Primeira publicação de 2017. Feliz Ano Novo! Esta é a segunda parte do meu texto sobre as músicas que me marcaram em 2016. Primeira parte aqui.
Purpose
Bem, começámos por Lorde, passámos por Queen, David Guetta, agora estamos em… Justin Bieber. Até há relativamente pouco tempo, à semelhança de muito boa gente, não ia muito com a cara do miúdo. Não tanto por causa da música dele. Mais pelas suas fãs, cujos modos histéricos se transformaram num meme.
Sejamos sinceros, quase todos nós, meninas sobretudo, passámos por fases de histeria por uma celebridade, algures entre os doze e os dezasseis anos. A diferença é que agora, com as redes sociais, os chamados fanboys e fangirls fazem muito mais barulho. A verdade é que não sinto grande respeito por Bieber por ter deixado que isso tudo lhe subisse à cabeça - é certo que ela era um miúdo e a histeria à volta dele era mesmo muita, mas os adultos na vida dele podiam ter feito mais, se calhar.
No entanto, quando ele lançou o último álbum, Purpose, e comecei a ouvir os singles na rádio, até gostei de alguns. Love Yourself foi uma daquelas tocadas na rádio até ao enjoo, mas é bastante encantadora na sua simplicidade e ironia. De Sorry gosto imenso, com aqueles vocais algo fantasmagóricos no início. Também gosto da música dele com o DJ Snake, Let Me Love You.
Mas não é dessas músicas que quero falar. Quero falar de Purpose, o tema-título do álbum e… a música da final do Euro 2016 para o herói da mesma, Éder. Depois de ele o ter referido, no rescaldo do Europeu, fiquei curiosa e fui ouvir a música.
Purpose é uma canção muito simples, só voz e piano. O seu ponto forte é a letra - estou até surpreendida por o Bieber ter escrito isto, tendo em conta aquilo que conhecemos dele. Trata-se, essencialmente, de uma carta de despedida (na hora da morte?), em que o narrador agradece a alguém (pode ser a amada, um amigo ou familiar, pode mesmo ser Deus) a quem se abriu e que o ajudou a encontrar a de espírito e um sentido para a sua vida. Eu dispensava, no entanto, a inclusão do discurso de Bieber, recheado de clichés - estraga um pouco a canção.
Tendo em conta aquilo que descobrimos acerca do Éder depois da final de Paris (só depois. Que antes, quando lhe chamavam “coxo” ou “cone”, ninguém queria saber), não é de surpreender que Purpose o tenha marcado. Suponho que a letra o tenha marcado. Suponho que a letra o tenha feito pensar nos momentos mais difíceis da sua vida (e não foram poucos) e nas pessoas que o ajudaram a ultrapassá-los. Em particular, Susana Torres, a famosa mental coach que ajudou Éder a acreditar em si mesmo outra vez, a quem Éder dedicou o inesquecível golo da final.
Só sei que estarei eternamente grata a essas pessoas, que estiveram ao lado do Éder quando ele mais precisava, quando o resto do Mundo lhe virava costas. Permitiram que ele chegasse à final de Paris e fizesse aquilo que mais ninguém - incluindo nomes bem mais prestigiados do futebol português - fora capaz de fazer: marcar um golo que oferecesse a Portugal o seu primeiro título em Seleções. Como me tenho fartado de repetir, algo com que sonhava desde os meus catorze anos.
Sum 41
Começámos com o indie pop (?) de Lorde, passámos por uma das melhores bandas de todos os tempos, passámos por artistas mais mainstream e vamos acabar com punk rock - duas bandas que, por sinal, lançaram álbuns no mesmo dia, após alguns anos de pausa.
Os Sum 41 têm estado entre as minhas bandas preferidas desde, sensivelmente, 2011. No entanto, visto que eles não editaram nada nos últimos cinco anos, enquanto outros artistas de que gosto lançavam música, existiram alturas em que mal me lembrei deles. Pelo meio, o baterista Steve Jocz (a.k.a. Stevo-32) deixou a banda, Deryck quase foi desta para melhor por causa do álcool, conforme referi há dois anos e Dave “Brownsound” Baksh regressou à banda.
Finalmente, em outubro deste ano, os Sum 41 editaram 13 voices. Como ainda não tive oportunidade para me sentar e ouvir as músicas com ouvidos de ouvir, não tenho uma opinião formada sobre o álbum. Para já, uma das que gosto mais é Breaking the Chain. Também gosto dos singles God Save Us All e War. De qualquer forma, conto fazer uma análise mais detalhada a 13 voices em breve, aqui no blogue.
Entretanto, no dia 20 de janeiro, os Sum 41 vão atuar no Coliseu dos Recreios e eu vou lá estar. Os bilhetes não são caros (pelo contrário, estão a metade do preço a que me habituei nos últimos anos) e consta que eles são bons ao vivo. Mas vou, sobretudo, porque, se houve coisa que aprendi com o que aconteceu ao Deryck (e, também, com os vários ícones musicais que perdemos este ano, sendo George Michael o mais recente) é que a vida é curta para desperdiçarmos oportunidades como esta. Tal como referi antes, concertos são uma forma de celebrarmos a música com os seus criadores. Se tenho possibilidades para isso, não tenciono falhar um único concerto de um artista ou banda de que gosto.
É de facto uma coisa curiosa: duas bandas de peso no punk rock lançaram no mesmo dia o primeiro álbum após da batalha dos respetivos vocalistas com dependências - no caso de Billie Joe Armstrong, falamos de dependência de substâncias. Confesso que tenho pouca tolerância para estas coisas. Quem não conhece os efeitos do álcool e das drogas hoje em dia?
Não gostei assim muito de ¡Uno!, ¡Dos!, ¡Tré!, tirando uma mão-cheia de músicas. O próprio Billie Joe admitiu, recentemente, que a trilogia foi uma má ideia, que a decisão terá sido influenciada pela sua toxicodependência. Com tudo isto, à semelhança do que aconteceu com os Sum 41, os Green Day foram ficado para trás nas minhas prioridades musicais.
No entanto, com a edição de Revolution Radio, estou a dar-lhes uma nova oportunidade. Até porque, dozes anos após American Idiot, a banda está de novo politicamente ativa - o que nunca foi tão importante por motivos óbvios. Até agora, ouvi Revolution Radio ainda menos vezes que 13 voices, mas também tenciono ouvi-lo melhor e escrever sobre ele aqui no blogue.
E foi esta a música de 2016. Longe vão os tempos em que o assunto principal deste blogue era música: contam-se pelos dedos de uma mão os textos dedicados ao tema no ano que terminou agora. Tirando estes, de fim de ano, o último foi publicado em maio. É possível que aqui o estaminé tenha mais publicações sobre Pokémon e Digimon. Não que isso seja uma coisa má. Pelo contrário, gosto que o blogue tenha diversidade, que capte audiências diferentes. Conforme referi no início deste texto, criei o Álbum para escrever sobre o que me apetece e tenho vários interesses.
Por outro lado - e julgo que já o referi antes aqui no blogue - mesmo que nem sempre escreva sobre música por si só, esta é um denominador comum a praticamente todas as minhas “maluqueiras”. Montei vários AMVs com cenas de filmes de Pokémon, referi Everglow na minha carta aberta a Misty e, na minha série de textos sobre os jogos, falo sempre sobre a banda sonora. Conforme me farto de repetir, Digimon não seria a mesma coisa sem Brave Heart ou Butterfly. E, claro, a música é uma das mais importantes fontes de inspiração na minha escrita.
De qualquer forma, talvez em 2017 possa compensar a falta de música de 2016. Vários dos meus artistas preferidos deverão lançar material novo este ano. Já falei da Lorde. Os Linkin Park têm, também, passado os últimos meses deixando pistas promissoras sobre o seu novo álbum. A Avril Lavigne anunciou no dia de Natal que vai lançar um disco em 2017, dando a entender que refletirá a sua luta contra a Doença de Lyme (tendo em conta o que aconteceu com os seus dois álbuns anteriores, eu apontaria para um lançamento em novembro ou dezembro). Por fim, os Paramore terão passado 2016 quase todo trabalhando em música nova - não deverão demorar muito mais a lançar qualquer coisa. Depois de 2015 e 2016 terem sido pouco prolíficos em termos de música dos meus artistas preferidos, estes potenciais lançamentos deixam-me entusiasmada. A confirmarem-se, podem contar com análises a esses álbuns - e talvez também aos singles - aqui no blogue.
2016 foi um ano estranho. Teve pontos muito baixos para a Humanidade em geral - vários atentados terroristas, Brexit, Donald Trump. No entanto, também teve coisas muito boas, na minha opinião. O Euro 2016 foi uma delas, obviamente. Outra diz respeito aos filmes de Tri (Ketsui e Kokuhaku) e ao Odaiba Memorial Day. E, claro, uma das melhores coisas foi Pokémon Go e tudo o que fez pela franquia - no seu vigésimo ano de vida, ainda por cima.
O meu desejo para 2017 é, então, que tenha tantas coisas boas como 2016 (e uma das melhores seria livrar-nos de Donald Trump, de uma forma ou de outra) e, se possível, que tenha menos coisas más. Obrigada por terem estado desse lado em 2016. Continuem por aí em 2017 pois eu, o blogue e a página do Facebook não vamos a lado nenhum. Feliz Ano Novo!
Já não publicava aqui no Álbum há algum tempo. Tem-me faltado tempo e vontade por estar em época de exames. E, na verdade, tem-me faltado assunto, numa altura em que começo a ficar sem ideias para Músicas Ao Calhas. Esta entrada é uma cujo planeamento já estava na gaveta há algum tempo. Não queria estar a escrever novamente sobre uma música de Avril Lavigne - já falei sobre ela em duas entradas, no passado recente e, visto que em princípio lançará o seu single Rock 'n' Roll no próximo mês e um álbum novo em setembro, permanecerá um assunto recorrente ao longo dos próximos tempos. No entanto, as ideias alternativas que possuo dizem respeito a músicas dos Paramore ou de Bryan Adams, outros suspeitos do costume. Peço, assim, desculpa pela falta de variabilidade no meu blogue.
Posto isto, passemos ao assunto desta entrada: Innocence e outras músicas abordando temas semelhantes.
"I think about the little things that make life great" Innocence faz parte de The Best Damn Thing, o terceiro álbum de estúdio da Avril. Co-composta com Evan Taubenfeld, produzida por Rob Cavallo - responsável por Iris, dos Goo Goo Dolls, uma das músicas preferidas da cantautora canadiana e uma das inspirações para Innocence - ainda hoje é considerada uma das melhores baladas da cantora, das que melhor explora a sua voz. Os vocais encontram-se, de facto, muito bem colocados nesta faixa, a voz dela soa muito pura. Innocence é conduzida pelo piano, ao qual se juntam acordes de guitarra acústica e um arranjo de violinos. Estes são um dos grandes pontos fortes da faixa, pela maneira como vão fluindo, se vão soltando, em particular na terceira parte da música, imediatamente antes dos últimos refrões. O instrumental da música está tão bem arranjado que quase chorei da primeira vez que o ouvi, sem a voz da Avril.
A letra de Innocence fala sobre um momento de paz, benção, felicidade, de completa ausência de sentimentos negativos, de inocência no fundo - um momento a que nos queremos agarrar, que queremos que dure para sempre, um momento proporcionado pelo amor.
Eu imagino como cenário desta música um dia de sol, em contacto com a Natureza. Pode ser um dia de primavera no campo, um dia de verão numa praia deserta, um dia de outono numa floresta. É, aliás, neste género de cenários que mais gosto de escrever. É claro que nem sempre posso estar no campo ou na praia. Já me contento com um canto ajardinado, um simples banco debaixo de duas árvores.
Innocence chegou a ser single promocional nalguns países mas nunca teve direito a videoclipe. O mais parecido com isso a que tivemos direito foi um anúncio da Canon, lançado em finais de 2009. Tirando a parte da publicidade às câmaras fotográficas, as imagens mostradas - na mansão, num dia de outono, no parte de skate, nas ruas que imitavam Nova Iorque, no estúdio - adequar-se-iam, perfeitamente, ao espírito da música.
"The feel of you just fills the night" Depois de conhecer Innocence, não demorei muito a compará-la com uma música que já conhecia: Don't Let Go. Mais uma vez, um tema da banda sonora do filme Spirit, desta feita uma colaboração entre Bryan Adams e a cantora canadiana Sarah McLachlan. É, no entanto, a única canção de todo o álbum da banda sonora que não aparece no filme em si, só nos créditos finais, nem parece encaixar-se em nenhum momento da película. Assemelha-se em Innocence em termos de letra por falar, igualmente, sobre um momento que se quer prolongar, um momento em que se descobre o amor. Em termos musicais diferencia-se, contudo, da balada da Avril - possui um tom muito etéreo. Para isso contribuem os vocais de Sarah, em particular nos refrões. Não sou capaz de identificar os instrumentos todos - um piano ali algures, uma guitarra elétrica muito discreta... - mas estes também contribuem para esse efeito, fazendo de Don't Let Go uma autêntica obra de arte.
"We share the scars from our abandon And what we remember becomes folklore" Outra música semelhante a Innocence também faz parte de uma banda sonora. É ela The Forgotten, dos Green Day, faixa-tema do filme Amanhecer parte 2. Em termos musicais, traz claros ecos de Last Night on Earth, outra balada relativamente recente da banda. Conduzida pelo piano, acompanhada por violinos, bateria e um solo de guitarra elétrica. A letra em si é muito vaga. Também fala de um momento de felicidade proporcionado pelo amor, com um toque de nostalgia e um não sei quê que costuma estar presente em várias músicas dos Green Day. Um pouco por influência do filme a que fornece banda sonora, bem como de outras histórias escritas por mim, associo The Forgotten a felicidade familiar. Imagino amantes que passaram por muitas dificuldades ao longo dos anos - dificuldades essas que lhes deixaram cicatrizes, que ainda os assombram - mas que conseguiram conquistar o seu final feliz: têm o seu lar, vivem em paz com os filhos resultantes dessa união.
"A alma está calma e acalma O meu peito está cheio de ti"
Uma das faixa mais recentes deste conjunto é uma música portuguesa, chamada Sabor de Ti, cantada por Catarina Rocha, uma cantora que tive o prazer de conhecer pessoalmente (mais pormenores AQUI). Esta canção faz parte do seu álbum de estreia, Infinito. Musicalmente, é constituída apenas por piano e os belos vocais da Catarina. A letra aborda, também, um momento de felicidade, de paz, de esperança, motivado pela presença do ser amado. Um momento em que ambos se sentem num mundo à parte, fora do tempo e do espaço correntes. É uma das minhas preferidas do CD que, de resto, tem várias músicas lindas - embora seja suspeita para falar disso.
"The first time to really feel alive! The first time to break the chain! The first time to walk away from pain..." First Day Of My Life entrou em Portugal através de uma novela da TVI, cujo nome já não recordo, algures em 2005 ou 2006. Eu já conhecia a ex-Spice Girl, Melanie C, de Baby When You're Gone, que cantou com Bryan Adams. First Day Of My Life tem um arranjo musical semelhante a Innocence - é relativamente fácil obter lindas baladas juntando violinos a piano ou a uma guitarra acústica. A música não fala exatamente de um momento de felicidade mas assemelha-se a Innocence por descrever - de uma forma muito vaga, um uma letra algo fraca - sentimentos semelhantes, de renascimento, de redescoberta de felicidade, motivados pela descoberta do amor.
"Where there was dark, now
Um tema semelhante tem a música A New Day Has Come, de Céline Dion. Também fala sobre renascimento, esperança, sobre o desaparecimento de sentimentos negativos, a abertura de um novo capítulo na vida, um capítulo feliz, tudo isto graças, uma vez mais, ao surgimento do amor. Em termos musicais, tem um tom mais etéreo, criado pelos vocais de Céline - que tem uma das vozes mais poderosas da música - pelos violinos que acompanham a guitarra acústica, pela bateria suave.
Tenho um par de entradas planeadas para os próximos tempos, incluindo uma de Músicas Ao Calhas sobre os Paramore, tal como referi no início, mas não prometo que seja capaz de publicá-las muito em breve. Com a pouca paciência com que tenho andados nos últimos tempos aqui para o blogue... Em todo o caso, os Within Temptation têm dado a entender que lançarão o primeiro single do seu novo álbum em breve, o que certamente motivará uma entrada sobre isso. No outono passado, eu dizia a brincar que os Paramore iam lançar um álbum novo antes da Avril, que já havia anunciado várias vezes que estava pronta para lançar o seu. Agora, oito ou nove meses depois, sou capaz de apostar que os Within Temptation vão lançar antes dela. É que, com os seus caprichos, não me admirava que a Avril decidisse regressar ao estúdio outra vez. Mas também, conforme disse há pouco, está previsto Rock 'n' roll sair em julho - mas, sabendo o que a casa gasta, não me admirava se saísse perto de dia 31, com sorte! (fã sofre, sobretudo da Avril...).
Por outro lado, daqui a pouco vou sair para ir aos Bon Jovi. Talvez fique com vontade de escrever sobre o concerto.
De qualquer forma, quando finalmente entrar de férias (daqui a duas ou três semanas), terei certamente mais disponibilidade aqui para o blogue. Até lá...
Quando, há uns meses, estava a trabalhar numa parte do meu livro rica em ação, escrevi uma série de entradas de Músicas Ao Calhas sobre temas que definiam, um pouco, o espírito desses capítulos. Hoje, estou numa transição entre livros, a acabar o terceiro e a pensar no início do quarto. Quero, portanto, falar sobre duas músicas que representarão o estado de espírito de uma das personagens principais no início do livro. Tenho esperanças de que esta entrada me ajude a compreender melhor esse espírito e, assim, facilite a escrita dos primeiros capítulos.
As músicas em questão são 21 Guns, dos Green Day, e Sound the Bugle, da banda sonora do filme de animação Spirit, interpretada por Bryan Adams.
"Does the pain weight out the pride?"
21 Guns foi o segundo single do álbum 21st Century Breakdown, de 2009. Este foi um álbum que repetiu as fórmulas do extremamente bem sucedido American Idiot mas de que eu gostei muito na altura, por vários motivos. Um dos quais foi o facto de ter servido de pretexto para a banda atuar em Portugal, a 28 de setembro de 2009. Como já devem ter calculado, eu estive lá e diverti-me imenso. O Billie Joe Armstrong sabe bem como envolver a audiência. Isso e/ou o público português é um público que aproveita ao mácimo tais espetáculos, que se deixa envolver facilmente. O álbum acabou por ter alguma influência na génese de "O Sobrevivente", tendo mesmo inspirado a personagem Glória.
Não gostei muito da triologia ¡Uno!, ¡Dos!, ¡Tré!, apesar de ter ficado entusiasmada aquando do anúncio do seu lançamento, bem como com Oh Love. Tirando uma mão-cheia de faixas, a larga maioria das músicas não me diz nada, chegando a tornar-se cansativas e repetitivas - o que, tendo em conta que, da discografia dos Green Day, apenas conheço bem American Idiot, 21st Century Breakdown e meia dúzia de singles, diz bastante...
Mas regressemos a 21 Guns. Aquando do lançamento de 21st Century Breakdown, o meu irmão disse que o segundo single era uma das melhores músicas dos Green Day. Não acho que, pelo menos no que diz respeito às baladas, seja melhor que Wake Me Up When September Ends ou Good Riddance (Time Of Your Life) mas não andará muito longe. É uma balada rock, guiada pela guitarra acústica, a que se juntam guitarras elétricas e bateria. Na versão que apresentam ao vivo, também incluem notas de piano a seguir ao solo de guitarra.
É uma canção muito derrotista, cuja letra lamenta a perda de um motivo por que lutar, sequelas dolorosas de lutas anteriores, acabando por se optar pela rendição, pela desistência.
Desde o momento em que me familiarizei com a música, associei-a quase de imediato com Sound the Bugle, da banda sonora do filme Spirit. Tal como já tinha afirmado nesta entrada, a banda sonora resultante do trabalho de Bryan Adams e Hans Zimmer tem o ponto forte de não ser demasiado específica, permitindo a qualquer pessoa identificar-se com as músicas. Sound the Bugle é um bom exemplo disso.
"Then from on high, somewhere in the distance... There's a voice that calls: «Remember who you are»"
A música possui duas partes distintas. A primeira adota a linha abordada em 21 Guns, trnasmitindo os sentimentos do cavalo Spirit, que se sente abatido pela perda de Rain, a sua amada, e por ter sido de novo capturado pelos colonizadores americanos, que se dá como derrotado. O que acaba por surpreender pois, desde o início do filme, Spirit destaca-se pelo seu espírito indomável, inderrotável. Confesso que, quando vi o filme pela primeira vez, quase chorei nesta parte e a banda sonora muito contribuiu para esse efeito.
No entanto, a certa altura, dá-se uma viragem. Algo recorda o sujeito narrativo de quem ele é, dos motivos que tem para lutar, e isso dá-lhe o alento necessário para regressar ao campo de batalha. No caso de Spirit, tais motivos são a vontade de ver os entes amados de novo, regressar à sua terra natal, o que requer que ele se liberte de novo. Que é o que acaba por fazer.
Um momento semelhante, um momento que também podia ser ilustrado por estas duas canções, ocorre n'As Brumas de Avalon, no quarto livro, O Prisioneiro da Árvore. Vou tentar evitar os spoilers. Resumidamente, Morgaine, a personagem principal, atravessa um momento de depressão semelhante aos descritos acima e acaba por desistir da vida. Não se suicida mas fica à espera de morrer. Estabelece-se, aliás, uma certa analogia morte/vida neste tipo de situações provando, de certa forma, que difícil não é morrer, difícil é viver, suportando todas as dificuldades inerentes. "Não podia regressar de novo à vida, não podia voltar a lutar e a sofrer e a conviver com o ódio daqueles que um dia me tinham amado (...) Não. Estava ali em silêncio e em paz e, dentro em pouco, sabia-o então, entraria ainda mais para dentro dessa paz. (...) Não procures levar-me para a vida quando eu já me resignei a ficar aqui, na morte. Aqui, nestas terras imortais, tudo está em sossego, sem dor nem luta; aqui posso esquecer tanto o amor como a dor."
Aqui, são as recordações das coisas boas da vida que fazem Morgaine sair daquele limbo, em que não estava viva nem morta. "Eram as vozes dos mortos e dos vivos que me gritavam: «Volta de novo, volta, a própria vida está a chamar-te, com todo o seu prazer e toda a sua dor». Mais do que um regresso à luta, aqui trata-se mais de um regresso à vida. É, sem dúvida, um dos momentos mais belos de toda a saga.
A bondade do acto de fazê-la regressar é discutível pois Morgaine regressa apenas para assistir à perda dos entes queridos que lhe restam e à ruína daquilo que resta de tudo por que lutou toda a vida. Talvez tivesse sido menos cruel deixá-la onde estava. No entanto, no fim de tudo, ela descobre que não falhou completamente. E penso que a possibilidade de morrer com esse pequeno consolo valeu o regresso à vida.
A minha intenção é incluir uma viragem de maré semelhante no meu quarto livro. Não necessariamente tão rápida, tão imediata, nem mesmo tão fácil. Em linha com o que disse há pouco, às vezes pode ser menos doloroso permanecer no buraco onde se caiu. Nada pode garantir que, ao sair dele, não se volte a cair de novo e que, desta vez, doa ainda mais. O que planeio é, precisamente, que não seja fácil, que ocorram retrocessos, que a personagem em questão se interrogue, várias vezes, se está a seguir o caminho correto. Mas tentarei fazer com que, no fim, tenha valido a pena.
Nestes caos, pessoalmente, julgo que vale a pena levantar-se de novo, regressar à luta e/ou à vida, ou pelo menos tentar. Seja por respeito a entes queridos, seja por orgulho, por não se querer uma rendição sem primeiro dar luta, por não se querer ser cobarde, seja para não passar o resto da vida interrogando-se sobre o que teria acontecido se se tivesse tentado sair do buraco, seja porque a vida é demasiado curta para ser desperdiçada desta forma. É sobre isto que falam músicas como Sound the Bugle, Alice, de Avril Lavigne, Alive, de Leona Lewis, Last Hope, dos Paramore. Mesmo que tenhamos de dar um passo de cada vez, mesmo que o nosso objetivo seja apenas sobreviver até ao fim do dia, mais cedo ou mais tarde, valerá a pena.