Coldplay - Ghost Stories (2014)
Ghost Stories é o sexto álbum de estúdio, editado pela banda inglesa Colplay. Foi lançado a 19 de maio do ano passado. Eu, na verdade, sinto alguma relutância em classificá-lo como "álbum", visto este só possuir nove faixas. Considero-o mais um EP. Mas isto é apenas um pormenor.
Antes de dar o meu parecer sobre este trabalho, quero relembrar que só comecei a ouvir regularmente músicas da banda há menos de um ano. Sei muito pouco sobre os Coldplay - o pouco que conheço sobre os membros da banda descobriu-o através da minha irmã. Ainda nem sequer decidi qual é a minha música preferida deles, o meu álbum preferido. Não me sinto, portanto, à vontade para fazer uma crítica exaustiva, faixa a faixa, como faria habitualmente.
Se quisermos comparar Ghost Stories com os álbuns anteriores dos Coldplay, o primeiro, Parachutes (de que menos gosto), é o mais parecido. Sobretudo pelo tom melancólico e lento de quase todos os temas. Ghost Stories é, acima de tudo, um álbum fortemente conceptual. Todas as faixas têm um tom etéreo, umas mais do que outras, de tal maneira que todo o disco (incluindo até A Sky full of Stars) parece uma única canção com múltiplas variações. Além disso, acontece o mesmo que acontece em Viva la Vida: o final de O é compatível com o início de Always in my Head, de tal forma que é possível ouvir o álbum em loop.
Em termos de letra, de temática, Ghost Stories é o equivalente ao Goodbye Lullaby para os Coldplay. Foi editado escassas semanas depois do anúncio da separação do vocalista, Chris Martin, da esposa e mãe dos seus filhos, Gwyneth Paltrow. Não é de admirar que este seja um álbum fortemente introspectivo, intricado, em que praticamente todas as músicas deste álbum descrevam diversas fases do processo emocional de uma separação.
Especificando, em Always in My Head, o narrador revela-se assombrado por recordações. Semelhante a esta na sonoridade fortemente etérea é Anothers Arms, que se caracteriza pela amargura que o narrador sente ao imaginar a amada "nos braços de outro". O terceiro single, True Love, tem essencialmente a mesma mensagem que a música Lie to Me de Bryan Adams: o narrador pede à amada que lhe minta, pois não se sente com forças para enfrentar a verdade. Em Magic também há um certo grau de negação. O narrador teima em agarrar-se às coisas boas do seu relacionamento, em acreditar que aquilo tem condições para funcionar.
Magic é uma das músicas de que mais gosto em Ghost Stories, de resto. É uma balada em tom grave, com algumas semelhanças com Madness, dos Muse. Foi uma das músicas com que fomos martelados na rádio ao longo de 2014, mas esta não cansa tanto como outras. Gosto bastante da parte com a guitarra acústica antes da última estância.
A minha preferida em Ghost Stories é o quarto single, Ink. Tem a roupagem de uma música alegre mas, ao ouvir com cuidado, nota-se que é dolorosamente triste. Chega a dar-me vontade de chorar. A letra estabelece uma comparação entre um amor e uma tatuagem: tal como li numa crítica, fazer uma tatuagem dói, mas removê-la dói ainda mais. Os últimos versos são a melhor parte da canção, transmitindo bem - tanto no que toca à letra como à interpretação de Chris Martin - o desejo doloroso que o narrador continua a sentir pela amada. O vídeo que criaram para a música, que mostro acima, ilustra bem a história agridoce contada por Ink.
Midnight foi uma das primeiras faixas do álbum a serem disponibilizadas para audição. Na altura, dividiu a opinião dos fãs, mas, depois de se ouvir o disco todo, eu considero que se encaixa no conceito. É a mais eletrónica de todo o CD, encaixando-se no tom etéreo mas assumindo um carácter ainda mais misterioso e fantasmagórico. É a canção que melhor se encaixa no conceito Ghost Stories pois tanto a sonoridade como a curta letra - que fala de sentimentos de desorientação, perda de esperança, procura de um caminho - dão a ideia de alguém perdido num mar em tempestade ou numa floresta escura. Ou mesmo, se quisermos pegar na mitologia típica das histórias de fantasmas, em espíritos presos à Terra, incapazes de avançarem para "a luz". As notas eletrónicas em cascata antes da última estância ilustram bem o sentimento de confusão.
Queria falar, agora, das músicas de que não gosto em Ghost Stories. Oceans parece retirada de Parachutes, com a monotonia e falta de sal que caracterizam várias das faixas do álbum de estreia dos Coldplay, que o colocam no fim da minha lista de preferências. A Sky Full of Stars está no extremo oposto. Produzida por Avicii, é claramente uma faixa feita para a rádio, para aqueles que foram atraídos pelos singles mais alegres de Coldplay. É, no entanto, uma faixa apenas mediana, sem a epicidade de Viva la Vida ou Paradise, tornando-se cansativa após infinitas repetições na rádio.
Por fim, a última faixa de Ghost Stories é outro destaque pela positiva. Pegando de novo na comparação com Goodbye Lullaby, O é o equivalene a Goodbye, no sentido em que reflete a fase de aceitação. A letra de O pega na metáfora de um bando de aves migratórias para refletir sobre o carácter imprevisível e temporário do amor. Afinal, todos os romances terminam um dia, quer seja com uma separação quer seja com a morte.
Eis um pensamento adequado a vésperas do Dia de São Valentim.
Em suma, considero que Ghost Stories, de uma maneira geral, é um trabalho bem conseguido. Em termos de conceito seria excelente, se não fosse o claro outlier A Sky Full Of Stars. É um álbum mais complexo do que, se calhar, alguns esperariam de uma banda mainstream como os Coldplay. Um álbum que exige múltiplas audições e consulta das letras para ser compreendido na totalidade. Sabe bem analisar música assim, numa altura em que as infinitas horas de rádio a que estive sujeita no ano passado me deixaram algo desencantada com a música em geral. Não quero assumir-me abertamente como fã mas, depois deste álbum, estarei atenta ao que os Coldplay forem fazendo. E se, por acaso, eles passarem por Portugal e a minha irmã quiser ir vê-los,terei muito gosto em acompanhá-la ao concerto.