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Álbum de Testamentos

"Como é possível alguém ter tanta palavra?" – Ivo dos Hybrid Theory PT

Música 2023 #1: Feels, concertos e a banda de tributo responsável pela maior parte deles

Primeira publicação de 2024! Um ano muito feliz, caros leitores. 

 

Nos últimos tempos, tem estado na moda nas internetes descrever diferentes fases das nossas vidas como eras – inspirando-nos, pelo menos em parte, em Taylor Swift. É uma coisa recente nas redes sociais, mas a verdade é que é algo que faço há já muitos anos, de certa forma. Penso em diferentes períodos da minha vida, recordo-me de filmes e séries que via na altura, da música que ouvia, em que ciclos de álbuns estavam os meus artistas e bandas preferidos. 

 

Daí este meu hábito de fazer um balanço musical no fim de cada ano aqui no blogue. É uma maneira de escrever a minha própria história, de criar um cânone pessoal, romantizar a minha própria vida. É pura auto-indulgência, provavelmente só eu é que quero saber, mas também noventa por cento deste blogue é auto-indulgência. 

 

2023 foi um ano longo e intenso, de altos e baixos. Tenho-lhe chamado o ano dos feels, um ano em que pensei demasiado, senti demasiado. Muitas emoções contraditórias ao mesmo tempo – não é a primeira vez que falo disso. Muitas delas boas, sim, e vou falar da maior parte neste texto, mas também emoções más, ansiedade. Tive alguns motivos para isso (situações pessoais, no trabalho, etc.), mas em muitos casos não há motivo, é só a minha cabeça, sou eu a fazê-lo a mim mesma. Muitas letras dos Linkin Park fazendo sentido. 

 

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Hei de regressar a essa questão na segunda parte deste balanço. De qualquer forma, grande parte das emoções boas deste ano estiveram ligadas aos concertos – 2023 foi o ano deles. Em termos musicais, o ano valeu mais por eles e menos pela música que ouvi – que, aliás, acabou por ser uma continuação de 2022, com algumas exceções. Havemos de falar sobre isso, mas antes queria dedicar a primeira parte deste balanço aos concertos a que fui. Cinco no total, cada um deles marcante à sua maneira. 

 

Não vamos seguir uma ordem cronológica, no entanto. Vamos começar pelo segundo: o de Avril Lavigne, pelo qual esperei mais de metade da minha vida.

 

Não queria que tivesse sido em Zurique, na Suíça, queria que tivesse sido por cá. Mas como aquela mulher nunca mais regressou a Portugal, eu e muitos outros fãs portugueses cansámo-nos de esperar. Em finais de 2019, comprámos bilhetes para concertos em diferentes cidades europeias. No meu caso, os bilhetes foram prenda de Natal do meu irmão nesse ano – bilhetes para mim, para ele e para a sua namorada. 

 

Ainda assim, como se já não tivessem bastado todos aqueles anos à espera, rebentou a pandemia e a digressão europeia foi adiada nada menos que três vezes – e, na minha opinião, a última vez foi desnecessária. Foi toda uma odisseia só para ver aquela mulher ao vivo.

 

E, aqui entre nós, a verdade é que, na altura do concerto, já nem estava muito muito para aí virada. Tinha outras coisas na mente… e no coração. Estava já a tratar da análise a Meteora20, o concerto dos Hybrid Theory no Altice Arena fora menos de uma semana antes e andava cheia de feels à pala disso (mais sobre isso a seguir… como já devem ter percebido pelo título). 

 

Ao mesmo tempo, quem acompanhe o meu blogue já saberá que, apesar de ainda a considerar a minha cantora preferida, a minha mãe musical, o meu entusiasmo em relação a Avril arrefeceu nos últimos anos, depois dos seus últimos dois álbuns. Sentia-me quase com síndrome de impostora, pensando que o meu eu de dez, quinze anos antes, é que merecia estar ali. 

 

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No entanto, quando Avril finalmente subiu ao palco no The Hall, quando a vi pela primeira vez na minha vida com os meus próprios olhos, em vez de através de um ecrã, juro, vieram-me as lágrimas aos olhos. Toda a gente à minha volta a cantar Bite Me e eu ali especada, rezando para que o meu irmão não reparasse. Este meme ilustra-o na perfeição. 

 

Quanto ao concerto em si, já vi melhores, mas não foi nada mau. Há anos que sei que Avril não é excelente em palco e, sobretudo após uma Doença de Lyme e já a caminho dos quarenta, não se podia exigir muito. Daí, por exemplo, o concerto ter tido tantas pausas (pena ela não ter pelo menos trocado de vestimenta). 

 

Uma coisa de que gostei foi de Avril ter convidado os músicos de abertura para regressarem ao palco e cantarem All The Small Things com ela (podia ter sido uma música dela mas pronto). Não é algo que se veja muitos artistas a fazerem. 

 

De qualquer forma, quando são músicas que adoro tanto quanto estas e o músico é simpático, faz um mínimo de esforço, para mim é suficiente. Até o meu irmão disse que se divertiu – lembrava-se da maior parte das músicas depois de eu as ter imposto lá em casa durante praticamente toda a minha adolescência e mais além. 

 

Tivemos direito a Wish You Were Here, alegadamente a pedido dos fãs, o que foi simpático. Mas claro que eu estava lá sobretudo pelos clássicos. Filmei Complicated e parte de I'm With You (e What the Hell). Ainda não estou cem por cento habituada à minha voz, mas ralo-me cada vez menos. No que toca a este concerto então, foram pelo menos dezoito anos à espera da oportunidade para cantá-las assim. Em I'm With You, então, não poupei as cordas vocais. 

 

No dia seguinte, acordei com uma enorme constipação. Foram dois concertos emotivos, bem vividos, em menos de uma semana, em dois países com climas distintos – na segunda-feira anterior fora a banhos na Costa da Caparica, três dias depois estava em Berna, com temperaturas de inverno português. Está visto que não tenho queda para estrela de rock, que faz digressões por vários países. 

 

 

Mas valeu a pena. Os anos de espera, os adiamentos pela pandemia, o frio, a constipação. Tudo. 

 

Ainda não desisti de vê-la por cá, na companhia dos restantes sobreviventes do Fórum Avril Portugal. Houve uma possibilidade há umas semanas, quando foi anunciada a presença dela em vários festivais de música na vizinhança. No entanto, não foi anunciado nada para cá até agora – cheguei a pensar que que ela viria ao NOS Alive – é pouco provável que seja.

 

Um dia.

 

No que toca a música em si, não posso dizer que tenha ouvido muita de Avril este ano, com algumas exceções. I’m a Mess continuou a subir na minha consideração. É de caras a minha preferida da era Love Sux, mesmo não primando pela originalidade, nem sequer dentro da própria discografia de Avril. 

 

Na Primavera, lançou Eyes Wide Shut, uma colaboração com Illenium e Travis Barker. Gosto muito, é uma música fixe, talvez uma das melhores letras de Avril dos últimos anos. Esta, infelizmente, confirma as minhas suspeitas em relação à atitude de Avril no que toca a romance.

 

Por outro lado, Fake As Hell, a colaboração com os All Time Low, é péssima. Acho que nem sequer cheguei a ouvir segunda vez.

 

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Quando não esteve em digressão – ou a tirar fotos com Hayley Williams, aquecendo o coração a muitos millennials como eu – Avril terá passado a maior parte do ano em estúdio. Os álbuns dela têm sempre um parto difícil, é raro termos certezas em relação a lançamentos. Desta feita, no entanto, como já temos concertos marcados, podemos assumir com alguma certeza que teremos, no mínimo, um single até ao início do verão. 

 

Depois de Head Above Water e Love Sux, não tenho expectativas para o próximo álbum. Se seguir o padrão, será um disco menos animado, mais introspetivo – mas não estou muito para aí virada. Neste momento, preferia algo intermédio, variado, semelhante ao quinto álbum.

 

Vamos agora saltar mais de seis meses, até ao concerto de João Pedro Pais. Conforme escrevi no ano passado, ele é um dos meus músicos nacionais preferidos e, sedenta de concertos como tenho andado, quando soube deste, agarrei a oportunidade. Convidei a minha tia – os bilhetes serviram de prenda de anos para ela.

 

O concerto assinalava os vinte e cinco anos de carreira de João Pedro – esse e outro, um mês antes, no Porto. O Coliseu dos Recreios esgotou para a festa. Eram lugares sentados – nada contra por princípio, mas houveram várias ocasiões em que quis dançar, pôr os braços no ar. Em Louco Por Ti, então, até queria dar headbangs (este som são certos fãs dos Hybrid Theory a rir). 

 

O concerto em si teve emoções fortes, várias surpresas – pelo menos para mim. O início foi morno, na minha opinião, até ao momento em que entrou uma figura encapuzada em palco. Fiquei a olhar sem perceber, até aquela espécie de monge templário começar a cantar Ao Passar Um Navio com a voz do Miguel Ângelo.

 

Só dias mais tarde é que percebi o significado, todo o lore que eu não conhecia. Era uma uma referência à fatiota que o João Pedro usara na final do Chuva de Estrelas (ele parece ter dezasseis anos aqui...) – fatiota essa que, por sua vez, era uma referência a Ser Maior, dos Delfins. Diz que no concerto do Porto, um mês antes, o Miguel Ângelo já tinha feito esta gracinha, apanhando o próprio João Pedro de surpresa. Estes dois concertos foram as primeiras vezes desde a tal final do Chuva de Estrelas em que os dois partilharam o palco.

 

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Antes disto, esquecia-me demasiadas vezes do quão boa é a voz do Miguel Ângelo. Fez muito bem em aparecer lá no Coliseu para nos recordar – mais sobre isso já a seguir.

 

Quem também veio dizer olá foi o André Sardet. Para um dueto em Foi Feitiço e para oferecer flores ao João Pedro – algo de que o último não estava à espera, conforme repetiu várias vezes.

 

Houveram vários outros momentos emotivos: Salvador, o filho de João Pedro, subindo ao palco para tocar Paciência com o pai; a música dedicada à mãe de João Pedro; o abraço a Manuela Eanes. Descobri também que a música És do Mundo é dedicada ao Zé Pedro, dos Xutos e Pontapés. Houve um momento, perto do fim, em que o João Pedro se pôs a percorrer os corredores no meio da audiência. Passou junto a mim, mas infelizmente não me deu um high-five.

 

Fica para a próxima.

 

O concerto ainda durou quase três horas. É certo que não me pareceu muito muito exigente em termos físicos, mas mesmo assim… respeito! Justificou bem o preço dos bilhetes. Tanto eu como a minha tia gostámos muito, eu pessoalmente repetia. Será difícil tornar a apanhar um concerto como este, de quase três horas. 

 

Por outro lado, espero que o próximo seja de pé. 

 

 

Fizeram um par de reportagems sobre estes concertos – podem vê-las aqui e aqui – e a RTP transmitiu há pouco tempo o concerto do Porto. Ainda não consegui acabar de vê-lo, por acaso, mas parece ter sido semelhante ao de Lisboa.

 

Ainda assim, aqui entre nós, acho que o nosso foi melhor.

 

Naturalmente, este concerto fez-me gostar ainda mais da música do João Pedro. Continuo a adorar Louco Por Ti, continuo a adorar Uma Questão de Fé. Ultimamente tenho ouvido muito Fazes-me Falta, uma música a que pouco tinha ligado antes mas que é linda. Aquela terceira parte! 

 

Um dia destes ganho vergonha na cara e começo a ouvir os álbuns mesmo, em vez de só ligar aos singles.

 

Com isto tudo, passei o bichinho à minha tia. Poucos dias depois daquela noite, comprámos bilhetes para o concerto de quarenta anos dos Delfins, no Altice Arena – foram a minha prenda de Natal. A participação do Miguel Ângelo no concerto do João Pedro foi um bom investimento, rendeu-lhe um par de bilhetes.

 

Além disso, terá um gosto especial pois, se bem me recordo, foi em casa dela que ouvi o CD Saber A Mar pela primeira vez – eu devia ter sete ou oito anos – e convenci-a e ao meu tio (quando ainda eram casados) a oferecer-nos um exemplar. 

 

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Tenho estado a rever a matéria para esse concerto nas últimas semanas, sobretudo precisamente o álbum Saber A Mar. Já não ouvia algumas destas músicas há vinte anos, talvez mais. São melhores do que me recordava – a Sofia de oito anos já tinha bom gosto. 

 

Calculo, assim, que a música dos Delfins terá papel de destaque no balanço musical de 2024. Estou ansiosa pelo concerto – e aviso desde já que não respondo por mim quando eles tocarem 1 Lugar Ao Sol

 

Agora e durante o resto desta parte vamos falar dos três concertos que restam. Foram todos da mesma banda, mas cada um teve um impacto diferente. 

 

Já mal me lembro de quem eu era na manhã do dia 15 de abril. Releio o meu balanço musical de 2022 e mal reconheço a pessoa que o escreveu.  Antes de os Hybrid Theory, a banda portuguesa de tributo aos Linkin Park, terem entrado na minha vida – através do concerto que eles deram no Altice Arena. Eles publicaram a transmissão desse concerto no YouTube no mês passado e ainda bem que o fizeram. Já me tinha esquecido de grande parte dele. Foi tão, mas tão bom!

 

E a verdade é que a noite de 15 de abril deu início a todo um arco de personagem, toda uma jornada que durou o resto do ano, que ainda continua. Já escrevi sobre esse concerto, como poderão ler aqui. A versão ultracondensada é que adorei, mas essa noite, juntamente com Meteora20, reabriu feridas relacionadas com a perda de Chester Bennington e andei triste por uns tempos por causa disso. 

 

Além disso, precisei de algum tempo – não muito – para perceber ao certo o que sentia em relação aos Hybrid Theory. Em parte porque foi a primeira banda de tributo, ponto, que conheci, não sabia como era ser fã de uma. Em parte por todas as emoções relacionadas com a morte de Chester e o hiato dos Linkin Park.

 

 

Correndo o risco de soar defensiva… os Hybrid Theory fazem um excelente trabalho recriando o espetáculo de uma banda em pausa. São muito parecidos com os membros “originais” desta banda. O vocalista, Ivo Massana, em particular, tem a voz idêntica à do vocalista “original”, falecido demasiado novo e de quem sentimos tanta falta. Acho que não fui a primeira nem fui a última pessoa sem saber o que sentir. 

 

E de qualquer forma as ambiguidades não duraram muito. Descobrir mais sobre eles, ler os artigos, ouvir as entrevistas, ajudou a desatar os nós. Sentir o respeito deles pelo legado dos Linkin Park, ouvir o Ivo dizer que não gosta de ver vídeos comparando-o com Chester. E ajudou escrever sobre o concerto no Altice Arena e sobre eles.

 

A infame terceira parte da análise a Meteora, que referi há pouco… Sabem o medo que eu tinha de publicá-la? Para começar, foi escrita com o coração na ponta da caneta como nunca tinha escrito antes. Depois, tinha medo que os membros dos Hybrid Theory dessem com essa terceira parte e não adorassem o facto de falar sobre eles e depois passar o resto do texto a chorar por Chester. Tinha medo que sentissem que estava a culpá-los pela minha tristeza. 

 

Pois bem, não precisava de me ter preocupado pois a reação a este texto foi fantástica. Incluindo da parte dos próprios Hybrid Theory. O DJ Dani Pimenta partilhou-o no Facebook dele e o Ivo fez uma story no Instagram, como poderão ver abaixo (aquela era uma foto que eu publicara na página deste blogue uma semana ou duas antes). Quando vi esta última, então, estava sozinha mas acho que corei. E pode ou não ter havido uma lágrima ou outra. 

 

Depois desta fiquei tipo “Bolas, agora tenho de retribuir”. E o concerto seguinte mais perto de mim seria no festival Lendas do Rock, na Quinta da Marialva em Corroios, no dia 20 de julho (de todas as datas possíveis…). 

 

Demorei semanas a decidir-me. Mesmo depois de comprar bilhete, só quase no próprio dia é que tive cem por cento de certeza de que ia. Para começar, era num sítio que eu não conhecia (em junho, fiz questão de tirar uma tarde de sábado para visitar a Quinta da Marialva, mesmo para saber o que esperar). O concerto era num dia de semana, os HT atuariam tardíssimo – podia pedir para entrar mais tarde no trabalho, no dia seguinte, mas tinha algum medo de conduzir à uma ou duas da manhã. Por fim… estava com medo de abrir a ferida outra vez. 

 

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Por outro lado… eu tinha de voltar a vê-los, tinha de lhes agradecer pessoalmente se conseguisse – nesta altura, já sabia que os membros dos Hybrid Theory costumavam receber os fãs depois dos concertos. 

 

Além disso, era no fucking dia 20 de julho, o sexto aniversário da morte de Chester – que, ainda por cima, calhou a uma quinta-feira, o mesmo dia da semana que em 2017. Seria sempre um dia difícil para mim, sobretudo depois da recaída de meses antes. 

 

Era como no final da primeira temporada de Ted Lasso. Das duas uma: ou ficava triste em casa, ou ficava triste num festival de música, entre outros fãs de Chester e Linkin Park, também eles com saudades. 

 

E talvez nem estivesse triste. Corria o risco de me divertir, de curtir a música que Chester nos deixou, homenageando-o da melhor forma possível. De criar recordações felizes para este dia, para as funcionalidades de memórias dos Facebooks desta vida. 

 

Bem, tecnicamente, o concerto começava depois da meia-noite, já dia 21. Também servia, eram os anos do Ivo – outra coisa para reduzir a tristeza da efeméride. 

 

Escolhi não ficar sozinha.

 

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Assim, fui às Lendas do Rock no dia 20 e correu tudo bem. Mais do que bem. Era um festival de bandas de tributo e os Hybrid Theory eram cabeças de cartaz naquela noite. Fiquei na fila da frente, onde conheci pessoalmente outros membros do grupo de fãs dos HT. Não muitos, infelizmente – mais ou menos de esperar, era noite de semana.

 

As primeiras bandas deram para entreter e até para me divertir. Os de que mais gostei foram dos Black Metallica – pena não terem tocado Whiskey in a Jar. Ainda os HT não tinham subido ao palco e eu já estava de pescoço dorido. 

 

Mas os Hybrid Theory são outro nível, não se compara. Como disse acima, houveram partes do concerto do Altice Arena de que eu já me tinha esquecido e soube bem recordá-las assim. Ao mesmo tempo, apesar do que passara nos meses anteriores, apesar de ser dia 20 de julho, não houve tristeza nenhuma (só durante One More Light e mesmo assim). Pelo contrário, não me lembrava da última vez que me sentira tão feliz. 

 

Ainda assim, ainda não estava habituada à voz do Ivo, às semelhanças nalguns gestos e expressões. Ainda não estou, na verdade.

 

E não sei se me quero habituar.

 

Destaque para o momento em que cantámos rapidamente os Parabéns ao Ivo no início de One More Light. Mas para mim o ponto alto do concerto foi durante In the End. Calhou estar a filmar e… bem, vou deixar as imagens falarem por si.

 

 

Como se não bastasse, apareço numa fotografia profissional do momento. Um luxo!

 

Mas os momentos marcantes não ficaram por aqui. Depois do concerto, continuava a querer falar pelo menos com o Ivo… mas estava cheia de vergonha. Teve de ser a Sandra Sousa, do grupo de fãs, a chamar-mo (super grata!), quando estavam a arrumar as coisas em palco. Eram os anos dele, aquele era o primeiro de três concertos em três dias em quase literalmente três cantos do país (Corroios, Faro e Funchal). Foram só cinco minutos, eu nem quis tirar foto mas não levava a mal se o Ivo dissesse que não. 

 

Mas não disse e eu fico muito grata. 

 

Lá lhe agradeci pela partilha do texto do blogue – provavelmente gaguejei, já não me recordo. Eu tinha ensaiado aquela conversa na minha cabeça algumas vezes nas semanas anteriores. Nunca imaginei a resposta dele. 

 

–  Como é possível alguém ter tanta palavra?

 

Eu ri-me.

 

– História da minha vida – disse-lhe eu, e é verdade. É algo que podia ter sido dito por alguém da minha família, por amigos meus, gente que me conheça há anos. De onde acham que vem o nome do blogue? Naturalmente, passou a ser o novo slogan cá do estaminé.

 

Depois desta, despedimo-nos, desejei-lhe um dia feliz e o meu coração nunca mais arrefeceu.

 

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(fonte)

 

Eis uma coisa (entre muitas, na verdade) que não estava no meu bingo para 2023: a noite do aniversário da morte do Chester foi das mais felizes do ano. Gostava que passasse a ser um ritual anual. Claro que nem sempre irá dar, mas este ano o dia 20 calha a um sábado. Se derem um concerto nesse dia (estou a contar com isso porque 20 de julho) e for em Portugal Continental, talvez seja possível.

 

Penso que foi depois das Lendas do Rock, mais ou menos, que comecei a ficar mais ativa no grupo de fãs. Estávamos no verão, os HT andavam em digressão por todo o país, haviam inúmeras fotos e vídeos para partilhar. Começámos a conversar no Messenger, primeiro sobre a banda, claro, depois sobre outras coisas: fotos do que comíamos, como no início do Instagram, disparates variados. Quando dei por mim, estava a falar online todos os dias com uma mão cheia deles, a ir a convívios com eles, a fazer amizades! Algo que continua até agora. 

 

Ao mesmo tempo, depois de Corroios, só queria mais e mais Hybrid Theory. A oportunidade seguinte seria a Semana Académica de Lisboa… até a cancelarem. Foi uma situação horrível, um balde de água fria coroando um mês de setembro que não me correu bem. Nem quero falar muito sobre isso, leiam mais pormenores aqui (ainda estamos à espera do reembolso). 

 

Entretanto, ainda antes deste cancelamento, foi anunciado um concerto no Pavilhão Multiusos de Gondomar para o dia 2 de dezembro. Comprei bilhete quase de imediato, para o Golden Circle. Sim, foi em Gondomar, a mais de trezentos quilómetros de casa, mas este seria o mais parecido que teríamos a uma repetição do Altice. Além disso, o cancelamento do SAL só aumentou ainda mais os desejos de vitamina HT. 

 

Agora que penso nisso, esta não foi a primeira vez que fiz uma visita-relâmpago à zona do Porto para ter uma das noites mais felizes da minha vida. Curiosamente, nessa ocasião também acabei num almoço nos arredores de Coimbra, no dia seguinte. 

 

Os mais de dois meses de espera foram longos e difíceis, mas ao menos serviram para ir cimentando as amizades novas com o pessoal do grupo de fãs. De tal forma que a festa não foi só a noite de sábado, foi o fim de semana inteiro. Já conhecia pessoalmente alguns dos fãs de outros convívios, outros foi a primeira vez, mas gostei de estar com todos. Pude finalmente conhecer o JLee, o fundador do grupo de fãs e um amor de pessoa. Já pude voltar a ver alguns deles depois de Gondomar, mas não deixo de ter saudades desse fim de semana.

 

Mas falemos sobre o espetáculo em si. Como referi antes, fiquei no Golden Circle, tal como a larga maioria do grupo, na fila da frente. Vimos o tributo aos Korn. A música não me diz muito, mas eles não foram maus, deram para aquecer. 

 

 

Mas, claro, tal como em Corroios, eu estava lá para os Hybrid Theory e eles não desiludiram quando, finalmente, subiram ao palco. Houve pirotecnia (também tinha havido no Altice Arena, mas aí fiquei bem mais longe do palco) e, na fila da frente, começámos a ser assados logo com Burn it Down.

 

Se bem que, nos dias frios que temos tido, os lança-chamas até têm feito falta.

 

O alinhamento não foi radicalmente diferente do costume – diz que eles criam um por ano – e mesmo assim teve algumas novidades. Regressaram Don’t Stay e Shadow of the Day – desta vez sem Virgul porque, pela minha sondagem, só mesmo eu e a minha irmã é que gostámos. Tocaram Figure.09, o que me agradou. Na verdade, alguns de nós tivemos spoiler disso umas horas antes. Conseguimos ouvi-los do lado de fora do Multiusos, tocando-a durante o soundcheck.

 

Por outro lado, tive pena que tivessem cortado Crawling e Leave Out All The Rest. Talvez não quisessem abrandar demasiado o ritmo – até porque One More Light arrancaria lágrimas suficientes. Também não tocaram From the Inside nem Somewhere I Belong, mas com essas importo-me menos.

 

Momento engraçado quando o Ivo se trocou todo com Lost, como poderão ver no vídeo acima/abaixo: repetiu a primeira estância em vez de cantar a segunda. 

 

Enfim, não foi grave (acho que uma boa parte do público nem percebeu, sorte ter sido uma música mais “recente”), teve piada. Por algum motivo está o YouTube cheio de compilações de bloopers em concertos – dos Linkin Park e não só. Como se costuma dizer, só acontece a quem faz – e no que toca a Lost ao vivo, praticamente ninguém faz. Não a este nível.

 

 

Mesmo assim, não resisti a ser má, mais tarde. Já explico. 

 

Uma das minhas preferidas neste concerto foi Faint, por dois motivos. Primeiro, pelo Miguel Martins, que veio tocar para junto de nós. Ele apareceu no meu vídeo, este mostra outra parte. 

 

Foi também pelo Dani. De toda a banda, ele será o que menos se comporta como o seu homólogo, Joe Hahn (corrijam-me se estiver enganada), mas eu prefiro assim. O homem dá cá um espetáculo! Podia passar o concerto todo a vê-lo dançar e a abanar o capacete.

 

E falando de abanar o capacete… aparentemente surpreendi quase toda a gente do grupo de fãs quando deixei sair o meu lado mais metaleiro. Até compreendo a confusão. Na maior parte do tempo sou uma betinha: calminha, introvertida, de poucas palavras. Acho que, com os anos, me deixei influenciar por músicos como Hayley Williams, famosa pelos seus headbangs. Ou então, pura e simplesmente, adoro concertos, adoro música, ponto – o que não surpreende quem dê uma vista de olhos a este blogue. Gosto de senti-la, de vivê-la com o meu corpo. E essa paixão só tem aumentado com o tempo – ou então sou eu que me vou sentindo cada vez mais confortável na minha própria pele. Também suspeito que parte disso será vingança pelos cancelamentos durante a pandemia.

 

Aliás, acho que não é a primeira vez que o refiro, esta paixão começou no Rock in Rio de 2008, com os Linkin Park. É também por isso que me afeiçoei tanto aos Hybrid Theory: porque permitem-me prestar homenagem a isso.

 

Em Gondomar, então, dei-lhe tão forte que, depois do concerto, fiquei com a cabeça pesada, a andar à roda. Tanto headbang deve ter sido demais para o meu ouvido interno. 

 

Zero arrependimentos.

 

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Foi nessa altura que os membros da banda nos receberam. Pude dar um beijo ou abraço a cada um deles, outra coisa que me aqueceu o coração de uma maneira parva – sobretudo depois de tudo o que aconteceu desde o concerto no Altice Arena. Isso e as duas fotos que tirei, sobretudo a segunda, com a banda e praticamente todo o grupo de fãs – a família toda. 

 

Pelo meio, ainda me virei para o Ivo, mostrei-lhe a página do Genius e perguntei-lhe:

 

– Queres que te mande o link?

 

Acabámos os dois a rir. Mais tarde senti-me um bocadinho culpada pelo roast, de tal forma que, quando fiz publicações nas redes sociais, fui menos má. 

 

Ainda assim, a Ana Luísa do grupo de fãs brasileiros foi ainda pior do que eu. Vale a pena ler os nossos comentários neste reel – até porque o próprio Ivo se juntou à festa. 

 

O que me leva a outra das minhas partes preferidas do ritual de um concerto HT: as publicações nas redes sociais nos dias seguintes. Até porque os rapazes fartam-se de partilhar as nossas stories do Instagram. É bom, recordamos momentos felizes em conjunto com quem esteve lá, partilhamos parte da experiência com quem não pôde estar, adiamos o início da depressão pós-concerto.

 

Em suma, um fim-de-semana inesquecível. A maneira perfeita de encerrar o ano.

 

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Nesta fase, há muito que desisti de racionalizar a questão dos Hybrid Theory. Não os confundo com os Linkin Park, são uma banda diferente – são literalmente uma banda tributo. Tirando isso, não preciso de justificar mais nada. Compreendo que nem toda a gente goste mas, respeitosamente, quem não gosta come menos. Eu cá adoro-os, eles têm sido simpáticos comigo (mais até), deram-me três concertos fantásticos e encontrei uma família entre os seus fãs. Direta e indiretamente, têm-me feito dar passos para fora da minha zona de conforto, revelado novas facetas minhas, despertado tantas emoções – das boas – em mim. 

 

Aliás, se me permitem, esta está a ser uma história lindíssima, quase poética, chega a ser caricata. Há pouco menos de um ano estava a comprar bilhetes para o Altice Arena às cegas, sem pensar bem no que estava a fazer, sem saber o que esperar. “Há de ser giro, dizem que eles são bons.” Imaginava lá eu tudo o que esta simples decisão desencadeou. 

 

Nem sempre foi fácil, sobretudo aquelas semanas de recaída nas saudades de Chester, em que até In the End me deixava com um nó na garganta. Continuo a achar que foi um exagero da minha parte. Dito isto, passaria por tudo outra vez, não me arrependo de uma lágrima que seja. Tudo isso me levou até aqui. Os Hybrid Theory foram a melhor coisa que me aconteceu em 2023.

 

E, lá está, já não é só pela própria banda – é também pelas pessoas que conheci graças a eles. Chamo-lhe a família HT. Sou mais próxima de alguns deles do que outros, não vivemos assim tão perto uns dos outros, não nos vemos assim tantas vezes – mas temo-nos uns aos outros.

 

Não é muito diferente do que acontece com a minha família biológica, na verdade.

 

Por essa parte temos de agradecer ao JLee. Já o fiz pessoalmente, mas nunca é demais repeti-lo. Graças ao JLee, os Hybrid Theory são mais do que uma banda: são uma família. Falando por mim, já não é só pelos próprios rapazes e pela experiência Linkin Park que vou continuar a ir aos concertos, dentro das minhas possibilidades. Será também para estar com estas pessoas.

 

 

Claro que fica sempre aquela mágoa por os próprios Linkin Park não estarem no ativo, por o Chester não estar cá para ver a sua música ainda unindo pessoas, ainda conquistando fãs, incluindo de palmo e meio. Ninguém queria que tivesse de ser assim, todos temos saudades. Dito isto, a par da maior sensibilidade para questões de saúde mental, isto está a ser a melhor coisa a nascer da tragédia. E eu não conheço melhor forma de homenagear Chester, de, hashtag, deixá-lo orgulhoso.

 

E a história vai continuar daqui a menos de duas semanas, em Amiais de Baixo. E noutros concertos depois desse, ainda por marcar. Não sei o que o futuro reserva para os Hybrid Theory (ou para os Linkin Park), mas, enquanto eles continuarem, eu continuo.

 

Com tudo isto, em termos de música em si, Linkin Park foi uma das bandas que mais ouvi em 2023. Em parte por causa de Meteora20, mas também por causa dos Hybrid Theory. Músicas que não andava a ouvi tanto nos anos anteriores que reentraram na minha cabeça. Músicas que ganharam facetas novas depois de ver e/ou ouvir o que os HT fazem com elas. 

 

Sharp Edges, que eles têm usado para encerrar os concertos, será porventura o exemplo mais óbvio. Por outro lado, antes de 2023, não contava ouvir One More Light ao vivo nem o desejava particularmente. Mas é sempre um ponto alto nos concertos dos Hybrid Theory. Descobri, aliás, que o grito de “I do!” no meio é super catártico. 

 

Por outro lado, passei uma boa parte do ano obcecada pelo cover que os rapazes fizeram de Iridiscent. A música original não está entre as minhas preferidas, mas esta versão ficou linda. 

 

Espero que eles criem mais versões destas no futuro.

 

 

Por fim, nós, na família HT, somos todos fãs de Linkin Park, claro. E, naturalmente, de vez em quando falamos sobre as nossas músicas preferidas.

 

De Linkin Park e não só, na verdade. Hei de falar sobre isso na segunda parte deste balanço, mas tenho-me deixado influenciar pelas sugestões do pessoal do grupo. E vice-versa, na verdade. É uma das maneiras mais bonitas de descobrir música nova. 

 

Lost foi a minha música número um, tanto no Spotify Wrapped como no meu Last.fm – até mesmo no YouTube Music. Faz todo o sentido. Foi a música que deu o pontapé de saída para a era Meteora20 e marcou a minha história com os HT – porque, ao contrário da maioria dos fãs de Linkin Park, já tive o privilégio de ouvi-la tocada ao vivo. Três vezes.

 

Pode-se discutir se é das melhores dos Linkin Park (acho que sim, pelo menos top 20) ou mesmo se é a melhor do baú de Meteora (acho que sim, mas há quem discorde). Para mim vale, não só pelos méritos próprios, mas também pelo que representa, pelas emoções que despertou em tanta gente. É a minha música preferida de 2023. 

 

E por hoje fico por aqui. A segunda parte deste balanço também falará de feels e concertos (neste caso, concertos futuros), mas será mais convencional, mais focada em música propriamente dita. Ainda deverá demorar um bocadinho, claro, mas não é grave. Desde que não ultrapasse o recorde do ano passado, em que só consegui terminar o balanço de 2022 em finais de fevereiro.

 

Uma vez mais, obrigada Hybrid Theory, banda e família. Obrigada também a vocês, caros leitores. Continuem por aí. 

Top 10 música portuguesa #1

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Uma falha aqui do estaminé é não falarmos o suficiente sobre música portuguesa. Para além de não dar o devido apoio à produção nacional, uma grande fatia da música que oiço é de artistas ou bandas do nosso retângulo à beira-mar plantado. Já estava na altura de isso se refletir aqui no blogue.

 

Antes dos meus doze anos, a maior parte da música que ouvia era portuguesa. Não sei se o meu caso é único e/ou se isso ainda acontece hoje mas, a partir de certa altura, a mensagem que me chegava era que o que era “fixe” era ouvir música em inglês. Estava também numa altura em que já sabia inglês suficiente para compreender as letras, pelo menos em parte.

 

Ainda assim, a música portuguesa esteve sempre presente, mesmo que apenas através da rádio. Quando comecei a usar o Spotify aqui há uns anos – que facilita imenso o acesso a música – passei a  ouvir artistas e bandas portuguesas muito mais ativamente. Aliás, por norma faço um esforço por ter todos os dias um Daily Mix todo em português de Portugal (o que às vezes é difícil, o algoritmo é teimoso...). A minha lógica é que, como estes músicos têm uma audiência bem menor que os músicos anglo-saxónicos, precisam mais das minhas reproduções.

 

Assim, hoje vou deixar-vos o meu top 10 de música portuguesa. Bem, mais ou menos. Não é um top 10 rigoroso por dois motivos. Para tornar o texto mais interessante, não vou repetir artistas ou bandas e não vou incluir músicas que já abordei aqui no blogue. Porto Côvo, por exemplo, ocuparia um dos lugares cimeiros, mas, como já teve direito ao seu próprio texto, incluí-la neste seria redundante. Desse modo, pensem nisto não como um top 10 e sim em dez músicas portuguesas que estão entre as minhas preferidas.

 

E talvez um dia escreva uma segunda parte, com outras dez músicas. 

 

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Olhando para esta lista, uma coisa que se destaca é que… estas músicas são antigas. A mais recente tem vinte anos. 

 

Isto tem duas explicações. Em primeiro lugar, como verão já de seguida, quase todas estas canções têm uma história pessoal associada e/ou descobri quando era miúda. Em segundo lugar, muitas destas músicas têm sobrevivido ao teste do tempo, ainda hoje passam nas rádios. Ainda por cima, a rádio que mais oiço neste momento é a m80. 

 

Não significa que não haja música portuguesa após o início dos anos 2000 de que eu goste. Eu aliás ando a gostar de ouvir a Bárbara Tinoco e também as músicas Talvez de Carolina de Deus e Mais ou Menos de Rita Rocha. Se sempre escrever uma sequela a este texto, hei de incluir músicas mais recentes.

 

Como o costume, tinha muito sobre que escrever. Assim, este top 10 virá em duas partes. Deixo o pódio para amanhã ou depois.

 

Assim, sem mais delongas, começamos por…

 

10) Anjos – As Long As You Love Me

 

No início dos anos 2000, tive uma fase em que gostava muito dos Anjos. Não durou muito, mas ainda hoje gosto de músicas como Ficarei, Quero Voltar e Perdoa. São um par simpático. 

 

 

Penso que foi no Natal de 2000 que me ofereceram o CD Anjos ao vivo, lançado no mesmo ano. Apesar de ser um álbum ao vivo, a primeira faixa foi gravada em estúdio. É o tema Quando Fores Grande, que os Anjos lançaram a propósito de uma campanha conjunta com a Swatch – também me ofereceram o relógio, se não me engano em conjunto com o CD. Era uma campanha para a construção de uma escola em Timor-Leste, que estava a libertar-se da ocupação indonésia.

 

Saudades desses tempos antes do 11 de setembro, em que parecia que o mundo estava a evoluir para melhor. Sublinhe-se o “parecia”.

 

O videoclipe de Quando Fores Grande dá-me vontade de rir, um bocadinho. É tão… final dos anos 90, início dos anos 2000. Aquela coreografia, as dançarinas com o estômago à mostra…

 

Mas não é de Quando Fores Grande que quero falar, é sobre outra música de Anjos Ao Vivo. A versão que a dupla cantou em palco do grande êxito dos Backstreet Boys, As Long As You Love Me. 

 

Eu fiquei obcecada por este cover. Lembro-me de dançar ao som desta música na minha sala, quando tinha onze ou doze anos. Mesmo anos mais tarde, já depois de me ter cansado das outras músicas dos Anjos, fui mantendo esta música no meu leitor de mp3 (“ripada” do CD). Tive uma fase em que a troquei pela versão original, mas acabei por regressar à versão dos Anjos.

 

 

Uma grande parte da qualidade vem da versão original, claro, com a sua letra romântica e melodia açucarada. Ainda assim, acho que a versão dos Anjos tem um instrumental mais… orgânico, menos produzido, com uma emotividade diferente – nem que seja só por ter sido gravada ao vivo.

 

Ou talvez seja apenas a nostalgia a falar.

 

A música está apenas em décimo lugar precisamente porque está cá quase só por motivos sentimentais. Além disso, não é uma música original, é uma versão de uma música estrangeira – quase nem conta como música portuguesa. Mas eu tinha de incluí-la aqui, porque foi mesmo muito marcante. 

 

9) Rádio Macau – Amanhã é Sempre Longe Demais

 

Esta é uma obsessão recente. Não é propriamente uma canção que adore há muito tempo ou que tenha um grande valor sentimental, como a maior parte dos itens desta lista. Nem sequer tenho muito a dizer sobre ela. Mas gosto imenso de Amanhã é Sempre Longe Demais. 

 

 

A letra não é má. Dois amantes que se despedem depois de uma noite passada juntos e já sentem saudades um do outro. A minha parte preferida da canção é o instrumental. Não percebo como conseguiram aquele efeito “metálico” no acompanhamento (teclado? sintetizadores?), mas eu adoro. 

 

Também adoro a interpretação em tom grave de Xana, a vocalista dos Rádio Macau. Outras versões desta música, como a dos Resistência, acrescentam vocais mais agudos ao refrão e, a meu ver, não ficam tão bem. Nem todas as canções precisam de refrões bombásticos. Outro pormenor na versão original que resultou muito bem são os coros masculinos nos últimos refrões. 

 

Como disse acima, de todas as músicas nesta lista, Amanhã É Sempre Longe Demais será a canção de menor valor sentimental para mim. Se tivesse escrito este texto há dois anos (ou se o escrevesse daqui a dois anos), talvez esta música não estivesse incluída. Ainda assim, Amanhã É Sempre Longe Demais é uma música muito bonita por si mesma, merece todos os elogios. Mesmo que a minha obsessão arrefeça daqui a uns tempos, não me vou arrepender de ter escrito sobre ela. 

 

8) Xutos & Pontapés – À Minha Maneira

 

Tive algumas dificuldades em escolher uma música dos Xutos & Pontapés para esta lista. Gosto de várias músicas deles, mas daí a escolher uma favorita… Estive quase para não incluir nenhuma canção deles nesta lista, mas… são os Xutos!

 

Acabei por escolher À Minha Maneira, da minha playlist da Seleção (mais sobre isso adiante). Não diria que é a minha preferida dos Xutos, mas andará lá perto. 

 

 

Para mim, a música vale sobretudo pela letra – ainda que seja uma mensagem simples, que se explica a si mesma. A minha parte preferida é o refrão, sobretudo os versos "E as forças que me empurram, e os murros que me esmurram, só me farão lutar…" – a forma como se destacam do resto da música, tomando um carácter vagamente atmosférico, mesmo místico, para depois mudar para um tom mais eufórico em "À minha maneira (à minha maneira), à minha maneira!“. 

 

Em 2009, Cristiano Ronaldo usou esta música na sua apresentação no Real Madrid. Há coisa de dez anos, li uma entrevista ao Tim (no jornal Record?) em que este dizia que aprovava a escolha. Mais: Tim achava que a canção condizia bem com a personalidade e a história de vida de Ronaldo. 

 

Como alguém que acompanha a carreira do madeirense desde os seus tempos no Sporting, eu concordo. A determinação em ser o melhor, a sua teimosia, uma certa mesquinhez ao usar as críticas como motivação – há quem lhe atribua a frase “Your love makes me strong, your hate makes me unstoppable”.

 

Isso resultou bem durante a larga maioria dos vinte anos de Ronaldo como profissional. Infelizmente, neste verão vimos o reverso da medalha. Ele queria sair do Manchester United mas, numa altura em que ele está em fim de carreira e ninguém quer montar uma equipa em torno dele (outras pessoas na Internet podem explicar melhor a questão), a sua teimosia e orgulho jogaram contra ele e Ronaldo ficou muito mal na fotografia. 

 

Em todo o caso, é por causa disto que À Minha Maneira tem feito parte da minha playlist da Seleção Portuguesa. Mesmo que a maneira de Ronaldo esteja a voltar-se contra ele mesmo, a mim recorda-me – e perdoem-me por estar a falar disto outra vez a final do Euro 2016. Penso que já o referi algures nas internetes, mas na minha opinião uma das coisas que fez com que ganhássemos foi o facto de toda a equipa ter adotado a maneira de Ronaldo. Depois de um campeonato inteiro lidando com críticas (algumas justas, outras não), quase todo o mundo futebolístico contra nós, culminando com a lesão de Ronaldo, a resposta dos portugueses foi unirem-se contra tudo e contra todos. O resto é História. 

 

 

Esta não é a única canção neste texto que pertence à minha playlist da Seleção. Quando adiciono músicas a essa lista, às vezes estas ganham um lugar especial no meu coração. E como é da Seleção Portuguesa que estamos a falar, tendo a favorecer músicas cantadas em português.

 

Mais exemplos disso já a seguir. 

 

7) Pedro Abrunhosa – Eu Não Sei Quem te Perdeu

 

Neste momento, Eu Não Sei Quem te Perdeu é a minha canção preferida de Pedro Abrunhosa. Possui um tom intimista, só com piano e uma voz enrouquecida. Na minha opinião, a voz de Abrunhosa adequa-se a este género de baladas suaves, como Tudo o Que Eu te Dou e Se Eu Fosse Um Dia o Teu Olhar. Não acho que resulte tão bem quando ele eleva a voz – embora até goste de algumas dessas músicas, como Vamos Fazer o Que Ainda Não Foi Feito. 

 

A letra não é má, mas não é nada por aí além. Ao menos não entra nos mesmos territórios bizarros de músicas como Momento ou Se Eu Fosse Um Dia o Teu Olhar. Em todo o caso, condiz com a “vibe”, explora o lado romântico do tom intimista do instrumental. 

 

Aliás, gosto mais dessa “vibe”, do “mood” de Eu Não Sei Quem te Perdeu do que da letra em si. Tudo por causa do último filme de Digimon Adventure Tri.

 

Eu sei, eu sei. Passo a explicar. 

 

 

Isto ocorreu há pouco mais de quatro anos, durante o verão de 2018. Lembro-me perfeitamente: estava de férias no Algarve e estava a escrever a análise a Bokura No Mirai. Numa das tardes estava na varanda do meu apartamento de férias, passando o rascunho a computador e ouvindo música no Spotify. Quando estava na parte referente à cena em que o Yamato chora nos braços do Gabumon, calhou tocar Eu Não Sei Quem te Perdeu. 

 

Logo aí achei que a música se adequava àquele momento. Lá está, não pela letra. Aquela não é uma cena romântica, mas é uma cena de vulnerabilidade, de ternura, algo que Eu Não Sei Quem te Perdeu ilustra muito bem com o seu instrumental e o seu tom intimista.

 

Não me interpretem mal, esta é uma canção lindíssima por si só. Merece todos os elogios. No entanto, para mim tem este significado extra de estar associada a um dos melhores momentos de Tri. Sempre que oiço Eu Não Sei Quem te Perdeu, lembro-me do Yamato e do Gabumon… e tento não pensar no que acontece em Kizuna

 

Já que falo nesse filme, lembrete rápido que Digimon Adventure A Última Evolução Kizuna encontra-se neste momento em exibição nos cinemas, dobrado em português de Portugal. Não percam!

 

6) Diva – Mariana 

 

Esta é uma canção que eu estou genuinamente surpreendida por não ser mais popular hoje em dia. No que toca aos Diva, a canção Amor Errante tem mais rotação. É uma música bonita, não me interpretem mal, mas… Mariana é muito melhor! Sou a única a achá-lo? 

 

 

 

Mariana é uma música caída do céu. O instrumental contribui muito para esse efeito, com a percussão, os sintetizadores, a linda harmónica, o baixo e as notas de guitarra elétrica. E, claro, a linda interpretação da vocalista Natália Casanova, absolutamente angelical, uns agudos impressionantes. Eu bem tento atingir essas notas e não consigo… 

 

Por outro lado, os últimos "la la la la" são uma das partes que mais gosto da canção. 

 

A letra é simples mas bonita, falando sobre saudade – um tema muito português. Aliás, servia para fado. Não há por aí ninguém que queira fazer esse cover? 

 

Não preciso de dizer mais nada. Oiçam Mariana e deixem-na falar por si. 

 

5) Sara Tavares – Chamar a Música

 

De todas as canções nesta lista, Chamar a Música será a primeira que conheci. As minhas primeiras recordações dela serão de quando tinha quatro ou cinco anos – acho que na altura estava em todo o lado. Ao pesquisar para este texto, descobri que foi a candidata portuguesa para a edição de 1994 do Festival da Canção – a cronologia bate certo com as minhas recordações.

 

Eu, aliás, só agora é que descobri que a música original é da Sara Tavares. Nos últimos anos andava a ouvir a versão que está disponível no Spotify, cantada por Teresa Radamanto. Eu pensava que era a versão original – não é muito diferente da de Sara Tavares, condizia com as minhas recordações, nunca tinha pensado muito nisso. Daquilo que consegui pesquisar (que não é muito), esta é uma versão gravada em 2009, a propósito do programa da RTP “A Melhor Canção de Sempre”. O objetivo era escolher a melhor candidata portuguesa ao Festival da Canção até à data.

 

 

A versão de Teresa Radamanto é bonita, mas eu gosto mais da versão da Sara Tavares. Estou zangada por não estar disponível no Spotify. Ainda assim, a interpretação de Sara não é o único ponto forte da canção. A letra, da autoria de Rosa Lobato Faria, é provavelmente a melhor de todas as canções desta lista – é um poema, mais do que qualquer outra. Também gosto do acompanhamento musical – é típico das power ballads dos anos 90, não é?

 

Na altura, a música atingiu um respeitável oitavo lugar no Festival da Canção. Está nesta lista por sentimentalismo, mas Chamar a Música é genuinamente uma canção linda. Outra que merecia mais atenção nos dias de hoje. 



4) Delfins – 1 Lugar ao Sol

 

Os Delfins são uma banda que sempre apreciei, de forma intermitente. Quando tinha oito anos, mais coisa menos coisa, andei obcecada com o álbum Saber Amar, lançado um par de anos antes. Os meus tios tinham o CD e eu, com a falta de noção típica de uma menina de oito anos, convenci-os a oferecerem um exemplar ao meu pai no seu aniversário.

 

Ao fim de algum tempo fartei-me, mas o álbum foi marcante. Aqui entre nós, o azul é hoje a minha cor preferida pelo menos em parte por causa da canção A Cor Azul. Mesmo hoje, passados estes anos todos, ando a ouvir algumas das músicas e ainda gosto delas. Temas como Não Vou Ficar, Num Sonho Teu e o tema-título Saber Amar. 

 

Esta última é uma canção super alegre mas que, inesperadamente, encerra algumas verdades. “Contra as armas do ciúme, tão mortais, a submissão às vezes é um abrigo”, “Todas as formas de se controlar alguém só trazem um amor vazio”. O Miguel Ângelo não quer fazer um workshop?

 

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Ora, a música de que vamos falar não pertence ao álbum Saber Amar. 1 Lugar Ao Sol é daquelas músicas que sempre estiveram lá, que ia ouvindo de vez em quando na rádio sem lhe dar muita atenção. No verão de 2019, no entanto, a música cativou-me e tenho andado obcecada com ela nessa altura. 

 

A letra não é nada de especial – basicamente sobre lutar por sonhos. É daquelas letras que são suficientemente sólidas para dar alguma mensagem à música e, ao mesmo tempo, suficientemente vagas para o ouvinte fazer as suas próprias interpretações.

 

Naturalmente, acrescentei-a à minha playlist da Seleção Nacional. 

 

1 Lugar ao Sol, na verdade, tem sido a minha música preferida nessa playlist nos últimos anos. Ainda há relativamente pouco tempo usei-a numa story. Antes disso, durante os play-offs do Mundial 2022, ia cantando a terceira parte de 1 Lugar Ao Sol para mim mesma, como se fosse uma oração.

 

Hão de reparar que, na story, usei a versão ao vivo da música. O que me leva a algo que me tem feito alguma confusão: as inúmeras versões que existem de 1 Lugar Ao Sol.

 

Aparentemente, a primeira foi lançada no álbum U Outro Lado Existe, de 1988. Só fiquei a conhecê-la há pouco tempo, está no Spotify. Não é má, mas nota-se muito que é um produto dos anos 80, não necessariamente no bom sentido.

 

 

Talvez por isso, os Delfins regravaram a música no mesmo ano, juntamente com outros dois temas –  Sombra de uma Flor e 1 Só Céu – num EP que também se chamou 1 Lugar Ao Sol. Esta versão da música foi lançada como single e, segundo a Wikipédia, passou várias semanas nos lugares cimeiros das tabelas musicais. Ainda hoje tem bastante rotação nas rádios – na m80, pelo menos. Mais tarde, foi incluída no álbum Best Of: O Caminho da Felicidade, editado em 1995.

 

Existe uma outra versão de estúdio de 1 Lugar Ao Sol. Esta foi gravada para o segundo volume d’O Caminho da Felicidade, editado em 2013. Pouco menos de uma década depois, foi usada no genérico de Dancin’ Days, uma novela de 2013, fruto de uma parceria entre a SIC e a Globo.

 

Eu diria que esta é a versão mais “pesada” de 1 Lugar Ao Sol, no sentido em se guia mais pelas guitarras, quando comparada com outras versões. Não deixa de ser um tema pop rock, claro.

 

Existem ainda outras versões de 1 Lugar Ao Sol e iremos falar sobre elas. A versão em que me quero focar, a que figura neste top, é a do EP de 1988 e que foi lançada como single. Na minha opinião, tem o arranjo mais intemporal e mais adequado à letra sonhadora. É um tema pop rock à mesma mas mais despojado, com mais sintetizadores, vocais um pouco mais suaves, um carácter mais atmosférico. 

 

 

Em todas as versões de 1 Lugar Ao Sol, a terceira parte da música é a minha preferida. Nesta, no entanto, está num nível absolutamente estratosférico. Tudo por causa do solo de baixo de Rui Fadigas. Esta sequência é pura perfeição musical. 

 

Para grande frustração minha, esta versão de 1 Lugar Ao Sol foi retirada do Spotify algures entre 2020 e 2011. (É por estas e por outras que me recuso a aderir ao Premium, tirando durante promoções e outros eventos especiais). Tenho-a substituído pela versão dos Resistência e pela versão ao vivo. A primeira é uma versão acústica – foi a minha mais tocada no Spotify no ano passado

 

A segunda pertence ao álbum “25 Anos, 25 Êxitos… 1 Abraço” (adoro o título). Gosto da maneira como começa, só com notas de guitarra, para depois explodir com mais guitarras, o baixo, o piano, a bateria. 

 

Ainda assim, continuo a preferir a versão do EP. Fico à espera que um dia regresse ao Spotify. Tenho uma relação relativamente curta com 1 Lugar Ao Sol quando comparada com outras canções nesta lista, mas para mim é uma das melhores da música portuguesa.

 

 

E por hoje ficamos por aqui. Deixo as três líderes de tabela para a segunda parte. Como sempre, obrigada pela vossa visita.

Toy Story 3 (2010)

 

Desde que ouvi falar de mais uma sequela para a série Toy Story que andava em pulgas para a ver. Quando era miúda, o Toy Story 2 era um dos meus filmes favoritos da Disney, sobretudo por causa das piadas (a cena que vai desde o “Aguentem-se, tropas, vou soltar-me da parede!” até “Isto é enjoo anti-gravidade e é apenas momentâneo”) ainda hoje me cai no goto. Devo dizer que o terceiro filme não desiludiu.
 
Tendo agora em conta os três filmes, chega-se à conclusão que se trata uma das melhores séries de filmes dos últimos anos, se não for a melhor. No sentido em que não cai nos erros de muitos outros filmes com sequelas. A trilogia assenta toda num tema: o medo que os brinquedos têm de ser abandonados. Os filmes vão explorando as diferentes vertentes desse medo: a rejeição em favor de um brinquedo mais sofisticado, a rejeição depois de se deixar de funcionar ou depois de os donos crescerem e não se interessarem mais por brinquedos, medo da prateleira, do sótão, da venda de garagem, da lixeira… Isto sem se repetirem entre si.
 
Outro ponto forte da sequela é não exigir a visualização prévia dos filmes anteriores para se compreender o enredo. Contudo, dá para descortinar pequenas referências aos filmes anteriores:
 
- Na sequência inicial, em que entramos na imaginação do Andy, a cena em que o Cabeça de Batata exibe o cão com escudo protetor e o Woody exibe o dinossauro que come escudos protetores é uma reedição da brincadeira do início do primeiro filme.
 
- A maneira como os três aliens com três olhos salvam os outros da incineradora faz lembrar a primeira vez em que eles aparecem, no primeiro filme e a deixa deles “Salvaste-nos a vida, estamos-te eternamente gratos já vem do segundo filme – tem graça o Cabeça de Batata devolver-lhes a deixa depois de os três o atormentarem com a frase no segundo filme.
 
- O Woody chama o cão para o ajudar a socorrer os amigos à semelhança do que acontece no segundo filme – só que, enquanto no segundo, o bicho vem a correr, todo entusiasmado, neste mal se aguenta em pé…
 
Um dos pontos fortes do filme é a dinâmica do grupo de amigos. Pessoalmente, aprecio bastante histórias  em que existe um grupo que se une contra o Mundo, que funciona como uma equipa, em que cada um usa as suas características individuais em função do coletivo, em que estes se protegem uns aos outros. Em que todos desempenham um papel, ainda que dois ou três se destaquem. Estou a lembrar-me de “Pular a Cerca”, “Perdidos”, “Roswell”, devem existir outros exemplos mas agora não me recordo. Eu própria tentei recriar uma dinâmica de grupo semelhante no meu livro. Esta dinâmica já se insinuara em Toy Story 2, mas neste ficou muito bem explorada.
 
Este filme é definitivamente mais emotivo, mais obscuro que os anteriores. Os vilões contribuem definitivamente para isso – o miúdo que destruía brinquedos e o mineiro parecem inofensivos quando comparados com o urso cor-de-rosa e respetivos cúmplices. O Nenuco, então, é particularmente sinistro. “Creepy”, como disse a minha irmã. O infantário assemelha-se muito a uma prisão, a um campo de concentração, quase. A tensão e a opressão são palpáveis. Ouvi dizer que receavam que o filme fosse classificado para maiores de 12 anos e percebe-se porquê. Lembro-me que, quando vi o filme no cinema, um miúdo pequeno começou a chorar na parte do macaco que monitoriza as câmaras de vigilância. 
 
Por fim, a cena final é bastante comovente. Quase me faz sentir culpada por não me ter ligado daquela forma aos meus brinquedos…
 
Os únicos defeitos do filme são apenas uma ou outra cena mais lugar-comum, já muito vista em outros filmes da Disney.
 
Este filme chegou a ser considerado um dos melhores de 2010 e eu tenho de concordar. Muito poucos filmes me cativaram como este, me envolveram emocionalmente como este. Um autêntica obra-prima a não perder.
 
Classificação 10/10

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