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Álbum de Testamentos

"Como é possível alguém ter tanta palavra?" – Ivo dos Hybrid Theory PT

Concertos #2 – Dois em um e um tributo pelo meio

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Faz agora um ano desde que a Eras Tour passou por Portugal. Eu fui à segunda noite e foi um dos concertos mais marcantes da minha vida. Não só por ter trazido dois nomes de peso a Portugal, mas também pelo ambiente, pelo enquadramento. Como tal, esta publicação vai ser quase toda ela dedicada à Eras. 

 

Conforme outros já descreveram, a Eras Tour foi o mais parecido que tivemos na vida real com a Barbieland. Aqueles dias foram uma celebração… eu nem diria da mulher, diria da menina. Do cor-de-rosa, das roupas, das lantejoulas, das pulseiras da amizade.

 

Algo que nunca foi muito muito a minha cena. Não que nunca tenha tido um lado feminino, mas sempre fui muito maria-rapaz. Sempre preferi calças a vestidos e sempre tive vários interesses tipicamente masculinos. Como muitas mulheres da minha geração, tive uma fase (mais longa do que me orgulho) em que pensava que isso fazia de mim melhor que as demais. Mas, mesmo depois de ter deixado essa mentalidade para trás, sei que nunca serei uma pessoa cem por cento estereotipicamente feminina. 

 

Ainda assim, até entrei no espírito da Eras Tour. Eu e a minha irmã começámos a fazer pulseiras de amizade. Para mim foi difícil começar – não sabia onde arranjar as missangas. Comprei dois conjuntos, primeiro na Toys’R’Us, depois na Claire – nenhum deles com letras suficientes. Só mais tarde percebi que o melhor sítio para comprar é mesmo na Temu.

 

Enfim, não foi grave. Ao menos as pulseiras ficaram giras, ficaram diferentes das demais. 

 

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E de qualquer forma tomei-lhe o gosto. Ainda hoje faço dessas pulseiras de vez em quando. Na semana anterior ao concerto, a minha mãe viu-me a mim e à minha irmã a fazê-las e quis uma para si. Calhou o meu irmão revelar o nome da minha sobrinha nessa altura (ela nasceria pouco menos de dois meses depois). Nessa mesma noite, fiz um par de pulseiras com o nome dela: Laura. Mais tarde, sobretudo depois de ela nascer, fiz uma data de pulseiras para vários membros da minha família. Ainda hoje é a única pulseira destas que uso todos os dias. 

 

Pelo meio, cometi a “asneira” de me oferecer para fazer para pessoas do grupo de fãs dos Hybrid Theory e tive várias amigas a pedir-me. E a verdade é que, quando os Linkin Park regressaram ao ativo, alguns fãs começaram a trocar pulseiras. Chegaram mesmo a oferecê-las à Emily.

 

Uma coisa a que não aderi, no entanto, foi ao cosplay. Pelo menos ao ponto a que vários dos outros fãs chegaram. Isso estava, ainda está, aquém das minhas capacidades. Em parte para ser do contra, em parte porque os Paramore também mereciam amor, vesti-me à Hayley Williams, a icónica vocalista. Isto apenas vagamente, com peças que já tinha no armário – incluindo uma t-shirt e um pin (na altura por estrear) da merch de After Laughter. 

 

Não deixei, no entanto, de encher os pulsos de pulseiras nem de desenhar um “13” nas costas da mão. Nunca fui tão bem vestida para um concerto.

 

E adorei ver todas as pessoas vestidas ainda melhor do que eu. As meninas e mulheres recriando diferentes eras e visuais de Taylor. Os homens vestindo t-shirts semelhantes às de Taylor no vídeo de 22, dizendo “It’s me. Hi. I’m the Dad, it’s me.” ou “It’s Me. Hi. I’m the boyfriend, it’s me.” Nunca vi tantas lantejoulas juntas. A própria Hayley Williams o comentou durante a atuação dos Paramore: ainda à luz do dia, o sol refletindo-se nas roupas. O Estádio da Luz nunca brilhou tanto. Na altura citei Bejeweled. Hoje tenho pena de não me ter lembrado de Starlight: “The whole place was dressed to the nines and we were dancing, dancing, like we’re made of Starlight”.

 

Adiantando-me um pouco, digo-o desde já: a minha parte preferida da Eras Tour foi o público no Estádio da Luz. Mais do que da própria Taylor Swift, mais ou menos ao mesmo nível que os Paramore. A minha irmã, as amigas dela, com quem fui, a minha vizinha do lado, as pessoas com quem troquei pulseiras (ou pura e simplesmente ofereci), os mais de sessenta mil que cantaram em altos berros a noite toda. As Swifties têm má fama e uma parte dela é merecida, mas naqueles dias vimos apenas a melhor faceta. 

 

Na verdade, nós no grupo HT não somos assim tão diferentes de Swifties – há menos lantejoulas e cor-de-rosa e mais preto e metal. Mas aquela gente não está preparada para essa conversa. 

 

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Falemos, então, da abertura da Eras, a cargo dos Paramore. A minha banda preferida, tirando os Linkin Park. Não vou ao ponto de dizer que estava lá mais por eles do que pela Taylor, mas é diferente. O vínculo que tenho com os Paramore é mais forte. Conheço-os há mais tempo, vi-os passando por muito – conforme escrevi aqui – e, de igual modo, a música deles acompanhou-me por muito. 

 

Por sua vez, gosto imenso da Taylor, mas nunca me afeiçoei muito a ela e duvido que alguma vez o faça. Em parte porque ela já era uma cantora de grande sucesso quando comecei a ouvi-la com regularidade. Sempre senti que Taylor não “precisava” de mim. Ela tem muitos por aí cumprindo o papel de fã melhor do que eu.

 

Regressando aos Paramore, durante a atuação deles fui para as escadas, para poder dançar à vontade, sem incomodar as pessoas à minha volta. Tinha tentado ao máximo evitar spoilers dos concertos anteriores, mas sabia mais ou menos o que esperar: os êxitos, o excelente cover de Burning Down the House. 

 

Um dos pontos altos foi Still Into You. Eu entrei a pés juntos no espírito, cantando em altos berros, sentindo a letra, relacionando-a com a minha própria história com os Paramore. Cantando “Let’em wonder how we got this far” abrindo os braços para todo o Estádio da Luz.

 

Estava na minha, mas não deixei de reparar pelo canto do olho que a minha irmã, as amigas dela e o resto do público em geral estavam a aderir a Still Into You. Ainda agora, na preparação deste texto, encontrei este vídeo e dá para ouvir o público cantando. 

 

No fim de Still Into You, a banda recebeu uma longa ovação de todo o Estádio da Luz. A Hayley pareceu ficar à beira das lágrimas – com o baterista Zac Farro atrás delas, tirando fotografias ou filmando. Eu estava ali sem acreditar que aquilo estava mesmo a acontecer, cheia de vontade de abraçar a Hayley.

 

 

Eu achava que seria das poucas pessoas naquele estádio a ralar-se com os Paramore. Escrevi todo um testamento aqui no blogue tentando aumentar o interesse pela banda. No entanto, não precisava de me ter preocupado. O Estádio da Luz não podia tê-los recebido da melhor forma – só mesmo se os Paramore estivessem a atuar para o seu próprio público.

 

Compreendem agora porque digo que o público foi a melhor parte da Eras?

 

A Hayley esteve à altura do momento, soltando um “Obrigada!” em bom português. Tanto quanto sei, isto não aconteceu em noites anteriores da Eras Tour e não voltou a acontecer depois. Desde então, recordo-me deste momento sempre que oiço Still Into You – e também noutras alturas. 

 

Pois bem, nós fizemos a Hayley chorar (ou quase). Poucos minutos depois foi a vez deles me fazerem chorar (ou quase). 

 

Depois de That’s What You Get, a Hayley começou a fazer um pequeno discurso explicando o conceito das músicas-surpresa. Como não estavam a tocar para o seu próprio público, o alinhamento dos Paramore focava-se maioritariamente nos êxitos. Eu tinha feito as pazes com isso, não contava com músicas como Pool ou All I Wanted ou a minha preferida Last Hope. 

 

A banda, no entanto, percebeu que haviam fãs de Paramore acompanhando os concertos em direto através da Internet. Assim, resolveram incluir uma piscadela de olhos a essas pessoas. Até àquela data tinham tocado músicas como Pool, Forgiveness, Rose Colored Boy. Eu até estava com… bem, com esperanças para aquele concerto, mas não me atrevi a assumir nada. 

 

Quando Hayley concluiu o seu discurso com “This song’s for you”, eu sustive a respiração. Segundos depois começou a cantar “I don’t even know myself at all…” e eu passei-me. Guinchei como uma miúda vinte anos mais nova, as mãos tremeram-me, vieram-me as lágrimas aos olhos. E naturalmente cantei a plenos pulmões, esticando os braços para os arcos do Estádio da Luz em “Gotta let it HAPPEN!”.

 

 

Não estava de todo à espera que os Paramore a tocassem – só uma das minhas canções preferidas de todos os tempos. Tinha escrito em duas ocasiões diferentes aqui no blogue a propósito da Eras: “Gostava que tocassem Last Hope, mas é pouco provável”. Mesmo depois de saber que os Paramore tinham músicas-surpresa, quais as probabilidades de a tocarem no concerto a que eu fui? 

 

E peço desculpa por estar outra vez a bater nesta tecla, mas o facto de isto tudo ter acontecido no Estádio da Luz – um sítio que conheço bem de outro dos meus mundos – contribui para a mística disto tudo. Adoro ver fotos dos Paramore – e de Taylor Swift – emolduradas pela Catedral. 

 

Last Hope e Still Into You (e respetiva ovação) foram, assim, os grandes destaques da atuação dos Paramore – e ficaram entre os momentos mais felizes do meu 2024. Foi um bom concerto em geral, com boa adesão por parte do público. Acho que tivemos mais sorte em termos de alinhamento em relação à noite anterior – Last Hope e That’s What You Get em vez de Told You So e Caught in the Middle. Nada contra estas duas últimas – e até fiquei com alguma pena por não ter visto as dancinhas de Hayley em Caught in the Middle – mas, lá está, Last Hope é Last Hope e gosto mais de That’s What You Get. Até porque esta tem ganho novos significados para mim no último ano, ano e meio. 

 

Por outro lado, o público do dia 24 pôde ver Hayley levantando a camisola e abanando as mamas. Já não sei quem teve mais sorte.

 

Uma coisa é certa: os Paramore gostaram de nós, gostaram de estar cá em Portugal. Acho que fomos um dos preferidos deles na Eras, se não tivermos sido o número um. Para além do que aconteceu no segundo concerto, foram à praia, comeram marisco (n’O Ramiro! E não pagaram!) e deram um passeio de barco pelo Tejo – algo que eu mesma fiz um par de vezes, ambas em despedidas de solteira. Sabemos isto tudo pois eles publicaram-no nas redes sociais – pelo que se pode ver aqui, mais nenhum país teve tanto conteúdo publicado como o nosso.

 

Ver fotos e vídeos da banda no nosso país, da Hayley e do Brian no barco, com a Ponte 25 de Abril no fundo… A mensagem que a Hayley nos deixou, como poderão ver acima/abaixo… E quando ela fez anos, vários meses mais tarde, os Paramore publicaram uma foto inédita da Hayley que eu tenho quase a certeza de que foi tirada em Portugal. 

 

Oh sim, fomos os melhores alunos. Não me convencem do contrário.

 

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Na pior das hipóteses, terão ficado com vontade de voltar cá para um concerto em nome próprio. Não sei até que ponto isso depende da vontade deles. Infelizmente, não deverá acontecer tão cedo – eles estão em pausa outra vez e podem voltar a demorar anos a lançar um álbum. Mas fica a esperança de que, um dia destes, voltarão a tocar Last Hope e Still Into You para nós. 

 

Antes de continuarmos a falar sobre a Eras, ainda dentro do universo dos Paramore, quero fazer um aparte para falar dos Decoded. No último ano, ano e meio, fiquei mais aberta a bandas de tributo e bandas de covers (saibam a diferença), por motivos óbvios. Claro que os Hybrid Theory são um caso à parte, em vários aspetos – não espero que outros tributos tenham a mesma dimensão ou o mesmo impacto. 

 

Mas gosto de música ao vivo. Na pior das hipóteses é uma banda tocando-me músicas de que gosto – permitindo-me criar novas memórias com elas e outros benefícios que referi antes.

 

No que toca aos Decoded, tributo aos Paramore, já os vi duas vezes. Bem, três vezes, se contarem com um ensaio aberto. A primeira vez foi no Pátio do Sol (onde os próprios Hybrid Theory tocaram um par de vezes), no dia 27 de julho do ano passado. Soube do concerto e da própria existência da banda meros dias antes – um amigo meu que já os tinha visto deixou o seu carimbo de aprovação. Como estava livre nessa noite, resolvi ir, mesmo a solo. 

 

Foi um dia engraçado: durante o dia foi o encontro do Odaiba Memorial Day. À noite, tive concerto. Apareço na foto com a minha t-shirt da Ruki

 

E gostei, mesmo tendo sido uma atuação curta. 

 

Com isto, passaram-se vários meses e os Decoded comemoraram o primeiro aniversário em março deste ano. Como forma de o assinalarem, eles fizeram um ensaio aberto. Quando falaram disso no Instagram, comentei logo mostrando interesse – mas estava à espera que viessem mais fãs para além de mim. Se soubesse que seria a única (eles escolheram outra rapariga para além de mim que acabou por não vir), talvez pensasse duas vezes.

 

 

Mas isto era só a minha timidez a falar, claro. A banda recebeu-me muito bem na sua sala de ensaios – onde também estavam amigos deles, outra banda, os The Reptilians, tributo aos Strokes. Nunca tinha assistido a um ensaio de banda, foi uma experiência gira. Quase um concerto privado – embora também tenham transmitido uma parte em direto no Instagram. 

 

Na altura, a banda indicou-me as duas datas seguintes em Lisboa e eu prometi ir a pelo menos uma – de preferência acompanhada. Vim ao The Family Values Punk Edition no RCA Club, dia 9 deste mês. Essencialmente uma festa do pop punk/punk rock. Para além dos Paramore, tivemos tributo a Blink 182, Green Day e Offspring.

 

Um registo algo diferente da Eras, digamos. Aliás, foi mesmo uma noite para beber um pouco mais e andar ao moche como nunca antes (não durante os Decoded, mais durante Blink +351 e Green Play). Em termos de pura diversão, foi das melhores que tive. 

 

Consegui, então, arrastar uma amiga da família HT (apesar de esta só conhecer a música dos Paramore muito superficialmente). Encontrámos os Decoded mal entrámos no RCA, junto ao bar. Fizeram-me logo uma festa, com elogios à minha t-shirt  (a mesma que usei na Eras).

 

Eu é que não tenho remédio, continuo tímida e desajeitada no primeiro contacto. Ainda hoje acontece com os Hybrid Theory, mesmo já os conhecendo há dois anos e treze concertos. O que vale é que acabo sempre por sair da minha concha – geralmente quando os concertos começam. 

 

Gostei mais deste segundo concerto – por estar acompanhada, pelo maior à-vontade com a banda e também porque, da minha experiência, o RCA tem melhor ambiente que o Pátio do Sol (não desfazendo). Havia um grupinho que volta e meia cantava pelo Ricardo (Ricardo Lopes, o guitarrista que "faz" de Josh). E, durante The Only Exception, aquela malta que, mais tarde, andaria ao moche, pôs-se toda a cantar de braço dado. 

 

Mais uma recordação para associar a uma música que está na minha vida há quinze anos, uma das minhas canções de amor preferidas

 

 

...pois, temos de falar do que se passa no vídeo acima. Não vou mentir, depois de ter estado no ensaio deles, sabia que havia a possibilidade de os Decoded me chamarem ao palco para Misery Business. Não queria ser arrogante, não queria assumir... mas sabia. Passei uma boa parte do concerto sentindo uma mistura de nervos e excitação antecipando o momento. Quando começaram a tocar MizBiz, deixei de sentir as pernas. Finalmente, a Inês (Inês Martinho, a vocalista) chamou-me ao palco. Lembrei-me de passar o telemóvel à minha amiga para que me filmasse e lá consegui trepar para o palco, com os meus braços e pernas a tremer. Não fui a única convidada – como podem ver acima, chamaram também outra rapariga, chamada Diana. 

 

Como qualquer fã de Paramore, tinha passado anos e anos sonhando com um convite para cantar Misery Business em palco. Tudo o que fiz foi passar da fantasia à realidade e consegui vencer os nervos. Acho que me saí bem. Pude ser uma estrela de rock durante dois minutos – e a minha amiga, abençoada seja, fez de minha fã, como se pode ouvir. 

 

Ainda só estamos em maio mas este foi já um dos melhores momentos do meu ano. Como se não bastasse, ainda me tiraram uma foto espetacular, como poderão ver abaixo.

 

Não admira que os Paramore não consigam matar a música, por muito que tentem. Estes momentos são demasiado bons. Misery Business não pode nunca desaparecer.

 

E os Decoded dão um bom espetáculo. A Inês tem uma boa voz. O timbre não se parece muito muito com o de Hayley, mas ela reproduz bem os maneirismos, a maneira de cantar. Durante este segundo concerto, ouvi a minha amiga, bem como outras pessoas na audiência do RCA, a elogiar a baterista Marta Ferreira (ou seja, "faz" de Zac). E ela merece: é pequena, mas tem energia suficiente para as baterias dos Paramore – mais intricadas do que muitos pensam. Eu diria no entanto que o meu preferido é o baixista, Pedro Araújo ("faz" de Jeremy. Gosto da postura dele, do seu entusiasmo, das suas interações com os outros colegas da banda. 

 

Depois disto tudo, os Decoded agora são dos meus. Era o mínimo. Hei de continuar a acompanhá-los dentro das minhas possibilidades – e hei de tentar trazer mais amigos ou, no mínimo, converter a amiga que veio aos Paramore. Não hão de faltar oportunidades – até porque estes, ao menos, são de Lisboa. 

 

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Voltemos à Eras Tour. Tenho de dizê-lo: em termos de produção e de dimensão, foi o melhor concerto a que assisti até agora. Os bilhetes foram caros, sim, mas pelo menos neste caso o preço até se justifica. 

 

Não digo que seja o meu tipo de concerto. Estou habituada a concertos de rock, focados na música. Os de Taylor Swift (e de outras estrelas pop, na verdade), no entanto, sempre foram diferentes: teatrais, com várias mudanças de visual, coreografias elaboradas, pouco espaço para espontaneidade. Mais musicais que concertos, por vezes. 

 

É uma questão de gosto, claro. E de qualquer forma, a Eras Tour consegue manter o calor, a proximidade, aquele je ne sais quoi que faz de concertos das melhores experiências do mundo. Como já muitos descreveram, Taylor tem o dom de fazer os outros sentirem que são as pessoas mais importantes do mundo, de parecer que ela canta pessoalmente para cada um de nós.

 

Como escrevi acima, não consegui evitar todos os spoilers, mas evitei o suficiente para ter muitas surpresas. Começando logo pelo relógio e a contagem decrescente – que nós, no público, fizemos aos gritos e em bom portugês, como se fosse Ano Novo. E depois o tema de introdução, com excertos de letras de músicas em que Taylor diz os títulos dos diferentes álbuns. Que termina com a própria Taylor aparecendo em palco, cantando "It's been a long time coming but it's you and me, that's my whole world". Eu não sou grande Swiftie e no entanto o raio da música ainda hoje me deixa com pele de galinha, leva-me lágrimas aos olhos. 

 

Depois disto foram só três horas e meia de concerto, só quarenta e seis músicas no alinhamento. Várias delas tiveram parte cortadas, algo de que não gosto muito por norma, mas aqui aceita-se. Pelo meio, muitas coreografias, muitas mudanças de visual, quase sempre de saltos altos (“in stilettos for miles”), sem parar. 

 

Eu pensava que existiriam pausas de, vá lá, cinco minutos entre diferentes “eras” – nem por sombras. Não dava para sequer trocar impressões com a vizinha do lado. Estou convencida de que Taylor troca de roupa como um Sim – desce no seu elevadorzinho, faz uma pirueta e o maillot transforma-se num vestido. Não há outra explicação possível.

 

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Dar um concerto assim será mais exigente em termos físicos do que um jogo de futebol profissional. Há artigos na internet sobre os treinos que Taylor fazia – três horas seguidas na passadeira a diferentes velocidades enquanto cantava o alinhamento completo. Há quem tenha tentado recriar este esquema de treino – claro que não é recomendável começar logo com as quarenta e seis músicas. O melhor é começar com, vá lá, metade da secção de Lover e ir aumentando progressivamente.

 

Não sou de ir ao ginásio ou mesmo de fazer corrida. Para fazer exercício, pratico natação. Mas até era capaz de tentar este esquema de treino. Cantando músicas de Taylor Swift, até seria divertido.

 

Música em geral torna tudo mais divertido, ponto.

 

Imenso respeito a Taylor, assim. E talvez ainda mais à sua equipa. Muita coisa terá tido de funcionar na perfeição para montar este espetáculo.

 

Mas volto a reforçar que o público foi das melhores partes. Mais de sessenta mil gargantas cantando em altos berros durante mais de três horas e meia. Acho que fiquei com perdas auditivas. O videozinho que filmei de You Belong With Me foi uma boa amostra. 

 

Ainda assim, acho que o melhor exemplo foram mesmo os dez minutos de All too Well. A plenos pulmões, uma dose saudável de dramatismo. Foi cá uma catarse – dá para senti-lo no modesto vídeo que filmei. O desgraçado que inspirou a música devia ficar com as orelhas em fogo em todas as noites da Eras. 

 

    

 

Houveram outros destaques, claro. Um deles também durante Red, mais especificamente durante We Are Never Getting Back Together – quando o dançarino Kam Saunders completou a frase “Like, we are never getting back together…” com “... nem que a vaca tussa”, em português. 

 

Esta é daquelas coisas que não sabia que acontecia na Eras: o Kam dizendo uma frase diferente em cada noite, na língua do país em questão. Sou suspeita, mas acho que a nossa foi das melhores: mais original que um palavrão e, na verdade, uma das expressões mais engraçadas da língua portuguesa. 

 

E pergunto-me quem ensinou a frase ao Kam (e à própria Taylor?). Se foi ideia de algum dos trabalhadores portugueses por detrás dos concertos. 

 

Outros destaques ocorreram durante folkmore. August era das que por que mais ansiava. Uma surpresa bem agradável foi a transição, no fim, para aquilo a que os fãs chamam illicit affairs (angry version).

 

Por outro lado, devia ter antecipado o efeito de marjorie. Marjorie é daquelas que me leva lágrimas aos olhos sempre. A letra foi inspirada pela falecida avó de Taylor e, como já escrevi antes, a mim recorda-me a minha própria falecida avó. Estávamos na Eras Tour, que pontenciava cada emoção associada àquelas músicas. Mas também, como expliquei antes, foram poucos dias depois de conhecermos o nome da minha sobrinha, a primeira bisneta dela do lado da minha mãe.

 

No fim da música olhei para a minha vizinha do lado e vi que ela também estava a chorar. Rimo-nos as duas. No fim do concerto, ofereci-lhe uma pulseira, só mesmo por causa deste momento.

 

 

Marjorie foi imediatamente seguida por willow – e eu adorei o cenário mágico que montaram no palco. Agora percebo porque é que a secção mais básica e retrógrada da população americana acusou Taylor de bruxaria.

 

The Tortured Poets Department é capaz de ter sido das minhas partes preferidas de todo o concerto – curiosamente, uma das mais teatrais. Como muito boa gente, tenho os meus problemas com este álbum, mas a Eras sempre me fez gostar mais de algumas músicas. Deu-me imenso gozo, por exemplo, gritar “Who’s afraid of little old me?!?!”.

 

O melhor, mesmo assim, foi a sequência antes de I Can Do It With A Broken Heart. Um momento muito meta, que parecia retirado de uma comédia muda dos anos 20. Uma artista de palco que bateu no fundo. Vêm um par de colegas ou assistentes (?) reanimá-la, vesti-la, colocá-la de novo de pé, dar-lhe um empurrão para que o espetáculo continue.

 

A cena pode ser interpretada de duas maneiras. Uma: Taylor obrigada a trabalhar, a subir ao palco, mesmo estando mais morta do que viva. Outra: Taylor mais morta do que viva, mas a sua equipa e/ou os seus entes queridos dão-lhe forças para subir ao palco, fazer aquilo para que nasceu. A ocasião em que Travis, o atual namorado de Taylor, desempenhou o papel de um dos assistentes, como é possível ver em baixo, parece apoiar a segunda interpretação. 

 

A música em si é uma das minhas preferidas em The Tortured Poets Department. Como o pequeno sketch na Eras Tour dá a entender, é a The Show Must Go On de Taylor, o momento After Laughter de Taylor. Aliás, se formos a ver, nos primeiros meses da Eras Tour, Taylor estava numa situação semelhante àquela em que Hayley estava no início da era de After Laughter: “obrigada” a subir ao palco e a dar espetáculo, enquanto a vida pessoal se desfazia em pedaços. Hayley uma vez chegou a comparar-se a uma marioneta caída, com o amigo e colega de banda Taylor York a puxar-lhe as cordas. Mais ou menos o que acontece no sketch antes de I Can Do It With A Broken Heart. 

 

Eu coloquei o verbo “obrigar” entre aspas, porque não me convencem que Taylor ou Hayley foram obrigadas ao que quer que fosse. Não terá sido por falta de dinheiro, ao contrário da maior parte de nós, simples mortais. 

 

 

Mas a questão é precisamente essa. É por isso que After Laughter é um álbum que teima em manter-se relevante. É por isso que I Can Do It With A Broken Heart é mais universal do que soa à primeira vista. Todos nós como adultos temos de fazê-lo com um coração partido. Trabalhar, cuidar dos filhos, cuidar de nós próprios, seguir com a nossa vida, mesmo que estejamos tristes, doentes, cansados. Mesmo que (sobretudo nos últimos anos, sobretudo nos últimos meses) tenhamos o mundo a desmoronar-se à nossa volta.

 

Mas estou a desviar-me. 

 

Regressando à Eras, queria falar agora sobre as músicas-surpresa. Num concerto com esta complexidade tecnológica, não dá para variar o alinhamento. As músicas-surpresa, no entanto, são apenas Taylor com uma guitarra acústica numa e um piano noutra – é mais fácil alterá-las todas as noites. Consta que é algo que Taylor já fazia em digressões anteriores.

 

E eu acho uma excelente ideia. A mulher tem onze álbuns, quatro deles com baús, um deles com várias faixas extra, um deles duplo. Incluir estes temas todos no alinhamento de um concerto é obviamente impossível. Mas, sobretudo com a popularidade de Taylor, cada uma destas músicas é a preferida de alguém. Essas pessoas merecem vê-las tocadas ao vivo pelo menos uma vez.

 

Dito isto, nesta o trabalho era todo de Taylor. Recordar os acordes de todas estas músicas, reduzi-las ao seu esqueleto (quando várias delas têm um instrumental eletrónico originalmente). A coisa só terá ficado mais complicada quando ela começou a fazer misturas – mashups, como são mais bem conhecidas. O trabalho adicional de pegar em duas músicas diferentes e tentar encaixá-las uma na outra, como um puzzle

 

Antes do concerto fiz por não ouvir nenhum mashup. Depois de ver por mim mesma, no entanto, adoro o conceito. Sempre gostei de encontrar paralelismos, temas em comum entre músicas – sejam elas dos mesmos artistas ou de artistas diferentes. Isso já inspirou uns quantos textos aqui no blogue. É um exercício giro ver as músicas que Taylor combinou e tentar descobrir o raciocínio por detrás.

 

No que toca ao meu concerto, tive alguma sorte. Ainda não conheço a discografia de Taylor assim tão bem. Calhou conhecer as quatro músicas. Ambas músicas de que gosto mais ou menos misturadas com músicas de que até gosto. Não me posso queixar.

 

 

A primeira mistura foi de The Tortured Poets Department, a música, com Now That We Don’t Talk. Na altura, TTPD, o álbum, tinha saído pouco mais de um mês antes. Naturalmente, Taylor favoreceu-o nas músicas-surpresa. Na altura até gostava de The Tortured Poets Department, a música. Mais pela sonoridade – gosto da percussão, quase soa a bateria ao vivo.

 

Não consigo levar a letra a sério, no entanto. “No fucking body” soa a algo dito por uma menina de dez anos dizendo palavrões pela primeira vez. E nem me digam nada sobre o início da segunda parte.

 

Dito isto, fez sentido combiná-la com Now That We Don’t Talk, que tem um estilo de narrativa semelhante. Misturando as duas, criou-se uma história nova. Começando por The Tortured Poets Department (que ela tocou praticamente inteira), a relação está de pé mas algo tremida – em Now That We Don’t Talk já terminou. A fase de transição entre as duas corresponde ao luto: “Who’s gonna love you like me… now that we don’t talk?”. No fim, chega à aceitação: “Guess this is how it has to be now that we don’t talk”.

 

Ao piano, Taylor misturou You’re On Your Own, Kid com Long Live. A primeira foi uma das músicas-surpresa mais tocadas na Eras. É claramente uma das preferidas de Taylor – e uma das mais populares entre os fãs. Não é o meu caso, mas já gostei menos.

 

E, de qualquer forma, a mistura com Long Live foi muito bem sacada. You’re On Your Own, Kid é uma retrospetiva da carreira de Taylor, o bom e sobretudo o mau. Long Live é também sobre a carreira dela, mas foca-se no bom, nas vitórias.

 

Além de que Long Live é uma das minhas preferidas de Taylor. Long Live foi uma de várias retiradas do alinhamento normal aquando da inclusão de The Tortured Poets Department, com muita pena minha. Esta, no entanto, foi uma boa forma de compensar. E, se lerem aqui os motivos pelos quais gosto desta música, não será surpresa se vos disser que, mais do que qualquer outra música, foi especial cantar Long Live no Estádio da Luz.

 

 

Depois deste concerto fiquei livre para ouvir outras misturas, anteriores e posteriores. Não ouvi todas ainda – são demasiadas! Mas, das que ouvi até agora, tenho algumas favoritas. Is it Over Now com I Wish You Would e loml com White Horse, por exemplo – daquelas que fazem todo o sentido, mesmo de maneira óbvia, pelas semelhanças na sonoridade das versões originais. E as letras encaixam na perfeição. No caso de loml com White Horse, por exemplo, a frase “I’m gonna find someone someday who might actually treat me well” soa ainda mais poderosa após o contexto de loml (a minha preferida em TTPD neste momento). 

 

Outra de que gostei foi de Haunted com exile em Edimburgo. Não tanto pelas músicas em si mas pelo público – que foi uma excelente segunda voz. Adoro quando coisas como estas acontecem em concertos (como, por exemplo, algumas vezes, no Live in Lisbon de Bryan Adams). 

 

A minha preferida, no entanto, foi The Great War com You’re Losing Me. A primeira é a minha canção preferida de Taylor, para começar. Fez sentido combiná-la com You’re Losing Me, que usa imagens semelhantes – e acaba por mudar a história da guerra. Desta feita, a relação não se aguentou, mas a narradora sobreviveu. 

 

Entre Paramore e Taylor Swift foram, então, mais de quatro horas de cantoria. A minha garganta já está habituada a concertos, mas desta vez foi muito tempo. E isto ao ar livre, com um ventinho fresco a soprar. Saí da Luz com uma constipação daquelas, passei mais de uma semana a tossir como uma desalmada. 

 

Zero arrependimentos, claro. E agora que faz um ano, tenho saudades. Tenho imensa pena de não poder repetir este dia.

 

Depois desta, cheguei a ver algumas transmissões de concertos posteriores. Regra geral, deixava a passar enquanto fazia outras coisas. Sempre dava para ir acompanhando um bocadinho. Tive a sorte de ver um momento lindo: o público de Milão fazendo uma serenata a Taylor. Imenso respeito. A reação dela foi adorável.

 

 

E, se me permitem o aparte, o vestido que ela estava a usar era lindíssimo.

 

A Eras Tour terminou no final de 2024. Foi a maior e a mais lucrativa digressão de todos os tempos. Tenho pena que já tenha acabado – mas sinto-me privilegiada por ter podido estar lá.

 

Tenho-me perguntado o que Taylor irá fazer a seguir em termos de digressões. Se voltará a dar concertos “normais”, em estádios mas focados apenas no álbum mais recente. Ou se criará algo semelhante à Eras em termos de conceito, tentando talvez suplantá-la. Só o tempo o dirá.

 

Neste momento, ao que parece, Taylor irá manter-se afastada dos holofotes por uns tempos. Ninguém a censura, após dois anos de digressão e de vários anos seguidos lançando álbuns. Eu mesma já pedia uma pausa no ano passado – não fazia questão de ter The Tortured Poets Department. Agora que este já saiu, não vou dizer que lamento que este tenha sido lançado. Tenho algumas críticas a fazer-lhe, mas este texto já vai longo, ficam para outra ocasião (ou talvez não). 

 

Agora finalmente vou ter tempo para (continuar a) explorar a discografia existente de Taylor, ao meu ritmo, sem que ela venha do nada atirar mais trinta músicas para cima de mim. O que tem acontecido nos últimos anos (nem é a primeira vez que o refiro), tirando quando Taylor lança álbuns, é ter fases breves de obsessão por uma música dela que me apareceu no aleatório. Espero conseguir continuar a fazê-lo

 

Acho que mesmo o projeto Taylor’s Version só deverá ser retomado, na melhor das hipóteses, no outono deste ano. Aposto que a reedição de Reputation sairá no início de 2026 e o álbum de estreia será reeditado no outono desse ano – para coincidir com o vigésimo aniversário da carreira de Taylor.

 

E para já ficamos por aqui. A segunda parte ainda vai demorar um bocado – ainda nem a rascunhei. Mas já estou contente por ter conseguido publicar duas vezes este mês. 

 

Obrigada pela visita. 

Música de 2013 #3 - Paramore

Queria fazer uma rápida referência a um álbum de música portuguesa, para variar. Infinito, o álbum de estreia de Catarina Rocha, editado no início deste ano. Já o tinha mencionado brevemente nesta entrada. É um disco bastante agradável, com músicas calminhas, sustentadas pela linda voz de Catarina, lembrando-me, de certa forma, o Goodbye Lullaby, da Avril.
 
2013, no entanto, pertenceu aos Paramore.
 

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Quando o ano começou, já o álbum havia sido anunciado. Pouco após, sairia a preview de Now. A faixa inteira seria lançada dois dias antes do meu aniversário. O respetivo videoclipe sairia poucas semanas depois - esse e o vídeo de Rock N Roll, de Avril Lavigne, foram para mim os melhores videoclipes do ano. Apesar de hoje considerar que a letra de Now é das mais fracas do álbum, o primeiro single de Paramore foi especialmente marcante durante o início de 2013. Muito porque, nessa altura, andava a escrever a parte final do meu terceiro livro; uma daquelas partes ricas em sequências de ação, as que mais gosto de escrever, já falei várias vezes disso cá no Álbum. Tanto a faixa Now em si como o seu videoclipe ajudavam-me a entrar no espírito, davam-me inspiração.

Seguiu-se o lançamento de Still Into You - que se tornaria um êxito estrondoso - e, poucas semanas mais tarde, as restantes músicas do álbum. Que, entretanto, já tiveram tempo de amadurecer no meu ouvido, deixando de soar tanto a novidade. Algumas que, inicialmente, não me agradavam por aí além, hoje aprecio melhor. Uma delas é a Interlude Holiday - depois de entrar em férias de verão e, mais tarde, ao emparelhá-la com as músicas estivais do Avril Lavigne.

O exemplo mais significativo, contudo, é mesmo Future. 

 
Levei algum tempo a compreender o propósito da faixa que encerra Paramore. Vejo agora que a letra faz referência a várias outras músicas do álbum, acabando por ser uma conclusão retirada das mesmas, por ser a mensagem do álbum. Uma mensagem de esperança, aconselhando a não olhar para trás e a focar-se no futuro, nos sonhos que estão por realizar. Funciona verdadeiramente como um epílogo do álbum, como um encerramento de capítulo. O tratamento instrumental da faixa - apesar de continuar a achar desnecessariamente longa, que a voz da Hayley podia soar mais clara no início da música e uns quantos vocais em eco, na parte instrumental, davam mais carácter a Future - confere a esta canção um tom adequadamente misterioso, agridoce, fazendo-me imaginar os membros da banda lutando num cenário semelhante ao vídeo de Now, ou então no mar em plena tempestade, ou num deserto, enfim, sobrevivendo numa situação agreste.
 
Vejo em Future certas semelhanças com Goodbye, de Avril Lavigne, e See the Light, dos Green Day. Goodbye também funciona como um epílogo de Goodbye Lullaby, pela maneira como retira uma conclusão a partir do álbum. Acaba, até, por ser uma mensagem relativamente semelhante, embora o sentimento seja diferente. Já See the Light tem um sentimento mais parecido e também me parece, de certa forma, uma conclusão a 21st Century Breakdown. Para além disso, tem uma mensagem semelhante, de procura de um sentido, de uma esperança, de desconhecimento sobre o futuro, tudo isto no típico tom agridoce de um epílogo.
 
 
É por estas e por outras que acho que o álbum foi mal batizado. Compreende-se a decisão de lançar um álbum homónico após terem sobrevivido a uma crise que quase destruiu a banda. Além de que quiseram mostrar todos os estilos que podiam adotar, todas as potencialidades dos Paramore. No entanto, o facto de terem batizado o seu quarto álbum assim, um álbum com uma sonoridade diferente dos anteriores, pode gerar equívocos. Podem dar a ideia e que estão a renegar os discos anteriores, de que estes eram menos Paramore do que o quarto álbum.

Na minha opinião, este álbum podia ter sido chamado Future. Por diversos motivos: pela canção-epílogo, que resume a mensagem geral do álbum. Por futuro ser o denominador comum a vários temas do disco: crescimento, sobrevivência, sonhos, esperança. Poque, com este álbum, a banda recuperou algo que esteve perto de perder: um futuro.

Mas trata-se apenas do título, é evidente que isso em nada diminui a qualidade do álbum. E enquanto músicas de que não gostava por aí além no início subiram na minha opinião (exceto Anklebiters. Não consigo mesmo gostar dessa), outras por que me apaixonei nas primeiras audições... continuam assim. Aliás, com o tempo, fui reparando nos pormenores, nas linhas de baixo de Jeremy, nos riffs de guitarra de Taylor, presentes em músicas como Daydreaming, Last Hope e, sobretudo, Ain't It Fun. É uma pena não termos ainda versões instrumentais oficiais...


Daydreaming tornou-se em poucas semanas uma das minhas preferidas, não apenas por descrever muito bem a fase da vida em que me encontro, como também por adorar cantá-la - aquelas estâncias suspiraras e depois o poderoso refrão. Daydreaming acabaria por ser lançada como single em alguns países da Europa, com direito a videoclipe. Como poder ver, é um vídeo muito simples, que nem sequer prima pela originalidade mas, na minha opinião, adequa-se à música que serve. Além de que, visto que não foi um lançamento mundial, não se justificava algo muito melhor.

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Uma das poucas coisas que me desiludiu em relação a este álbum, aliás, é o facto de terem sido lançados tão poucos singles. Aquando do lançamento de Paramore, eu pensava que haveria tempo para uns três singles até ao final do ano. A banda tentou gravar um vídeo para Ain't it Fun durante o verão -  que sempre se soube que seria single mais cedo ou mais tarde - mas parece que o processo não correu bem. Eles lançaram Daydreaming em novembro e, no início deste mês, fizeram uma segunda tentativa num videoclipe para Ain't it Fun. Parece que esta foi bem sucedida e o vídeo será lançado em janeiro.

Não se pode dizer, de resto, que este adiamento tenha prejudicado a banda pois Still Into You teve imenso sucesso. Este segundo single de Paramore não é das minhas preferidas deste álbum mas, tal como afirmei aquando do seu lançamento, consegue conjugar uma história forte por detrás da letra - Hayley chegou a afirmar numa entrevista que Still Into You era uma espécie de sequela a The Only Exception - com o carácter infeccioso das melhores canções pop.

Outros pontos fortes do álbum Paramore são Grow Up - sobretudo por causa dos elementos eletrónicos - e Part II. Não me vou alongar tantou sobre esta última pois tenciono dedicar-lhe uma entrada em breve.

No entanto, a melhor música, não apenas do álbum Paramore mas de todo o 2013, foi Last Hope.


Já falei aqui no blogue de como Last Hope me apaixonou à primeira audição, de como me arrebatou, de como dava vontade de cantar em altos berros. Algo que ainda acontece. Os Paramore, entretanto, referiram que esta se tornou uma das músicas preferidas de tocar ao vivo. Não surpreende, de facto. Diz-se vulgarmente que as músicas ideiais para concertos são as mais agitadas e alegres. Não concordo totalmente. Certas baladas arrebatadoras, cantadas em altos berros por milhares de pessoas, são muitas vezes o ponto alto de concertos.

Uma das coisas que ajudam à adesão de uma audiência será a letra com praticamente toda a gente se identifica - Lucky One, dos Simple Plan, também é assim. No entanto, emobra a mensagem de Last Hope seja generalizável, também se torna específica ao referir-se a dores de crescimento, àquilo que custa mas a que é necessário não resistir e, mesmo, aceitar - aquilo de que Hayley fala no seu blogue, uma lição que ainda estou a aprender.


Last Hope é, em suma, uma música perfeita em todos os sentidos. Se não for a melhor de sempre, será pelo menos a melhor deste ano. Ando a fazer figas para que a banda goste tanto de tocá-la ao vivo que a torne single.

Este álbum ajudou-me, assim, a apreciar ainda mais a banda, os seus trabalhos anteriores, os próprios integrantes.  Eu sei que Hayley detestaria ser discriminada positivamente em relação a Jeremy e a Taylor mas eu tenho de destacá-la. Eu já vinha a identificar-me com ela desde há uns anos a esta parte mas agora tornou-se um exemplo ainda maior para mim, por diversos motivos. Respeito-a imenso pela lealdade que tem para com os Paramore, ao contrário do que chegou a ser insinuado. O facto de, ao contrário do que acontece com quase todas as cantoras pop, ela não explora ostensivamente a sua sensualidade - só este ano é que começou a aparecer ainda mais descapotável mas, para ser sincera, ela parece uma freira quando comparada com o que se viu este ano... - e, mesmo assim, consegue há anos - incluindo numa altura em que muitas vezes aparecia de top e calças de ganga - ser considerada das cantoras mais sexys. Prova assim que sensualidade não é sinónimo de vulgaridade.

No entanto, o maior motivo da minha admiração diz respeito às letras, que são escritas por ela. É Hayley a principal responsável pelas mensagens das músicas, logo, dos álbuns. Para mim, essa é a parte mais importante, é o que me liga aos Paramore.

 

 

Porque este é, de resto, o principal motivo pelo qual este álbum teve um impacto tão grande em mim, mais do que a maior parte da música tem. Já o disse várias vezes aqui no blogue que, no finla, é o conteúdo da música que faz com que esta se torne verdadeiramente imortal - muito por colher inspiração dela. Paramore tem feito mais do que isso: as músicas, as mensagens por detrás, uma ou outra declaração sobre as mesmas, a própria história recente da banda, têm-me ensinado imenso, têm-me ajudado a descodificar a vida, a descobrir quem sou, aquilo que se passa comigo - sobretudo agora que me encontro à beira de um ponto de viragem. Coisas que já sabia e que estou a redescobrir, coisas que preciso de saber mas que ainda estou a tentar aprender.
 
Saber, por exemplo, quando ignorar as opiniões dos demais. Aprender que apenas seu sei o que é ser eu, percorrer o caminho que percorro, aceitar que não sou como toda a gente, que não faço o que é suposto fazer, que não sou normal e não tenho de o ser - em teoria, sei isto desde que tenho quinze anos mas, na prática, nem sempre consigo ignorar o que os outros pensam de mim.
 
Reconhecer que tudo o que tenho é sonhos, que vivo a meio gás e que está nas minhas mãos mudar isso, por assustador que seja. Porque muitas vezes, somos nós mesmos a impedirmo-nos de sermos felizes. Não esquecer que o Mundo Real é duro e tentará deitar-nos abaixo de todas as maneiras possíveis e imaginárias mas, se há pessoas a conseguirem sobreviver nele, também devo conseguir.
 
 
Aprender, também, que, por vezes, a maneira de ganhar a guerra não é derrotando o inimigo mas sim abraçando-o - quer literalmente, quer nos múltiplos sentidos figurados. Fazendo as pazes, perdoando, quer aos outros como a nós mesmos.
 
Pelo que vou vendo pela Internet, não apenas no que toca aos Paramore, o mesmo acontecendo com outros artistas, os fãs preferem embarcar em discussões sobre o sexo dos anjos, comparando o material novo com o antigo, muitas vezes desenterrando a velha questão da partida dos irmãos Farro. Eu prefiro focar-me naquilo que a música traz à minha vida. Se esta é mainstream ou indie é irrelevante. Se é conservadora ou inovadora é secundário - dái que o CD Avril Lavigne tenha ficado abaixo do EP dos Simple Plan: este podia trazer muito pouca novidade, ainda menos que o álbum da cantautora canadiana, ms as músicas deram mais. O álbum Paramore, esse, deu imenso: ajudou a clarificar o sentido da vida. Este devia, de resto, ser o principal propósito da Arte. Também serve de inspiração à minha escrita precisamente porque esta é, igualmente, a minha maneira de descodificar o Mundo.
 
Um dos meus desejos para 2014 é poder vê-los ao vivo outra vez, desta feita tocando as canções deste álbum. Não me importava que fossem ao Rock in Rio mas, depois de os ter visto no Alive, queria vê-los num concerto em nome próprio, de longa duração, não apenas com os singles mas, também, com as favoritas dos fãs mais hardcore - como por exemplo My Heart e Let The Flames Begin. Aguardo, igualmente, com ansiedade o vídeo de Ain't It Fun, bem como o single seguinte (Last Hope! Last Hope! Last Hope!). Entretanto, tenciono voltar a falar de músicas dos Paramore em entradas futuras. Mas, sobretudo, desejo que a banda continue a fazer músicas de qualidade, que continue a crescer connosco e a ajudar-nos a decifrar o Mundo.
 

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2014 dificilmente será tão rico musicalmente como 2013 foi. Já sabemos que os Within Temptation lançarão Hydra no final de janeiro. E aquela hipótese do álbum natalício de Avril Lavigne. Consta também que os Linkin Park se encontram, neste momento, em estúdio. Também não torceria o nariz a uma eventual participação dos mesmos no Rock In Rio. Em relação ao resto... não sei. Só o tempo o dirá.
 
Em termos pessoais, será um ano bastante decisivo. O ano em que espero acabar, finalmente, o meu curso. Um dos meus receios é que, quando estiver em estágio, deixe de ter tempo para escrever. Quero ver se consigo concretizar os vários planos de entradas que tenho acumulado nos meus cadernos - alguns dos quais há vários meses - antes do início do estágio mas não será fácil pois, no próximo mês, vou ter exames. Pelo meio, ainda queria avançar no meu quarto livro - escrevi oito capítulos ao longo do verão mas pouco mais escrevi depois disso.
 
Por outro lado, sou uma escritora caprichosa, que já escreveu mais em tempo de aulas do que em férias. Se em cerca de dezasseis anos de vida arranjei quase sempre tempo para escrever, não será agora que isso irá mudar. Como sempre, alguns dos melhores momentos deste ano corresponderam àqueles em que estive a escrever para os meus livros. Tenho a certeza de que, nesse aspeto, 2014 não será diferente. Sobretudo se o fizer catalisada por músicas novas dos meus artistas preferidos.
 
Deixo, então, aqui um voto de boas entradas em 2014, agradecendo aos meus seguidores, desejando que continuem a acompanhar o álbum ao longo do próximo ano. Que 2014 traga muitas alegrias, entre as quais boa música, bons livros, filmes e séries. Feliz Ano Novo!

Músicas Ao Calhas - 21 Guns & Sound the Bugle

Quando, há uns meses, estava a trabalhar numa parte do meu livro rica em ação, escrevi uma série de entradas de Músicas Ao Calhas sobre temas que definiam, um pouco, o espírito desses capítulos. Hoje, estou numa transição entre livros, a acabar o terceiro e a pensar no início do quarto. Quero, portanto, falar sobre duas músicas que representarão o estado de espírito de uma das personagens principais no início do livro. Tenho esperanças de que esta entrada me ajude a compreender melhor esse espírito e, assim, facilite a escrita dos primeiros capítulos.
 
As músicas em questão são 21 Guns, dos Green Day, e Sound the Bugle, da banda sonora do filme de animação Spirit, interpretada por Bryan Adams.

 

"Does the pain weight out the pride?"

21 Guns foi o segundo single do álbum 21st Century Breakdown, de 2009. Este foi um álbum que repetiu as fórmulas do extremamente bem sucedido American Idiot mas de que eu gostei muito na altura, por vários motivos. Um dos quais foi o facto de ter servido de pretexto para a banda atuar em Portugal, a 28 de setembro de 2009. Como já devem ter calculado, eu estive lá e diverti-me imenso. O Billie Joe Armstrong sabe bem como envolver a audiência. Isso e/ou o público português é um público que aproveita ao mácimo tais espetáculos, que se deixa envolver facilmente. O álbum acabou por ter alguma influência na génese de "O Sobrevivente", tendo mesmo inspirado a personagem Glória.

Não gostei muito da triologia ¡Uno!, ¡Dos!, ¡Tré!, apesar de ter ficado entusiasmada aquando do anúncio do seu lançamento, bem como com Oh Love. Tirando uma mão-cheia de faixas, a larga maioria das músicas não me diz nada, chegando a tornar-se cansativas e repetitivas - o que, tendo em conta que, da discografia dos Green Day, apenas conheço bem American Idiot, 21st Century Breakdown e meia dúzia de singles, diz bastante...

 

   

 

Mas regressemos a 21 Guns. Aquando do lançamento de 21st Century Breakdown, o meu irmão disse que o segundo single era uma das melhores músicas dos Green Day. Não acho que, pelo menos no que diz respeito às baladas, seja melhor que Wake Me Up When September Ends ou Good Riddance (Time Of Your Life) mas não andará muito longe. É uma balada rock, guiada pela guitarra acústica, a que se juntam guitarras elétricas e bateria. Na versão que apresentam ao vivo, também incluem notas de piano a seguir ao solo de guitarra.
 
É uma canção muito derrotista, cuja letra lamenta a perda de um motivo por que lutar, sequelas dolorosas de lutas anteriores, acabando por se optar pela rendição, pela desistência.
 
Desde o momento em que me familiarizei com a música, associei-a quase de imediato com Sound the Bugle, da banda sonora do filme Spirit. Tal como já tinha afirmado nesta entrada, a banda sonora resultante do trabalho de Bryan Adams e Hans Zimmer tem o ponto forte de não ser demasiado específica, permitindo a qualquer pessoa identificar-se com as músicas. Sound the Bugle é um bom exemplo disso.

 

"Then from on high, somewhere in the distance...
There's a voice that calls: «Remember who you are»" 

A música possui duas partes distintas. A primeira adota a linha abordada em 21 Guns, trnasmitindo os sentimentos do cavalo Spirit, que se sente abatido pela perda de Rain, a sua amada, e por ter sido de novo capturado pelos colonizadores americanos, que se dá como derrotado. O que acaba por surpreender pois, desde o início do filme, Spirit destaca-se pelo seu espírito indomável, inderrotável. Confesso que, quando vi o filme pela primeira vez, quase chorei nesta parte e a banda sonora muito contribuiu para esse efeito.

No entanto, a certa altura, dá-se uma viragem. Algo recorda o sujeito narrativo de quem ele é, dos motivos que tem para lutar, e isso dá-lhe o alento necessário para regressar ao campo de batalha. No caso de Spirit, tais motivos são a vontade de ver os entes amados de novo, regressar à sua terra natal, o que requer que ele se liberte de novo. Que é o que acaba por fazer.

 

Um momento semelhante, um momento que também podia ser ilustrado por estas duas canções, ocorre n'As Brumas de Avalon, no quarto livro, O Prisioneiro da Árvore. Vou tentar evitar os spoilers. Resumidamente, Morgaine, a personagem principal, atravessa um momento de depressão semelhante aos descritos acima e acaba por desistir da vida. Não se suicida mas fica à espera de morrer. Estabelece-se, aliás, uma certa analogia morte/vida neste tipo de situações provando, de certa forma, que difícil não é morrer, difícil é viver, suportando todas as dificuldades inerentes. "Não podia regressar de novo à vida, não podia voltar a lutar e a sofrer e a conviver com o ódio daqueles que um dia me tinham amado (...) Não. Estava ali em silêncio e em paz e, dentro em pouco, sabia-o então, entraria ainda mais para dentro dessa paz. (...) Não procures levar-me para a vida quando eu já me resignei a ficar aqui, na morte. Aqui, nestas terras imortais, tudo está em sossego, sem dor nem luta; aqui posso esquecer tanto o amor como a dor."

Aqui, são as recordações das coisas boas da vida que fazem Morgaine sair daquele limbo, em que não estava viva nem morta. "Eram as vozes dos mortos e dos vivos que me gritavam: «Volta de novo, volta, a própria vida está a chamar-te, com todo o seu prazer e toda a sua dor». Mais do que um regresso à luta, aqui trata-se mais de um regresso à vida. É, sem dúvida, um dos momentos mais belos de toda a saga.

A bondade do acto de fazê-la regressar é discutível pois Morgaine regressa apenas para assistir à perda dos entes queridos que lhe restam e à ruína daquilo que resta de tudo por que lutou toda a vida. Talvez tivesse sido menos cruel deixá-la onde estava. No entanto, no fim de tudo, ela descobre que não falhou completamente. E penso que a possibilidade de morrer com esse pequeno consolo valeu o regresso à vida.

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A minha intenção é incluir uma viragem de maré semelhante no meu quarto livro. Não necessariamente tão rápida, tão imediata, nem mesmo tão fácil. Em linha com o que disse há pouco, às vezes pode ser menos doloroso permanecer no buraco onde se caiu. Nada pode garantir que, ao sair dele, não se volte a cair de novo e que, desta vez, doa ainda mais. O que planeio é, precisamente, que não seja fácil, que ocorram retrocessos, que a personagem em questão se interrogue, várias vezes, se está a seguir o caminho correto. Mas tentarei fazer com que, no fim, tenha valido a pena.

Nestes caos, pessoalmente, julgo que vale a pena levantar-se de novo, regressar à luta e/ou à vida, ou pelo menos tentar. Seja por respeito a entes queridos, seja por orgulho, por não se querer uma rendição sem primeiro dar luta, por não se querer ser cobarde, seja para não passar o resto da vida interrogando-se sobre o que teria acontecido se se tivesse tentado sair do buraco, seja porque a vida é demasiado curta para ser desperdiçada desta forma. É sobre isto que falam músicas como Sound the Bugle, Alice, de Avril Lavigne, Alive, de Leona Lewis, Last Hope, dos Paramore. Mesmo que tenhamos de dar um passo de cada vez, mesmo que o nosso objetivo seja apenas sobreviver até ao fim do dia, mais cedo ou mais tarde, valerá a pena.

É nisso que acredito, pelo menos.

Paramore (2013) #3

 
 
Depois de termos analisado todas as outras músicas de Paramore AQUI e AQUI, chegamos, deste modo, ao top 3 das minhas músicas preferidas. Como já terão calculado, pertencem todas à parte B do álbum. Esta é, de facto, a parte que tenho ouvido mais vezes. Mas passemos ao que interessa...
 
Part II
 
 
"Fighting on my own
In a war that's already been won
I'll be lost until you come and find me here
Oh glory..."
 
Esta faixa está quase fadada para ter sucesso entre os fãs por ser uma sequela de Let the Flames Begin. Uma música que sempre foi muito especial, tanto para os fãs como para a própria banda. Não sou uma exceção, embora a faixa do segundo álbum dos Paramore tenha demorado algum tempo a entranhar-se. E mesmo agora continuo a tentar decifrá-la. Talvez Part II ajude nessa tarefa. Quando isso acontecer, provavelmente dedicarei uma entrada de Música Ao Calhas a esse assunto.
 
Como podem ver, fiz um AMV do Pokémon para a música. Já tinha feito um para Let The Flames Begin, fazia todo o sentido fazer um para a sua sequela. É uma das melhores maneiras de imortalizar uma música.
 
Part II parece-se imenso com a sua prequela, embora com algumas diferenças. A sonoridade é parecida, mas Part II tem uma batida mais forte e elementos eletrónicos. Destaco as sequências instrumentais após o primeiro refrão e, sobretudo, após o segundo. É um dos pontos fortes em relação a Let the Flames Begin. E o refrão de Part II tem mais poder.
 
Tal como a sua prequela, Part II reflete sobre os defeitos da Humanidade e do Mundo em que vivemos. De certa forma, procura algo superior a toda a podridão, um sentido, esperança. Tal como a sua prequela, por vezes soa como um lamento, por vezes ganha um tom combativo, quase revolucionário, por vezes soa como uma oração. Este efeito é reforçado pela última estância - que já havia sido cantada ao vivo, em concertos no verão de 2012, na conclusão de Monster - e pelo final misterioso e, pelo menos pela parte que me toca, inesperado. 
 
Ain't it Fun
 
 
"What are you gonna do when the world don't orbit around you?"
 
Considero esta irónica faixa a melhor do álbum - não que seja a minha preferida - e, por algumas críticas que tenho lido, não sou a única. Também é uma das favoritas por parte dos próprios Paramore. É capaz de ser uma das músicas mais representativas da evolução da banda em termos de sonoridade. Embora mantenha uma base pop rock, nas palavras dos músicos, tem elementos mais funk e groove - o que quer que isso seja. Destaque para o coro de gospel, que parece saído de um contexto musical completamente diferente, mas que se encaixa surpreendentemente bem. Tem um ritmo dançante, assemelhando-se a Smile de Avril Lavigne - em particular no refrão - e gosto imenso da interpretação da Hayley. Em suma, em termos de sonoridade, Ain't It Fun é extremamente cativante. Só tenho pensa de não terem repetido os versos "Ain't it good to be on your own? Ain't it fun you can't count on no one?" - a minha parte preferida da música - a seguir aos últimos refrões, antes do regresso do coro.
 
A letra da música é também excelente. A Hayley descreveu-a como uma carta a si mesma, um "pontapé no traseiro" de que precisou quando começou a viver longe da família. Admito que também precisarei - ou melhor, preciso - desse pontapé, eu que ainda vivo com os meus pais. Eu e muito boa gente da minha geração, sobretudo cá em Portugal, que abandonamos a casa parental cada vez mais tarde. Que farei eu quando o mundo deixar de girar à minha volta? Não sei, mas convém ir pensando nisso.
 
Tenho quase a certeza que esta música tornar-se-á um single deste álbum e acho que se dará bem comercialmente. Não por ser um êxito pré-fabricado, de consumo rápido, mas porque é uma música de qualidade elevada, com potencial de agradar a muita gente e, sobretudo, fazer sentido para muita gente.
 
Last Hope
 


"It's not that I don't feel the pain
It's just I'm not afraid of hurting anymore..."

Chegamos à minha música preferida. Foi amor à primeira audição, mesmo quando só tínhamos um excerto de minuto e meio. Já a referi de passagem numa entrada do meu outro blogue, sobre a Seleção (AQUI).
 
Last Hope começa apenas com a voz da Hayley - que aqui surge como nunca a tinha ouvido antes: pura, natural, quase inocente - e uma guitarra elétrica. Após o primeiro refrão, juntam-se órgãos, baixo e bateria. Gosto também das notas de piano e da bateria em crescendo na terceira parte da música, culminando num final a várias vozes, quase em júbilo. Esta sim, esta é uma balada verdadeiramente arrebatadora.
 
A letra vai na linha de outras faixas do álbum: fala de desilusão perante a realidade, perante sonhos por realizar, mas também em aprender a lidar com as contrariedades, em encontrar força interior, baseando-se em pequenas coisas e seguir em frente. Porque, muitas vezes, as supostamente pequenas alegrias, as pequenas faíscas, são aquilo que tornam a vida um pouco menos insuportável. 
 
Há uma frase numa das últimas entradas do blogue da Hayley. Traduz-se assim: "Nos momentos em que sentes a mudança acontecendo e sentes o teu coração, mente, corpo e alma resistindo com toda a tua força, experimenta não resistir por um momento. Deixa-te levar, até!". Acho que o verso "Gotta let it happen", várias vezes repetido ao longo da música, se refere a isso. Além do mais, a imagem da faísca vem, de certa forma, em linha com a conclusão de Part II, o título anterior na tracklist
 
Devo dizer que estou completamente apaixonada pela música. Arrebata-me de tal forma, faz-me sentir tanta coisa dentro de mim, que só consigo libertar cantando-a em altos berros. Ando a fazer figas para que se torne um single. Acho que tem potencial para isso. No entanto, é mais provável Ain't It Fun ser escolhido primeiro.

Já falámos de todas as músicas mas falta apenas uma parte, para as considerações gerais. Mantenham-se ligados.
 
Quarta parte

 

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