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Álbum de Testamentos

"Como é possível alguém ter tanta palavra?" – Ivo dos Hybrid Theory PT

Paramore - Riot! (2007)

Suponho que não seja a única aqui que, quando quer conhecer um artista ou banda, arranja a discografia completa. Eu costumo inclusivamente ouvir as músicas todas em shuffle, ir tomando nota das que gosto e, depois, elimino as que não gosto do leitor. Foi assim que me familiarizei com muitos dos artistas sobre que escrevo hoje, aqui no blogue.

 

Reconheço, no entanto, que essa poderá não ser a melhor maneira de conhecer uma banda. Existe uma diferença entre ouvir faixas ao calhas, numa playlist qualquer (eu gosto muito de playlist temáticas, sobretudo para escrever) e ouvi-las no contexto do álbum original, da maneira como os criadores queriam que fossem ouvidas. Além do mais, existem sempre aquelas canções que demoram a entranhar e, muitas vezes, não passam nesta primeira triagem. Esqueço-me delas, muitas vezes durante anos, só mais tarde sou capaz de apreciá-las. Foi o que aconteceu com Let The Flames Begin, por exemplo. Estas críticas retrospetivas são uma maneira, precisamente, de encontrar pérolas perdidas na discografia dos meus artistas preferidos, de obter uma nova perspetiva sobre o trabalho deles. 

 

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Estive, portanto, a revisitar os primeiros álbuns dos Paramore. Começando pelo primeiro, All We Know is Falling, que completa hoje dez anos de lançamento. Na verdade, essa não foi a primeira nem a segunda tentativa que fiz nestes últimos dois ou três anos para ver se gostava do álbum. Não consigo gostar. Adoro os singles Pressure e Emergency, My Heart é uma das minhas baladas preferidas dos Paramore, aprecio Here We Go Again e Whoa, um dia destes dou uma nova oportunidade a Franklin. Tirando isso, acho o álbum demasiado monótono, as faixas soam demasiado parecidas umas com as outras. Eu tentei, juro que tentei, mas não consigo melhor do que isto.

 

A história é diferente com Riot!, que saiu a 12 de junho de 2007 - logo, comemorou oito anos de lançamento no mês passado. Sempre o considerei o meu favorito da banda, mas apenas porque gostava de quase todas as músicas, não tanto pelo conceito do próprio disco, nem pela maneira como as faixas se relacionavam umas com as outras. Será que Riot! mantém esse estatuto agora que vou analisar um álbum como um todo?

 

O nome "Riot" (manifestação, revolta, motim) diz respeito a emoções explosivas, fora de controlo, um festival de energia pura. Energia essa que se traduz em temas rock, com bateria e guitarras frenéticas, que põe toda a gente a saltar. Apesar de uma relativa homogeneidade em termos de som, cada uma das músicas de Riot! conta uma história diferente, traduz uma emoção diferente. Muita gente comparara Paramore a Avril Lavigne - e existem muitos fãs em comum entre estes artistas, eu incluída - mas, tirando raríssimas ocasiões, Avril não consegue conjugar uma sonoridade energética, pedindo concertos, com mensagens fortes nas letras - acaba sempre por cair na futilidade e no pop. Por sua vez, em Riot!, os Paramore conseguem produzir temas com mensagens tão díspares como That's What You Get, Misery Business, Miracle e Let the Flames Begin, sem abdicarem da sonoridade frenética. Sou capaz de apostar que Riot!, que saiu dois meses após The Best Damn Thing,, fisgou muitos fãs desiludidos com a direção que Avril tomara.

 

 

 

Ao contrário da maioria, não foi com Misery Business que fiquei a conhecer os Paramore - foi com Crush Crush Crush. Lembro-me, inclusivamente, de pensar que Crush Crush Crush fora o primeiro single. Conheci a faixa através da MTV e aquela miúda com cabelo em tons de laranja e um olhar cheio de atitude chamou-me logo a atenção. O facto de ter sido a minha primeira música dos Paramore contribui muito para que seja uma das minhas preferidas da banda, mas não é a única razão. Como em muitas faixas de Riot!, as guitarras e a bateria definem a personalidade da canção, bem como aquilo que penso serem notas de teclados nas estâncias. A melodia e interpretação de Hayley não são nada por aí além, mas faz justiça ao arranjo musical. Adoro a parte do "Crush... crush..." - fico com arrepios só de recordar esse momento no concerto do Optimus Alice, em 2011. A letra fala de atracção entre duas pessoas, de tensão sexual, do início de um romance.

 

Outro dos meus singles preferidos, That's What You Get, por sua vez, fala de uma fase mais avançada da relação. Aqui, a narradora sente um conflito entre o orgulho, a precaução e a paixão. Por esta altura, Hayley ainda não acreditava a cem por cento no amor - como se provaria no álbum seguinte - logo, este género de letra faz sentido. Comparando com Crush Crush Crush, That's What You Get tem uma sonoridade um tudo nada mais alegre, mais pop.

 

Outro single igualmente alegre é Hallelujah. Segundo o que li na Internet, é uma música que a banda tinha composto uns anos antes, provavelmente aquando da composição de All We Know is Falling. Halleluja é um hino de triunfo, refletindo um momento em que o grupo se sentia feliz em relação ao presente e ao futuro dos Paramore - gosto da imagem da pomba a voar. Este tema, de resto, é recorrente na discografia da banda: hinos de vitória, de alegria por serem os Paramore. É um pouco irónico, tendo em conta todas as crises que se desenrolaram entre os membros da banda ao longo dos anos. Ou talvez seja essa a razão. Talvez estas músicas - Hallelujah, Born for This, Looking Up, Where the Lines Overlap, Now - tenham servido para lhes recordar que a banda é o sonho deles e valia a pena lutar por ela.

 

 

Para encerrar a conversa sobre os singles de Riot!, falemos do que apresentou o CD, Misery Business. Penso que esta é uma ocasião em que as comparações com Avril Lavigne são mais justificadas, pelo menos em termos de letra (um drama de liceu americano em que duas raparigas competem pelo mesmo rapaz. Não vos lembra nada?). Misery Business, no entanto, tem uma mensagem muito mais agressiva, é uma óbvia musica de vingança - contra uma rapariga que usava o sexo para manipular o interesse amoroso da narradora mas, no fim, a narradora recupera o rapaz e não se cansa de esfregá-lo na cara da rival. Esta letra é baseada numa história verdadeira, protagonizada pela Hayley, mas recentemente a cantora referiu que, passados oito anos, ela já não se revê nesta mensagem tão dura para com outra mulher (uma parte da letra podia traduzir-se em "uma vez p*ta, para sempre p*ta").

 

Ao menos a Avril sempre disse que Girlfriend não era para ser levada a sério.

 

Por outro lado, a música Decoy, lançada em edições Deluxe de Riot!, podia representar o ponto de vista da outra rapariga em Misery Business. Decoy conta a história de alguém que, não podendo estar com quem deseja, preenche esse vazio juntando-se com uma pessoa que a deseja, mas de quem ela não gosta (faz a mensagem de Misery Business parecer, para além de demasiado agressiva, hipócrita). Nesta música, gosto particularmente dos backvocals na terceira estância: "Not sorry at all, not sorry".

 

Sobre Let the Flames Begin já falei aqui - à semelhança do que acontece com a sua sequela no Self-Titled, LTFB é o tema mais sombrio e adulto de Riot!, contrastando com o carácter juvenil e maioritariamente descontraído da maior parte do álbum. Outra que acaba por ter um tom também mais entristecido é When it Rains. Segundo o que li na Internet, esta terá sido composta sobre uma amiga de Hayley que se suicidou. Na verdade, estou a pensar dedicar uma entrada de Músicas Ao Calhas a esta e a outras faixas com um tema semelhante um dia, logo, não me vou alongar muito.

 

 

A outra balada de Riot! é We Are Broken, uma faixa que sempre considerei a I'm With You dos Paramore. À semelhança da grande balada de Avril Lavigne, We Are Broken é tocada e cantada em tom grave e triste, com uma instrumentação parecida e tudo - embora em We Are Broken o piano substitua a guitarra acústica. A letra acaba, igualmente, por ser similar, descrevendo um momento de desânimo (embora, aqui, a narradora fale no plural) e de procura de consolo.

 

Fences tem uma sonoridade curiosa, muito própria, fazendo-me recordar, de certa forma, o blues rock das minhas aulas de guitarra. A letra tece uma crítica à cultura de reality shows, de escrutínio constante por parte da Comunicação Social, da ilusão de realidade que as imagens captadas por uma câmara dá.

 

For a Pessimist I'm Pretty Optimistic abre o álbum Riot! com uma amostra da energia selvagem que o define. Fiquei feliz por ouvi-la no concerto do Optimus Alive. A letra fala de alguém que desiludiu, que se acobardou perante as dificuldades - uma realidade a que a banda, infelizmente, está habituada.

 

 

Por sua vez, a letra de Miracle antecipa temas que caracterizariam o Self-Titled, como dores de crescimento, insatisfação com a vida atual mas medo de mudar. É uma música com que me identifico muito ainda hoje. A própria Hayley afirmou no ano passado, como poderão ver no vídeo acima, que o mesmo se passa com ela e o resto da banda.

 

Sempre gostei de Born for This, mas só agora, que me sentei para analisar a canção e pesquisar sobre ela, é que me apercebo da história e da mensagem por detrás dela. Mais do que qualquer outra, Born for This é uma música dirigida diretamente aos fãs - que, por sinal, no pós-All We Know is Falling, ainda não eram muitos. Hayley - desta feita, sinto que é mesmo a Hayley quem fala - confessa que, de tempos a tempos, cai no desânimo em relação à sua banda, mas ela e o resto dos Paramore continuam a lutar, sobretudo em nome dos fãs. Em momentos como o refrão e a terceira estância, ela chama pelos fãs, pedindo que se juntem à festa, ao sonho que estão a realizar, que os recordem que eles - banda e comunidade de fãs - estão a fazer aquilo para que nasceram. Este aspeto também torna Born for This numa boa música para concertos.

 

Tive pena de não ouvir Born For This no concerto do Alive. No entanto, tudo isto me faz lembrar do momento em que Hayley nos deu as boas-vindas à família, bem como o já icónico grito "We Are Paramore!!". Foi por essas e por outras que considero essa a noite em que me tornei oficialmente fã da banda.

 

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Penso que Riot! é o único álbum dos Paramore que vale apenas pelas músicas e só pelas músicas. Os outros três álbuns, sobretudo os dois mais recentes, trazem uma mensagem específica relacionada com o momento da banda, o que naturalmente influencia a maneira como olhamos para as respetivas músicas. Em Riot! isso não acontece, é um álbum de música pura, de energia pura - sem que isso signifique, conforme procurei demonstrar, música sem conteúdo.

 

Eu não consigo evitar assinalar que o carácter de praticamente todas estas canções é definido pelos irmãos Farro: a bateria de Zac e os riffs de guitarra de Josh. A maioria da energia pura que define este álbum é responsabilidade destes dois instrumentos. Vocês sabem que eu adoro Self-Titled, para mim é o melhor álbum dos últimos anos, mas a verdade é que, agora que me sentei para analisar Riot!, percebo que os Paramore com os Farro são diferentes dos Paramore sem os Farro. Não digo que sejam melhores ou piores, mas a diferença está lá e é sonora - comparem, por exemplo, a bateria genérica de Fast in My Car com as inúmeras variações na bateria de Born for This. As únicas músicas minimamente comparáveis neste capítulo são Proof, Be Alone e Part II - e esta última não conta, pois é uma sequela a Let the Flames Begin.

 

No entanto, reclamar dessa diferença, como muitos fãs fazem, é como reclamar das ausências de Tiago e Ricardo Carvalho da Seleção Nacional, antes de regressarem, no ano passado. Quando foram os visados a sair pelo próprio pé - e, no caso dos Paramore, quase destruindo a banda no processo - não é justo criticar aqueles que escolheram continuar a lutar pela banda. Por muita azia que isso tenha provocado, a mudança no estilo era inevitável. É-me evidente, agora, que a demora na composição do Self-Titled, o bloqueio de compositor que eles referiram em algumas entrevistas, ter-se-á devido ao tempo que a banda demorou a aprender a funcionar sem os irmãos Farro. Por outro lado, a saída deu uma oportunidade para Taylor York, o guitarrista remanescente, e Jeremy Davis, o baixista, terem um papel mais ativo na composição. O que não foi de todo uma coisa má, se olharmos para duas das melhores músicas do Self-Titled: Ain't it Fun, que ganhou um Grammy; a inevitável Last Hope - a guitarra e o baixo desempenham papéis importantes nela. Se os Farro não tivessem partido, provavelmente nem Ain't It Fun nem Last Hope teriam sido criadas. Nem o Self-Titled todo, já que penso nisso.

 

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Quando analisar o álbum Brand New Eyes, provavelmente tornarei a falar sobre a influência dos irmãos Farro, bem como a sua saída da banda. Para já, digo apenas que tenho esperanças num eventual regresso dos dois à banda. Sei que é pouco provável isso acontecer a curto prazo - só o imagino daqui a dez anos, no mínimo.

 

Em conclusão, Riot! é um dos meus álbuns preferidos dos Paramore, ao lado do Self-Titled. Não acho justo escolher um entre ambos, pelos conceitos diferentes e pelas circunstâncias diferentes em que os ouvi pela primeira vez. Hei de, então, escrever sobre Brand New Eyes, mas não para já - mais perto do aniversário do lançamento do álbum.

 

Estive um mês inteiro sem publicar, mas tenho vários textos planeados para os próximos tempos - por sinal, diferentes da norma. Continuem desse lado.

Músicas Ao Calhas - Let the Flames Begin & Part II

 
Hoje quero falar de duas das canções mais complexas e intrigantes que ouvi nos últimos anos: Let the Flames Begin, editada em Riot!, o segundo álbum dos Paramore, e a sua sequela Part II, editada no álbum mais recente da banda, homónimo. Não são músicas de que se goste à primeira, sobretudo Let the Flames Begin. Já antes referi aqui que essa demorou algum tempo a entranhar-se em mim, que estava com dificuldades em compreendê-la, tanto essa como Part II. Só agora, cerca de um ano depois de começar a ouvi-la com regularidade, julgo compreender a mensagem das músicas, de certa forma. E partilho, aqui, as minhas conclusões.
 
 
Let the Flames Begin tem uma sonoridade mais crua, mais pesada, quando comparada com a sua sequela. Destacam-se os riffs de guitarra, a bateria forte. A versão de estúdio peca por ter poucas sequências instrumentais - tal, felizmente, é corrigido na versão ao vivo da música. Destaco a sequência final, que encerra a música com um toque misterioso. A melodia transmite muito bem as emoções da letra. O refrão, contudo, soa algo forçado.
 
A letra, em conjunto com a melodia, possui múltiplas camadas, transmite diversas emoções ao mesmo tempo: desilusão, desalento, dor, resistência, desafio, revolta. Reflete sobre a condição humana, os seus defeitos e fragilidades, contrastando com a arrogância inerente a quem, muitas vezes, se julga invulnerável, imortal. Tal como assinalei anteriormente, existem momentos em que a música soa a um grito de guerra, outros em que se assemelha a uma oração, outros em que soa extremamente triste. O verso "Reaching as I sink down into light", por exemplo, parte-me o coração. E se esta mistura de emoções dá um carácter muito próprio a Let the Flames Begin, também a torna demasiado vaga, com alguma falta de coesão.
 
Existem muitas situações às quais a letra de Let the Flames Begin se aplicaria. Há quem se recorde do 11 de setembro ou do Holocausto. Eu, tanto em relação a Let the Flames Begin como a Part II, lembro-me dos Jogos da Fome pois, para além, obviamente, da metáfora do fogo, a série de livros e filmes gira, precisamente, à volta do lado mais negro da condição humana. No que diz respeito à prequela, esta reflete melhor os dois primeiros livros da trilogia, o carácter rebelde e revolucionário da mesma.
 
 
A versão desta faixa ao vivo difere significativamente da versão de estúdio. O áudio com qualidade desta versão encontra-se disponível no CD/DVD The Final Riot. Há nesta faixa um maior destaque dos instrumentos (as guitarras, o baixo, as baterias). Além disso, a música surge com uma estância adicional, um outro, vulgarmente denominado Oh Father. Neste torna-se muito mais claro o lado religioso da banda, sobretudo por, nesta parte, Hayley se ajoelhar no palco e/ou deitar-se virada para o céu enquanto canta. Tudo isto reforça a multiplicidade de facetas em Let the Flames Begin pois, se os instrumentos descontrolados e os frequentes headbangs proporcionam um momento muito rock 'n' roll, intenso e poderoso, a emotividade e o dramatismo do desempenho vocal de Hayley partem o coração. Não é de surpreender, por isso, que Let the Flames Begin seja uma das favoritas nos concertos, tanto para os fãs como para os próprios membros da banda.

 

  

"Fighting on my own, in a war that's already been won"

Part II é uma sequela a Let the Flames Begin mas, como não se limita a repetir a melodia e instrumental da sua prequela, possui o seu próprio carácter e funcionaria perfeitamente bem como uma música independente, incluindo no contexto do quarto álbum da banda. Tem, de facto, uma sonoridade ligeramente mais eletrónica, sem deixar de dar espaço às guitarras, ao baixo e à bateria ara brilharem, em particular na fantástica terceira parte da música. O refrão surge, além disso, muito mais forte, muito mais espontâneo que em Let the Flames Begin.
 
A letra de Part II assenta numa premissa semelhante à da sua prequela - o lado mais negro da condição humana - mas explora-o de uma maneira diferente. Se Let the Flames Begin se centra mais nos defeitos da sociedade e da espécie humana em geral, Part II é mais introspetiva, de certa forma. O sujeito narrativo reflete sobre o seu próprio lado negro, os seus próprios defeitos, os seus próprios traumas - daí que, tal como mencionei recentemente, tenha encontrado em Tell Me Why dos Within Temptation algumas semelhanças com Part II. Os Paramore têm afirmado que esta música, à semelhança de Now, reflete a parte mais sombria de toda a crise que a banda atravessou nos anos que se seguiram à deserção dos irmãos Farro. A mim, faz-me pensar em stress pós-traumático, em sequelas de batalhas e, de certa forma, em procura de algum tipo de redenção. Nesse aspeto, é igualmente aplicável aos Jogos da Fome, nomeadamente aos traumas que se vão acumulando em Katniss, produto de tudo por que passa. A emoção em Part II não é tão crua como em Let the Flames Begin, mas não deixa de estar presente, apresentando-se, aliás, de uma forma mais coesa.


Em todo o caso, tanto em Part II como em Let the Flames Begin (sobretudo no que toca à versão ao vivo), a resposta ao lado negro mencionado é a mesma: a fé. Tal fica claro nos respetivos outros. O de Part II tem, assim, uma mensagem semelhante a Oh Father, embora a emoção seja diferente. Se Oh Fater dá dramatismo ao encerramento de Let the Flams Begin, Part II termina numa nota muito misteriosa, reforçada pelo instrumental (praticamente só a dramática bateria) e pela interpretação de Hayley.

Não sou capaz de escolher entre Let the Flames Begin e Part II. Ambas as músicas funcionam bem isoladamente e, ao mesmo tempo, complementam-se uma à outra. Ambas são faixas marcantes para os fãs mais hardcore. Pela parte que me toca, como já vai sendo costume com músicas assim, o conceito destas faixas ajudar-me-à na escrita. Entretanto, estou curiosa relativamente ao tratamento que estas músicas receberão nos próximos anos ao vivo, nomeadamente após os próximos álbuns da banda. Uma possibilidade interessante seria um medley de ambas.
 

 

Esta é a minha interpretação do significado destas músicas. É uma possível, não é necessariamente a correta ou a mais correta, na Internet é possível encontrar outras. E mesmo estas minhas conclusões podem perfeitamente mudar ou expandir-se com o tempo.

Mesmo tendo passado um ano desde que oiço Let the Flames Begin e Part II regularmente, mesmo depois de ter aqui tentado esmiuçá-las para o blogue, estas músicas continuam a mexer comigo de uma forma estranha, que não sou capaz de compreender na totalidade. Em particular Let the Flames Begin. Tal ficou mais claro após montar os AMVs que incluo nesta entrada. Isso ou as emoções dos filmes que usei misturaram-se com as emoções das faixas, de tal forma que já não me é possível dissociar uma coisa da outra. De qualquer forma, tudo isto contribui para o enriquecimento das músicas. Estas facetas ainda inexplicáveis de Let the Flames Begin e Part II apenas contribuem para que as músicas nunca me sejam indiferentes, que me mantenham intrigada por muitos anos ainda.

Um dia destes ainda queria falar de uma última música dos Paramore (última, salvo seja), mas não para já. Depois de várias entradas sobre a banda no último ano, ano e meio, vou parar por uns tempos a seguir a essa. A menos, naturalmente, que eles lancem música nova - pouco provável, pelo menos para já. Entretanto, tenho já outra entrada em rascunho, para publicar assim que possível. Mantenham-se ligados.

Paramore (2013) #3

 
 
Depois de termos analisado todas as outras músicas de Paramore AQUI e AQUI, chegamos, deste modo, ao top 3 das minhas músicas preferidas. Como já terão calculado, pertencem todas à parte B do álbum. Esta é, de facto, a parte que tenho ouvido mais vezes. Mas passemos ao que interessa...
 
Part II
 
 
"Fighting on my own
In a war that's already been won
I'll be lost until you come and find me here
Oh glory..."
 
Esta faixa está quase fadada para ter sucesso entre os fãs por ser uma sequela de Let the Flames Begin. Uma música que sempre foi muito especial, tanto para os fãs como para a própria banda. Não sou uma exceção, embora a faixa do segundo álbum dos Paramore tenha demorado algum tempo a entranhar-se. E mesmo agora continuo a tentar decifrá-la. Talvez Part II ajude nessa tarefa. Quando isso acontecer, provavelmente dedicarei uma entrada de Música Ao Calhas a esse assunto.
 
Como podem ver, fiz um AMV do Pokémon para a música. Já tinha feito um para Let The Flames Begin, fazia todo o sentido fazer um para a sua sequela. É uma das melhores maneiras de imortalizar uma música.
 
Part II parece-se imenso com a sua prequela, embora com algumas diferenças. A sonoridade é parecida, mas Part II tem uma batida mais forte e elementos eletrónicos. Destaco as sequências instrumentais após o primeiro refrão e, sobretudo, após o segundo. É um dos pontos fortes em relação a Let the Flames Begin. E o refrão de Part II tem mais poder.
 
Tal como a sua prequela, Part II reflete sobre os defeitos da Humanidade e do Mundo em que vivemos. De certa forma, procura algo superior a toda a podridão, um sentido, esperança. Tal como a sua prequela, por vezes soa como um lamento, por vezes ganha um tom combativo, quase revolucionário, por vezes soa como uma oração. Este efeito é reforçado pela última estância - que já havia sido cantada ao vivo, em concertos no verão de 2012, na conclusão de Monster - e pelo final misterioso e, pelo menos pela parte que me toca, inesperado. 
 
Ain't it Fun
 
 
"What are you gonna do when the world don't orbit around you?"
 
Considero esta irónica faixa a melhor do álbum - não que seja a minha preferida - e, por algumas críticas que tenho lido, não sou a única. Também é uma das favoritas por parte dos próprios Paramore. É capaz de ser uma das músicas mais representativas da evolução da banda em termos de sonoridade. Embora mantenha uma base pop rock, nas palavras dos músicos, tem elementos mais funk e groove - o que quer que isso seja. Destaque para o coro de gospel, que parece saído de um contexto musical completamente diferente, mas que se encaixa surpreendentemente bem. Tem um ritmo dançante, assemelhando-se a Smile de Avril Lavigne - em particular no refrão - e gosto imenso da interpretação da Hayley. Em suma, em termos de sonoridade, Ain't It Fun é extremamente cativante. Só tenho pensa de não terem repetido os versos "Ain't it good to be on your own? Ain't it fun you can't count on no one?" - a minha parte preferida da música - a seguir aos últimos refrões, antes do regresso do coro.
 
A letra da música é também excelente. A Hayley descreveu-a como uma carta a si mesma, um "pontapé no traseiro" de que precisou quando começou a viver longe da família. Admito que também precisarei - ou melhor, preciso - desse pontapé, eu que ainda vivo com os meus pais. Eu e muito boa gente da minha geração, sobretudo cá em Portugal, que abandonamos a casa parental cada vez mais tarde. Que farei eu quando o mundo deixar de girar à minha volta? Não sei, mas convém ir pensando nisso.
 
Tenho quase a certeza que esta música tornar-se-á um single deste álbum e acho que se dará bem comercialmente. Não por ser um êxito pré-fabricado, de consumo rápido, mas porque é uma música de qualidade elevada, com potencial de agradar a muita gente e, sobretudo, fazer sentido para muita gente.
 
Last Hope
 


"It's not that I don't feel the pain
It's just I'm not afraid of hurting anymore..."

Chegamos à minha música preferida. Foi amor à primeira audição, mesmo quando só tínhamos um excerto de minuto e meio. Já a referi de passagem numa entrada do meu outro blogue, sobre a Seleção (AQUI).
 
Last Hope começa apenas com a voz da Hayley - que aqui surge como nunca a tinha ouvido antes: pura, natural, quase inocente - e uma guitarra elétrica. Após o primeiro refrão, juntam-se órgãos, baixo e bateria. Gosto também das notas de piano e da bateria em crescendo na terceira parte da música, culminando num final a várias vozes, quase em júbilo. Esta sim, esta é uma balada verdadeiramente arrebatadora.
 
A letra vai na linha de outras faixas do álbum: fala de desilusão perante a realidade, perante sonhos por realizar, mas também em aprender a lidar com as contrariedades, em encontrar força interior, baseando-se em pequenas coisas e seguir em frente. Porque, muitas vezes, as supostamente pequenas alegrias, as pequenas faíscas, são aquilo que tornam a vida um pouco menos insuportável. 
 
Há uma frase numa das últimas entradas do blogue da Hayley. Traduz-se assim: "Nos momentos em que sentes a mudança acontecendo e sentes o teu coração, mente, corpo e alma resistindo com toda a tua força, experimenta não resistir por um momento. Deixa-te levar, até!". Acho que o verso "Gotta let it happen", várias vezes repetido ao longo da música, se refere a isso. Além do mais, a imagem da faísca vem, de certa forma, em linha com a conclusão de Part II, o título anterior na tracklist
 
Devo dizer que estou completamente apaixonada pela música. Arrebata-me de tal forma, faz-me sentir tanta coisa dentro de mim, que só consigo libertar cantando-a em altos berros. Ando a fazer figas para que se torne um single. Acho que tem potencial para isso. No entanto, é mais provável Ain't It Fun ser escolhido primeiro.

Já falámos de todas as músicas mas falta apenas uma parte, para as considerações gerais. Mantenham-se ligados.
 
Quarta parte

 

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