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Álbum de Testamentos

"Como é possível alguém ter tanta palavra?" – Ivo dos Hybrid Theory PT

Digimon Tamers #13 – Lágrimas e tinteiros

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Hoje queria começar por falar da banda sonora de Tamers. Conforme já referi várias vezes aqui no blogue, a música é uma das melhores partes de Digimon. As aberturas, os encerramentos, os temas de digievolução e por aí fora. Nunca falta material para os podcasts do Odaiba Memorial Day PT – e como estes ocorrem sobretudo em julho e agosto, ultimamente a música de Digimon soa-me a música de verão.

 

Também ajuda o facto de ter passado as minhas férias a ouvir música de Digimon, sobretudo de Tamers, enquanto passeava na praia. 

 

E, claro, um dos pontos altos dos encontros do Odaiba Memorial Day é sempre cantar estes temas em coro com outros fãs. Com ou sem acompanhamento instrumental, com ou sem bebida – sim, este ano o António trouxe vinho do Porto. Diz que ficou com pena de não ter aberto a garrafa mais cedo, para começar logo a cantoria… mas eu pelo menos não precisava. 

 

É um crime nenhum destes temas estar no Spotify. No dia em que adicionarem todo o catálogo de Digimon a esta plataforma – incluindo versões acústicas/memoriais/alternativas, bem como as versões em português – eu adiro em permanência ao Premium.

 

Ora, esta introdução já vai longa, falemos então sobre a banda sonora de Tamers. Gosto de The Biggest Dreamer mas, no que toca a aberturas, fica atrás de Butter-fly e Target nas minhas preferências. 

 

 

Por outro lado, este é capaz de ser o único caso em que, na dobragem portuguesa, tanto a interpretação das aberturas e dos encerramentos não ficou nada má. A versão portuguesa de The Biggest Dreamer é bastante popular na nossa comunidade de fãs. Sofre do mesmo problema da versão portuguesa de Butter-fly, ou seja, tem uma mulher tentando cantar como um homem. No entanto, gosto das pequenas variações na melodia, dão personalidade. O último “Digimon!” no final foi bem sacado.

 

Na verdade, gosto mais dos encerramentos. Tanto das versões originais como as portuguesas – um shout-out para a Teresa Macedo, que interpretou as versões em PT-PT (as duas, certo?). Estas músicas não são fáceis de cantar. 

 

Durante muito tempo, não consegui escolher uma preferida entre os dois encerramentos.– mesmo agora a escolha não está gravada em pedra – mas acho My Tomorrow irresistível. Tem uma musicalidade menos convencional, conseguindo alternar entre um ritmo mais rápido e alegre e um mais pausado e sentido sem soar desconjuntado. A melodia é tão contagiosa como as melhores de AiM.

 

Tenho um apreço particular pela versão memorial – que conheci quando o António a pôs a tocar num dos podcasts. Esta é cantada pelas vozes das Treinadoras, respetivos Digimon e Culumon. Sim, isso inclui o Leomon. Soa engraçado no meio de tantas vozes femininas.

 

Esta versão, aliás, bem como a nossa cantoria no Odaiba Memorial Day (eu era uma das únicas meninas), faz-me ter pena por não existirem mais versões masculinas de temas da AiM. Soam bem. 

 

 

O segundo encerramento de Tamers é o preferido dos fãs – pelo menos os da nossa comunidade portuguesa. Days ~Aijou to Nichijou~. Em contraste com My Tomorrow, mais leve, Days é uma power ballad com um travo melancólico – que até condiz com o tom da segunda metade da série, sobretudo nas últimas duas partes. Mesmo a letra, sobretudo na versão portuguesa, parece aludir aos eventos finais de Tamers.

 

Não admira que seja tão popular.

 

Depois, temos os habituais temas de digievolução. E, vá lá, o das Cartas Escolhidas. Nenhum deles é um Brave Heart, claro, porque esse tema estará sempre ensopado até aos ossos com nostalgia, mas todos cumprem o seu papel. 

 

Gosto muito de Slash. Tem, à semelhança de Butter-fly e Target algumas influências de punk pop que me dão vontade de ouvir estas canções em contexto de concerto – a sério, quando oiço Slash imagino sempre o cantor em palco dando headbangs ao estilo de Hayley Williams pré-After Laugher (o que, pelos vistos, dá cabo das costas de qualquer um ). Gosto um bocadinho menos do tema de digievolução, mas mantém-se uma boa tradição de 02: sequências digievolutivas sincronizadas com a música. 

 

Por sua vez, foi uma excelente ideia criarem três versões diferentes para One Vision, a música das formas Extremas – uma para cada um dos protagonistas. A minha preferida é a da Sakuyamonobviamente.

 

 

Depois, temos as chamadas Insert Songs e/ou Character Songs/músicas de personagens. As músicas de Culumon – Culu Culu Culumon – e do BeelzebumonBlack Intruder que, agora vejo, parece o avô japonês de Uptown Funk – são muito giras. Também gosto imenso de Fragile Heart, a música que soa quando o Culumon usa a Digievolução Brilhante e tudo o que se mexe passa ao nível Extremo.

 

Mas a minha absoluta preferida em Tamers é 3 Primary Colors

 

Já conhecia este tema antes de ver Tamers, dos podcasts do Odaiba Memorial Day Portugal. Sempre a achei bonita, mesmo desconhecendo o contexto: misturando órgão com guitarra acústica e percussão leve, vozes de crianças. 

 

3 Primary Colors é interpretada pelos mesmos atores que dão voz ao trio de protagonistas (mais sobre isso já a seguir). Existe, no entanto, uma versão (mais) acústica, alternativa, interpretada por Onta Michihiko, AiM e Wada Kouji, que em nada fica atrás da original. 

 

Dizia eu que 3 Primary Colors é cantada pelas vozes de Takato, Ruki e Jian. Se olharmos para a letra (ou, vá lá, as traduções da mesma), vemos que cada um canta sobre os conflitos pessoais (ou pelo menos parte deles) que são explorados na história. Takato e a sua inexperiência, Ruki e o seu carácter solitário, Jian e a sua relutância em lutar. 

 

 

No refrão, os três comparam-se a si mesmo às três cores primárias – e, de facto, cada um dos três protagonistas tem uma cor associada às suas digievoluções. A de Takato é o vermelho, a de Ruki é o azul, a de Jian é o verde. Como aprendemos na Físico-Química do oitavo ano (ou do sétimo?), estas são as cores primárias da luz – não as da arte, o ciano, o mangenta e o amarelo.

 

Um aparte rápido: num dos podcasts deste verão, o António a certa altura referiu que, mais para o final, passaria “a música dos tinteiros” em especial para mim. Demorei uns bons quarenta e cinco minutos a perceber do que estava a falar…

 

Como dizia, os protagonistas equiparam-se a cores primárias. De início não se querem misturar, querem conservar a pureza das suas cores. Mas acabam por reconhecer que, se tiverem coragem para se unirem uns aos outros poderão criar um espectro inteiro de cores novas resplandecentes.

 

É uma metáfora linda, mas não acho que faça assim tanto sentido no contexto de Tamers. Mesmo tendo demorado a formar equipa, aqui os conflitos entre humanos, sobretudo entre os protagonistas, são relativamente poucos. Pelo menos quando comparados com o universo de Adventure. Mas, não sejamos hipócritas, 3 Primary Colors merece que se ignore a ligeira incoerência. 

 

Enquanto estava a escrever o primeiro rascunho deste texto, descobri uma versão espanhola de 3 Primary Colors, cantada por fãs. Não é nada má – só acho que a voz de Jian desafina um bocado. Faz-me sonhar com uma versão portuguesa… Outra coisa que percebi há pouco tempo é que o tema do anime de Pokémon baseado na música de créditos dos jogos da segunda geração tem uma emotividade muito parecida à de 3 Primary Colors.

 

 

O que torna tudo tão agridoce que dá vontade de chorar, para além da instrumentação, é o facto de 3 Primary Colors soar durante o traumático final de Tamers. Já fui falando sobre este momento ao longo desta análise: o facto de a ativação do Shaggai, para neutralizar o D-Reaper, implicar a expulsão dos Digimon do Mundo Real. 

 

Ninguém dá duas horas aos miúdos para se despedirem dos seus companheiros, como Adventure – nem dois minutos, quanto mais duas horas. Os Digimon são-lhes literalmente arrancados dos braços. Naturalmente, todos choram que nem umas Madalenas, desde Shaochung a Jiang-yu, audiência inclusive. 

 

É que ninguém merece. Ninguém! Depois de tudo o que estes miúdos passaram para se livrarem do D-Reaper, é assim que o destino os recompensa? Dito isto… a verdade é que o imbróglio do D-Reaper complicara-se tanto que nunca poderia ter uma solução fácil. Como vimos antes, em Tamers não há soluções fáceis.

 

Uma pessoa quase fica com raiva aos miúdos de Adventure. Eles também tiveram a sua dose, é certo, sobretudo em Tri – tanto os oito originais de Adventure como o elenco de 02 – mas não foi pior que aquilo por que os miúdos de Tamers passaram. No fim, tiveram direito a conservar os seus Digimon até à idade adulta e mais além – ao contrário de Takato e dos outros.

 

Em todo o caso, nos últimos segundos em que estão juntos, os miúdos e os Digimon trocam promessas de que se voltarão a ver, mais cedo um mais tarde, de uma forma ou de outra. Mais sobre isso adiante.

 

 

Antes de cair o pano, há tempo para um breve epílogo. Nada do género de 02, atenção, apenas algumas cenas que terão ocorrido algum tempo depois – alguns meses, no máximo. Vemos Takato com os seus colegas de turma – Juri, Hirokazu e Kenta incluídos – todos aparentemente bem. No que toca a Juri é um alívio. Temos também um vislumbre rápido de Yamaki, na padaria dos pais de Takato.

 

É uma pena não mostrarem nem Ruki, nem Jian, nem Shaochung, nem mesmo Ai e Makoto. Não dá para saber como estarão a lidar com a separação. Bastavam dois segundos de cada um deles, um vislumbre de Jian e a irmã com o pai, de Ruki com a mãe e a avó, de Ai e Makoto a brincar, quiçá fazendo desenhos de Impmon. 

 

Um dia, Takato passa pelo casinhoto onde Guilmon vivia. Vislumbra-se um DigiGnomon no céu e, de facto, quando o jovem entra no casinhoto, vê aquilo que parece ser uma brecha para o Mundo Digital. 

 

E é assim que termina Tamers: com a vaga esperança de que o reencontro não seja de todo impossível.

 

A dobragem portuguesa tem o mau gosto de mostrar imediatamente imagens de Digimon Frontier. Nem sequer tem a delicadeza de passar os créditos finais. Pelas Bestas Sagradas, este foi um final doloroso, de uma série que teve momentos extremamente sombrios! Deem-nos um minuto antes de partirmos para outra. Outra em que, ainda por cima, nem sequer há companheiros Digimon!

 

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Falta de noção…

 

Queria agora falar um pouco sobre os CDs Drama (ou CDs Dramas? Qual é o plural correto?) que explicam o que acontece após os eventos de Tamers – isto é, partindo do princípio de que fazem parte do cânone oficial. 

 

Segundo Message in a Packet, que decorre cerca de um ano após o final de Tamers, Takato tentou atravessar a brecha que vimos na cena final de Tamers, mas chocou com a firewall criada pelo Hypnos para cortar a passagem de um mundo para o outro. Em todo o caso, Jian planeia seguir a carreira do pai e procurar maneira de regressar ao Mundo Digital. Pelo meio, arranja uma forma de os Treinadores gravarem mensagens de voz para enviarem aos seus companheiros Digimon.

 

Confesso que estou arrependida por não ter lido a tradução deste CD Drama antes da preparação deste texto. Message In a Packet está recheado de pistas importantes sobre o desenvolvimento dos miúdos. Algumas são coisas que já sabíamos ou podíamos deduzir dos eventos de Tamers. Outras dão indicações do impacto que a reviravolta final da série teve no elenco.

 

Por exemplo, para começar, gostei de saber que Juri deixou uma mensagem tanto para Culumon como para Impmon. Em relação à mensagem para o primeiro, achei curiosa a maneira como a jovem se revê em Culumon: uma criatura amorosa, que se dá bem com toda a gente, embora não tenha um melhor amigo e ande muitas vezes sozinho. 

 

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Acredito, no entanto que Juri está a projetar-se em Culumon. Sim, o pequenote tem algumas coisas em comum com ela: ambos são seres que escondem muito por detrás da sua fronte amigável. Mas a mim – e posso estar enganada – nunca fiquei com a impressão que Culumon se sentisse sozinho, como Juri. Talvez antes de conhecer Takato, Jian e os outros humanos, mais os respetivos companheiros Digimon; talvez nos períodos em que esteve separado dos Treinadores, no Mundo Digital. Tirando isso, Culumon sempre me pareceu satisfeito por ser o companheiro de toda a gente e de ninguém em particular. 

 

Em relação à mensagem para Impmon, é um dos casos em que não é dito nada que surpreenda por aí além. Juri deixa uma palavra sobre Ai e Makoto, no final, o que me faz pensar se Jian se lembrou deles para estas mensagens. Talvez não se tenha lembrado, talvez até se tenha lembrado, mas não conseguiu localizar os dois irmãos.

 

É capaz de ser melhor assim. Ai e Makoto são muito pequeninos. Talvez não comprendessem bem a intenção daquelas mensagens e tudo aquilo ainda os deixasse ainda mais tristes. 

 

Por sua vez, Ruki foi quem reagiu pior à separação, tendo sido a última a aceitar gravar a sua mensagem. Não me surpreende. Vimos antes, no teto dedicado à jovem, que Ruki construíra uma boa parte a sua identidade em torno dos Digimon. De início só lhe interessava ganhar combates, primeiro no jogo de cartas, depois com Renamon. Mais tarde, quando se Renamon se tornou a sua melhor amiga (na mensagem Ruki descreve-a como a irmã mais velha que nunca teve), essa identidade centrou-se nos propósitos mais heróicos de ser Treinadora. 

 

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É natural, assim, que Ruki se tenha sentido perdida durante algum tempo depois da separação. Não podia voltar ao jogo de cartas, pois este recordava-lhe demasiado Renamon (pergunto-me, no entanto, se Takato, Hirokazu e os outros ainda jogam, depois dos eventos de Tamers). É certo que nunca se deu melhor com a mãe e a avó, mas aos dez, onze anos, há coisas sobre as quais não falamos com adultos. 

 

Por outro lado, o CD Drama dá a entender que Ruki ainda não convive muito com Takato e os outros. A jovem não consegue sentir a esperança que os outros sentem de voltar a ver os seus Digimon porque, da experiência dela, pessoas que partem não costumam voltar (sim Konaka, a ausência do pai de Ruki não tem nada a ver com o caso…).

 

Ruki não o sabe, mas tudo o que ela sente é normal. Quem é que sabe quem é aos dez, onze anos? Eu tenho quase o triplo da idade dela e só agora é que começo a descobrir. Ela e os amigos ainda nem sequer começaram a adolescência – não tarda nada as coisas vão ficar ainda mais confusas. 

 

Em todo o caso, depois de despejar o que lhe vai na alma nesta mensagem, Ruki parece sentir-se melhor consigo mesma. É uma coisa de introvertidos como nós: estamos tão habituados a guardar tudo dentro de nós, a ficarmos presos nas nossas próprias cabeças. Esquecemo-nos que faz bem desabafar. Ruki conclui que ela, Renamon, Takato e os outros e respetivos companheiros Digimon são uma família, que um dia estariam juntos de novo e que, a partir daquele momento, tentaria ser melhor enquanto pessoa. Quero acreditar que Ruki cumpriu essa promessa – ou pelo menos que começou a conviver um pouco mais com Takato, Juri e os outros Treinadores.

 

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Muitas das reflexões em Message in a Packet fazem-me pensar que uma sequela com uma premissa básica semelhante a Tri – isto é, alguns anos após os eventos de Tamers, o elenco com diferentes graus de dificuldade em aceitar a passagem do tempo e em deixar o passado no passado – poderia funcionar. Podiam manter a limitação de os Digimon não poderem regressar ao Mundo Real – era uma boa desculpa para a história decorrer quase toda no Mundo Digital, desenvolvendo e explorando um pouco esse mundo. 

 

É só uma ideia. Qualquer sequela de Tamers teria de ser pelo menos co-escrita por Konaka (o poster acima não é oficial, é uma fanart). E a verdade é que... ele já teve algumas ideias. 

 

O que nos leva ao segundo CD Drama, lançado no ano passado, escrito por Konaka: Digimon Tamers 2018. Este decorre dezoito anos após os eventos de Tamers, quando os protagonistas já têm vinte e oito anos (eles nasceram em 1990, como eu!). Os protagonistas é como quem diz… reencontramos Jian, Ruki e Juri. Takato, no entanto, desaparecera misteriosamente da face da Terra (possivelmente no sentido literal da expressão) cerca de um ano antes. 

 

Com uma nova ameaça vinda do Mundo Digital, Nyx (o novo Hypnos) cria uma réplica de Takato aos treze anos de idade. Este reencontra Jian e Ruki já adultos. Os três depois reúnem-se com Guilmon e Terriermon… mas não com Renamon. É então que a nova ameaça se materializa no Mundo Real – o Malice Bot, uma criatura nascida na chamada Dark Net, ainda mais poderosa que o D-Reaper. Na cena final do CD Drama, Renamon aparece e aparenta estar de alguma forma envolvida com esta nova criatura. 

 

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Estranho? Confuso? Também achei. Parece, lá está, conceito para uma sequela a Tamers, o guião de um episódio-piloto que nos atira logo para o clímax da ação. Como se, por exemplo, Tri tivesse começado com Ordinemon aparecendo no Mundo Real. E a existência de uma réplica pré-adolescente de Takato reencontrando Guilmon, quando o Takato adulto e verdadeiro anda por aí algures é deliciosamente retorcida.

 

Gostava de ver uma continuação para esta história. Ou melhor: que fosse expandida para uma nova série, quer de OVAs ou de episódios semanais. No entanto, tanto quanto sei, não existem planos para isso. Nem para qualquer género de sequela a Tamers num futuro próximo. O foco da Toei parece estar noutro lado (mais sobre isso adiante). Fica esta ponta por atar. Uma ponta gigantesca, diga-se.

 

E com isto penso que já cobri todos os aspetos de Tamers que queria e mais alguns. Esta análise já vai em mais de trinta mil palavras e mesmo assim houveram coisas se que não falei, por um motivo ou por outro. 

 

Penso que já deve ter ficado patente que eu adoro Tamers. Para além de ter todos os elementos que adoramos em Digimon – um elenco forte, tanto de humanos como de Digimon, que se desenvolve com a história, combates, digievoluções fixes, boa música – vai ainda mais longe e subverte expectativas. Tanto em termos de Digimon como de ficção em geral, sobretudo dirigida a crianças. 

 

Não existe bem e mal claramente definidos. Os Digimon, como referido várias vezes, nem sempre são amigáveis e regem-se pela lei do mais forte. Figuras de autoridade cometem erros. Digimon morrem e não regressam à vida. Conflitos não se resolvem apenas num episódio – volto a repetir, em Tamers não há soluções fáceis. Finalmente, pode debater-se se isso foi o mais adequado para uma série dirigida ao público infantil, mas Tamers não teve medo de entrar em territórios sombrios.

 

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Queria deixar uma nota para a dobragem portuguesa que, como dei a entender antes, está bastante boa na minha opinião. Já falei sobre a voz do Impmon e da Ruki (bem, suponho que neste caso devo chamá-la Rika) de passagem. As dobragens portuguesas em geral têm a mania de dar vozes mais próximas de vozes adolescentes, ou mesmo de adultos, a crianças bem mais novas. Makoto, por exemplo, não tem mais de três anos mas fala como se fosse dez anos mais velho, o que é um bocadinho ridículo. No entanto, pelo menos no caso de Rika, até funciona bem – porque, lá está, ela fala com a firmeza de uma miúda cinco anos mais velha. 

 

Tirando isso, e a voz estranhamente metálica de Taomon, não tenho grandes defeitos a apontar à dobragem portuguesa. Está acima da média, pelo menos no que toca a Digimon.

 

Se gosto mais do universo de Tamers do que de Adventure? Não sei dizer. Acho que preciso de mais tempo para decidi-lo: foram seis meses seguidos imersa neste mundo. Penso que Tamers é mais consistente, mais madura, mas Adventure tem um grande valor nostálgico para mim. Duvido que alguma vez seja ultrapassada. 

 

Se tivesse de responder já já, diria que os dois estão ao mesmo nível. E apesar de ainda só ter passado um ano com Takato e os seus amigos – em contraste com Taichi e companhia limitada, que conheço há quase duas décadas – com o tempo imagino-os um lugar semelhante aos oito Escolhidos de Adventure no meu coração.

 

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Está, então, na altura de colocarmos o ponto final nesta análise. Ufa. Como penso ter dito antes, foi há mais ou menos um ano que comecei a ver Tamers pela primeira vez. Há seis meses comecei a ser segunda, já tomando notas para esta análise. Comecei a publicar esta análise em meados de julho e já estamos em finais de outubro. Isto demorou ainda mais do que eu esperava. 

 

Em minha defesa, nunca imaginei que este monstro chegasse às trinta mil palavras. E o mês de outubro está a ser particularmente difícil no meu emprego  – têm havido muitas noites em que não tenho energia para me sentar ao computador. Daí estas duas últimas publicações terem demorado. 

 

Isto foi moroso e deu imenso trabalho mas… foi divertido. Houveram dias mais fáceis do que outros, mas no geral, tirando neste último mês, não tive grandes dificuldades em dar prioridade a esta análise. Nem mesmo quando já tinha a Nintendo Switch Lite e o Let’s Go Eevee. Adorei trabalhar nestes textos. Alguns deles, como os dedicados ao conceito de Treinadores, a Takato, Ruki, Juri e Impmon, saíram-me com relativa facilidade. Mas mesmo aqueles cujo tema considerava menos interessante ficaram mais ou menos ao nível dos outros, depois de algum tempo refinando-os. 

 

No geral, estou satisfeita com esta análise. 

 

O problema é que, depois de meses imersa numa série tão interessante e complexa como Tamers, tenho pouca vontade de partir para outra – para universos como Frontier e Data Squad, que não parecem reunir tanto consenso como Tamers e mesmo Adventure. Frontier, então, já é um meme na nossa comunidade de fãs portugueses, pois todos acham que é a pior temporada de todas. 

 

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Não quero fazer juízos de valor sem ver eu mesma, mas tenho de confessar: uma série de Digimon sem companheiros Digimon não me entusiasma. Nem sequer percebo como poderá funcionar. 

 

Será uma questão de dar algum tempo para limpar o palato. Estou certa de que gostarei de pelo menos um aspeto ou outro das próximas temporadas. E sobretudo, que terei coisas a escrever sobre elas, nem que seja só para dizer mal.

 

Não deve faltar tempo para eu limpar o palato, pois ainda deve demorar até eu começar a escrever sobre Frontier. Já depois de ter começado a publicar esta análise, foi anunciada a data de lançamento do próximo filme de Adventure: Last Evolution Kizuna, a 21 de fevereiro do próximo ano. 

 

Não tenho feito questão de saber todos os pormenores sobre o filme, em parte por ter estado em modo Tamers, em parte para evitar spoilers e para não elevar demasiado as minhas expectativas. Apenas sei que Taichi terá vinte e dois anos e estará a terminar a faculdade, que, abençoadas sejam as Bestas Sagradas, o elenco de 02 estará presente e pouco mais.

 

Pelo meio, diz que vão haver cinco curtas metragens animadas centradas no elenco de Adventure. Segundo este artigo, serão histórias que não encaixaram em Kizuna. Não sei muito bem quando saem – supostamente já deviam ter saído. Talvez escreva sobre elas no mesmo texto, ou série de textos, sobre o filme. 

 

 

E pronto, chegámos ao fim. Depois de seis meses nisto, vou abrandar um bocadinho as coisas com este blogue – tecnicamente já abrandei este mês. Não vou deixar de escrever por completo, até já estou a planear um texto novo, mas, pelo menos nas próximas semanas, não quero sentir a obrigação de passar todo o meu tempo livre à volta deste blogue. Quero terminar o Let’s Go Eevee (neste momento estou em Celadon), quero ir nadar (inscrevi-me na natação livre em setembro), quero participar em mais raids de Pokémon Go. 

 

Quero também ver/rever os filmes de Adventure antes de Kizuna. Só vi parte da versão condensada e super confusa de três deles que é Digimon o filme. Não devo escrever sobre eles no blogue, no entanto – posso é deixar um apontamento ou outro na página. 

 

Obrigada a todos os que acompanharam este verdadeiro testamento ao longo destes meses. Digimon ficará em pausa neste blogue durante algum tempo, mas devera regressar com Kizuna. Regressem também.  

Homeland/Segurança Nacional - segunda temporada

AVISO: Esta entrada contém informações relevantes sobre o enredo de Homeland/Segurança Nacional, pelo que só é aconselhável lê-la caso tenham visto a segunda temporada da série - incluindo o último episódio.
 
 
Depois de uma excelente primeira temporada, as expectativas estavam elevadas para a segunda temporada de Homeland/Segurança Nacional, como podem ver na entrada que publiquei sobre a série AQUI. Agora, que a segunda temporada já acabou, posso dizer que Homeland não desiludiu, que, aliás, é a melhor coisa que passou pela televisão nestes últimos tempos. E as pessoas começam agora a reparar nisso. 
 
Os pontos fortes da primeira temporada são trazidos para a segunda, alguns dos quais com direito a desenvolvimento. Temos Brody agora candidato a vice-presidente dos Estados Unidos, mas à beira de perder o controlo quando se vê obrigado a ter um papel mais ativo nas atividades terroristas de Abu Nazir - a cena do "para quê matar um homem quando se pode matar uma ideia" nunca foi muito credível. Agora percebeu-se que a intenção era infiltrar Brody no topo da hierarquia política.
 
Entretanto, a CIA descobre, finalmente, que Carrie tivera razão desde o primeiro momento, em relação a Brody. O episódio em que este é confrontado e interrogado - Q&A - é o melhor de toda a temporada: intenso, sufocante mas também comovente, deixa-nos pregados ao assento enquanto toda a duplicidade de Brody é desmontada.
 
 
Aqui vira a maré, Brody começa a trabalhar como agente duplo (agente duplo é como quem diz... nesta altura ele já é mais agente triplo ou quádruplo). Algo arriscado, visto que Brody é um homem extremamente desequilibrado, consumido pela quantidade crescente de segredos que é obrigado a manter, pelos papéis que tem de representar, pelos efeitos que a sua duplicidade exerce na sua família. Só mesmo uma pessoa igualmente disfuncional é capaz de o compreender, de o ajudar a conservar a sua sanidade mental - Carrie. Ela, apesar de, supostamente, a sua doença bipolar estar sob controlo, parece sempre à beira de um surto psicótico. E este relacionamento, por um lado retorcido, por outro lado tocante, é o grande motor da segunda temporada de Homeland. Já havíamos tido direito a um cheirinho deste romance na primeira temporada, os guionistas quiseram desenvolvê-lo nesta e fizeram-no bem, na minha opinião. "Amor em tempos de terrorismo", como li na Correio TV de há cerca de duas semanas.
 
Outro ponto forte de Homeland é a dúvida constante, que nunca se dilui, nem mesmo quando Brody começa a trabalhar para a CIA. Estará Brody realmente do lado da CIA ou continuará leal a Nazir? Será que Nazir, Roya e os outros terroristas acreditam em Brody ou desconfiam que ele passou para o lado do inimigo? Estará Carrie de facto apaixonada por Brody ou estará apenas a usá-lo, a mantê-lo sob controlo, para que a CIA chegue a Nazir?

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O último episódio, The Choice, acaba por desiludir um pouco, ao perder demasiado tempo com o relacionamento de Carrie e Brody, agora sem impedimentos - o que lhe retira interesse - e com o arco narrativo dos planos para silenciar Brody, que não dão em nada. Não que seja completamente mau, a parte do atentado esclarece algumas incongruências que se vinham acumulando ao longo da temporada: o vídeo de Brody encontrado por Carrie e Saul em Beirute parece caído do céu - agora percebe-se que a organização terrorista se apoderou do vídeo, gravado aquando do atentado do fim da primeira temporada, para usá-lo contra Brody à primeira oportunidade; o rapto de Brody e consequente reunião com Nazir revelam-se anticlimáticas, o desmantelamento da rede terrorista em solo americano e, mais tarde, a morte de Nazir correm demasiado bem - agora percebe-se que foi tudo planeado por Nazir. Como disse acima, não está totalmente mau mas podia ter sido feito de outra forma, cortando-se na parte do relacionamento estabilizado e no potencial silenciamento de Brody e investindo-se mais na parte do atentado e de tudo o que a ele levou.

Em todo o caso, o final da segunda temporada deixa boas premissas para a terceira: será necessário reorganizar a CIA - estou particularmente curiosa em relação à liderança de Saul, se ele se mantiver como líder - desvendar o atentado e Carrie terá a tarefa adicional de limpar o nome de Brody - algo que será difícil pois a armadilha que lhe foi montada foi trabalho de mestre.

 
Quero, sobretudo, ver se Homeland conseguirá manter o nível de qualidade destas duas primeiras temporadas, sobretudo agora que a série começa a ganhar popularidade, como já mencionei acima. Tenho medo que lhe aconteça o que aconteceu a How I Met Your Mother, por exemplo. Durante os primeiros três, quatro, vá lá, cinco anos, foi muito bem feita mas começou a descarrilar na sexta temporada, mais ou menos na altura em que se tornou a série da moda.

Homeland tem tido, até agora, uma (outra) coisa boa que é o facto de não enrolar. Pode, aliás, parecer, às vezes, que a ação se desenrola demasiado depressa mas, tendo em conta o desequilíbrio das duas personagens principais, tal acaba por ser inevitável. E, de qualquer forma, acho-o preferível, depois de não sei quantas séries arrastando enredos interminavelmente, episódio atrás de episódio, temporada atrás de temporada. Como tal, não me parece que Homeland dure muito mais temporadas sem perder qualidade. No entanto, já merece créditos por estes ótimos dois primeiros anos. Espero é que os guionistas e/ou produtores saibam gerir tudo isto de modo a que esta atinja aquilo que, hoje em dia, é cada vez mais raro numa série: manter-se  acima da média no que toca à qualidade desde o episódio piloto até ao último dos últimos.

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