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Álbum de Testamentos

"Como é possível alguém ter tanta palavra?" – Ivo dos Hybrid Theory PT

Paramore - After Laughter (2017) #1

 

No passado dia 12 de maio, os Paramore lançaram o seu quinto álbum de estúdio, intitulado After Laughter. Eu comecei a trabalhar na análise a esse disco no dia em que saiu, acreditem. Só que, entretanto, a Seleção Portuguesa entrou em ação e assim se manteve durante mais de um mês. Ou seja, quase todo o tempo de escrita que tive foi consumido pelo meu outro blogue.

 

Daí que esta análise só esteja a ser publicada agora.

 

A vantagem deste atraso é ter apanhado umas quantas entrevistas sobre o álbum, em particular a da revista Fader – que revela imenso sobre After Laughter e mesmo sobre a história de Hayley e dos Paramore como banda. Apanhei essas entrevistas… e a separação de Hayley e do seu marido.

 

Lá se vai uma das minhas canções de amor preferidas.

 

Como tenho muito a dizer sobre After Laughter, resolvi dividir esta análise em duas partes. O resto será publicado amanhã. Falemos, então, sobre o quinto álbum de estúdio dos Paramore.

 

 

Aquilo que salta à vista (ou melhor, à audição) ao ouvir After Laughter é a sonoridade – os elementos de pop punk são praticamente inexistentes. Temos guitarras elétricas, sim, mas usadas de maneira diferente – em vez de acordes pesados, temos notas mais soltas, misturadas com xilofones, teclados e sintetizadores. O resultado é um som tropical, com elementos de new wave e de pop dos anos 80. Uma pessoa pode ser levada a pensar que After Laughter é um disco leve, de verão.

 

Desde que não se ligue às letras.

 

Uma das características deste álbum é a sua consistência: o facto de as músicas serem parecidas umas com as outras, embora não ao ponto de se confundirem. O reverso da medalha é que, a partir de certa altura, as coisas tornam-se demasiado formulaicas. Falo, sobretudo, das terceiras estâncias – se forem a ver, numa boa parte das músicas, as terceiras estâncias consistem, apenas, em um ou dois versos repetidos inúmeras vezes (nalguns casos com variações mínimas). Ao fim de algum tempo, cansa.

 

Outro aspeto menos bom em After Laughter é o facto de os vocais de Hayley não impressionarem por aí além – pelo menos em comparação com álbuns anteriores. Existem, aliás, muitas ocasiões em que os vocais se reduzem a quase sussurros.

 

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Também é verdade que vocais muito agudos e/ou prolongados, estilo Now, Decode ou Misery Business, não se encaixariam muito bem neste tipo de música. Além disso, há que recordar que Hayley estava a debater-se com depressão aquando das gravações de After Laughter – é bem possível que ela não tivesse vontade de elevar a voz. Por outro lado, visto que muitas destas músicas foram precisamente inspiradas pela depressão de Hayley, os vocais baixos adequam-se, sobretudo nos momentos de maior vulnerabilidade.

 

O que nos leva às letras das canções. Todos os álbuns dos Paramore, à exceção de Riot!, têm-se inspirado numa qualquer crise atravessada pela banda – porque, conforme comentámos extensivamente antes, a banda está sempre a atravessar uma crise ou tentando recuperar-se após uma crise. After Laughter não é exceção – até porque é o primeiro álbum que a banda edita após a saída do baixista Jeremy Davies. A inspiração, no entanto, não é assim tão direta na maior parte das músicas – só no sentido em que a crise nos Paramore poderá ter despoletado a depressão e ansiedade de Hayley.

 

O álbum After Laughter tem, aliás, sido elogiado precisamente por se focar em diferentes aspetos da vida de alguém que lida com um qualquer problema de saúde mental (eu ainda tenho algumas dificuldades em dizer, pura e simplesmente, doença mental por causa de todo o estigma associado), seja uma depressão, uma crise de ansiedade. Ou então, que esteja apenas a passar por… bem, tempos difíceis.

 

Por exemplo, Told You So fala sobre profetas da desgraça, que em vez de ajudarem, ainda mais enterram a pessoa. Rose-Colored Boy, ao invés, fala sobre pessoas que não sabem de todo o que acontece numa depressão, que acham que tudo se resolve com sorrisos e “pensamento positivo”. Forgiveness fala, precisamente, sobre as dificuldades em “perdoar e esquecer”. Caught in the Middle fala sobre desorientação. 26 fala sobre cinismo e sonhos desfeitos. Tell Me How revela vulnerabilidades.

 

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Isto pode ser um bocadinho esticado, mas, na minha opinião, em After Laughter existe uma canção para cada fase do luto. Hard Times representa a negação ou, pelo menos, o choque. No Friend e, talvez, Iddle Worship representam a raiva. 26 simboliza a negociação. Por sua vez, Tell Me How representa a parte da depressão e existem ainda algumas pistas, perto do fim da faixa, que apontam para uma eventual aceitação. Hayley referiu, em entrevista, que ainda não tinha ultrapassado por completo certas coisas de que fala em After Laughter – nesse aspeto, não é de surpreender que não haja uma única música para aceitação.

 

Falemos, agora, sobre as músicas em si. Hard Times (sobre a qual já falámos antes) é a primeira na tracklist e foi o primeiro single. Quando escrevi sobre ela, critiquei a letra por trazer pouco de novo no que toca aos Paramore. No entanto, agora que conhecemos o resto do álbum, faz sentido que esta seja/tenha sido a primeira canção que ouvimos em After Laughter: uma vez que apresenta o tema e estrutura da maior parte das faixas do álbum e faz uma ligação com os trabalhos anteriores.

 

Confesso, por outro lado, que nesta fase ando um bocadinho farta de Hard Times – a maior parte das outras canções em After Laughter são melhores, tanto em termos de letra como da musicalidade.

 

Uma das minhas preferidas neste álbum é Rose-Colored Boy. Calculo que seja uma das mais pop neste álbum e onde mais se notam as influências dos anos 80 – eu, pelo menos, vejo algumas semelhanças com a clássica Girls Just Want to Have Fun. As primeiras notas dão logo a ideia de uma festa numa praia tropical – sensação reforçada pelos vocais, estilo meninas de claque “Low key! No pressure! Just hang with me and my weather!”.

 

 

É claro que a última coisa em que a letra nos faz pensar é em festas. Rose-Colored Boy fala sobre aquelas pessoas irritantes, que insistem em ver o lado positivo em tudo. Ou que acham que as pessoas só caem em depressões porque têm pena de si próprias e que, se fizessem um esforço, curavam-se (acreditem, há muitos a pensar assim). Alguns fãs especulam sobre a identidade do tal Rose-Colored Boy: há quem diga que é o Taylor (pouco provável, na minha opinião), há quem diga que é Chad Gilbert, o, em breve, ex-marido de Hayley. Eu, no entanto, acredito que Hayley se terá cruzado com inúmeros Rose-Colored Boys e Girls aquando da sua depressão.

 

Pessoalmente, nunca fui uma pessoa pessimista ou cínica, nem faço questão de o ser. Prefiro sentir-me alegre em vez de me sentir triste e encarar a vida com esperança e otimismo. Mas a verdade é que o otimismo e o “pensamento positivo” só ajudam até certo ponto – quando estes implicam a repressão de sentimentos negativos, como a raiva ou a tristeza, são mesmo prejudiciais. E, conforme aprendemos com o filme Inside Out/Divertida-mente (vi-o pela primeira vez há bem pouco tempo e ando obececada com ele), a tristeza é saudável. A pressão para reprimir a infelicidade, para estar sempre feliz, otimista, sorrindo com os dentes todos, é precisamente aquilo que leva uma pessoa à depressão.

 

O que nos leva a Fake Happy (que, ao que parece, será o próximo single de After Laughter).

 

  

Esta música possui uma introduçãozinha acústica, com vocais graves, resumindo a mensagem da canção. Depois, soam os teclados. Os vocais de Hayley soam saltitantes, irresistíveis – sobretudo no pré-refrão. O refrão em si é tão cativante como os das melhores músicas dos Paramore.

 

Fake Happy fala, assim, sobre a dificuldade em manter as aparências quando nos sentimos infelizes – e, ao mesmo tempo, sobre a futilidade dessas aparências quando, na verdade, todos fingem ser mais felizes do que realmente são. Uma mensagem relevante nos dias que correm, em que as pessoas procuram vender a sua vida como perfeita nas redes sociais. Consta, até, que os americanos são particularmente obcecados pela ideia de felicidade e pensamento positivo.

 

Eu acho curioso porque Portugal tem uma cultura oposta. Conforme referido neste artigo da BBC, no nosso país, há uma cultura de tristeza – com o fado e os poemas de Camões, que achava que a sua vida era a “mais desgraçada que jamais se viu”. Os portugueses gostam de ser infelizes. Não é costume as pessoas fingirem ser felizes por cá, pelo menos não no contacto pessoa a pessoa (as redes sociais são uma história diferente).

 

Aliás, só ao longo do último ano, com a vitória da Seleção no Euro 2016, a vitória de Salvador Sobral no Festival da Canção, a popularidade de Portugal lá por fora, entre outras coisas, é que nos temos atrevido a ser um pouco mais felizes.

 

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Nunca fui fã desta cultura de tristeza. No entanto, reconheço que pode ser saudável, sobretudo num contexto de uma depressão ou de outra doença psiquiátrica semelhante.

 

Agora que penso nisso, se os Paramore fossem portugueses, não teriam criado um álbum falsamente alegre, como After Laughter. Teriam cantado fado (a versão portuguesa da cultura emo).

 

Mas estou a desviar-me.

 

Só para concluir, referir que, na minha opinião, Fake Happy funcionaria bem como título alternativo a este álbum: com as suas músicas com instrumentais e melodias alegres, mas com letras deprimentes. Tenho visto muitas pessoas deixando-se enganar.

 

  

Told You So – a segunda canção de After Laughter que conhecemos – acaba por funcionar como a antítese de Rose-Colored Boy. Desta feita, lidamos com os Velhos do Restelo, aquelas pessoas que parecem sentir um gozo especial quando as suas previsões pessimistas se concretizam, ou ao verem uma pessoa que invejam passando por um mau bocado. Esta sim é uma realidade bem portuguesa. Em Told You So, Hayley procura agarrar-se a uns resíduos de esperança e otimismo – algo que se torna quase impossível, com pessoas como as que acabo de descrever.

 

Gosto imenso da sonoridade de Told You So. Os riffs de guitarra e o xilofone do Taylor são excelentes, sobretudo no refrão, casando bem com os vocais, mais uma vez, ritmados e saltitantes de Hayley. Devo dizer, no entanto, que, à semelhança do que aconteceu com Hard Times, a letra de Told You So está uns furos abaixo do nível habitual dos Paramore. É demasiado curta e simplista, sobretudo a repetitiva terceira estância.

 

Por outro lado, não é fácil cantar “Throw me into the fire, throw me in, pull me out again" muitas vezes de seguida, como Hayley faz. Eu, pelo menos, troco-me toda.

 

Visto que Hard Times e Told You So saíram antes do resto do álbum, cheguei a temer que todas as letras em After Laughter fossem assim – mais fraquinhas que o habitual. Não foi o que aconteceu, felizmente, tal como já vimos e ainda vamos ver a seguir.

 

  

Queria falar, ainda, sobre o videoclipe de Told You So – que foi realizado pelo baterista da banda, Zac. Nele, começamos por ver Hayley vestida de preto, numa casa escura – uma metáfora para a depressão, quase de certeza. Os rapazes – Zac e Taylor – acabam por vir buscá-la, num carro antigo. As sombras não desaparecem completamente, mas pelo menos agora Hayley não está sozinha.

 

A banda revelou em entrevista, pouco após o lançamento do vídeo, que, aquando das gravações de After Laughter, os três costumavam viajar juntos no carro de Zac. Nessas alturas, a ansiedade de Hayley dava tréguas. Zac percebia mesmo que ela se sentia mais calma, mais aliviada, durante essas viagens. O carro dele era um porto seguro.

 

Acho amoroso que Zac tenha querido homenagear isso no videoclipe. Os Paramore podem ser uma banda de estabilidade precária, mas são coisas como estas que me ajudam a ter esperança no futuro deles.

 

É com esta nota positiva que nos despedimos por hoje. Regressamos amanhã com a segunda parte da análise a After Laughter.

 

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Músicas Não Tão Ao Calhas - Hard Times

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Em janeiro de 2013, estreava aqui no blogue a rubrica Músicas Não Tão Ao Calhas. Nela, escrevo sobre músicas inéditas que os meus artistas preferidos vão lançando – na maior parte das vezes singles antes de álbuns, mas não só. A minha primeira entrada de Músicas Não Tão Ao Calhas foi sobre Now, o primeiro single do quarto álbum dos Paramore – aquele que ficou conhecido por The Self-Titled. Hoje, mais de quatro anos depois, volto a escrever sobre o primeiro single de um álbum dos Paramore – é um ciclo que se fecha.

 

Infelizmente, este ciclo nem sempre foi fácil para a banda. O início até nem foi mau. O Self-Titled é um álbum excelente, mudou por completo a maneira como encaro a vida. Graças a Deus, teve o devido reconhecimento em termos comerciais: foi platina e teve dois singles de sucesso: Still into You e Ain’t it Fun. A segunda ganhou um merecidíssimo Grammy. O ciclo desse álbum durou até meados de 2015, terminando com a digressão Writing the Future.

 

No entanto, em finais de 2015, a banda anunciou a partida do baixista Jeremy Davis. Desde essa altura, os Paramore têm passado por… bem, tempos difíceis.

 

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Ainda não tive oportunidade para escrever sobre a desistência de Jeremy. Custou-me, para ser sincera, ainda me custa. Nos primeiros tempos, ainda pensei/esperei que tivesse sido uma “rescisão” amigável, que ele tivesse partido porque tem uma filha e não pode andar em digressão.

 

Essa ilusão não durou muito. Meses depois surgiram notícias de que Jeremy e a banda estavam envolvidos numa disputa judicial, alegadamente devido a honorários da música e dos concertos. Como o processo ainda está em decurso, ainda não foi divulgada oficialmente a razão da partida de Jeremy. A ideia com que fico – e posso estar errada – é que, no centro disto tudo, está aquele três vezes maldito contrato celebrado, algures em 2005, entre a Atlantic Records e Hayley Williams, excluindo os restantes membros da banda. O mesmo contrato que já tinha sido um dos motivos para a partida dos irmãos Farro, em finais de 2010.

 

Toda esta história dá-me vontade de bater com a cabeça numa parede. Aquando do Self-Titled, a ideia que os Paramore davam era de que a banda tinha resolvido os seus problemas, aprendido com os erros cometidos. O trio estava mais forte, mais unido do que nunca, capaz de sobreviver a tudo. Eu acreditei nisso. Talvez os próprios membros da banda acreditassem nisso.

 

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Mas a verdade é que não devia ter ficado surpreendida. A banda nunca teve estabilidade – desde a ausência de Jeremy das gravações de All We Know Is Falling, passando pela saída dos irmãos Farro, e agora isto. A verdade é que Hayley tem sido a única constante em Paramore (ainda que Taylor só não se tenha juntado oficialmente à banda até depois do lançamento de Riot! porque os seus pais não deixaram). Por um lado, toda a gente sabe que Hayley podia, desde o início, optado por uma carreira a solo. Se não o fez até agora é porque, obviamente, não o quer. Por outro lado, para os membros estarem sempre a entrar e a sair, alguma coisa não está bem.

 

Não quero pensar que Hayley seja o problema. Ela parece ser uma miúda simpática, com valores parecidos com os meus – aliás, é atualmente uma das minhas pessoas preferidas no mundo da música. Mas como não a conheço pessoalmente, não dá para ter a certeza.

 

Nestas alturas, a música Pressure, do primeiro álbum, faz mais sentido do que nunca.

 

 

Em defesa deles, os membros da banda parecem tão frustrados com esta história toda como eu. Ainda mais, já que esta é a vida deles. Hayley tem referido várias vezes que pensou em desistir. Disse que os Paramore parecem mais uma novela do que uma banda, que estava farta de perder amigos e de se questionar sobre o que estava a fazer de errado. Considerou várias alternativas: dedicar-se à sua linha de tintas para o cabelo, ter uma família (ela casou-se no ano passado), compôr para outras pessoas, começar um projeto diferente com Taylor.

 

Terá sido este último a salvar os Paramore, segundo Hayley. Taylor disse-lhe que a apoiaria independentemente da decisão que ela tomasse relativamente à banda. Isso aliviou a pressão sobre Hayley – que, no meio desta história toda, chegou a debater-se com depressão e ansiedade. Assim, os dois foram compondo música a pouco e pouco.

 

Entretanto, Taylor chamou Zac, o mais novo dos irmãos Farro, para tocar bateria no álbum novo. Inicialmente, veio apenas como músico contratado. Ao fim de algum tempo, Taylor convidou Zac para regressar oficialmente à banda. Ele disse que sim.

 

Toda a gente ficou feliz, como seria de esperar. Em primeiro lugar, Zac é um ótimo baterista e sentiu-se a falta dele em certos momentos do Self-Titled. A música dos Paramore fica a ganhar. Além disso, eu mesma referi, há pouco mais de dois anos, que tinha esperanças de que, um dia, os irmãos Farro regressassem. Cinquenta por cento desse desejo já se realizou.

 

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Mas fica um amargo de boca por Jeremy já lá não estar.

 

Os membros da banda chegaram mesmo a dizer que já não sabem muito bem por que os Paramore continuam a ser uma banda. Nesta altura, deve ser só por nós, os fãs – porque eles sabem que a música deles é uma das coisas que nos ajuda a sobreviver. Eu, apesar de tudo, fico grata por isso. E, agora, teremos um álbum novinho em folha daqui a menos de duas semanas.

 

Suponho que haja uma qualquer metáfora para a vida no meio desta história toda. Talvez seja assim que as coisas funcionem: uma batalha sem fim, com perdas e ganhos, cometendo os mesmos erros, sempre a desfazermo-nos e a reconstruirmo-nos outra vez, sempre a aprendermos. Uma pessoa vai continuando, às vezes só por causa daqueles que ama, às vezes só porque… qual é a alternativa?

 

 

Gonna make you wonder why you even try

 

Com isto tudo, vamos quase em mil palavras e ainda nem sequer falámos de Hard Times. Mas eu tinha de escrever sobre as aventuras e desventuras dos Paramore nestes últimos anos porque, na minha opinião, a letra da música fala sobre elas. As estâncias falam claramente sobre depressão, com referências a um buraco onde nos enfiar até os nossos problemas terem desaparecido e a uma nuvem negra que nos segue para todo o lado. No refrão, questiona-se mesmo como é que se consegue aguentar tudo isto e continuar.

 

Na verdade, a letra de Hard Times não me impressiona por aí além. Não me interpretem mal, não a acho má. É, aliás, melhor que muito do que se ouve por aí. No entanto, cai muito nos clichés habituais de Paramore. Por exemplo, o primeiro verso (“All that I want is to wake up fine”) remete para Last Hope – “Every night I try my best to dream tomorrow makes it better”. “Tell me that I’m alright” recorda-me Tell Me It’s Okay. Os versos “And I’m gonna get to rock bottom!” e “We’ll kick it when I hit the ground” fazem lembrar Turn It Off: “I’m better off when I hit the bottom”. Eu podia continuar. Não há nada na letra de Hard Times que não tenhamos ouvido antes, o que é uma pena.

 

Isso, de resto, é a única falha que tenho a apontar a Hard Times – e nem sequer a acho grave no primeiro single de um álbum novo. A letra pode não trazer nada de novo, mas o mesmo não se passa com o acompanhamento musical. Depois de músicas como Grow Up, Still into You e Ain’t it Fun, Hard Times parece lógica como o passo seguinte. À semelhança de Ain’t it Fun, Hard Times começa com notas de xilofone, que são rapidamente substituídas por notas de guitarra – são estas as responsáveis pelo ritmo dançante da música. Ouvem-se também algo que se assemelha a tambores africanos, algo que se mantém durante toda a faixa. A bateria de Zac dá personalidade à música (sobretudo numa altura em que este instrumento está em vias de extinção). No refrão, noto elementos de Daft Punk - sensação que se reforça no fim da música, com os vocais distorcidos.

 

Não sei se o mesmo aconteceu com vocês, mas eu demorei algum tempo a decifrar esses vocais. Se não estou em erro, dizem “Makes you wonder why you even try” e “Still don’t know how I even survive”. Em suma, em termos musicais, à semelhança das melhores músicas do Self-Titled, Hard Times conjuga vários elementos de forma primorosa, podendo-se ouvir a contribuição de cada membro da banda. Eu gosto. Não estou propriamente caída de quatro, mas também não estava por Now quando esta foi lançada e, com o tempo, a música foi ganhando novos significados. Estou certa de que o mesmo acontecerá com Hard Times. Sobretudo quando puder ouvi-la no contexto do álbum. Para já, espero que não demore muito a chegar às rádios portuguesas.

 

 

O quinto álbum dos Paramore chama-se, então, After Laughter, e sai dia 12 de maio. Sim, daqui a menos de duas semanas. Confesso que fiquei estonteada com esse anúncio, ainda estou. Um dia, tínhamos a vaga ideia de que os Paramore estariam a trabalhar num álbum, algumas pistas como músicas registadas no site da ASCAP. No dia seguinte, temos nome, capa, tracklist, data de lançamento, primeiro single com videoclipe e pessoas que já ouviram o álbum (inveja!). Tendo em conta que os álbuns da Avril Lavigne têm sempre um parto longo e complicado (e o sexto álbum não está a ser exceção), esta é uma alternativa atordoante, mas muito mais agradável.

 

Segundo Hayley, o título After Laughter (a melhor tradução que me ocorre é “Pós-riso”) refere-se àquele momento após uma gargalhada em que regressamos à realidade. Dá para ver, assim, que este álbum vai ser animado… só que não. Quem já ouviu o álbum dá a entender que o resto será semelhante a Hard Times. Ou seja, os Paramore vão fazer o que fazem desde o início da sua carreira: queixar-se da vida. A diferença é que, enquanto antes, Paramore depressivo equivalia a guitarras pesadas e estética emo, agora equivale a música rítmica, falsamente alegre (o nome de uma das faixas novas é Fake Happy, por sinal), e tons pastel.

 

Gostava de chamar a atenção para o símbolo no centro da capa: as barras de néon que criam uma ilusão de ótica, de modo que não sabemos se são duas ou três. É obviamente uma variante do símbolo que a banda adotou em 2011, uma provável alusão à recente troca de membros. Eu, de qualquer forma, gosto imenso deste símbolo. Já encomendei, até, um dos conjuntos de merchandising da banda que inclui uma t-shirt preta com este símbolo, para além do álbum em CD (uma encomenda que, admito, foi para aí quarenta por cento impulso).

 

Havemos de falar mais sobre os Paramore quando analisar o resto de After Laughter. Ainda não decidi se analiso faixa por faixa, por ordem crescente de preferência, ou se analiso em texto corrido. Mas vou tentar publicá-la não muito depois do lançamento do álbum. Entretanto, vou ganhar vergonha na cara e ver se acabo e publico de vez a análise ao quarto filme de Digimon Adventure Tri.

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