Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Álbum de Testamentos

Mulher de muitas paixões e adoro escrever (extensamente) sobre elas.

Vinte anos de Meteora e outras coisas que mexem com as emoções #3

Tecnicamente esta é a terceira parte da minha análise a Meteora (podem ler as primeiras duas aqui e aqui) mas, na prática, os assuntos de que vamos falar aqui já não têm a ver com o álbum, pelo menos não diretamente. Mas achei importante escrever sobre eles.

 

347253201_941190930533605_6704953195168422405_n.jp

(foto: Travessa do Rock)

 

Para começar, queria falar melhor sobre os Hybrid Theory (já gosto mais deste nome de banda), o tributo português aos Linkin Park. Acho que a primeira vez que ouvi falar deles foi em 2018: eles deram um concerto na Fábrica da Pólvora no primeiro aniversário da morte de Chester e cheguei a pensar ir. Muito mais tarde, no verão do ano passado, eles tornaram-se virais… mas eu, mesmo assim, não vi os vídeos deles. Tive o separador aberto no meu telemóvel durante muito tempo, semanas ou meses, mas fui adiando, adiando. A certa altura devo tê-lo fechado – não me recordo bem. 

 

Finalmente, soube do concerto no Pavilhão Atlântico (só para recordar, por princípio evito chamar-lhe Altice Arena), pensei "Porque não?" e comprei bilhetes para mim e para a minha irmã. Depois disso, fiz de propósito por não pesquisar nada sobre eles, para não estragar a surpresa. 

 

Fiz bem porque houveram surpresas. Os Hybrid Theory abriram com New Divide e Burn it Down – logo as minhas duas preferidas. Eu fiquei parva porque eles estavam – e são – muito parecidos com os Linkin Park originais, até as movimentações em palco eram idênticas. O único mais diferente é o baterista Diogo Neuparth e mesmo assim – só mesmo porque Rob tem tido o cabelo comprido nos últimos anos. 

 

Ivo Rosário, o vocalista, então, não só se parece muito com Chester (o homem até usa óculos fora de palco!), como tem uma voz parecidíssima com a dele. Agora que já se passaram algumas semanas e já vi uma série de vídeos deles é que já consigo notar algumas diferenças, mas naquela noite ninguém deu por isso. Passei o concerto todo como aquele meme do Peter Parker colocando os óculos: de cinco em cinco minutos tinha de me lembrar a mim mesma que aqueles não eram os Linkin Park. A minha irmã comentou que uma pessoa que os conhecesse apenas pela rama seria capaz de pensar que aqueles eram mesmo a banda original, não um tributo.

 

Os Hybrid Theory tocaram Given Up relativamente cedo. Antes do icónico grito de dezassete segundos dei um toque à minha irmã, mas Ivo passou no teste com distinção, como poderão ouvir abaixo.

 

 

O concerto teve vários convidados. Por exemplo, Diogo Piçarra veio cantar Crawling. Só mais tarde é que descobri que a versão que apresentaram – começando com o instrumental de Krwling e parte de Hands Held High – é semelhante à que os Linkin Park tocaram quando Chris Cornell subiu ao palco para cantar com eles, em 2008. Não sei se foi coincidência ou se foi deliberado – para o Piçarra fazer de Chris.

 

A participação de Xande não me disse muito. Por outro lado, não estava à espera de gostar tanto do mash-up de Shadow of the Day com Só eu Sei, do Virgul. Se me dissessem antes, diria que era uma péssima ideia. Mas resultou.

 

Compreendo que alguns fãs não tenham achado tanta piada. Mas a verdade é que Linkin Park é isto. Mike aprendeu a criar música fazendo mash-ups de músicas rock com músicas hip-hop – daí às teorias híbridas foi apenas um passo. Daí ao Collision Course foi outro. Além disso, os Linkin Park sempre encorajaram os fãs a fazerem remixes das suas músicas, lançando versões instrumentais e à capela.

 

O mesmo é válido para o mash-up de One Step Closer com Tás na Boa, dos Da Weasel. Eles puseram-na a tocar antes do início do concerto. Mais tarde, no primeiro de maio, publicaram-no no YouTube. Ficou espetacular.

 

É uma versão portuguesa do Collision Course.

 

 

Tirando estas, fiquei com a ideia de que, se os Linkin Park estivessem ativos neste momento e com a discografia atual, seria este o concerto que dariam, mais coisa menos coisa – incluindo músicas como Don’t Stay e Lost. Gostava que tivessem tocado pelo menos mais uma não-single de Meteora – talvez Figure.09 ou Lying From You. Na altura do concerto ainda só tinha passado uma semana desde Meteora20, mas hoje gostaria de ouvir Fighting Myself e More the Victim.

 

Diverti-me imenso, aproveitei ao máximo. Pensei no Chester durante o concerto todo – foram várias as vezes em que apontei para o céu depois de uma música. Sei que ele ficou orgulhoso de nós. 

 

Só na manhã seguinte é que me caiu a ficha.

 

Mais sobre isso a seguir.

 

Depois do concerto, naturalmente, quis saber mais sobre os Hybrid Theory: artigos como este e este, entrevistas como as abaixo. Primeiro ponto a favor: eles são de Lagos (bem, uma parte deles, o Ivo é do Alvor), a cidade onde passo férias todos os anos, um dos meus lugares felizes.

 

Os membros dos Hybrid Theory já tinha tentado a sua sorte com bandas de originais. Estavam a isto de desistir de vez da música quando surgiu a ideia do tributo dos Linkin Park – porque, lá está, o Ivo tinha uma voz parecidíssima com a do Chester. Ainda assim, não a puseram logo em prática, em parte por falta de condições, em parte porque os Linkin Park estavam no ativo naquele momento.

 

 

Pois bem, deu-se o fatídico 20 de julho de 2017, os Linkin Park entraram num hiato que se mantém até hoje. De repente, ficou um buraco. Segundo o guitarrista Miguel Martins (o que “faz” de Brad), de início eram só para fazer dois ou três concertos de homenagem, que se foram multiplicando. Hoje, os Hybrid Theory já tocaram um pouco por todo o mundo: em vários países europeus, na Índia, na Austrália, na Nova Zelândia, no Brasil.

 

Agora que penso nisso, eles demoraram a chegar ao Pavilhão Atlântico. Mesmo assim, os Hybrid Theory, uma banda de tributo, conseguiram encher a sala principal – enquanto os Sum 41 e os Simple Plan, que não são bandas pequenas, só tiveram direito à Sala Tejo.

 

Como referi antes, eles são muito parecidos com os respectivos membros originais dos Linkin Park, mas garantem que, vá lá, noventa por cento disso não foi deliberado. Eles garantem que não precisaram de mudar muito a postura nem o estilo para assumirem os papéis. Aliás, existem muitas coincidências bizarras entre os Linkin Park e os Hybrid Theory. O Miguel partilha o aniversário com o Brad, por exemplo. O Ivo faz anos a 21 de julho – o dia a seguir ao da morte do Chester (“o pior presente de aniversário que recebi”).

 

Eu não acredito no destino mas, meu Deus!

 

Ora, se houver gente por aí que não alinhe nisto, eu compreendo. Por muito parecidos que sejam, os Hybrid Theory não são os Linkin Park, nunca serão. Os Linkin Park não são apenas as músicas, os visuais, as vozes. São eles mesmo, o Chester, o Mike, o Brad e os outros. São as pessoas que compuseram as músicas, são as personalidades, as histórias de vida, as amizades, as palhaçadas. Isso é impossível de replicar ou substituir – ninguém pode exigi-lo.

 

E nem é só uma questão de purismo. Depois de perdemos o Chester, talvez seja demasiado doloroso para algum de nós ouvir estas músicas em contexto de concerto – tal como existem fãs que nem sempre conseguem ouvir música dos Linkin Park, ponto. Mesmo comigo o rescaldo do concerto não foi fácil, algo de que falarei melhor mais à frente.

 

 

Dito isto tudo… é como disse o Miguel. Estas músicas são demasiado boas para viverem apenas nos CDs, ou no Spotify, ou no YouTube. O Chester já não está entre nós e não se sabe se os membros restantes dos Linkin Park alguma vez voltarão aos palcos. O que os Hybrid Theory estão a fazer é uma maneira de manter o legado vivo, garantir que o impacto não se perde. 

 

O próprio Mike disse uma vez que a música dos Linkin Park foi criada para servir de catarse, para formar um espaço seguro, uma comunidade, para exorcizarmos os nossos demónios. Ou, pura e simplesmente, para deixarmos o mundo lá fora e andarmos ao moche. Os Hybrid Theory estão a garantir que isso continua e se expande – dando inclusivamente a oportunidade a pessoas que nunca puderam ver os Linkin Park ao vivo de saberem como era. Os Hybrid Theory não são os Linkin Park, mas neste momento são o melhor que termos, são a “next best thing” – e não por uma grande margem. 

 

E, à boa maneira tuga, sinto um orgulho especial por serem portugueses. Espero voltar a vê-los em breve.

 

Antes de continuar, aviso desde já que as próximas quase duas mil palavras serão um pouco pesadas. Vou despejar imensa bagagem emocional. Estão à vontade para saltar à frente ou mesmo para clicarem noutro sítio. 

 

Nestas últimas semanas, tenho sentido a perda do Chester como não sentia há anos. A fase pior já passou, penso eu, mas mesmo assim as saudades continuam, demasiado fortes.

 

Pode ter sido de ter passado tanto tempo a pesquisar sobre a era de Meteora para este texto, mas eu acho que foi também do concerto dos Hybrid Theory. Não me interpretem mal, não retiro uma única palavra do que escrevi acima. Não me arrependo de ter ido ao concerto, cem por cento repetia – e quero repetir. Mas é evidente que voltar a ouvir estas músicas em contexto de concerto mexeu comigo. Talvez tenha soltado qualquer coisa mal resolvida cá dentro. Talvez fosse sempre doloroso, uma barreira a ultrapassar, um penso rápido para arrancar. 

 

343282054_903232238297342_1653628278821972262_n.jp

 

Uma parte é culpa: ter ouvido música dos Linkin Park em concerto sem Linkin Park, sem o Chester. Mas também a música dele continua a mover pessoas. Lost no topo das tabelas, o Pavilhão Atlântico cheio de fãs dos Linkin Park para ver os Hybrid Theory (embora também tenha sido mérito deles), também eles fãs dos Linkin Park. Nós ainda aqui estamos, prontos para curtir esta música, em Portugal e em todo o mundo, mas o Chester não está cá para vê-lo. 

 

E ele devia estar cá para vê-lo, ele merecia estar cá para vê-lo. Ele devia estar neste momento a dar entrevistas sobre Meteora, devia estar em palco com os colegas, harmonizando com o Mike, abraçando os fãs, fazendo palhaçadas nos bastidores. Ou pura e simplesmente, devia estar ao lado da esposa Talinda, envelhecendo com ela, vendo os filhos a crescer. 

 

Uma coisa em que tenho reparado nas entrevistas todas a propósito de Meteora20 é que os outros estão a ficar velhos. O Phoenix está com a barba quase toda branca. Os caracóis do Brad estão grisalhos. O Mike está a ficar com uns pés de galinha adoráveis – consequência do sorriso lindo dele. Adoro pessoas que sorriem com a cara toda como ele – o meu irmão também é assim, o Cristiano Ronaldo também. Existe uma certa beleza em ver os Linkin Park entrando na meia idade, como pais de adolescentes que gozam com eles. Dou valor especial a isso porque não podemos ver o Chester passando pelo mesmo. 

 

O que não é justo porque, depois de um início de vida horrível, o Chester merecia que as suas últimas décadas fossem de paz e felicidade, mesmo que fosse já fora do mundo da música. Não se deixem enganar, o live fast, die young é uma treta.

 

Além disso – e isto é algo que tenho sentido em relação a todas as pessoas que perdi até agora – a vida não é assim tão curta. Sim, nunca se sabe o que pode acontecer, mas o mais certo é muitos de nós vivermos até aos setenta, oitenta, noventa. Mesmo que acreditem, como eu acredito, que nos encontraremos todos uns aos outros depois da morte… é muito tempo sem vermos o Chester. 

 

Sinto-me estúpida por estar com esta agora – como se o Chester tivesse morrido no mês passado e não há quase seis anos. Como se não tivesse acontecido tanta coisa entretanto, incluindo uma fucking pandemia. Como se eu ainda hoje fosse a pessoa que era em 2017. 

 

346770990_955921085755023_681130613208410743_n (1)

 

Isto para não dizer, claro, que eu não conhecia o homem e ele mal sabia que eu existia. Toquei-lhe na mão durante dois segundos no fim do concerto no Rock in Rio de 2014, é possível que tenha olhado para mim uma ou duas vezes – e só isso já foi um grande privilégio. Para o Chester fui apenas uma entre milhões. A vida já é suficientemente difícil, justifica-se andar eu a carregar o fardo extra do luto, com meia dúzia de anos de atraso, por um homem que não sabia o meu nome?

 

Mas, lá está, são emoções. São por definição irracionais, não obedecem a lógica. E, de qualquer forma, são parte da vida, não são nada de patológico. Não estou deprimida, estou só triste. 

 

Aliás, nem sequer é apenas tristeza. São emoções contraditórias: se fosse como no Inside Out/Divertida-mente, os bonecos estariam todos à bulha por controlo. E a Tristeza teima em sair do seu círculo. 

 

Tenho momentos em que sinto imensa alegria, como sempre senti com a música dos Linkin Park – o maior exemplo foi, lá está, o concerto dos Hybrid Theory. Eu adoro a música deles, Meteora e não só. Mas tenho alturas em que me atraiçoa. A música chama-me como um canto de sereia. Eu ainda sinto a serotonina, mas depois ataca-me. Começo a pensar na letra, a relacioná-la com o que aconteceu. Ou então, pura e simplesmente, penso no quão fantástica a voz do Chester é. As saudades apertam e vou ao fundo.

 

…eu acabei de comparar o Chester e os outros a sereias, não acabei? Bem, fiquem com a imagem mental. Não têm de quê.

 

Para ser justa, várias coisas têm ajudado. Escrever sobre isso aqui no blogue é uma delas. Também tem ajudado cantar em altos berros no carro – músicas com refrões agudos, uma excelente catarse (já percebo porque é que a Hayley Williams se tornou uma especialista nisto). 

 

 

Mas sabem aquilo que eu não esperava que ajudasse tanto? Falar com a minha Jane. Uma destas tardes estava sozinha com ela e pus-me a desabafar longamente sobre tudo isto. Quando dei por mim, o meu peito estava muito mais leve. 

 

Vendo agora em retrospetiva parece super óbvio. É o bê-á-bá da psicologia: deitar cá para fora aquilo que nos atormenta faz bem (em minha defesa, os narradores de uma grande parte das músicas de Meteora também parecem não se aperceber disso). Sou introvertida por natureza, tendo a interiorizar o que sinto, a ficar presa à minha própria cabeça. E acho sempre que os outros não querem saber, não irão compreender, irão tecer juízos de valor.

 

O que nem sequer é necessariamente verdade. Ainda há uns tempos publiquei uma versão condensada do que escrevi acima na página de Facebook e obtive mais feedback do que o costume. 

 

Em todo o caso, a Jane ouviu-me. Se tinha algo a dizer sobre o assunto, teve a delicadeza de guardá-lo para si. Apenas pareceu contente pelas festinhas que estava a receber. Está visto que tenho de fazer isto mais vezes.

 

Mesmo aqui no blogue, por um lado, sinto-me mal por não ser capaz de escrever sobre os Linkin Park sem trazer a morte do Chester à baila, possivelmente mexendo nas feridas de toda a gente. Por outro lado, é algo de que preciso e quem sabe? Pode ser que haja alguém por aí a ler isto e a passar também por este luto fora de horas. Caso vocês, caros leitores, sejam uma dessas pessoas, bem, não estão sozinhos. 

 

Tenho tentado lembrar-me que, apesar de tudo, a vida do Chester não foi assim tão má, em parte graças a nós. Ainda há pouco tempo dei com a entrevista abaixo, em que listava os seus três sítios preferidos: a sua casa, o estúdio e o palco. Na mesma linha, numa entrevista recente, o Mike disse que o Chester nasceu para isto: para o estúdio e para o palco. Suponho que seja um consolo para ele, saber que Mike, Joe, Phoenix e os outros contribuíram para isso. 

 

 

Nós também contribuímos, certo? Nós fomos uma das partes boas da vida dele. Nós que ouvimos as músicas, que fomos aos concertos, que permitimos que o Chester continuasse a cantar até ao fim da sua vida, por curta que tenha sido. Talvez tenhamos evitado que ela tivesse acabado ainda mais cedo. 

 

Sinto que é isto que o Chester quereria que recordássemos: o estúdio, o palco, a sua versão mais feliz. Penso que, apesar de tudo, ele está contente por estarmos a gostar tanto de Meteora20, de Lost e de todas as outras. Eu além disso recordo a simpatia, a gentileza e as palhaçadas. 

 

É disto que fala Leave Out All the Rest, não é? 

 

De qualquer forma, mesmo nos meus piores momentos, nunca me consegui arrepender de me ter afeiçoado ao Chester e aos Linkin Park. O Rock in Rio 2008 mudou a minha vida como amante de música. Nessa noite, eles ensinaram-me a gostar de concertos, passaram-me o bichinho, a determinação para ver os meus músicos preferidos ao vivo. Fizeram com que desejasse ainda mais ver a minha cantora preferida, Avril Lavigne, ao vivo – e finalmente consegui, menos de uma semana depois do concerto dos Hybrid Theory, por sinal.

 

E depois é a música em si. Mesmo que por estes dias me deixe triste, tem-me enchido de serotonina ao longo dos anos, acompanhou-me em muitas sessões de escrita e viagens de carro, tem-me inspirado, tem-me consolado. A mim, a tantos, a milhões. As comunidades que se criaram um pouco por todo o mundo, as vidas que salvaram, a influência que tiveram noutros músicos.

 

Os Hybrid Theory são apenas um exemplo. De uma maneira super retorcida, se o Chester não tivesse morrido, talvez eles não estivessem a ter o sucesso que estão a ter. E também se está a criar uma comunidade

 

7mvqww.jpg

 

Há que celebrar tudo o que o Chester conseguiu fazer na sua curta vida, dar graças por esse impacto. Impacto esse que, se depender de nós, continuará a ser sentido por várias gerações. É o que os Hybrid Theory estão a fazer. É também para isso que serve este blogue.

 

Da minha parte, vou continuar a pôr em prática aquilo que os Linkin Park me ensinaram. Vou continuar a ir a concertos, dentro das minhas possibilidades. Vou continuar a curtir música, a deles e não só. Vou fazer por ser gentil para com os músicos de que gosto, para com as pessoas à minha volta, comigo mesma – #makeChesterproud e tudo o mais. 

 

O luto nunca desaparecerá por completo. Nunca será OK que o Chester nos tenha deixado tão cedo. A música dos Linkin Park terá sempre esta cor e é possível que, no futuro, eu volte a cair neste buraco. Mas hei de me levantar de novo. Vou tentar não obcecar por algo que não pode ser mudado. Vou tentar chorar menos e celebrar mais.

 

Nada disto é novidade, é praticamente o mesmo que temos dito uns aos outros nestes últimos anos. Mas são coisas que eu precisava de recordar.

 

Não quero encerrar este assunto sem deixar um apelo. Se houver alguém desse lado a debaterem-se com desejos de fazerem mal a si mesmos, por favor, não o façam. Peçam ajuda, existem recursos para isso: aqui, caso estejam a ler em Portugal, aqui, caso estejam a ler no Brasil. Como podem ver, se eu, mera fã, ainda sofro com o que aconteceu ao Chester quase seis anos depois, nem quero imaginar como se sentirão as pessoas que o amavam. Não façam isso aos vossos entes queridos.

 

E nem é só por eles. É por vocês mesmos também. Vocês merecem melhor que morrer antes do tempo. Vocês merecem coisas boas, fazer aquilo para que nasceram, ganhar cabelos brancos e pés de galinha, ver os vossos filhos crescer (caso os tenham). Deem uma oportunidade a vocês mesmos para que a vossa vida melhore, para que entre o amor, a amizade, a alegria. Não há garantias disso, claro, mas a probabilidade não é zero e vocês têm de estar cá para que isso aconteça. E o mundo só terá a ganhar. 

 

341769244_753532059698281_380136556313704356_n.jpg

 

Era isto que eu gostaria de ter dito ao Chester, se tivesse tido oportunidade. Não sei se chegaria para evitar o que lhe aconteceu – não sou profissional de saúde mental – mas talvez ajudasse um bocadinho. Ele já não pode ouvi-las ou lê-las, assim, deixo-as aqui. Pode ser que haja alguém que precise de lê-las, agora ou no futuro. Incluindo eu mesma. Espero que ajudem.

 

E agora? O que vai acontecer com os Linkin Park? Continua uma incógnita. Eles têm deixado mensagens contraditórias – o que é compreensível. Se eu mesma me sinto ambivalente… Há coisa de um ano, Mike dizia que não haviam planos, nem para música nova, nem para digressão, nada. Por estes dias, ele está menos categórico, diz que está tudo em cima da mesa tirando uma digressão. Por seu lado, Phoenix diz que sente que os Linkin Park ainda têm algo a dizer, embora admita que não saiba como. 

 

Depois de HybridTheory20 e de Meteora20, uma pessoa assume que os Linkin Park irão continuar com as edições de vigésimo aniversário. Eu pessoalmente gostava muito que houvesse MinutesToMidnight20 – foi nessa era que me tornei fã, teria um elevado valor nostálgico. Para além desse álbum, no entanto, começará a fazer cada vez menos sentido, na minha opinião. 

 

Sobretudo se isso for tudo o que os Linkin Park fizerem enquanto banda daqui para a frente: viver no passado. Seria deprimente. 

 

Por outro lado… música nova sem o Chester?

 

Em todo o caso, se eles derem esse passo, acho que não será para já – só daqui a um par de anos, pelo menos. Até porque Mike tem dado a entender que, um dia destes, lançará mais música a solo. 

 

 

@mshinoda Diving deep behind the making of #InMyHead. #ScreamVI #BehindTheSong ♬ original sound - Mike Shinoda

 

Como se devem recordar, o Mike lançou Post Traumatic um ano depois de o Chester morrer. Este foi um álbum e era bastante pesados emocionalmente. Consta que algumas pessoas se queixaram disso, mas, aqui entre nós, estavam à espera de quê? Foi o primeiro ano depois da morte do Chester!

 

De qualquer forma, creio que isso fez com que o Mike não tenha querido fazer música para si mesmo durante muito tempo. Tirando um ou outro single, o Mike tem passado os últimos anos composto e produzido música para outras pessoas. No entanto, criar In My Head para o último filme do Scream terá feito com que voltasse a sentir o bichinho. É possível que tenhamos um sucessor a Post Traumatic mais cedo ou mais tarde.

 

A ideia agrada-me. Em parte porque, para ser franca, é mais confortável do que música nova dos Linkin Park – não tem a mesma bagagem emocional. E a verdade é que tenho gostado daquilo que Mike tem lançado a solo até agora. 

 

É possível que esta não seja a primeira vez que o refiro mas, para mim, Post Traumatic é um excelente álbum de pandemia sem ser um álbum de pandemia. Afinal de contas, é sobre lidar com uma súbita disrupção da vida tal como a conhecíamos. Por estes dias, World’s On Fire é a minha preferida dele – nada como desgraças destas para nos recordarmos do que realmente importa.

 

No entanto, nesta altura, normalmente passo à frente de Place to Start e Over Again. Ninguém quer recordar essas situações específicas. A segunda, no entanto, descreve em o meu estado de espírito nestas últimas semanas, como escrevi longamente acima.

 

Também gostei de Waiting For Tomorrow, a colaboração com o DJ Martin Garrix, de fine – assustadoramente relevante durante a pandemia – e de Happy Endings. Ainda preciso de dar rotação a In My Head, mas acho interessante que, passados estes anos todos, Mike esteja a regressar à temática de Papercut.

 

344736582_224762820171612_2896080015231499205_n.jp

 

Por isso sim, venha daí mais música a solo – ou não. Decidam os Linkin Park o que decidirem, eu apoiarei. Podem haver lágrimas de novo da minha parte, a Jane pode ter de me aturar, poderei voltar a escrever sobre isso aqui no blogue, mas continuarei cá. 

 

Dito isto, a curto prazo, vou evitar o universo Linkin Park. Estes últimos meses, entre Meteora20 e os Hybrid Theory, foram divertidos mas também foram pesados, foram desgastantes. Preciso de me distrair com outras coisas, de escrever sobre outras coisas. Não posso estar sempre a pensar no Chester e no que lhe aconteceu. Preciso que doa menos, que regresse aos níveis a que estava há seis meses.

 

A única exceção será se, eventualmente, me cruzar de novo com os Hybrid Theory – o que não deverá acontecer assim tão cedo, penso eu.

 

O próximo texto daqui deverá ser a análise a This is Why, dos Paramore. Depois disso, talvez – talvez – escreva finalmente sobre Pokémon Go. É possível que, entretanto, outros artistas ou bandas do meu nicho lancem música, o que poderá baralhar estes planos. Como tenho vindo a dizer, quero escrever outras coisas, não quero ter pressa com este blogue.

 

Obrigada ao site Linkinpedia, que me facilitou imenso o trabalho de casa para esta análise, bem como a outros fãs de Linkin Park nas internetes. Destaque para o LPLive e para Brooding Ananas. Obrigada uma vez mais aos Hybrid Theory por manterem a chama acesa – espero voltar a ver-vos em breve. E obrigada a vocês, caros leitores, pela visita. Peço desculpa uma vez mais pela descarga emocional acima. Deixem o Chester orgulhoso. Continuem por aí. 

Vinte anos de Meteora e outras coisas que mexem com as emoções #1

R-9119034-1475096892-9243.jpg

 

No passado dia 25 de março, o segundo álbum de estúdio dos Linkin Park, Meteora, completou vinte anos desde a sua edição. Tal como já tinha acontecido com o seu antecessor, Hybrid Theory, a banda lançou uma edição comemorativa desse vigésimo aniversário com uma série de conteúdo extra: demos, versões ao vivo, faixas inéditas, o documentário do making of, entre outras coisas. Assim, tal como já tinha feito com Hybrid Theory, vou aproveitar a ocasião para escrever sobre Meteora. 

 

Tal como já tinha acontecido com Hybrid Theory, esta análise focar-se-á sobretudo na edição-padrão deste álbum. Não vou, no entanto, deixar de referir as demos lançadas na edição de vigésimo aniversário (vou passar a chamar-lhe Meteora20, por uma questão de simplicidade) quando achar relevante. E, claro, hei de falar de Lost e das outras inéditas. Como sempre, tenho imenso a dizer, logo, este texto virá dividido em três partes, mas só as duas primeiras é que se focarão na Meteora propriamente dita. Na última, vamos falar de um tipo diferente de Hybrid Theory – o excelente tributo português aos Linkin Park – e também sobre outros aspetos relacionados com a banda.

 

Vamos a isso, então. Meteora.

 

Antes de mais nada, contexto. Como toda a gente sabe, o álbum Hybrid Theory foi um sucesso monstruoso. Foi sugerido aos Linkin Park começarem a trabalhar num segundo álbum assim que possível, para aproveitarem a onda. Os trabalhos começaram ainda no autocarro da digressão – mais ou menos em paralelo com os trabalhos para Reanimation – ainda que não tenham aproveitado muito do que produziram, tirando coisas para samples. Por exemplo, aquele que deu origem a Somewhere I Belong terá saído desta fase. Em 2002, começaram a gravar no estúdio caseiro de Mike Shinoda – vocalista/rapper, compositor, multi-instrumentista, cérebro dos Linkin Park e no geral uma das pessoas mais fixes de sempre – e os trabalhos para o álbum durante o resto do ano.

 

Por esta altura, andava a circular pela imprensa musical um rumor de que os Linkin Park tinham, na verdade, sido fabricados pela editora, que eram pouco melhores que uma boysband.

 

343833910_1287639451871795_6624560737454969711_n.j

 

O que é irónico, tendo em conta a vida negra que a editora lhes fez durante os trabalhos de Hybrid Theory, como já tinha comentado quando escrevi sobre esse álbum. Nas entrevistas a propósito de Meteora20 descobri, por exemplo, que uma pessoa na editora quis expulsar Mike e meter um cantor de reggae em In the End.

 

O que é que aquela gente andava a fumar?

 

Uma das condições que os Linkin Park impuseram para voltarem a trabalhar com Don Gilmore foi que este os protegesse melhor do assédio da editora. Mas também, depois do sucesso de Hybrid Theory, claro que a editora ia deixá-los fazer o que quisessem.

 

Em todo ocaso, este tipo de comportamento por parte da comunicação social é uma das coisas de que não tenho saudades em relação ao início dos anos 2000. A Avril teve de lidar com o mesmo género de má-língua na altura. Na minha opinião não tinham de fazê-lo mas, para desmentir esses rumores, os Linkin Park decidiram filmar os trabalhos de Meteora – e acabaram por fazer o mesmo com todos os álbuns depois desse. Daí pérolas como esta e esta.

 

O nome Meteora foi inspirado por umas formações rochosas no centro da Grécia, onde está construído um complexo de mosteiros ortodoxos. Segundo os membros da banda, essas formações representam o carácter do álbum: conjugação de elementos que ninguém imaginava que fossem compatíveis, um misto de Natureza e obra humana, algo grandioso, quase sobrenatural. Pessoalmente, o nome Meteora lembra-me "meteoro" ou "meteorito", faz-me pensar em eventos astronómicos, o que também se encaixa no tema. 

 

Umas palavras sobre a minha história com este álbum. Só em 2017 é que ouvi estas músicas em contexto de álbum, quando comprei Meteora em CD (tal como Hybrid Theory). Durante muitos anos, ouvi-as em modo aleatório, à mistura com o resto da discografia dos Linkin Park, ou integradas noutras playlists. Como escrevi na análise ao primeiro álbum, a maior parte das músicas que preferia vinham de Hybrid Theory. No que toca a Meteora, preferia os singles e, vá lá, Figure.09. 

 

337575569_924263662327036_4109773062531259012_n.jp

 

É por isso que, apesar de concordar que Meteora é objetivamente o álbum melhor, gosto mais de Hybrid Theory: porque me afeiçoei mais depressa às músicas. E, em minha defesa, os próprios Linkin Park também parecem gostar mais do seu primeiro álbum. No que toca a concertos, nunca deixaram de dar rotação a músicas como With You e Points of Authority – enquanto temas como Easier to Run, Hit the Floor e Don’t Stay desapareceram relativamente depressa dos alinhamentos.

 

No entanto, quando ouvi o CD do princípio ao fim em 2017, gostei muito. Estas músicas mereciam mais atenção por parte da banda – isto é, antes desta edição de aniversário, claro.

 

Há quem acuse Meteora de ser um Hybrid Theory parte 2. Não estão completamente errados, mas não acho os dois álbuns assim tão parecidos. Diria que Meteora não é uma repetição de Hybrid Theory e sim uma expansão. Atinge um bom equilíbrio (não um perfeito equilíbrio) entre recriar aquilo que funcionou no seu antecessor e experimentar coisas novas. Não é fácil.

 

Claro que algumas faixas de Meteora encaixariam bem em Hybrid Theory. O exemplo mais óbvio é Easier to Run – musicalmente soando como uma Crawling 2.0. O instrumental é parecido, o estilo das melodias é parecido (vá lá, o refrão não é tão absurdamente agudo), a estrutura é parecida.

 

Dito isto, a certa altura Mike chamou a atenção para a bateria, surpreendentemente complexa, algo que nenhum baterista iniciado conseguiria tocar. Tem razão, de facto. Sugiro que oiçam, também, a demo instrumental Interrogation, onde se nota um bocadinho melhor. 

 

Não me interpretem mal. A musicalidade de Easier to Run é ótima. Estes elementos já tinham funcionado em Crawling, voltaram a funcionar aqui, mesmo sendo demasiado derivativo.

 

 

A letra de Easier to Run fala, como diz o título, de ser mais fácil fugir aos problemas do que tentar resolvê-los. Ser mais fácil suprimir os sentimentos negativos do que procurar lidar com eles, com ou sem ajuda, e adotar comportamentos mais saudáveis. 

 

Quem nunca?

 

Os Linkin Park depressa deixaram de tocá-la em concerto. Mais tarde, os membros da banda confessariam não gostar muito de Easier to Run, descrevendo-a como “melodramática”. Consigo compreender até certo ponto, mas o tema da letra é muito universal e faz sentido no contexto do resto de Meteora – incluindo as faixas-extra Lost e Fighting Myself.

 

Além de que Easier to Run é uma daquelas músicas dos Linkin Park que se torna trágica à luz da morte por suicídio do vocalista Chester Bennington, em 2017. Uma prova que todos dispensávamos daquilo que é senso comum: fugir não resulta a longo prazo. 

 

Claro que ninguém tem o direito de tecer juízos de valor sobre quem tem estes comportamentos escapistas, mesmo auto-destrutivos. Se aprendemos alguma coisa nos últimos anos, com toda esta conversa sobre saúde mental, é que muitas vezes as pessoas não conseguem lidar com estas coisas sozinhas. Muitas vezes é preciso ajuda.

 

Que isto sirva de lembrete a vocês, caros leitores, para pedirem ajuda caso estejam a passar por dificuldades em termos de saúde mental – tal como o narrador de Easier to Run e de, bem, a larga maioria de Meteora. 

 

Tirando este aspeto, no entanto, não adoro Easier to Run. Prefiro Crawling. Na minha opinião, executa melhor o conceito de música melodramática e estou mais afeiçoada a ela – penso que não sou a única.

 

 

Por sua vez, Figure.09 é uma das minhas preferidas em Meteora. Tem uma sonoridade muito Hybrid Theory (não lhe chamaria uma One Step Closer 2.0, mas o instrumental tem algumas semelhanças), podia ter sido incluída nesse primeiro álbum e ninguém daria pela diferença. Tive uma altura em que pensava que Figure.09 fazia parte do primeiro álbum. Tem aquela energia contagiante que caracteriza a larga maioria de Hybrid Theory – e que eu adoro. A edição de aniversário de Meteora inclui duas demos para Figure.09. É engraçado pois a Figure.09 parece uma combinação de ambas. 

 

A letra de Figure.09 é interessante. Parece ser sobre uma antiga relação abusiva – pode ser romântica ou não. As recordações dos maus tratores são tão marcantes, tão vívidas, que se tornaram parte da personalidade do narrador. Encaixa-se naquele que será o maior tema recorrente em Meteora: supressão da própria identidade. E na pior das hipóteses, em situações como esta, se a pessoa não tem cuidado, arrisca-se a perpetuar o ciclo de maus tratos.

 

Como disse acima, esta é uma das minhas preferidas neste álbum. E este ano está a ser engraçado com Meteora20, pois os Paramore lançaram uma música chamada Figure 8.

 

Pode haver quem inclua Don’t Stay nas que se assemelham ao estilo de Hybrid Theory. Concordo até certo ponto. Durante muito tempo considerei-a uma faixa quase puramente rock, com as guitarras elétricas e Chester cantando um verso em screamo no meio das estâncias – um estilo que, tanto quanto me lembro, não aparece em mais nenhuma música dos Linkin Park. Só recentemente, ao pesquisar para este texto, é que reparei melhor em elementos como a percussão de hip-hop e o solo do DJ Joe Hahn arranhando discos. 

 

Um instrumental muito bem conseguido, em suma.

 

 

Uma vez mais, em Don’t Stay o narrador está numa situação ou numa relação em que não se sente bem. Em que, lá está, sente que está a perder a sua identidade, a transformar-se em algo de que não gosta.

 

Por fim, temos Numb. Já tinha escrito a propósito de Hybrid Theory que esta soa a uma versão melhorada de Pushing Me Away. Eu no entanto não agrupo Numb juntamente com Easier to Run e as outras de que falámos antes. Numb é demasiado grande, demasiado icónica, com imenso carácter e peso. Sim, provavelmente não existiria se não fosse Pushing Me Away, mas Numb cresceu muito além de uma nova versão de uma música pré-existente. 

 

De tal forma que não vou falar dela para já. Fica para mais à frente.

 

Falemos, então, sobre músicas que pintam fora das linhas traçadas por Hybrid Theory. O primeiro single, Somewhere I Belong, já representa uma ligeira expansão. Sempre a considerei uma balada, ainda que dentro da fórmula rap-sobre-rock dos primeiros anos dos Linkin Park. Um ritmo mais pausado e sentido. 

 

A letra, aliás, está um passo à frente do espírito de Hybrid Theory e mesmo de outras partes de Meteora. Como em noventa por cento da discografia dos Linkin Park, mais coisa menos coisa, o narrador de Somewhere I Belong encontra-se numa situação má. A diferença em relação às demais é o desejo de mudança, determinação em fazer o trabalho necessário para sair do buraco e encontrar, se não a felicidade, pelo menos um alívio para a dor constante. “I will never know myself until I do this on my own”

 

From the Inside tem algumas semelhanças com Somewhere I Belong no sentido em que a vejo um pouco como uma balada – pelo ritmo mais lento e pela maneira como Chester canta nas estâncias. Gosto imenso do riff introdutório, como que indiciado algo épico. A letra fala essencialmente de, uma vez mais, tormenta interior e não confiar na outra pessoa. 

 

 

A demo de From the Inside, Shifter, é interessante. Tem mais rap – aliás, Mike canta tudo, o rap e as partes melódicas. A letra é intrigante – muito à moda de Meteora, fala sobre dificuldades em corresponder às expectativas dos outros.

 

Não tenho muito mais a dizer em relação a From the Inside. Não está entre as minhas preferidas.

 

Outra de que não gosto por aí além é Hit the Floor. Combina batidas hip-hop com acordes pesados de guitarra elétrica, rap de Mike nas estâncias e refrão de Chester em screamo e rap. A letra foge ao padrão de Meteora. Fala sobre pessoas que ascendem a posições de poder, muitas vezes à custa de outros, sem noção da posição precária em que se encontram. De que podem perder tudo a qualquer momento. 

 

Gosto muito mais de Lying From You, sobretudo pela musicalidade. Começa com notas de teclado, a que se juntam as guitarras pesadas. Uma vez, temos a estrutura clássica dos Linkin Park, estâncias em rap pontuadas por versos cantados, Chester no refrão. 

 

Gosto imenso deste refrão, aliás.

 

A minha parte preferida é a terceira. Nem sequer consigo descrever bem o que as guitarras estão a fazer: ganham um tom grave, dramático, criando um efeito de “descida” que fica excelente.

 

 

Uma vez mais, temos uma letra que descreve uma relação em que a outra parte não aceita o narrador tal como é. Uma vez mais, pode ser uma relação romântica, pode ser a relação de um adolescente com os adultos da sua vida – os versos “I remember what they taught to me, remember condescending talk of who I ought to be” aplicam-se bem a esse cenário. Em Lying From You, o narrador está a tentar ser a pessoa que os outros querem que seja, está a tentar manter a máscara, mas, subconscientemente ou não, começa a ter atitudes que desagradam à outra pessoa, como forma de afastá-la.

 

Não seria mais fácil terminarem de uma vez? 

 

Nobody’s Listening é uma das mais interessantes musicalmente em Meteora. Mais do que qualquer outra, esta é uma música hip-hop: usando um sample de High Voltage e outro de shakuhachi, uma flauta japonesa feita de bambu, como tem sido amplamente comentado. Consta que, na altura, a banda estava preocupada por ser um som demasiado diferente do resto do álbum, mas depois criaram um refrão mais rock, com vocais de Chester, para fazer a ponte com o resto de Meteora.

 

Não sei como é com vocês, mas gosto muito do resultado final. Tem aquele je ne sais quoi do hip-hop de meados dos anos 2000.

 

O meu primeiro contacto de que me recordo com Nobody’s Listening foi no mash-up com Step Up e It’s Going Down. O áudio fazia parte do mp3 cheio de música dos Linkin Park que o meu irmão trouxe de casa dos meus padrinhos, que já tinha referido no texto sobre Hybrid Theory. Pelos vistos, a designação “oficial” nos alinhamentos era Hip-Hop Medley.

 

Gostaria de referir, por nenhum motivo especial, que, como dá para ver no início do vídeo abaixo, durante o Rock Am Ring em 2004, o Chester atirou um “I love you, Mike” para o meio das instruções deste último para o público. Repito, falo deste momento por nenhum motivo especial. 

 

 

Por outro lado, é sempre fixe ver Chester na guitarra elétrica. Uma visão rara, mas não tão rara como se calhar alguns imaginam. 

 

Uma palavra rápida para Session, a faixa instrumental de Meteora, uma tradição em quase todos os álbuns dos Linkin Park. Quase literalmente, porque não tenho muito a dizer sobre Session em si. É uma faixa instrumental, agradável, é um mood – ainda que ache algumas das demos instrumentais de Meteora20 mais interessantes.

 

Queria só assinalar que esta é a única faixa em Meteora a receber uma nomeação para um Grammy… o que, pensando bem, é ridículo. Chester ficou particularmente aziado na altura. Acho alguma piada a isso por um lado, por outro compreendo. Session é a única música em Meteora, tirando Foreword (que é só Mike descarregando frustrações num leitor de CDs), em que Chester não participa. Claro que ele ia vê-lo como uma chapada de luva branca. E existem várias outras canções em Meteora que mereciam uma nomeação – e mesmo ganharem.

 

É por estas e por outras que, hoje em dia, ninguém leva os Grammys a sério.



As três músicas de que ainda não falámos na edição-padrão de Meteora são as minhas preferidas – penso que não sou caso único. Aliás, penso que todos concordamos que estas três fazem parte facilmente do top 10 dos Linkin Park.

 

Começando por Faint. Aquele sample com os violinos é icónico, bem como o ritmo acelerado – uma excelente bateria – e o rap de Mike a condizer. Consta que é (era? é?) uma das preferidas de Mike para tocar ao vivo e até concordo – a energia de Faint tem de ser libertada em palco.

 

 

Ou então na plateia. No concerto dos Hybrid Theory, Faint foi estrategicamente ensanduichada entre One Step Closer e Bleed it Out, mesmo para andarmos ao moche.

 

Ainda não vos contei, pois não? Eu andei ao moche no concerto dos Hybrid Theory. Eu! OK, não estava mesmo no meio, estava mais perto da borda dando uns headbangs mas, mesmo assim. Sou mais metaleira agora do que quando tinha dezoito anos. Espero que a progressão continue – hão de me apanhar aos oitenta anos fazendo crowd surfing.

 

E devo dizer, é mais fácil andar ao moche quando, se alguém caía, os outros ajudavam a levantar. Exatamente como Chester queria

 

Regressando a Faint, a letra desta encaixa-se no tema de Meteora e é bastante direta: o narrador sente-se rejeitado, negligenciado e está farto de sofrer em silêncio. É outra que serve para adolescentes projetarem as suas revoltas.

 

O verso mais associável a rebeldias juvenis e provavelmente o mais trágico de toda a letra é “But I’ll be here ‘cause you’re all that I’ve got. Aplica-se bem a relações entre pais e filhos, em que os segundos estão dependentes dos primeiros e não podem abandonar a situação de livre vontade, por mais tóxica que seja. Claro que também se pode aplicar a outras relações, como um romance ou um emprego, em que a pessoa sente (corretamente ou não) que estará pior sozinho. 

 

É um clássico.

 

342370332_1029290078231400_8514637991203989171_n.j

 

Ficamos aqui por hoje. Na próxima parte vamos, então, falar das duas faixas que faltam da edição-padrão e olhar para Lost e as outras inéditas. Continuem por aí.

Música 2022 #5: O lado colorido

Referi no texto anterior que o meu gosto musical se define por aquele meme da casa escura ao lado da casa colorida. Claro que esta é uma versão muito redutora da coisa – até porque muitos dos artistas e bandas que oiço não se encaixam perfeitamente numa só casa. De resto, o texto anterior focou-se na casa escura. Hoje vamos focar-nos na casa colorida.

 

 

Começando por Mika. Este é um artista sobre quem não escrevo desde 2016, mas que se tem mantido na minha rotação ao longo de todos estes anos. Tenho ouvido uns quantos temas do seu álbum mais recente, My Name is Michael Holbrook, de 2019, de forma muito casual, quando me aparecem no aleatório, sem pensar muito nisso. Algumas das minhas preferidas são Cry e Dear Jealousy.

 

Ainda assim, houveram algumas músicas que fui negligenciando. Quando Mika co-apresentou o Festival da Canção e cantou um medley de algumas das suas músicas – e a sua apresentação foi melhor que as de metade dos concorrentes – recordei-me delas. Em particular, Love Today e Lollipop.

 

Isto numa altura em que, lá está, Everything is Emo tinha acabado de começar e eu andava entusiasmada com essas músicas.

 

Foi também nessa altura – na véspera do Festival, se não me engano – que Mika lançou o single Yo Yo. Uma das minhas músicas preferidas de 2022. É um tema de disco pop, bastante simples, talvez mesmo básico, em termos de instrumentação. Mas funciona. É um caso de menos que é mais.

 

Diz que Mika está a preparar um par de álbuns, um em inglês, outro em francês, mas ainda não há previsão de lançamento. Em todo o caso, hei de continuar a acompanhar casualmente a carreira dele e espero que um dia volte a Portugal – o Rock in Rio 2016 foi giro.

 

Uma que se tem mantido sempre forte na minha rotação é Carly Rae Jepsen. A cantautora canadiana lançou um álbum este ano, The Loneliest Time. Por azar, foi editado no mesmo dia que Midnights, de Taylor Swift. 

 

Captura de ecrã 2023-02-28, às 11.29.59.png

 

Cheguei a temer que houvesse alguém na editora de Carly que a odiasse secretamente. Até porque já o lançamento de Emotion foi uma confusão. No entanto, daquilo que pesquisei, The Loneliest Time foi anunciado cerca de um mês antes de Midnights. Deve ter sido uma coincidência infeliz.

 

Segundo Carly, The Loneliest Time é um dos seus álbuns mais pessoais. Algumas destas músicas foram compostas como páginas do seu diário. Carly nem sequer queria lançá-las, mas foi persuadida pela sua editora.

 

Este é o primeiro caso que conheço em que uma editora prefere o mais honesto em vez de o mais radiofónico. Respeito.

 

Uma dessas músicas mais diarísticas é o primeiro single, Western Wind, lançada uns meses antes do resto do álbum. Acho que a ouvi pela primeira vez quando me apareceu no Radar de Lançamentos do Spotify. Nos meses que se seguiram, ia adicionando-a às minhas filas, gostando do que ouvia, mas sem lhe prestar muita atenção. Uma das primeiras coisas que me atraiu em Western Wind foi a sonoridade vagamente mística, criada pela percussão e pelos sintetizadores.

 

Mais tarde, depois de sair The Loneliest Time e depois de ler e ouvir algumas entrevistas, descobri que a letra de Western Wind foi inspirada pelas suas experiências durante o confinamento. Carly estava a viver em Los Angeles e a sua família estava a viver no Canadá quando a pandemia começou. Perdeu a avó nessa altura, mas não pôde ir ao funeral nem estar com a família por causa das restrições nas fronteiras.

 

Western Wind não é uma música triste, no entanto. Aliás, faz-me lembrar Everglow, dos Coldplay, pois fala sobre sentir a presença e o amor dos seus entes queridos, mesmo com a distância.

 

 

Ao mesmo tempo, Western Wind fala sobre o contacto com a Natureza que, para Carly, lhe recorda a infância. Faz parte do arquétipo do Canadá, eles gostarem muito do ar livre. Por outro lado, este tem sido um tema recorrente desde o início da pandemia, por motivos óbvios. Nem sequer é a primeira vez que o comento aqui no blogue.

 

Ora, o segundo single, Beach House, é muito diferente. O instrumental é mais alegre, daqueles que convidam a palmas. Há muitos que não gostam desta música e eu até compreendo porquê – é daquelas canções um bocadinho tolas. Confesso que já fui mais papista nesse aspeto – e, de resto, existe muito pior por aí. 

 

Eu acho engraçada. Carly escreveu a letra sobre as suas experiências quando aderiu ao Tinder ou a uma aplicação semelhante. 

 

Eu pergunto-me, no entanto, como é que não se soube que Carly Rae Jepsen andava a aparecer em apps de encontros – ela é relativamente famosa! E aposto que levou com uma mão-cheia de piadas com Call Me Maybe. Aparentemente ela não se manteve na app durante tempo suficiente para isso mas, de qualquer forma, a experiência não foi divertida. Corre-se o risco de entrar em território muito sombrio quando se fala  de encontros que correm mal. Beach House conseguiu manter o tom humorístico, o que nem sempre é fácil. Pontos para Carly.

 

E acho que não estou a perder nada ao não aderir ao Tinder.

 

Outro single de que gosto é de Surrender My Heart – que também abre o álbum. Esta é outra música sobre relutância em apaixonar-se após más experiências anteriores. Carly é uma confessa romântica incurável e isso reflete-se na sua música. Paradoxalmente, tem tido azar no amor. Isso foi algo que a atormentou durante o confinamento: o facto de ainda não ter encontrado a pessoa certa.

 

 

Em Surrender My Heart, a narradora – vamos assumir que é Carly – está com uma pessoa e está ativamente a lutar contra os comportamentos tóxicos que adotou, depois de todas as suas relações falhadas. Algumas por sua causa, ela admite – “All the broken hearts that I broke before they could break me”. Carly quer deixar tudo isso para trás, quer deitar os muros abaixo, ter fé no amor e no seu amado. 

 

O refrão é tão cativante como algumas das melhores músicas de Carly. Gosto em particular dos backvocals.

 

A balada Go Find Yourself or Whatever é outra autobiográfica. Terá sido inspirada pelo término de uma relação de Carly. O tipo deixou-a, dizendo que, como diz o título, precisava de “se encontrar a si mesmo”.

 

É uma situação curiosa Isto de se “encontrar a si mesmo” é um daqueles ditos de psicologia popular que tem estado na moda nos últimos anos – e que, de tão usados, já começaram a perder o seu significado. Chegam mesmo a ser usados como pedras para atirar aos demais. 

 

Não digo que tenha sido esse o caso do interesse romântico de Carly. Pelo contrário, é possível que o sujeito tivesse boas intenções. Se ele tinha assuntos pessoais por resolver, talvez não fosse saudável ele continuar naquela relação.

 

Dito isto, Go Find Yourself or Whatever mostra-nos o outro lado. A narradora pode compreender as razões do amado, mas também pode vê-las como “Estou melhor sem ti” ou “Não fazes bem à minha saúde mental”. Carly chegou a descrever Go Find Yourself or Whatever como uma canção zangada, mas eu não a vejo assim. Acho que a narradora está a lidar com a situação com uma elegância de louvar – claramente ressentida, mas espera que o amado volte para ela, quando se encontrar a si mesmo ou lá o que for.

 

 

Eu não sei se estaria disposta a fazer o mesmo.

 

Outras músicas de que gosto são Anxious e Keep Away. Ainda preciso de passar mais tempo com The Loneliest Time, mas acho que gosto um bocadinho mais dele que de Dedicated. Carly abrindo o seu coração foi uma aposta ganha – tanto na música como no amor, ao que parece. 

 

Emotion continua a ser o melhor, no entanto. Side B incluído.

 

Por fim, temos de falar sobre Taylor Swift. Ela que continua uma presença forte nos meus hábitos musicais – e provavelmente assim continuará. A música da mulher é tão cativante que, se não tenho cuidado comigo mesma, não oiço mais nada. 

 

E muitas vezes nem sequer são as músicas mais recentes. Muitas vezes são músicas como Treacherous e evermore, que têm ganho novos significados com o tempo.

 

Por outro lado, tenho de confessá-lo: ao fim de algum tempo cansa. São muitas canções sobre relações românticas e, sobretudo, sobre separações.

 

Captura de ecrã 2023-02-28, às 11.41.14.png

 

Apesar da omnipresença de Taylor na minha vida musical, é pouco provável que alguma vez escreva uma análise como deve ser a algum álbum dela. O mercado está saturado. Há por aí muita gente com mais conhecimentos sobre a carreira dela e histórico amoroso, mais capaz de identificar as pistas e os infames easter eggs. Tenho pouco a acrescentar ao debate. Não digo nunca, mas para já vou limitar-me a textos como este – e a eventuais Músicas Ao Calhas, se me apetecer.

 

Não sei como foi com outros fãs de Taylor, mas não contava com um álbum de músicas inéditas em 2022. Estava à espera de mais regravações – estou um bocadinho desiludida por não termos ainda 1989 TV ou Speak Now TV. 

 

Tirando isso, Midnights foi uma surpresa agradável. Taylor regressou ao synth pop de 1989, Reputation e Lover, mas com as lições aprendidas com folklore e evermore. Tenho uma certa pena que Taylor não se tenha aventurado num género musical diferente – ando com desejos de um álbum rock – mas a música é boa e isso é o mais importante.

 

Anti-Hero tem-se fartado de quebrar recordes, mas não está entre as minhas preferidas. É possível que seja por excesso de exposição. Estou contente por Taylor ter percebido que as pessoas preferem o seu lado honesto em vez de uma música estilo Me!, concebida para ser o êxito radiofónico. 

 

Ainda assim, cansei-me depressa do verso “It’s me, hi, I’m the problem, it’s me” – e acho que era previsível.

 

Também não adoro Bejeweled. Das três músicas que tiveram direito a vídeo até agora, Lavender Haze é a de que gosto mais – adoro o verso “Get it off your chest, get it off my desk”. Alguns fãs queixam-se que Taylor nunca escolhe as músicas certas como singles. Eu não sou assim tão categórica, mas no que toca a Midnights concordo. 

 

 

Karma é uma das minhas preferidas em Midnights. Tem um estilo de instrumentação semelhante a Bejeweled, mas na minha opinião melhor executado. Os momentos com piano (?) que vão pontuando a música fazem-me pensar no ataque Dazzling Gleam em Pokémon. A letra tem uma dose saudável de braggadocio – na minha opinião justificado e mais genuíno do que quando Taylor se faz de coitadinha, como em You’re On Your Own, Kid. Adoro o verso “Ask me why so many fade but I’m still here” – tanto pela mensagem e sim como pelos vocais harmonizados.

 

Midnight Rain é outra das minhas preferidas. Uma balada estilo anos 80 – aliás, lembra-me imenso All That, de Carly Rae Jepsen. À semelhança de outras músicas neste álbum, como Labyrinth, os vocais artificiais são muito prevalentes. Regra geral, não costumo gostar de vocais como estes – Carly Rae Jepsen, por exemplo, usou-os em músicas como The Loneliest Time e eles irritam-me. No entanto, em Midnights todos eles foram bem sacados.

 

Só prova que estes elementos menos “orgânicos” – coisas como auto-tune, dubstep, etc – não são maus por si só. Depende tudo da forma como são usados. Mais sobre isso já a seguir.

 

A letra fala de algo que eu penso ser muito comum: dois apaixonados cujos projetos de vida não encaixam. Faz lembrar a história de ‘tis the damn season e dorothea em evermore – com a diferença de que, em Midnight Rain, há mais certeza de que foi tomada a decisão certa. Ainda que a narradora de vez em quando pense nele.

 

Vigilante Shit é quase um guilty pleasure – sombria de uma maneira lamechas e deliciosa. Também gosto muito do tom sonhador de Snow on the Beach – não sei se Taylor pretende lançar mais singles para Midnights, mas, se eu tivesse voto na matéria, escolheria esta. 

 

Labyrinth, Maroon e Question…? são três músicas de que gosto mas que ainda não digeri por completo. Destas três, a minha preferida é a terceira – o cenário pintado pelo refrão recorda-me uma de várias histórias que escrevi há muitos anos, em miúda.

 

 

Depois temos ainda a versão Deluxe – a 3am Edition, edição das três da manhã, que está cheia de pérolas. Algumas delas, na minha opinião, mereciam estar na edição padrão de Midnights.

 

Bem, mais ou menos no caso de Bigger than the Whole Sky: uma música linda mas de partir o coração. Especula-se que a letra tenha sido inspirada por um possível aborto espontâneo. Talvez Taylor a tenha deixado de fora da edição-padrão para não ter de responder a perguntas sobre ela.

 

Compreende-se.

 

Would’ve Could’ve Should’ve, que parece ter sido inspirada pela relação de Taylor com John Mayer, não é das minhas preferidas. Tem, no entanto, sido bastante comentada pelos fãs pelo infame verso “Give me back my girlhood”.

 

Gosto muito de High Infidelity, que apresenta uma situação de moralidade questionável – a narradora explicando os motivos pelos quais traiu o companheiro. Paris também é muito gira – é a música mais alegre em toda Midnights. No entanto, estou zangada com Taylor por esta música ter saído duas semanas depois de eu ter estado em Paris. Isto faz-se, Miss Swift?

 

Em defesa dela, a Paris da música não parece ser a cidade propriamente dita, antes uma metáfora. Como a Paris dos Chainsmokers – uma música de que também gosto muito.

 

Captura de ecrã 2023-02-28, às 11.51.44.png

 

É possível que alguns de vocês não conheçam Hits Different. Esta é uma faixa exclusiva da versão de Midnights vendida na Target (uma cadeia de supermercados norte-americana) e não está disponível em nenhum dos Spotifys desta vida. Mesmo no YouTube os vídeos nunca permanecem disponíveis durante muito tempo. Nos últimos anos, faixas como esta costumam ser lançadas nas plataformas de streaming mais cedo ou mais tarde. Mas já lá vão quatro meses e, até agora, nada… (É melhor sacarem-na aqui.)

 

Às vezes o fator raridade sobrevaloriza uma canção e é possível que ele esteja presente com Hits Different. Mas continuo a achar que é uma das melhores em Midnights e merecia estar na edição-padrão. Ao mesmo tempo, é uma sonoridade distinta do resto do álbum – com mais guitarra acústica, embora mantenha elementos de synth pop. Talvez tenham achado que não se encaixava bem com o resto das músicas. 

 

Há quem descreva Hits Different como a august deste álbum. Consigo compreender porquê: o refrão de Hits Different parece-se um bocado com a terceira parte de august. Aliás, tanto o refrão como a terceira parte desta música são excelentes.

 

Espero que não demorem muito mais a colocar isto no Spotify. O resto do mundo merece ouvir Hits Different.

 

Falta só falar sobre a minha canção preferida em Midnights – e possivelmente de todo 2022. Para isso, vamos regressar à 3am Edition e olhar para a primeira das faixas-extra: The Great War.

 

 

Esta música cativou-me forte logo na primeira audição e, nas raras ocasiões em que isso acontece, fico refém para o resto da eternidade. No caso de The Great War, estas melodias devem ter uma droga qualquer, sobretudo no refrão – são viciantes.

 

A instrumentação é daquelas coisas que, como comentei acima, não devia resultar mas resulta. É a música mais eletrónica em toda a Midnights, com notas daquilo que me parece ser 8bit.

 

8bit! Música de Game Boy! Taylor e Aaron Dessner criaram uma autêntica obra de arte com música de Game Boy! E eu costumo dizer que prefiro instrumentos “a sério”...

 

Ao mesmo tempo, existe algo de militarístico na percussão, sobretudo na terceira parte – o que se adequa à letra, claro. Esta é uma das melhores letras em todo o álbum, se não for de todo o ano: comparando uma discussão feia entre amantes a uma das Guerras Mundiais. Uma das partes é menos belicosa, tenta resolver a situação diplomaticamente. A narradora, no entanto, tem uma coleção de más experiências anteriores, o que a leva a comportamentos destrutivos, tanto para ela como para o amado – veja-se toda a segunda parte. Claro que, a partir de certa altura, ela percebe que está errada e põe fim ao conflito. 

 

Tal como Lorde fez com todo o álbum Melodrama, Taylor pegou numa situação relativamente corriqueira e transformá-la em algo grandioso.

 

E depois são os pormenores. Adoro a frase “Diesel is desire” – não consigo perceber se isto é considerado assonância ou aliteração, só sei que adoro a maneira como soa. Por outro lado, a expressão “crimson clover” também aparece em A Praise Chorus, outra das minhas músicas favoritas em 2022 – uma coincidência engraçada.

 

 

The Great War é mesmo daquelas músicas que estimulam a imaginação que se aplicam a inúmeras histórias. A mim invoca-me imagens do filme Expiação, que vi no verão passado e que deu cabo de mim. Ao mesmo tempo, têm-me aparecido várias montagens de vídeos nas minhas sugestões do YouTube – como a acima. 

 

Eu mesma tentei fazer uma story com imagens do primeiro filme de Tri, mas não saiu bem como queria. Eu devia era fazer um AMV – se algum dia arranjar tempo, paciência e software para isso, este está no topo da lista.

 

E depois de Midnights? Taylor prepara-se para ir em digressão pela primeira vez em vários anos. À data desta publicação, só há marcações para os Estados Unidos – os Paramore, aliás, irão abrir um par de concertos – que se estendem até agosto. Ainda não há datas para concertos na Europa, mas estas deverão ser anunciadas mais cedo ou mais tarde.

 

Ela virá a Portugal? Talvez. Taylor era para ter vindo em 2020, antes de a pandemia ter cancelado tudo. Se vier, eu gostava de ir, mas será quase de certeza uma corrida estilo Coldplay no ano passado. E os bilhetes serão caríssimos. 

 

Entre esta digressão e o filme que ela irá realizar, não sei se ela planeia lançar música em 2023. Ninguém a censuraria – seria o primeiro ano desde 2018 sem que Taylor lançasse música. Mas ando um tudo nada sedenta de mais relançamentos. Os intérpretes de easter eggs dizem que o próximo será Speak Now, o que me agrada – só mesmo por causa de Enchanted. 

 

E chegámos ao fim deste balanço. Finalmente. Isto foi um autêntico exagero e, por incrível que vos pareça, houveram músicas marcantes este ano que ficaram de fora. Coloquei-as na playlist do ano à mesma. Temas como, por exemplo, Lost My Mind de Finneas, Celestial de Ed Sheeran (porque continuo a comer da mão), Guerra Nuclear de Marisa Liz e de António Variações e uma Questão de Fé, de João Pedro Pais, na sequência do meu texto sobre música portuguesa. Deixo também aqui o link da playlist de Setembro de 2022 para complementar. E o meu Spotify Wrapped, que este ano acho que até ficou fidedigno.

 

 

Agora se me permitem algumas reflexões sobre 2022 com dois meses de atraso… para mim 2022 foi o oposto de 2021. 2021 foi um ano melhor que o anterior em termos coletivos mas foi pior para mim em termos pessoais. 2022 foi péssimo em termos coletivos – muito menos Covid, mas guerra, inflação, crise energética, seca em Portugal – mas, a nível pessoal, foi o melhor desde 2019. Entre outras coisas, estou mais feliz no trabalho. Foi o regresso a uma quase normalidade após a pandemia. Voltei a ir a concertos, viajei mais, convivi mais. Como escrevi num dos textos anteriores, vi mais séries e filmes – destaque para Kizuna em português nos cinemas portugueses – alguns fora da minha zona de conforto. 

 

E, como poderão deduzir desta série de testamentos a que chamo balanço musical, não me faltou música. 

 

Na verdade, sinto que, depois de dois anos acontecendo relativamente pouco por causa da pandemia, desde há alguns meses para cá está a acontecer tudo ao mesmo tempo para compensar. Isso já tinha acontecido em setembro e escrevi sobre isso na altura. Depois, tivemos o Mundial – um Mundial muito melhor do que tinha o direito a ser – fora de horas, em cima do Natal, na mesma altura em que saiu Pokémon Scarlet & Violet e em que os Paramore lançaram The News.

 

E isso tem continuado e vai continuar em 2023. Vejam-se as últimas semanas: Lost, uma inédita dos Linkin Park dos trabalhos de Meteora saiu no mesmo dia que o álbum This is Why. Depois disso, em abril, vou ter dois concertos em menos de uma semana – vou ver os Hybrid Theory ao Pavilhão Atlântico no dia 15 e, no dia 21, vou finalmente ver Avril Lavigne a Zurique.

 

Aliás, toda a gente e respectivos avós vão lançar música em 2023, ao que parece. Os Sum 41, para começar, como comentámos no texto anterior. Avril está em estúdio neste momento – no que toca a ela, no entanto, é melhor apontarmos só para a 2024. Lorde também anda a brincar com a ideia de lançar música nova, apesar de, tecnicamente, ainda andar em digressão por Solar Power. Ela, aliás, acaba de ser confirmada no Paredes de Coura. 

 

Mas eu dificilmente poderei ir. Paredes fica muito longe e não marquei férias para essa altura. 

 

 

Está também prestes a sair a edição de vigésimo aniversário de Meteora. Mike Shinoda também irá lançar algumas canções a solo e tem deixado em aberto a possibilidade de os Linkin Park lançarem música nova. 

 

Tudo isto é bom, claro. O reverso da medalha é que é muita coisa para digerir ao mesmo tempo, quanto mais escrever – quando eu também tenho trabalho e outros assuntos pessoais na minha vida (diz que isto é a vida adulta). É por isso que estamos em finais de fevereiro, princípios de março, e eu ainda a refletir sobre 2022. 

 

Uma pessoa com juízo chegaria à conclusão de que talvez eu não precise de escrever tanto, mas eu quero. Existem tantas coisas que quero escrever, nem só apenas nestes blogues. Um lema/lamento que adotei nos últimos meses é que a vida é demasiado curta para tudo o que quero escrever. Vai continuar a ser verdade em 2023. 

 

Já que falo no assunto, deixo os meus planos para os próximos textos deste blogue. O próximo será uma análise a Meteora, a propósito do vigésimo aniversário – algo semelhante ao que fiz com o Hybrid Theory. Não vou publicar no próprio dia 25 de março. Em parte porque não devo ter tempo, mas também quero esperar pela edição de aniversário para poder incluir as faixas novas e as demos todas na análise. Espero divertir-me tanto como com Hybrid Theory.

 

A seguir, escreverei sobre This is Why dos Paramore. Vou precisar destas semanas, ou meses, para formar uma opinião sobre o álbum – ainda está tudo muito no ar. Depois disso, logo se vê. Não quero preocupar-me demasiado com isso e não vou ter pressa. Como disse antes, existem coisas que quero escrever fora dos meus blogues. Não estranhem se isto voltar a ficar parado durante longos períodos. 

 

Obrigada por me terem aturado mais um ano. Continuem a aturar-me durante mais um… ou melhor, durante mais dez meses – espero nunca mais voltar a atrasar-me com um balanço musical. Antes de me ir embora, deixo-vos o link para o meu Tumblr – aderi no início do ano para servir de alternativa ao Twitter. Não que publique nada de especial, mas tenho-me divertido – para mim é um mundo à parte de todas as outras redes.

 

Como sempre, obrigada pela vossa visita. Até à próxima.

Música 2022 #4: Diz que tudo isto é emo

Hayley_01-819x1024.jpeg

 

Não podia falar sobre música que me marcou em 2022 sem falar sobre Everything is Emo. Este é um podcast/programa de rádio que Hayley Williams dos Paramore lançou entre abril e setembro desse ano. 

 

Neste programa, Hayley fez mais ou menos aquilo que tantos de nós fazem nas internetes, aquilo que eu faço aqui neste blogue: falar de música de que se gosta, que a marcou, partilhando histórias pessoais sobre ela. Como a própria Hayley explicou, ela prestou homenagem a artistas e bandas que a inspiraram, a ela e ao resto dos Paramore, que abriram caminho para eles. Ao mesmo tempo, Hayley elevou artistas e bandas – por exemplo, Wet Leg e Wolf Alice – que surgiram depois dos Paramore. Pelo meio, foi aceitando sugestões da audiência.

 

Houve aqui um bocadinho de exploração do ciclo nostálgico de vinte anos, sim. Mas, pelos motivos listados acima, pareceu-me um pouco mais genuíno que aquilo que, por exemplo, Travis Barker e respetiva trupe têm feito – já terão reparado que os Blink 182 reagruparam e vão lançar um álbum em breve. 

 

E, claro, como alguém que foi adolescente durante os anos 2000, identifiquei-me com algumas coisas de que Hayley falou no podcast: CDs gravados por mim mesma, o som da Internet ligando-se por telefone, ouvindo música no Windows Media Player enquanto escrevia. No meu caso eram as minhas histórias e talvez o meu diário. Hayley não só escrevia um diário (e acho que ainda o faz hoje) como escrevia letras para os Paramore. 

 

Como é que Hayley escrevia letras de música enquanto ouvia música, no entanto? Seria como eu escrever as minhas histórias ao mesmo tempo que oiço um áudiolivro de ficção.

 

O tema do podcast era música emo… e eu não sei ao certo o que isso é. Conheço o termo há anos, claro, já o usei algumas vezes, mas nunca conheci a definição oficial e nunca me “identifiquei” com ele. Até porque, como penso já ter referido cá no blogue, não ligo muito a rótulos ou géneros musicais, tirando termos muitos gerais como rock, pop, eletrónico, etc. Às vezes oiço alguém dizer “Ah, este verso é muito emo” e nem sequer percebo o que levou a essa observação.

 

FRf5aSeXsAA1_fc.jpeg

 

Conheço, claro, o estereótipo do emo vestido de negro, que abusa do eyeliner preto, com o rosto inexpressivo – o que parece contradizer o conceito de emo, que vem de “emoção”. Pessoalmente, sempre associei emo a uma certa melancolia, estilo ultra-romantismo ou as fases não-futuristas de Álvaro de Campos, um dos heterónimos de Fernando Pessoa. A minha playlist Post Kyousei (que compilei depois do filme de Tri com o mesmo nome) é um bom apanhado daquilo que eu considero pelo menos um bocadinho emo. Inclui músicas como Chasing Cars, dos Snow Patrol, My Indigo, Victim of Love ou Sober II (Melodrama) de Lorde – claro que nem toda a gente concordará essas escolhas. 

 

Por outro lado, admira-me ninguém referir The Sound of Silence quando falamos deste género musical. Haverá algo mais emo que os versos “Hello darkness, my old friend. I’ve come to talk with you again”?

 

De resto, parece-me que o discurso em torno do que é emo ou não tem mudado nos últimos anos. Agora, pelos vistos, uma grande parte da música que oiço é emo. 

 

Será…? 

 

Que os Linkin Park sempre foram um bocadinho emo concordo. Os Paramore também sempre estiveram associados a esse género – havia quem dissesse há uns anos que eles não o eram, mas agora os próprios assumem-se assim. Quem vai contrariá-los? Avril Lavigne emo? Já acho um bocadinho esticado. Talvez o Under My Skin e partes do Let Go. Mas tirando isso…

 

Às tantas haverá quem ache que sou emo. Nunca pensei…

 

Hayley_02-819x1024.jpeg

 

O que é certo é que sempre tive um lado musical mais pesado, mais “alternativo”. No entanto, esse lado esteve menos ativo durante uns anos enquanto investi no meu lado mais pop. De 2017/2018 para a frente ganhei um interesse por pop dos anos 80, por pop influenciada pelos anos 80, como descrevi aqui, ou mesmo pop em geral. O After Laughter dos Paramore contribuiu para isso, bem como os trabalhos a solo de Hayley Williams, mas também artistas como Carly Rae Jepsen, Mika, Lorde ou Taylor Swift. Com as devidas exceções, o lado mais pesado ficou mais negligenciado. 

 

O podcast de Hayley e o concerto dos Simple Plan e dos Sum 41 (mais sobre isso mais tarde) ajudaram a despertá-lo de novo. 

 

Mesmo assim, não abdico do meu pop. O meu gosto musical define-se por aquele meme com uma casa escura ao lado de uma casa colorida. 

 

Havemos de falar sobre a casa colorida mais tarde, hoje falamos sobre a casa escura. Não gostei de todas as músicas que Hayley tocou no seu podcast, mas gostei de uma mão-cheia delas. Neste texto vou falar das mais marcantes, mas a playlist que compilar no fim deste balanço musical incluirá outras.

 

Uma das bandas que apareceram mais vezes no podcast foi Jimmy Eat World. Antes disto, só os conhecia de nome e por The Middle. O programa de Hayley convenceu-me a ouvir Bleed American e gostei. Agora arrependo-me de não os ter conhecido melhor antes – é o estilo de música de que sempre gostei.

 

Só recentemente, na preparação para este texto, é que tive oportunidade para olhar com olhos de ver para a maior parte das letras. Foi um problema recorrente em 2022 e que acho que se vai manter em 2023, se me permitem o desabafo. Hayley diz, com toda a razão, que quanto mais música tivermos para amar, mais felizes seremos. O problema no meu caso é nem sempre conseguir passar tempo suficiente com as canções, não consegui conhecê-las a fundo. E sinto admiração à mistura com inveja de pessoas como Hayley, que têm muito mais artistas e bandas no seu radar do que eu. 

 

func.jpeg

 

Eu sei que, como cantora e compositora, isso faz parte do trabalho de Hayley. Mas mesmo assim. 

 

Regressamos a Jimmy Eat World e a Bleed American. Gosto imenso da instrumentação neste álbum. As guitarras e a bateria são o mais óbvio, mas gosto particularmente da maneira como usam o piano nas músicas mais agitadas – por exemplo, Sweetness e If You Don’t, Don’t. Corrijam-me se estiver enganada, mas não é muito habitual em música deste género, pois não?

 

E, claro, as melodias são irresistíveis. 

 

Hear You Me foi uma das primeiras a cativar-me porque, regra geral, vou sempre primeiro para as baladas. No entanto, na minha opinião, Cautioners é uma balada mais interessante – pelo menos no que toca ao instrumental. Por um lado, parte do acompanhamento é sereno, atmosférico, como numa balada convencional. Gosto em particular do piano no refrão e no pequeno crescendo na terceira parte. Ao mesmo tempo, temos os acordes de guitarra elétrica e a bateria a cortar – adoro o efeito.

 

Outras de que gosto são If You Don’t, Don’t e The Authority Song – isto se falarmos apenas na edição-padrão. A versão Deluxe também tem as suas pérolas, como (Splash) Turn Twist, No Sensitivity e The Most Beautiful Things.

 

Tenho tido algumas dificuldades em escolher a minha preferida em Bleed American. Durante muito tempo foi Get it Faster – segundo Hayley no seu podcast, é uma das preferidas da irmã dela, Erica.

 

 

Continuo a achar que é uma das melhores do álbum. É uma música zangada. Na letra, o narrador quer sair de uma situação má. O mais provável será uma relação amorosa, mas também se poderá aplicar a outros cenários, como um emprego ou uma família disfuncional. 

 

A musicalidade reflete bem essas emoções. Partes da música são contidas, a instrumentação é tensa. É como se Get it Faster estivesse a ser cantada e tocada entredentes. A música solta-se no refrão, torna-se mais barulhenta, aliviando a tensão – aqueles “Oh! Oh!” são irresistíveis, convidam-nos a partilhar da raiva e do alívio do narrador. E, como muitos assinalam, aquele momento com as guitarras na terceira parte é muito fixe.

 

No entanto, A Praise Chorus foi subindo nas minhas preferências na reta final de 2022. É uma canção super cativante, super contagiosa – a terceira parte, então, é uma delícia. O refrão deixa-nos com vontade de conquistar o mundo, sobretudo o último.

 

Na preparação deste texto fui ver a letra e pesquisar as origens da música. A Praise Chorus é uma homenagem aos artistas e bandas que inspiraram os Jimmy Eat World, bem como uma celebração de concertos e música em geral. Convida o ouvinte a juntar-se à festa e a não ficar nas margens.

 

O que é definitivamente uma filosofia a que subscrevo. Tendo isso em conta, não surpreende que Hayley a tenha escolhido para abrir Everything is Emo. Por tudo isto, A Praise Chorus é a minha preferida em Bleed American – pelo menos para já.

 

Claro que os Jimmy Eat World têm outros álbuns para além deste. Ainda não os ouvi, tirando uma ou outra música do álbum Futures que Hayley incluiu no podcast. Hei de ouvi-los no futuro, começando talvez por Clarity – dizem que é o melhor deles.

 

 

Depois, tenho uma série de músicas individuais apresentadas no podcast de que gostei. The Taste of Ink e Jackie Down the Line estão entre as minhas preferidas, mas têm a seu favor terem tocado nos primeiros episódios do programa – estão comigo há mais tempo. The Adults Are Talking é muito gira, mas tem-me feito confusão – As it Was do Harry Styles é demasiado parecida com ela.

 

Também gostei de Trust dos The Cure. Adoro a longa introdução instrumental, adoro a atmosfera que pinta.

 

Uma das minhas preferidas em Everything is Emo – e uma das minhas preferias em 2022, ponto – é Sidelines, de Phoebe Bridgers, uma canção de amor. Hayley deu a entender que esta a fez chorar – e se olharmos para a letra dá para perceber porquê.

 

Essencialmente, a narradora de Sidelines não tinha medo de nada porque não tinha nada a perder – nunca se colocava numa situação onde podia ser magoada. Isso mudou quando se apaixonou. Agora tinha um motivo para sair da sua zona de conforto, agora tinha alguém que podia perder – e que a podia perder.

 

Faz lembrar um dos temas recorrentes neste blogue, sobretudo a propósito dos trabalhos a solo de Hayley: impermeabilidade versus força, erguer barreiras versus ser-se vulnerável. No caso de Sidelines é paradoxal: dizer que não se tem medo de nada é batota se uma pessoa se mantém à margem da vida, se evita ativamente situações em que poderá sentir medo. 

 

Lá está, é algo humano, algo universal. Algo com que Hayley se debateu no passado, conforme admitiu em Petals For Armor, com que a própria Phoebe Bridgers se terá debatido. Aliás, Sidelines pode ser um dedo apontado a mim, que sou demasiado boa a estar sozinha. Além de que me faz pensar em inúmeras personagens fictícias. Ruki e Emma, como comentei noutras ocasiões, e a protagonista das histórias que escrevia em miúda – que se mantinha afastada de tudo porque receava afeiçoar-se a pessoas e depois perdê-las. 

 

 

A última canção de Everything is Emo sobre a qual quero falar é Faces in Disguise, dos Sunny Day Real Estate – a última música tocada no podcast. Hayley incluiu-a nas suas cinco canções emo preferidas. Depois desta, também é uma das minhas.

 

Aquilo que me cativou primeiro foi a instrumentação. Adoro um tom atmosférico bem feito. A música mantém-se serena até à terceira parte, onde ganha intensidade. 

 

A letra fala sobre paixão latente. Duas pessoas que se desejam uma à outra mas que não o exprimem. Acho piada porque o cenário adequa-se ao estereótipo do emo: rostos inexpressivos com múltiplas emoções borbulhando por dentro. 

 

Everything is Emo abre e fecha com chave de ouro. 

 

Na verdade, na preparação deste texto, tenho olhado para as listas das músicas deste podcast – lendo-as com a voz de Hayley – tenho voltado a ouvir partes de episódios. Ainda continuo a descobrir músicas de que gosto e a reparar em coisas que não tinha reparado antes – por exemplo, notando semelhanças entre as músicas de Bloc Party do podcast e as músicas de This is Why lançadas oficialmente até agora.

 

Hei de continuar a ouvir estas músicas. E espero que Hayley volte a fazer um programa deste género um dia destes – ela não fechou essa porta.

 

 

Queria agora falar de outras músicas, mais ou menos dentro do género emo, mas que descobri fora do podcast de Hayley. Inside of Love, dos Nada Surf, é uma música que já está nas minhas playlists há uns anos e identifico-me um pouco com a letra. Ashes of Eden dos Breaking Benjamin é uma agradável balada rock, ainda que dispensasse a religiosidade da letra.

 

Uma palavra para Song for Zula, de Phosphorescent. Há uns meses, uma colega minha estava a ouvir esta canção no trabalho, eu gostei e fiz Shazam. Não sei se isto é oficialmente emo, mas encaixa-se na minha definição – uma letra super triste. O acompanhamento é lindo – outra música com um instrumental etéreo bem sacado.

 

Por seu lado, o cover de Running Up that Hill dos Placebo é uma que conheço há ainda mais tempo – desde uma inesquecível cena da segunda temporada de Bones. Tinha-a negligenciado nos últimos anos, mas voltou à minha rotação em 2022. Como se devem recordar, o original de Kate Bush explodiu no ano passado graças a Stranger Things. Nada contra essa versão, bem pelo contrário, mas prefiro a versão dos Placebo. E adoro a apresentação deles no Vilar de Mouros do ano passado – ficou ainda melhor que a versão de estúdio. 

 

Finalmente, já que falo em covers, tenho de referir um que está entre as minhas músicas preferidas de 2022. O autor é Anthony Vincent, um YouTuber que acompanho de longe há vários anos, desde que ele gravou uma versão de In the End dos Linkin Park em vinte estilos diferentes. Com o próprio Chester Bennington a apadrinhar. 

 

Ora, este ano, Anthony fez ao contrário e gravou duas canções de Eminem no estilo de Linkin Park. De Rap God não gostei muito, ficou demasiado parecida com Papercut.

 

 

A versão de Lose Yourself, no entanto, ficou perfeita. Este cover é clássico Linkin Park, sem que se pareça demasiado com uma canção específica. Como se fosse, de facto, apenas mais uma canção dos Linkin Park, uma faixa do baú de Hybrid Theory ou de Meteora. Não vou mentir, numa altura em que é pouco provável virmos a ter um novo álbum da banda, esta versão mexe com as minhas emoções. 

 

Até porque aquele último screamo é parecidíssimo com o de Chester.

 

Outro evento relacionado com emo/pop punk que influenciou o meu ano musical foi, então, o concerto dos Simple Plan e dos Sum 41, com Casyette a abrir – uma espécie de When We Were Young em ponto pequeno. 

 

Antes de falarmos sobre as bandas principais, uma palavra para o número de abertura. Cassyette é uma cantora inglesa, na altura desconhecida para mim e, suspeito, uma grande parte da audiência na Sala Tejo do Pavilhão Atlântico. No entanto, a jovem conquistou a nossa admiração – os gritos impressionados do público depois de cada screamo.

 

Pois é, já referi que Cassyette faz screamo? Não conheço muitas muitas cantoras que o façam. Aliás, acho que ela soa melhor ao vivo – os screamos perdem-se um bocadinho na produção das gravações de estúdio. 

 

O único defeito que não chega a sê-lo que tenho a apontar é que, na minha opinião, a voz de Cassyette parece-se demasiado com a da P!nk. Às vezes distrai um pouco. Tirando isso, esta foi uma boa adição ao meu nicho pessoal. As minhas canções preferidas neste momento são September Rain e Sad Girl Summer. Tenho pena que o concerto se tenha dado depois do final de Everything is Emo – teria tentado sugerir Cassyette.

 

310936402_686214816197617_4793246313229535459_n.jp

 

Regressamos aos Simple Plan e aos Sum 41. Existe algo comum a estas duas bandas, para além de serem canadianas (fiquei chateada por não terem colocado t-shirts da digressão Blame Canada à venda no Pavilhão Atlântico; teria um significado especial para mim, que gosto de vários músicos canadianos). É o facto de ter negligenciado ambas nos últimos anos, ainda que em graus diferentes e por motivos diferentes. 

 

Começando pelos Simple Plan. Não sei se cheguei a referi-lo aqui, mas praticamente deixei de ouvi-los depois de Taking One for the Team, em 2016. Mantive uma meia-dúzia de músicas na minha rotação – Perfect World, Holding On, Boom! e pouco mais. Depois de comprar bilhete para o concerto, dei uma oportunidade a Harder than it Looks. Mas a verdade é que esse álbum apenas me recordou dos motivos pelos quais deixei de ouvir a banda.

 

Nem sei bem como explicar. São as letras demasiado simplistas, demasiado literais, sem subtileza nenhuma. Várias delas são quase uma paródia ao emo, podiam ter sido escritas por um puto de doze anos – veja-se por exemplo I’m Just a Kid. Poderá ser precisamente por isso que os Simple Plan cativaram muitos de nós quando éramos mais novos – essencialmente musicando páginas do nosso diário – mas era de esperar que, pelo menos no meu caso, se tenha tornado menos apelativo à medida que fui envelhecendo.

 

Até porque os Simple Plan evoluíram pouco. Harder than it Looks partilha defeitos com Love Sux: letras sem profundidade, dependentes de clichés, demasiado imaturas para a idade dos músicos – estes tipos estão na casa dos quarenta, já têm filhos! Porque eles ainda cantam sobre haters? Até com a Taylor Swift, dez anos mais nova, já começo a achar excessivo.

 

Dito isto… eles foram simpáticos e deram um bom espetáculo. Eu fiz mal o trabalho de casa, devia ter-me focado nos velhos êxitos em vez de em Harder than it Looks – eles só tocaram Iconic desse álbum. Já não me lembrava de algumas letras das músicas mais antigas – inclusivamente, tinha-me esquecido que Summer Paradise existia.

 

 

Ao menos serviu para recuperar apreciação por algumas destas músicas. Welcome to My Life continua muito fixe. Perfect continua a bater mais forte do que merece (mommy issues, caro leitor). E “You say ‘Good morning’ when it’s midnight” continua a ser um dos meus versos preferidos em música.

 

Fui filmando um ou outro vídeo durante o concerto, eles estão todos na página de Facebook daqui do blogue. A certa altura esqueci-me de desligar a câmara antes de guardar o telemóvel na minha mala e acabei por gravar o áudio de cerca de quarenta minutos do concerto. A qualidade não ficou muito má, se quiserem podem ouvir aqui. Se os Simple Plan quiserem voltar a Portugal um dia destes, sou mulher para voltar a vê-los.

 

Com os Sum 41 é diferente. Ouvi-os menos nos últimos anos não por gostar menos deles, antes porque, como expliquei antes, cansei-me um pouco de música mais pesada. Soube quando eles lançaram Order in Decline em 2019, mas não me apeteceu ouvi-lo. Fi-lo no verão passado, em preparação para o concerto.

 

Ainda só conheço o álbum de forma superficial mas, no geral, gostei. Os Sum 41 têm um lado mais pop punk dos anos 2000 e um lado mais pesado, quase heavy metal. Order in Decline explora o segundo – com um par de baladas para desopilar.

 

Segundo Deryck, a intenção não era criar um álbum político. Ele terá escrito as letras com base nas suas experiências pessoais. Como nos últimos anos não tem dado para nos mantermos imparciais em relação ao que se passa no mundo, o político acaba por verter para a escrita – suspeito que isto também terá sido o caso com This is Why. Temos, assim, várias referências a Donald Trump, ainda presidente em 2019 – 45 (A Matter of Time) é um exemplo óbvio, mas outras músicas, como A New Sensation ou Heads Will Roll também poderão aludir a ele.

 

 

Fico com uma certa pena de não ter ouvido o álbum em 2019 para, depois, tocar estas músicas quando Trump perdeu as eleições. Por outro lado, infelizmente, não faltam por aí tiranos a quem estas músicas se podem aplicar.

 

Vou acrescentar algumas músicas de Order in Decline à playlist anual, mas ainda preciso de passar mais tempo com este álbum antes de formar uma opinião (mais) definitiva.

 

De qualquer forma, eles não tocaram nenhuma destas músicas no concerto. Este serviu sobretudo para celebrar os vinte anos de All Killer No Filler e de Does This Look Infected.

 

Gostei mais deste concerto do que do de 2017, embora não saiba explicar bem porquê. Talvez eles estivessem mais calorosos desta vez, talvez eu estivesse mais sedenta de concertos depois da pandemia – e depois de perder Chester. Não sei, só sei que gostei. Estava à frente, encostada à esquerda – não necessariamente aquilo a que os anglo-saxónicos chamam “nosebleed section”, mas suficientemente perto para sentir o calor dos lança-chamas em palco.

 

Não sei se tenho um lado emo, mas definitivamente tenho um lado pop punk, alternativo, quase metaleiro. Em ocasiões como esta, ela canta em altos berros, dança, dá headbangs – e fica dois ou três dias sem conseguir baixar a cabeça. Pode parecer estranho pois, à primeira vista, sou uma pessoa calma, introvertida, uma menina certinha, betinha, que bebe pouco e à meia-noite já está pronta para ir para casa.

 

Em minha defesa, Hayley é pior do que eu – a essa hora já ela foi para a cama há muito. Está visto que eu e ela temos muito em comum.

 

 

Por outro lado, para além da parte metaleira, também tenho um coração romântico. Assim, fiquei contente quando, depois do concerto em si, quando metade do pessoal já tinha saído, Deryck subiu de novo ao palco e cantou Best of Me em acústico. Best of Me não é single, nem sequer sei se é muito popular, mas sempre gostei dela. E depois da intensidade do concerto, soube bem aquele momento mais calmo, de maior proximidade entre Deryck e nós, o público mais resistente.

 

Há quase um ano, os Sum 41 anunciaram que o seu próprio álbum chamar-se-á Heaven and Hell. Neste exploração ambos os lados – o pop punk em Heaven, o metal em Hell. 

 

Heaven refletirá a nostalgia do pop punk dos anos 2000 e também a felicidade pessoal de Deryck. Ele que tem um filho pequeno (um miúdo muito giro) e está à espera de outro.

 

Um aparte só para dizer que, como alguém que o acompanha há muitos anos, sabe bem ver Deryck feliz depois de tudo a que sobreviveu. Que se mantenha assim. 

 

Hell por sua vez, refletirá tudo o que se tem passado fora dessa bolha familiar. Nesse aspeto, deverá ser parecido com Order in Decline.

 

Parece fixe mas, infelizmente, ainda não há previsão para o lançamento. Problemas na produção? Espero que não seja o caso. Talvez eles queiram terminar a digressão primeiro, ou esperar que o segundo filho de Deryck nasça. Talvez o álbum só venha lá para o fim deste ano.

 

Pessoalmente não me importo. Terei que chegue com que me entreter.

 

a32274d42336b438fd7a5ae9f7775501.webp

 

O que me leva de volta, finalmente, aos Paramore e a This is Why. Atrasei-me tanto mas tanto com este texto que 2023 já começou há muito, eles já lançaram C’est Comme Ça e, à hora desta publicação, estamos a horas do lançamento do álbum completo. 

 

Tendo isso em conta, não me vou alongar muito sobre The News, que ainda conta para 2022. Haverá oportunidade para isso quando escrever sobre This is Why, o álbum. Dizer apenas que gostei, que soube bem ouvir dois meses depois dos primeiros excertos.

 

No fim disto tudo, que acham? Sou emo ou não? Fica ao vosso critério. Pessoalmente não me ralo.

 

Por hoje é tudo. Só falta mais um texto para, finalmente, concluir o balanço musical de 2022. A ver se consigo fazê-lo antes do final de 2023.

 

Obrigada pela vossa visita. Até à próxima.

Música 2022 #3: O romance do futebol

 

Alerta: Este texto contém spoilers para as duas primeiras temporadas de Ted Lasso. Leia por sua conta e risco.

 

Esta é a parte do meu balanço musical em que escrevo sobre uma única canção, isolada de tudo o resto, marcante por um motivo muito específico. Trata-se de She’s A Rainbow, dos Rolling Stones.

 

Esta é uma banda que dispensa apresentações. Não tenho nada a dizer sobre eles que não tenha sido dito antes. Dizem que She’s a Rainbow é um exemplo do rock psicadélico dos anos 70 – aquela introdução no piano é icónica e define do mood da música toda. Acho-a muito primaveril. É possível que seja por a ter ouvido muito na primavera do ano passado – mais sobre isso adiante. Mas também a primavera é a estação mais colorida, o que condiz com a letra – e mesmo com o movimento da altura, o “flower power” e tal.

 

Ora, fiquei a conhecer She’s a Rainbow na série Ted Lasso – a minha série preferida neste momento Uma das melhores coisas de 2022 para mim foi ter tido a oportunidade de ver filmes e séries novas. Várias estavam na minha lista há algum tempo, mas ia adiando-as porque tinha de rever Fronteira para estes textos – por exemplo, Ducktales 2017 e o filme Spiderman: Into the Spiderverse. Outras foram espontâneas, foram capricho – por exemplo, Spy x Family. Já nem me lembro o motivo por que comecei a ver, mas estou a adorar.

 

É algo que pretendo continuar a fazer em 2023… quando conseguir publicar o balanço de 2022, terminar Scarlet e, no geral, meter a ordem na minha vida.

 

Regressando a Ted Lasso, esta é uma série que eu já sabia que ia gostar mesmo antes de começar a ver. A internet já despejou todos os elogios a Ted Lasso, não vou estar repeti-los – mas vou abordar um ângulo que, tanto quanto sei, ainda ninguém abordou. 

 

Apple-Emmy-winner-Sept-2022-Ted-Lasso_big.jpg.larg

 

Praticamente toda a gente que fala sobre Ted Lasso diz algo do género: 

 

– Ah e tal, é a história de um treinador de futebol americano que vem treinar uma equipa da Premier League, mas não se preocupem! A série quase não é sobre futebol!

 

Não vou dizer o contrário, mas a verdade é que uma das coisas que eu gosto em Ted Lasso é da parte do futebol, mesmo que seja relativamente pouco.

 

Alguns de vocês desse lado já saberão que eu adoro futebol – tenho um segundo blogue dedicado ao meu clube. Devem haver por aí exemplos de ficção desportiva que explorem melhor esse aspeto, mas uma das minhas partes preferidas do futebol foi sempre o lado humano. As interações entre os jogadores (quando são amigáveis, claro), as celebrações dos golos e das vitórias, vídeos e fotografias de bastidores. Momentos como os jogadores desenhando caricaturas uns dos outros, Cristiano Ronaldo consolando Diogo Costa depois da sua quase-asneira, provocações a Gonçalo Ramos após o seu hat-trick perante a Suíça – e isto são apenas os exemplos mais recentes.

 

O futebol é um dos poucos meios onde homens podem abraçar-se uns aos outros, serem afetuosos uns com os outros, sem que lhes seja questionada a sua masculinidade. Isso é uma das melhores coisas deste desporto. 

 

Ted Lasso também tem exemplos disso, mesmo que a maior parte dos jogadores desempenhe um papel secundário na narrativa. Por exemplo, a fogueira no episódio “Two Aces”, a equipa toda fazendo claque a Sam Obisanya durante o seu namoro online, o Natal na casa dos Higgins. 

 

Ted_Lasso_Jamie-and-Roy-Hug.jpeg

 

Também gosto da relação entre a equipa técnica e os jogadores. Ted obviamente fazendo de pai de todos, mas também Roy Kent, a partir de meio da temporada: quando ajudou o capitão Isaac a ultrapassar o seu bloqueio mental e, sobretudo, o abraço a Jamie no final de “Man City”.

 

Nate, claro, é a exceção.

 

Aliás, Ted Lasso tem momentos que podiam ter sido escritos por mim quando tinha quinze anos: a coreografia dos jogadores para Bye Bye Bye, o que quer que eles andavam a fazer durante o aquecimento em “Rainbow”. É uma delícia.

 

Já que falo nisso, confesso que, quando era mais nova, durante uns anos imaginei-me desempenhando um papel semelhante ao de Keeley para a Seleção Portuguesa, o meu clube. Não necessariamente como WAG/mulher-ou-namorada (bem… só mesmo no início), mas como alguém que, não sendo jogadora ou técnica, faz parte da equipa, é colega e amiga de toda a gente. 

 

Ted Lasso celebra, assim, o lado humano do futebol, o romance do futebol. E um dos melhores exemplos disso é precisamente a cena que usa She’s A Rainbow como banda sonora. 

 

Todo o episódio – intitulado Rainbow – é uma homenagem a comédias românticas. Pelo meio, Higgins fala do momento em que conheceu a, agora, esposa – She’s A Rainbow é a música deles – e vemos casais amorosos nas bancadas do Nelson Road. O enredo principal foca-se em Ted tentando conquistar Roy Kent (nesta altura a trabalhar como comentador desportivo) para a equipa técnica do Richmond. É também neste episódio que Roy ajuda Isaac – por sinal, com uma variante a um dos meus lemas de vida, “Lembra-te porque é que começaste”. 

 

 

Roy, naturalmente, começa por dizer que não. No entanto, acaba por perceber que sente saudades, lá está, do lado humano do futebol, da proximidade com os jogadores. Descobre que é essa a sua vocação.

 

A cena com She’s a Rainbow é, então, Roy deixando o estúdio televisivo e dirigindo-se a Nelson Road para se reunir à equipa. Lá está, como um protagonista de uma comédia romântica indo atrás do seu amor. Afeiçoei-me a She’s a Rainbow precisamente ao ouvi-la enquanto ia a pé para o trabalho, em passo acelerado, na Primavera. Sentia-me como Roy. 

 

E depois os outros pormenores. Higgins encontrando-se com a esposa, vestida de azul (“Have you seen her dressed in blue?”). O momento em que Roy entra no relvado – todos os amantes de futebol sabem como é, quando vamos à bola e vemos o campo pela primeira vez. Os adeptos cantando “He’s here, he’s there, he’s every-fuckin-where” ao verem-no – outra coisa que adoro em futebol: os cânticos (quando são favoráveis, claro). As notas dissonantes de She’s a Rainbow quando a câmara se fora na reação de Nate à chegada de Roy – indício trágico para o que acontecerá mais tarde. Por fim, Roy citando Jerry Maguire como forma de aceitar o convite de Ted. 

 

É uma das cenas preferidas de toda a série e o motivo pelo qual She’s a Rainbow é uma das minhas músicas de 2022.

 

Uma das coisas pelas quais anseio em 2023 é a terceira temporada de Ted Lasso que, por sinal, acabou de ser anunciada para a primavera – mais ou menos um ano depois de ter visto as primeiras duas temporadas. A vantagem de ter chegado tarde ao fenómeno foi não precisar de esperar tanto – o último episódio da segunda temporada saiu há quase um ano e meio. Consta que a demora se deveu a perfeccionismo da parte de Jason Sudeikis e dos outros produtores, o que poderá ser mau sinal – pode ter ficado pior a emenda que o soneto. 

 

Houveram alguns aspetos de que não gostei na reta final da segunda temporada. Alguns foram intencionais, como a descida de Nate à vilania. Outros não sei se eram. A direção que estão a tomar com o relacionamento de Keeley e Roy, ninguém ter reconhecido o assédio de Nate a Keeley. 

 

323358253_1236403183974951_4248634784560313583_n.j

 

Mesmo a relação entre Sam e Rebecca deixa-me ambivalente. Por um lado, eles ficam bem juntos. Depois de tudo por que passou, Rebecca merece alguém que lhe mostre uma dose saudável de devoção. Por outro… ela tem o dobro da idade dele, é dona do clube onde ele joga… No mínimo questionável.

 

Em todo o caso, está tudo em aberto. Como se diz em futebol, ainda há muito campeonato para se jogar. Vou dar o benefício da dúvida. A imagem que eles divulgaram na semana passada parece dizer muito do que acontecerá na terceira temporada. Sinto que há ali uma referência a Star Wars mas, como nunca vi Star Wars… terá de ser outra pessoa a descortinar.

 

Obrigada pela vossa visita, como sempre. Ficam a faltar dois textos neste balanço musical do ano. Estes deverão ser mais longos. A ver se consigo publicá-los antes do fim de fevereiro. Continuem por aí.

Pesquisar

 

Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.

Comentários recentes

  • Inês

    Eu viciei no álbum Happier Then Ever. E o single q...

  • Sofia

    Ventanni é gira! E gostei do videoclipe.

  • Inês

    As baladas que eles têm são absolutamente linda: T...

  • Bibliotecário

    Estou há 3 anos à espera da continuação da saga "O...

  • Sofia

    Claro, a maior parte das pessoas é̶ ̶n̶o̶r̶m̶a̶l, ...

Arquivo

  1. 2023
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  14. 2022
  15. J
  16. F
  17. M
  18. A
  19. M
  20. J
  21. J
  22. A
  23. S
  24. O
  25. N
  26. D
  27. 2021
  28. J
  29. F
  30. M
  31. A
  32. M
  33. J
  34. J
  35. A
  36. S
  37. O
  38. N
  39. D
  40. 2020
  41. J
  42. F
  43. M
  44. A
  45. M
  46. J
  47. J
  48. A
  49. S
  50. O
  51. N
  52. D
  53. 2019
  54. J
  55. F
  56. M
  57. A
  58. M
  59. J
  60. J
  61. A
  62. S
  63. O
  64. N
  65. D
  66. 2018
  67. J
  68. F
  69. M
  70. A
  71. M
  72. J
  73. J
  74. A
  75. S
  76. O
  77. N
  78. D
  79. 2017
  80. J
  81. F
  82. M
  83. A
  84. M
  85. J
  86. J
  87. A
  88. S
  89. O
  90. N
  91. D
  92. 2016
  93. J
  94. F
  95. M
  96. A
  97. M
  98. J
  99. J
  100. A
  101. S
  102. O
  103. N
  104. D
  105. 2015
  106. J
  107. F
  108. M
  109. A
  110. M
  111. J
  112. J
  113. A
  114. S
  115. O
  116. N
  117. D
  118. 2014
  119. J
  120. F
  121. M
  122. A
  123. M
  124. J
  125. J
  126. A
  127. S
  128. O
  129. N
  130. D
  131. 2013
  132. J
  133. F
  134. M
  135. A
  136. M
  137. J
  138. J
  139. A
  140. S
  141. O
  142. N
  143. D
  144. 2012
  145. J
  146. F
  147. M
  148. A
  149. M
  150. J
  151. J
  152. A
  153. S
  154. O
  155. N
  156. D

Segue-me no Twitter

Revista de blogues

Conversion

Em destaque no SAPO Blogs
pub