Tenho uma confissão a fazer: não tinha muita vontade de escrever este texto. Filo-o quase por obrigação: porque escrevo sobre Once Upon a Time pelo menos uma ou duas vezes por ano desde os primeiros meses deste blogue. Se não tivesse nada a dizer, ainda punha a hipótese de não escrever. Mas não era o caso, logo, aqui estou.
Pelos vistos, tinha muito a dizer, pois este texto ficou bem mais comprido do que estava à espera. Tão comprido que tive de dividi-lo em duas partes – publicarei a segunda amanhã.
Alerta Spoiler: este texto contém revelações sobre o enredo, pelo que só é aconselhável lê-lo caso tenha visto todos os episódios da sexta temporada de Era Uma Vez/Once Upon a Time, até para a própria compreensão desta entrada.
A verdade é que uma boa parte deste desinteresse deve-se a uma sexta temporada muito irregular. Claros sinais de desgaste, reutilização de ideias já antes exploradas até à exaustão, a ausência de uma linha narrativa coerente, enredos enfiados a martelo, entre outras falhas. Como tal, passei este ano quase todo meio esperando, meio desejando que a série fosse cancelada – sobretudo quando se descobriu que Jennifer Morrison, Ginnifer Goodwin, Josh Dallas, Rebecca Mader e Emilie de Ravin (que fazem, respetivamente, de Emma, Snow, David, Zelena e Belle) não renovaram o contrato. De início, fiquei chateada com a notícia de uma sétima temporada – agora que sabemos que a série dará um salto no tempo e sofrerá uma espécie de Reinício (tenho um certo trauma com esta palavra…), não estou tanto.
Mas já lá vamos.
O primeiro episódio deixou-me logo com poucas esperanças para o resto da temporada – por causa da história envolvendo a protagonista, Emma. Depois de, na época anterior, se ter tornado no Dark One, ter visto o amante morrer e ter ido resgatá-lo ao mundo dos mortos, Emma descobria agora que estava prestes a morrer, às mãos de uma figura encapuçada. Porque, ao que parecia, era esse o destino de todos os Salvadores.
Durante cinco temporadas – em particular, durante a segunda metade da quarta – OUaT martelou-nos com o dogma “Vilões não têm finais felizes”. Agora diziam que os Salvadores – o supra-sumo dos heróis – também não os têm? Em que é que ficamos?
Chamo a isto Síndrome Meredith Grey: aquilo que acontece quando uma série já dura há muito tempo e os guionistas não sabem o que fazer com o protagonista. Assim, vão atirando desgraças para cima dele(a), até já não fazer sentido ou não ser de todo realista.
Apesar de não ter gostado muito da premissa inicial, a execução até foi boa, tirando um pormenor ou outro, conforme veremos adiante.
Os episódios que se seguiram ao primeiro foram bem melhores. Tal como tinha referido no ano passado, o conceito das Histórias Por Contar era interessante – os episódios que exploraram esse conceito corresponderam a essas expetativas. O problema é que… essa linha narrativa só durou seis episódios – e estou a incluir a história de Aladdin e Jasmine.
Este arco terminou tão depressa porque as duas personagens centrais – Dr. Jekyll e Mr. Hyde – morreram logo no sexto episódio. Por sinal, a história deles foi a minha preferida das Histórias Por Contar. Por um lado, por apresentar o twist de Jekyll ser o verdadeiro vilão; por outro, por desconstruir o irritante princípio de que as mulheres preferem os homens maus.
Mas isso daria azo a um texto à parte.
Depois da morte de Hyde, pensou-se que Jafar tomaria o seu lugar como vilão. Isto porque a história de Aladdin e Jasmine fora uma das mais promovidas antes do início da temporada. No entanto – de uma forma muito típica em OUaT, diga-se de passagem – a execução não correspondeu ao hype. Aladdin e Jasmine só foram centrais em dois episódios. Numa mão-cheia de outros, foram apenas secundários. Jafar, esse, tirando uns quantos flashbacks, só apareceu durante uns dez minutos. Os paralelismos entre Emma e Aladdin até tiveram o seu interesse. Tirando isso, esta parte da história não me aqueceu nem arrefeceu.
A Evil Queen foi a primeira vilã da primeira meia temporada, mas não fui grande fã. Para além de ter sido uma repetição da Regina das primeiras temporadas, sobretudo nos flashbacks, a partir de certa altura tornou-se demasiado poderosa, demasiado invulnerável. Teve de vir outro vilão – falaremos sobre ele mais à frente – para a travar, ainda que durante apenas alguns episódios.
Uma coisa de que ninguém – ninguém, nem mesmo as próprias personagens – gostou foi do envolvimento entre a Evil Queen e Rumple. Não nego que sempre existiu alguma tensão sexual, sobretudo nos flashbacks – mas também, o sex appeal sempre foi uma parte significativa do modo Evil Queen de Regina. Ela agia assim com praticamente todos os homens com quem se cruzava, David e Hook incluídos. A sua interação com Rumple não era assim tão diferente das demais. Passar das insinuações à prática foi uma péssima ideia.
Já que falamos em Rumple, este atingiu o seu ponto mais baixo nesta meia temporada. Se já na época anterior tinha notado contornos de relação abusiva no seu casamento com Belle, estes, agora, foram inconfundíveis. Prendeu Belle no Jolly Roger e, mais tarde, colocou-lhe a versão mágica de um localizador, dizendo que a ama e ao filho por nascer para se justificar; ameaça-lhe acelerar-lhe a gravidez e tirar-lhe o filho à força.
É, na verdade, o que acaba por acontecer, embora seja obra da Evil Queen e não de Rumple (não que Belle o saiba). A recente mãe acaba por decidir entregar o filho (a quem dá o nome Gideon) à Fada Azul, para que o proteja do próprio pai.
Houve alguma controvérsia entre os fãs sobre se Belle tinha o direito de negar Gideon a Rumple. Alguns argumentam que Rumple nunca faria mal ao filho e talvez até tenham razão. Eu, no entanto, se estivesse no lugar de Belle, também não quereria um homem como Rumple – que não aceita rejeição, que recorre a atalhos para obrigar pessoas a amá-lo em vez que estabelecer relações genuínas, que tem um histórico bem conhecido de abandono de crianças – perto do meu filho. Fazendo comparações com o “mundo real”, a lei é ambígua, mas eu pessoalmente acho que um agressor nunca poderá ser um bom pai – quanto mais não seja pelos exemplos que dá aos filhos.
Um aparte só para comentar que nunca esperei ter de pesquisar sobre violência doméstica enquanto escrevia sobre uma série baseada em contos de fadas… Mas também é verdade que os contos de fadas tem origens bastante sombrias.
Ainda que a decisão de Belle seja compreensível, entregar Gideon à Fada Azul acabou por ser pior a emenda que o soneto… mas já aí vamos.
Regressando à Evil Queen, a sua maior façanha de longe enquanto vilã foi a maldição que lançou a Snow e David: uma variante da Maldição do Sono em que, quando um está acordado, o outro está inconsciente.
É certo que existem uma série de incoerências nisto. Supostamente, ambos seriam já imunes a este tipo de maldições. Na segunda temporada, a Maldição do Sono implicava sonharem com um quarto em chamas – nesta, contudo, as vítimas mergulham num sono normal.
Nesta altura do campeonato é mesmo escusado esperar consistência em Once Upon a Time.
De início até foi interessante – e devo dizer que já era altura de a série explorar as consequências de Snow e David partilharem um coração. No entanto, foi um arco narrativo que se prolongou demasiado tempo – e não se percebe, por exemplo, por que motivo Emma não tentou dar-lhes o Beijo do Verdadeiro Amor.
Conforme veremos mais à frente, no entanto, gostei da maneira como encerraram essa história.
Um dos episódios mais interessantes foi o final da primeira meia temporada. Neste, a Evil Queen envia Emma para uma realidade alternativa – aqui, a primeira Maldição nunca ocorreu e Emma cresceu com os pais. Regina consegue, mais tarde, entrar nesta realidade. No momento em que esta encontra Emma em modo cem por cento princesa Disney – apanhando flores e cantando Someday My Prince Will Come/O Meu Amor Virá – eu tive de carregar no “pausa” para me rir.
A piada não durou muito. Passou a ser triste, mesmo patético, quando Regina tentou apelar ao lado heróico de Emma – inexistente, nesta realidade. A mim, custa-me a acreditar que Snow e David não tivessem educado Emma, pelo menos um bocadinho, para ser lutadora – sobretudo tendo em conta o passado guerreiro de Snow.
Emma, na verdade, só “desperta” quando a versão alternativa de Henry tenta matar Regina e esta não faz nada para se defender.
Gostei do regresso, ainda que breve, de August – bem como do pequeno flashback que conta as origens do apelido Swan. Outra pérola desta realidade alternativa foi Hook – trinta anos mais velho, barrigudo, hilariantemente alcóolico. A própria Jennifer Morrison parecia estar a esforçar-se por não se rir.
Por sua vez, Regina “reencontra” Robin nesta realidade alternativa. Reencontra entre aspas pois este, como todos os habitantes deste mundo, é uma versão diferente do seu antigo amante – um Robin que nada tem de heróico, que rouba para proveito próprio. Regina, como seria de esperar, trá-lo para Storybrooke.
Não acredito que houvesse uma única pessoa na audiência que acreditasse que aquilo ia resultar. E, de facto, Robin não se consegue integrar em Storybrooke, na sombra deixada pela versão mais heróica de si. A sua partida torna-se inevitável.
Para onde vai ele? Para explicar, temos de saltar alguns episódios. No final da primeira meia temporada, a Evil Queen tinha sido transformada numa serpente e aprisionada por uma figura encapuçada, acabada de chegar a Storybrooke – a mesma figura destinada a matar Emma. Alguns episódios mais tarde regressa à sua forma habitual e confronta Regina com o intuito de matá-la.
É durante esse confronto que, conforme todos sabíamos que iria acontecer mais cedo ou mais tarde, Regina percebe que deve aceitar o seu lado mau – ou seja, aceitar-se a si mesma, amar-se a si mesma. Não foi muito diferente da história de Emma, durante o arco de Frozen, sem parecer repetição.
E a verdade é que, mais do que nas maldições, nos duelos grandiosos, nas figuras da Disney feitas carne, é nestes momentos de crescimento das personagens, de humanidade, que Once Upon a Time brilha verdadeiramente, ofuscando os seus defeitos.
Ao contrário do que muitos esperavam, Regina não reabsorve a Evil Queen. Em vez disso, Regina mistura os corações de ambas, de modo a ficarem com a mesma proporção de luz e sombra. A Evil Queen (chateia-me um bocadinho que não tenham arranjado outro nome para ela) vai, depois, viver com Robin na realidade alternativa que ela mesma criara.
Já na altura me perguntei se fora boa ideia enviarem a Evil Queen para um reino em que ela era procurada por regicídio e rapto da princesa. Não foi surpresa, por isso, quando se descobriu que ambos fugiram para a Floresta Encantada original, onde acabaram por ficar noivos.
Sempre consola um bocadinho que uma versão de Regina e uma versão de Robin tenham tido um final feliz juntos.
Recuemos alguns episódios. Depois de Emma regressar a Storybrooke, encontra a figura encapuçada que estava destinada a matá-la. Nada mais nada menos que… Gideon, o filho de Belle e Rumplestilskin.
Eu passo a explicar.
Tínhamos visto que Belle deixara o filho recém-nascido à guarda da Fada Azul. Infelizmente, esta não foi capaz de proteger a criança durante mais do que um dia, se tanto: esta acabararia por ser raptada pela Fada Negra (que, segundo o que descobríramos no episódio anterior, era a mãe de Rumple e o abandonara pouco depois de ele nascer).
Dá vontade de citar o meu meme preferido: “You had one job!”. Se já antes não gostava da Fada Azul, depois desta gosto ainda menos.
Havemos de falar melhor sobre a Fada Negra, também conhecida por Fiona. Para já, só é necessário saber que esta aprisionou o neto no seu reino, onde o tempo passa mais depressa. Em suma, Gideon envelheceu vinte e oito anos do dia para a noite, essencialmente.
Por esta altura já contávamos cinco anos e meio de #OUaTlogic. Pais e filhos com as mesmas idades biológicas; Leopold noivo e mãe e filha; Rumple envolvendo-se com mãe e filhas; Emma envolvendo-se com enteado e padrasto; Regina adotando o neto da sua enteada; uma cidade quase sempre isolada do resto do mundo mas que se sustém sem problemas.
Mas uma criança crescer até à idade adulta antes de o corpo da mãe recuperar totalmente do parto (assumo eu…)? Já é demais.
Gideon diz que quer matar Emma para lhe roubar os poderes de Salvadora, de modo a derrotar a sua avó. O que obviamente não faz sentido nenhum – ao que parecia, ele estava a confundir a Salvadora com o Dark One.
Não foi, portanto, grande surpresa quando se descobriu que Gideon estava a ser controlado pela Fada Negra. Foi-nos revelado, também, que esta era a grande opositora de Emma, que a “Batalha Final” de que Rumple falava na profecia do episódio-piloto seria entre a Fada Negra e a Salvadora. Isto por ter sido Fiona a criar a primeira Maldição, a Maldição que Emma nasceu para quebrar.
O que não me convenceu. Se os guionistas queriam vender a Fada Negra como a principal vilã até agora em Once Upon a Time, a Némesis de Emma, deviam ter dado pistas sobre isso antes. Tanto quanto me lembro, só se fala dela em Snow Falls, na primeira temporada, e Snow Drifts/No Place Like Home (que, de qualquer forma, é uma espécie de remake de Snow Falls). Mesmo que fosse esta desde o início (coff coff, dúvido), sem os devidos indícios, esta parte parece enfiada a martelo.
Para ser sincera, modéstia à parte, a minha teoria de há um par de anos faria mais sentido – aquela segundo a qual o grande vilão da série seria a essência do Dark One. Mesmo o próprio Rumplestilskin ou a Evil Queen fariam mais sentido.
Uma coisa tenho de reconhecer, contudo: em termos de carisma, Fiona não fica nada atrás de outros vilões icónicos da série, como Rumple, Cora ou Regina em modo Evil Queen.
Perto do fim da temporada, é revelado o motivo pelo qual Fiona abdicou do filho, ainda antes de lhe dar um nome. No dia em que Rumple nasceu, a Fada Azul e Tiger Lilly profetizam que ele seria um Salvador, destinado a confrontar uma grande força da Escuridão, nascida na mesma altura, na Batalha Final.
Esta cena de Rumple ter estado destinado a ser um Salvador, de início, pareceu-me vinda do nada. Mas, entretanto, lembrei-me da realidade alternativa do final da quarta temporada, em que Rumple é o Light One. Se, nessa realidade, Rumple nunca tiver sido abandonado por nenhum dos pais, nunca tiver ganho fama de cobarde, faz sentido que se tenha tornado um Salvador – mesmo que não seja esse o título que usa.
Infelizmente, nesta realidade, Fiona decide tornar-se uma fada para proteger o filho. Quando, a certa altura, fica disposta a matar Tiger Lilly, a sua magia torna-se negra – um pouco à semelhança do que tinha acontecido com Nimue, conforme vimos na quinta temporada. A própria Fiona torna-se, assim, a tal força da Escuridão destinada a matar Rumple.
Um caso clássico que profecia que se cumpre a si mesma. O que, de resto, faz a Fada Azul descer ainda mais na minha consideração: mais valia que tivesse ficado calada!
A certa altura, a Fada Azul dá a Fiona a hipótese de abdicar do seu poder, de modo a não ter de enfrentar Rumple na Batalha Final. À semelhança do que o filho faria inúmeras vezes, Fiona recusa. Em vez disso, separa Rumple do seu destino como Salvador. Depois disto, a Fada Azul bane Fiona para outro mundo – o tal onde o tempo corre mais depressa.
A ideia com que fiquei foi que, já que Rumple não chegou a ser o Salvador, Emma substituiu-o, ficando ela com a tarefa de enfrentar a Fada Negra, na Batalha Final.
Voltaremos a falar sobre essa parte da história e sobre outras partes na próxima entrada, amanhã. Fiquem por aí!
O meu plano para este verão consistia em escrever e publicar a minha série de entradas sobre Pokémon de seguida - com um único interregno para uma tag. No entanto, estes textos estão a dar-me mais trabalho do que antecipei. Contava tê-los terminados por agora, mas ainda a procissão vai no adro e o tempo começou a escassear. Já tivemos as estreias tanto da nova temporada de Once Upon a Time como do próximo filme de Digimon Adventure Tri (tanto para escrever!!!), vou ter de deixar essa série em águas de bacalhau durante algum tempo. Que deverá compreender mais algumas semanas, pois, como se OUAT e Tri não bastassem, já não falta muito para a próxima dupla jornada da Seleção - ou seja, terei de me virar para o meu outro blogue.
Uma coisa é certa, estes textos nunca virão antes do lançamento de Pokémon Sun&Moon, marcado para 23 de novembro cá em Portugal. Fica a promessa, farei por cumpri-la.
Alerta Spoiler: Este texto contém revelações sobre o enredo, pelo que, até para a própria compreensão do mesmo, não é aconselhável que este seja lido, a menos que tenham visto Era Uma Vez /Once Upon a Time até, pelo menos, o final da quinta temporada.
A verdade é que, durante algum tempo, tive pouca vontade de escrever sobre Once Upon a Time, sobretudo quando tinha tanta coisa mais apelativa em que pensar e sobre que escrever. Adiei até às últimas semanas antes da rentrée da série. Custa-me dizer isto, mas a segunda metade da quinta temporada foi, na minha opinião, a pior desde o segundo ano de Once Upon a Time.Sabia há muito que haveria uma altura em que se começaria a notar o desgaste: esta chegou. Foi a primeira meia temporada de toda a série em que não gostei de um único episódio a cem por cento: havia sempre um flashback desnecessário ou uma história lateral desinteressante.
Conforme tinha sido referido na última análise, depois de Hook ter morrido no final da primeira metade da temporada, nesta metade o elenco principal visitaria o Submundo para trazê-lo de volta à vida. Já tinha referido que o conceito inicial do Submundo me parecera interessante: uma versão retorcida de Storybrooke, em que as almas dos que partiram ficavam lá presas, de maneira semelhante à Maldição inicial, na primeira temporada. Porque é que o Submundo se parece com Storybrooke? Veremos adiante. No entanto, eu pelo menos cansei-me depressa. Para uma dimensão supostamente só acessível depois da morte, a partir de certa altura, o Submundo começa a parecer demasiado... mundano. Na prática, no Submundo não existem diferenças vivos e mortos. Estes últimos levam uma "vida" quase normal, com necessidades semelhantes às de pessoas vivas (incluindo sexuais, conforme hilariantemente demonstrado por Cruella). Eu, pelo menos, esperava uma existência mais etérea. O Submundo acaba por não ser assim tão diferente de outras dimensões no universo de Once Upon a Time, como a Terra do Nunca ou Oz. Esta opinião vem reforçada pela forma como Belle, Zelena e Ruby vão facilmente lá parar. Se o reino dos mortos é tão facilmente acessível, uma pessoa interroga-se por que motivo ninguém do elenco principal, como Rumplestilskin, Regina ou Zelena, o visitou antes.
A parte subterrânea do Submundo (se é que podemos chamar assim) parece-me mais interessante, com inspirações na mitologia greco-romana e as referências à Divina Comédia de Dante. Agora que penso nisso, teria sido interessante se Dante e a sua amada morta, Beatriz, tivessem aparecido em Once Upon a Time ou, apenas, mencionados. Dante podia, por exemplo, ser o Autor homólogo do Livro de Histórias do Submundo.
Embora se façam vários trocadilhos entre o Submundo e o Inferno na série, o Submundo equivale mais ao Purgatório: um local onde ficam retidas as almas com "assuntos inacabados". Segundo o que nos é dito no início da meia temporada, as almas só abandonam o Submundo ou para ir para "um lugar melhor" (o Céu, assume-se, ou pura e simplesmente "a luz") ou para "um lugar bem pior" (o Inferno). No entanto, acabamos por não ver ninguém indo parar a esse lugar pior, tirando o desgraçado que Cora usou como exemplo no primeiro episódio. Em vez disso, algumas das almas vão parar (acidentalmente ou não) ao Rio das Almas Perdidas, onde se transformam numa espécie de zombie (*arrepios*). Ao longo da meia temporada, encontramos várias dessas almas com "assuntos inacabados", em histórias que faziam lembrar o Entre Vidas/Ghost Whisperer, umas mais interessantes do que outras.
Logo no primeiro episódio tivemos a oportunidade de reencontrar Henry Sénior, o pai de Regina. Esta meia temporada pode ter tido muitas falhas, conforme veremos adiante, mas este episódio pelo menos conseguiu algo que muitos poucos produtos ficcionais conseguem: fazer-me chorar. Isso aconteceu nas cenas em que Regina reencontra o pai e, depois, quando consegue acesso à "luz" e Regina lhe apresenta o neto homónimo. Admito que posso ter projetado imenso mas, de qualquer forma, o ator Tony Perez injeta imensa ternura na sua interpretação de Henry Sénior (a banda sonora também ajudou). Demonstra bem o amor incondicional e, por vezes, pouco saudável que este sempre nutriu pela filha - ao ponto de parecer quase um "banana", assistindo quase sem protestos às atrocidades que Regina ia cometendo (os flashbacks mostram, precisamente, uma das poucas ocasiões em que Henry tentou fazer frente à filha, sem sucesso). Da mesma maneira como viu a esposa, Cora, empurrando Regina para maus caminhos e nada fez para a impedir. Fez sentido, então, que Henry Sénior tenha conseguido seguir em frente da primeira vez que a filha não se deixou manipular pela mãe.
Mais sobre Cora adiante.
No Submundo também encontramos vilões, como a Bruxa Cega (morta na primeira temporada por Hansel e Gretel, a mando de Regina) e Cruella (morta da forma que sabemos). A primeira gere o diner homólogo ao da Avozinha em Storybrooke (com crianças no menu...) e, não tendo representado verdadeiro antagonismo aos heróis (tirando perto do fim). Sempre providenciou umas trocas de picardias em jeito de comic relief. Cruella, por sua vez, tinha os seus próprios interesses. Inicialmente, tentou manobrar Henry para que este usasse a pena de Autor para a devolver a vida. Acabou por não dar em nada, tirando convencer Henry a usar a pena "para o bem". Após isso, Cruella foi relegada para a posição de vilã-quando-o-enredo-precisar - um papel semelhante ao que Zelena representava na primeira metade da temporada - mas sempre com o seu charme muito próprio (revejam a cena com David que referi antes). No fim, assume a liderança do Submundo, no lugar de Hades.
Reencontramos, também, Milah, a primeira esposa de Rumple, mãe de Neal, que também teve um romance com Hook. Milah é uma personagem muito complexa, ao nível das melhores personagens de Once Upon a Time, que toma atitudes com as quais não concordaríamos, mas não totalmente incompreensíveis. Dizer que o seu casamento com Rumple não foi feliz é eufemismo. Ser casada com alguém tão inseguro como Rumple era na altura não deverá ter sido nenhum prémio. No entanto, se a esposa se tivesse mostrado mais compreensiva em determinadas alturas, talvez Rumple não se tivesse tornado tão cobarde quanto se tornou. Rumple essencialmente vendeu o potencial segundo filho do casal sem consultar Milah, fazendo com que esta agarrasse a primeira oportunidade para fugir. No entanto, deixou Baelfire, que não tinha culpa de nada, para trás - ou seja, este acabaria por ser abandonado por ambos os pais em alturas diferentes. Ao abandonar Rumple, trocando-o por Hook, deixou o primeiro ainda mais predisposto para a Escuridão. No entanto, continuo a achar que não merecia ter morrido da forma como morreu.
Quando a encontramos no Submundo, os assuntos inacabados de Milah prendem-se com o seu abandono de Baelfire. Numa conversa em que ela e o antigo marido se mostram inesperadamente vulneráveis, Milah confessou que tudo o que deseja é voltar a ver o filho e pedir-lhe perdão. Pouco antes, Emma - após uma apresentação extremamente misógina por parte de Rumple - dera-lhe algum conforto ao revelar-lhe que Neal estava feliz, num lugar melhor. Foi de uma crueldade indescritível Rumple ter, mais tarde, atirado-a para o Rio das Almas Perdidas. Volto a dizer, nem mesmo Milah merecia isto. O mais triste é que, da parte de Rumple, isto já não surpreende.
Outra alma presa ao Submundo relacionada com Rumple é a do pai, Peter Pan. Este acaba por não ter grande tempo de antena, mas não me queixo. Ele cumpriu o seu papel na terceira temporada, não se encontra, na minha opinião, entre as personagens mais interessantes de Once Upon a Time. Desta feita, ele não sente rancor contra o filho, deseja mesmo regressar ao mundo dos vivos com ele... no lugar de um dos heróis. Rumple vai aceitando a sua ajuda, em alguns momentos, mas no fim condena-o ao Rio das Almas Perdidas. Problema resolvido.
Voltaremos a falar de Rumple mais à frente. Para já, o caso de que falaremos agora está mais ligado a Oz do que ao Submundo. Há pelo menos dois, três anos, que se especulava sobre a inclusão de um casal LGBT em Once Upon a Time. O primeiro indício disso ocorreu perto do início da terceira temporada, entre Mulan e Aurora. Como poderão ver, há suficiente ambiguidade para uns pensarem que Mulan se refere a Aurora e outros pensarem que ela se refere a Phillip. A questão voltou a surgir já na quinta temporada - no episódio The Bear King, o tal que se seguiu à revelação de que Hook se tornara um Dark One. Desde essa altura, os fãs estavam à espera que o romance se desenrolasse entre Mulan e Ruby. Quando, afinal, Ruby se apaixona por Dorothy, houve quem tivesse ficado desiludido. É possível, no entanto, que a Disney tenha vetado uma potencial saída do armário por parte de uma das suas princesas, sobretudo uma que terá, em breve, o seu próprio filme em live action. Talvez fosse um passo demasiado avançado - embora se fale da possibilidade de Elsa arranjar uma namorada na sequela a Frozen.
Tirando esse aspeto e, talvez, o facto de as personagens se terem apaixonado ao ponto de terem "amor verdadeiro" em menos de um episódio (o que, de resto, não é propriamente inédito em Once Upon a Time - a abordagem ao primeiro romance lésbico da série foi quase perfeita. As hesitações sentidas pelas personagens não se prendiam com o género e sim com traumas do passado, com dúvidas existenciais, semelhantes às sentidas por outras personagens em OUAT). Personagens terceiras ao casal reagiram com naturalidade ao romance, nada afetadas pelo seu caráter homossexual. Deram um exemplo que devia ser seguido por muitas pessoas de carne e osso (incluindo algumas aqui na blogosfera...).
Passemos, agora, ao menos bom das almas do Submundo. A história de Liam Jones, o irmão de Hook, não me aqueceu nem me arrefeceu. A de Hércules e Mégara foi, na minha opinião, uma oportunidade desperdiçada. No filme da Disney, Mégara oferecera os seus serviços como escrava a Hades em troca da vida do seu amante. Depois de regressar a vida, no entanto, o "cretino" trocara-a por outra. Teria sido interessante se Once Upon a Time tivesse pegado nessa história, estabelecendo um paralelismo entre ela e a busca de Emma or Hook.
Em vez disso, Mégara faz o papel de uma típica donzela indefesa (e nem sequer no sentido irónico do termo, como no filme), numa história que se focou mais em Snow. Não foi assim tão interessante - os flashbacks mostraram, essencialmente, os primeiros passos da jovem Snow passando de princesinha mimada a guerreira, com a ajuda de Hércules. No presente, Hércules está morto e preso no Submundo. Snow ajuda-o a seguir em frente e, no processo, recupera confiança em si própria. Valeu a pena só pela prestação de Bailee Madison, que já anteriormente tinha feito de jovem Snow. Bailee já de si é parecida com Ginnifer Goodwin. Adicionalmente, imita na perfeição as expressões e a maneira de falar da atriz mais velha. É uma delícia vê-la. Se quiserem incluir mais flashbacks da juventude de Snow na série, no futuro, protagonizados por Bailee, eu assinaria de imediato por baixo.
No fim deste episódio, Snow declara que não quer voltar a ser tratada por Mary Margaret - por norma mais passiva, focando-se mais em discursos de esperança e tal - e sim por Snow White, mais proativa e lutadora. Tudo muito bonito e inspirador e tal mas, na prática, não teve consequências. Tudo o que Snow fez no resto da temporada, para além de dar apoio a Emma e, mais tarde, a Ruby, foi lamentar-se por estar longe do filho, Neal (aumentando ainda mais o sentimento de culpa a Emma - mais sobre isso adiante) até conseguir, finalmente, regressar mais cedo a Storybrooke. Sempre deu um momento bonitinho, quando David troca o nome dela pelo seu na lápide que a prende ao Submundo, mas de resto Snow continua a dar pouco para a caixa.
O mesmo se passa com o marido, David. O reencontro dele com o seu irmão gémeo mau, James, foi antecipado logo desde o primeiro episódio no Submundo. E nem precisava disso, na verdade, já que há muito que ficou claro que James é a antítese do irmão - um confronto entre eles teria sempre potencial. No entanto, a montanha acabou por parir um rato. Enfiaram o reencontro num episódio em que o interesse principal era outro. James limitou-se a atacar o irmão, a tomar o seu lugar até chegar a Emma e Robin, a ameaçar atirá-los para o Rio das Almas Perdidas. À última hora, David e Hook aparecem, quase literalmente como Cavaleiros Andantes, os dois irmãos lutam e James vai parar ao Rio. Tudo muito superficial, quase cliché. Só prova que David e Snow continuam entre os elos mais fracos no elenco.
Mesmo assim, não são piores que Belle e Rumplestilskin. Snow e David podem ser pouco interessantes mas, como casal, são exemplares. Rumple e Belle estão no extremo oposto, ganhando já contornos de relação abusiva. Ao menos agora, ao contrário de ocasiões anteriores, Rumple foi totalmente sincero com Belle; deixou-lhe bem claro que não vai abdicar de ser o Dark One, nem mesmo por ela. Belle, mesmo assim, continua convencida que consegue mudá-lo, mesmo contra a vontade dele. Pelo meio, o casal descobre que estão à espera de bebé (uma integração da gravidez da atriz, Emilee de Ravin, na história) e Hades usa o acordo anteriormente referido para chantagear os pais. Belle tenta obrigar Rumple a resolver o problema sem recorrer a magia negra (vai sonhando, Belle...), mas a coisa complica-se quando Gaston, o antigo noivo de Belle assassinado por Rumple, aparece para se vingar No meio do confronto, longe de virar Rumple para a Luz, Belle acaba por se aproximar da Escuridão dele ao atirar Gaston para o Rio das Almas perdidas, para salvar a vida do marido.
Uma pessoa mais lúcida do que Belle interpretaria isto como um sinal para se afastar de vez de Rumple e procuraria ajuda em Emma e os outros. No entanto, não é isso que acontece (não é por acaso que, muitas vezes, vítimas de relações abusivas se encontram isoladas de outras pessoas da sua vida, quer por imposição do companheiro ou por outro motivo qualquer). A única pessoa para além de Rumple a quem Belle recorre é... Zelena. Esta fá-la decidir administrar a si mesma a Maldição do Sono, como forma de proteger o filho que tem por nascer de Hades. Tanto ela como Rumple sabem perfeitamente que Rumple não a ama o suficiente para quebrar a Maldição com um beijo de verdadeiro amor. Desse modo, Belle espera que Rumple arranje maneira de anular o acordo com Hades, que a traga de volta a Storybrooke, onde o pai poderá acordá-la.
Nunca achei que isso fosse resultar. Estamos a falar de um homem que tentou fazer com que a filha perdesse as memórias de modo a mantê-la afastada de um homem que ele não aprovava: Rumple. Duvido muito que o beijo do verdadeiro amor resultasse se fosse aplicado por ele. Não surpreende, deste modo, que, mais tarde, Moe tenha preferido manter a filha amaldiçoada, sem a possibilidade de voltar para o marido. A verdade é que entre o pai, Rumple e Gaston, Belle tem tido uma sorte péssima com os homens da sua vida. Na altura em que a temporada terminou, Belle ainda se encontrava sob o efeito da Maldição do Sono e Rumple ainda não sabia como acordá-la (consta que isso terá um arco narrativo próprio na sexta temporada). Só espero que, quando acordar, Belle corte definitivamente com Rumple. Não me queixaria, aliás, se ela fosse excluída da história pois toda esta história com Rumple desgastaram imenso a personagem.
Regressemos, então, à raison d'être de toda a meia temporada: Emma resgatando Hook. Depois de a primeira metade do quinto ano de Once Upon a Time se ter concentrado quase só nela, Emma ocupa um lugar mais secundário durante vários episódios. No relativamente pouco tempo de antena a que tem direito, infelizmente, não faz nada de muito interessante. Na minha opinião, perde demasiado tempo com sentimentos de culpa por a família ter vindo consigo para o Submundo. Fez-me ter saudades da Dark Swan - ela, ao menos não perdia tempo com lamúrias, preocupava-se antes em fazer o que tinha de ser feito. É de resto habitual em Once Upon a Time, mas não só: muitos vilões são mais interessantes que os heróis. Talvez por os últimos terem, por norma, uma atitude mais passiva, reagindo em vez de agindo, muitas vezes debatendo-se com o que está certo e errado - enquanto os vilões fazem o que querem, sem dar satisfações a ninguém... mas isso daria azo a um outro texto, por si só.
Pudemos, no entanto, conhecer a história de origem do icónico casaco de cabedal vermelho de Emma (ando a rondar a Cada das Peles à procura de um parecido) e de como ela se tornou agente de fianças. Achei os flashbacks centrados em Emma e Cleo interessantes, só estranhei o facto de terem ocorrido apenas dois anos antes dos eventos da primeira temporada. Emma sempre deu a entender que contava vários anos de experiência em, como ela diz, "encontrar pessoas". Além de que a ideia de que Emma passou cerca de oito anos, desde o nascimento de Henry e de que saiu da prisão, deambulando por aí no seu carocha amarelo, sustentando-se com assaltos a lojas de conveniência, é deprimente.
No início da meia temporada, eu estava à espera que arrastassem o resgate de Hook, que ele só se reencontrasse com Emma mais tarde, na temporada. O reencontro deu-se logo no terceiro episódio. O arrastamento deu-se imediatamente depois, quando Hades prendeu os heróis ao Submundo. Em linha com o que referi antes, sobre o Submundo parecer demasiado mundano, Emma e Hook levam uma vida quase normal durante a maior parte da meia temporada. O que faz com que os eventos do antepenúltimo episódio doam mais.
Eu sinceramente ainda não percebi que mensagem a série quer passar a Emma pois ora a castiga por não se querer comprometer com Hook, ora a castiga por se agarrar a ele (tornando-o um Dark One para lhe salvar a vida, indo resgatá-lo ao Submundo). Sinceramente, achei parvo que Emma e Hook tenham sido obrigados a despedir-se (sendo esta a quarta vez que Emma vê Hook morrer) para, um episódio mais tarde, Hook ressuscitar literalmente por intervenção divina (ainda que merecida, de certa forma). Parvo... e tendo em conta que os deuses não mostraram a mesma bondade a outras personagens, mesmo cruel.
Mas já aí vamos.
Ainda não falei do vilão da meia temporada, Hades, o Senhor do Submundo. Este é, na verdade, um dos motivos para que esta meia temporada tenha tido menos qualidade. Once Upon a Time tem se caracterizado pelos vilões carismáticos mas Hades, na minha opinião, não é um deles. Greg Germann faz uma interpretação demasiado monocórdica do deus do Submundo, exceto quando se põe a sussurrar. Talvez ele pense que isso torna a personagem mais assustadora mas, na verdade, apenas o torna irritante. A sua aptência por decadência e degradação faz sentido, tendo em conta que ele é, de certa forma, o Senhor da Morte. No entanto, não é fornecida mais nenhuma explicação. As suas motivações são as típicas dos vilões de Once Upon a Time - sem sequer uma história de origem satisfatória, tirando um ressentimento ao irmão Zeus. Este congelou o coração de Hades e confinou-o ao Submundo. Não será agradável, é certo, mas nada nos garante que Hades não o tenha merecido.
A única altura em que Hades revela um mínimo de profundidade é no seu relacionamento com Zelena. Aí admito, o Senhor do Submundo é adorável quando está apaixonado. Achei particularmente tocante, de uma forma retorcida, o facto de ter criado o Submundo à imagem de Storybrooke, como forma de consolar Zelena por Rumple não a ter escolhido para lançar a Maldição. Existem, no entanto, alturas em que não se percebe se Hades está mesmo apaixonado por Zelena ou se está apaixonado pela ideia de estar apaixonado - visto que ele precisa do beijo do verdadeiro amor para se libertar das maldições de Zeus.
Zelena foi, aliás, uma das melhores personagens desta meia temporada. A Verdocas ganhou finalmente algum desenvolvimento quase um ano depois do seu bombástico regresso à série. Tal deveu-se tanto à filha recém-nascida (à boa moda de Once Upon a Time) e ao romance com Hades, como à relação com a irmã, Regina. Depois de Hades a ter arrastado, bem como à bebé e a Belle, para o Submundo, Zelena vira-se para Regina e Robin, confiando-lhes a filha e comprometendo-se a tentar torna-se a mãe de que esta precisa. Eventualmente, as duas irmãs vão se aproximando a pouco e pouco. O Senhor do Submundo, no entanto, revela-lhe que não deseja magoar, nem Zelena nem a sua filha. Pelo contrário, deseja reatar o romance com a Verdocas. Esta acaba-se por se sentir dividida entre ele e a irmã, que procura desesperadamente uma maneira de vencer Hades e de sair do Submundo.
Entretanto, Regina recorre a Cora, a mãe de ambas, para tentar proteger Zelena de Hades. Cora sendo Cora, mesmo com boas intenções, recorre inicialmente à manipulação - desta feita para tentar fazer a filha mais velha esquecer o Senhor do Submundo. Quando isso não resulta, Cora acaba por recorrer a memórias que suprimira às filhas.
Aproveito a ocasião para comentar que o modelo dos flashbacks de Once Upon a Time está a ficar obsoleto. Em metade dos casos não acrescenta praticamente nada de relevante à história e/ou à caracterização do elenco. Este caso é particularmente flagrante pois aliam os flashbacks a outro frequente plot device da série: alterações de memórias. Basicamente, enfiaram a martelo uns flashbacks da infância de Regina e Zelena, em que estas se teriam encontrado e feito amizade, antes de Cora as obrigar a beber uma poção de memória que as fez esquecerem-se uma à outra. Assim, bastou a Cora reverter o efeito da poção para Regina e Zelena se tornarem imediatamente amigas do peito. Um truque óbvio e barato, quando existiam maneiras mais genuínas de estabelecer uma amizade entre as duas irmãs.
Em todo o caso, estes eventos sempre permitiram a Cora fazer as pazes com ambas as filhas, redimindo-se de certa forma e conseguindo partir para a Luz. Provavelmente sob o efeito das emoções todas, Regina resolve dar uma oportunidade a Hades e Zelena. Antes de se encontrar com o Senhor do Submundo, contudo, Rumple e Peter Pan raptam a Bruxinha Verde, usando-a para obrigar Hades a rasgar o contrato que lhe dá direitos sobre o filho do Dark One. Hades alia-se aos heróis para salvar a amada, dando-lhes em troca passagem para fora do Submundo. Depois de resolvido o problema de Rumple (não foi muito difícil...), Zelena e Hades dão o beijo do verdadeiro amor (na minha opinião, não devia ter resultado) e vão para Storybrooke - Hades tenta reter o resto dos heróis no Submundo nas costas de Zelena. Estes escapam por pouco.
Por esta altura, percebe-se que Hades não se contenta com a simples vida doméstica que Zelena deseja para si e para a filha. À boa maneira dos vilões de Once Upon a Time, ele quer tudo e qué-lo agora. Zelena, não querendo acreditar que Hades lhe está a mentir, acaba por entrar em conflito com a irmã e com os outros heróis. No meio dos confrontos, Hades acaba por recorrer ao Cristal Olímpico para eliminar Robin - não se limita a matá-lo, oblitera mesmo a sua alma, de modo a que não haja nem Céu, nem Inferno, nem Submundo para ele. Só aí é que Zelena se apercebe da verdadeira natureza de Hades e recorre ao Cristal Olímpico para matá-lo.
Esta morte de Robin é um dos aspetos que mais critico nesta meia temporada. Não que gostasse por aí além dele - pelo contrário, nunca teve nenhum interesse especial para além de ser o objeto romântico de Regina e é precisamente por isso que a morte dele me desagradou. Robin nunca teve direito a mais desenvolvimento para além de ser o típico ladrão honrado e a segunda hipótese de Regina no amor. Praticamente tudo o que lhe acontece na série - apaixonar-se, recuperar a esposa falecida, descobrir que essa esposa era, afinal, Zelena sob disfarce e que esta espera um filho seu, quase morrer no início da quinta temporada e, finalmente, morrer no fim desta - serviu para caracterizar Regina e não a ele. Se Robin fosse uma mulher e Regina um homem, choveriam de imediato críticas à série. Não vou deixar de criticar só porque agora reverteram os papéis, não quando aquilo deviam ter caracterizado os dois elementos do casal devidamente, em vez de reduzir um deles a plot device.
Um dos objetivos da morte de Robin foi precisamente despoletar a 582ª crise existencial de Regina na série, na qual esta hesita entre o heroísmo e a vilania. Esta foi uma das tramas principais do episódio duplo de final de temporada. Desta feita não houve viagem no tempo nem a uma realidade alternativa. Em vez disso, temos uma viagem a Nova Iorque atrás de Henry, que rouba o Cristal Olímpico, pega em Violet e foge para a Big Apple para tentar erradicar a magia. Por sua vez, os Charmings, Zelena e Hook caem num portal (outra vez), indo parar a um novo reino, onde são feitos prisioneiros.
Na minha opinião, este foi o final de temporada mais fraquinho desde o da segunda. Em parte pela comparação com os finais anteriores, de que eu gostei muito, admito. Mas também achei que as tramas foram pouco interessantes. Considero mais ou menos compreensível que Henry quisesse erradicar a magia, depois de todos os sarilhos em que a sua família se meteu ao longo das temporadas por causa dela. É claro que, depois de passar das intenções aos atos, se iria arrepender ao descobrir que eliminara a única maneira de resgatar metade da sua família. Como é que se resolve este imbróglio? Henry sobe para um muro, pede às pessoas para acreditarem em magia e que atirem moedas para um repuxo, desejando que ele recupere a família. As pessoas obedecem e puff! Fez-se o Chocapic!
Para além de ser um gritante deus ex-machina, achei esta cena demasiado lamechas (e os fãs de Once Upon a Time, por norma, têm uma elevada tolerância a lamechice). Se alguém fizesse o que Henry fez na vida real, as pessoas rir-se-iam a cara dele, vaiavam-no ou, pura e simplesmente, ignoravam-no. Por outro lado, mesmo que resultasse e os Charmings, Hook e Zelena surgissem magicamente do repuxo... estamos em 2016, há smartphones em todo o lado. É mais do que certo que alguém filmaria a cena e colocaria no YouTube, arriscando a exposição de Storybrooke e dos seus habitantes. Ainda estou à espera das consequências desta jogada de Henry, mas o mais certo é os guionistas terem passado à frente assim que o problema do resgate dos heróis ficou resolvido.
Decobrimos, entretanto, que o reino onde os Charmings, Hook e Zelena ficam retidos chama-se Terra das Histórias por Contar. As primeiras personagens que conhecemos nesse mundo são Dr. Jekill e Mr. Hyde. Confesso que sei porquíssimo sobre essa história, tirando a premissa inicial (em pequena, costumava ver um episódio do Looney Tunes baseado nesse conto que me assustava imenso). São, aliás, esses dois que inspiram a decisão seguinte de Regina.
Depois de termos passado quase todo o episódio duplo a ver se Regina caía de novo na vilania ou não (se caísse, eu ia dar um berro), perto do fim Regina decide tomar o soro do Dr. Jekill de modo a arrancar o seu lado negro feito carne e a matá-lo. Aparentemente consegue, mas, nos minutos finais, descobrimos que esse lado negro personificado, a Evil Queen pura e dura, sem pingo de humanidade, sobreviveu e tenciona ripostar.
É bastante óbvio que este desenvolvimento é a maneira de os guionistas, como se diz em inglês "have their cake and eating it too", ou seja ter duas boas situações que, por norma, se excluiriam uma à outra. Depois de anos e anos consolidando Regina como uma heroína, ela não podia reverter para os seus modos vilanescos. No entanto, também é óbvio que os guionistas adoram a Evil Queen (embora, na minha opinião, esta tenha começado a roçar a caricatura nos últimos tempos) e a teta dos flashbacks já começa a secar. Com esta solução toda a gente ganha. Ficou claro desde início que pura e simplesmente erradicar o seu lado negro era uma solução demasiado fácil. Daí que não tenha sido uma grande surpresa descobrir que a Evil Queen continua viva. Toda a gente sabe, de certa forma, que mais cedo ou mais tarde Regina descobrirá que o seu lado bom e o seu lado sombrio não têm fronteiras definidas, que um não existe sem o outro, que ela não pode, pura e simplesmente, apagar todas as atrocidades que cometeu ao longo dos anos. Tudo isto, por um lado, é redundante, como dei a entender acima. Por outro, uma parte de mim anseia ver o que irá a Evil Queen tramar.
Não será só com ela que os heróis se virão a braços na sexta temporada: também com uma data de personagens da Terra das Histórias Por Contar, trazidas para Storybrooke por Mr Hyde - depois de uma negociata com Rumple, em troca de uma solução para a maldição de Belle. A sexta temporada terá, deste modo, uma estrutura semelhante à primeira. Cada episódio focar-se-á numa história diferente (algumas das quais fugindo ao cânone habitual dos contos de fadas, como o Conde de Montecristo, Simbad, o Marinheiro, Vinte Mil Léguas Submarinas, entre outras), de pequena escala, com maior envolvimento do elenco secundário, muitas vezes negligenciado nas últimas temporadas, como Dr. Archie, Dr. Whale, Cinderela e o marido. E, ao contrário dos últimos anos, este arco deverá durar a temporada inteira.
Talvez esta mudança de paradigma seja boa para combater o desgaste que senti nesta meia temporada. No entanto, o primeiro episódio já foi exibido e este não me entusiasmou - pelo contrário, a sensação de desgaste saiu reforçada, pelo menos no que toca a Emma... mas vou guardar as minhas opiniões sobre isso para outra ocasião. Já que em princípio, este arco narrativo durará a temporada toda, só deverei escrever sobre ela quando esta terminar. Por outro lado, agora que tenho uma página no Facebook, talvez vá fazendo mini-análises semanais após a exibição americana de cada episódio.
A verdade é que, depois do Europeu, vários dos meus interesses mudaram e tenho-me sentido farta de séries em geral. Não ajuda o facto de o nível ter sido fraco... outra vez. Arrow continua a insistir nos mesmos erros da terceira temporada, de tal modo que, em princípio, não vou voltar para a quinta temporada - a menos que as críticas sejam muito boas. Legends of Tomorrow teve os seus momentos, mas desisti mais ou menos a meio. Ainda posso retomar, mas é pouco provável. Com tanto filme de super-heróis a saírem, cada um com infinitas campanhas de marketing, ando saturada - apesar de só ter seguido duas séries centradas neles e, no que toca aos filmes, só ter visto o Deadpool.
The Good Wife até começou mais ou menos bem, mas acabou por se arrastar até ao final, nunca conseguindo sair da mediocridade. Considerei particularmente insultuoso que uma série que sempre se destacou pela maneira exemplar como tratava as personagens femininas, quebrando estereótipos, tenha terminado com uma mulher agredindo outra por causa dos respetivos maridos - e eu gostava tanto de Kurt e Diane como casal!
Ironicamente, tendo em conta o que escrevi no ano passado, acabei por gostar mais de ver Anatomia de Grey, ainda que como mero entretenimento apenas é ainda que os defeitos continuem lá todos (drama só porque sim, ninguém naquele elenco sabe lidar com as coisas como pessoas normais, sobretudo a protagonista, de quem gosto cada vez menos). Por outro lado, durante os últimos tempos, a única série que me tem apetecido ver é Last Man Standing/Um Homem Entre Mulheres, na FOX Comedy: uma sitcom que está longe de ser brilhante em termos de enredo e caracterização, mas que ao menos entretém-me e faz-me rir.
Apesar de todas as minhas críticas, Once Upon a Time é, neste momento, a única série que representa mais do que um entretenimento para mim, mesmo que o meu entusiasmo esteja em mínimos históricos. Mal por mal, os pontos fortes mantém-se: um elenco subvalorizado, personagens femininas bem construídas, celebração do amor em todas as suas formas, temas de esperança e redenção. E embora uma parte de mim deseje que a sexta temporada seja a última, sei que vou ter saudades de Once Upon a Time quando esta terminar de vez.
Alerta Spoiler: Este texto contém revelações sobre o enredo, pelo que, até para a própria compreensão do mesmo, não é aconselhável que este seja lido, a menos que tenham visto Era Uma Vez /Once Upon a Time até, pelo menos, o meio da quinta temporada.
A premissa da primeira metade da quinta temporada de Once Upon a Time era promissora: Emma Swan, a protagonista, o produto do verdadeiro amor, a Salvadora, a encarnação da luz, da esperança, de tudo o que é heróico... transformar-se ia no Dark One, o representante da Escuridão e de tudo o que é vilanesco. Não acredito que existisse um único fã que não estivesse nem um bocadinho entusiasmado. Eu, em particular, conforme escrevera antes, sentia-me ansiosa pelo desenvolvimento de Emma, que nem sempre fora o mais adequado nas primeiras temporadas, na minha opinião. Todo o marketing desta meia temporada centrou-se nisso.
No entanto, esta premissa apresentava um problema: contrariamente ao que alguns materiais promocionais davam a entender, incluindo este vídeo feito de propósito para a Comic Con do ano passado, transformarem Emma numa supervilã iria contra tudo o que havia sido estabelecido antes, tanto sobre o Dark One em si como sobre a personagem. Já na quarta temporada tinham tentado vender Emma como vilã, mas a única ação vilanesca que ela fez foi matar uma sociopata que ameaçava assassinar-lhe o filho. De igual modo, Emma torna-se na Dark Swan enquanto salvava a vida a Rumple (não que ele o merecesse, conforme veremos adiante) e para impedir que a essência do Dark One tomasse Regina. A única maneira de Emma se tornar naquilo que mostraram no vídeo da Comic Con seria se a essência do Dark One lhe mudasse a personalidade por completo - e, pelo que tínhamos visto de Rumple, já se sabia que não funcionava assim.
Na minha opinião, os guionistas tomaram a decisão correta ao respeitarem a evolução da personagem. Fizeram, até, questão de mostrar que Emma tinha uma capacidade de resistência invulgar aos efeitos da Escuridão - ainda que soubéssemos, desde a cena final do primeiro episódio, que a certa altura ela tornar-se-ia a sério na Dark Swan. Em toda a jornada de Emma como Dark One, a sua pior ação foi manipular a apaixonada do filho para que esta o rejeitasse - algo que, mesmo assim, chocou muita gente. No final, acabamos por descobrir que as intenções de Emma foram sempre boas, que, mais uma vez, o único motivo pelo qual cedera à Escuridão fora para salvar uma vida. Como disse antes, este arco foi mais ou menos coerente - mas fica aquele vazio por não termos visto Emma como vilã a sério.
Dizia eu que, logo no final do primeiro episódio da temporada, descobrimos que, seis semanas depois do elenco principal ter partido para Camelot, Emma está em modo cem por cento Dark One. Ela e o resto do elenco regressam a Storybrooke via mais uma Maldição e ninguém, tirando Emma, se recorda do que aconteceu em Camelot. Como poderão ver no vídeo acima, a cena em que descobrimos isto está excelente, mostrando a Dark Swan com todo o seu aterrorizante esplendor (a sério, eu estive perto de gritar pela minha mãezinha quando ela toca no rosto de Snow).
No entanto, ninguém achou muita piada a mais um caso de Maldição com perda de memória em Once Upon a Time. Por está altura, a ideia que fica é que está é a única maneira que os guionistas possuem de criar tensão. Está na altura de arranjarem truques novos.
Depois deste episódio, a narrativa vai alternando entre o que se passa em Storybrooke e flashbacks do que aconteceu em Camelot. Durante muito tempo não sabemos ao certo o que aconteceu a Emma para ela ter dado o passo final em direção à Escuridão e as suas atitudes em Storybrooke, pelo menos a mim, confundiram. Ela nunca age em conformidade com as ameaças que fez no fim do primeiro episódio. Tão depressa ela tenta aproximar-se de Henry e Hook como trata Regina com frieza. Devo inclusivamente dizer que Snow e Charming me desiludiram por, ao contrário dos outros entes queridos de Emma, não terem tentado falar com a filha, apelando ao seu lado heróico. Não sabemos se Emma está a tentar livrar-se da Luz ou da Escuridão e isso, a partir de certa altura, começa a cansar.
Não que não tenha acontecido nada de interessante pelo meio, ainda que, demasiadas vezes, as linhas narrativas paralelas desta meia temporada tivessem atrapalhado a história em vez de enriquecê-la. Como tinha escrito antes, tinha grandes expectativas para a abordagem que Once Upon a Time faria à mitologia do rei Artur e de Camelot. Não desgostei das premissas que estabeleceram. Achei que aspetos como Arthur como o Escolhido de Merlin e o romance entre Guinevere e Lancelot foram demasiado cliché. Por outro lado, achei interessante o facto de a grandiosidade de Camelot ser uma farsa, bem como o facto de Arthur não olhar a meios para manter essa falsa grandiosidade - passando por assassinar um fiel súbdito e escravizar emocionalmente a esposa. Esta história sempre rendeu o melhor momento de Snow e Charming em demasiado tempo, quando os dois conspiraram contra Arthur em "The Broken Kingdom". No entanto, depois disso, pouca evolução houve nesta linha narrativa após esse episódio, ficando tudo por resolver. Para ser sincera, acho que ninguém se ralou particularmente com isso. A partir de certa altura, Arthur passou de um vilão intrigante a apenas irritante e, de qualquer forma, estávamos todos muito mais interessados na história principal da temporada.
Gostei da versão Once Upon a Time de Merlin, mas, para alguém que foi pintado como o maior Feiticeiro de todos os tempos e dimensões, aquele que profetizara tanto a Maldição, a Salvadora e a sua suposta némesis, aquele que escolhia os Autores, cujo Chapéu poderia albergar inúmeras criaturas mágicas e libertar os Dark One da adaga... e acabámos por não ver muito do seu poder. Zelena e Arthur, por exemplo, colocaram-no sobre o controlo de Excalibur com espantosa facilidade. Merlin só poderia ser derrotado por um Dark One e, conforme veremos adiante, Dark Ones não faltaram nesta meia temporada, logo, o grande Feiticeiro acabou por não ter muito tempo para exibir os seus poderes. O que é uma pena.
Também tinha grandes expectativas relativamente a Nimue desde que soube que ela apareceria em Once. Para aqueles que não conhecem, na mitologia de Camelot, Nimue foi uma donzela enviada pela Dama do Lago para seduzir Merlin e encerrá-lo no tronco de um carvalho. N'As Brumas de Avalon, Nimue chega a apaixonar-se por Merlin enquanto o seduz e, depois de o entregar à Dama do Lago, ela suicida-se. Logo, quando se descobriu, no início da temporada, que Merlin estava preso dentro de uma árvore, pensou-se logo em Nimue. Mais tarde na temporada, descobrimos que, em Once Upon a Time, foi o Dark One original quem aprisionou Merlin na árvore. Somando dois e dois, não foi grande surpresa descobrir que esse primeiro Dark One era Nimue, que também fora a amada de Merlin. Visto que, de certa forma, todos os Dark One vivem no Dark One corrente, é o coração de Merlin que ativa a Maldição.
Vocês poderão assumir que foi Emma quem lançou a Maldição. Eu digo para continuarem a ler...
Para além da mitologia de Camelot, nesta meia temporada tivemos também o elenco do filme Brave. Nunca vi o filme - pelo que li em críticas não é brilhante - mas tenho uma ideia vaga da história. Amy Manson fez um ótimo trabalho dando vida a Merida e o seu arco rendeu bons momentos. No entanto, apesar das boas intenções, a história de Merida acabou por interferir com a trama principal - o exemplo mais flagrante foi o episódio The Bear King, exibido em segundo lugar, na mesma noite em que foi revelado o twist da meia temporada. Depois disso, ninguém queria saber das desventuras de Merida, nem mesmo com os regressos de Ruby e Mulan.
Uma nota rápida, igualmente, para Zelena. Já na última temporada me tinha queixado que, ainda que desse gosto ver Rebeca Mader divertindo-se com este papel, os guionistas não lhe deram uma história decente. Isso tem continuado nesta temporada. Nesta altura é óbvio para toda a gente que os guionistas adoram o bruxa verde, mas não sabem o que fazer com ela. Pouco mais foi que um plot device para quando a história precisava de complicações. Quando, depois de a filha dela e de Robin nascer (Emma acelerou-lhe a gravidez... eu explico mais adiante), parecia haver alguma evolução na história de Zelena - quando Regina e Robin procuram um compromisso para Zelena pudesse estar na vida da filha - no episódio segunte, Regina entrou em modo YOLO (compreensível perante as circunstâncias) e despacha a irmã para Oz. Suspeito que seja só uma maneira de se livrarem de Zelena por alguns episódios - sim, os guionistas já confirmaram que Zelena regressará, mais cedo ou mais tarde.
O romance entre Emma e Hook continua a ser um dos pontos fortes em Once Upon a Time, recebendo ainda mais protagonismo que anteriormente. Em Camelot, vemos uma Emma cada vez mais aberta para Hook. O amor do atraente pirata é o que mais ajuda Emma a manter a essência do Dark One sobre controlo. Há que notar que o pior ato de Emma em Camelot - quando obrigou a apaixonada de Henry a rejeitá-lo - ocorreu quando Hook está convenientemente desaparecido da ação. Depois de tanto tempo fechando-se ao romance, soube bem ver Emma feliz, ainda que por breves momentos. É claro que não seria Emma sem as suas ocasionais inseguranças. Quase como se os guionistas tivessem lido as minhas críticas na última análise a OUaT, gostei da cena em que Emma admite que faz batota com os "Amo-te".
De uma maneira paradoxal, aquilo que permitiu a Emma controlar a essência do Dark One durante tanto tempo acabou por ser crucial para que ela desse o passo decisivo em direção à Escuridão. Hook é ferido mortalmente e a única maneira que Emma arranja de salvá-lo é... transformá-lo num segundo Dark One. Todas as temporadas, Once faz pelo menos uma surpresa deste género (a paternidade de Henry na segunda, a paternidade de Rumple e a Maldição lançada por Snow na terceira, o regresso de Zelena na quarta) e, tal como nas anteriores (com uma ou outra exeção), ninguém as previu.
O problema é que Hook possui um longo historial como vilão, logo, apresentou fraca capacidade de resistência à essência do Dark One. Dizer que ele ficou muito desagradável é um eufemismo. A primeira coisa que faz enquanto Dark One é usar o coração de Merlin para lançar a Maldição de que falámos anteriormente. Tudo o que Emma consegue fazer é remover as memórias de toda a gente, Hook incluído. Quando regressam a Storybrooke, Emma veste a pele de supervilã para manter toda a gente à distância enquanto procura uma maneira de eliminar a essência do Dark One de si e de Hook.
Que uma pessoa possa ser um Dark One sem ter noção disso é questionável, sobretudo depois de eles terem revelado que estes não dormem. Hook não estranhou esse facto? No entanto, não se pode censurar Emma tendo em conta o que Hook fez depois de descobrir a verdade. O plano de Emma não era mau: aproveitar-se do coração em branco de Rumple, transformá-lo num herói, fazê-lo retirar Excalibur da pedra, usar a espada para transferir toda a Escuridão para um recipiente humano - Zelena - e matá-lo, eliminando Dark One para sempre. A moralidade de matar Zelena seria questionável mas, na prática, ninguém se queixaria por não ter de lidar com a Verdocas - sobretudo depois de ter tido a bebé. Emma acelerou-lhe a gravidez precisamente para não ter de matar a criança. Mas Hook sendo Hook não podia deixar Emma em paz, sobretudo depois de ela, aparentemente, lhe ter salvo a vida. Acabou por descobrir mais do que queria.
A partir daí foi a Lei de Murphy. Custou-me em particular a maneira como Hook tratou Emma, atirando-lhe à cara todas as inseguranças que ele lhe ajudara a ultrapassar - a sério, quando Hook jogou a cartada da orfã, eu ter-lhe-ia dado um estalo. Eventualmente, o Captain Dark One abre as portas do Submundo, trazendo todos os Dark One que alguma vez existiram para Storybrooke. Estes, por sua vez, marcam todo (ou quase todo) o elenco principal para que este tome o lugar deles no Submundo.
Como seria mais ou menos de esperar, à última hora Hook muda de ideias e dá a vida para travar os Dark One e destruir a sua essência. Não é totalmente bem sucedido, pois Rumple arranja uma maneira de transferir a Escuridão para si, tornando-se de novo no Dark One. Agora, na segunda metade da temporada, Emma e o resto do elenco principal vai até ao Submundo nuna tentativa de ressuscitar Hook.
Foi a primeira vez que um final de meia temporada em Once Upon a Time me desiludiu em vários aspetos. Em primeiro lugar, pelo menos um mês antes já se dizia que Hook iria morrer e Emma iria buscá-lo ao Submundo. A grande virtude de OUaT tem sido a sua imprevisibilidade: ninguém estava à espera que a Bruxa Má do Oeste aparecesse em Storybrooke a meio da terceira temporada, que a Elsa de Frozen, por sua vez, aparecesse depois (pelo menos não tão cedo), que Emma se tornasse no Dark One no final da quarta. OK, já se sabia que as Queens of Darkness viriam aí para a segunda metade da quarta temporada ainda o arco de Frozen não estava encerrado, mas isso é um spoiler mais aceitável que a morte de uma personagem importante. Não digo que a culpa seja diretamente dos guionistas, são sinais dos tempos e tal, mas a equipa da série devia ter mais cuidado com as informações e fotografias das filmagens que deixam chegar à Internet.
Por sua vez, quando se descobriu que Rumple era de novo o Dark One, fiquei com vontade de dar um berro. Em primeiro lugar, veio contra aquele que fora o arco de Rumple esta temporada: em que este foi obrigado a transformar-se num herói, chegando a ter uma oportunidade de matar o velho inimigo Hook e opta por poupar-lhe a vida. Já não é a primeira vez que isto acontece, já no ano passado Rumple falava em ser uma pessoa melhor em nome da memória do filho, blá blá blá, para à primeira oportunidade optar pela atitude vilanesca. Andamos em círculos constantes com Rumple desde o início, já não é um plot twist, é cansativo e irritante. O que mais indigna nisto tudo é que toda a história desta meia temporada - Emma como Dark One e tudo o que daí derivou - só aconteceu quando o elenco tentava salvar a vida a Rumple - algo que ele nem sequer merecia, pois acabara de colaborar com o Autor nos eventos do episódio Operation Mongoose. Bela maneira de agradecer, Mr. Gold, deixando Hook morrer em vão!
No meio disto tudo, Belle continuará a ser a parva nesta história toda. Já não sinto pena nenhuma da rapariga. Nesta altura, ela já devia saber com o que está a lidar. Teve inúmeras oportunidades de ser afastar de tudo isto, incluindo uma que o próprio Rumple lhe ofereceu. Sei que a atriz que faz de Belle, Emilie de Ravin, está grávida e é possível que incluam a gravidez na história. No entanto, para ser sincera, já não tenho paciência nem para Belle nem para Rumple.
Agora que já deitei cá para fora aquilo que me fazia comichão neste final, falemos das coisas boas. Ainda que tenha sido capaz de prevê-lo, este final foi executado de forma soberba por parte dos atores. Eu tinha escrito antes que o arco de Dark Swan tinha potencial para mostrar-nos lados diferentes da habitualmente controlada Emma Swan e não me enganei. Jennifer Morrison teve, desde o primeiro episódio, inúmeras oportunidades para exibir o seu talento. No entanto, eu não esperava que Colin O'Donoghue fosse capaz de competir com ela, ao explorar o seu Dark Hook: ora mostrando quase embriagado com a essência do Dark One, imitando os maneirismos de Rumple (podia vê-lo fazendo isto durante horas...), controlando a sua fúria perante Emma. Os desempenhos de ambos os atores culminaram, no entanto, com a cena do sacrifício de Hook que, embora esperada, doeu. E muito. Bem como o momento em que o corpo de Hook é levado e Emma chora nos braços dos pais.
A decisão de Emma de ir resgatar Hook da própria morte é controversa. Por um lado, ressuscitar os mortos não é saudável. Emma já causou muitos problemas tentando impedir Hook de morrer. Será boa ideia fazer o mesmo de novo? Também já me ocorreu a hipótese de Hook, pura e simplesmente, não querer regressar à vida.
Por outro lado, isto é um passo que faz sentido na evolução emocional de Emma. Ela deixou-se apaixonar por Hook porque este foi o único que nunca a magoou - tirando quando estava em modo Dark One e, mesmo assim, redimiu-se a tempo - e que fez tudo por ela. Abdicou do seu navio por ela, cruzou mundos por ela, viajou no tempo por ela, foi dos que mais lutou por ela em Camelot. Estava na altura que Emma fazer o mesmo por ele. De notar ainda que ela, enquanto embarca para o Submundo, diz o lema dos pais: "I will always find you".
Agora vem aí o Submundo. Pelo que os guionistas revelaram, não será propriamente o Inferno e sim uma espécie de Purgatório: uma dimensão/realidade onde permanecem os mortos que ainda tenham assuntos pendentes. Sabemos já que o Submundo tomará a forma de uma Storybrooke distorcida, algo que considero, em simultâneo, fascinante e sinistro. Dá também uma desculpa a série trazer de volta para o seu centésimo episódio - o primeiro da próxima meia temporada - personagens como Cora, Peter Pan, Henry Sénior, entre outras. Consta, até, que o salvamento de Hook será apenas o começo, que o Submundo trará consigo uma infinidade de histórias. Pelo que os guionistas têm referido, o elenco principal será literalmente assombrado pelo seu passado. Faz-me lembrar o que disseram sobre a Terra do Nunca, onde, não existindo futuro, o passado é tudo o que os seus habitantes possuem. Não é, de resto, por acaso que há quem compare a Terra do Nunca e a juventude eterna de Peter Pan e os Meninos Perdidos à própria morte.
Não nego que estou curiosa. Não se sabe muito mais ainda sobre a próxima meia temporada, é provável que saia mais informação até lá. No entanto, depois de a primeira metade desta temporada ter sido prejudicada por overhype e sobretudo spoilers, prefiro assim.
Antes das alegações finais, quero apenas referir umas quantas pontas por atar. O aviso críptico de Merlin, referindo Nimue como a única pessoa que poderia ajudar o elenco principal a derrotar a Escuridão não faz sentido nenhum - a própria Nimue foi crucial para a Maldição e liderou os Dark One ressuscitados. Também não se percebe porque Lancelot não foi levado pela Maldição quando Merida o foi e, já agora... a mãe dele não ficara de ajudar? Algum dia conheceremos a misteriosa Dama do Lago?
Tenho vindo a compreender que, ainda que goste dos mistérios e perguntas por responder que Once vai introduzindo, o mais certo é uma boa parte desses nunca serem devidamente esclarecidos. A força da série reside na evolução das personagens, nas relações entre elas, nas prestações dos atores - Once Upon a Time tem um elenco muito subvalorizado. Há personagens de quem gosto mais do que outras - Charming continua uma seca, Rumple irrita-me, apenas vejo Belle como uma vítima de Síndrome de Estocolmo. Por sua vez, relações como as de Henry com cada uma das suas mães, a amizade entre Emma e Regina, o amor entre Emma e os país (ainda hoje me comovo de cada vez que Emma trata Snow e Charming por "Mom" e "Dad") continuam entre os grandes atractivos da história, mais do que os romances por vezes. É a história deles que me vai mantendo interessada em Once, numa altura em que outras séries que acompanho me aborrecem como nunca.
As dúvidas que tinha no final da quarta temporada mantém-se - depois de terem tornado a heroína na maior vilã, para o nível continuar a subir, os guionistas tiveram de mandar a história para o Inferno, quase literalmente. O que me faz perguntar, novamente, até quando Once Upon a Time durará. Um dos patrões da ABC disse há pouco tempo que a série tem "um futuro longo e brilhante", que as histórias de Once Upon a Time os entusiasmam, mesmo não sendo brilhante em termos de audiências. Isto, em princípio, pode significar uma renovação para uma sexta temporada mas, para além disso, eu não faço apostas. Em todo o caso, quando a altura chegar, vai custar despedir-me de Storybrooke e, sobretudo, dos seus habitantes.
Conforme prometi antes, eis-me aqui analisando a primeira metade da temporada da série Era Uma Vez/Once Upon a Time. Esta meia temporada teve como linha narrativa principal a integração do universo do filme Frozen na série.
Alerta Spoiler: Este texto contém revelações sobre o enredo, pelo que, até para a própria compreensão do mesmo, não é aconselhável que este seja lido a menos que tenham visto a primeira parte da quarta temporada de Era Uma Vez /Once Upon a Time.
Sendo este um filme recente (em contraste com a natureza mais clássica dos contos que, por norma, OUaT revisita), em vez de recontar a história de Frozen, esta linha narrativa funcionou mais como uma sequela aos acontecimentos do filme, com as personagems a sofrerem poucas ou nenhumas alterações relativamente às versões animadas. Os guinistas tomaram, também, a liberdade de não só preencher alguns buracos na história do filme, mas também de pegar no conto de Hans Christian Andersen (em que Frozen foi vagamente inspirado), tornando a sua personagem principal, a Rainha da Neve, a vilã desta meia temporada.
Muitos tinham as suas reservas relativamente à maneira como OUaT abordaria a integração de Frozen na história, eu incluída. Na minha opinião, a série acertou em praticamente todos os aspetos. Começando pelo elenco, que fez uma encarnação quase perfeita das personagens, não apenas das irmãs Elsa e Anna (esta última é absolutamente adorável em OUaT), mas também de figuras secundárias, como o homenzinho do spa e o duque de Weaselton, perdão Weselton. Gostei igualmente da interação entre as personagens de Frozen e as recorrentes de Once. A cumplicidade entre Emma e Elsa é o exemplo óbvio, mas também me deu gozo ver Anna trocando as voltas a Rumplestilskin.
Desde cedo ficou claro que os guionistas olharam para Elsa e acharam que podiam criar um arco narrativo semelhante com Emma. Não estavam errados, mas o paralelismo que estabeleceram foi algo forçado. Se o descontrolo súbito de Emma sobre os seus poderes é mais ou menos credível, o igualmente súbito medo e hostilidade (ainda que momentâneos) que os seus pais desenvolvem não o são. Do mesmo modo, Emma deixa-se manipular demasiado facilmente por Ingrid (a Rainha da Neve, vilã desta meia temporada) quando esta a faz duvidar do amor da família - infelizmente, não é a primeira vez que os guionistas lidam mal com o relacionamento entre Emma e os pais.
De qualquer forma, esse arco narrativo é concluído em Smash the Mirror com uma mensagem bonitinha, de aceitação pessoal. Por um lado, termina aquilo que Frozen começou, ou seja, Elsa ganha aceitação e controlo sobre os seus poderes. Por outro lado, Emma dá mais um passo na sua integração na família e em Storybrooke.
Também gostei de Ingrid, a Rainha da Neve, a vilã da meia temporada. A escolha de Elizabeth Mitchell foi acertada para este papel - embora eu não exclua a hipótese de terem criado esta personagem com esta atriz específica em mente, ou mesmo baseando-se em Juliet, personagem de Lost (série a que Once pisca muitas vezes os olhos). Por mero acaso, ao longo dos últimos meses estive a rever Lost, a propósito do seu décimo aniversário, e a apresentação de Ingrid coincidiu com a altura em que revia a terceira temporada. As comparações são inevitáveis: tanto Ingrid como Juliet foram separadas de uma ou mais irmãs, ambas possuem a capacidade de assumir posturas frias... bem, como o gelo, embora também saibam transparecer perfeitamente as suas emoções, quando assim tem de ser. Ingrid combica com isso, inclusivamente, uma calma e paciência infinitas, sendo raros ou mesmo inexistentes os momentos em que se exalta.
No fim, não pude evitar sentir compaixão por ela, sobretudo tendo e conta o seu historial com Emma. Ela merecia ter feito as pazes com a Salvadora e ter-se juntado à família. De qualquer forma, de uma maneira retorcida, Ingrid acabou por obter o seu final feliz ao reunir-se com as irmãs.
O episódio em que isso acontece, Shattered Sight, é o meu preferido desta meia temporada. Ingrid lança a Maldição da Visão Estilhaçada, que faz com que as vítimaas vejam apenas o lado negro de todos o que os rodeiam. Eu esperava que esta Maldição fosse algo que reabrisse cicatrizes e deixasse sequelas. Não foi isso que aconteceu, pelo contrário, a Maldição acabou por ter um carácter mais cómico do que de ameaça, tornando este num dos episódios mais hilariantes de todas as quatro temporadas e meia de Once. Também ajudou o facto de Shattered Sight ter contribuído para a humanização da vilã da meia temporada. É claro que, em Once Upon a Time, há sempre uma série de inconsistências temporais e outros deus ex-machinas, e este episódio não foi exceção - como a maneira como Anna descobre a carta da mãe e chega à caverna de Ingrid a tempo de salvar o dia. A partir de certa altura, uma pessoa tem de ignorar estas incoerências para poder apreciar a série - mas é algo que não me agrada.
Alguns fãs queixaram-se de que o arco narrativo de Frozen desviou a atenção do elenco principal. Eu concordo, mas não acho que tenha sido uma coisa completamente má - nalguns casos passou-se o contrário. O exemplo mais óbvio disso foi o casal Snow e Charming. Nesta meia temporada tornou a acontecer o que afirmei na crítica ao terceio ano: isoladamente como casal são uma seca, só ganham interesse na interação com outras personagens, nomeadamente como pais de Emma. Dizem que, quando a série for retomada, o casal ganhará um papel de destaque - tal não me entusiasma.
Outro assunto deixado no gelo, literalmente, nestas semanas, foi o triângulo Regina-Robin-Marian. Tal commo disse antes, este foi o verdadeiro teste à redenção de Regina e não sería credível vê-la entrar em modo cem por cento Evil Queen de novo. Penso que passou no teste. Começou por considerar a hipótese de eliminar a sua rival (o que me pareceu realista), mas muda de ideias, felizmente, tendo mesmo sido obrigada a tentar salvar a vida de Marian. No fim do primeiro episódio, muda a sua estratégia habitual decidindo procurar o autor do mítico livro de Henry - o suposto responsável pelos destinos das personagens dos contos de fadas - de modo a obrigá-lo a escrever-lhe o final feliz que teima em fugir-lhe. Henry e, no fim, Emma apoiam-na na chamada Operação Mongoose e o arco não se desenvolve muito mais do que isto, tirando a partida de Robin, no último episódio.
Nota-se que este arco foi "interrompido" pela história de Frozen (que não fazia parte do plano inicial), pois as vilãs da próxima meia temporada, aparentemente, também não estão satisfeitas com o estatuto de vilãs. O que parece vir em sequência lógica com o conflito de Regina. Mas já falamos sobre as Rainhas da Escuridão.
Outro arco por desenvolver foi o respeitante a Will, o Valete de Copas, que parece ter caído de pára-quedas em Storybrooke - isto apesar de, segundo o que li, ele ter tido o seu final feliz na série onde "nasceu", Once Upon a Time in Wonderland. OUaT ainda não teve a delicadeza de nos explicar o que pretende de Will, mas espera-se que isso seja revelado em breve.
Uma das coisas de que não gostei mesmo nesta meia temporada foi Rumplestilskin. Depois de um arco de redenção muito bem conseguido há um ano, neste ele reverteu completamente a cem por cento vilão. Os guionistas justificam-no com o desejo de se libertar da influência da adaga, de modo a evitar o que se passou com Zelena na temporada anterior. Eu poderia aceitar isso, que não quisesse dar a adaga verdadeira a Belle. Também poderia aceitar que ele manipulasse Hook (afinal de contas, o ressentimento deles dura há muitos anos, não é facilmente ultrapassável). Eu mesma tinha dio que um Rumple totalmente bonzinho não teria piada. No entanto, a maneira como o fizeram desafia a credibilidade. No início da temporada, Rumpe promete, junto à campa do filho, ser melhor. Episódios mais tarde, está disposto a sacrificar a amada do filho e mãe do seu neto para se libertar da adaqua? Não me convence.
Felizmente, depois de meia temporada a dormir na forma no que tocava ao marido, no último episódio Belle descobre a verdade. Numa cena muito bem representada pelos respetivos autores, Belle expulsa-o de Storybrooke, privando-o dos seu poderes. Rumple regressa ao que era antes de se tornar o Dark One: um homenzinho coxo, cobarde, patético.
Depois disto, não sei como Rumple poderá voltar a ser perdoado. Duvido que o seja tão cedo. No entanto, estou curiosa ao que o futuro reserva para o eterno Dark One.
Por outro lado, depois de ter sido chantageado por Zelena na terceira temporada, Hook torna a ser a marioneta do vilão. Começa a tornar-se cansativo, mesmo patético. Por outro lado, foi refrescante ver Emma deixar, finalmente, as inseguranças de lado e envolver-se numa relação saudável com o pirata - isto é, dentro do possível, com Rumple puxando-lhe os cordelinhos nos últimos episódios. Houve quem se queixasse de não ter existido conflito entre ele e Emma, depois de Rumple ter sido desmascarado. Eu não concordo com as queixas. Depois da terceira temporada, seria redundante Emma tornar a erguer barreiras entre ela e Hook - já tivemos disso que chegue, obrigado. Se houver algum conflito entre o pirata e a Salvadora, que esse ocorra fora de câmaras e que seja resolvido rapidamente - deixem a moça ser feliz, por favor!
O trio de vilãs que vem aí na segunda metade da temporada não me entusiasma particularmente. Para além de ser Disney a mais, conforme já me tinha queixado antes (trouxeram a Cruella? A sério?), conheço mal os filmes de onde forma adaptadas. Acho que nunca vi nem a Pequena Sereia, nem a Bela Adormecida (o filme com a Angelina Jolie conta?). Quanto aos 101 Dálmatas, vi mais frequentemente a versão "em carne e osso", com a Glenn Close, mas nunca foi dos meus filmes preferidos. No entanto, a falta de familiaridade não me impediu de apreciar arcos narrativos como o do Feiticeiro de Oz, na terceira temporada. Daí que esteja disposta a dar o benefício da dúvida.
De qualquer forma, o facto de termos três vilãs novas, em vez de apenas um(a), poderá evitar o desgaste daquela que tem sido a fórmula da última temporada e meia: novo mau da fita com ligação a pelo menos uma personagem do elenco principal, estragos causados pelo dito mau da fita, apresentada a história do mau da fita, mau da fita não assim tão mau no fundo, descobre-se plano maléfico do mau da fita, execução, derrota do mau da fita, fim da temporada. Há que já esteja cansado dessa fórmula. Eu ainda não pois, até agora, cada vilão tem sido único, provocando graus diferentes de compaixão (por exemplo, elevados em Ingrid, inexistentes com Peter Pan). As três Rainhas da Escuridão, provavelmente cúmplices de Rumplestilskin, deverão dar uma nova dinâmica à série - sobretudo se cada uma delas tiver as suas próprias motivações e estas entrarem em conflito com as motivações das outras.
Mesmo com algumas reservas, não estou demasiado preocupada com a próxima meia temporada. OUaT pode ter as suas incoerências, e estas podem tornar-se exasperantes. No entanto, das séries de acompanho atualmente, Once é a única que tem conseguido manter a consistência - Arrow e The Good Wife estão a tornar rumos estranhos este ano. Acredito que o nível se manterá na segunda metade da temporada.
Quanto a nós, aqui no Álbum, é possível que o deixe em stand-by por uns tempos, sobretudo porque... já esgotei as ideias que andei a acumular ao longo dos últimos meses. Tenho uma ou outra ideia para entredas futuras, por isso, a pausa não será demasiado longa. De qualquer forma, quero também aproveitar para me voltar para a minha escrita de ficção, que não tem tido grande progresso desde... antes do Mundial 2014.
Termino esta entrada com uma montagem de vídeos que fiz recentemente com cenas de OUaT. A música que usei já dispensa apresentações aqui no blogue:
Alerta Spoiler: Este texto contém revelações sobre o enredo, pelo que, até para a própria compreensão do mesmo, não é aconselhável que este seja lido a menos que tenham visto a terceira temporada de Era Uma Vez /Once Upon a Time.
Depois de o segundo ano de Once Upon a Time ter sido acelerado em termos de ação mas penosamente inconsistente, cheio de incoerências, o terceiro ano foi melhor feito. Esta estrutura de duas histórias principais, de duas temporadas numa, funcionou bem, na minha opinião. Impediu a narrativa de se enrolar demasiado, como na primeira temporada, ou que se emaranhasse, como na segunda.
A primeira parte desta temporada decorreu na Terra do Nunca, com o elenco central tentando salvar Henry, que fora raptado no final da temporada anterior, ficando prisioneiro de Peter Pan. Para muitos, a história esteve afastada de Storybrooke durate demasiado tempo, eu mesma reconheço que a narrativa se arrastou um pouco, com alguns arcos narrativos menos bem trabalhados. No entanto, tudo isso foi necessário com vista ao desenvolvimento das personagens, bem como das relações entre elas.
Penso que nesta série o próprio conceito de Terra do Nunca, a ilha onde o tempo não passa, simboliza a incapacidade de largar o passado, de o processar, de ultrapassar as más experiências, de seguir em frente, de crescer. O próprio Peter Pan, o vilão da primeira meia temporada, é como se fosse um psicólogo ao contrário, tem um gosto perverso em brincar com os traumas das outras personagens, em particular os de abandono - o que o torna particularmente retorcido, pois ele mesmo abandonou o filho, Rumplestilskin, sendo esta a maior surpresa desta temporada. Gostei dos diálogos entre ele e os seus antagonistas. No entanto, os vários jogos que ia tecendo em redor deles, na sua maioria pelo menos, acabaram por ter um impacto praticamente nulo na trama principal. Durante algum tempo pensei que ele tencionava usar as vulnerabilidades dos seus inimigos contra eles, mas não chegou a fazê-lo, pelo menos não de uma maneira significativa. Estes jogos ajudavam a revelar a evolução das personagens, sim, mas arrastavam a ação e conferiam à série um tom sombrio de que, segundo o que li, alguns seguidores não gostaram muito.
Conforme disse acima, a primeira meia temporada caracterizou-se pelo desenvolvimento das personagens. Este, no entanto, ocorreu em graus diferentes. No casal Snow e Charming, para começar, foi praticamente inexistente. Apesar de, na teoria, ser um dos casais principais da série, para mim sempre foi dos menos interessantes. Talvez por ser o mais expectável, o mais convencional - mesmo tendo em conta o facto de Branca de Neve ter sido bandida e de o Príncipe Encantado ter sido criado por pastores). Com os desenvolvimentos da segunda meia temporada, ao que parece, existirão alterações na dinâmica entre ambos mas, mesmo assim, duvido que mude radicalmente. De resto, é só como casal e individualmente que não entusiasmam (Snow é demasiado ingénua e David é um pãozinho sem sal); na maneira como se relacionam com as outras personagens ganham mais interesse, em particular como pais de Emma.
À semelhança do que acontece com Snow e Charming, aliás, OUaT esforça-se por nos convencer que Emma é importante para a história, mas falha pois a personagem acaba por se revelar pouco determinante no desenvolvimento do enredo. Peter Pan andou por ali a brincar com os seus problemas de abandono, mas julgo que a série abordou mal a questão - tal é comprovado pelo falso excerto de guião apresentado em cima. Os jogos de Peter Pan com Emma, de resto, acabaram por não ter consequências de maior. Outra questão diz respeito aos poderes mágicos de Emma e já vem da segunda temporada: estes só surgem quando é conveniente, bem como a sua característica capacidade de detetar mentiras. Por outro lado, fiquei satisfeita por não terem insistido demasiado no triângulo Neal-Emma-Hook.
Sobre Neal falarei mais à frente, quando chegarmos à segunda meia temporada. Por sua vez, Hook foi das personagens que mais evoluiu este ano, cimentando-se como um dos "bons" sem perder os seus modos galantes e algo narcisistas. Se antes só era leal a si mesmo, este ano não hesita em tomar decisões sem ter em conta o seu próprio benefício, tomando-as antes por lealdade a Emma e à sua família. Referir, igualmente, as suas interações com David, que se torna o seu "mate", ainda que David saiba que o pirata cobiça a sua filha, para seu desagrado.
A primeira metade da temporada foi particularmente marcante para Rumplestilskin, tendo em conta a profecia de que Henry seria a sua destruição e o facto de Peter Pan ser, na verdade, o seu pai, sendo que o seu abandono esteve na origem das inseguranças que marcaram as decisões fulcrais da sua vida. No final, tomou a decisão correta - mas já lá vamos.
Regina foi a estrela da temporada, embora se tenha destacado mais na segunda metade. Depois de tantas inconsistências no ano anterior, neste teve finalmente direito a um arco de redenção bem conseguido. Nesta primeira metade destacam-se dois episódios: o protagonizado por ela e por Tinker Bell/Sininho (a história desta personagem fez-me lembrar a fada Oriana de Sophia de Mello Breyner) e o centrado na adoção de Henry. Neste último, acho que se perdeu uma oportunidade de esclarecer uma dúvida antiga - a de como Mr. Gold, de entre tantos bebés, foi encontrar logo o filho da Salvadora - mas serviu para destrinçar o relacionamento de Regina com Henry, algo que foi importante de várias maneiras para o desenvolvimento do enredo desta temporada.
Por sua vez, a estadia de Henry na Terra do nunca contribuiu para um muito necessário amadurecimento do jovem protagonista. Depois de não ter tido a melhor atitude para com Regina na segunda temporada (embora, em defesa do miúdo, ninguém percebia para que lado estava Regina nessa altura), Henry chega mesmo a mostrar-se arrependido de ter trazido Emma para Storybrooke, para que quebrasse a Maldição.
Tal reconhecimento acontece no último episódio da primeira parte da terceira temporada, "Going Home", um dos melhores deste ano, na minha opinião. Teve muito mais carácter de final de temporada que o último do segundo ano (e foi muito superior em qualidade), talvez mesmo que o último desta temporada, embora este tenha tido uma estrutura diferente. Em "Going Home" regressamos às raízes da série, cujo tema principal sempre foi, sobretudo no seu início, esperança. Os flashbacks ajudam a definir o tom do episódio e a demonstrar a evolução de várias das personagens com o tempo. O próprio enredo convida à emotividade, sobretudo por dois motivos. O primeiro: pela maneira como Rumple consegue a sua redenção, sacrificando a sua própria vida para salvar aqueles que ama, sem magia, contrariando o seu eterno rótulo de covarde. O segundo: pelo facto de, para travar a maldição de Pan, Regina ver-se obrigada a reverter a maldição que deu o mote para a série, que levará todo o elenco de regresso à Floresta Encantada e deixará Emma e Henry para trás. Arrisco-me a dizer que foi um dos melhores episódios de toda a série e, se retirássemos os minutos finais, funcionaria bem como um final de OUaT.
Mas a série não terminou aí pois não tardou a surgir um novo vilão... ou melhor, uma vilã: nada menos que a Bruxa Malvada do Oeste, do Feiticeiro de Oz, que lançou uma maldição que trouxe o elenco de regresso a Storybrooke... ou assim parece. Esta segunda meia temporada ficou algo melhor feita que a primeira. O regresso - que se presume definitivo - a Storybrooke foi do agrado geral. A narrativa da maldição trouxe alguns ecos da primeira temporada, embora sem os arcos narrativos circulares, com a história a evoluir a um ritmo razoável.
Cedo se descobre que a vilã da meia temporada, Zelena, é meia-irmã da Regina, adensando ainda mais a já complicada árvore geneológica de Henry. Toda a história por detrás do nascimento de Zelena está algo rebuscada (embora explique a animosidade de Cora para com Eva, a mãe de Snow). À parte isso, considero que deu uma boa vilã. Apesar de um dos dogmas da série ser o evil-is-not-born-it-is-made, uma dose saudável de vícios inatos nunca fizeram mal a ninguém, como a irresponsabilidade de Peter Pan e os traços de menina mimada de Zelena.
Emma, como Salvadora, é chamada a intervir e ela responde com relutância. Se anteriormente a protagonista nunca parecera muito à vontade naquele mundo, agora, que já experimentara uma vida feliz fora de Storybrooke, estava constantemente com um pé de fora - o que chegava a irritar. E, apesar de mais uma vez a série tentar convencer-nos da importância dela, Emma torna a revelar-se irrelevante para a resolução do enredo, sendo ensombrada por Regina de novo. Felizmente, ela tem uma oportunidade de se redimir aos nossos olhos no final da série... mas já lá vamos.
Aproveito para falar de Neal, que nesta temporada "regressa" à vida para morrer "a sério" a meio da segunda parte, desmascarando Zelena. Este episódio coincidiu com uma altura em que morreram várias personagens importantes em séries que acompanho e eu, pelo menos, não estava à espera. No entanto, no contexto de OUaT em si, depois da sua falsa morte no final da segunda temporada, este "segundo" falecimento revelou-se algo anticlimático. De qualquer forma, serviu para resolver o triângulo amoroso entre ele, Emma e Hook, de uma maneira mais definitiva do que esperava - eu já calculava que Emma escolheria o pirata, mesmo que temporariamente. De início, irritava-me que, enquanto Neal estava "morto", ela dizia que o amava e chorava por ele. No entanto, quando ele estava vivo, passava a vida a afastá-lo. Hoje compreendo que, ainda que ela pudesse perdoar-lhe o que acontecera no passado entre ambos, Emma dificilmente confiaria nele. E de resto notava-se que havia maior química entre ela e Hook.
A morte de Neal, o preço a pagar pela ressurreição do pai, é um rude golpe para Rumplestilskin, que passara a série quase toda tentando encontrar o filho e fazer as pazes com ele. Em teoria, teria sido melhor "mantê-lo" morto, já redimido - o seu regresso causou mais problemas que aqueles que resolveu, já que o Dark One acabou escravizado por Zelena. Na prática, Rumple é uma das melhores personagens de OUaT e a série ressentir-se-ia da sua exclusão permanente. A dinâmica entre Rumple e Zelena é interessante, até: como portadora da adaga, ela tem controlo sobre o Dark One, assume uma posição de domínio. Isso, no entanto, é contrariado pelos sentimentos que a Bruxa nutre por Rumple; dá para ver a sua dor quando Zelena é rejeitada.
Para alguém tão sinistro, o nosso Dark One consegue quebrar uma quantidade significativa de corações. Bem se diz que elas preferem os maus rapazes...
Rumple é libertado aquando da derrota de Zelena. Já livre, confia a sua adaga ao seu amor, Belle, em jeito de pedido de casamento. No entanto, depressa se descobre que a adaga é falsa e Rumple usa a verdadeira para matar Zelena, em desforra da morte de Neal e da escravidão. Embora o casamento entre Belle e Rumple fosse aguardado há muito, este assenta numa mentira e é óbvio que esta será descoberta mais cedo ou mais tarde. Calculo que Rumple nunca se tornará cem por cento "bom" e, de resto, provavelmente a personagem perderia interesse se assim fosse.
Tal como já disse antes, Regina foi a grande estrela desta temporada, sobretudo nesta parte. Por esta altura, a ex-Evil Queen pertence definitivamente ao lado dos "bons", embora não tenha perdido os seus modos altivos e sarcásticos. Nesta meia temporada, Regina teve direito a uma segunda oportunidade no amor com Robin Hood/Robin dos Bosques, também ele um viúvo. Para muitos o relacionamento evoluiu depressa demais - para mim, foi pior ter-se desenvolvido enquanto Regina estava sem coração, contrariando um dos maiores dogmas da série. De resto, é o amor por Robin e Henry que lhe confere a capacidade de usar magia branca, fulcral para quebrar a maldição e derrotar Zelena - comprovando uma vez mais a inutilidade de Emma. Pena é o balde de água fria que apanha no final da temporada, quando parece finalmente ter conquistado o seu final feliz - mas já lá vamos.
À semelhança do que aconteceu com a primeira meia temporada, o episódio final eleva-se sobre todos os outros, na minha opinião. Se tivesse de escolher entre "Going Home" e "Snow Drifts/No Place Like Home", escolheria o primeiro mas a verdade é que os dois finais têm uma estrutura e um tom diferentes, logo, é difícil comparar. O episódio duplo, tal como os guionistas explicaram, funcionou como uma espécie de filme, com um arco narrativo próprio, com princípio, meio e fim. O conceito não é o mais original de todos, a própria série quase admite que colheu inspiração no filme Regresso Ao Futuro. A força reside na forma como o conceito foi desenvolvido: mesmo sem termos reparado nisso, imagino que todos nós desejávamos ver Emma como princesa, integrada no mundo dos contos de fadas. E, tal como num bom filme, neste final, houve tempo para momentos de ação, romance, humor (divertiu-me imenso ver Emma seduzindo o Hook do passado), bem como momentos mais tocantes. O melhor foi mesmo ter dado uma oportunidade para o desenvolvimento de Emma. Ao fim de três temporadas, compreendíamos finalmente a sua falta de à-vontade, o seu constante pé de fora e víamos o que foi necessário para ela, de uma vez por todas, assumir o papel que o Destino lhe reservara - eu, pelo menos, quero acreditar que, a partir de agora, Emma vai passar a ser verdadeiramente a Salvadora.
No entanto, o mergulho de Emma e Hook no passado trouxe consigo algumas consequências infelizes. A mais significativa foi terem trazido consigo Marian, a esposa de Robin, que arruinou o final feliz de Regina e deixou os fãs da ex-Evil Queen de coração partido. Muitos criticaram a decisão de Emma, mas a verdade é que iria contra o seu carácter deixar Marian para trás, podendo ela salvar-lhe a vida. Acredito mesmo que, ainda que Emma soubesse logo quem era a sua companheira de cela, a sua atitude seria a mesma. Quanto a Regina, este será o verdadeiro teste à sua redenção: afinal de contas, é fácil ser-se bonzinho quando tudo corre a nosso favor. Difícil é sê-lo quando as circunstâncias não nos são favoráveis - as inconsistências de Regina. no ano anterior. eram uma boa parte devidas às manipulações da sua mãe, às ações de Snow e à insensibilidade de Henry. Muitos esperam que Regina entre de novo em modo Evil Queen, mas eu acho que isso contrariaria a evolução da personagem, sobretudo nesta temporada. De qualquer forma, este será um nó difícil de desatar.
Outra consequência da viagem no tempo foi um novo vilão - ou assim parece - para a nova temporada. Antes de avançarmos para essa parte, queria só assinalar que, com todas as voltas que foram dadas à forma como Snow e Charming se conheceram e apaixonaram, duvido fortemente que não hajam mais repercussões. Algo que, de resto, os guionistas já mais ou menos confirmaram.
Conforme foi dado a entender nos minutos finais do último episódio, a próxima vilã de OUaT será Elsa, a protagonista do filme Frozen: O Reino do Gelo. É o filme da moda, já se andava a dizer que os guionistas gostariam de trazê-lo para o universo da série. Eu é que não esperava que o fizessem tão cedo.
Eu vi o filme há algumas semanas. Não desgostei, está bem feito, acima da média no que toca a filmes de animação. A história tem, de facto, alguns paralelismos com as histórias de OUaT daí não me surpreender o interesse dos guionistas. E visto que tenho uma irmã mais nova, que é a minha pessoa preferida do mundo inteiro, identifiquei-me bastante com a relação entre Anna e Elsa. No entanto, na minha opinião, o filme anda a ser um bocadinho sobrevalorizado. É um bom filme, mas não acho que seja um dos melhores filmes de animação de todos os tempos, como alguns o têm pintado. Não é nenhum Rei Leão ou Spirit, nem acho que seja melhor que o Shrek ou mesmo Mulan. Além disso, tenho de confessar que já não tenho a mínima pachorra para a cantoria toda. Compreendo que agrade à criançada, eu mesma gostava quando era pequena, mas agora acho-a cansativa. Fiquei, até, com a ideia de que este filme tinha mais momentos musicais que a maioria dos filmes da Disney. Gostei de Do You Want to Build a Snowman e, claro, Let it Go (apesar de parecer ter sido composta de propósito para transmitir uma imagem politicamente correta de reforço da auto-estima), mas o resto era dispensável.
Para ser sincera, um dos aspetos que mais me desagrada na série é a sua Disneyficação. É certo que, ao longo das últimas décadas, a Disney foi o principal veículo de divulgação dos contos de fadas. No entanto, parece-me demasiado copiarem nomes de personagens, adereços exclusivos dos filmes. É uma opinião muito pessoal: a verdade é que, apesar de não ter problemas em reconhecer o peso que teve na minha infância, não tenho a veneração pela Disney que muitos dos envolvidos na série têm - ou fingem ter. Irrita-me um pouco, aliás, o seu comercialismo.
De resto, todo o conceito de reinvenção dos contos de fadas, da reunião das suas personagens, não é assim tão original como os criadores da série parecem acreditar. É, aliás, um conceito que tem estado na moda no cinema, ao longo dos últimos anos, com versões mais sombrias de contos como a Branca de Neve, o Capuchinho Vermelho, Alice no País das Maravilhas, entre outros. No entanto, Once Upon a Time tem feito essas reinvenções com maior mestria.
No entanto, ao contrário da maioria dos seguidores da série, não é por causa de tais reinvenções que eu vejo OUaT, embora goste desse aspeto. Vejo a série porque gosto de histórias sobre crescimento, esperança, redenção. Como escritora, identifico-me com o conceito da ficção como maneira de descodificar a vida e o mundo - e, afinal de contas, os contos de fadas são o exemplo mais básico desse conceito.
A série recomeça dia 28 de setembro. Já que, ao que tudo indica, manter-se-à o esquema de duas mini-temporadas numa, este ano talvez escreva uma análise à primeira parte da temporada durante a pausa de inverno - esta entrada ficou comprida demais.
Já foi avançado que o tema deste ano será não desistir das pessoas amadas. As referências mais óbvias são o caso de Regina e Robin, bem como o recém-casados Mr. e Mrs. Gold, mas suponho que estes não sejam os únicos casais da série a verem o seu amor testado nesta temporada.
De qualquer forma, espero que a série continue a explorar bem esses e outros conceitos e que, já agora, forneça respostas a dúvidas antigas, entre as quais a história de Aurora, Phillip e Mulan, bem como a adoção de Henry. Por outro lado, um dos meus receios é uma eventual falta de ideias caso a série se prolongue demasiado. Com um bocado de sorte, eles saberão quando parar. O que eu desejo, no fundo, é que Once Upon a Time nunca perca a sua magia característica.
Entretanto, tenciono falar sobre outras séries que tenho acompanhado, se bem que menos exaustivamente. Mantenham-se ligados.