos irritantes do que os habituais da rádio. E, pelo menos, veem entre músicas escolhidas por mim.
O Spotify têm uma componente móvel, como toda a gente sabe, mas eu não a uso. No modo gratuito, a app só funciona se estiver ligada à Internet e nem sempre podemos saltar músicas. Tendo eu um cartão microSD cheio de música que pode ser lida pelo Google Play, mesmo em modo offline, para quê estar a gastar dados móveis com o Spotify?
A maior desvantagem do Spotify, na minha opinião – e o único motivo pelo qual ainda não pus a hipótese de aderir ao Premium – é o facto de faltarem coisas ao seu catálogo. B-sides que nunca foram lançadas oficialmente, certas versões instrumentais, acústicas ou ao vivo, a banda sonora dos jogos de Pokémon, as músicas de Digimon – embora tenha encontrado um cover bastante jeitoso de Brave Heart.
O Spotify não é, por isso, o meu único meio de consumo de música. E não acho que alguma vez chegue a ser. Ainda faço questão de comprar música, quer no iTunes, quer CDs – dos meus artistas preferidos, pelo menos. Em parte, porque não me parece que o Spotify pague devidamente aos músicos.
Mas também porque, apesar de tudo, continuo a gostar de CDs. São a única maneira de ouvir a minha música no carro que conduzo, por um lado. Por outro, sabe-me bem pôr um álbum a tocar e ouvi-lo do princípio ao fim. Quando era miúda, a minha aparelhagem não tinha modo aleatório e ouvir sempre o mesmo alinhamento aborrecia-me – foi um dos motivos pelos quais me virei para as playlists, como referi acima. Agora, no entanto, gosto de ouvir as músicas pela ordem que os artistas queriam que ouvíssemos. Em teoria, podia fazer o mesmo no Spotify – na prática, acabo sempre por adicionar outras músicas à fila.
De qualquer forma, acho que vou acabar por aderir ao Premium, mais cedo ou mais tarde. Quanto mais não seja porque não me parece que o Spotify consiga manter-se gratuito por muito tempo – se é verdade o que dizem neste artigo.
Cá estão: três das minhas aplicações ou sites preferidos neste momento. Talvez um dia escreva outro texto deste género – tenho um ou dois sites sobre os quais poderei escrever, mas não para já.
Estes são os últimos cinco dos meus quinze conselhos sobre escrita, que começaram aqui. Seguimos, então, para o décimo-primeiro...
11) A Internet está cheia de dicas para escritores...
Muitos dos conselhos que tenho deixado aqui foram obtidos da Internet. E nem sequer é preciso procurar muito. Se forem ao Google e pesquisarem “Conselhos de Escrita” ou “Writing Advice”, encontram logo uma série de citações de autores prestigiados sobre escrita (com um bocadinho de sorte, estas publicações hão de aparecer algures entre os resultados). Encontrarão, com relativa facilidade, conselhos generalistas, como aqueles que tenho listado aqui, e outros mais específicos e complexos. Qualquer dúvida que tenham, poderá ser esclarecida.
Também encontrarão os tais bancos de ideias e exercícios de escrita, que referi aquando do meu primeiro conselho.
Uma das minhas fontes preferidas de conselhos de escrita é o blogue de Rachel Aaron. Já referi os livros dela algumas vezes, nas minhas respostas a tags sobre livros, mas não foi através deles que a descobri. Foi através de um texto viral que ela escreveu há uns anos, sobre como foi capaz de atingir a marca das dez mil palavras por dia. Desde mais ou menos essa altura, tenho seguido o blogue dela e aprendido imenso sobre escrita, desde planear livros, desenvolver personagens, escrever diálogos, editar livros, entre muitas outras coisas.
O reverso da medalha é que tenho vindo a descobrir que fiz quase tudo mal com o meu primeiro livro.
Em todo o caso, recomendo fortemente o blogue dela a todos aqueles que escrevam, sobretudo ficção, ou que aspiram a isso.
Outra fonte que já sigo há anos é a conta de Twitter Advice to Writers. Esta conta está constantemente a partilhar citações/conselhos de escritores publicados – foi assim que encontrei as citações de J.K.Rowling, Nora Roberts e Geoff Dyer que referi antes. Partilha, também, entrevistas a escritores, perguntando-lhes sempre como começaram a escrever, as suas influências e, lá está, conselhos para combater o bloqueio de escritor.
Deem uma espreitadela, mas tenham em conta o conselho seguinte.
12)As dicas para escritores são diretrizes, não regras.
...incluindo as minhas. Cada escritor é diferente, cada texto ou livro é diferente. Como tal, certos conselhos de escrita são isso mesmo: conselhos, diretrizes. Não são regras ou ordens. Vocês estão à vontade para não os seguirem.
Um exemplo é a minha preferência por escrever à mão primeiro em vez de diretamente no computador. Sei de vários escritores que não conseguem trabalhar assim. Do mesmo modo, existem escritores, como Stephen King, que não planeiam livros, sentam-se pura e simplesmente a escrever, e outros, como J.K.Rowling, que os planeiam minuciosamente (podem ver o plano de Rowling para Harry Potter e a Ordem da Fénix abaixo). Sei também que muitos escritores não seriam capazes de escrever em cafés ou em bancos do jardim enquanto passeiam a cadela, como eu.
Encarem qualquer conselho de escrita, meu incluído, com espírito crítico. Neste texto, estou só a referir métodos que funcionam comigo – não é obrigatório que funcione para toda a gente. Na minha opinião, vale sempre a pena saber como é que outros escritores trabalham e, de vez em quando, experimentar um truque novo. Não têm nada a perder. Se não resultar, não faz mal – tal como disse Thomas Edison, descobriram uma maneira que não funciona.
13) Talento (se é que existe) é sobrevalorizado.
Este vem em linha com o meu quarto conselho. Pelo menos no que toca à escrita, não acredito em talento – talento no sentido de uma capacidade inata. Nem eu nem ninguém nasce com jeito para a escrita. Quando andava na escola, em vários anos escolares, Português era (tirando Educação Física) a disciplina em que tirava piores notas – e, com uma única exceção, não tive maus professores, bem pelo contrário. Se nasci com alguma coisa, foi com boa imaginação, tendência para sonhar acordada, gosto por histórias e ficção em geral e paixão pelo acto de escrever.
Foi essa paixão que me fez começar a escrever quando tinha sete ou oito anos. Era – ainda é – algo que fazia por prazer, algo que fazia quando devia estar a prestar atenção às aulas ou a fazer os trabalhos de casa. E, sem dar conta, fui colocando o conselho número quatro em prática. Só se aprende a escrever escrevendo – não há volta a dar.
Não acreditem, por isso, que só uma mão-cheia de indivíduos, abençoados por Deus Nosso Senhor, génios de nascença, é que podem ser escritores. Podem existir uns quantos com maior facilidade em aprender, maior gosto pela escrita, mas qualquer um pode ser escritor. Desde que esteja disposto a trabalhar nisso, a escrever e a aprender – o que nem sempre é fácil.
14) Só serão fracassos se desistirem de escrever.
Conforme acabei de referir, ninguém nasce sabendo escrever obras-primas/best-selleres. Ser escritor dá trabalho. E podem... não, vão existir alturas em que ser escritor dá demasiado trabalho, é demasiado difícil. Alturas em que não escrevemos durante dias, semanas, meses ou anos, por um motivo ou por outro. Manuscritos rejeitados por editoras ou blogues que não recebem visitas. É muito fácil deixarmo-nos abater por coisas como estas, sentirmo-nos uns falhados.
No entanto, tal como Rachel Aaron, mais uma vez, me ensinou, na escrita, só falhamos quando desistimos por completo de escrever. Conforme tenho repetido inúmeras vezes ao longo deste texto, uma pessoa aprende a escrever escrevendo. Enquanto continuarmos a escrever, continuaremos a crescer como escritores – não que a escrita se torne mais fácil. Desde que regressem sempre, mesmo após uma longa ausência, não falharão.
15) Quando quiserem desistir, lembrem-se porque começaram.
Confesso que, de uma maneira geral, a parte de nunca parar de escrever é fácil para mim. Conforme já referi amiudadas vezes aqui no blogue, escrever é-me quase uma necessidade fisiológica. Tenho alturas em que a escrita é a única que me dá um propósito. Dito isto, também é verdade que, às vezes, quando ando em baixo, escrevo menos material publicável.
No entanto, já tive um momento em que me apeteceu desistir. Certa noite há uns anos, li uma notícia sobre uma escritora de vinte e um anos de idade, que seria “a próxima J.K.Rowling”. Hoje desconfiaria de rótulos como esse – até porque a previsão claramente não se confirmou – mas, na altura, acreditei. Comecei a comparar-me com a tal autora e afundei-me em autocomiseração.
Felizmente não fiquei nesse buraco por muito tempo. Comecei a pensar nas minhas primeiras histórias em miúda – aquelas que escrevia à socapa nas aulas, cujos rascunhos escondia no meio dos livros ou do dossier – nos meus diários, nas tardes gastas passando essas histórias para o computador enquanto ouvia música, a tal fan fiction que me fez apaixonar pela escrita de ficção em geral (não sei se cheguei mesmo a relê-la nessa noite). E a neura passou-me.
Isto é um daqueles conselhos que, de vez em quando, aparece no Facebook mas, como podem ver, funciona: quando vos apetecer desistir, lembrem-se porque começaram. Lembrem-se do que vos motiva a escrever. Talvez tenham coisas a dizer, histórias para contar. Talvez a escrita seja, como a arte em geral, a vossa maneira de decifrarem o mundo e a vida, de desabafarem, de se ligarem a outras pessoas.
Se o vosso desejo, por outro lado, é ganhar fama e fortuna à custa da escrita… bem, com livros, esqueçam, existem maneiras mais fáceis de enriquecer. Com blogues, talvez seja possível, mas não sou a melhor pessoa para vos dizer como. A blogosfera está cheia de conselhos sobre isso.
Seja ela qual for, a vossa motivação tem de estar sempre presente nas vossas cabeças. Será ela que vos ajudará a suportar as partes mais difíceis da escrita, fazendo com que nunca desistam dela. Não definitivamente, pelo menos. Continuem a escrever e pode ser que, um dia, consigam aquilo que desejam.
E são estes os meus conselhos. Ironicamente, muitos dos problemas para os quais dei soluções manifestaram-se enquanto escrevi este texto. No meu primeiro rascunho, saltei muitos parágrafos e tive de escrevê-los mais tarde. Houve uns quantos outros que tive de cortar do rascunho inicial, outros que tive de reescrever. Pelo meio, pratiquei muita, mas mesmo muita rotação de culturas.
Só prova que tudo o que referi neste texto é verdade: escrever dá trabalho.
Apesar de já escrever há quase vinte anos, estou longe de ser uma escritora exemplar. Ainda estou a tentar corrigir muitos dos meus vícios: frases demasiado compridas, parágrafos demasiado compridos, linguagem demasiado complexa, por vezes, abuso de advérbios e de outras palavras de estimação. Também isto faz parte do processo: como em tudo na vida, estamos sempre a aprender.
Espero que estes meus conselhos vos ajudem na vossa escrita, seja ela qual for. Se vocês tiverem alguma dica a acrescentar, partilhem-na nos comentários. Continuem desse lado, se quiserem ver o resultado destes conselhos aplicados à prática.
Hoje, continuamos a dar dicas para contornar o bloqueio de escritor. Podem ler as anteriores aqui.
6)Experimentem escrever em sítios diferentes.
Hoje em dia, é muito raro eu escrever em casa. Passo rascunhos para o meu computador, sim, mas geralmente existem demasiadas distrações para escrever mesmo. Como referi antes, os cafés são dos meus sítios preferidos. Julgo que também referi noutra ocasião que outros dos meus locais preferidos são bancos de jardim. Hoje em dia, como tenho uma cadela, ela acompanha-me nessas ocasiões. Os nossos passeios chegam a incluir diversas paragens, primeiro numa esplanada, depois em diversos bancos. Para um cão, ela até fica bastante sossegada enquanto escrevo. É claro que não posso ficar parada durante muito tempo, mas, tendo em conta o que referi no ponto anterior, isso até resulta bem comigo.
Como é do conhecimento geral, a escrita é uma atividade solitária. Isso pode tornar-se um fardo. Por norma, a solidão não me incomoda particularmente, mas não gosto de ficar em casa o dia todo. Assim, ir mudando de local de trabalho pode tornar a escrita muito mais agradável.
7) Facilitem o começo ou o recomeço.
Na escrita, o mais difícil é começar. Por muito que planeie os meus textos, conforme referi antes, continua a assaltar-me o medo da página em branco, às vezes. No entanto, por norma, basta-me começar a escrever, mesmo que sejam duas ou três frases mal amanhadas, para entrar no ritmo e as palavras começarem a fluir levemente da minha caneta.
Porque acham que começo quase todos os textos do meu outro blogue da mesma forma? (“No próximo dia X, a Seleção Portuguesa de Futebol recebe a sua congénere Y, no estádio Z...”) Porque o facto de ter uma estrutura mais ou menos fixa para o primeiro parágrafo me ajuda a começar a escrever esses textos.
Quando isso acontece, quando se consegue fazer com que a escrita flua, o ideal seria continuar a escrever, a escrever, sem nunca parar – algo que, naturalmente, não é possível. Ou temos de parar, por um motivo ou por outro, ou o ritmo, pura e simplesmente, arrefece ao fim de algum tempo. E existe sempre o risco de voltarmos a ter um arranque difícil da próxima vez que formos escrever.
Para evitar esses arranques difíceis, aquilo que procuro fazer quando páro de escrever é certificar-me de que saberei como começar da próxima vez. Uma maneira de fazer isso é deixar dois ou três tópicos, sintetizando o que vou escrever nos parágrafos seguintes (faço muito isso em ficção). Outro truque é deixar uma frase a meio. Um que tenho usado ultimamente é escrever a primeira frase do parágrafo seguinte – sobretudo quando este vai falar sobre um assunto diferente.
Aconselho-vos, então, a experimentarem estes meus truques ou a inventarem os vossos. O que quer que vos ajude a escrever o mais possível.
8) Alternem entre projetos e/ou tirem dias de folga
Em agricultura, quando se pratica o cultivo intensivo da mesma espécie vegetal no mesmo terreno, a longo prazo, os nutrientes e minerais essenciais a essa espécie começam a esgotar-se e a produtividade diminui. Uma solução para esse problema é a prática da rotação de culturas: as espécies vegetais cultivadas no mesmo terreno vão mudando de um ano para o outro. Por exemplo, no primeiro ano, um determinado terreno produz uma espécie leguminosa, no segundo, uma espécie não-leguminosa (que, segundo este artigo, exige um aporte mineral diferente). No segundo ano, o terreno teria tempo para repôr os minerais necessários para a espécie leguminosa. Assim, quando o terreno voltar a produzir a espécie leguminosa no terceiro ano, os minerais necessários estarão lá.
Na escrita, também é benéfico praticar a rotação de culturas. Se andam há muito tempo a trabalhar no mesmo projeto e, a certa altura, bloqueiam, uma solução pode ser escreverem outra coisa. Um solo tem tempo de se remineralizar enquanto produz uma espécie com necessidades nutritivas diferentes. Da mesma forma, enquanto se focam noutro projeto, o vosso subconsciente tem tempo para se curar do desgaste provocado pelo projeto antigo. Pode mesmo ganhar novas ideias para esse projeto. Assim, quando regressarem a ele, a escrita tornar-se-á mais fácil.
Também podem fazer rotação de culturas dentro do mesmo trabalho. Não é obrigatório começarmos em “Era uma vez…” e terminarmos em “...e viveram felizes para sempre”. Se estão bloqueados (e isto é válido tanto para ficção como para não-ficção), nada vos impede de saltarem para o fim ou para uma qualquer outra parte que esteja mais clara na vossa cabeça. Desvendarem o destino primeiro pode, até, ajudar-vos a encontrarem o caminho por entre o bloqueio. Desde que, no fim, se certifiquem que o texto ou livro tem coerência.
Por outro lado, se existem partes do vosso texto que vos aborrecem ao ponto de quererem saltar à frente, talvez elas não devam estar lá – mais sobre isso adiante.
Dentro da rotação de culturas, existe a possibilidade de deixar o terreno em pousio – ou seja, sem produzir nada. Podem fazer o mesmo na escrita – isto é, não escreverem de todo, tirarem uns dias de folga. Eu, por norma, não faço isso a menos que seja obrigada. Prefiro estar sempre a trabalhar em qualquer coisa, mesmo que não sirva para nada, só mesmo pela minha sanidade mental. Mas nem todos são maluquinhos como eu. E, de resto, podem à mesma ganhar ideias novas, perspetivas novas, para a vossa escrita – sobretudo se, lá está, estiverem em contacto com as vossas fontes de inspiração, sejam elas livros, filmes, música ou a vida em geral.
O senão deste conselho é o risco de cairmos em exageros. Eu sou culpada disso. Conforme já dei a entender, nas últimas semanas tenho praticado demasiada rotação de culturas na minha escrita. Em certas alturas, estive a trabalhar em três ou quatro textos ao mesmo tempo, sem concluir nenhum. Assim, se não têm cuidado, podem arrastar projetos durante demasiado tempo. Continuo a achar que é sempre melhor escrever do que não escrever mas, quando exagerada, a rotação de culturas não passa de falta de disciplina. É preciso atenção. (*olha, com ar culpado, para o primeiro rascunho, ainda por terminar, da sua análise ao último filme deDigimon Adventure Tri…*)
9) “Consigo corrigir uma página má, não consigo corrigir uma página em branco”
Esta é uma tradução livre da citação de Nora Roberts, acima, que me tem ajudado muito, sobretudo no passado recente. Uma das maiores causas do bloqueio de escritor é o desejo de escrever tudo certinho à primeira. A escrita não funciona assim, infelizmente. Eu, aliás, nos últimos tempos, tenho tido ocasiões de “falta de inspiração”, em que o texto me custa a sair como deve ser. Não sei se isso acontece por me ter tornado mais exigente ou mais ansiosa relativamente à escrita.
Qualquer escritor vos dirá que o primeiro rascunho de qualquer texto é uma porcaria – eu não vou a esse extremo, mas sim, é suposto um primeiro rascunho ficar aquém das expectativas. Todos os textos precisam de, pelo menos, uma correção antes de estarem prontos para consumo. É muito mais fácil corrigir um texto já no papel do que corrigi-lo na nossa cabeça – é assim que uma pessoa se bloqueia!
Como eu escrevo os primeiros rascunhos sempre à mão, quando os passo a computador (em muitos casos, algum tempo após escrevê-los), aproveito para corrigir o texto conforme achar necessário. Faz parte do processo. Mesmo que o primeiro rascunho esteja uma porcaria – e, acreditem, às vezes está – mesmo que tenha de reescrever algumas partes ou o texto todo, preciso sempre de algo no papel com que possa trabalhar.
O meu conselho é, assim, que, mesmo que não estejam satisfeitos com o que vos está a sair da caneta ou do teclado, façam por continuar a escrever, por acabar esse texto, seja ele qual for. Não têm de mostrar esse primeiro rascunho de má qualidade a ninguém. Depois de o terminarem, podem corrigi-lo até ficar ao vosso gosto. Como diz Rachel Aaron (mais sobre ela adiante) a escrita não é uma arte de palco – não é obrigatório sair bem à primeira.
10) Não é suposto ser assim tão difícil
Isto acaba por contrariar um pouco o meu conselho anterior, mas às vezes não dá para continuar a escrever, por muito que insistamos. Muitos não deverão sabê-lo, mas o bloqueio de escritor pode ser sintoma de um problema com o vosso trabalho. No caso da ficção, talvez não saibam o que acontece a seguir na vossa história, talvez esta esteja a ir na direção errada. No caso da não-ficção, talvez não estejam a abordar o assunto da maneira correta. Algo está a correr mal, o vosso subconsciente sabe-o e escrever torna-se difícil, mesmo impossível.
Quando é assim, há que parar, tentar descobrir qual é o problema e procurar resolvê-lo. No caso da ficção, podem descobrir, por exemplo, que as vossas personagens estão a agir contra o seu carácter (ou, como se diz em inglês, “out of character”), que essa parte da vossa história é aborrecida (se vocês, os autores, se aborrecem com o vosso próprio livro, os leitores também se vão aborrecer, acreditem!), que o final que planearam para a vossa história não é o mais adequado.
No caso dos vossos blogues, ou de não-ficção em geral, podem descobrir, por exemplo, que estão a fugir ao assunto do vosso texto, a divagar, a andar em círculos, que precisam de pesquisar melhor sobre o assunto do texto. Talvez o plano que traçaram para esse texto, como expliquei no meu primeiro conselho, não seja o mais adequado – esta será uma boa altura para voltar a olhar para ele e considerar novos caminhos.
Ou então, podem descobrir que o vosso projeto não tem salvação possível.
Aconteceu comigo há pouco tempo. Quem acompanha o meu outro blogue, saberá que, no final de cada ano, costumo fazer um apanhado de tudo o que aconteceu com a Seleção nos doze meses anteriores. No entanto, o texto relativo a 2016 estava a custar-me imenso. Arrastei-o durante semanas, desde princípios de dezembro até bem depois do início de 2017 (quando, nos anos anteriores, conseguia publicar sempre antes do Ano Novo, quando não publicava antes do Natal). O facto de ter menos tempo do que o costume para escrever não ajudava. Tinha vários outros projetos que me entusiasmavam muito mais (este texto, por exemplo), mas decidi que só trabalharia neles quando concluísse a revisão de 2016. Estávamos já em meados de Janeiro, o texto ainda nem ia a meio, eu ia pondo a hipótese de publicar o texto em data já passada.
Foi aí que pensei: “Que estou a fazer?”. Aquele texto andava a consumir-me o reduzido tempo de escrita de que dispunha há semanas e para quê? Era pouco provável que alguém o lesse, ainda por cima se fosse publicá-lo em data já passada.
O facto de ter pouca audiência nunca me foi fator impeditivo em nenhum dos blogues. Se fosse, já teria desistido há muito tempo – quando, na verdade, já ultrapassei a barreira das duzentas publicações em ambos. Sou demasiado egoísta para não ocupar espaço online escrevendo sobre aquilo que me dá na veneta. No entanto, se a escrita não está a dar-me prazer, não vale a pena – não quando tenho outros textos para escrever que não me custam tanto.
Não me foi fácil tomar esta decisão. Acho que nunca tinha desistido desta maneira de um texto para um blogue. Talvez pudesse ter evitado este desfecho se tivesse planeado melhor as coisas. Tirando isso, não me arrependo de ter abandonado este.
Não quero com isto aconselhar-vos a desistir à primeira dificuldade, nada disso. Apenas quero dizer que, se notam alguma resistência a sentarem-se e a escrever, façam uma pausa para pensarem se existe algum problema com o vosso trabalho. Se existir, procurem resolvê-lo. No entanto, se não encontrarem forma de resolvê-lo, ou se não encontram nenhum problema visível com o projeto mas, mesmo assim, não conseguem continuar a escrever, deixem-no de lado e trabalhem noutra coisa.
Pode ser que o projeto fique para sempre inacabado e acabem por reciclar alguns elementos dele noutro trabalho. Pode ser que a lógica da rotação de culturas, de que falámos antes, entre em ação e, daí a dois dias, uma semana, um mês ou um ano, descubram uma solução para o vosso bloqueio. Faz parte do processo. Existem coisas que não valem mesmo o esforço.
E com este pensamento animador, encerramos por agora. Podem ler os últimos conselhos aqui.
Não me orgulho disso, mas uma das coisas que me irritam na blogosfera são publicações em que os bloggers se queixam de falta de inspiração, de não saberem sobre que escrever. Todos nós já estivemos nessa situação, a que chamamos bloqueio de escritor. No entanto, queixarmo-nos e/ou termos pena de nós próprios não ajuda. O tempo que perderam a escrever esse texto teria sido muito melhor empregue procurando resolver o bloqueio.
Hoje, no entanto, não quero ser desagradável em relação a isso, quero ser construtiva.
O bloqueio de escritor (ou bloqueio criativo para a arte em geral) tem muitas causas possíveis: falta de ideias, falta de tempo, ansiedade a mais, problemas noutras áreas da nossa vida, problemas com o que estamos a escrever, entre outras. Este texto, contudo, não se focará tanto nas causas do problema, mais em soluções.
Admito que não sou propriamente uma escritora best-seller ou uma blogger de sucesso. Estou longe de ser uma autoridade na matéria. Dito isto, escrevo com regularidade desde os meus sete ou oito anos, tenho um livro publicado, criei o meu primeiro blogue há quase nove anos e o meu segundo – este – há quase cinco. Basta darem uma olhadela rápida pelos dois blogues para verem que as minhas publicações estão longe de serem telegramas. Como podem calcular, são muitas palavras escritas só entre o meu livro e os meus blogues – e nesta equação nem sequer entram coisas que ainda não publiquei ou que não tenciono publicar. Bem acima da média da população geral. Não se consegue escrever tanto sem uma dose razoável de trabalho e disciplina. Sem falsas modéstias, acho que tenho algo a ensinar.
Além disso, esta é a ducentésima publicação deste blogue (publicação número duzentos para os amigos). Tendo em conta que criei este blogue para poder escrever sobre o que me apetecesse, parece-me adequado falar sobre escrita em geral para assinalar a marca. Vou, assim, deixar-vos quinze conselhos de escrita, divididos em três publicações. A maior parte deles serão formas de contornar o bloqueio criativo, mas também falarei sobre outros aspetos da escrita.
Um alerta rápido: nenhum destes conselhos é completamente original, longe disso. A maior parte destes conselhos foi-me dada, direta ou indiretamente, por outros escritores. Vou apenas referir aqueles que funcionam melhor comigo.
Assim, sem mais delongas…
1) Não comecem com uma página em branco.
Na minha opinião, começar o processo de escrita com uma página em branco é erro de amador. Não digo que seja impossível ou mesmo que nunca tenha, pura e simplesmente, pegado em papel e caneta e começado a escrever. No entanto, para a maioria das pessoas, uma página em branco é algo intimidante, assustador – e o medo é o maior inimigo da criatividade. Além disso, nove em cada dez vezes, pensar naquilo que se quer escrever e escrever ao mesmo tempo é muito difícil. Quando consigo fazê-lo – e é cada vez mais raro – são textos que, antes, andavam a ruminar na minha cabeça durante muito tempo.
A verdade é que existe toda uma preparação antes de se começar a escrita propriamente dita. Antes de mais nada, é necessário ter uma ideia (ou várias) para aquilo que queremos escrever. Seja um conto, um livro, uma série de livros, um texto para um blogue. Se vocês querem ser escritores é porque têm algo a dizer, algo sobre que escrever – uma opinião, uma história, um acontecimento, etc.
Se, por acaso, não têm ideias, o vosso primeiro passo terá de ser arranjá-las. Ao contrário do que muitos pensam, a inspiração não é algo por que se espera, é algo que se procura ativamente. Cada um tem o seu próprio método para arranjar assunto sobre que escrever, as suas próprias fontes de inspiração. Em linha com isso, aconselho-vos a virarem-se para essas fontes (sejam elas livros, música, jornais, revistas, o Pinterest, o Instagram, o YouTube) e procurarem algo sobre o qual queiram escrever.
Se isso não resultar, existem fontes de ideias mais diretas na Internet. Há uns tempos encontrei uma publicação intitulada “100 ideias para posts”. Penso que já a passei a uma ou duas pessoas aqui no Sapo Blogs. Existem, também, em diferentes locais online, fontes de writing prompts – pequenos exercícios de escrita criativa. Do género, sublinharem dez palavras ao calhas na página de um livro e escreverem um texto que as inclua todas. Outros exercícios dão ideias mais específicas, do género: “Imagina a tua refeição perfeita. Qual seria a entrada? O prato principal? A sobremesa? Quem se sentaria à mesa contigo? Quem a cozinharia?”
Pessoalmente, nunca precisei de recorrer a esses bancos de ideias. Mas gosto de tê-los à mão, só para o caso.
De qualquer forma, depois de ter essa ideia, o segundo passo deverá ser planear o que vamos escrever. Quando é para ficção, faço uma lista e/ou esquema do que acontece na cena do livro em que estou a trabalhar. Quando é para os blogues, faço uma lista e/ou esquema dos tópicos principais do texto.
Como exemplo, mostro-vos o plano que fiz para este texto (um dos poucos planos que está apresentável):
A forma como se planeia um texto é muito pessoal, naturalmente, e está sempre a mudar – pelo menos no meu caso. Nem sempre sigo rigorosamente os planos que faço – posso inverter a ordem de alguns pontos, cortá-los ou, mesmo, ocorrerem-me ideias completamente novas em plena escrita. Seja como for, é importante passar este brainstorming inicial para o papel, organizar os nossos pensamentos, antes de começar o texto propriamente dito – sobretudo se este for longo. Assim, se por acaso se bloquearem, essas notas dizem-vos o que escrever a seguir.
Em suma, começar com uma folha em branco é como visitar uma cidade completamente nova sem um mapa, um guia turístico, um itinerário ou placas com direções. Existem pessoas capazes de se desenrascar nessas circunstâncias, claro, que até preferem explorar cidades assim. No entanto, regra geral, os mapas ajudam-nos a descobrir a maneira mais rápida de chegarmos ao nosso destino, sem nos perdermos pelo caminho ou acabarmos em becos sem saída – o que, no caso da escrita, equivale a terminar o texto.
2) Escrevam sobre aquilo que vos apaixona/entusiasma.
Este conselho pode parecer muito óbvio, mas é importante. Escrever nem sempre é fácil. Fica ainda mais difícil se o tema da escrita não vos interessa o suficiente para suportar as dificuldades.
Conforme já referi algumas vezes aqui no blogue, foi escrevendo fan fiction (a partir dos meus quinze, dezasseis anos) que me apaixonei a sério pela escrita de ficção em geral. Escrevia essas histórias pura e simplesmente porque queria, para me satisfazer a mim mesma. A partir de certa altura, contudo, quis escrever algo inédito. Tive umas quantas ideias que tentei executar, mas, tirando um ou outro conto, nunca acabei esses projetos. Acabava sempre por regressar à minha fan fiction, mesmo sabendo que esta não daria em nada publicável (na altura, não sabia que era possível publicar fan fiction na Internet).
Finalmente, descobri porque aquelas ideias não resultavam: porque não me cativavam o suficiente. Não sonhava acordada com essas personagens e as suas adventuras e desventuras da maneira como sonhava com a minha fan fiction. Se eu não me entusiasmava com as minhas próprias histórias, como podia esperar que outros que se entusiasmassem?
Tive, assim, de arranjar personagens e histórias que me apaixonassem tanto como as da minha fan fiction. Demorou algum tempo, mas, assim que as consegui, tornou-se tudo mais fácil. E assim comecei a série cujo primeiro título é “O Sobrevivente”.
O motivo pelo qual, ao contrário da maior parte dos bloggers, não escrevo sobre a minha vida pessoal é semelhante. Por uma questão de privacidade, por um lado, mas sobretudo porque… a minha vida pessoal não é assim tão interessante quanto isso.
De igual modo, também não embarco em muitos assuntos da atualidade, ou naquelas “polémicas de Facebook” que, de vez em quando, atacam e fazem correr muita tinta digital. Porque não me interessam e/ou não tenho nada a dizer que outras pessoas não tenham dito, ou que justifique uma publicação no blogue. Nestas alturas faz-se muito barulho, dizem-se muitas barbaridades. Para quê contribuir para isso se não tenho nada a acrescentar ao debate?
Prefiro, assim, ir escrevendo sobre a Seleção, música, Pokémon, Digimon, entre outras coisas. Assuntos “nicho”, que dificilmente me dão destaques no Sapo Blogs, mas sobre os quais tenho muito a dizer.
Em suma, o que vos aconselho é que se certifiquem de que estão realmente interessados naquilo que estão a escrever. Tenham a certeza de que não estão a escrever apenas porque esse género literário é o que está na moda, nesse momento, ou porque os outros bloggers estão a escrever sobre isso. Acreditem, os leitores notam quando os escritores não estão completamente investidos no que escrevem.
3) Cafeína e água podem ajudar.
Comecei a beber café aos dezasseis anos – mais ou menos. Nessa altura, bebia apenas garotos, de longe a longe. Só me viciei muito depois. Um dos motivos foi por ter descoberto que a cafeína me ajuda imenso, não apenas a manter-me acordada, mas também a escrever – tem um efeito estimulante, anti-depressivo, aumenta a concentração, a motivação. Eu sinto mesmo que o meu cérebro funciona mais depressa. E esta minha dependência de cafeína é um dos motivos pelos quais os cafés são um dos meus locais preferidos de escrita.
Se vocês não bebem café (seja por não gostarem, seja por motivos de saúde), não vou, obviamente, aconselhar-vos a fazê-lo. No entanto, se já bebem café habitualmente (ou outra bebida cafeínada, como certos chás, Coca-Cola ou… Red Bull), aconselho-vos a tentarem escrever logo depois de beberem-no – vão ver a diferença!
Por outro lado, uma coisa em que tenho vindo a reparar é que o meu cérebro funciona melhor se beber água com regularidade. Não sei se é por hábito, se é efeito placebo. Em todo o caso, mantermo-nos hidratados é sempre benéfico, independentemente das circunstâncias. Este é, portanto, um conselho que dou a todos, ao contrário do anterior, sobre a cafeína. Aliás, se seguirem o meu conselho do café, mais urgente se torna que sigam, igualmente, o conselho da água. Como a cafeína é diurética, um dos seus possíveis efeitos secundários é a desidratação. Assim, não apenas pela vossa escrita, também pela vossa saúde, bebam água.
4) Escrevam o mais que puderem.
Um dos meus conselhos preferidos de escrita é de Geoff Dyer e reza assim: “Façam-no todos os dias. Habituem-se a traduzir as vossas observações para palavras e, gradualmente, isso tornar-se-á instintivo. Esta é a regra mais importante e, naturalmente, não a sigo.” Tirando a última frase, isso é algo que tenho feito toda a vida. Ajudou-me, particularmente, ter escrito diários entre os doze e os dezassete anos. Não escrevia tooodos os dias (ainda hoje não consigo fazer isso, embora tente), mas escrevia com regularidade. O hábito de escrever sobre a minha vida desinteressante ensinou-me a lidar com palavras. A partir de certa altura, comecei, de facto, a escrever mentalmente, a fazer um primeiro rascunho na minha cabeça daquilo que pretendia escrever no meu diário, mais tarde.
Todos os escritores dir-vos-ão o mesmo: uma pessoa só aprende a escrever escrevendo. Como diz J.K.Rowling, terão de desperdiçar muitas árvores antes de escreverem algo como deve ser. Eu, felizmente, comecei cedo, mas ainda estou a aprender. Aconselho-vos, portanto, a escreverem o mais que puderem, todos os dias ou quase. Só escrevendo é que se tornarão escritores, é tão simples quanto isso.
5) Façam pausas enquanto escrevem.
Tenho alturas em que consigo escrever várias páginas de seguida, até ficar com a mão dorida. Quando isso acontece, por norma, procuro não interromper o fluxo da escrita – se o perco, pode ser muito difícil fazer o motor pegar novamente. No entanto, existem alturas em que estou a debater-me com uma frase ou ideia e não adianta continuar a escrever a todo o custo.
Nesses casos, muitas vezes basta-me levantar-me e dar dois passos para aclarar as ideias.
O meu conselho é, então, saberem quando precisam de parar. Se estão a ter dificuldade com aquilo que estão a escrever, o simples ato de irem beber um copo de água pode resolver esse imbróglio. Desde que, evidentemente, não se distraiam e se esqueçam completamente do que estavam a escrever.
Estes foram os primeiros cinco conselhos. Podem ler os próximos aqui.