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Álbum de Testamentos

"Como é possível alguém ter tanta palavra?" – Ivo dos Hybrid Theory PT

Avril Lavigne - The Best Damn Thing (2007)

Uma das ideias que tenho para ir mantendo o blogue em funcionamento diz respeito a críticas retrospetivas de álbuns marcantes dos meus artistas preferidos. Seria também uma forma de revisitar músicas a que, ultimamente, não tenho dado muita atenção. Eu peço desculpa pela falta de variedade, mas os primeiros álbuns de que quero falar nesta categoria são os três de Avril Lavigne de que ainda não falei. A minha intenção era publicar as respetivas análises retrospetivas no aniversário dos lançamentos, mas o lançamento de Fly trocou-me as voltas relativamente a The Best Damn Thing (o single foi lançado no oitavo aniversário do terceiro álbum de Avril).

 

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The Best Damn Thing é o terceiro álbum de estúdio de Avril Lavigne e um dos mais controversos entre os fãs. Até aqui, Avril era marketeada como uma anti-pop star. Depois deste álbum, sobretudo com Girlfriend, esse rótulo foi ao ar. As consequências desta mudança foram diversas: se Girlfriend é o single dela com mais sucesso até ao momento (não, não é Complicated nem Sk8er Boi. Eu sei, custa a acreditar...) e este é um dos álbuns mais premiados dela, atraindo imensos fãs novos, também fez com que muitos fãs antigos batessem em retirada e, a longo prazo, arruinou o relacionamento da cantora com as editoras discográficas. E fez-me olhar com cinismo para outras anti-pop stars, como Adele e Lorde. 

 

Pela parte que me toca, a edição deste álbum teve grande impacto em mim. Depois de ter descoberto Let Go e Under my Skin com algum atraso, The Best Damn Thing era o primeiro CD cujo lançamento eu acompanhava como deve ser - o que, na altura, foi importante para mim. E ainda é. Numa altura em que ainda não sabia sacar músicas, nem fazia do que era o iTunes, descobri que o site onde podíamos ver os sketches do Gato Fedorento (a.k.a. YouTube), também tinha áudio de Keep Holding On e Girlfriend, e ouvia-as sempre que podia. Tentava replicar a capa do álbum, em que ela aparece enrolando uma madeixa de cabelo no dedo. Desenhava o símbolo do álbum (um coração com dois ossos cruzados atrás) nas margens dos meus cadernos da escola com o número de dias que faltavam para o CD ser posto à venda. Quando finalmente o álbum foi editado, fiz questão de ir comprar o CD no próprio dia em que saiu - naquela altura, os CDs ainda chegavam a tempo às lojas, sem os atrasos que há hoje. Ainda me lembro de muitos aspetos desse dia 16 de abril de 2007 (embora o lançamento oficial tenha sido no dia seguinte), desde o que pensei exatamente quando ouvi certas músicas pela primeira vez, até à hora aproximada a que comprei o CD e a roupa que vestia (o meu cérebro, senhoras e senhores!) Ao longo dos meses seguintes, e mesmo depois, andei obcecada com o álbum e com a própria Avril. Tendo coincidido com a altura em que ia aprendendo a escrever ficção, várias das músicas deste álbum inspiraram-me na escrita. Hoje sei que a maneira como eu encarava o álbum na altura era muito alimentada pelo hype. Como terá o álbum se saído no teste do tempo?

 

Segundo declarações da Avril na altura, o principal objetivo do seu terceiro álbum era produzir músicas animadas, enérgicas, ideais para concertos ao vivo - até àquele momento, as únicas que se encaixavam nesse critério eram Sk8er Boi e He Wasn't (isto se não contarmos com as b-sides I Don't Give e I Always Get What I Want, que tinham feito parte da setlist de alguns concertos). Deixando um pouco de lado o cunho autobiográfico que marcara fortemente os dois primeiros álbuns, o principal foco de Avril com The Best Damn Thing era divertir-se - não é um álbum para ser levado à letra ou demasiado a sério, uma lição que foi necessário aprender perante canções tão fúteis e vazias de sentido como Girlfriend, I Can Do Better e I Don't Have to Try (embora Hello Kitty faça estas últimas parecerem tratados filosóficos).

 

 

Mesmo dentro deste estilo descontraído, festivo e superficial, The Best Damn Thing tem uma série de boas canções. A minha preferida é Runaway. Tem claros ecos de Let Go, uma letra com que toda a gente se identifica, uma melodia cativante na tradição do bom pop rock, bateria de Travis Barker, dos Blink 182, e uma das melhores guitarras de todo o álbum - não descansei enquanto não aprendi a tocá-la.

 

Outra de que gosto muito é Contagious - era para ser gravada pelo guitarrista Evan Taubenfeld, que ajudou a compô-la, mas chegaram à conclusão que a Avril cantava-a melhor. É uma faixa curtinha, com uma letra simples, de amor (acabando por ser uma predecessora de Smile e You Ain't Seen Nothing Yet), mas incrivelmente alegre e... bem, contagiante.

 

A faixa que a antecede, One of Those Girls, acaba por ser parecida: animada sem cair nos excessos de futilidade de outras músicas. A letra foge ao habitual na música da Avril ao contar a história de uma caçadora de fortunas. Não a distinguiria particularmente de outras canções deste álbum não fosse um pormenor: o bridge. Tal como acontece com frequência neste álbum, este apresenta traços de rap - no entanto, é o melhor conseguido de todo o disco. Foi um golpe de génio colocarem backvocals sem palavras ao mesmo tempo que, no fim de cada verso, emprestam melodia à última palavra. É uma faixa algo subvalorizada, One Of Those Girls, ficando na sombra de outras músicas mais ostensivas neste álbum.

 

 

Hot é o meu single favorito de The Best Damn Thing. Nesta canção, Avril mostra-se um pouco mais madura do que na maioria das músicas do resto do álbum, explorando (pela primeira vez na sua carreira) o seu lado mais sensual, mais glam rock. Foi a primeira música mais ostensivamente sexy de que gostei a sério. Na altura em que saiu, encontrei algumas semelhanças com Say it Right, da sua conterrânea Nelly Furtado. 

 

A faixa-título The Best Damn Thing, não sendo uma das minhas preferidas, tem o seu quê de irresistível. Considerada por muitos uma Girlfriend 2.0 (embora, tanto quanto me recordo de entrevistas, tenha sido composta muito antes, em finais de 2004), é um hino para meninas mimadas, mas a verdade é que reflete os valores antiquados que a Avril já afirmou várias vezes ter: exigir que o companheiro a trate como uma princesa. Tem, na minha opinião, um dos refrões e pré-refrões mais bem conseguidos de todo o álbum. Ouvindo agora, é inevitável comparar com a mais recente Shake it Off, de Taylor Swift - e, de resto, não é a primeira vez que essa cantora imita a Avril. 

 

Falar das baladas de The Best Damn Thing é quase como falar de outro álbum, completamente diferente. São estas que melhor mostram o amadurecimento de Avril como compositora. Muitos críticos na altura afirmavam que era neste estilo musical que Avril realmente brilhava e é difícil discordar. Eu mesma afirmei recentemente que, neste género de música, Avril raramente erra.

 

 

A de que gosto menos é When You're Gone e é só porque é menos melodiosa que as outras baladas, incluindo a b-side I Will Be. É o único defeito pois, na altura e que saiu, a canção tocou-me profundamente, sobretudo depois de sair o videoclipe. Não fui a única e a faixa foi, inclusivamente, usada em várias bandas sonoras, incluindo nos Morangos com Açúcar (belos tempos...). Mesmo assim, acabei por ficar a gostar mais de I Will Be. Esta tem muitas semelhanças com When You're Gone, tanto em termos de letra como em termos musicais, mas, no cômputo geral, I Will Be está melhor conseguida. Não quero alongar-me muito, pois I Will Be merece uma entrada de Músicas Ao Calhas que hei de escrever, um dia destes.

 

Já falei aqui no blogue sobre as outras duas baladas de The Best Damn Thing (sobre Innocence aqui). Keep Holding On é, provavelmente, a faixa deste álbum que melhor se saiu no teste do tempo. Conforme já expliquei aqui, a música faz parte da banda sonora do filme Eragon, tendo sido lançada em finais de 2006. Mesmo sem videoclipe e sem grande promoção, saiu-se bem na rádio da altura. Aquando da edição de The Best Damn Thing, Avril subestimou criminosamente Keep Holding On ao excluí-la da setlist da maioria dos concertos - nesta altura, ela favorecia ostensivamente as músicas mais compatíveis com o conceito de TBDT, pelo que as baladas eram deixadas um pouco de lado. Keep Holding On, no entanto, foi capaz de se safar sozinha nos anos que se seguiram, sobretudo após se tornar uma das músicas de marca da série Glee. A própria Avril aprendeu a dar valor à música, sobretudo quando esta se tornou um dos hinos da sua Fundação - isto é, antes de Fly.

 

 

 

Quanto a mim, Keep Holding On continua a ser uma das minhas preferidas da Avril, ocupando um lugar especial no meu coração desde que a ouvi pela primeira vez. Isto porque a mensagem da música - sobre amizade e capacidade de resistência - adaptava-se perfeitamente à história que eu andava a escrever na altura. Temas que ainda hoje permanecem na ficção que escrevo.

 

Se Keep Holding On me deixou totalmente satisfeita na altura em que foi lançada, com Girlfriend a história foi diferente. Não tinha nada a ver comigo (e ainda não tem), mas era uma música tão, mas tão contagiante. É uma posição que se manteve até hoje. Há quem diga que, da mesma maneira como Let Go estimulou outras cantoras a aventurarem-se pelo rock, Girlfriend deu permissão a outras cantoras para se aventurarem no pop politicamente incorreto, ajudando, assim, a criar as Katy Perry, Nicky Minaj, Ke$ha e Meghan Trainor desta vida - embora eu ache que podíamos, perfeitamente, passar sem tais criaturas.

 

Para além de Girlfriend, duas faixas gritantes (em vários sentidos) neste álbum são I Can Do Better e I Don't Have to Try, mais exemplos da futilidade extrema que, na minha opinião, estraga o disco. I Can Do Better equivale praticamente a uma noite de bebedeira pós-separação - a música até fala de Limoncello! A própria Avril admitiu tê-la gravado bêbada, algo que se nota.

 

Um aparte só para confessar que I Can Do Better me deixou com vontade de provar Limoncello, algo que consegui fazer há uns anos. É bom.

 

 

I Don't Have to Try vai na mesma onda que I Can Do Better, com uma mensagem de "quem manda aqui sou eu". Esta faixa seria perfeitamente esquecível, sobretudo passados estes anos todos, se não fossem uma série de elementos muito bem conseguidos: o rap introdutório, o solo de guitarra (adoro-o desde o primeiro momento em que ouvi a canção), os backvocals no segundo e terceiro refrões ("don't have to! don't have to! to make you! to make you!"), o grito à punk rock.

 

Por fim, Everything Back But You é uma faixa gravada para o Under My Skin, mas que Avril considerou mais adequada ao The Best Damn Thing. Na verdade, sinto-me parva por só o ter percebido depois de Avril revelar esse pormenor, mais de um ano depois de publicar a faixa. Os sinais estão todos lá: a voz de Avril soa diferente do resto do álbum, mais parecida com o timbre de Under My Skin. Essa diferença é mais evidente na versão censurada da música - os "hey hey" soam completamente diferentes do resto. Everything Back But You tem um som punk rock muito clássico, gosto do solo de guitarra e do baixo, mas confesso que foi das primeiras faixas de The Best Damn Thing de que me cansei - a partir de certa altura, uma pessoa farta-se de infinitas break-up songs (e pensar que a Taylor Swift ainda deve ser pior...).

 

Conforme disse antes, este álbum foi um game changer para a carreira da Avril. A mudança foi mais em termos de imagem e marketing do que propriamente musical, pois The Best Damn Thing não é tão pop como é pintado. Pelo menos não é muito mais pop que o Let Go, muitos poderiam argumentar que acontece precisamente o oposto. E, definitivamente, o quinto álbum é o mais pop da carreira da cantora.

 

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A própria Avril, em si, era a mesma que conhecíamos - aliás, os fãs podem dizer o que quiserem sobre este álbum e esta era, mas a verdade é que The Best Damn Thing reflete melhor a personalidade de Avril que Under My Skin. Eu, na verdade, sempre senti dificuldades em conjugar o tom sombrio do segundo álbum com a menina divertida e amalucada dos vídeos de bastidores. Pode-se argumentar que a Avril devia ter previsto a controvérsia que o este álbum causaria (os Paramore, pelo menos, sabiam no que se estavam a meter quando lançaram o álbum homónimo), mas não creio que isso mudasse alguma coisa. Uma das coisas que mais respeito na Avril é a sua ausência de pretensão, a sua genuinidade. Ela não sente necessidade de provar nada, ela faz aquilo que entende com a sua música, não o que esperam dela. Para o melhor e para o pior.

 

E a verdade é que, por muitos defeitos que este álbum tenha, com The Best Damn Thing, Avril arriscou, re-inventou-se, apresentou uma nova faceta da sua música. Fê-lo, de resto, nos três álbuns que se seguiram à sua estreia, com Let Go. Mas não o fez com o seu álbum homónimo. Daí que este me tenha desiludido. 

 

Confesso que, mesmo passados estes anos todos, ainda não tenho uma opinião definida sobre esta mudança na carreira da Avril. A maior desvantagem foi, sem dúvida, o facto de este álbum ter complicado o relacionamento dela com as gravadoras, levando a um fraco desempenho comercial dos álbuns que se seguiram. À parte esse aspecto, lembro-me de ter decidido, já algum tempo depois da edição de The Best Damn Thing, que gostava da pessoa que Avril se tornara. O cabelo loiro, o cor-de-rosa, as dançarinas, uma ou outra música mais fútil, tudo isso eram aspetos secundários.

 

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E a regra tem sido essa até agora. É certo que, sobretudo no ano passado, senti algum desgaste na carreira da Avril - começando a compreender os fãs que se tinham fartado dela - mas agora, com o lançamento de Fly, estou mais otimista. A minha esperança é que toda esta história com a sua doença a tenham tornado uma pessoa mais forte e madura e que isso se reflita na sua música. Avril pode ter chegado a uma fase em que não sente necessidade de ser tão autobiográfica na sua música, em que só quer divertir-se, mas - conforme aprendeu com Fly - basta verter um bocadinho do coração na sua música para esta salvar vidas. Mais do que faixas como Girlfriend, são músicas como Fly que têm potencial de viver para sempre.

O Ciclo da Herança

AVISO: Esta entrada inclui informações relevantes sobre o enredo dos livros pelo que só é aconselhável lê-lo caso já os tenha lido.
 

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Esta série de livros foi-me apresentada pelo meu irmão há já uma boa meia dúzia de anos ou mais. Julgo que foi em 2004, 2005, que ele comprou "Eragon", o primeiro livro e "Eldest" depois de ser editado. No entanto, não foi ele quem me convenceu a ler os livros. Foi Avril Lavigne. Desculpa, mano...

 

 

O livro "Eragon" foi adaptado ao cinema e o resultado esteve em exibição em finais de 2006. A cantora canadiana - que se encontrava naquela altura a gravar o seu terceiro álbum de originais - foi convidada para compor e interpretar um tema para o filme. Avril chegou a criar duas ou três músicas para o efeito - no ano passado chegou a aparecer na Internet uma faixa chamada Won't Let You Go que, pelas semelhanças com o tema utilizado nos créditos no filme, se suspeita ter sido composta com o mesmo objetivo. Por alguma razão, Keep Holding On foi a escolhida.
 
Keep Holding On é mais conhecida como uma balada sobre amizade mas, para mim, é mais do que isso. Mais do que sobre apenas companheirismo, penso que a música fala sobretudo sobre união, transmissão de coragem, resistência perante adversidades, tudo isto com um cheirinho a épico. Daí que a mensagem se aplique, não apenas o filme "Eragon" e ao próprio Ciclo da Herança, mas também a outras obras de ficção: Harry Potter, o Senhor dos Anéis, mais recentemente os Jogos da Fome e, sobretudo, às histórias que eu escrevia na altura, que serviram de base a "O Sobrevivente". Daí que depressa a faixa se tenha tornado especial para mim, que tenha incluído a citação "With you by my side I will fight and defend". Esse carácter universal da música é, na minha opinião, o seu maior ponto forte.

 
Quando vi o filme pela primeira vez não tinha, portanto, ainda lido o livro em que se baseara. Por isso, até não desgostei, se bem que se assemelhasse a outras produções inspiradas em O Senhor dos Anéis, como por exemplo As Crónicas de Nárnia. Contudo, lembro-me de o meu irmão me segredar, não deviam ter ainda passado quinze minutos desde o início do filme, que este não prestava.
 
E, realmente, quando se compara o livro com o filme, é óbvio que foi uma adaptação muito mal feita. Simplificaram demasiado a história de tal forma que inviabilizaram logo a adaptação do segundo livro. É uma pena que tal tenha acontecido. Mas falarei melhor sobre isso mais à frente.
 
 
Quando Eragon encontra uma pedra azul polida na floresta, acredita que poderá ser uma descoberta bendita para um simples rapaz do campo: talvez sirva para comprar carne para manter a família durante o Inverno. Mas quando descobre que a pedra transporta uma cria de dragão, Eragon depressa se apercebe de que está perante um legado tão antigo como o próprio Império.

De um dia para o outro, a sua vida muda radicalmente, e ele é atirado para um perigoso mundo novo de destino, de magia e de poder. Empunhando apenas uma espada legendária e levando os conselhos dum velho contador de histórias como guia, Eragon e o jovem dragão terão de se aventurar por terras perigosas e enfrentar inimigos obscuros, dum Império governado por um rei cuja maldade não conhece fronteiras.Conseguirá Eragon alcançar a glória dos lendários heróis da Ordem dos Cavaleiros do Dragão? O destino do Império pode estar nas suas mãos...
Christopher Paolini planeou a série quando tinha quinze anos, se não me engano. Inicialmente, tencionava criar uma trilogia mas, quando começou a trabalhar no terceiro volume, decidiu esticar a série para um ciclo de quatro livros. Grande fã de fantasia, a sua ideia inicial era criar uma história que reunisse os seus elementos preferidos sem, contudo, pretensões de ser publicada. É assim que muitos escritores jovens dão os seus primeiros passos. Eu, por exemplo, quando era pequena escrevia histórias com o Bugs Bunny e/ou o Rato Mickey e afins e, mais tarde, com o Pokémon. Meros exercícios de escrita mas, sem eles, dificilmente teria escrito livros "a sério". No entanto, Paolini acabou por decidir publicar "Eragon", o primeiro livro da série. A obra acabou por ser um sucesso a nível planetário, mesmo utilizando conceitos emprestados.

"Eragon" é capaz de ser, dos quatro, o livro que se lê mais facilmente, por ter mais ação, por quase todo o livro contribuir para o avanço da história, enquanto os outros três possuem frequentes passagens mais "paradas", digamos. A tensão é maior por o protagonista se encontrar sobre ameaça quase permanente, por, durante uma boa parte do enredo, não perceber o que acontece em seu redor, por ainda ser relativamente imaturo, sobretudo nas capacidades que começa a desenvolver, acabando, como uma das personagens chega a assinalar "por obrigar toda a gente a protegê-lo".

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A narrativa de Eldest começa três dias após a cruel batalha travada por Eragon para libertar o Império das forças do mal. Agora, o Cavaleiro de Dragões se vê envolvido em novas e emocionantes aventuras. Em busca de um tal Togira Ikonoka – "O Imperfeito que é Perfeito" –, que supostamente possui as respostas para todas as suas perguntas, Eragon parte, junto com Saphira, o dragão azul que o acompanha desde o início da aventura, para Ellesméra, a terra onde vivem os elfos. Lá, eles pretendem aprender os segredos da magia, da esgrima e aperfeiçoar o seu domínio da língua antiga.

Em sua jornada, que também é uma caminhada para a maturidade, Eragon conhece seres e lugares diferentes e se apaixona por Arya, filha da rainha Islanzdaí. Mas também descobre que nem tudo é o que parece. Conflitos e traições aguardam o jovem herói e por um longo tempo ele não tem certeza em quem pode confiar. Os desafios de Eragon são entremeados pela luta de Roran, cuja importância aumentou em relação ao primeiro livro, formando narrativas paralelas que se juntam no fim com um único objetivo: derrotar o grande rei.

Mais maduro e preparado, Eragon consegue afastar o exército inimigo por algum tempo. A vitória definitiva, no entanto, só acontece depois da revelação de um grande segredo, que fará com que Eragon e Roran se unam novamente e decidam partir para uma nova e perigosa missão, que parece ser o ponto de partida do terceiro livro: salvar a noiva de Roran, Katrina, dos Ra’zac.
Enquanto "Eragon" se focaliza exclusivamente na personagem principal, homónima, em "Eldest", a história é-nos contada também na perspetiva de Roran - primo de Eragon - e Nasuada - neste livro, eleita líder dos Varden, uma organização de resistência ao regime totalitário de Galbatorix. E ainda bem que assim é, uma vez que a situação de Eragon é bem menos interessante do que no primeiro livro, agora que já não se encontra em perseguição/fuga quase permanente. A tensão, neste livro, acaba por se centrar em Roran, perseguido pelo Império sem saber porquê, acabando por ser obrigado a fugir, juntamente com a população da sua aldeia natal, de modo a salvar as vidas deles todos, e a resgatar Katrina, a sua noiva.

No entanto, aquelas passagens mais monótonas de que falei acima, mais irrelevantes do ponto de vista da ação, não deixam de ser interessantes pelas reflexões que a própria personagem principal é induzida a fazer, traçando paralelismos com a realidade. Abordarei este assunto mais exaustivamente mais à frente nesta entrada.


Em Brisingr, Eragon e seu dragão, Saphira, conseguiram sobreviver à batalha colossal na Campina Ardente contra os guerreiros do Império. No entanto, Cavaleiro e dragão ainda terão de se deparar com inúmeros desafios. Eragon se vê envolvido numa série de promessas que talvez não consiga cumprir, como o juramento a seu primo, Roran, de ajudá-lo a resgatar sua amada Katrina das garras de Galbatorix. Todavia, Eragon deve lealdade a outros também. Os Varden precisam desesperadamente de sua habilidade e força, assim como elfos e anões. Com a crescente inquietação dos rebeldes e a iminência da batalha, Eragon terá de fazer escolhas que o levarão a atravessar o Império, viajando muito além. Escolhas que poderão submetê-lo a sacrifícios inimagináveis? Conseguirá o jovem unir as forças rebeldes e derrotar o Império?
Este é, na minha opinião, o livro mais fraco do ciclo, por ser aquele que menos avança na ação, por ter demasiadas passagens monótonas - e nem todas têm a contrapartida de induzirem reflexões, algumas parecem estar lá apenas para encher chouriços. Tem os seus momentos, sem dúvida - o momento em que Eragon descobre a verdadeira identidade do seu pai é, na minha opinião, o ponto alto de Brisingr - mas o livro não tem grande força por si só, limita-se a abrir caminho para o último livro, a definir o cenário em que este decorrerá, a fornecer armas a Eragon para o confronto final - armas tanto no sentido literal como no figurativo: segredos, alianças, etc. Nesse aspeto, assemelha-se a Harry Potter e o Príncipe Misterioso, até porque também Brisingr termina com a morte de um mentor. Até Eclipse, da saga Twillight/Crepúsculo ou Luz e Escuridão, se assemelha em parte pois também vai dando pistas - ainda que de uma forma mais subtil - que remetem para o livro final.

Isto deve até ser uma maldição relacionada com penúltimos livros pois encontro-me, neste momento, a trabalhar no terceiro e penúltimo livro da minha série e estou a ter grandes dificuldades. Enquanto os dois primeiros livros me saíram naturalmente, ficando o primeiro rascunho pronto em cerca de seis ou sete meses, ando encalhada neste há quase um ano. E não acredito na máxima que diz que o que é escrito sem esforço é lido sem gosto, antes pelo contrário. Pelo menos no meu caso, com as suas exceções, os melhores textos são aqueles que se escrevem a si mesmos. Uma parte de mim deseja, pura e simplesmente, saltar para o livro final - o que não é possível. Em todo o caso, pode ser que o resultado final se aproveite. Vou fazer por isso, pelo menos.

 
 
Há pouco tempo atrás, Eragon – Aniquilador de Espectros, Cavaleiro de Dragão – não era mais que um pobre rapaz fazendeiro, e o seu dragão, Saphira, era apenas uma pedra azul na floresta. Agora, o destino de toda uma sociedade pesa sobre os seus ombros.


Longos meses de treinos e batalhas trouxeram esperança e vitórias, bem como perdas de partir o coração. Ainda assim, a derradeira batalha aguarda-os, onde terão de confrontar Galbatorix. E, quando o fizerem, têm de ser suficientemente fortes para o derrotar. São os únicos que o podem conseguir. Não existem segundas tentativas.


O Cavaleiro e o seu Dragão chegaram até onde ninguém acreditava ser possível. Mas serão capazes de vencer o rei tirano e restaurar a justiça em Alagaësia? Se sim, a que custo?
Os primeiros capítulos deste livro continuam, um pouco, a linha de Brisingr: relativos poucos avanços na história, cimentação de alianças, preparação do herói para o confronto final. E mesmo ultrapassada essa parte, o livro demora a arrancar. Só arranca verdadeiramente após o rapto de Nasuada. A partir daí o livro ganha maior interesse à medida que nos são revelados os segredos finais - segredos esses que me fizeram arquejar de espanto quando os li pela primeira vez - conhecemos, finalmente, Galbatorix no cativeiro de Nasuada - até ao momento, Galbatorix fora uma personagem ausente, o máximo que havíamos tido direito fora ouvir a sua voz à distância no final de Brisingr - onde também assistimos à tortura, tanto física como mental da jovem líder dos Varden e ao nascimento de uma ligação entre esta  Murtagh - ligação esta que se tornará crucial - e assistimos ao longamente antecipado confronto final, herói versus vilão.

Nesta última parte, faz-me alguma confusão a forma como Galbatorix está ciente de todas as armas dos heróis, incluindo as "arranjadas" à última hora. Não ficou bem explicado. Não sei se foi uma ponta deixada propositadamente por atar ou se foi um deslize...

O epílogo da história ainda se estende por uns quantos capítulos. Pessoalmente, tenho pena de que o terceiro ovo de dragão só tenha chocado já depois de Galbatorix ter sido derrotado, mas compreendo que tal não fosse possível...


Muitos esperavam que, no final, como em todas as histórias, o herói conquistasse a donzela. O próprio autor admitiu que era esse o plano inicial. No entanto, à medida que a história ia prosseguindo e a personagem se ia desenvolvendo, Paolini concluiu que não seria coerente com a sua personalidade se Arya "caísse nos braços" de Eragon.

Eu tive pena. Gosto da dinâmica entre Eragon e Arya, de como ela é, em simultâneo, mentora e companheira de luta do jovem Cavaleiro, ao invés de ser apenas uma donzela em apuros - ou vice-versa. Mas compreendo. No momento em que Herança acaba, a diferença de idades e a fidelidade de Arya a um amante morto são grandes barreiras a um eventual romance entre ela e Eragon. No entanto, a meu ver, uma vez que ambos são imortais e Cavaleiros, com o tempo, tais obstáculos deixarão de sê-lo.

É outra das características de Herança: por um lado, muitas pontas soltas são atadas - algumas até de forma algo forçada - outros arcos narrativos são deixados em aberto. Como a personagem Angela, uma das mais interessantes e misteriosas das quatro obras. Paolini deu a entender que atar essas pontas em futuras obras - mas num futuro ainda distante.

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A série foi batizada Ciclo da Herança pois, na sua essência, a história é sobre passagem do testemunho da geração mais velha para a mais nova, sobretudo no que toca à luta contra a tirania de Galbatorix. Ao longo da série, praticamente todos os progenitores, todos os mentores - que ainda não estiverem mortos no início de "Eragon" - vão morrendo um a um, tendo o seu trabalho de ser continuado pelos filhos e/ou alunos, pelos herdeiros.

Um dos aspetos mais interessantes do Ciclo é, na minha opinião, a dinâmica daquelas que considero as três personagens principais: Eragon, o seu meio-irmão Murtagh e o seu primo Roran. Eragon e Roran foram criados como irmãos, no mesmo meio. No entanto, o primeiro torna-se Cavaleiro do Dragão, enquanto o outro mantém-se humano. Não que isso lhe constitua um entrave, ele acaba por desempenhar um importante papel na luta contra o Império ao tirar o maior partido possível das armas que possui. Ele e Eragon têm, portanto, vidas divergentes. Por sua vez, Eragon e Murtagh têm vidas convergentes. O primeiro cresce num meio completamente diferente daquele em que o irmão cresce: sempre consciente de que é filho do falecido Morzan, um antigo aliado de Galbatorix e um dos homens mais odiados do Império. No entanto, os dois irmãos acabam por ter vários aspetos em comum e acabam, ambos, por se tornarem Cavaleiros.

Este conceito de personagens ligadas umas às outras desta forma, por um lado tão parecidas, por outro lado tão diferentes, faz com que o Ciclo se assemelhe a Harry Potter. O trio Harry-Voldemort-Snape acaba por ser parecido com o trio Eragon-Roran-Murtagh.

Murtagh assemelha-se a Snape no sentido em que ambas as personagens são ambíguas, despertam sentimentos contraditórios. Isto é mais claro no caso de Murtagh já que, no caso de Snape, a maneira como ele se relaciona com Harry dificulta a perceção do seu lado bom. E, no final, o amor leva-os à redenção, desempenhando um papel fundamental na derrota do mau da fita.

Acho tão interessante esta dinâmica que resolvi reproduzi-la também nos meus livros. Aparecerá a partir do terceiro.


Já que se aborda o assunto, vale a pena mencionar as semelhanças entre o Ciclo da Herança e Harry Potter. São várias e provavelmente tratam-se de coincidências. Ambas as séries se centram num órfão "escolhido" para derrotar um inimigo tirano, cujo poder reside, em parte, em certos objetos - os conceitos de Horcruxes e Eldunarí são parecidos embora já tenha ouvido dizer que o conceito de objetos de poder não é novo.

Por fim - e considero este um dos maiores pontos fortes de ambas as séries - o facto de, apesar de ambas serem séries de fantasia, ambas apresentarem analogias para a "vida real", induzindo reflexões. No Ciclo da Herança, este carácter está mais evidente em Eldest e Brisingr e os temas abordados são o racismo, a desconfiança perante aquilo é diferente, a ditadura, a política, a própria natureza humana, deixando, no fim, uma mensagem de tolerância, de empatia, de que "o importante não é aquilo que se nasce mas aquilo em que se torna", que "são as nossas escolhas e não as nossas qualidades que determinam quem somos".

E, mais uma vez, espero conseguir o mesmo com os meus livros.

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Diria que a minha personagem preferida é Nasuada. Ela é filha de Ajihad, líder dos Varden, acabando por herdar a liderança do grupo de resistência. Quando Nasuada foi nomeada líder pelo Conselho de Anciãos, estes esperavam que a jovem funcionasse como uma marioneta, que eles fossem os verdadeiros detentores do poder. No entanto, Nasuada cedo deixa bem claro que é capaz de tomar decisões pelos Varden, mostrando ser uma líder carismática, capaz de conquistar a lealdade por parte dos seus súbitos.

Nasuada destaca-se no Ciclo da Herança precisamente pela sua personalidade forte, pela forma como gere a resistência ao Império. Apesar de fazer questão de lutar ao lado dos soldados, fugindo à sua condição de mulher, o seu maior papel é nos bastidores das batalhas, fazendo a gestão pessoal de guerreiros como Eragon e Roran, transmitindo coragem e determinação ao seu povo. Durante Eldest e Brisingr, Nasuada é, no fundo, a personificação dos Varden - tanto as suas motivações como preocupações são as motivações e as preocupações do grupo rebelde. É a figura política perfeita, dedicada ao seu povo, como não existe na vida real. Nesses dois livros é difícil destrinçar Nasuada, a pessoa, de Nasuada, a líder os Varden.

O seu rapto em "Herança" torna-se interessante pois, pela primeira vez vemos Nasuada "liberta" da responsabilidade da liderança dos Varden, sem outras motivações ou preocupações que não a própria sobrevivência, a resitência à tortura por parte de Galbatorix. É obviamente de louvar a sua coragem e perseverança perante as condições em que decorre o seu cativeiro e interessante assistir ao nascimento do "romance" entre ela e Murtgah que, como já foi referido várias vezes nesta entrada, consegue alterar as motivações do jovem Cavaleiro conduzindo-o à redenção.

Depois da morte de Galbatorix, a sua nomeação para Rainha surge de uma forma natural. Eu, pelo menos, estava à espera. Segundo o plano inicial, seria Roran a assumir o trono. No entanto, à semelhança do que tinha acontecido com Arya, à medida que a personagem se foi desenvolvendo, tornou-se claro que tudo o que Roran deseja é uma vida pacífica, em Carvahal, junto da mulher e dos filhos que eventualmente terá. De resto, notam-se algumas semelhanças nas personalidades de Nasuada e Roran: também ele é devotado ao seu povo - no caso dele, a aldeia de Carvahal - e revela ter capacidade de liderança, de incitar os outros para a luta, pelo que daria igualmente um bom rei, se assim o desejasse.


Com tudo isto, acho lamentável o facto de terem desperdiçado a adaptação ao cinema do Ciclo da Herança. Apesar de não ser completamente original, a série tem, na minha opinião, potencial para ser um fenómeno do calibre de Harry Potter, Crepúsculo e Jogos da Fome.

Talvez fosse necessário para tal apostar forte na vertente romântica da coisa. O Ciclo não tem o triângulo amoroso da praxe mas tem a sua quota-parte de amores contrariados. A história de Eragon e Arya teria de acabar com eles juntos, por muito que isso contrariasse a personalidade da última. O amor entre Roran e Katrina é interessante embora seja a história clássica da donzela cujo pretendente não é aprovado pela família, em particular o pai, e depois da donzela em perigo. O romance mais interessante nesse aspeto acabaria por ser o de Nasuada e Murtagh: uma paixão entre "inimigos" que, ainda por cima, desempenha um importante papel na derrota do mau da fita. Mais uma vez, o final teria de ser alterado pois, no livro, visto que o desfecho de Murtagh fica um pouco em aberto, o potencial romance com Nasuada é igualmente deixado em stand-by.

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Em suma, o Ciclo da Herança é uma das minhas séries de livros preferida, é uma referência, é uma fonte de inspiração, pelos motivos que listei exaustivamente - estiquei-me imenso, não foi? Para algo que começou por ser um mero exercício de escrita, considero que foi muito bem construído. Christopher Paolini pode ter aspetos a melhorar mas tem tempo para fazê-lo já que está ainda em início de carreira. E se o seu exercício de escrita é deste calibre, mal posso esperar para ver o que pode ele escrever "a sério".

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