Música de 2018 #1
Primeira publicação de 2019! Bom ano, pessoal! Como já é tradição aqui no blogue nestas ocasiões, eis o meu balanço musical de 2018.
À semelhança do que aconteceu nos últimos dois anos, esta lista não se limita a música lançada em 2018. Bem pelo contrário, uma parte deste texto falará de música lançada há mais de 30 anos. A crónica virá em duas partes, publicarei a segunda amanhã.
Este ano, a crónica não será tão coesa tematicamente como a última. Esta primeira parte, então, não dirá respeito a um único artista ou banda, como em 2016 e 2017, será um bocadinho mixórdia de temáticas. A segunda parte deste texto será mais... tradicional, digamos, com secções dedicadas a um artista ou banda.
Assim, sem mais delongas, vamos começar por…
- Música dos anos 80 (e não só)
Isto é apenas um ponto de partida, mas a verdade é que passei uma boa parte deste ano – sobretudo por alturas do verão – obcecada com músicas dos anos 80.
Muitas destas músicas estavam longe de ser desconhecidas para mim – bem pelo contrário, cresci ouvindo muitas delas, nunca chegaram a sair das rádios. Durante muito tempo, favorecia o soft rock dos anos 80 – Bryan Adams acima de tudo, mas também Bon Jovi e mais tarde Queen-.
Desta feita, virei-me mais para o pop. ou melhor para o synth pop. Este é um estilo que tem estado na moda nos últimos anos – o álbum 1989, da Taylor Swift, é um exemplo, mas também o After Laughter dos Paramore. O último, aliás, terá sido aquele que mais me empurrou na direção deste género. E mais à frente, neste mesmo texto, falaremos de artistas cujo trabalho também foi influenciado pelo synth pop dos anos 80.
Não estou sozinha. Pelo que vejo por aí, existem muitos fãs de música com trinta ou quarenta anos de idade. Um dos maiores exemplos é Africa, dos Toto.
Não sendo a minha música preferida neste estilo, Africa tem subido na minha consideração – por causa da popularidade quase… memética (neologismo criado a partir da palavra “meme”) da música e por influência da minha irmã e, sobretudo, do António, do Odaiba Memorial Day Portugal.
Africa tem muitos dos elementos que me atraem na música dos anos 80: sintetizadores e teclados à mistura com instrumentos “reais”, melodias agradáveis, o pequeno solo de bateria que conduz ao excelente refrão.
Estou, aliás, convencida que o refrão (que terá sido inspirado por trabalhos dos Beatles e dos Beach Boys) é o principal motivo pelo qual as pessoas gostam tanto de Africa. Hoje em dia é raro encontrar um refrão como este, agudo, com emoção genuína, na música mainstream. O exemplo mais parecido que encontro é em Shallow, do filme Nasceu Uma Estrela. Outro exemplo recente é Perfect Places, da Lorde, mas esse não chegou ao mainstream, com muita pena minha.
A letra é daquelas que não tem um significado consistente. Os próprios membros da banda têm fornecido cada um a sua explicação. Há quem diga que é uma típica história de amor, há quem diga que o “you” se refere ao continente africano. Há quem diga que a ideia era chamar atenção para a fome em África. O baterista Jeff Porcaro (falecido em agosto de 1992) terá dito que a letra foi escrita do ponto de vista de, parafraseando, “um miúdo branco que só conhece África daquilo que vê na televisão”.
Por sua vez, o vocalista na altura, David Paich, disse que Africa conta a história de um missionário, como um que Paich conheceu em miúdo. Esse missionário teria estado em terras africanas, difundindo a fé cristã, distribuindo bíblias e, segundo o próprio, abençoando as culturas, as pessoas, as aldeias e… as chuvas. A parte mais difícil do trabalho seria a solidão devido aos votos de celibato – daí Africa falar de um interesse romântico tentando encontrar-se com o narrador.
Paich acaba por dizer que prefere que seja o ouvinte a interpretar a letra conforme melhor entender. Eu vou aproveitar a deixa.
Sendo este um retrato tão vago e generalista do continente africano, eu prefiro pensar que a África de que a letra fala é uma metáfora. Um símbolo de uma viagem espiritual, de um final feliz, de um local mágico onde os sonhos do narrador se tornarão realidade, onde ele e a sua amada poderão dar asas ao seu amor. No fundo, aquilo que Tallahasee representava para Emma e Neal, em Once Upon a Time.
Há uns tempos, o António fez um podcast em que escolhia canções dos anos 80 relacionando-as com Digimon Adventure. Na altura, ele tentou encaixar Africa mas não conseguiu. No entanto, pegando na minha teoria de África como metáfora, um desses sítios podia ser o mundo Digimon.
É tudo uma questão de imaginação. Não há nada que nos impeça de abençoar as chuvas no Mundo Digital.
Ainda não compreendo ao certo porque é que a Internet e os jovens escolheram Africa para idolatrar. Tenho perguntado ao Google, mas ninguém parece ter uma resposta concreta. Eu acho que é porque, hoje em dia, é mais difícil encontrar música pop como esta: bem interpretada, com emoção genuína, apesar da história simplista e, para algumas pessoas, um bocadinho lamechas.
Essencialmente, os mesmos motivos pelos quais vim a apreciar muitas músicas desta secção.
A banda Weezer chegou a lançar um cover de Africa somente porque as internetes o pediram. Consta que um fã fez o primeiro pedido há cerca de um ano, tendo mesmo criado uma conta no Twitter só mesmo para fazer pressão sobre a banda – conta essa que ganhou milhares de fãs nos meses que se seguiram.
Após seis meses de campanha e de um cover de Rosanna (uma faixa do mesmo álbum que incluiu Africa), os Weezer lá aceitaram abençoar as chuvas de África.
Se esta história não for suficiente para vos convencer da veneração das internetes por Africa, nada será.
O cover em si não é nada mau. Acaba por ser apenas uma reinterpretação de Africa com instrumentação de 2018. Acho que foi uma boa escolha – conserva todos os elementos que tornaram a versão dos Toto tão especial.
Além disso, foi amoroso da parte deles terem incluído um dos tweets da tal conta na capa do single.
Infelizmente, Pitbull teve a triste ideia de fazer uma espécie de remix de Africa, para a banda sonora do filme Aquaman. Quer dizer… porquê? Quem é que achou que isto era boa ideia? O rapper/DJ/seja-lá-o-que-for já não goza de grande popularidade (e eu contribuo para isso). Foi mexer na música preferida das internetes… Estava mesmo a pedi-las, não estava?
Por acaso já fui ouvir a música. Não está horrível, mas a versão original e mesmo a dos Weezer está anos-luz à frente. Não havia mesmo necessidade.
E com isto tudo desviei-me um bocadinho do assunto deste texto.
Regressando ao synth pop dos anos 80, Africa pode ser um bom representante deste estilo e desta década, mas para mim o maior ícone dos anos 80 é Take On Me, dos A-ha. Toda a gente conhece aquele riff de teclado e o refrão, que começa relativamente grave e acabando em agudos impossíveis. E o excelente videoclipe, claro.
Uma historieta engraçada sobre esse vídeo. Quando ainda dava o Top + na RTP, eles passavam esse videoclipe com alguma regularidade. O pior é que cortavam sempre na parte em que, depois de a rapariga ter saído da banda desenhada e regressado a casa, o rapaz aparece à frente dela, em aparente sofrimento. A última coisa que via era o rapaz debatendo-se contra as paredes e a rapariga em lágrimas – ficava sem saber se ele sobrevivia. Só vários anos depois, quando tive acesso a canais de música que mostravam os videoclipes por inteiro, é que descobri como acabava a história.
No fim de 2017, a banda gravou uma lindíssima versão acústica de Take On Me. Não fica nada atrás da original. Chegou a ser incluída na banda sonora do segundo filme de Deadpool.
Eu na verdade gosto um pouco mais da menos conhecida, Crying in the Rain (que na verdade é um cover de uma música dos The Everly Brothers). Foi uma das minhas mais tocadas este ano, no Spotify. A sonoridade é excelente, sim, sobretudo pela maneira como incorpora o som dos trovões e do vento. Mas o que mais me cativa é a sua letra.
Em suma, o narrador espera por dias de chuva para poder dar asas à sua dor, após ter perdido a sua amada. A ideia é que as gotas de chuva se confundam com as suas lágrimas, para que ninguém, em particular a sua ex, perceba que ele está a sofrer.
Pode parecer um bocadinho deprimente, mas a letra da canção tem uma nota de esperança – o narrador sabe que, um dia, a dor passará. “Someday, when my crying is done, I’m gonna wear a smile and walk in the sun”.
Outra música synth pop que ouvi muito este ano é Everywhere, dos Fleetwood Mac. Descobri esta música depois de os Paramore terem incluído um cover nos concertos de After Laughter. Eles têm bom gosto.
Outras músicas neste estilo de que gosto, mas não tanto como das que falei acima, são clássicos como Girls Want to Have Fun, Like a Prayer, Never Gonna Give You Up, I Wanna Dance With Somebody, Dancing in the Dark.
Não me limitei ao synth pop nem mesmo aos anos 80, no entanto. Estive, por exemplo, a explorar ao de leve a discografia dos Beatles, uma ou outra música do Bob Dylan e da Joan Baez e alguns temas de Pat Benatar.
Por outro lado, já conheço os Roxette há muito tempo – desde Listen to Your Heart – mas este ano acrescentei mais uns quantos singles à minha biblioteca, como Spending My Time e Fading Like a Flower.
Tenho andado também a revisitar a discografia dos ABBA, sobretudo depois de ter saído a sequela a Mamma Mia (gostei muito). Tenho ouvido tanto as versões originais como as do filme.
Algumas delas ficaram mesmo muito giras, como a Angel Eyes, interpretada pelas atrizes Christine Barranski, Julie Walters e Amanda Seyfried. Outro destaque óbvio é Fernando, com o desempenho extremamente emotivo de Cher. Por fim, Super Trouper, interpretada pelo elenco todo – se aquela cena final é a ideia que Mamma Mia tem do Paraíso, espero que estejam certos!
Uma música individual por que tenho andado obcecada é Mickey, de Toni Basil. Este tema parece a avó de Girlfriend e The Best Damn Thing, da Avril – ela mesma chegou a incluir um cover parcial na The Best Damn Tour. É uma música mesmo muito gira. Tem um efeito semelhante a What is Love (que também está entre as mais tocadas no meu Spotify e sobre a qual escrevi aqui) no sentido em que me dá uma vontade incontrolável de dançar.
Eu pelo menos quero descontrolar-me um bocadinho mais com estas coisas. É bom exercício. Além disso, a vida é demasiado curta para não dançar quando me apetece.
Como também já referi em publicação recente, ouvi umas quantas músicas da Shakira, sobretudo durante o primeiro semestre – em preparação para o concerto que deu em junho.
Por outro lado, também ouvi uns quantos temas… não sei qual é o nome oficial do género, mas eu costumo descrevê-la como música etérea. Todas elas baladas, nalguns casos com inspirações célticas ou gregorianas. Alguns singles de Enya, por exemplo. Andei particularmente obcecada pela versão gregoriana de Brothers in Arms.
Tenho, aliás, uma história engraçada com essa música. Quando eu andava no sexto ou sétimo ano, havia um número a que podíamos ligar a partir de telefones públicos, para que a chamada fosse paga por quem a recebia (pensar que há pessoas maiores de idade que nunca terão usado uma cabine telefónica…). Eu de vez em quando usava esse número, para ligar para casa através do telefone público da minha escola. A versão gregoriana de Brothers in Arms era a música de espera, daí sempre a ter adorado.
Admira-me aliás ter demorado tanto tempo a dar com a música, quando ando há uma década a encontrar música na Internet.
Já a versão original, dos Dire Straits, possui um carácter levemente etéreo. A instrumentação e interpretação gregoriana multiplica esse carácter, tornando a música francamente mágica. Como se viesse diretamente dos céus.
Este grupo, na verdade, já gravou uma série de versões gregorianas de temas bem conhecidos da música das últimas décadas. Dei uma espreitadela, mas só gosto a sério de algumas. Uma delas é Nothing Else Matters – a versão gregoriana dá-lhe um carácter estranhamente ameaçador, como que a anunciar o dia do Julgamento Final. Também gosto da versão de The Sound of Silence e de In the Air Tonight – só faltou o icónico solo de percussão.
Acabámos por nos afastar da premissa inicial. Isto tudo foi só para terem uma ideia dos meus consumos musicais hoje em dia, para mostrar que ando a tentar expandir o meu gosto – através das sugestões do Spotify e afins. Procurando contrariar os meus hábitos conservadores. Uma das minhas resoluções (que não chegam a sê-lo a sério) para este ano, aliás, é tentar não ouvir sempre as mesmas músicas no Spotify – compararem as listas com as músicas mais tocadas em 2018 com as de 2017, há muitas repetições. Quero evitar que o mesmo aconteça com a lista de 2019.
De qualquer forma, o synth pop dos anos 80 continua a destacar-se das outras músicas que referi nesta parte do texto – até porque a segunda parte desta crónica falará de artistas que colheram inspirações nesse estilo.
Mais sobre isso, então, amanhã!