Parece que as Follow Friday estão mesmo de volta. Ainda bem.
Hoje quero falar do Blog de Meia Tigela, cuja autora já me tinha nomeado para os Liebster Awards e que comecei a seguir há umas semanas. Até agora, tenho gostado das coisas que a miana escreve. Queria destacar os textos sobre a mudança de curso que se encontra a levar a cabo. Não me parece que tenha sido fácil tomar esta decisão. A sociedade dos dias de hoje exige que os jovens de dezoito anos (ou mais novos, antes de entrar no Secundário) saibam ao certo o que querem fazer com as suas vidas. Mas a verdade é que, nessa idade, muitos de nós não sabemos ainda quem somos, não sabemos quase nada sobre a vida real. Estamos, também, muito vulneráveis à influência dos nossos pais e de outros adultos na nossa vida, que muitas vezes nos empurram para carreiras que, se calhar, pouco têm a ver connosco. É inevitável que alguns se arrependam, mais tarde, da escolha que fizeram. Não é fácil admitir que errámos, que desperdiçámos anos da nossa vida num curso que não vamos concluir. Mas a vida é demasiado curta para passá-la trabalhando das nove às seis em algo que não nos realiza, não quando existem alternativas. Daí que admire a coragem da miana ao tomar esta decisão.
Por outro lado, gosto do blogue porque a miana é uma das minhas: é uma mulher amante de futebol. Gosto sempre de conhecer pessoas que gostem de futebol de forma apaixonada mas saudável e a miana tem apresentado várias provas disso, como este texto por exemplo. Existindo ainda tanto machismo no futebol, acho importante apoiar outras mulheres que vivem o futebol de maneira semelhante à minha.
Como todos sabem, hoje, dia 8 de março, celebra-se o Dia Internacional da Mulher. Um dia escolhido para discutir a igualdade de género - ou falta dela - e todas as suas implicações: desde discriminação no acesso à educação e emprego à violência doméstica, sexual e mutilação genital. Uma das melhores coisas que poderia escrever neste dia é que, na atualidade, já se discutem estes assuntos quase todos os dias. E é o que se verifica, sobretudo ao longo do último ano.
Falando da minha própria experiência, considero-me sortuda pois, até ao momento, nunca me senti particularmente discriminada por ser mulher (tirando no caso que descrevi aqui, e mesmo assim foi de forma indireta). Quando era pequena, era um pouco maria-rapaz. Não gostava de usar vestidos (embora tivesse tido uma altura em que era obcecada por vestidos de princesa, estilo Idade Média), mais porque demorava demasiado a vesti-los e estes atrapalhavam quando queria correr. Gostava de brincar com bonecas, Barbies de vez em quando, de fazer dos peluches os meus bebés, mas também brincava com carrinhos, com legos, pistolas e espadas, sobretudo com o meu irmão. Ou seja, fazia livremente coisas de meninas e de meninos.
Não me lembro de, na altura, me terem dado a entender que isso era errado. Não sei se os meus pais e outros adultos se calaram de propósito, para não me reprimirem, ou se, na verdade, não viam nada de errado uma menina brincando com espadas. Espero que seja a segunda hipótese, pois isso significaria que, na prática, não há assim tanto machismo na sociedade quanto se pensa. Felizmente.
A verdade é que nunca abandonei o meu lado maria-rapaz, mesmo depois de deixar a infância. Julgo que tive mais amigos rapazes que raparigas. Aos doze anos comecei a interessar-me por futebol e orgulhava-me de discutir as notícias desportivas de igual para igual com a população masculina da minha turma. Um dos motivos pelos quais comecei a ouvir Avril Lavigne foi por, no início da sua carreira, ela se apresentar com roupas pouco femininas, andando de skate, armando-se em durona, agressiva, tocando guitarra - isto quando o rock era dominado, e ainda é, por homens. Eu identificava-me com isso. Do mesmo modo, muitas das minhas personagens femininas de ficção preferidas têm sempre sido mulheres fortes, lutadoras - e sempre quis que a minha personagem principal, Bia, fosse assim.
É por estas e por outras que eu considero que uma parte do discurso feminista é exagerada: aqueles que se obcecam pelo facto de quase todas as histórias das princesas Disney se centrem numa relação romântica ou pela divisão dos brinquedos em "para meninos" e "para meninas". Estas segregações existem, sim, mas conforme o meu exemplo demonstra, as crianças (raparigas e rapazes) por si só não desenvolvem tais preconceitos. Desde que os adultos responsáveis não lhos imponham, elas podem perfeitamente crescer sem se deixarem definir pelo seu género.
Também ajuda facto de a minha mãe ter dado um bom exemplo. Ela é médica, diretora de serviço, tal como o meu pai (o que arrasa a ideia que ainda prevalece de que, mulheres em saúde, só enfermeiras). É uma excelente profissional e conseguiu fazê-lo sem abdicar de ter vida pessoal. Bem pelo contrário: teve três filhos e esteve sempre presente, tanto ela como o meu pai. Ainda que eu esteja longe de ser perfeita, os meus irmãos são fantásticos e as pessoas de fora falam de nós os três como pessoas decentes e educadas - algo que eu sempre considerei um requisito básico mas que, pelos vistos, é raro, sobretudo entre os mais novos.
Nós temos tido mais sorte que vários milhões de mulheres por todo o Mundo. Mesmo na nossa sociedade ainda há muito a fazer, conforme afirmei anteriormente. E felizmente, tal como disse no início do texto, ultimamente temos andado a discutir a sério estes problemas.
Há coisas, no entanto, como que não concordo neste debate: a mim não faz sentido falar de quotas de mulheres. Não me parece que isso resolva o problema na discriminação, pelo contrário: na altura de contratar, vamos olhar ainda mais para o sexo dos candidatos só para preencher os trinta por cento de mulheres. Só se elimina a desigualdade de género quando o género deixa de ser critério.
Também não defendo que, agora, todas as mulheres devem aspirar a líderes mundiais ou a outro cargo semelhante. Se uma mulher quiser ser CEO de uma multinacional, ótimo. Se uma mulher quiser ficar em casa a cuidar dos filhos, também é ótimo. Desde que não o façam por serem a isso obrigadas pela família, pelo marido ou pela sociedade. Por outras palavras, eu defendo a liberdade de escolha, que as mulheres possam ser donas do seu destino.
No discurso do feminismo, a mensagem com que mais me identifico é a campanha #HeForShe, para a qual a atriz Emma Watson dá a cara. Eu também acho que o problema da desigualdade de género não é exclusivo das mulheres. Aliás, nalguns aspetos, a discriminação pode ser mais prejudicial para o sexo masculino. Uma mulher que faça coisas de homem é, de uma maneira geral, mais tolerada que um homem que faça coisas de mulher. E isto tem vários exemplos. Costuma-se dizer que um homem não chora - deve ser duro, agressivo, não deve demonstrar emoções que não raiva. Chorar, mostrar vulnerabilidade, entre outras atitudes, são consideradas coisas de mulher - quando isto é visto como um defeito, é como se dissessem que atitudes femininas são inferiores. Por outro lado, muitas vezes se esquece que os homens também podem sofrer de violência doméstica, abusos sexuais, violações - e ao trauma que essas situações provocam por si só, junta-se o estigma de terem sido vítimas quando, supostamente, não pertencem ao sexo "indefeso".
Todo este assunto dá pano para mangas, tem inúmeras outras vertentes de que não falei aqui, se fosse cobrir todas elas escrevia um livro inteiro. Conforme já disse antes, há que começar por algum lado, contribuir para o debate de uma forma ou de outra. Pode ser que, tal como ouvi na rádio hoje de manhã, se possa ir mudando o Mundo ao mover grãos de areia. Termino esta entrada com uma ligação para outra deste blogue, também focada no 8 de março mas de uma forma mais ligeira. Feliz Dia da Mulher!
Ao contrário do que planeava inicialmente, vou inaugurar "a sério" a nova morada no meu blogue com um texto diferente dos que costumo publicar, algo polémico. Como já dei a entender em várias entradas do Álbum, uma das minhas maluqueiras é o futebol, com claro destaque para a Seleção Nacional, tendo inclusivamente um blogue a ela dedicado. Nessa condição, leio com frequência jornais desportivos e consulto os seus sites. O meu favorito é o Record. No entanto, tem havido um aspeto que muito me desagrada no periódico e um pormenor da sua capa de ontem, dia 10 de outubro, é mais um exemplo disso:
Como podem ver, o Record anuncia Cristina Ferreira como nova colunista recorrendo a uma fotografia em que a apresentadora se encontra com pouca roupa. Não sei se é essa a intenção dos responsáveis pelo desenho da capa, mas a ideia que passa é que a maior credencial de Cristina diz respeito aos seus atributos físicos. Tal motivou-me a escrever sobre algo que me vem incomodando há algum tempo: o machismo no mundo do futebol.
Visto que não conheço tão bem A Bola e O Jogo como conheço o Record, não sei se o mesmo se passa em outros jornais. No entanto, no Record as mulheres têm vindo a ser demasiadas vezes retratadas de maneira objetificada. No site, publicam inúmeros artigos - nem todos diretamente relacionados com desporto - onde figuram fotografias de, como se diz no português corriqueiro, "gajas nuas", na minha modesta opinião mais indicadas em publicações de outro cariz. Isto para não falar no concuro Miss Fanática Record, que dá a entender que a única coisa que se espera numa mulher adepta de um clube de futebol é que tenha um corpo escultural.
O jornal Record não está sozinho nestes hábitos. O jornalista João Miguel Tavares já falou de outro caso no seu blogue. Outro exemplo é o anúncio da Sagres a propósito do Euro 2012. Entre várias coisas, reparem no homem que olha para o decote de uma das adeptas.
Ainda está muito enraizada na sociedade a ideia de que o desporto, e sobretudo o futebol, é um assunto de homens. No entanto, a realidade já não é assim. Conheço muitas mulheres que adoram futebol, bem como homens que não gostam - por exemplo, eu e a minha irmã gostamos bem mais de futebol que o nosso irmão. E ao contrário do que muitas vezes a Imprensa desportiva e as agências de publicidade dão a entender, nem todas somos bonitas nem sensuais (eu não o sou, pelo menos) e não é or isso que percebemos ou gostamos menos do desporto e dos nossos clubes (no meu caso, a Seleção).
Às vezes passa-se o oposto, até. Pelo menos no meu caso e no da minha irmã, nós interessamo-nos pelo lado mais humano da modalidade, vemos pessoas em vez de apenas jogadores, ao contrário do que muitos adeptos fazem. É claro que já passei por fases por que qualquer mulher passa na adolescência com os seus ídolos, em que dava particular importância ao impressionante físico do Cristiano Ronaldo mas, sem querer generalizar, as mulheres têm o potencial de trazerem uma visão diferente ao futebol, contribuindo para o seu enriquecimento. Julgo que foi até com esse intuito que o Record conviou Cristina Ferreira para escrever uma coluna semanal.
Não venho com isto defender quotas de 30% de mulheres entre os jornalistas desportivos nem nenhuma medida do género. Acredito que o mundo do desporto irá tendo, naturalmente, uma população feminina cada vez mais alargada. E já começa a ser altura de o futebol português começar a entrar no século XXI e aprender a respeitar as mulheres. É claro que isto é apenas uma faceta de um problema muito maior, ainda muito enraizado não só na sociedade portuguesa, mas também em todo o Mundo em graus diferentes. Mas há que começar por algum lado.
Agora, se não se importam, tenho de ir atualizar a minha página sobre a Seleção, que o jogo com a França dentro de menos de hora e meia.
Já que hoje se comemora o Dia Internacional da Mulher, falarei de uma das minhas músicas preferidas com que, julgo eu, todas as mulheres se podem identificar.
"I'm a little bit of everything all rolled into one!" Não sei praticamente nada sobre Meredith Brooks, a intérprete de Bitch. Esta faixa é uma one-hit wonder dos anos 90, aquele tipo de música que quase toda a gente já ouviu na rádio, mesmo que não conheça os respetivos criadores. Tenho várias músicas assim entre as minhas preferidas. Em termos musicais, é uma faixa pop-rock, com um ritmo algo dançante, alegre, com uma melodia incrivelmente contagiosa, em particular no refrão. Destacaria também o solo de guitarra e a conclusão da música.
Apesar de a parte musical ter um papel importante no processo de aprisionar Bitch na cabeça, a letra é, na minha opinião, o grande ponto forte da faixa. Conforme afirmei acima, esta reflete bem a natureza feminina, multifacetada. Tanto no que toca às nossas variações de humor, sejam estas motivadas pela puberdade, menstruação, gravidez, pós-parto, menopausa, como por, de facto, sermos um pouco de tudo. Todas nós somos amigas e amantes, mães e crianças, anjos e demónios, belas e monstros ao mesmo tempo.
Conheci esta música há mais de quatro anos, numa altura em que andava a fazer imensas montagens de vídeos da Avril Lavigne. Durante algum tempo, andei bastante obcecada com Bitch. Como tal decidi montar um vídeo misturando o videoclipe da música com vídeos da Avril. Por restrições de direitos de autor, só consegui colocar no YouTube o vídeo com a faixa instrumental como bansa sonora. Um aparte só para comentar que o vídeo tem ganho inúmeras visualizações nos últimos momentos, por um motivo qualquer. Afinal de contas, a Avril é uma das minhas mulheres preferidas (juntamente com a minha mãe, a minha irmãzinha e a minha avó) e sempre abraçou a sua natureza multifacetada. Gostava que, um dia, fizesse um cover desta música. Até porque Smile acaba por ter várias semelhanças com Bitch - para além da óbvia parte do "crazy bitch", ambas falam sobre sermos aceites pelo homem que amamos tal e qual como somos.
Embarcando no espírito do dia de hoje, todas nós, mulheres, somos assim. Somos complexas. Somos lutadoras, tivemos de nos bater pelos nossos direitos, sendo um dos mais importantes o direito de escolhermos a vida que bem entendermos - e isso tem imensas ramificações. E continuamos a lutar por isso. Podemos até, em certas alturas, ser alegres, carinhosas, sensuais e, aparentemente, submissas mas é preciso terem cuidado connosco pois rapidamente nos tornamos más, caprichosas, ciumentas, carentes, exigentes, mimadas, choramingas. Não pedimos desculpa por isso! E não deixamos de ser lindas à nossa maneira. É sobre isso que Bitch fala.
Concluo esta entrada com as palavras do ilustre filósofo contemporâneo Bugs Bunny: cada mulher é uma bruxa por dentro. E eu acrescento que cada mulher é, igualmente, uma deusa por dentro. Feliz Dia Internacional da Mulher!